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A percepção de conservadores e progressistas sobre memes desinformativos nas eleições 2020

The perception of conservatives and progressives about memes that spread disinformation in the 2020 municipal election

Resumo

Este artigo tem o objetivo de analisar a percepção das eleitoras e dos eleitores da cidade de São Paulo sobre dois memes políticos com dados falsos que circularam nas redes digitais durante as eleições 2020, também abordando a dieta informacional e o comportamento de checagem de informação dos participantes. Para a metodologia, foi adotada a pesquisa qualitativa, a partir de grupos de discussão e entrevistas em profundidade. Por meio da expressão de valores (atitudinais) evidenciados pelos participantes divididos entre conservadores e progressistas, identificaram-se quatro mecanismos que estimularam uma espécie de aderência ao conteúdo dos memes, principalmente entre conservadores: 1) associar com seu repertório particular; 2) despertar um sentimento de medo/preocupação; 3) ter convicção sobre o tema; 4) não ter conhecimento da informação exposta.

eleição; desinformação; fake news; conservadores; progressistas

Abstract

The article aims to analyze the perception of voters in the city of São Paulo, Brazil, about two political memes containing fake data that circulated on digital networks during the 2020 election. In addition, it addresses the participants’ information consumption and fact-checking behavior. Concerning methodology, qualitative research was adopted, based on discussion groups and in-depth interviews. Through the (attitudinal) values expressed by the participants, divided into conservatives and progressives, four mechanisms that stimulated adherence to the content of the memes were identified, especially among conservatives: 1) associating it with one’s particular repertoire; 2) awakening a feeling of fear/worry; 3) having conviction about the topic; 4) lacking knowledge about the presented information.

election; disinformation; fake news; conservatives; progressives

Introdução: percursos teórico-metodológicos

As eleições presidenciais em 2018, no Brasil, podem ser consideradas um marco na história política do País, tendo em vista que o contexto de reconfiguração da paisagem informativa – com maior penetração da internet e uso excessivo das mídias sociais para se informar e se comunicar – acabou por favorecer a disseminação de informações falsas, fraudulentas e duvidosas no referido pleito ( Dourado, 2020DOURADO, T. M. S. G. (2020). Fake news na eleição presidencial de 2018 no Brasil. Tese de doutorado. Salvador, Universidade Federal da Bahia. ; Newman et al., 2019NEWMAN, N.; FLETCHER, R.; KALOGEROPOULOS, A.; LEVY, D.; NIELSEN, R. K. (2019). Reuters institute digital news report 2018. Reuters Institute for the Study of Journalism. Disponível em: https://www.digitalnewsreport.org/survey/2018/. Acesso em: 7 nov 2021.
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), especialmente pelo candidato vitorioso, Jair Bolsonaro.

Ainda que consideremos as limitações contidas na democracia formal, ou minimalista nas palavras de Schumpeter (1961)SCHUMPETER, J. (1961). Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro, Zahar. , como o crescente distanciamento entre representantes e representados ( Castells, 2017CASTELLS, M. (2017). Ruptura. A crise da democracia liberal. Rio de Janeiro, Zahar. ) e a emergência de políticos de extrema direita na arena eleitoral ( Runciman, 2018RUNCIMAN, D. (2018). Como a democracia chega ao fim. São Paulo, Todavia. ; Levitsky e Ziblatt, 2018LEVITSKY, S.; ZIBLATT, D. (2018). Como as democracias morrem. Rio de Janeiro, Zahar. ), há que se destacar a importância das eleições em seu caráter ideal, que é evitar a tirania da maioria, garantindo algum reconhecimento das minorias, especialmente em um sistema eleitoral que combina o voto majoritário – para presidente, governadores, prefeitos e senadores – com o voto proporcional – para deputados e vereadores.

Considerando que as informações são base fundamental para o debate democrático, transparente e fundamentado em fatos, verificamos nos últimos anos que o fenômeno das fake news e da desinformação vem produzindo impactos nas sociedades e fazendo parte da preocupação de comunidades de jornalistas, acadêmicos, políticos, ativistas, entre outros. Trata-se de um fenômeno complexo e multifacetado com alguns estudos pioneiros ( Allcott e Gentzkow, 2017ALLCOTT, H.; GENTZKOW, M. (2017). Social media and fake news in the 2016 election. Journal of Economic Perspectives, v. 31, n. 2, pp. 211-236. ; Bounegru et al., 2017BOUNEGRU, L.; GRAY, J.; VENTURINI, T.; MAURI, M. (comp.) (2017). A field guide to fake news: a collection of recipes for those who love to cook with digital methods. [S.l.]: Public Data Lab: Research Report: 7 abr 2017, cap. 1-3. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=3024202. Acesso em: 27 ago 2021.
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; Darnton, 2017DARNTON, R. (2017). A verdadeira história das notícias falsas. El País, Brasil, 30 abril. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/28/cultura/1493389536_863123.html. Acesso em: 3 mar 2020.
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; Tancod, Lim e Ling, 2018TANCOD JR, E. C.; LIM, Z. W.; LING, R. (2018) Defining “Fake News”. Digital Journalism. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4948561/mod_resource/content/1/Fake%20News%20Digital%20Journalism%20-%20Tandoc.pdf. Acesso em: 5 fev 2020.
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; Wardle, 2017WARDLE, C. (2017). First draft. Disponível em: https://firstdraftnews.org/latest/fake-news-complicated/. Acesso em: 6 jul 2020.
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) que buscam respostas para a compreensão das reais dimensões que abarcam essa nova realidade.

O termo fake news popularizou-se a partir das eleições presidenciais nos Estados Unidos, em 2016, pelo então candidato Donald Trump, que utilizou notícias falsas para atacar seus adversários e deslegitimar as informações jornalísticas que poderiam expor aspectos negativos de sua candidatura. A partir da eleição estadunidense, diversas denúncias trouxeram à tona os procedimentos utilizados por Trump. Verificamos a mesma prática no plebiscito realizado no Reino Unido, que consistia na consulta aos eleitores sobre a permanência ou saída do país da União Europeia, processo conhecido como Brexit.

Nesse sentido, a compreensão sobre o fenômeno da desinformação em períodos eleitorais mostra-se de fundamental importância, tendo ela se propagado concomitantemente à ampliação das mídias sociais digitais móveis ( Marwick e Lewis, 2017MARWICK, A.; LEWIS, R. (2017). Media Manipulation and Disinformation Online. Data & Society Research Institute. Disponível em: https://datasociety.net/pubs/oh/DataAndSociety_MediaManipulationAndDisinformationOnline.pdf. Acesso em: 5 mar 2021.
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). Diante desse contexto tecnopolítico e buscando se aprofundar na temática da desinformação durante o pleito eleitoral, o Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (Neamp)1 1 Informações disponíveis em: https://linktr.ee/auroraneamp . Além das autoras que assinam este artigo, integraram a pesquisa: Carlos Raíces, Cláudia Ferraz, Fabrício Amorim e Katia Marchena. da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) realizou uma pesquisa com eleitoras e eleitores do município de São Paulo, entre o 1º e o 2º turno das eleições em 2020.

Assim, o presente artigo tem o objetivo de apresentar os resultados dessa pesquisa, especificamente abordando a dieta informacional e o comportamento de checagem de informação dos eleitores, e, a partir desse contexto, analisar a percepção dos entrevistados sobre duas peças de desinformação que circularam durante o pleito, uma tendo a pandemia como contexto e a outra, as urnas eletrônicas.

Para tanto, estruturamos um desenho de pesquisa que pudesse compreender as disputas e os discursos políticos não a partir do fluxo de desinformação presente nas plataformas digitais, mas a partir da percepção dos eleitores. Mais especificamente, os valores (atitudinais) e comportamentos ( Inglehart e Baker, 2008INGLEHART, R.; BAKER, W. (2008). Modernization, Cultural Change, and the persistence of traditional values. American Sociological Review, v. 65, pp. 19-51. ) expressos por eleitores progressistas e conservadores paulistanos acerca da circulação de notícias falsas durante o pleito de 2020 no maior colégio eleitoral,2 2 Disponível em: https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2020/Novembro/eleicoes-2020-conheca-os-maiores-colegios-eleitorais-do-pais-e-o-perfil-do-eleitorado-brasileiro . Acesso em: fev 2021. em nível municipal do País, contando com 8.986.687 eleitores.

