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O agronegócio e o urbano: migrantes internos e internacionais no Oeste Paulista

Agribusiness and urbanization: internal and international migrants in the west region of the state of São Paulo

Resumo

A expansão do agronegócio desenha um novo mapa do Brasil. No noroeste paulista, vantagens competitivas associadas a questões institucionais e geográficas têm atraído vultuosos investimentos privados em três segmentos principais: sucroenergético, piscicultura e frigoríficos. Este trabalho tem por objetivo analisar trajetórias migratórias que perpassam esses setores, de modo a elucidar as novas articulações tecidas entre os municípios da região com o resto do País e do mundo, por ação desses capitais. Em termos metodológicos, entrevistas semiestruturadas com trabalhadores dos segmentos selecionados subsidiaram a construção de trajetórias migratórias representativas dessas novas hierarquias socioespaciais. Essas informações apontam transformações significativas na referida região, polarizada não apenas pelos tradicionais centros urbanos regionais, mas também por localidades importantes do agronegócio.

migração interna; migração internacional; urbanização; agronegócio

Abstract

The expansion of agribusiness has drawn a new map of Brazil. In the northwest of São Paulo, competitive advantages associated with institutional and geographic issues have attracted substantial private investments in three main segments: sugar-energy, fish farming, and slaughterhouses. This work aims to analyze migration trajectories that permeate these sectors, in order to elucidate the new articulations woven between the region’s municipalities and the rest of the country and the world due to the action of those capitals. In methodological terms, semi-structured interviews with workers from the selected segments supported the construction of migration trajectories representative of new socio-spatial hierarchies. This information points to significant transformations in that region, polarized not only by traditional regional urban centers, but also by important agribusiness locations.

internal migration; international migration; urbanization; agribusiness

Introdução

As configurações socioespaciais do agronegócio (Elias, 2003ELIAS, D. (2003). Globalização e agricultura. São Paulo, EdUSP.) colocam novas questões para os estudos sobre migração e redistribuição espacial da população. Canales e Canales Ceron (2013)CANALES, A. I.; CANALES CERON, M. (2013). De la metropolización a las agrópolis: el nuevo poblamiento urbano en el Chile actual. Polis. Santiago, v. 12, n. 34, pp. 31-56. Disponível em: <http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-65682013000100003&lng=es&nrm=iso>. Acesso em: 5 set 2022. DOI: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682013000100003.
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, ao analisarem as inter-relações entre urbanização, globalização da agricultura e divisão internacional do trabalho, discutem a emergência de um novo modelo de desenvolvimento na América Latina, no qual são fortalecidas espacialidades rurais que rompem com os tradicionais fluxos campo-cidade. Segundo esses autores, o paradigma da agropolização combina um padrão de residência urbano com uma dinâmica de acumulação agrário-exportadora, induzindo a formação de uma ampla variedade de cidades agrárias onde são adensados os vínculos globais através da produção e do processamento de commodities (Canales e Canales Ceron, 2013CANALES, A. I.; CANALES CERON, M. (2013). De la metropolización a las agrópolis: el nuevo poblamiento urbano en el Chile actual. Polis. Santiago, v. 12, n. 34, pp. 31-56. Disponível em: <http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-65682013000100003&lng=es&nrm=iso>. Acesso em: 5 set 2022. DOI: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682013000100003.
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). Particularmente no Brasil, um dos maiores produtores de commodities do mundo, Baeninger e Ojima (2008)BAENINGER, R.; OJIMA, R. (2008). Novas territorialidades e a sociedade de risco: evidências empíricas e desafios teóricos para a compreensão dos novos espaços da migração. Papeles de Población, pp. 141-154. já apontavam a redefinição da dinâmica regional do interior paulista associada ao crescimento da agroindústria exportadora e à diversificação das frentes de alocação do capital transnacional.

À luz desses pressupostos teóricos, este trabalho tem por objetivo analisar a emergência de novos processos migratórios relacionados ao agronegócio (Elias, 2003ELIAS, D. (2003). Globalização e agricultura. São Paulo, EdUSP.; Gras e Hernández, 2013GRAS, C.; HERNÁNDEZ, V. (2013). El agro como negocio: producción, sociedad y territorios en la globalización. Buenos Aires, Biblos.; Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp.). Serão privilegiados três segmentos – os frigoríficos de carne bovina, o setor sucroenergético e a piscicultura – e uma região específica do Brasil: o noroeste paulista.1 1 Neste trabalho, entende-se por noroeste paulista a porção do estado de São Paulo integrada pela rodovia Euclides da Cunha (SP-320) próximo aos rios Paraná, Grande e Tietê, na divisa com Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Para fins operacionais, pode-se apreender o noroeste paulista como o conjunto dos municípios que compõem a Região de Governo de Jales (Fundação Seade), embora esse recorte não abranja localidades importantes para os circuitos espaciais produtivos (Castillo e Frederico, 2011) considerados na pesquisa. No centro do chamado Polígono do Agrohidronegócio no Brasil – uma vasta região que abrange todo o “oeste paulista, leste do Mato Grosso do Sul, Noroeste do Paraná, Triângulo Mineiro e Sul-Sudoeste de Goiás” (Thomaz Junior, 2010, p. 92) –, essa localidade combina vantagens competitivas (Castillo e Frederico, 2011) associadas às suas características naturais (abundância de terras férteis, plainas e de recursos hídricos), institucionais (incentivos fiscais e custos salariais) e de infraestrutura logística: o noroeste paulista está conectado por ferrovia,2 2 Ferronorte, concedida à Rumo Logística, principal corredor de exportação agrícola do país, interligando a produção de grãos do Centro-Oeste ao porto de Santos. rodovia3 3 SP 320/Euclides da Cunha, eixo no qual a indústria mais se fortalece no estado de São Paulo (Kalemkarian e Aparicio, 2013). e hidrovia4 4 Eixo Tietê-Paraná (Baeninger, 2004). (Mapa 1).

