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A integração do proletariado e o “materialismo interdisciplinar”

The integration of the proletariat and the “interdisciplinary materialism”

La integración del proletariado y el “materialismo interdisciplinario”

Resumo:

O presente artigo tem por objeto o tratamento dado por Erich Fromm e Max Horkheimer ao fenômeno da integração social do proletariado. Além dos textos de ambos os autores, o artigo recorre às pesquisas empíricas conduzidas no início da década de 1930, no âmbito do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt. Mais especificamente, é analisada a pesquisa sobre a “estrutura de caráter” de trabalhadores alemães, coordenada por Erich Fromm, sendo também considerados os principais resultados das pesquisas que tinham por objeto as mudanças na sexualidade e na estrutura de autoridade da família europeia da época. Mostra-se como Horkheimer recorreu a conceitos centrais do pensamento de Marx ao examinar os temas dessas pesquisas, resultando em uma perspectiva capaz de apreender as mudanças sociais em curso.

Palavras-chave:
Max Horkheimer; Integração do proletariado; Teoria crítica; Reificação; Fetichismo

Abstract:

The object of this article are the analyses of the phenomenon of social integration of the proletariat, carried out by Erich Fromm and Max Horkheimer in the 1930s. Besides texts by both authors, the article resorts as well to empirical research conducted in the beginning of the decade within the Frankfurt Institute for Social Research. More specifically, the study on “character structure” of German workers (coordinated by Erich Fromm) is analyzed, being also considered the main results of the studies that had as their objects changes in sexuality and in the authority structure of European family at the time. The article shows how Horkheimer made use of central concepts of Marx’s thought when examining the topics of those studies, resulting in a perspective capable of apprehending ongoing social changes.

Keywords:
Max Horkheimer; Integration of the proletariat; Critical theory; Reification; Fetishism

Resumen:

El objeto de este artículo son los análisis del fenómeno de la integración social del proletariado, realizados por Erich Fromm y Max Horkheimer en los años treinta. Además de los textos de ambos autores, el artículo recurre a las investigaciones empíricas realizadas a principios de la década en el Instituto de Investigación Social de Frankfurt. Más concretamente, se analiza el estudio sobre la “estructura de carácter” de los trabajadores alemanes (coordinado por Erich Fromm), considerándose también los principales resultados de los estudios que tenían como objeto cambios en la sexualidad y en la estructura de autoridad de la familia europea en ese momento. El artículo muestra cómo Horkheimer hizo uso de conceptos centrales del pensamiento de Marx al examinar los temas de esos estudios, dando como resultado una perspectiva capaz de aprehender los cambios sociales en curso.

Palabras-clave:
Max Horkheimer; Integración del proletariado; Teoría crítica; Reificación; Fetichismo

Introdução2 2 O presente artigo resulta da tese de doutorado do autor, elaborada no departamento de Sociologia da USP sob a supervisão do prof. Dr. Ricardo Musse. A pesquisa contou com o apoio da Capes e do CNPq. Agradeço aos(às) pareceristas anônimos(as), cujas críticas ao primeiro texto enviado à revista foram fundamentais para a elaboração deste artigo, assim como à assistente editorial de Civitas, Maria Luísa C.E. de Dios, pelo apoio em momentos decisivos, desde a submis­são da primeira versão até a entrega da versão final.

É um fato bastante conhecido que, no início dos anos de 1930, Max Horkheimer e Erich Fromm partilhavam da mesma leitura da psicanálise, e que isso mudou a partir da influência de Adorno, que levou o diretor do Instituto a assimilar o conceito freudiano de “pulsão de morte” e a romper com Fromm, pouco tempo depois (Jay 2008Jay, Martin 2008. A Imaginação dialética. História da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais: 1923-1950. Rio de Janeiro: Contraponto., 149-153). Ao situar esse fato em primeiro plano, a recepção da teoria crítica por um longo tempo estabeleceu uma relação de continuidade entre as obras escritas por Fromm e Horkheimer nos anos trinta.3 3 Essa interpretação, que remonta pelo menos aos trabalhos de Martin Jay e Helmut Dubiel, foi compartilhada por Axel Honneth, quando esse imputou à teoria crítica dos anos de 1930 um viés funcionalista e um “déficit sociológico” (Dubiel 1978, 177; Jay 2008, 149-153; Honneth 1999 e Honneth 1985, 33-41). Como argumentado por Katia Genel, contudo, as convergências entre Fromm e Horkheimer eram “efêmeras” e “ambivalentes” (Genel 2013, 134-148).

Não obstante a relevância daquelas duas séries de questões imbricadas (as relações institucionais e a recepção da psicanálise), é necessário ressaltar a existência de significativas diferenças entre as obras de ambos os autores. O importante livro de John Abromeit (2011Abromeit, John. 2011. Max Horkheimer and the foundations of the Frankfurt School. Nova York: Cambridge University Press.) realçou como traço distintivo da obra de Max Horkheimer o seu apoio em pesquisas empíricas, tanto históricas (na formulação de sua “antropologia da era burguesa”) quanto sociopsicológicas (as pesquisas sobre autoridade e família). Melo (2017Melo, Rúrion. 2017. Repensando o deficit sociológico da teoria crítica: de Honneth a Horkheimer. Cadernos de Filosofia Alemã 22(2): 63-76. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2318-9800.v22i2p63-76.
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.116...
), por sua vez, argumentou que esses recursos da obra de Horkheimer seriam fonte de interesse para a teoria crítica contemporânea, servindo para superar algumas limitações da obra do próprio Axel Honneth.4 4 Essa ironicamente teria passado, em sua fase mais recente, por um déficit sociológico (Melo 2017).

Creio ser possível sustentar que essas pesquisas adquiriram, na obra de Horkheimer, seu pleno significado apenas quando associadas a elementos do pensamento de Marx. O objetivo deste artigo é verificar como isso se deu no exame da integração do proletariado à ordem capitalista: ao se deter sobre o tema, Horkheimer lançou mão dos conceitos marxianos de fetichismo e reificação, e por meio deles interpretou os resultados das pesquisas empíricas realizadas à época pelo Instituto de Pesquisa Social.5 5 Aqui divirjo de Abromeit, para quem os conceitos mencionados não desempenham nenhum papel relevante na obra escrita por Horkheimer nos anos 1930 (Abromeit 2011, 392). A presente discussão também aponta para a necessidade de caracterizar o “materialismo interdisciplinar” - problema infelizmente impossível de desenvolver aqui.

Examinarei em primeiro lugar a pesquisa sobre “trabalhadores e empregados”, coordenada por Fromm entre 1929 e 1931 (foi em 1930 que Fromm se tornou membro do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, tendo iniciado a pesquisa pouco antes, portanto). Em segundo lugar, o confronto com as diretrizes estabelecidas por Horkheimer para o programa de pesquisas do Instituto conduzirá à busca, em ensaios seus publicados entre 1934 e 1936, assim como em outras pesquisas feitas no âmbito do Instituto, de elementos capazes de transcender os limites da teorização de Fromm: de um lado, a mudança de função da família, de outro, a transformação da classe operária em uma massa de trabalhadores, integrados à ordem capitalista.6 6 Esses dois elementos também permitiram a Horkheimer incluir a mudança social como variável explicativa do “caráter autoritário”, que o autor conceituava de maneira diferente à de Fromm. Sobre esse assunto, que no presente artigo se situa apenas em plano de fundo, cf. Costa (2019) e De Maria (2021).