Os valores, visões de mundo, socialmente partilhados – objeto de nossa atenção –, constroem-se a partir de processos de socialização que acabam por incidir na formação de uma cultura política ( Moisés, 2008MOISÉS, J. A. (2008). Cultura política, instituições e democracia. Lições da experiência brasileira. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 23, n. 66. ) geográfica e historicamente localizada. Nesse sentido, adotamos como variáveis ideológicas de análise do comportamento político as díades progressismo/conservadorismo,3 3 Para a construção desses dois tipos-ideais, aplicamos um filtro de recrutamento, para selecionar os eleitores participantes da pesquisa, que contava com perguntas concernentes aos seguintes eixos: 1. relação entre democracia e autoritarismo; 2. papel do Estado na economia e no uso da força; 3. religião e Estado e religião e política. entendendo-as como opostos relacionais de representação política, já que, de acordo com Bobbio (1995BOBBIO, N. (1995). Direita e esquerda. Razões e significados de uma distinção política. São Paulo, Editora Unesp. , p. 11), “num universo conflitual como o da política, que exige continuamente a ideia do jogo das partes e do empenho para derrotar o adversário, a divisão do universo em dois hemisférios não é uma simplificação, mas uma fiel representação da realidade”.

Entendendo que, a partir de técnicas de pesquisa de caráter qualitativo, é possível analisar a subjetividade dos grupos e/ou indivíduos, empreendemos uma triangulação metodológica ( Paranhos et al., 2016PARANHOS, R. et al. (2016). Uma introdução aos métodos mistos em Ciência Política. Sociologias, v. 18, n. 42. ) que contou com grupos de discussão – nos quais os participantes interagem entre si e o moderador direciona o diálogo – e com entrevistas em profundidade (ver Alonso, 2016ALONSO, A. (2016). Métodos de pesquisa em Ciências Sociais: bloco qualitativo. São Paulo, Sesc São Paulo/Cebrap. ). Isso porque se trata de uma investigação que busca observar especificamente o comportamento em grupo, suas variações e a sustentação de opiniões que podem ser divergentes e/ou convergentes.

Foram realizados 6 grupos de discussão com progressistas; 1 grupo com conservadores; 3 entrevistas em profundidade com progressistas; 7 entrevistas em profundidade com conservadores. Tanto os grupos de discussão quanto as entrevistas foram feitos on-line em função das restrições impostas durante o período da pandemia de Covid-19.

Estabelecemos que a moderação seria guiada por um roteiro semiestruturado, com apresentação de imagens (memes políticos) viralizadas nas redes digitais nas semanas de elaboração do roteiro. Tratava-se de peças que já haviam passado pelo processo de verificação de fatos e que foram avaliadas como desinformativas por agências de checagem de informação, portanto identificadas como conteúdos com alto potencial de impacto na população, pois:

Quanto mais compartilhado é um conteúdo nas mídias sociais mais visibilidade pública adquire socialmente. Por isso, o alcance deve ser considerado variável importante para selecionar quais informações nocivas devem ser priorizadas no processo de verificação de fatos. O compartilhamento, inclusive, tem sido tratado dentro do rol de valores-notícias. ( Dourado, 2020DOURADO, T. M. S. G. (2020). Fake news na eleição presidencial de 2018 no Brasil. Tese de doutorado. Salvador, Universidade Federal da Bahia. , p. 78)

O uso da imagem (meme político) é fundamental em uma pesquisa desse caráter, uma vez que nos interessa compreender a presença de desinformação em uma campanha eleitoral, já que, como bem traz Manin (1995MANIN, B. (1995). As metamorfoses do governo representativo. Revista Brasileira de Ciências Sociais, n. 29, ano 10. , p. 18), a construção da campanha tem se dado mais pela projeção da personalidade dos políticos por meio de vagas imagens, do que pela apresentação de um programa político, tendo em vista que a utilização de imagens simplificadas pode ajudar a “resolver” o problema dos custos da informação política.

Além disso, os memes são considerados:

[...] fórmulas discursivas ou artefatos culturais que, a partir de uma interação com seus congêneres, e através de um processo de circulação em diferentes redes sociais, são capazes de despertar ou demonstrar o engajamento político do sujeito ou ainda socializá-lo com o debate público, através de uma linguagem metafórica e orientada à construção de um enredo ou enquadramento próprios, que fazem uso, muitas vezes, de referências da cultura popular. ( Chagas, 2018CHAGAS, V. (2018). A febre dos memes de política. Revista Famecos, v. 25, n. 1. , p. 10)

É um tipo de linguagem própria da era digital capaz de comunicar conteúdos específicos sobre as mais diversas temáticas. Por meio de uma comunicação simples e ágil, com a possibilidade de utilização de recursos gráficos, esse tipo de linguagem se notabiliza por dois aspectos que constituem a comunicação na contemporaneidade que são a instantaneidade e a ampla capacidade de conectividade proporcionada pelos dispositivos tecnológicos. Por esse motivo, é um tipo de material frequentemente utilizado para compartilhar algum tipo de conteúdo variando do humor à suposta denúncia, do convencimento à campanha negativa, sendo que a viralização é aspecto fundamental nas redes digitais, considerando que quanto mais um conteúdo se faz presente, mais capacidade ele tem para atrair a atenção dos usuários.

O meme é um recurso importante e aliado a práticas educacionais, culturais e políticas, principalmente quando se quer dialogar com diferentes públicos, e pode ser positivo para a abertura de um campo de linguagens garantindo a emergência de interpretações livres e plurais sobre diversos aspectos da realidade. Mas também é importante ressaltar a possibilidade dos impactos negativos desse tipo de formato, já que sua capacidade sedutora faz com que, quando utilizado para a desinformação, se capilarize rapidamente e sem reflexão aprofundada sobre o conteúdo que está sendo emitido.

Tendo em vista que estavam presentes, no debate público do período eleitoral de 2020, as discussões em torno da pandemia de Covid-19 e de uma suposta fraude nas urnas eletrônicas, selecionamos memes sobre essas duas temáticas.

O debate em torno dos termos fake news e desinformação

Wardle e Derakhshan (2017)WARDLE, C.; DERAKHSHAN, H. (2017). Information disorder: toward an interdisciplinary framework for research and policy making. Strasbourg Cedex, Council of Europe. abordam o fenômeno descartando o termo fake news , pela apropriação que políticos tendem a fazer sobre o termo, causando confusão deliberada, muitas vezes para esconderem a rede de produção de desinformação que fomentam ou estimulam:

In this report, we refrain from using the term “fake news”, for two reasons. First, it is woefully inadequate to describe the complex phenomena of information pollution. The term has also begun to be appropriated by politicians around the world to describe news organisations whose coverage they find disagreeable. In this way, it’s becoming a mechanism by which the powerful can clamp down upon, restrict, undermine and circumvent the free press .4 4 Neste relatório, evitamos usar o termo “fake news”, por dois motivos. Primeiro, isto é lamentavelmente inadequado para descrever os fenômenos complexos da poluição da informação. O termo também começou a ser apropriado por políticos de todo o mundo para descrever organizações de notícias de cuja cobertura eles discordam. Dessa forma, está se tornando um mecanismo pelo qual os poderosos podem reprimir, restringir, minar e burlar a imprensa livre. (Ibid., p. 5)

Outra definição importante sobre o fenômeno da desinformação vem do Conselho Europeu5 5 Disponível em: https://www.osce.org/fom/302796 . Acesso em: nov 2021. que, desempenhando um papel fundamental nesse debate, adota os seguintes termos para o fenômeno das notícias falsas: informações enganosas (do inglês mis-information ) são aquelas compartilhadas sem a intenção de causar algum tipo de dano a alguém; desinformação (do inglês disinformation ) é quando se sabe que a informação é falsa, e o compartilhamento ocorre com algum objetivo intencional compreendendo os efeitos que essa desinformação pode gerar; e, por fim, a má-informação (do inglês mal-information ) que são informações geradas em âmbito privado, mas com caráter verdadeiro e que, quando compartilhadas publicamente, podem causar dano individual ou coletivo.

Em janeiro de 2018, na esteira dessas iniciativas, a Comissão Europeia criou o Grupo de Alto Nível sobre Notícias Falsas e Desinformação On-line ( High Level Group on Fake news and Online Disinformation ). Deste, veio a seguinte definição de desinformação: “todas as formas de informação falsa, imprecisa ou enganosa, desenhadas, apresentadas e promovidas intencionalmente para causar dano público ou gerar lucro”,6 6 Disponível em: https://cgi.br/media/docs/publicacoes/4/20200327181716/relatorio_internet_desinformacao_e_democracia.pdf . Acesso em: jul 2020. sendo este um relevante ponto de partida para compreendermos as bases e a dinâmica em que a opinião pública na contemporaneidade está sendo configurada, bem como os seus possíveis desdobramentos.

Ainda para o Grupo de Alto Nível, o termo fake news traz uma estrutura muito ampla de conteúdos, que vão desde informações incorretas até intencionalmente criadas para desestabilizar processos sociais, políticos e são amplamente compartilhadas nas mídias digitais por perfis falsos ou até mesmo por robôs, servindo para desqualificar personalidades públicas legítimas, por exemplo, em momentos de disputas eleitorais. Portanto, o termo fake news não seria o mais adequado para a caracterização do fenômeno, podendo, inclusive, mascarar a intencionalidade de gerar uma confusão, ao desviar a atenção acerca das crescentes expressões de desinformação e má-informação na sociedade contemporânea.