Mapa 1
Localização do noroeste paulista no estado de São Paulo e no Brasil, 2020

Essas características têm atraído vultuosos investimentos em diferentes segmentos do agronegócio, alavancando novas atividades econômicas, como a piscicultura, e reestruturando outras mais antigas, a exemplo dos frigoríficos de carne bovina e da agroindústria canavieira. Dentre os capitais que reestruturam as relações rurais-urbanas na região, destacam-se a usina do setor sucroenergético Vale do Paraná, no município de Suzanápolis; o frigorífico de carne bovina de Santa Fé do Sul; e uma série de empresas nacionais e estrangeiras com atuação na produção e no processamento de tilápias nos rios Paraná, Tietê e São José dos Dourados (Mapa 1).

De ocupação capitalista tardia (Negri, Gonçalves e Cano, 1988), apenas recentemente essa região tem recebido grandes investimentos ligados à produção de commodities (Demétrio, 2013DEMÉTRIO, N. B. (2013). População e dinâmica econômica na região de governo de Jales no século 21: o "outro" rural do oeste paulista. Dissertação de mestrado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1620515. Acesso em: 5 set 2022.
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). Seja por consagrar um modelo de produção voltado à exportação (Gras e Hernández, 2013GRAS, C.; HERNÁNDEZ, V. (2013). El agro como negocio: producción, sociedad y territorios en la globalización. Buenos Aires, Biblos.), seja por constituir capitais emblemáticos das relações Sul-Sul e da nova hierarquia internacional (Manrique, 2012MANRIQUE, L. E. (2012). El emergente eje ‘Sur-Sur’ global. Revista Política Exterior, v. 26, n. 146, pp. 104-117.), a reestruturação produtiva trazida por esses capitais, na referida região, redesenha a dinâmica do mercado de trabalho local, com a expansão tanto do emprego qualificado, quanto do trabalho de menor qualificação (Portes, Guarnizo e Landolt, 2003). Esse contexto combina novos processos migratórios internos e internacionais com o aumento dos deslocamentos pendulares, associados à base e ao topo da pirâmide ocupacional do agribusiness (Gras e Hernández, 2013GRAS, C.; HERNÁNDEZ, V. (2013). El agro como negocio: producción, sociedad y territorios en la globalización. Buenos Aires, Biblos.).

Em termos teóricos e metodológicos, este trabalho apoia-se na perspectiva dos tipos e etapas para associar as diferentes fases da acumulação capitalista do noroeste paulista às distintas dinâmicas de redistribuição espacial de sua população (Renner e Patarra, 1980RENNER, C. H.; PATARRA, N. L. (1980). “Migrações”. In: JAIR, M. S.; SANTOS, L. F. Dinâmica da população: teoria, métodos e técnicas de análise. São Paulo, T. A. Queiroz.; Balán, 1973BALÁN, J. (1973). Migrações e desenvolvimento capitalista no Brasil: ensaio de interpretação histórico-comparativa. Estudos Cebrap. São Paulo, n. 5.). Distinguem-se, assim, a etapa da fronteira agrícola e as migrações rurais-rurais que marcaram a formação capitalista da região (Negri, Gonçalves e Cano, 1988; Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp.); a etapa da industrialização nacional-desenvolvimentista e as migrações campo-cidade que a transformaram em uma das principais áreas de evasão populacional do estado de São Paulo (Negri, Gonçalves e Cano, 1988; Singer, 1980SINGER, P. (1980). “Migrações internas: considerações teóricas sobre o seu estudo”. In: MOURA, H. Migração interna: textos selecionados. Fortaleza, Banco do Nordeste do Brasil.); e a etapa da reestruturação produtiva, com destaque para a presença de novos processos migratórios (Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp.), representados pelas trajetórias migratórias selecionadas.

Se as estimativas censitárias de evolução da população total, rural e urbana ajudam a visualizar os tipos migratórios estruturantes (Renner e Patarra, 1980RENNER, C. H.; PATARRA, N. L. (1980). “Migrações”. In: JAIR, M. S.; SANTOS, L. F. Dinâmica da população: teoria, métodos e técnicas de análise. São Paulo, T. A. Queiroz.; Balán, 1973BALÁN, J. (1973). Migrações e desenvolvimento capitalista no Brasil: ensaio de interpretação histórico-comparativa. Estudos Cebrap. São Paulo, n. 5.) das duas primeiras fases discriminadas, na identificação dos processos de redistribuição populacional em tempos de acumulação flexível (Harvey, 1992HARVEY, D. (1992). Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo, Loyola.), essa fonte de informação esbarra em inúmeras limitações. Para Baeninger (2012)BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp., as transformações na dinâmica da acumulação capitalista têm impulsionado deslocamentos populacionais cada vez mais rotativos, marcados por múltiplos destinos e um constante ir e vir. No entendimento desse fenômeno, Sánchez (2012)SÁNCHEZ, L. R. (2012). “Las trayectorias en los estudios de migración: una herramienta para el análisis longitudinal cualitativo”. In: ARIZA, M.; L. VELASCO. Métodos cualitativos y su aplicacións empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unan, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte. destaca a importância das pesquisas qualitativas construídas a partir do conceito de trajetória migratória: uma proposição teórica e metodológica que ajuda a conectar processos de mudança social mais amplos com as escolhas individuais, juntando o micro e o macro, a dimensão do sujeito e da estrutura, de modo a entender a migração não como um ponto crítico, marcado por um evento único, mas como uma trama de fenômenos construída em diferentes escalas.