A pesquisa de Fromm sobre “o caráter autoritário”

A “pesquisa com trabalhadores e empregados” (Arbeiter- und Angestellten-Erhebung) tinha por objeto a “estrutura de caráter” de trabalhadores alemães, e constituiu uma das cinco pesquisas empíricas apresentadas em 1936 nos “Estudos sobre Autoridade e Família” [Studien über Autorität und Familie] (Horkheimer et al. 1987Horkheimer, Max, Erich Fromm e Herbert Marcuse. 1987. Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung. Lüneburg: zu Klampen.).7 7 Cf. a segunda seção da obra (Horkheimer et al. 1987, 229-470). Sobre a contribuição teórica de Erich Fromm ao programa intelectual do Instituto, cf. Marin 2008, 233-237, além das obras clássicas de Jay (2008) e Wiggershaus (2006). Escrevendo décadas mais tarde, Fromm afirmava (na apresentação à edição de 1980) que o objetivo da pesquisa havia sido prever se a classe trabalhadora alemã estaria disposta a resistir ou aderir ao nazismo:

O ponto de partida da investigação é a suposição teórica de que opiniões que são defendidas em um determinado momento do tempo se mostram pouco confiáveis quando as circunstâncias mudam drasticamente. [...] Presumimos que apenas representam motivações fortes para o agir aquelas opiniões que estão enraizadas na estrutura de caráter dos homens [...] Inferimos dessa suposição que apenas quando conhecêssemos com precisão a estrutura de caráter dos trabalhadores e empregados alemães seria possível prever a sua provável reação a uma vitória do nacional-socialismo. (Fromm e Bonẞ 1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 3).8 8 A inclusão dos “empregados” foi feita a par da tese de que a “classe média baixa” à qual pertenciam eles (fundamentalmente trabalhadores não-manuais, empregados em escritórios) seria um ponto de apoio fundamental para o fascismo (Fromm e Bonẞ 1999, 126). Essa tese haveria de ser defendida, também no início da década de 1930, por Wilhelm Reich (1988, 52).

Desde o início da década de trinta, Fromm recorria ao conceito freudiano de “caráter”, segundo o qual determinados traços capazes de distinguir os indivíduos uns dos outros poderiam ser compreendidos como sublimações, formações reativas ou continuações inalteradas das pulsões manifestas na infância (Freud 1987Freud, Sigmund. 1987. Charakter und Analerotik. In Sigmund Freud - Gesammelte Werke, organizado por Angela Richards, 203-209. Vol. VII. 7ª ed. Frankfurt am Main: Fischer.). Dessa maneira, por exemplo, foi como um conjunto de traços decorrentes do erotismo da fase anal que Fromm, em 1932, reinterpretou o fenômeno conceituado por Max Weber como “espírito do capitalismo”: para Fromm (1999bFromm, Erich. 1999b. Die psychoanalytische Charakterologie und ihre Bedeutung für die Sozialpsychologie. In Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 59-77. Vol. 1. Stuttgart: DVA.), a sistematicidade, parcimônia e obstinação dos protestantes calvinistas dos primórdios do capitalismo deveriam ser compreendidas como traços do “caráter anal”.

Quatro anos mais tarde, no ensaio de psicologia social que compõe a primeira seção dos “Estudos sobre autoridade e família”, o tema do sadomasoquismo é situado em uma temática mais ampla, e Fromm analisa ali a continuidade entre o supereu e as autoridades sociais, recorrendo às reflexões de Freud sobre a relação de identificação entre a massa e o líder (Freud 2013Freud, Sigmund. 2013. Psicologia das massas e análise do eu. Porto Alegre: L&PM.). A partir desses elementos, elabora seu conceito de “caráter autoritário”, cujo traço distintivo consistiria no desempenho, pela relação de autoridade, do papel de fonte suprema de gratificação pulsional. Daí resultariam, por exemplo, a crença na eterna necessidade de uma ordem hierárquica e na irrelevância da ação individual frente aos poderes da sociedade, assim como indivíduos suscetíveis a obter seu maior prazer, seja na submissão aos superiores, seja na opressão dos mais fracos (Fromm 1987Fromm, Erich. 1987. Sozialpsychologischer Teil. In Studien über Autorität und Familie. Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, 77-135. Lüneburg: zu Klampen., 115, 121).

Na pesquisa, os respondentes eram classificados de acordo com os conceitos de: (a) “caráter autoritário”, no qual o exercício da autoridade e a submissão a ela exerceriam o papel de principal fonte de gratificação pulsional; (b) “caráter revolucionário”, no qual essa fonte desapareceria e o indivíduo seria por isso tendencialmente antiautoritário; e (c) “caráter ambivalente”, uma manifestação específica do caráter autoritário, mas na qual os traços autoritários se encontrariam de maneira menos extremada, a disposição para a submissão se situando nas “camadas profundas” da estrutura pulsional [Triebstruktur], e misturada (no nível da consciência) a posturas “progressistas” (Horkheimer et al. 1987Horkheimer, Max, Erich Fromm e Herbert Marcuse. 1987. Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung. Lüneburg: zu Klampen., 249).9 9 O conceito de “caráter revolucionário” recebeu formulações escassas (Fromm 1987, 131), e o próprio quadro teórico de Fromm deixava pouco espaço para ele (sobre esse problema, cf. Bonß 1982, 384).

A responsável pela pesquisa de campo feita entre 1929 e 1931 foi uma assistente de pesquisa do Instituto, Hilde Weiẞ. Sua familiaridade com as técnicas de pesquisa social e com os temas da sociologia do trabalho alemã e europeia a predispôs ao exercício desse papel fundamental, a ponto de Wolfgang Bonẞ afirmar que “sem a colaboração de Hilde Weiẞ, o estudo provavelmente não teria sido feito” (Bonẞ 1982Bonẞ, Wolfgang. 1982. Psychoanalyse als Wissenschaft und Kritik. Zur Freudrezeption der Frankfurter Schule. In Sozialforschung als Kritik: zum sozialwissenschaftlichen Potential der kritischen Theorie, organizado por Wolfgang Bonß e Axel Honneth, 367-425. Frankfurt am Main: Suhrkamp., 418, nota 19). É importante ressaltar que, à época do início dos levantamentos (e, portanto, da formulação e aplicação dos questionários), Fromm ainda não havia desenvolvido seu conceito de “caráter autoritário”, que apenas no ensaio de 1936 haveria de ganhar sua formulação (Fromm 1987Fromm, Erich. 1987. Sozialpsychologischer Teil. In Studien über Autorität und Familie. Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, 77-135. Lüneburg: zu Klampen.): em textos anteriores de sua obra, Fromm não incorporara as análises de Freud sobre a massa, e restringira-se à sua teoria das fases do desenvolvimento sexual - daí decorre que o questionário contivesse, ao lado de perguntas incidentes diretamente sobre as relações de autoridade, outras que tinham por objetivo identificar a existência de traços do “caráter anal”, como a avareza, um apreço excessivo por organização e limpeza, e a condenação do prazer e exaltação do dever.10 10 Um exame das etapas de formulação do conceito de “caráter” por Fromm pode ser encontrado em Yamawake (2015, 53-64).