Tancod, Lim e Lind (2017) partem da mesma perspectiva de Wardle (2017)WARDLE, C. (2017). First draft. Disponível em: https://firstdraftnews.org/latest/fake-news-complicated/. Acesso em: 6 jul 2020.
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de que toda fake news é uma forma de desinformação, principalmente quando se verifica a divulgação de notícias sem base nos fatos, conformando-se em uma confusão deliberada entre fato e opinião. Nesse sentido, observamos o crescimento de interpretações desvinculadas de fatos, o factual desaparecendo e dando lugar apenas às opiniões. Os autores desenvolveram a seguinte tipologia para mostrar as diferentes formas de fake news que circulam nas redes digitais: sátira, paródia, fabricação, imagens manipuladas, propaganda e publicidade.

Bucci (2019)BUCCI, E. (2019). Existe democracia sem verdade factual? Barueri, Estação das Letras. aponta que a verdade factual está em crise nas sociedades contemporâneas e ressalta a questão da perda de referência na verdade factual observada nas democracias. Para tanto, o autor retoma o pensamento da filósofa alemã Hannah Arendt, tendo como suporte o ensaio da autora denominado “Verdade e política”, publicado em 1967. Assim, ao tratarmos da importância de o processo informacional estar baseado em fatos, é inegável o reconhecimento da contribuição da filósofa em sua distinção entre fatos e opiniões, especialmente na ênfase de que são diferentes, mas não antagônicos, e que pertencem ao mesmo domínio. Segundo Arendt (2002ARENDT, H. (2002). “Verdade e política”. In: ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo, Perspectiva. , p. 295): “Fatos informam opiniões, e as opiniões, inspiradas por diferentes interesses e paixões, podem diferir amplamente e ainda assim serem legítimas no que respeita a verdade factual”.

A evidência factual está diretamente ligada às fontes de informações que podem ser desde testemunhas oculares até registros e documentos e, para que possa haver diferentes interpretações dos fatos, é fundamental pensarmos que a matéria factual não pode ser alterada, conforme Arendt (ibid.), já que se trata do acontecimento, de um dado de realidade. Ainda nesse debate, é fundamental reconhecermos o papel das redes digitais nas formas de comunicação contemporâneas, transformando significativamente os fluxos informacionais nos quais os indivíduos estão inseridos:

As redes operam com a lógica dos caça-cliques ( clickbaits ) em que o conteúdo on-line é valorizado pelo volume de tráfico de um post ou de um site . Assim, pouco importa se a mensagem é falsa e mentirosa, sua onipresença acaba por causar impacto, pois basta dar uma olhadela para ser capturado por sua insistência. ( Santaella, 2019SANTAELLA, L. (2019). A pós-verdade é verdadeira ou falsa? Barueri, Estação das Letras. , pp. 31-32)

O ambiente digital comporta os mais variados temas, assuntos, problemáticas e opiniões. Gomes (2014)GOMES, W. S. (2014). A política na timeline: crônicas de comunicação e política em redes sociais digitais. Salvador, EDUFBA. aponta também para a origem do conteúdo perder valor na internet , não importando se foi produzido por profissionais de comunicação ou pelo cidadão comum. Tais informações podem ser representadas em posts ou comentários, abrindo debates e conversas em torno de assuntos dos mais diversos, com pessoas reagindo e interagindo e “se, de fato, o conteúdo atrair realmente a atenção social, será carregado adiante, em um processo ilimitado, por milhares, talvez milhões, de formiguinhas cujas redes sociais em algum ponto se tocam” (ibid., p. 19).

As conceituações e o debate brevemente aqui pormenorizados conduziram a preparação dos pesquisadores tanto no processo de construção das estratégias metodológicas quanto na realização do trabalho de campo, e alguns de seus resultados são apresentados a seguir.

Dieta informacional e checagem de informações na díade relacional progressismo/conservadorismo

Parte significativa dos entrevistados,7 7 Cabe ressaltar que, em razão da preservação do anonimato dos sujeitos, não identificamos os participantes ao longo do artigo. com mais predominância entre os progressistas e menos entre os conservadores, afirma se informar por meio de grandes veículos de imprensa, tais como jornais impressos e portais de notícias. No entanto, detectamos que poucos assistem aos telejornais e dizem que estes não são o meio mais utilizado para a busca de informações, alguns por desconfiança, mas a maioria por privilegiar outras formas de consumo de informações.

Houve demonstração de uma preocupação em consumir notícias com base factual, e a identificação dessa possibilidade ser mais frequente entre os grandes veículos de comunicação. Como os fatos e os acontecimentos, que são constituídos pelos homens vivendo e agindo em conjunto e que constituem a própria textura do domínio político, é a verdade de fato que nos interessa mais aqui ( Arendt, 1967ARENDT, H. (1967). Verdade e política. Disponível em: http://abdet.com.br/site/wp-content/uploads/2014/11/Verdade-e-pol%C3%ADtica.pdf. Acesso em: 15 maio 2017.
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).

Entre os entrevistados progressistas, os jornais impressos foram os mais citados pelos participantes da pesquisa. O jornal Folha de S.Paulo apareceu em grande parte das respostas, seguido pelo O Estado de S.Paulo . O jornal O Valor foi citado apenas por um dos entrevistados, assim como o EL País . Quando não mencionado um veículo específico, muitos entrevistados citaram jornais impressos e sites de jornais impressos como preferências na dieta informacional. Na terceira posição dessa preferência, os pesquisados citaram os grandes sites de notícias, liderados pelo UOL . A BBC foi um dos sites mencionados para busca de informação, assim como confiança nas notícias veiculadas.

Ainda sobre a dieta informacional, parte não muito expressiva dos entrevistados afirmou não assistir aos programas de televisão e uma pequena parte admitiu assistir a noticiários, nesse caso a TV Globo e a CNN , para se atualizarem, e uma parte mínima mencionou a TV Record e a Band News .

A internet foi citada como forma de busca de informação pelos entrevistados, porém o que se verificou é que buscam os grandes portais, as emissoras de rádios, tais como a CBN e a Band News , que foram citadas como consumo de notícias, demonstrando uma preocupação em se informarem por veículos conhecidos, com tradição informativa, embora também tenham destacado o YouTube na lista dos canais de informação.

No grupo mais jovem, entre 16 e 24 anos, uma característica marca um jeito diferente de buscar notícia fora do eixo da imprensa tradicional. Os pequenos sites, blogs e imprensa alternativa foram muito citados, evidenciando uma nova configuração na forma de essa geração consumir notícia. O site Mídia Ninja foi citado no consumo de notícias, diferentemente de parcela dos entrevistados entre 25 e 35 anos, que o consideram como sendo uma imprensa tendenciosa.

Sobre a dieta informacional do perfil conservador, observamos que os entrevistados utilizam a internet como forma de acessar informações, mas em plataformas diferentes dos progressistas. Surgiu com frequência, além dos portais da grande imprensa, o agregador de conteúdos Google Notícias e as redes sociais de forma geral. No contexto contemporâneo das redes digitais, “ganham então relevância a agregação de conteúdos e o gerenciamento de serviços em sistemas digitais (ibid. p. 95) processo que deixa empresas digitais como o Google estrategicamente mais bem posicionadas” ( Santos, 2014SANTOS, C. E. S. (2014). Para além do código digital: Discussões epistemológicas para a prática jornalística na contemporaneidade. Tese de doutorado. São Paulo, Universidade de São Paulo. , p. 145).

No grupo dos entrevistados progressistas, é perceptível grande desconfiança em relação à grande imprensa em todas as modalidades (impressa, eletrônica e digital), mas principalmente em relação às grandes emissoras de TV, como a Globo e a Record. Quanto à primeira, o produto com maior nível de desconfiança foi o Jornal Nacional, no qual muitos mencionaram manipulação e enviesamento das informações divulgadas. E aqui há um paradoxo importante, considerando que os entrevistados progressistas, apesar de críticas aos grandes veículos de informação, destacam utilizá-los em sua dieta informacional e acreditam que eles ocupam um papel importante na dinâmica informacional, portanto, diferenciam-se dos entrevistados conservadores nas críticas realizadas aos grandes conglomerados midiáticos.

Em relação aos conservadores, embora também manifestem desconfiança em relação à cobertura dos telejornais, verificam-se motivações e críticas com caráter diferente dos entrevistados progressistas, considerando que são mais enfáticos ao dizerem que o telejornal é parcial e manipulador. Mais que desconfiança, há certeza de que as TVs não informam adequadamente. Um entrevistado conservador de 36 a 45 anos mencionou: “ acredito mais nos canais que vejo na internet, porque eu acho que a TV é manipulada ”.7 7 Cabe ressaltar que, em razão da preservação do anonimato dos sujeitos, não identificamos os participantes ao longo do artigo.