A partir dessa perspectiva, o estudo das trajetórias migratórias (ibid.) de trabalhadores nos três segmentos selecionados (sucroenergético, carne bovina e piscicultura) fornece elementos para a construção de uma tipologia de mobilidades (Heyman, 2012HEYMAN, J. (2012). “Constucción y suo de tipologías: movilidad geográfica desigual en la frontera México-Estados Unidos”. In: ARIZA, M.; VELASCO, L. Métodos cualitativos y su aplicación empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unam, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte, pp. 419-454.) ancorada em cada um dos circuitos espaciais produtivos abordados (Castillo e Frederico, 2011). Por meio dessa tipologia, a extrema diversidade dos processos de redistribuição de população, característica do novo regime de acumulação (Harvey, 1992HARVEY, D. (1992). Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo, Loyola.), é interpretada tendo como ponto de partida um elemento comum: os arranjos espaciais construídos por diferentes setores do agronegócio (Elias, 2018ELIAS, D. (2018). “A pesquisa, os mecanismos de interação e a coletânea”. In: ELIAS, D.; PEQUENO, R. (orgs.). Tendências da Urbanização Brasileira: novas dinâmicas de estruturação urbano-regional. Rio de Janeiro, Letra Capital.). Essa dimensão funcionará como gancho para diferenciar as trajetórias apresentadas, permitindo que fenômenos individuais concretos sejam tomados como parte de uma interpretação analítica unificada (Heyman, 2012HEYMAN, J. (2012). “Constucción y suo de tipologías: movilidad geográfica desigual en la frontera México-Estados Unidos”. In: ARIZA, M.; VELASCO, L. Métodos cualitativos y su aplicación empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unam, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte, pp. 419-454.).

Dividido em cinco partes principais, este trabalho se inicia com uma breve discussão sobre o processo de formação capitalista da região de interesse, com destaque para as mudanças desencadeadas pela recente expansão do agronegócio (Elias, 2003ELIAS, D. (2003). Globalização e agricultura. São Paulo, EdUSP.; Gras e Hernández, 2013GRAS, C.; HERNÁNDEZ, V. (2013). El agro como negocio: producción, sociedad y territorios en la globalización. Buenos Aires, Biblos.). Em seguida, são estabelecidas algumas considerações metodológicas sobre o uso de trajetórias migratórias (Sánchez, 2012SÁNCHEZ, L. R. (2012). “Las trayectorias en los estudios de migración: una herramienta para el análisis longitudinal cualitativo”. In: ARIZA, M.; L. VELASCO. Métodos cualitativos y su aplicacións empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unan, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte.) e a sua compreensão no âmbito de uma tipologia de mobilidades mais ampla (Heyman, 2012HEYMAN, J. (2012). “Constucción y suo de tipologías: movilidad geográfica desigual en la frontera México-Estados Unidos”. In: ARIZA, M.; VELASCO, L. Métodos cualitativos y su aplicación empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unam, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte, pp. 419-454.). Por fim, são analisadas três histórias de vida concretas, selecionadas em função das conexões que essas biografias estabelecem com a dinâmica da reestruturação produtiva do setor sucroenergético, da carne bovina e da piscicultura. A título de considerações finais, ressaltam-se a crescente especialização no uso do território (Santos, 2013SANTOS, M. (2013). Técnica, espaço, tempo. São Paulo, Edusp.) e a emergência de modalidades migratórias representativas das novas escalas de poder construídas em nível local, nacional e global (Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp.; Brandão, 2007BRANDÃO, C. (2007). Território e desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global. Campinas, Editora da Unicamp.).

Formação, consolidação e reestruturação da rede urbana do noroeste paulista

O processo de ocupação capitalista do noroeste paulista produz desigualdades regionais que hoje influenciam as formas diferenciadas de inserção de cada uma de suas localidades no circuito de acumulação do agronegócio. Antes mesmo da chegada da fronteira agrícola do café, nas décadas de 1930 e 1940, a região fazia parte das áreas de engorda dos principais frigoríficos paulistas, constituindo-se como importante fonte de carne e couro para todo o estado (Tartaglia e Oliveira, 1988; Mamigonian, 1976). Essa ocupação embrionária foi fortalecida anos mais tarde com as engrenagens da locomotiva do complexo cafeeiro (Gonçalves, 1998GONÇALVES, M. F. (1998). As engrenagens da locomotiva: ensaio sobre a formação urbana paulista. Tese de doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas.), cujo processo sistemático de demarcação de terras privadas e devolutas selou em definitivo a integração da região à divisão socioespacial do trabalho em nível nacional (Negri, Gonçalves e Cano, 1988).