O extenso questionário (271 perguntas) foi distribuído, segundo consta da apresentação ao texto de 1936 (Horkheimer et al. 1987Horkheimer, Max, Erich Fromm e Herbert Marcuse. 1987. Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung. Lüneburg: zu Klampen., 239), a 3000 trabalhadores fabris, funcionários de escritório e funcionários públicos de baixo escalão, que devolveram 1150 questionários respondidos.11 11 A publicação de 1980 haveria de registrar 3300 questionários (Fromm e Bonß 1999, 7). Desses, apenas 584 foram avaliados, e o restante se perdeu quando da transferência do Instituto, após a chegada dos nazistas ao poder. A absoluta maioria (537) foi respondida por homens (apenas 47 questionários foram respondidos por mulheres). A maior parte dos questionários (71%) havia sido distribuída nas áreas urbanas de diversas cidades alemãs. Dentre os trabalhadores fabris, estavam, principalmente, tipógrafos, telhadeiros e mestres de oficina, e a composição profissional do conjunto de trabalhadores que responderam ao questionário era a seguinte: mais da metade era composta por trabalhadores manuais com formação técnica (55%), pouco menos de um terço eram empregados de empresas privadas ou do serviço público (29%), poucos eram os trabalhadores manuais sem formação técnica (9%) e menos ainda os profissionais autônomos, estudantes e donas de casa (7%). Desse universo, cerca de um sétimo (16%) se encontrava em situação de desemprego à época da pesquisa (Fromm e Bonẞ 1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 7-35).

A maioria dos respondentes votava em partidos de esquerda: 53%, no partido social-democrata; 26%, no partido comunista; 7%, na direita liberal; 3%, no partido nazista. Além disso, 77% dos respondentes eram sindicalizados, 92% dos quais, a sindicatos vinculados ao SPD (Fromm e Bonẞ 1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 36-41). A ideia subjacente à pesquisa era verificar se havia correspondência entre as ideias políticas professadas pelos trabalhadores, de um lado, e aspectos subjetivos mais profundos de seu comportamento, de outro.12 12 Dentre outras passagens do texto, cf. Fromm e Bonß (1999, 36-41 e 185). A interpretação de cada questionário seria feita considerando-se o conjunto de respostas em sua integralidade, na tentativa de interpretar cada questionário de maneira “orgânica”, de maneira a inferir a “estrutura de caráter” de cada respondente.

Era classificado como de “caráter revolucionário”, por exemplo, o motorista que lia as obras de Marx e Engels, pendurava na parede de casa quadros de Lênin e Rosa Luxemburgo, admirava a arquitetura de Gropius, passava suas noites e fins de semana em reuniões políticas, considerava a justiça alemã uma justiça de classe, defendia que a mulher tinha o direito de trabalhar profissionalmente e era a favor do aborto e contra o uso de castigos físicos na educação das crianças. Já outro tipógrafo, socialista que votava no partido social-democrata, mas cujo gosto e atividades de tempo livre eram menos marcados por critérios ligados à orientação política do que por padrões que poderiam ser considerados “clássicos” ou “burgueses” (como ópera e literatura clássica), foi classificado como “ambivalente”, para o que deve ter contribuído decisivamente o fato de ser contra o aborto, a favor do castigo físico em crianças e contra o direito da mulher de trabalhar fora de casa. Por sua vez, o funcionário público que pendurava na sala de sua casa quadros com temas de guerra e retratos dos pais, era contra o aborto e o trabalho fora de casa das mulheres casadas e acreditava que o mundo só iria melhorar quando “se convertesse novamente a deus e ao imperador” era obviamente um representante do “caráter autoritário” (Horkheimer et al. 1987Horkheimer, Max, Erich Fromm e Herbert Marcuse. 1987. Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung. Lüneburg: zu Klampen., 250-270).13 13 A ideia era, portanto, de que as questões mais claramente vinculadas às ideologias político-partidárias fossem respondidas em relativa consonância com os programas e teses defendidos pelos respectivos partidos em que os trabalhadores votavam. Assim, por exemplo, à pergunta sobre “quem possui o poder real no Estado”, 56% responderam serem o capital ou os capitalistas, e apenas 5% se referiram à bolsa de valores ou aos judeus. A correspondência seria menos esperada em questões não explicitamente tratadas pelos partidos políticos (Fromm e Bonß 1999, 45-47).

Após a interpretação das perguntas de traço “subjetivo”, o plano original consistia em fazer a correlação estatística com os dados referentes à camada social (definida pela renda), à profissão, à idade e - principalmente (Fromm e Bonẞ 1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 26) - à orientação política. O planejado estudo, porém, não foi publicado, o que habitualmente se atribui às divergências surgidas entre Fromm e os outros membros do Instituto, que não concordavam com as suas críticas à psicanálise.14 14 Quanto às divergências entre Fromm e os demais membros, cf. Jay (2008, 149-153), e também Funk (1999, XIX-XXIV). Se em 1936 os pesquisadores haviam chegado à conclusão preliminar, a partir de uma breve avaliação dos questionários devolvidos, de que havia padrões de concordância entre as respostas dadas a essas duas séries de perguntas (Horkheimer et al. 1987Horkheimer, Max, Erich Fromm e Herbert Marcuse. 1987. Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung. Lüneburg: zu Klampen., 270-271), a avaliação completa das respostas, assim como o cotejo dos dados “objetivos” com a “estrutura de caráter” inferida para cada caso, constaria apenas da obra publicada em 1980 (e à qual se recorre, aqui, como complemento ao texto de 1936). Essa segunda versão incorporou os dados obtidos por meio de questionários, que haviam sido submetidos à elaboração estatística ainda entre 1936 e 1938, nos EUA e sob a supervisão de Paul Lazarsfeld (que lá dirigia, à essa época, um laboratório de pesquisa social).15 15 Esse trabalho fora executado por Fromm com o apoio de Herta Herzog (assistente de pesquisa de Lazarsfeld), Ernst Schachtel e Anna Hartoch - os dois últimos, assistentes de pesquisa do próprio Fromm (Fromm e Bonßẞ 1999, 3; Bonß 1980, 8; Wiggershaus 2006, 199-201).

Essa correlação permitiu inferir as nuances dentre os setores da classe trabalhadora: à medida em que o vínculo eleitoral tendia para a esquerda, mais “radicais” (“revolucionárias” ou “antiautoritárias”) eram as respostas, de maneira que Fromm podia afirmar que “os agrupamentos políticos consistiam em unidades em sentido sociopsicológico”. Isso se revelava nitidamente no que diz respeito às diferenças entre eleitores do SPD (Sozialdemokratische Partei Deutschlands) e do KPD (Kommunistische Partei Deutschlands): apenas 28% dos social-democratas tinham inclinações antiautoritárias, percentual que subia a 60% entre os comunistas, e inclinações autoritárias foram constatadas entre 28% dos social-democratas, contra apenas 8% dentre os comunistas. De uma maneira geral, contudo, o resultado foi decepcionante: dentre os social-democratas e comunistas, apenas 40% tinham tendências antiautoritárias, 39% tinham tendências autoritárias, e 21% apresentavam tendências que não podiam ser discernidas com clareza. No conjunto geral de trabalhadores que responderam ao questionário, esses números eram de apenas 15% de antiautoritários, 10% de autoritários e 75% de “ambivalentes”, ou seja, dada a proximidade do “caráter ambivalente” ao “autoritário” stricto sensu, pôde-se afirmar que 85% dos respondentes apresentavam tendências autoritárias (Fromm e Bonẞ 1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 188-190).