Dando continuidade ao entendimento sobre a desconfiança presente no perfil conservador, cabe ressaltar que a emissora de televisão Globo foi bastante mencionada e, na maioria dos casos, como sinônimo de informação de má qualidade, como visto na declaração de uma mulher na faixa etária de 36-45 anos: “ embora eu não sou Bolsonaro mas também não há prova, se o cara fez errado, se não fez, então começa aquela guerra e eu acabo não confiando na Globo de jeito nenhum, não confio ”. Ainda, um homem (36-45) classificou a emissora como “péssima”, enquanto outro conservador de mesma faixa etária disse que “ desconfio, mas assisto por um princípio: de manter os amigos perto, e os inimigos mais perto ainda, é a Rede Globo. A Rede Globo pra mim é um desserviço hoje, na nossa sociedade. Vejo que eles são totalmente tendenciosos, e não confio em nada ”.

Há também, entre os sujeitos de tipo conservador, uma parte que confia na imprensa, como um homem (16-24) que disse confiar “ por ser grande ”. Outros acreditam que grandes veículos são enviesados na produção e publicação de notícias, como uma mulher de 25 a 35 anos que disse desconfiar dos jornais impressos e não saber se todos falam a verdade, e um homem, na faixa de 16-24 anos, que afirma ter como fonte a grande mídia, mas que não confia pontualmente na Folha de S.Paulo e no que chamou de “ blogs de esquerda e de direita ”.

Dessa forma, destacamos que a imprensa permanece como fonte de informação para os entrevistados conservadores, porém aparece em conjunto com críticas e dúvidas sobre a qualidade do trabalho jornalístico realizado por grandes veículos. Parte dessa desconfiança pode ser explicada pela crise vivenciada pela imprensa brasileira desde o início do século XXI, impactada pela revolução tecnológica, marcada pela chegada da internet , que modificou completamente o negócio “mídia”, mas não apenas:

No fim do século XX, a mídia apresentava um quadro composto destes principais elementos: crescente modernização tecnológica, incapacidade financeira de investimento, dependência governamental, conflitos entre acionistas em quase todas as grandes empresas, além da conjuntura. ( Felix, 2010FELIX, J. (2010). “O capital com pressa e o jornalista sem fonte”. In: MARQUES, R. M.; JANSEN, M. (orgs.). O Brasil sobre a nova ordem – A economia brasileira contemporânea. São Paulo, Saraiva. , p. 170)

O que significou, por parte das empresas de mídia, busca por redução de custos, precarização do trabalho nas grandes redações (demissões em massa e jornalistas passando a desempenhar multitarefas), tempo reduzido para a produção de notícias, etc. Tal cenário passou a ser incompatível com o exercício da produção jornalística, impactando na qualidade da informação disponibilizada pela imprensa.

Ademais, nos últimos anos, a imprensa brasileira passou a sofrer ataques sistemáticos de políticos, governantes e influenciadores digitais de extrema-direita, o que vem contribuindo para a crescente desconfiança da população em relação ao trabalho jornalístico. Das comunicações em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) citou o termo fake news em seu Twitter durante os três primeiros meses de 2019 – seu primeiro ano de mandato –, 81% delas estavam atreladas à mídia, colocando em xeque o trabalho da imprensa ( Conceição e Lobo, 2019CONCEIÇÃO, D. L. L.; LOBO, D. A. C. (2019). Ódio e fake news como estratégia política no discurso de Bolsonaro nas redes sociais digitais. In: 43º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, Caxambu. ).

Agora, entre os progressistas, houve em comum a percepção de que as fake news diminuíram durante o processo eleitoral de São Paulo de 2020. Ficou estabelecida uma espécie de consenso na percepção de que as fake news foram mais presentes nas eleições de 2018 e incentivaram a polarização que marcou o processo eleitoral daquele ano. Conforme podemos observar na fala de uma mulher na faixa de 36-45 anos:

É, eu em comparação com 2018, que foi o último pleito, realmente eu tô achando muito fraco, essas coisas de WhatsApp, talvez porque em 2018 foi exagerado demais né, foi uma enxurrada, um negócio que nunca aconteceu antes né. Muita coisa de WhatsApp, enfim. Então quando eu olho pra 2018 eu realmente vejo que tá bem fraquinho .

Esses entrevistados demonstraram conhecimento das implicações da desinformação para o processo democrático e, em vários momentos dos grupos de discussão, referem-se a esse processo como mentira, além do fato de considerarem a desinformação um risco para a população durante a pandemia. Houve uma preocupação reiterada com a qualidade da informação e também com a responsabilidade no compartilhamento de informações sem que houvesse critérios de verificação, embora também manifestassem a preocupação com a dificuldade de estabelecer algum tipo de controle sobre a circulação de informações, conforme podemos observar nas palavras de um homem na faixa de 16-24 anos:

[...] então acho que é uma linha muito tênue de você deixar isso na mão de pessoas que podem se favorecer disso, prejudicando a informação, a disseminação de informação verdadeira, né, de notícia de verdade... Não vai saber separar o joio do trigo... eu acho que tem que existir um controle, as próprias redes sociais podem fazer isso... Acho que, um dos motivos também, no WhatsApp, né, é que o WhatsApp limitou a quantidade de compartilhamento, né .

Como um dos efeitos da radicalização política presente nas eleições presidenciais de 2018, identificamos, entre os nossos entrevistados, tanto progressistas quanto conservadores, uma mudança de comportamento quanto à disseminação e recepção de mensagens políticas e participação nas redes sociais. Em ambos os perfis, verificamos uma espécie de esgotamento em relação ao processo eleitoral presidencial e um receio de que o mesmo fenômeno pudesse se repetir. Assim, muitos decidiram ser menos ativos em plataformas como WhatsApp e houve, principalmente, um recuo em relação ao compartilhamento de conteúdos.

Para alguns dos entrevistados progressistas, a propagação de fake news por parentes, amigos ou simples conhecidos gera indignação, ao mesmo tempo que identificam que essas relações podem ser uma justificativa para se acreditar em notícias falsas e para propagá-las, em uma reiteração de valores previamente instituídos. Como nos diz Castells (2017CASTELLS, M. (2017). Ruptura. A crise da democracia liberal. Rio de Janeiro, Zahar. , p. 60): “[...] parece ser um dado fundamental na conduta política de nosso tempo. Os cidadãos selecionam informações que recebem em função de suas convicções, enraizadas nas emoções que sentem. A deliberação é secundária”.

Já, entre os conservadores, destacamos a existência de um desinteresse mais generalizado, alguns chegaram a descrever uma descrença em relação à política como um todo, como um homem na faixa etária de 16 a 24 anos, que disse ter “ preguiça de se informar sobre eleições ”. Outro homem de 25 a 35 afirmou que “ política não é algo que dou muita atenção ”. Corroboram esse sentimento afirmações de não encontrarem no sistema político brasileiro um caminho promissor de efetiva transformação social, constatadas em falas como a de outro homem de 36 a 45 que disse serem “ muitas promessas desde que me conheço por gente [...] Eu não vejo nada de novo ” e mais um de mesma faixa etária que revelou que “ eu só voto hoje porque é uma obrigação ”.

Consideramos que tal desinteresse pode ser prejudicial à democracia:

[...] nos países recentemente democratizados [onde] os cidadãos que protagonizam a síndrome da desconfiança institucional tenderam, muitas vezes, a afastar-se da política ou a desinteressar-se de seus rumos. Em vários casos de novas democracias, embora a maioria do público expresse cada vez mais a sua adesão ao significado normativo do regime democrático, a frustração com o desempenho das instituições democráticas produz desconfiança. ( Meneguello e Moisés, 2013MENEGUELLO, R.; MOISÉS, J. A. (2013). “Efeitos da desconfiança política para a legitimidade democrática”. In: MENEGUELLO, R.; MOISÉS, J. A. (orgs.). A desconfiança política e os seus impactos na qualidade da democracia. São Paulo, Edusp. , p. 1)

Chamou a atenção que parte expressiva dos entrevistados progressistas responsabiliza o presidente Jair Bolsonaro por disseminar fake news e, portanto, pelo crescimento da desinformação no País, como um homem na faixa de 25-35 anos que afirmou: “ E eu tenho pra mim que um dos impactos negativos foi realmente ter levado à presidência o Bolsonaro, esse pra mim foi o maior erro, e foi culpa da fake news pra mim ”. Também destacaram a atuação do atual presidente no processo informacional, como outro homem de mesma faixa etária, que comentou:

Tanto que o próprio candidato hoje presidente profere fake news , ele vive transmitindo esse tipo de informação. E quando você tem um chefe de estado compartilhando esse tipo de informação, isso passa uma mensagem direta ou indireta pra população, de que você pode acreditar em mentira, pode propagar mentira que não vai ter problema. Isso diz respeito também à pandemia, eu acredito que, se ele tivesse um discurso pró-ciência, o número de mortes no Brasil seria muito menor.