Já, sob os marcos da desvalorização do café, da necessidade de alimentos para abastecer a crescente população urbana estadual e das demandas geradas pela indústria que nascia nas zonas de ocupação mais antigas, a fronteira agrícola do noroeste paulista combinou a produção comercial de gêneros alimentícios em pequenas propriedades familiares com o cultivo de algodão, milho e pecuária, emergindo como fenômeno eminentemente híbrido e flexível (Rodrigues, 2006RODRIGUES, F. (2006). Por onde vão as "Brisas Suaves" do Sertão Paulista?: população e estruturação urbana na constituição da cidade (im)possível: Votuporanga: um estudo de caso. Campinas, Unicamp - Textos Nepo 51. Disponível em: https://www.nepo.unicamp.br/publicacoes/textos_nepo/textos_nepo_51.pdf. Acesso em: 7 set 2022.
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). Em especial a partir da década de 1960, quando o avanço da modernização agrícola conservadora desestruturou as condições de reprodução da agricultura familiar (Muller, 1985MÜLLER, G. (1985). A dinâmica da agricultura paulista. São Paulo, Seade.) – protagonista na formação capitalista da região (Melo, 2013MELO, B. M. de (2013). História e memória na contramão da expansão canavieira: um estudo das formas de resistência dos sitiantes do extremo noroeste paulista. Tese de doutorado. São Carlos, Universidade Federal de São Carlos.) – as companhias colonizadoras começaram a enfrentar dificuldades na revenda de seus lotes, sobretudo nas áreas mais distantes das estações de trem, com vias de acesso precárias (Chaia, 1980CHAIA, V. L. (1980). Os conflitos de arrendatários em Santa Fé do Sul - SP: 1959-1969. Dissertação de mestrado. São Paulo, Universidade Estadual de São Paulo.). Nessas localidades, prevaleceu, desde o momento histórico de sua formação, uma estrutura fundiária mais concentrada, ocupada principalmente com pastagens e, atualmente, com a cana-de-açúcar (Bini, 2010BINI, D. L. (2010). Mudanças na pecuária de corte e algumas implicações socioespaciais na Região de Araçatuba (SP). Revista Formação, v. 2, n. 6, pp. 26-36.).

Amplamente marginalizada pela modernização agrícola de meados do século passado (Tartaglia e Oliveira, 1988; Müller, 1985MÜLLER, G. (1985). A dinâmica da agricultura paulista. São Paulo, Seade.) – que beneficiou basicamente os estabelecimentos agropecuários das regiões de ocupação mais consolidada (Tartaglia e Oliveira, 1988; Müller, 1985MÜLLER, G. (1985). A dinâmica da agricultura paulista. São Paulo, Seade.) – o período entre 1960 e 1980 marca a estagnação econômica e demográfica do noroeste paulista, seja pela desarticulação dos circuitos locais e regionais de produção e consumo de bens primários, seja porque o projeto de modernização agrícola via complexos agroindustriais, dentro dos Planos Nacionais de Desenvolvimento do regime militar, não alcançou as pontas da rede urbana estadual (Tartaglia e Oliveira, 1988; Müller, 1985MÜLLER, G. (1985). A dinâmica da agricultura paulista. São Paulo, Seade.; Brandão, 2007BRANDÃO, C. (2007). Território e desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global. Campinas, Editora da Unicamp.).

De alternativa econômica dos anos 1940, a região passou a se destacar como uma das principais áreas de evasão populacional do território paulista (Negri, Gonçalves e Cano, 1988). Nesse contexto, o acelerado ritmo de incremento populacional verificado entre 1950 e 1960 – período no qual a população da região de Governo de Jales passou de 32 mil para quase 156 mil pessoas, com taxas de crescimento que chegaram a 27% a.a. no rural e 15% a.a. no urbano – dá lugar a estimativas que comprovam, inclusive, o encolhimento da população total (0,09% a.a. entre 1960/1970 e -1,8% a.a. entre 1970/1980).

O censo demográfico de 1991 apresenta, por sua vez, alterações importantes na dinâmica demográfica da região. Em primeiro lugar, vale ressaltar a reversão da tendência ao esvaziamento populacional, processo reiterado também pelos levantamentos de 2000 e 2010. Ainda que muito próxima a zero (0,27% a.a. entre 1980/1991; 0,5% a.a. entre 1991/2000; e 0,19% a.a. entre 2000/2010), esse movimento se combina com uma mudança expressiva quanto à propensão de concentração da população nos municípios considerados “cabeças” da rede urbana local (Caiado, 1995CAIADO, A. S. C. (1995). Dinâmica socioespacial e a rede urbana paulista. São Paulo em Perspectiva, v. 9, n. 3, pp. 46-53.), classificados por Baeninger (2005)BAENINGER, R. (2005). São Paulo e suas migrações no final do século XX. São Paulo em Perspectiva, v. 19, n. 3, pp. 84-96. como catalisadores da migração intrarregional. Se, até 1980, tais localidades cresciam a taxas muito superiores às estimadas da região, desde fins do século XX, essas municipalidades passaram a vivenciar crescimento populacional estagnado, apontando para a transformação desses centros urbanos em áreas de intensa rotatividade migratória (Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp.). Ao mesmo tempo, pequenos municípios recuperaram sua tendência de crescimento demográfico.

Na explicação desse fenômeno, é preciso reconhecer ao menos dois fenômenos distintos. Por um lado, as facilidades de transporte e os custos de moradias nas principais cidades do noroeste paulista, como Jales, impulsionaram o que Cunha (2005)CUNHA, J. M. (2005). Migração e urbanização no Brasil: alguns desafios metodológicos para análise. São Paulo em Perspectiva, v. 19, n. 4, pp. 3-20. Disponível em: https://www.scielo.br/j/spp/a/9C3XWBrhvPKxgcJBNRWG6vS/?lang=pt. Acesso em: 7 set 2022.
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denomina periferização da população: desaceleração do crescimento do município-sede, aumento da imigração nos municípios do entorno e intensificação dos deslocamentos pendulares. Por outro lado, também é preciso reconhecer que o avanço do agronegócio tem fortalecido as atividades urbanas de pequenos e micromunicípios, com profundas alterações em seus processos de redistribuição populacional (Canales e Canales Ceron, 2013CANALES, A. I.; CANALES CERON, M. (2013). De la metropolización a las agrópolis: el nuevo poblamiento urbano en el Chile actual. Polis. Santiago, v. 12, n. 34, pp. 31-56. Disponível em: <http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-65682013000100003&lng=es&nrm=iso>. Acesso em: 5 set 2022. DOI: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682013000100003.
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).