Quanto ao grupo profissional, Fromm concluiu que os trabalhadores manuais tinham opiniões políticas em geral “mais críticas” do que os empregados, isto é, suas declarações tendiam a se aproximar do socialismo revolucionário e a se afastar do reformismo social-democrata (Fromm e Bonẞ 1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 54) - além disso, no que se referia à sua estrutura de caráter, constatou-se que a maior parte (46%) dos empregados tinha inclinações autoritárias, e que apenas de menos de um terço deles (29%) se poderia afirmar o contrário. Da ocorrência de uma tendência inversa entre os trabalhadores manuais (Fromm e Bonẞ 1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 191), concluiu-se que ao aumento do prestígio social do grupo profissional correspondia uma maior tendência a estruturas autoritárias de caráter.

Uma questão fundamental, entretanto, ficava de fora da pesquisa. Cabe lembrar que, poucos anos antes de sua realização, o movimento operário havia marcado presença nas insurreições operárias ocorridas entre 1918 e 1923, e que pouco tempo depois, ao longo da década de 1930, o regime nazista haveria de se beneficiar de largo apoio em meio à população alemã em geral.16 16 O tema é espinhoso, e aqui infelizmente não é possível adentrá-lo a contento. Segundo Mason (1981), após a proibição de sindicatos autônomos, a oposição dos trabalhadores ao nazismo assumiu outras formas: greves e operações de sabotagem continuaram a ocorrer, ainda que a classe trabalhadora alemã não pudesse, dentro dos limites impostos pelo regime, desempenhar nenhuma resistência política organizada. Por si só, essa discrepância não permite inferir nada sobre os trabalhadores, individualmente considerados (a inexistência de continuidade entre ideologia política e “estrutura de caráter” era justamente um dos pressupostos da pesquisa) - ela sugere, contudo, a ocorrência de processos de integração social, sendo legítima a tentativa de situar historicamente as inclinações autoritárias daqueles trabalhadores.17 17 Sobre a ausência, na pesquisa de Fromm, de elementos para responder a essa pergunta, cf. também Abromeit (2011, 224-225).

As respostas na obra de Fromm são insuficientes, pois o autor explicava de maneira relativamente mecânica as mudanças sociopsicológicas ocorridas na passagem do capitalismo liberal ao capitalismo monopolista: a centralização de capital teria reduzido o raio de ação do indivíduo, e o sadomasoquismo inerente ao caráter autoritário teria sido amplificado pelas crises de superprodução, pelo desemprego e pela guerra. Nessa explicação, a mudança ocorrida na “estrutura de caráter” dos trabalhadores é concebida de maneira meramente quantitativa, como uma intensificação dos traços sadomasoquistas (Fromm 1987Fromm, Erich. 1987. Sozialpsychologischer Teil. In Studien über Autorität und Familie. Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, 77-135. Lüneburg: zu Klampen., 121, 124). A explicação está afinada, contudo, com a psicologia social de Fromm, que postulava uma espécie de funcionalidade estrutural entre condições socioeconômicas, caráter e ideologias.18 18 Cf. Bonẞ (1982, 381-382), e De Maria (2021).

Além disso, em sua síntese entre marxismo e psicanálise o recurso à obra de Marx não impediu a adoção de um pronunciado individualismo metodológico, visível por exemplo em seu conceito de classes sociais: Fromm se refere alternadamente a “classes”, “camadas”, “situação econômica”, “situação de classe” [Klassenlage] e status profissional,19 19 Fromm (1987, 89-90 e 232-233); Fromm e Bonẞ (1999, 27 e 63). aproximando-se (não apenas do ponto de vista do vocabulário) da teoria sociológica de Max Weber. Ao equiparar classe social a um conjunto de indivíduos vivendo em situações típicas de obtenção de renda e status (como pode ser notado, acima, na correlação dos resultados da pesquisa), Fromm abria mão de uma perspectiva capaz de contemplar processos históricos mais amplos.20 20 Cabe registrar que o texto de 1936 afirmava que os dados objetivos que correspondiam à “situação real de vida” dos trabalhadores teriam sido apresentados em uma monografia separada, elaborada a partir de entrevistas, textos jornalísticos e da literatura disponível sobre esses grupos de trabalhadores e sua história, de maneira semelhante à realizada na obra Middletown (dos sociólogos norte-americanos Robert e Helen Lynd), tomada como referência por Horkheimer (Horkheimer et al. 1987, X e 239). Não foi encontrada, porém, nenhuma indicação desse texto.

Horkheimer e as mudanças sociais contemporâneas

Do exposto na seção anterior se conclui que a pesquisa de Fromm apenas parcialmente respondia à pergunta formulada por Horkheimer em 1931, em seu discurso de posse como diretor do Instituto:

[...] quais conexões é possível apurar - num determinado grupo social, num período determinado, em determinados países - entre o papel desse grupo no processo econômico, a transformação ocorrida na estrutura psíquica dos seus membros singulares e os pensamentos e as instituições que agem sobre esse mesmo grupo, como totalidade menor no todo da sociedade, e que são por sua vez o seu produto? (Horkheimer 1999Horkheimer, Max. 1999. A presente situação da filosofia social e as tarefas de um instituto de pesquisas sociais. Estudos marxistas (7): 121-132., 131).

Ao mesmo tempo, logo à primeira página do prefácio aos “Estudos”, Horkheimer afirmava que o conjunto de questões que orientaram as pesquisas empíricas apresentadas no volume só poderia ser compreendido no âmbito de uma “abrangente teoria da vida social, à qual ele está ligado”, remetendo essa teoria para além dos limites do livro (Horkheimer 1987aHorkheimer, Max. 1987a. Vorwort. In Studien über Autorität und Familie -Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, VII-XII. Lüneburg: zu Klampen., VII). Aqui não é o lugar de reconstituir os traços gerais da atualização da teoria marxista empreendida por Horkheimer: o objetivo é bastante mais reduzido, e consiste em chamar atenção para dois elementos que, mobilizados por Horkheimer nesse intuito, contemplavam as recentes transformações sociais.

O primeiro deles é a mudança de função pela qual passara a família. Notemos que Horkheimer, reconhecendo a legalidade própria das esferas sociais, não equiparou a família a uma instância que desempenhasse uma função constante no processo de socialização, como Fromm fizera por meio de seu conceito de “agência psicológica da sociedade” (Fromm 1999aFromm, Erich. 1999a. Über Methode und Aufgabe einer analytischen Sozialpsychologie. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 37-57. Vol. 1. Stuttgart: DVA.), que reduzia a família a uma instituição responsável pela reprodução do sadomasoquismo inerente ao caráter autoritário (Fromm 1987Fromm, Erich. 1987. Sozialpsychologischer Teil. In Studien über Autorität und Familie. Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, 77-135. Lüneburg: zu Klampen.). Horkheimer ressaltava a crise da família contemporânea: a perda de seu papel de unidade de produção econômica, a concorrência com outras instituições que passaram a influenciar a educação dos jovens (como o rádio e a escola pública), assim como, especialmente após a primeira guerra mundial, a crise econômica e o desemprego promoveram o declínio da autoridade paterna e correspondentes mudanças na socialização e comportamento dos indivíduos (Horkheimer 1987aHorkheimer, Max. 1987a. Vorwort. In Studien über Autorität und Familie -Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, VII-XII. Lüneburg: zu Klampen., X; Horkheimer 1987bHorkheimer, Max. 1987b. Allgemeiner Teil. In Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, 3-75. Lüneburg: zu Klampen., 68-74). Essas mudanças foram analisadas, especialmente, na segunda e terceira pesquisas sobre autoridade e família.