Identificamos, também, como presentes os princípios da checagem de informação no discurso dos entrevistados. Quanto ao perfil conservador, houve uma afirmação corrente sobre a necessidade de desconfiar das informações que circulam e de se preocupar com as comunicações que recebem. Assim, de forma geral, afirmaram não acreditar em tudo que lhes é apresentado e realizar checagem de informação para confrontar dados e fatos.

Projetos que realizam checagem de informação entendem a verificação de discursos públicos como atividade importante para a informação de qualidade na democracia ( Conceição, 2018CONCEIÇÃO, D. L. L. (2018). Internet e cidadania: o estímulo ao debate político por meio do jornalismo fact-checking – Um estudo de caso do projeto “Truco!”. Dissertação de mestrado. São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. ):

[...] o trabalho desenvolvido na checagem se relaciona com um contexto que têm se apresentado nos últimos anos, o do crescimento de casos de fake news nas redes digitais que têm favorecido o que se pode chamar de desinformação. As redes permitem a circulação de quantidade cada vez maior de conteúdos tornando as informações mais acessíveis, mas também esse ambiente favoreceu a proliferação de notícias falsas, que encontrou um território livre para reverberar principalmente nas redes sociais digitais. ( Conceição e Segurado, 2020CONCEIÇÃO, D. L. L.; SEGURADO, R. (2020). Fact-checking: uma análise da checagem de informação política do projeto Truco! Estudos de Sociologia, v. 25, n. 48, pp. 167-189. , p. 170)

Além disso, chama a atenção entrevistados que mencionaram realizar checagem utilizando sua rede de relacionamento, revelando uma apropriação da noção de checagem, mas na prática consultando fontes não adequadas ao exercício da checagem. Uma mulher conservadora de 25-35 anos relatou que, em alguns casos, pesquisa no buscador Google ou “ pergunta para pessoas que sabem ”, o que significou indivíduos próximos a ela que, em sua visão, detêm conhecimentos gerais. Um homem conservador de 46 a 55 anos também consulta por mensagens privadas o que chamou de “ pessoas muito mais envolvidas no processo, nas discussões, de maneira mais ativa ”. Já outro conservador na faixa etária de 16-24 anos afirmou que sua cunhada “ é bem mais atuante ” do que ele nas redes sociais e que, por ela ter uma conta no Twitter , com 20 mil seguidores, é uma boa fonte de consulta, além de relatar o uso do buscador Google .

Também evidenciamos que, em um caso, houve uma relativização em relação à definição de fake news , confundindo com “uma questão de opinião”. Um entrevistado conservador de 45 a 55 anos comentou que “fake news é uma mentira. O grande problema que a gente vive hoje é o problema de você definir exatamente o que é fake news , porque uma mentira pra você pode ser uma verdade pra mim ”.

Entre os entrevistados do grupo progressista, foi reiterada a preocupação com a qualidade da informação e com a responsabilidade no compartilhamento de conteúdos com critérios de verificação. Os progressistas afirmaram realizar a checagem de informação, em muitos casos utilizando como ferramenta a internet. Dentre as respostas, quatro pontos principais apareceram com frequência: realizarem a checagem em portais da grande imprensa; utilizarem-se de mais de um veículo para a verificação; usarem o buscador Google para auxiliar a busca por notícias que reiterem ou refutem aquela informação duvidosa; e procurarem se está explicitada a fonte na comunicação recebida.

Enquanto uma progressista, mulher de 16 a 25 anos, disse que “ recebe uma notícia, então vai ver se é verdade, então vai em vários portais, pra ver se é real, pra ver se realmente aquilo tem um fundamento ou se é só uma notícia jogada ali ”. Um homem de mesma faixa etária afirmou que “ quando eu vejo um fato muito anormal eu vou e jogo no Google, e vejo se tem mais de um portal publicando ”.

Diferentemente do caso mencionado entre os conservadores, os progressistas constatam que existe uma diferenciação entre fato e opinião. Sobre o assunto, um entrevistado na faixa de 16 a 25 anos reiterou que:

Tem muita gente que fala assim “ah, essa é a minha verdade”, então... É uma coisa um pouco complicada também, né. Dois mais dois sempre vai ser igual a quatro, nunca vai ser igual a cinco. Então, tem coisas que só tem uma verdade e acabou. [...] A verdade é que a terra é redonda, entendeu?! Ela é esférica. Não tem uma outra verdade, não existe uma outra opinião. Se você tem uma outra opinião você simplesmente está errado. As coisas são simples.

Outro ponto de destaque que surgiu entre os progressistas foi a preocupação em ajudar amigos e familiares a checarem a informação recebida. Uma progressista de 25 a 35 revelou que, apesar de identificar previamente uma fake news , acaba realizando a checagem da mesma forma, para enviar as informações ao seu pai. Outro progressista, de 25 a 35, ainda disse: “ geralmente ajudo também minha mãe, porque ela vive compartilhando fake news e eu tenho que ficar brecando ela ”.

Já um homem progressista (25-35) contou que os pais têm concepções mais conservadoras, porém disse terem encontrado um ponto de equilíbrio nos debates familiares. A mãe está em um grupo de WhatsApp da família “ e aí ela vive me mandando vídeo desse grupo perguntado se é fake news ”, o que revela um pedido de ajuda ao filho para realizar a checagem de informação.

As plataformas A Lupa,9 9 Disponível em https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/ . Acesso em: jul 2021. E-farsas10 10 Disponível em https://www.e-farsas.com/ . Acesso em: jul 2021. e Aos Fatos11 11 Disponível em https://www.aosfatos.org/ . Acesso em: jul 2021. foram veículos citados em alguns grupos de corte progressista como fontes confiáveis para verificação de conteúdos duvidosos, por trabalharem especificamente com checagem de informação. As três constam do levantamento realizado pelo Duke Reporters’ Lab,12 12 Caracterizado como um laboratório de repórteres, faz parte da Sanford School of Public Policy, da Duke University, em Durham, na Carolina do Norte (EUA). Objetiva explorar novas formas de jornalismo, incluindo a checagem de informação, segundo o site do laboratório. Disponível em: reporterslab.org/about-the-lab/. Acesso em: jul 2021. da Carolina do Norte (EUA), que monitora iniciativas dessa natureza. Dentre o perfil conservador, foi citado apenas uma vez o Boatos.org,13 13 Disponível em https://www.boatos.org/ . Acesso em: jul 2021. que também figura no levantamento.

Meme da VaChina

Considerando a primeira variável contextual – pandemia –, apresentamos o meme da VaChina ( Figura 1 ) e identificamos que a aderência ao conteúdo no grupo dos conservadores se deu principalmente por dois mecanismos: 1) ao associar, com seu repertório particular, o tema tratado; e 2) ao despertar um sentimento de medo ou preocupação sobre o assunto abordado.

Figura 1
Meme da VaChina

Sobre o primeiro tópico, associar com seu repertório particular, um dos entrevistados, um homem conservador de 36 a 45 anos, comentou:

Primeira vez que eu vejo essa imagem, mas, todos os fatos que são relatados aqui no texto eu concordo com todos, eles porque eles cruzam com as notícias que eu tenho acompanhado, né. Principalmente, tenho assistido médicos, né, infectologistas dando opinião deles a respeito dessa vacina, acredito sim que ela tenha um cunho político, né, e apoio inclusive a decisão do Bolsonaro em ter barrado a compra disso lá pela China.

Outro participante, homem conservador de mesma faixa etária, associou o conteúdo do meme à campanha eleitoral, já que diz acreditar que as vacinas estavam ficando prontas muito rapidamente em função de ser ano de eleições. Seu argumento era o de que os políticos precisam “ entregar algo para a população ” nesse período: “ acho que quando passar agora, e forem definidos prefeitos, vereadores, a verdade vai aparecer. Isso me preocupa um pouquinho ”. O entrevistado concluiu estar na dúvida em relação à imagem da VaChina:

Na verdade, pelo simples fato de terem citado o nome dele [Dória], sabendo das coisas que ele faz, paralelo à empresa que ele tem, me aguça a curiosidade de saber se realmente o quanto de tudo isso é verdade. Porque tem bastante informação convincente, nesse trecho que você leu, nesse trecho apresentado nessa imagem. Então, me deixa em dúvida. Não é uma coisa que eu compartilharia, mas ao menos eu ia tentar me informar sobre.

Uma mulher conservadora de 25 a 35 anos fez alguns movimentos reflexivos ao analisar a imagem. Inicialmente afirmou que “ olha, ela é informativa, e eu não sabia nada disso ”, para depois dizer que ficou na dúvida com relação à veracidade do conteúdo. A parte que mais a interessou foi “ o final fala: ‘a guerra começou, a vacina com toda certeza serão ligadas ao CPF’, aí tipo é uma coisa que eu vou procurar pra ver se é verdade, se é mentira, porque é uma coisa que tá relacionada a nós, ao nosso nome, ao nosso CPF ”.