Este trabalho trata especificamente desse último fenômeno, trazendo para discussão trajetórias migratórias dinamizadas por localizações do agronegócio que rompem com as hierarquias socioespaciais historicamente construídas no território (Santos, 2013SANTOS, M. (2013). Técnica, espaço, tempo. São Paulo, Edusp.). Tais localidades, outrora pensadas como cidades imaginárias, simples aglomerados de agricultores marcados pela evasão populacional (Veiga, 2003VEIGA, J. E. (2003). Cidades imaginárias: o Brasil é menos urbano do que se calcula. Campinas, Editora Autores Associados.; Singer, 1980SINGER, P. (1980). “Migrações internas: considerações teóricas sobre o seu estudo”. In: MOURA, H. Migração interna: textos selecionados. Fortaleza, Banco do Nordeste do Brasil.), têm revelado “dimensões inéditas das relações cidade-campo” e, sobretudo, mostrado dinâmicas regionais nas quais se sobressaem como os principais pontos de contato com a economia globalizada (Abramovay, 2000ABRAMOVAY, R. (2000). Funções e medidas da ruralidade no desenvolvimento contemporâneo. Texto para discussão nº 702. Rio de Janeiro, Ipea, pp. 1-31., p. 27). Formada pela conexão imediata entre o lugar da produção e as demandas dos mercados globais – a partir do que Santos (2013)SANTOS, M. (2013). Técnica, espaço, tempo. São Paulo, Edusp. denominou curto-circuito da rede urbana – essas cidades agrárias (Canales e Canales Ceron, 2013CANALES, A. I.; CANALES CERON, M. (2013). De la metropolización a las agrópolis: el nuevo poblamiento urbano en el Chile actual. Polis. Santiago, v. 12, n. 34, pp. 31-56. Disponível em: <http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-65682013000100003&lng=es&nrm=iso>. Acesso em: 5 set 2022. DOI: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682013000100003.
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) esboçam uma hierarquia urbana de dimensões transnacionais (Sassen, 1998SASSEN, S. (1998). As cidades na economia mundial. São Paulo, Studio Nobel.) que redefine as funções polarizadoras do município de Jales, cuja emergência como capital regional corresponde a um processo nacional de produção de desigualdades socioespaciais (Santos, 2013SANTOS, M. (2013). Técnica, espaço, tempo. São Paulo, Edusp.; Ribeiro, 2004RIBEIRO, A. C. T. (2004). “Regionalização: fato e ferramenta”. In: LIMONAD, E.; HAESBAERT, R.; MOREIRA, R. (orgs.). Brasil século XXI: por uma regionalização? Processos, escalas, agentes. São Paulo, Max Limonad.; Limonad, 2004LIMONAD, E. (2004). “Brasil século XXI, regionalizar para que? Para quem?”. In: LIMONAD, E.; HAESBAERT, R.; MOREIRA, R. (orgs.). Brasil século XXI: por uma regionalização? Processos, escalas, agentes. São Paulo, Max Limonad.). Sem obedecer a essa ordem, a inserção do noroeste paulista nos mercados globais – representada pela usina de Suzanápolis, pelo frigorífico de Santa Fé do Sul e pelas centenas de pisciculturas espalhadas ao longo dos rios Paraná e Tietê – materializa outras escalas de poder (Brandão, 2007BRANDÃO, C. (2007). Território e desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global. Campinas, Editora da Unicamp.), produz novos espaços da migração (Baeninger, 1999BAENINGER, R. (1999). Região, Metrópole e Interior: espaços ganhadores e espaços perdedores nas migrações recentes no Brasil – 1980/1996. Tese de doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas.).