A segunda pesquisa (Erhebung über Sexualmoral) foi realizada em 1932 com cerca de 360 médicos alemães, e tinha por finalidade obter informações a respeito das mudanças pelas quais, no período entreguerras, teria passado o comportamento sexual da população (os questionários incidiam sobre temas como abstinência sexual antes do casamento, masturbação, prostituição, dentre outros). Segundo os médicos entrevistados, teria havido, no período posterior à primeira guerra, um processo de “afrouxamento” da moral sexual (caracterizado, por exemplo, por maior tolerância à infidelidade conjugal das mulheres). A esse processo teria se seguido, nos anos imediatamente anteriores à pesquisa, um processo inverso, caracterizado pelo reestabelecimento de padrões mais estritos de moralidade sexual (Horkheimer et al. 1987Horkheimer, Max, Erich Fromm e Herbert Marcuse. 1987. Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung. Lüneburg: zu Klampen., 272).21 21 Não há indicações sobre os responsáveis diretos pela condução da segunda e terceira pesquisas, do que se supõe terem sido conduzidas por assistentes diretamente subordinados a Fromm e a Horkheimer.

A terceira pesquisa, feita com especialistas (Sachverständigenerhebung über Autorität und Familie) entre 1933 e 1934, consistiu na aplicação de questionários sobre as relações de autoridade no âmbito da família europeia da época, e os respondentes eram professores universitários de psicologia e pedagogia, professores de escolas, líderes de organizações políticas e religiosas juvenis, assistentes sociais, membros do judiciário, padres e pastores. Devido ao fechamento do Instituto pelo governo nazista, os questionários foram aplicados em outros países europeus (Bélgica, França, Holanda, Áustria e Suíça) - dos 589 questionários enviados, foram devolvidos 251. Essa pesquisa constatou o aumento da participação das mulheres nas decisões familiares sobre o consumo e a educação dos filhos, e também registrou estruturas de autoridade fundamentalmente diferentes ao comparar as famílias camponesas com as urbanas: em virtude das diferenças da divisão social do trabalho (no campo, a família ainda era em larga medida uma unidade de produção econômica), nas famílias camponesas o pai exercia um papel de autoridade que nas famílias urbanas tenderia ao declínio (Horkheimer et al. 1987Horkheimer, Max, Erich Fromm e Herbert Marcuse. 1987. Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung. Lüneburg: zu Klampen., 303-305, 315-317). Registrou-se também que a participação das crianças e jovens em organizações recreativas e desportivas conduziria, na opinião dos especialistas, a um declínio do papel da família em sua socialização, o papel de autoridade da mulher na família aumentando à medida em que a instituição diminuía sua importância na socialização dos jovens (Horkheimer et al. 1987Horkheimer, Max, Erich Fromm e Herbert Marcuse. 1987. Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung. Lüneburg: zu Klampen., 318-320).

Os fenômenos abordados por essas pesquisas assumem maior inteligibilidade na interpretação que lhes deu Horkheimer. Segundo o autor, a família tradicionalmente conteve, a par de seu papel de preparar os indivíduos para a vida em sociedade, também um momento de oposição ao existente, baseado no amor materno e na possibilidade de o indivíduo ser considerado “não apenas como função, mas como ser humano” (Horkheimer 1987bHorkheimer, Max. 1987b. Allgemeiner Teil. In Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, 3-75. Lüneburg: zu Klampen., 63). As transformações pelas quais a família passara nas últimas décadas, contudo, teriam anulado a sua autonomia frente às demais esferas: a gradual passagem da família, de unidade de produção econômica a unidade de consumo (um processo ocorrido ao longo do capitalismo, e visível no contraste entre o campo e a cidade), reduziu o papel do pai, de indivíduo dotado de força física e desempenho singulares, a mero provedor. A dominação no interior da família passou então a se basear na mera coerção financeira, aprofundando-se uma relação de dependência baseada na troca, que se não cumprisse sua função (como era recorrente em uma era de desemprego estrutural) precisava apelar aos aspectos meramente irracionais da relação: a violência física e a idealização do pátrio poder (Horkheimer 1987bHorkheimer, Max. 1987b. Allgemeiner Teil. In Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, 3-75. Lüneburg: zu Klampen., 71). O enfraquecimento da família, constatado pelas pesquisas empíricas, foi compreendido por Horkheimer sob esse registro, isto é, como uma expressão da expansão da forma mercadoria para esferas sociais além da economia propriamente dita. A família contemporânea, tendo perdido seu papel de mediadora entre o indivíduo e o restante da sociedade, seria reduzida ao papel de preparar os indivíduos para a aceitação da realidade em suas formas dadas (Horkheimer 1987bHorkheimer, Max. 1987b. Allgemeiner Teil. In Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, 3-75. Lüneburg: zu Klampen., 58, 74-75), não oferecendo resistência às demandas de integração provindas da economia e da política (o que podia até mesmo incluir o incentivo dado pelo Estado fascista ao modelo tradicional de família, em uma época na qual esse modelo estava em crise - cf. Horkheimer 1988aHorkheimer, Max. 1988a. Max. Zum Rationalismusstreit in der gegenwärtigen Philosophie. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 163-220. Vol. 3. Frankfurt am Main: Fischer., 179).22 22 Pode ser que isso explique as oscilações da moral sexual no entreguerras, aludidas anteriormente.

Nesse mesmo sentido, cabe ressaltar que a dominação não poderia, para Horkheimer, ser reduzida ao sadomasoquismo presente nas relações de autoridade (e reproduzido pela família). Embora os traços sociopsicológicos das relações sociais pudessem muito bem cumprir o seu papel, como no caso da identificação com o líder político, a dominação repousaria no fetichismo inerente à sociedade capitalista: nela a autoridade assume uma forma impessoal, e a dependência entre indivíduos e classes é mediada por coisas, que parecem dotadas de existência própria (Horkheimer 1987bHorkheimer, Max. 1987b. Allgemeiner Teil. In Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, 3-75. Lüneburg: zu Klampen., 28-31; Horkheimer 1985Horkheimer, Max. 1985. Aus Vorlesungen über Autorität und Gesellschaft. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 39-68. Vol. 12. Frankfurt am Main: Fischer., 57).23 23 Sobre isso, cf. também Musse (2018).

A par da mudança de função da família, outro elemento foi mobilizado por Horkheimer para decifrar a integração do proletariado (e a nova configuração assumida pelo indivíduo contemporâneo): as transformações sofridas àquela época pela classe trabalhadora. Como percebido por Puzone (2008Puzone, Vladimir F. 2008. Da revolução à integração: a trajetória do proletariado vista por Max Horkheimer. Dissertação em Sociologia, Universidade de São Paulo., 102), foi pelo menos a partir de 1934 que Horkheimer passou a conceituar os trabalhadores como uma “massa”:

Da concorrência entre os indivíduos burgueses, preocupados somente com seus próprios interesses, emergiram como verdadeiros vencedores, em virtude das leis econômicas que se desdobravam, apenas grupos bem pequenos. A absoluta maioria dos homens perde realmente a sua individualidade e se torna uma massa, que apenas consegue agir de maneira heterônoma [...]. (Horkheimer 1988aHorkheimer, Max. 1988a. Max. Zum Rationalismusstreit in der gegenwärtigen Philosophie. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 163-220. Vol. 3. Frankfurt am Main: Fischer., 219).