Sobre o segundo mecanismo, despertar um sentimento de medo ou de preocupação, a suposta obrigatoriedade de tomar a vacina chamou bastante a atenção dos entrevistados, como afirmou essa mesma mulher conservadora:

[...] porque como que é uma coisa que vai ser obrigado a gente tomar? Tipo, “eu não quero”, eu não iria tomar, mas é obrigado, porque se não tomar vai tá ligado ao CPF. Quem não tomar não vai conseguir fazer mais nada, como que se diz, que o nosso CPF que nos diz, que fala, que nóis existe, que é nossa existência. Agora não vou saber te expressar, explicar direito, mas essa informação eu vou procurar sabe.

Para um dos entrevistados conservadores, homem de 46 a 55 anos, a vacinação também não deveria ser obrigatória, apesar de relatar que pretendia tomar a vacina, bem como sua esposa, mas afirmou ser sua opção, não devendo estendê-la a outras pessoas. Outro conservador, na faixa etária de 25 a 35 anos, afirma que medidas para prevenir a população de um aumento da circulação de covid são importantes, mas:

A fala dele [Dória] , foi bem de ditador, eu concordo. Acho que as pessoas têm o livre-arbítrio de escolher né, se querem ou não tomar vacina. Eu concordo em partes que, por exemplo, uma pessoa que não é vacinada, aqui no Brasil, ela teria que ter certa restrição pra saída, principalmente, porque a gente pode levar [o vírus] pra outros lugares... Então, alguns pontos eu acho que é importante as pessoas terem a consciência.

Ainda sobre esse entrevistado conservador chamamos a atenção para a forma como ele classificou a imagem, chamando-a de “ matéria ” e “ reportagem ”, oscilando sobre algumas informações que acredita serem verdadeiras e outras que desconfia que não sejam: “ Então, são vários pontos aqui na reportagem , tem uns que são mais... De cunho político mesmo. E outros que, de novo, desconfiaria e ia procurar um pouquinho mais da informação, pra não pegar uma reportagem dessa e compartilhar ”.

Ao serem expostos a determinados conteúdos, existe a possibilidade de a informação suscitar reflexões sobre o assunto abordado, sem que aquele conteúdo seja questionado previamente quanto à sua factibilidade. A maioria dos entrevistados conservadores passou a dialogar com a peça informativa, posicionando-se em relação ao meme, sem desacreditar de forma mais categórica das informações expostas.

Assim, uma parcela da população pode acabar elevando as fake news a uma condição de “mais um conteúdo” informativo, no mesmo patamar de igualdade de comunicações que contêm uma base factual ( Arendt, 1967ARENDT, H. (1967). Verdade e política. Disponível em: http://abdet.com.br/site/wp-content/uploads/2014/11/Verdade-e-pol%C3%ADtica.pdf. Acesso em: 15 maio 2017.
http://abdet.com.br/site/wp-content/uplo...
) como são as produções jornalísticas. Destacamos parecer haver dificuldades para um discernimento mais claro sobre a qualidade da informação recebida.

Em menor frequência, ocorreram casos de entrevistados conservadores que não aderiram ao conteúdo desinformativo. Nesses momentos, a associação com o período eleitoral e o uso da comunicação como instrumento político esteve presente nas falas dos participantes. Houve associação com as eleições municipais, já que o governador João Dória (PSDB) era do mesmo partido que o então candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, Bruno Covas, ou ainda associação com uma antecipação das eleições presidenciais de 2022.

Um homem conservador de 36-45 afirmou ser produzida por “ alguém também querendo manipular opinião . [...] Porque é contrária ao Dória e quer levar mais pessoas a ser contrária ao Dória também ”. Enquanto uma mulher conservadora de mesma faixa etária destacou: “ Acho que é uma briga política sim, acho que esse post tem alguma coisa a ver com a política sim, porque o outro rapaz, o Rafael, que falou que o Dória é padrinho do Bruno né. Então pra desestabilizar o Bruno também ”.

Entre os entrevistados progressistas, podemos destacar que o meme da VaChina foi levado a sério pelos jovens, já que a aderência a esse conteúdo ocorreu apenas e especificamente no grupo de 16 a 24 anos. A crença na imagem por esse público se deu principalmente por um mecanismo, também identificado entre o grupo conservador: ao despertar um sentimento de medo ou preocupação sobre o assunto abordado.

Em todos os casos, o diálogo com a desinformação aconteceu por meio do assunto da suposta obrigatoriedade de tomar a vacina, apresentada na peça. Assim como entre os conservadores, há um sentimento de necessidade de preservação da liberdade de escolha de cada indivíduo, diante da possibilidade de tomar ou não vacina. Como expresso nas seguintes avaliações:

Eu acho complicado a abordagem que foi usada, mas eu concordo que é uma atitude autoritária, assim, que não deveria ser obrigatória, uma escolha que realmente pode trazer sequelas, enfim. E aí, eu não sei... Eu não pensei exatamente sobre isso, mas eu acho complicado ser obrigatório, porque eu acho que todos deveriam ter o direito de escolher. Mas acho que é necessário que haja um número de vacinas que dê pra todo mundo, enfim, mas que seja escolha da população . (Mulher progressista, 16-25)

Então, não concordo com a postagem, não... Sei lá, não tomaria a princípio, assim, durante alguns meses. (Mulher progressista, 16-25)

Apesar disso, um dos progressistas, homem de mesma faixa etária, chega a ponderar a necessidade de como se apresentou a imagem de Dória no meme:

Eu sei que é autoritário, ele obrigar a população do Estado a tomar uma vacina. Só que ao mesmo tempo é o melhor pra todo mundo mesmo, né. Só que, é aquela coisa, quem vai decidir o que é melhor pra mim, né . [...] E uma outra coisa é que eu acho muito perigoso comparar o Hitler à figura, por exemplo, do Dória, assim. Eu não simpatizo nem um pouco com ele, só que eu acho que tem um mundo de ideias e ideologias entre a direita que o Dória representa e o nazismo do Hitler, né? !

Identifica-se uma forte presença da noção de escolha individual em relação à atitude de tomar a vacina, em detrimento do coletivo, como outro homem progressista (16-25): “[...] mas acho que cabe a pessoa o direito de não concordar, assim. Se ela quiser não se vacinar e acabar morrendo o problema é dela ”. Apesar disso, foi o único jovem quem chamou a atenção para a possibilidade de desinformação: “ Eu enxergo alguns problemas, no que tá postado, né. Tem primeiro a questão das fake news , porque não tem fonte. Aparentemente a pessoa parece que tirou isso do vento ”.

Já os demais entrevistados progressistas, que não acreditaram nas informações da VaChina, entenderam o conteúdo como “f ake news ”, “sem fundamento”, “exagerado”, “mentira” e “absurdo”. Dentre as menções que os levam a acreditar ser um conteúdo desinformativo, surgiu, com frequência, o fato de a imagem não ter fonte. Uma mulher progressista na faixa de 25-35 anos’ menciona de forma irônica: “ Eu acho ótimo que eles misturam vários conceitos, eugenista, Bill Gates falar, oi? O que tem a ver, mas não tem nenhuma fonte, são ideias jogadas. [...] E as frases de efeito, frases fortes ”. E outra mulher de 36-45: “ ainda em caps lock que vai ser com CPF, terrorismo ”, referindo-se ao texto escrito com letras maiúsculas na imagem do meme. Ainda, um homem de 36 a 45 anos diz:

[...] qual é a fonte? De onde foi tirado isso, em que contexto? Uma palestra do Bill Gates, realmente existiu essa frase? Quando? Então procurar ver, mas eu acho completamente absurdo no meu ver, isso sem contar pontos específicos do texto colocado aqui.

Assim compreendem que a comunicação tem a intencionalidade de prejudicar uma pessoa, ideias e concepções:

Então eu acho que esse tipo de informação é pra isso, é pra causar confusão, problema, pessoas nervosas, loucas, pra atingir um objetivo, que no caso é desmoralizar o Dória. Não que na minha concepção ele tenha a moral muito boa, mas ele [o meme] quer desmoralizar o Dória nesse caso. (Mulher progressista, 36-45)

[...] realmente quem encaminha isso quer desmoralizar o Dória, mas aí a coisa é muito mais profunda, na minha opinião, lógico. Os bolsominions, esse pessoal de extrema-direita, da turma do Bolsonaro, eles querem desmoralizar a medicina, eles querem desmoralizar a ciência, o conhecimento. (Homem progressista, 36-45)

Assim como para os conservadores que não acreditaram no meme desinformativo, progressistas mencionam que a imagem está relacionada com o processo eleitoral, identificando as fake news como instrumento político, bem como parte de uma narrativa já construída por meio do presidente Bolsonaro:

[...] terrorismo eleitoral. Não me impacta, mas eu tenho certeza que impacta infelizmente muitas pessoas . [...] Então o Bolsonaro disse "ninguém vai tomar vacina obrigado", então já começa a surgir os memes, pra influenciar o cara: "verdade, ele tem razão". Então isso me preocupa, a forma como é colocada a informação . (Homem progressista, 46-55)

Meme das urnas eletrônicas

Sobre a segunda variável contextual – as disputas em torno das urnas –, cabe dizer que o questionamento à lisura das eleições e a instituições democráticas, como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – responsável por garantir a integridade e a transparência do processo eleitoral brasileiro –, passou a ser o foco central da crítica de certas lideranças políticas da extrema-direita. A narrativa de que as urnas eletrônicas não são auditáveis, e que, portanto, podem ser fraudadas, ganhou corpo a exemplo do ocorrido em 2014, mesmo que o TSE já tivesse finalizado as investigações, sem detectar nenhuma fraude.14 14 Ver mais em: “Urna eletrônica tem mais de 30 camadas de segurança”. Disponível em: https://www.tre-sp.jus.br/imprensa/noticias-tre-sp/2021/Junho/urna-eletronica-tem-mais-de-30-camadas-de-seguranca-1 . Acesso em: out 2021.