Nesse sentido, as trajetórias migratórias selecionadas são emblemáticas das recomposições escalares derivadas desse “novo tipo de sistema urbano” (Sassen, 1998SASSEN, S. (1998). As cidades na economia mundial. São Paulo, Studio Nobel., p. 47), não devendo ser interpretadas à luz da desconcentração populacional e produtiva preconizada pelos planos nacionais de desenvolvimento da ditadura militar (Brandão, 2007BRANDÃO, C. (2007). Território e desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global. Campinas, Editora da Unicamp.; Negri, Gonçalves e Cano, 1988). Refletem, ao contrário, eixos de crescimento econômico associados à fragmentação da nação (Pacheco, 1998PACHECO, C. A. (1998). Fragmentação da nação. Campinas, Unicamp.), enclaves produtivos (Brandão, 2019BRANDÃO, C. A. (2019). Mudanças produtivas e econômicas e reconfiguração territorial no Brasil no início do Século XXI. Revista Brasileira de Estudos Urbanos. São Paulo, v. 21, n. 2, pp. 258-279.), ilhas de prosperidade (Araújo, 2000ARAÚJO, T. B. de (2000). Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro: heranças e urgências. Rio de Janeiro, Revan.) ou espaços transnacionais especializados no atendimento das demandas internacionais (Sassen, 1998SASSEN, S. (1998). As cidades na economia mundial. São Paulo, Studio Nobel.). No contexto dessas complementaridades socioespaciais, o noroeste paulista passa a registrar fluxos migratórios inéditos, representativos tanto da migração internacional, como dos novos rumos da migração interna (Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp.), associados ao topo e à base da estrutura ocupacional do agronegócio (Gras e Hernández, 2013GRAS, C.; HERNÁNDEZ, V. (2013). El agro como negocio: producción, sociedad y territorios en la globalización. Buenos Aires, Biblos.). Para esses novos processos de redistribuição de população, os principais polos catalisados da migração (Baeninger, 2005BAENINGER, R. (2005). São Paulo e suas migrações no final do século XX. São Paulo em Perspectiva, v. 19, n. 3, pp. 84-96.) não se limitam às maiores cidades da região, mas a pequenos núcleos urbanos, como Suzanápolis. A reconfiguração desses micromunicípios evidencia tanto a complexa trama de múltiplas mobilidades que marcam os processos migratórios contemporâneos (Sánchez, 2012SÁNCHEZ, L. R. (2012). “Las trayectorias en los estudios de migración: una herramienta para el análisis longitudinal cualitativo”. In: ARIZA, M.; L. VELASCO. Métodos cualitativos y su aplicacións empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unan, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte.; Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp.), quanto as novas condições de mobilidade do trabalho criadas pela globalização da agricultura (Sassen, 1988; Elias, 2003ELIAS, D. (2003). Globalização e agricultura. São Paulo, EdUSP.).

Considerações metodológicas: as trajetórias migratórias utilizada na pesquisa

Inúmeros trabalhos, sob diferentes perspectivas, têm se apropriado das trajetórias migratórias enquanto ferramenta capaz de sistematizar e ordenar a multiespacialidade da migração (Sánchez, 2012SÁNCHEZ, L. R. (2012). “Las trayectorias en los estudios de migración: una herramienta para el análisis longitudinal cualitativo”. In: ARIZA, M.; L. VELASCO. Métodos cualitativos y su aplicacións empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unan, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte.). Ao unir “dois eixos vertebrais das ciências sociais” – o tempo e o espaço –, essa abordagem tem por objetivo primeiro e mais fundamental conectar eventos individuais a processos históricos, de modo a situar a biografia do sujeito no âmbito das transformações que marcam um determinado período (ibid., p. 456; tradução livre). Nas palavras da autora: “Na medida em que a migração supõe uma mudança social, a análise longitudinal realizada com trajetórias representa uma opção metodológica e analítica com grande potencial para abordar simultaneamente várias dimensões dos processos migratórios” (ibid., p. 460; tradução livre).

Para os fins desta pesquisa, interessa analisar as trajetórias migratórias enquanto expressões das transformações escalares advindas da inserção do noroeste paulista nos mercados globais, via produção de commodities. A reestruturação produtiva trazida pelo modelo agribusiness de produção (Gras e Hernández, 2013GRAS, C.; HERNÁNDEZ, V. (2013). El agro como negocio: producción, sociedad y territorios en la globalización. Buenos Aires, Biblos.), ao criar novas desigualdades socioespaciais (Sassen, 1998SASSEN, S. (1998). As cidades na economia mundial. São Paulo, Studio Nobel.), redefine processos migratórios internos e internacionais, consolidando novas modalidades e espaços da migração (Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp. e 1999). Essa “remodelação do território” põe em xeque “os antigos esquemas utilizados para classificar sua rede urbana” (Elias, 2018ELIAS, D. (2018). “A pesquisa, os mecanismos de interação e a coletânea”. In: ELIAS, D.; PEQUENO, R. (orgs.). Tendências da Urbanização Brasileira: novas dinâmicas de estruturação urbano-regional. Rio de Janeiro, Letra Capital., p. 9), sendo as trajetórias migratórias (Sánchez, 2012SÁNCHEZ, L. R. (2012). “Las trayectorias en los estudios de migración: una herramienta para el análisis longitudinal cualitativo”. In: ARIZA, M.; L. VELASCO. Métodos cualitativos y su aplicacións empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unan, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte.) um importante instrumento na visualização das complementaridades espaciais construídas nesse novo cenário.

Contudo, na condição de instrução para a produção de informação, as trajetórias migratórias representam um “material bruto que necessita ser analisado” (Queiróz, 1988, p. 30). De acordo com Sánchez (2012)SÁNCHEZ, L. R. (2012). “Las trayectorias en los estudios de migración: una herramienta para el análisis longitudinal cualitativo”. In: ARIZA, M.; L. VELASCO. Métodos cualitativos y su aplicacións empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unan, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte., a leitura do social através do indivíduo requer a elaboração de uma unidade de investigação intermediária, por meio da qual os eventos biográficos sejam interpretados em conjunto com mudanças sociais estudadas. É nesse sentido que as trajetórias migratórias sustentam a construção de tipologias ou modalidades da migração que, mesmo sem validade estatística, associa e estabiliza as múltiplas e diferentes interpretações que os sujeitos fazem de sua experiência (ibid.).