A impotência do indivíduo era, segundo Horkheimer, transfigurada ideologicamente por um amplo conjunto de teorias filosóficas e sociológicas de viés irracionalista que, centradas na ideia de “sacrifício” [Opfer], glorificavam a repressão de si e transferiam a satisfação do indivíduo real para o todo - para a nação e o Estado (Horkheimer 1988aHorkheimer, Max. 1988a. Max. Zum Rationalismusstreit in der gegenwärtigen Philosophie. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 163-220. Vol. 3. Frankfurt am Main: Fischer., 176, 179-180, 209-210; Horkheimer 1988bHorkheimer, Max. 1988b. Bemerkungen zur philosophischen Anthropologie. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, vol. 3, 249-276. Frankfurt am Main: Fischer., 274). Essa ideologia, apesar de sua relação crítica com a técnica, deixaria intacta a ética do trabalho, e contribuiria para a integração das massas do campo e da cidade a uma ordem capitalista dominada por poucos grupos (Horkheimer 1988aHorkheimer, Max. 1988a. Max. Zum Rationalismusstreit in der gegenwärtigen Philosophie. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 163-220. Vol. 3. Frankfurt am Main: Fischer., 168).

A constituição das massas contemporâneas é explicada, para além de sua dinâmica sociopsicológica interna, como resultado de um processo de reificação. Na época recente, segundo o autor, os trabalhadores e a pequena burguesia haviam se transformado em massas impotentes diante do processo econômico de centralização de capital, passando a servir como “mero meio” para os grupos dominantes (1988aHorkheimer, Max. 1988a. Max. Zum Rationalismusstreit in der gegenwärtigen Philosophie. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 163-220. Vol. 3. Frankfurt am Main: Fischer., 168, 197). O todo da vida social se apresentaria aos indivíduos “como um poder alheio que determina o seu destino, como segunda natureza” (Horkheimer 1988aHorkheimer, Max. 1988a. Max. Zum Rationalismusstreit in der gegenwärtigen Philosophie. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 163-220. Vol. 3. Frankfurt am Main: Fischer., 205). O reforço da ética do trabalho caminharia de mãos dadas com a crescente impotência diante de um pequeno número de monopólios e oligopólios que, “sob férrea disciplina, transformaram vastas áreas da Europa em enormes campos de trabalho”, afirmava Horkheimer (1988bHorkheimer, Max. 1988b. Bemerkungen zur philosophischen Anthropologie. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, vol. 3, 249-276. Frankfurt am Main: Fischer., 264) em uma época na qual o taylorismo-fordismo se impunha, estabelecendo um novo padrão de integração social.24 24 Esse tema haveria de assumir maior relevo nos textos escritos pelo autor na década de 1940.

Na obra do autor, essa perspectiva também tinha consequências para seu conceito de “caráter”. Em sua descrição do indivíduo contemporâneo nota-se o recurso ao tema do “fetichismo”: se Fromm enfatizou a intensificação, sob o capitalismo monopolista, do sadomasoquismo (cf. acima), Horkheimer por sua vez designou, como notas distintivas desse indivíduo, o “respeito aos fatos” e a “adaptação” a mais eficaz possível dos indivíduos à realidade (Horkheimer 1985Horkheimer, Max. 1985. Aus Vorlesungen über Autorität und Gesellschaft. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 39-68. Vol. 12. Frankfurt am Main: Fischer., 57-60).

O presente jogava luz sobre o passado: em seu exame dos “movimentos de libertação” (Horkheimer 1988cHorkheimer, Max. 1988c. Egoismus und Freiheitsbewegung - zur Anthropologie des bürgerlichen Zeitalters. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 9-88. Vol. 4. Frankfurt am Main: Fischer.), o autor analisava a integração social sob o ponto de vista da reificação das pulsões, mostrando como, na formação do indivíduo moderno, os anseios por uma vida melhor - base da luta contra a nobreza feudal e o antigo regime - eram sublimados e se voltavam contra os próprios indivíduos, sob a forma de exigências morais. Naqueles movimentos, se apresentava de maneira exemplar a dialética entre libertação e repressão própria à forma de dominação (burguesa) que se instaurava: a liberdade alcançada no plano político era interiorizada como ascetismo individual (Horkheimer 1988cHorkheimer, Max. 1988c. Egoismus und Freiheitsbewegung - zur Anthropologie des bürgerlichen Zeitalters. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 9-88. Vol. 4. Frankfurt am Main: Fischer., 33). Ao longo desse processo, os traços básicos do caráter burguês (seu “alheamento” [Fremdheit] e sua “indiferença” ao sofrimento, próprio e alheio) se estabilizavam como segunda natureza, aparecendo (por exemplo, em meio à filosofia idealista) como se fossem independentes de suas origens sociais e históricas (Horkheimer 1988cHorkheimer, Max. 1988c. Egoismus und Freiheitsbewegung - zur Anthropologie des bürgerlichen Zeitalters. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 9-88. Vol. 4. Frankfurt am Main: Fischer.).

Cabem ainda algumas palavras sobre as perspectivas de emancipação entrevistas a essa época por Horkheimer. Até, aproximadamente, 1936, prevaleceu, ainda que oscilante, a perspectiva da revolução.25 25 Dois anos antes, o autor expressava ceticismo quanto ao potencial revolucionário da classe trabalhadora (Horkheimer 1988a, 179). Contudo, em vez de tentar (como Fromm) delinear um conceito de “caráter revolucionário”, Horkheimer tecia considerações (poucas e esparsas, é verdade) sobre a relação entre o indivíduo e a massa. A massa do movimento revolucionário seria fundamentalmente diferente daquela do movimento contrarrevolucionário: no primeiro, ela seria “diferenciada e alerta”, e poderia ser convencida pela “ala mais consciente” do movimento, sem ser reduzida à insignificância diante do líder. A massa do movimento contrarrevolucionário, por sua vez, seria uma mera turba [Mob], diferente da massa revolucionária em tudo, até mesmo quanto à estrutura psíquica de seus membros, mobilizados para a satisfação (por meio da destrutividade) dos próprios impulsos recalcados (Horkheimer 1988cHorkheimer, Max. 1988c. Egoismus und Freiheitsbewegung - zur Anthropologie des bürgerlichen Zeitalters. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 9-88. Vol. 4. Frankfurt am Main: Fischer., 71-72). Os ensaios de revolução ao fim da primeira guerra não poderiam, por isso, ser igualados à adesão de membros da classe trabalhadora à “pseudo-revolução” de apelo popular dos fascistas.26 26 Sobre as simpatias de Horkheimer por Rosa Luxemburgo e pelo comunismo de conselhos, cf. Abromeit (2011, 41-45).