O presidente Jair Bolsonaro colocou em dúvida as urnas eletrônicas no processo eleitoral de 2018.15 15 Folha de S.Paulo . Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/07/bolsonaro-diz-eleicoes-estarao-de-qualquer-maneira-sob-suspeicao.shtml?origin=folha . Acesso em: ago 2021. No final da campanha, o candidato, então filiado ao Partido Social Liberal (PSL), afirmou que não admitiria desfecho diferente do que a sua vitória. Durante o mandato, assegurou que venceu no 1º turno das eleições, apontando para uma suposta fraude eleitoral para a qual nunca apresentou provas,16 16 Ver mais em Correio Braziliense . Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/06/4930103-bolsonaro-eu-fui-eleito-no-1-turno--eu-tenho-provas-materiais-disso.html . Acesso em: ago 2021. apesar de ter insistido por muito tempo em tê-las. O presidente da República, em live em rede social convocada para a apresentação das provas, acabou por não as mostrar,17 17 Ver mais em YouTube . Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NimDa_Xs6Xg . Acesso em: ago 2021. mas insiste no discurso de desestabilização. Sobre a segurança das urnas, a polícia federal não encontrou registros de fraudes em suas investigações.18 18 Ver mais em Estadão . Disponível em: https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,pf-se-recusa-a-mostrar-registros-de-irregularidades-nas-urnas-eletronicas,70003787578 . Acesso em: ago 2021.

Passando à análise do meme das urnas eletrônicas ( Figura 2 ), levantamos que a aderência ao conteúdo também ocorreu por meio dos dois mesmos mecanismos observados no meme da VaChina ( Figura 1 ), porém identificamos outros dois presentes, totalizando quatro mecanismos entre o grupo dos conservadores: 1) ao associar com seu repertório particular o tema tratado; 2) ao despertar um sentimento de medo ou de preocupação sobre o assunto abordado; 3) ao ter convicção sobre o tema tratado; e 4) ao não ter conhecimento sobre a informação exposta.

Figura 2
Meme das urnas eletrônicas

Em relação ao primeiro, associar com seu repertório particular, ao ver a imagem, um homem conservador de 16 a 24 anos afirmou: “ isso eu sabia, eu já tinha informação que o Brasil é um dos poucos que usa urna eletrônica, mas eu não sabia que só eram 3 que usavam, e não sabia quais eram os outros dois que usavam ”. Avaliou que a linguagem do meme é simples, de fácil compreensão e que “ não parece ser uma notícia que vem de uma mídia grande. Parece ser algo que alguém postou nos stories ou alguma coisa assim do WhatsApp, entendeu ?!”. Nesse caso, também chamamos a atenção para a classificação do meme como uma notícia, feita pelo entrevistado, e que, mesmo identificando o conteúdo como algo que “ alguém postou ”, não houve questionamento quanto à veracidade da informação por parte dele.

Já, outro homem conservador na faixa de 25 a 35 anos, por um lado, afirmou que seria importante procurar verificar se algumas informações do conteúdo são verídicas. No entanto, por outro lado, dialogou com o que lhe foi apresentado, mobilizando seu repertório:

Ela me assusta, na verdade. Mas, de novo, meu perfil, já me chama atenção. A primeira coisa que eu iria confirmar são as duas primeiras informações, como perguntas. Então eu ia confirmar se tem 193 e se realmente só esses três usam urna eletrônica. [...] Mas assim, lendo o quadro, e considerando que ele seja uma verdade, pra mim é um pouco preocupante, porque os dois outros países são países tidos como ditaduras socialistas.

Nessa declaração, também é possível identificar o segundo mecanismo relatado, o de despertar um sentimento de medo ou preocupação, quando o entrevistado afirma que a imagem o assusta e que fica um pouco preocupado, caso seja uma informação verdadeira. Nesse sentido, nota-se que mensagens que suscitam emoções fortes, como o medo, são mais atrativas na economia da atenção, aspecto fundamental no contexto das redes digitais ( Empoli, 2019EMPOLI, G. da. (2019). Engenheiros do caos. São Paulo, Vestígio. ).

Já, sobre o terceiro mecanismo, o de ter convicção, observamos dois homens conservadores, na faixa dos 16 aos 25 anos, que afirmaram categoricamente seus pontos de vista sobre o questionamento levantado pelo meme da legitimidade das urnas:

Acredito que deveria ter, além da votação na urna eletrônica, algo que comprove aquela votação, vide aquela proposta do atual presidente Bolsonaro, enquanto era deputado ainda, com relação ao voto impresso. Principalmente pra comparar e ver a eficácia da urna mesmo. Mas não que eu seja um terraplanista de urna eletrônica [...]. (Homem conservador, 16-25)

[...] é a minha visão, eu acho que urna eletrônica é a máquina de dar golpe. Não acredito que é um método eficaz de contabilizar votos, porque qualquer um pode fraudar, é um sistema, qualquer um pode manusear um sistema. E acho que a forma mais segura seria no voto impresso, eu acho que daria pra agir com mais transparência. Mas eu não... Essa imagem, eu fico triste de ver o Brasil entre um desses três. (Homem conservador, 16-25)

Acrescentamos, também, a premissa de que um dos fatores que incidem no compartilhamento de conteúdo em geral, e de desinformação em específico, está justamente na correspondência e reiteração de convicções previamente estabelecidas, atuando como viés de confirmação para a manutenção dessas crenças anteriormente constituídas ( Bentes, 2018BENTES, A. (2018). O texto além do texto. Fake news: Ambiência digital e os novos modos de ser. Revista do Instituto Humanitas Unisinos, n. 520, ano XVIII. ; Dourado, 2020DOURADO, T. M. S. G. (2020). Fake news na eleição presidencial de 2018 no Brasil. Tese de doutorado. Salvador, Universidade Federal da Bahia. ).

Também, podemos perceber que ideologia e preconceito são elementos que circundam os discursos sobre urnas eletrônica, em que o sujeito reproduz e reafirma opinião comum a um grupo, tornando-se refém dessas ideias e perdendo a capacidade de exercer sua autonomia e singularidade ( Chaui, 2008CHAUI, M. (2008). O que é ideologia? São Paulo, Brasiliense. ).

Por fim, sobre o último mecanismo, não ter conhecimento sobre a informação, destacamos a fala de uma mulher conservadora de 25 a 35 anos: “A h, é interessante, é interessante, porque é uma informação que eu desconhecia, não sabia que era só 3, eu não sei se é verdade, mas que é só 3 países possui, né ?!”.

Um entrevistado, homem conservador na faixa de 46 a 55 anos, também ficou na dúvida por desconhecimento do assunto, segundo ele: “ eu não sei se a informação é verdadeira, mas assim, eu sempre tive alguma restrição com relação à urna eletrônica, entendeu?! Não que eu seja avesso com tecnologia, eu só gostaria de ter certeza que... Hoje se você me perguntar, eu sou um leigo [...]”.

Dentre o corte conservador, especificamente sobre o meme das urnas eletrônicas, apenas um entrevistado afirmou não acreditar no conteúdo. Segundo um homem conservador (46-55), “p or conhecimento eu entendo que ela não é verdadeira ”, completando:

Essa imagem tem um objetivo claro de colocar dúvida sobre o processo eleitoral, principalmente pra quem tiver perdendo terreno na corrida eleitoral, pra gerar dúvida. Inclusive pra possibilidade de um questionamento em relação ao processo, caso o resultado não seja o que aquele grupo queira, como aconteceu no processo eleitoral presidencial anterior, então acho que tem essa característica [...] O objetivo, na minha opinião, de quem posta algo com esse tom é gerar dúvida no processo democrático .