Na interpretação de Heyman (2012)HEYMAN, J. (2012). “Constucción y suo de tipologías: movilidad geográfica desigual en la frontera México-Estados Unidos”. In: ARIZA, M.; VELASCO, L. Métodos cualitativos y su aplicación empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unam, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte, pp. 419-454., as tipologias aportam sentido ao caos de ideias e fenômenos infinitamente diversos e contraditórios que aparecem nas histórias de vida, emergindo como exercício fundamental de seleção e associação das trajetórias. Desse modo, sua construção se apresenta como elemento imprescindível de comparação. Serve à verificação de contrastes e à busca por características-chave. Para o autor, mais que apontar para regularidades empíricas, as tipologias possibilitam organizar corretamente a teoria (ibid.). Diferentemente da perspectiva weberiana, para a qual a tipologia surge como “um cosmo não contraditório de relações pensadas”, uma utopia metodológica impossível de ser verificada empiricamente, cumprindo funções de representações ideais (Weber, 2016, pp. 251-252), Heyman (2012)HEYMAN, J. (2012). “Constucción y suo de tipologías: movilidad geográfica desigual en la frontera México-Estados Unidos”. In: ARIZA, M.; VELASCO, L. Métodos cualitativos y su aplicación empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unam, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte, pp. 419-454. a interpreta como um agrupamento de fatos da realidade. Em suas palavras, as tipologias descrevem fragmentos do “mundo exterior [...], sendo reais nesse sentido” (ibid., pp. 424-425; tradução livre).

Seguindo as orientações de Heyman (2012)HEYMAN, J. (2012). “Constucción y suo de tipologías: movilidad geográfica desigual en la frontera México-Estados Unidos”. In: ARIZA, M.; VELASCO, L. Métodos cualitativos y su aplicación empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unam, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte, pp. 419-454. e Sánchez (2012)SÁNCHEZ, L. R. (2012). “Las trayectorias en los estudios de migración: una herramienta para el análisis longitudinal cualitativo”. In: ARIZA, M.; L. VELASCO. Métodos cualitativos y su aplicacións empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unan, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte., a infinidade de trajetórias migratórias associada à globalização da agricultura foram organizadas segundo os circuitos espaciais produtivos a que correspondem. Essa foi a dimensão utilizada na pesquisa para classificar as trajetórias analisadas. Tal como discutido por Castillo e Frederico (2010)CASTILLO, R.; FREDERICO, S. (2010). Espaço geográfico, produção e movimento: uma reflexão sobre o conceito de circuito espacial produtivo. Sociedade & Natureza. Uberlândia, v. 22, n. 3, pp. 461-474., cada segmento possui uma ancoragem territorial particular, mobiliza complementaridades socioespaciais diferentes que requisitam aportes teóricos específicos. Por essa razão, a piscicultura, a pecuária e o setor sucroenergético desenham arranjos urbano-rurais regionais (Demétrio, 2017DEMÉTRIO, N. B. (2017). Arranjos urbanos-rurais regionais: o rural paulista no século 21. Tese de doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1631304. Acesso em: 5 set 2022.
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) diversos, cada um dos quais associado a um conjunto de trajetórias (Sanchez, 2012SÁNCHEZ, L. R. (2012). “Las trayectorias en los estudios de migración: una herramienta para el análisis longitudinal cualitativo”. In: ARIZA, M.; L. VELASCO. Métodos cualitativos y su aplicacións empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unan, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte.; Heryman, 2012).

Neste artigo, foram selecionadas três trajetórias: uma de cada tipo.5 5 Vale ressaltar que a construção da tipologia proposta por Heyman (2012) não equivale ao tipo estruturante discutido por Balán (1973) e por Renner e Patarra (1980). Para esses autores, os tipos estruturantes sintetizavam as transformações econômicas características da etapa do desenvolvimento capitalista da qual eram parte. Já para Heyman (2012) a produção de uma tipologia dos movimentos migratórios constitui uma estratégia teórica e metodológica para organizar a diversidade de deslocamentos associada à atual fase de acumulação. Nesse sentido, essa perspectiva se aproxima das modalidades migratórias discutidas por Baeninger (2012). Ou seja, para cada segmento de interesse, elegeu-se uma biografia representativa das novas conexões estabelecidas entre os municípios da região com o resto do País e do mundo.6 6 No total, a pesquisa conseguiu construir doze trajetórias migratórias: nove do setor sucroenergético, duas relacionadas ao frigorífico de carne bovina e uma da piscicultura. Essas entrevistas contaram com a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (Certificado de Apreciação Ética 20340219.2.0000.8142) e foram realizadas entre junho de 2019 e janeiro de 2020. A busca por interlocutores ocorreu via contato com as empresas citadas, por indicação de agentes institucionais locais, em pontos de ônibus com concentração de trabalhadores dos segmentos de interesse e pelas redes sociais. Neste artigo, foram escolhidas as trajetórias migratórias representativas da migração internacional e do retorno. No setor sucroenergético, privilegiou-se a análise da imigração internacional sem raízes históricas com o noroeste paulista. No setor da carne bovina, abordou-se a exportação organizada (Sassen, 2010SASSEN, S. (2010). Sociologia da globalização. Porto Alegre. Artmed.) de magarefes7 7 Termo utilizado pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) para designar açougueiros, desossadores e demais trabalhos relacionados ao abate de animais. da região para o trabalho em frigoríficos do Norte Global. Por fim, na piscicultura, analisaram-se os novos rumos da migração interna e a questão do retorno.