Pouco tempo depois, porém, essa perspectiva começa a se esvair, e Horkheimer transita, em seus ensaios, de formulações sobre as “massas” para a consideração de que a perspectiva de superação do capitalismo havia se concentrado, à época, em “pequenos grupos” e “minorias” (Horkheimer 1980Horkheimer, Max. 1980. Teoria tradicional e teoria crítica. In Os pensadores: Walter Benjamin, Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Jürgen Habermas. Textos Escolhidos, organizado por Vitor Civita, 117-154. Vol. XLVIII. São Paulo: Abril Cultural., 138-139 e 152-153).27 27 Cf. Dubiel (1978, 25-37, 66-74). Na década de 1940, por fim, desaparece nas obras de Horkheimer a “unidade dinâmica” entre a teoria crítica e a classe trabalhadora, tal qual havia sido afirmada ainda em “Teoria tradicional e teoria crítica” (Horkheimer 1980Horkheimer, Max. 1980. Teoria tradicional e teoria crítica. In Os pensadores: Walter Benjamin, Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Jürgen Habermas. Textos Escolhidos, organizado por Vitor Civita, 117-154. Vol. XLVIII. São Paulo: Abril Cultural., 186-189), e as reflexões sobre a integração social assumem outros rumos - seu exame estaria, contudo, para além dos limites deste artigo.28 28 Em seu exame dos ensaios de fins dos anos de 1930 e do início da década seguinte, Repa (2017) destacou a atribuição à socialdemocracia, por Horkheimer, de um papel determinante na integração da classe trabalhadora ao capitalismo e, portanto, em sua preparação para a dominação nazista.