Passando ao grupo dos progressistas, o meme das urnas eletrônicas teve apenas a aderência de um dos entrevistados desse corte. O mecanismo que identificamos para a crença desse participante da pesquisa no conteúdo desinformativo foi também um dos identificados entre os conservadores que analisaram esse mesmo conteúdo: não ter conhecimento sobre a informação:

[...] pra começar eu não sabia, e eu andei pensando muito nisso, com a eleição dos Estados Unidos, entendeu?! Aí eu pensei muito sobre isso sobre o formato de eleição deles, e o nosso formato de urnas eletrônicas, mas não consegui chegar a uma conclusão, o que que é melhor, o que é mais eficiente, qual das duas poderia ter fraude, qual não poderia. Mas essa eleição nos Estados Unidos fez pensar muito nisso. Acho que desde a outra eleição nos Estados Unidos eu tenho pensado sobre isso. [...] muito relevante e importante, porque eu fico até curioso sobre as eleições de vários outros países, como desenrola, acho bastante importante saber isso . (Homem progressista, 45-55)

Os demais entrevistados do grupo progressista afirmaram que o conteúdo tem a intenção de colocar em xeque o processo eleitoral, principalmente com a ideia de associar o Brasil ao comunismo ou ao socialismo, como surgiu em algumas falas:

[...] ela parece ter aí uma tendência de as pessoas serem contra o uso da urna eletrônica quando cita Cuba e Venezuela. [...] Olha, me vem uma fake news pra convencer pessoas de extrema-direita, apoiadores do governo atual, do federal, de que as urnas eletrônicas são coisas de comunistas, socialistas, enfim . (Homem progressista, 36-45)

Então quando você cria uma fake news pra aliar Brasil com Cuba e Venezuela, você quer dizer que o Brasil é um país comunista como eles né? Se trata de uma informação falsa, né?! São mais de trinta países que tem urna eletrônica no mundo. Então isso vai criando uma série de incertezas na população, né . (Homem progressista, 25-35)

Também nesse meme das urnas, como já havia surgido entre os progressistas em relação ao meme anterior, o da VaChina, apareceu a avaliação de que a imagem tem o intuito de compor uma narrativa existente:

Não tinha recebido nada sobre esse teor, mas pra mim é nítido que é uma fake news plantada pelo governo atual, pra começar a trabalhar a cabeça das pessoas no sentido do que ele quer. Ele tem um projeto apresentado pra tirar a urna eletrônica, e aí ele começa a lançar informações falsas pra que as pessoas comecem a acreditar e entrem na onda dele. Quando ele bater no peito, as pessoas vão falar “exatamente, eu também li”. Então ele começa a plantar essa mentira na cabeça das pessoas, e acaba dando no que deu . (Homem progressista, 36-45)

E vale a pena destacar um caso específico em que a entrevistada não acreditou nas informações contidas no meme, no entanto é possível avaliar sua posição sendo como “por convicção” de que a tecnologia serve à sociedade necessariamente de forma positiva:

Ah, eu acho que por conta da tecnologia. Ela tá aí há muito tempo, né. E assim, eu não acredito que as pessoas estariam sempre em cédula, aquela cédula, né, que a gente... Olha o trabalho que os Estados Unidos teve . Teve um trabalho muito grande agora, várias cidades que não coloca e vai não vai, acho que... Com o mundo de tecnologia que a gente tá, seria um atraso, ficar só na cédula. Eu não acredito que só três países usa urna eletrônica, não. Deve ter mais, né ?! (Mulher progressista, 46-55)

Novamente, assim como entre conservadores, a linguagem do conteúdo do meme das urnas foi destacada por um entrevistado, agora progressista, como simplificada. Mas, diferentemente do primeiro, como sendo uma técnica comunicativa para ganhar aderência da população:

Eles fizeram essa montagem de uma forma simples pra parecer que é uma informação mesmo. Usaram uma linguagem simples... Tipo assim, as pessoas sabem que no Brasil tem urna eletrônica, então elas relacionam com os países que algumas pessoas podem ter opiniões negativas pra que “ó, a gente tá no caminho errado”. Então é uma linguagem pra induzir, tipo, só lugares ruins usam urna eletrônica. Enfim, mais ou menos isso. (Homem progressista, 16-25)

Considerações finais

Consideramos que as eleições de 2020 foram permeadas por substantivas mudanças tecnológicas, comunicacionais e políticas, como a ampliação do uso das redes sociais na produção e recepção de conteúdos sobre campanhas eleitorais; a disseminação da desinformação (em seu uso estratégico); e a chegada da extrema-direita ao maior posto de representação executiva do Brasil dois anos antes.

Tal contexto, ainda em transformação, também resulta em uma série de ambiguidades, que vão desde a democratização do debate público, passando por sua superficialização – “como no futebol, a digitalização crescente da política tem levado o cidadão comum a se sentir cada vez mais qualificado para dar uma opinião autorizada sobre os fatos” ( Cesarino, 2020CESARINO, L. (2020) Como vencer uma eleição sem sair de casa: a ascensão do populismo digital no Brasil. Internet & Sociedade, n. 1, v. 1. , p. 114) –, chegando à suscetibilidade em relação às fake news e à instituição de uma rotina de verificação de conteúdos.

Nesse sentido é que buscamos compreender a dieta informacional e o comportamento de checagem de informação de eleitores no pleito paulistano de 2020, a partir de duas variáveis ideológicas de análise, progressismo e conservadorismo ( Bobbio, 1995BOBBIO, N. (1995). Direita e esquerda. Razões e significados de uma distinção política. São Paulo, Editora Unesp. ) em seu aspecto oposto, mas relacional. Para, posteriormente, apresentarmos os resultados da percepção dos eleitores sobre os memes desinformativos que circulavam no período eleitoral.

Entre os participantes conservadores, pode-se evidenciar que a maioria dos respondentes acreditou nas informações expostas nas duas imagens desinformativas (VaChina e urna eletrônica) ou ficaram em dúvida quanto à veracidade das informações. Considerando que as informações que circulam em uma sociedade são importantes e influenciam a opinião pública (Lippman, 2008; Cervi, 2010CERVI, E. (2010). Opinião pública e comportamento político. Curitiba, Intersaberes. ), esses dois perfis de conservadores (que acreditaram ou que tiveram dúvidas) acabam por ser atingidos de forma negativa pelas fake news .

Destacamos que, em ambos os memes políticos, o conteúdo das peças foi importante para que houvesse essa espécie de aderência à temática desinformativa exposta na imagem. Inclusive, foi possível identificar que apenas um fragmento do conteúdo era suficiente, em alguns casos, para a aderência a todo o resto das informações falsificadas contidas no meme. De acordo com Milkman (2012, apud Dourado, 2020DOURADO, T. M. S. G. (2020). Fake news na eleição presidencial de 2018 no Brasil. Tese de doutorado. Salvador, Universidade Federal da Bahia. ), além de o conteúdo abrigar informação útil para quem o recebe e compartilha, pode-se evidenciar duas dimensões que facilitam a propagação de fake news . A primeira é a valência emocional que entende informações virais, em geral, contendo apelos emocionais, positivos ou negativos; e a segunda é o papel da ativação, que identifica algum estado de excitação como um componente de ativação para a transmissão social da informação.

Já, no grupo de corte progressista, foi bem menor a recorrência daqueles que acreditaram nas informações expostas nas duas imagens desinformativas. Não houve entrevistados que ficaram em dúvida, e a imensa maioria identificou os memes apresentados como fake news, como mentira ou como sem fundamento.

É possível notar que grande parte daqueles que não confiaram na informação dos memes buscou debater e analisar o porquê de aquela fake news poder ser aderente à população em geral, inclusive demonstrando preocupação em relação a quem pode acreditar na referida comunicação.

A partir dos dados desta pesquisa, é possível dizer que eleitores progressistas e conservadores manifestaram distintas percepções políticas, no que se refere aos valores – sobre o que pensam – e aos comportamentos – sobre como agem ( Inglehart e Baker, 2008INGLEHART, R.; BAKER, W. (2008). Modernization, Cultural Change, and the persistence of traditional values. American Sociological Review, v. 65, pp. 19-51. ). Assim, entendemos que a variável ideológica pode ser um profícuo instrumento de análise, tendo em vista que são repertórios simbólicos lastreados pela história e possuem valor analítico e capacidade descritiva pelo fato de serem apropriados pelo imaginário coletivo, revelando disputas de poder ( Almeida e Toniol, 2018ALMEIDA, R.; TONIOL, R. (orgs.) (2018). “Introdução”. In: ALMEIDA, R.; TONIOL, R. Conservadorismos, fascismos e fundamentalismos. Campinas, Editora Unicamp. ).19 19 Os autores se referem apenas ao termo conservadorismo, contudo, entendemos ser pertinente estender tal compreensão ao termo progressismo, já que como observa Bonazzi (1998 , p. 245), o conservadorismo se apresenta como negação, mais ou menos acentuada, do progressismo.

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Notas

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Ago 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    29 Nov 2021
  • Aceito
    31 Mar 2022
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