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  • 2
    O presente artigo resulta da tese de doutorado do autor, elaborada no departamento de Sociologia da USP sob a supervisão do prof. Dr. Ricardo Musse. A pesquisa contou com o apoio da Capes e do CNPq. Agradeço aos(às) pareceristas anônimos(as), cujas críticas ao primeiro texto enviado à revista foram fundamentais para a elaboração deste artigo, assim como à assistente editorial de Civitas, Maria Luísa C.E. de Dios, pelo apoio em momentos decisivos, desde a submis­são da primeira versão até a entrega da versão final.
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    Essa interpretação, que remonta pelo menos aos trabalhos de Martin Jay e Helmut Dubiel, foi compartilhada por Axel Honneth, quando esse imputou à teoria crítica dos anos de 1930 um viés funcionalista e um “déficit sociológico” (Dubiel 1978Dubiel, Helmut. 1978. Wissenschaftsorganisation und politische Erfahrung. Studien zur frühen Kritischen Theorie. Frankfurt am Main: Suhrkamp., 177; Jay 2008Jay, Martin 2008. A Imaginação dialética. História da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais: 1923-1950. Rio de Janeiro: Contraponto., 149-153; Honneth 1999Honneth, Axel. 1999. Teoria Crítica. In Teoria Social Hoje, organizado por Anthony Giddens e Jonathan Turner, 503-552. São Paulo: Unesp. e Honneth 1985Honneth, Axel. 1985. Kritik der Macht - Reflexionsstufen einer kritischen Gesellschaftstheorie. Frankfurt am Main: Suhrkamp., 33-41). Como argumentado por Katia Genel, contudo, as convergências entre Fromm e Horkheimer eram “efêmeras” e “ambivalentes” (Genel 2013Genel, Katia. 2013. Autorité et emancipation: Horkheimer et la théorie critique. Paris: Payot., 134-148).
  • 4
    Essa ironicamente teria passado, em sua fase mais recente, por um déficit sociológico (Melo 2017Melo, Rúrion. 2017. Repensando o deficit sociológico da teoria crítica: de Honneth a Horkheimer. Cadernos de Filosofia Alemã 22(2): 63-76. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2318-9800.v22i2p63-76.
    https://doi.org/http://dx.doi.org/10.116...
    ).
  • 5
    Aqui divirjo de Abromeit, para quem os conceitos mencionados não desempenham nenhum papel relevante na obra escrita por Horkheimer nos anos 1930 (Abromeit 2011Abromeit, John. 2011. Max Horkheimer and the foundations of the Frankfurt School. Nova York: Cambridge University Press., 392). A presente discussão também aponta para a necessidade de caracterizar o “materialismo interdisciplinar” - problema infelizmente impossível de desenvolver aqui.
  • 6
    Esses dois elementos também permitiram a Horkheimer incluir a mudança social como variável explicativa do “caráter autoritário”, que o autor conceituava de maneira diferente à de Fromm. Sobre esse assunto, que no presente artigo se situa apenas em plano de fundo, cf. Costa (2019Costa, Virgínia H. F. da. 2018. Sobre caráter e personalidade: as antropologias de Fromm, Horkheimer e Adorno nos anos 1930 e 1940. Princípios - Revista de Filosofia 25 (47): 87-119. https://doi.org/10.21680/1983-2109.2018v25n47ID13271.
    https://doi.org/https://doi.org/10.21680...
    ) e De Maria (2021De Maria, Fábio. 2021. Fromm and Horkheimer - On the fundamentals of critical theory’s anthropology. Fromm Forum 25: 42-62.).
  • 7
    Cf. a segunda seção da obra (Horkheimer et al. 1987Horkheimer, Max, Erich Fromm e Herbert Marcuse. 1987. Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung. Lüneburg: zu Klampen., 229-470). Sobre a contribuição teórica de Erich Fromm ao programa intelectual do Instituto, cf. Marin 2008Marin, Inara Luisa. 2008. Psicanálise e emancipação na teoria crítica. In Curso Livre de Teoria Crítica, organizado por Marcos Nobre, 227-250. Campinas: Papirus., 233-237, além das obras clássicas de Jay (2008Jay, Martin 2008. A Imaginação dialética. História da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais: 1923-1950. Rio de Janeiro: Contraponto.) e Wiggershaus (2006Wiggershaus, Rolf. 2006. A Escola de Frankfurt - história, desenvolvimento teórico, significação política. 2a ed. São Paulo: Difel.).
  • 8
    A inclusão dos “empregados” foi feita a par da tese de que a “classe média baixa” à qual pertenciam eles (fundamentalmente trabalhadores não-manuais, empregados em escritórios) seria um ponto de apoio fundamental para o fascismo (Fromm e Bonẞ 1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 126). Essa tese haveria de ser defendida, também no início da década de 1930, por Wilhelm Reich (1988Reich, Wilhelm. 1988. Psicologia de Massas do Fascismo. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes., 52).
  • 9
    O conceito de “caráter revolucionário” recebeu formulações escassas (Fromm 1987Fromm, Erich. 1987. Sozialpsychologischer Teil. In Studien über Autorität und Familie. Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, 77-135. Lüneburg: zu Klampen., 131), e o próprio quadro teórico de Fromm deixava pouco espaço para ele (sobre esse problema, cf. Bonß 1982Bonẞ, Wolfgang. 1982. Psychoanalyse als Wissenschaft und Kritik. Zur Freudrezeption der Frankfurter Schule. In Sozialforschung als Kritik: zum sozialwissenschaftlichen Potential der kritischen Theorie, organizado por Wolfgang Bonß e Axel Honneth, 367-425. Frankfurt am Main: Suhrkamp., 384).
  • 10
    Um exame das etapas de formulação do conceito de “caráter” por Fromm pode ser encontrado em Yamawake (2015Yamawake, Paulo. 2015. Caráter e Antropologia em Max Horkheimer. Dissertação em Filosofia, Universidade Estadual de Campinas., 53-64).
  • 11
    A publicação de 1980 haveria de registrar 3300 questionários (Fromm e Bonß 1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 7).
  • 12
    Dentre outras passagens do texto, cf. Fromm e Bonß (1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 36-41 e 185).
  • 13
    A ideia era, portanto, de que as questões mais claramente vinculadas às ideologias político-partidárias fossem respondidas em relativa consonância com os programas e teses defendidos pelos respectivos partidos em que os trabalhadores votavam. Assim, por exemplo, à pergunta sobre “quem possui o poder real no Estado”, 56% responderam serem o capital ou os capitalistas, e apenas 5% se referiram à bolsa de valores ou aos judeus. A correspondência seria menos esperada em questões não explicitamente tratadas pelos partidos políticos (Fromm e Bonß 1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 45-47).
  • 14
    Quanto às divergências entre Fromm e os demais membros, cf. Jay (2008Jay, Martin 2008. A Imaginação dialética. História da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais: 1923-1950. Rio de Janeiro: Contraponto., 149-153), e também Funk (1999Funk, Rainer. 1999. Zu Leben und Werk Erich Fromms. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk. Vol. 1. IX-XLVIII. Stuttgart: DVA., XIX-XXIV).
  • 15
    Esse trabalho fora executado por Fromm com o apoio de Herta Herzog (assistente de pesquisa de Lazarsfeld), Ernst Schachtel e Anna Hartoch - os dois últimos, assistentes de pesquisa do próprio Fromm (Fromm e Bonßẞ 1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 3; Bonß 1980Bonẞ, Wolfgang. 1980. Kritische Theorie und empirische Sozialforschung: Anmerkungen zu einem Fallbeispiel. In Erich Fromm. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung, organizado por Wolfgang Bonẞ, 7-46. Stuttgart: DVA., 8; Wiggershaus 2006Wiggershaus, Rolf. 2006. A Escola de Frankfurt - história, desenvolvimento teórico, significação política. 2a ed. São Paulo: Difel., 199-201).
  • 16
    O tema é espinhoso, e aqui infelizmente não é possível adentrá-lo a contento. Segundo Mason (1981Mason, Tim. 1981. The workers’ opposition in nazi Germany. History Workshop Journal 11 (1): 120-137. https://doi.org/10.1093/hwj/11.1.120.
    https://doi.org/https://doi.org/10.1093/...
    ), após a proibição de sindicatos autônomos, a oposição dos trabalhadores ao nazismo assumiu outras formas: greves e operações de sabotagem continuaram a ocorrer, ainda que a classe trabalhadora alemã não pudesse, dentro dos limites impostos pelo regime, desempenhar nenhuma resistência política organizada.
  • 17
    Sobre a ausência, na pesquisa de Fromm, de elementos para responder a essa pergunta, cf. também Abromeit (2011Abromeit, John. 2011. Max Horkheimer and the foundations of the Frankfurt School. Nova York: Cambridge University Press., 224-225).
  • 18
    Cf. Bonẞ (1982Bonẞ, Wolfgang. 1982. Psychoanalyse als Wissenschaft und Kritik. Zur Freudrezeption der Frankfurter Schule. In Sozialforschung als Kritik: zum sozialwissenschaftlichen Potential der kritischen Theorie, organizado por Wolfgang Bonß e Axel Honneth, 367-425. Frankfurt am Main: Suhrkamp., 381-382), e De Maria (2021De Maria, Fábio. 2021. Fromm and Horkheimer - On the fundamentals of critical theory’s anthropology. Fromm Forum 25: 42-62.).
  • 19
    Fromm (1987Fromm, Erich. 1987. Sozialpsychologischer Teil. In Studien über Autorität und Familie. Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung, organizado por Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse, 77-135. Lüneburg: zu Klampen., 89-90 e 232-233); Fromm e Bonẞ (1999Fromm, Erich e Wolfgang Bonẞ. 1999. Arbeiter und Angestellte am Vorabend des Dritten Reichs - eine sozialpsychologische Untersuchung. In Erich Fromm - Gesamtausgabe, organizada por Rainer Funk, 1-230. Vol. 3. Stuttgart: DVA., 27 e 63).
  • 20
    Cabe registrar que o texto de 1936 afirmava que os dados objetivos que correspondiam à “situação real de vida” dos trabalhadores teriam sido apresentados em uma monografia separada, elaborada a partir de entrevistas, textos jornalísticos e da literatura disponível sobre esses grupos de trabalhadores e sua história, de maneira semelhante à realizada na obra Middletown (dos sociólogos norte-americanos Robert e Helen Lynd), tomada como referência por Horkheimer (Horkheimer et al. 1987Horkheimer, Max, Erich Fromm e Herbert Marcuse. 1987. Studien über Autorität und Familie - Forschungsberichte aus dem Institut für Sozialforschung. Lüneburg: zu Klampen., X e 239). Não foi encontrada, porém, nenhuma indicação desse texto.
  • 21
    Não há indicações sobre os responsáveis diretos pela condução da segunda e terceira pesquisas, do que se supõe terem sido conduzidas por assistentes diretamente subordinados a Fromm e a Horkheimer.
  • 22
    Pode ser que isso explique as oscilações da moral sexual no entreguerras, aludidas anteriormente.
  • 23
    Sobre isso, cf. também Musse (2018Musse, Ricardo. 2018. Max Horkheimer: a teoria da autoridade. In O pensamento político em movimento: ensaios de filosofia política, organizado por Anor Sganzerla, Antonio José Romera Valverde e Ericson Falabretti, 159-167. Vol. 2. Curitiba: PucPress.).
  • 24
    Esse tema haveria de assumir maior relevo nos textos escritos pelo autor na década de 1940.
  • 25
    Dois anos antes, o autor expressava ceticismo quanto ao potencial revolucionário da classe trabalhadora (Horkheimer 1988aHorkheimer, Max. 1988a. Max. Zum Rationalismusstreit in der gegenwärtigen Philosophie. In Max Horkheimer - Gesammelte Schriften, organizado por Alfred Schmidt e Gunzelin Schmid Noerr, 163-220. Vol. 3. Frankfurt am Main: Fischer., 179).
  • 26
    Sobre as simpatias de Horkheimer por Rosa Luxemburgo e pelo comunismo de conselhos, cf. Abromeit (2011Abromeit, John. 2011. Max Horkheimer and the foundations of the Frankfurt School. Nova York: Cambridge University Press., 41-45).
  • 27
    Cf. Dubiel (1978Dubiel, Helmut. 1978. Wissenschaftsorganisation und politische Erfahrung. Studien zur frühen Kritischen Theorie. Frankfurt am Main: Suhrkamp., 25-37, 66-74).
  • 28
    Em seu exame dos ensaios de fins dos anos de 1930 e do início da década seguinte, Repa (2017Repa, Luiz Sérgio. 2017. Crítica da esquerda, crítica da razão - uma visão de conjunto sobre o pensamento de Horkheimer nos anos 1940. Cadernos de Filosofia Alemã 22 (2): 93-110. https://doi.org/10.11606/issn.2318-9800.v22i2p93-109.
    https://doi.org/https://doi.org/10.11606...
    ) destacou a atribuição à socialdemocracia, por Horkheimer, de um papel determinante na integração da classe trabalhadora ao capitalismo e, portanto, em sua preparação para a dominação nazista.
  • Os textos deste artigo foram revisados pela Poá Comunicação e submetidos para validação do autor antes da publicação.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Ago 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    31 Jul 2021
  • Aceito
    23 Dez 2021
  • Publicado
    12 Jul 2022
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