A construção dessas trajetórias migratórias (Sánchez, 2012SÁNCHEZ, L. R. (2012). “Las trayectorias en los estudios de migración: una herramienta para el análisis longitudinal cualitativo”. In: ARIZA, M.; L. VELASCO. Métodos cualitativos y su aplicacións empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unan, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte.) deriva-se de entrevistas semiestruturadas (Richardson, 1999RICHARDSON, R. J. (1999). Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo, Atlas.) guiadas por apenas três perguntas,8 8 O guia das entrevistas era constituído das seguintes perguntas: (1) O que você faz e quando começou a trabalhar na empresa?; (2) Antes disso, você fazia o que e morava onde? (essa pergunta foi repetida até chegar ao local de nascimento da pessoa); (3) Conte um pouco sobre sua trajetória até aqui. de modo a se obter de cada entrevistado(a) o que ele(a) considera mais relevante no percurso de sua vida e de seu trabalho. Sem “a preocupação com a generalização”, os discursos captados nessas entrevistas visam oferecer “uma explicação válida para o caso [...] em estudo, reconhecendo que os resultados das observações são sempre parciais” (Martins, 2004MARTINS, H. J. T. de S. (2004). Metodologia qualitativa de pesquisa. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 2, pp. 289-300, maio/ago., p. 295). Nessa linha, vale pontuar que o rigor da pesquisa qualitativa não advém de sua significância estatística ou da rigidez do instrumento de coleta das informações, mas da profundidade dos conhecimentos acessados e “da solidez dos laços estabelecidos entre nossas interpretações teóricas e nossos dados empíricos” (ibid.).

A reestruturação produtiva do setor sucroenergético e a chegada de José9

Os últimos anos marcam a surpreendente expansão da cana-de-açúcar no estado de São Paulo (Castillo, 2015CASTILLO, R. (2015). Dinâmicas recentes do setor sucroenergético no Brasil: competitividade regional e expansão para o Bioma Cerrado. GEOgraphia, pp. 95-119.). Até meados de 1960, os canaviais paulistas concentravam-se no eixo formado pelas rodovias Anhanguera e Washington Luís, interligando as regiões de Campinas, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto. Na década de 1970, essa produção expande-se para o oeste paulista, seguindo o traçado da Marechal Rondon e da Raposo Tavares, nas proximidades de Araçatuba e Presidente Prudente (Oliveira, 2012OLIVEIRA, R. A. (2012). Mobilidade circular de cortadores de cana e divisão espacial do trabalho: expressões regionais na década de 2000. Tese de doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas.). Amplamente marginalizada pela modernização agrícola desse período, a cana-de-açúcar alcança o noroeste paulista apenas nos anos 2000, acompanhando os caminhos abertos pela rodovia Euclides da Cunha (Demétrio, 2013DEMÉTRIO, N. B. (2013). População e dinâmica econômica na região de governo de Jales no século 21: o "outro" rural do oeste paulista. Dissertação de mestrado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1620515. Acesso em: 5 set 2022.
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).

A inserção dessa região na rota de expansão canavieira coincide com o processo de concentração e internacionalização do setor (Sampaio, 2015SAMPAIO, M. D. (2015). 360º: o périplo do açúcar em direção à macrorregião canavieira do centro-sul do Brasil. Tese de doutorado. São Paulo, Universidade de São Paulo.). Seja devido às reformas neoliberais que facilitaram a atuação das transnacionais no País, seja em função da alta cotação do açúcar e do etanol nos mercados interno e internacional na primeira década dos anos 2000, houve um “agigantamento dos grupos empresariais” no comando da produção, processamento e comercialização da cana-de-açúcar e seus derivados (ibid., p. 739). Emblemática dessas transformações, está a Vale do Paraná, em Suzanápolis.10 10 Com cerca de 4 mil habitantes, Suzanápolis é elevada à categoria de município nos anos 1990, como desmembramento de Pereira Barreto. Entre 2000 e 2010, sua taxa geométrica de crescimento populacional foi estimada em 1,95% a.a.: uma das mais altas de todo o noroeste paulista. De cidade imaginária (Veiga, 2003) essa localidade se transforma em uma cidade agrária (Canales e Canales Ceron, 2013), apontando as profundas recomposições escalares na organização do território (Brandão, 2007). Construída em 2006, por ação de capitais nacionais (Unialco), a usina foi vendida aos grupos Pantaleón, da Guatemala, e Manuelita, da Colômbia, no começo de 2010. Além de representar o processo de internacionalização do setor (Castillo, 2015CASTILLO, R. (2015). Dinâmicas recentes do setor sucroenergético no Brasil: competitividade regional e expansão para o Bioma Cerrado. GEOgraphia, pp. 95-119.), a Vale do Paraná também constitui um exemplo emblemático da nova ordem mundial, reconfigurada pelo fortalecimento das relações Sul-Sul (Manrique, 2012MANRIQUE, L. E. (2012). El emergente eje ‘Sur-Sur’ global. Revista Política Exterior, v. 26, n. 146, pp. 104-117.).

A mudança de propriedade da usina marca um verdadeiro choque de gestão, conforme relato de seus funcionários. Dentre as principais mudanças, estão os investimentos maciços em maquinário, com estabelecimento de rotinas mais estruturadas de trabalho. As transformações na hierarquia do emprego trazidas pela instalação e reestruturação dessa usina relacionam-se tanto a uma migração internacional inserida no topo da pirâmide ocupacional da empresa, com origem nos países em que os grupos Pantaleón e Manuelita têm forte atuação, quanto a uma migração interna de nordestinos, sobretudo baianos, ocupados no plantio e colheita mecanizada da cana-de-açúcar. Se o primeiro fluxo se concentra no principal centro urbano da região (Santa Fé do Sul), o segundo é mais evidente nos micros e pequenos munícipios de Três Fronteiras, Suzanápolis e Nova Canaã Paulista, localidades que se transformam em verdadeiras periferias migrantes (Pereira e Baeninger, 2016PEREIRA, G. G.; BAENINGER, R. (2016). Periferias migrantes: trabalhadores rurais migrantes do. In: VII CONGRESO LATINOAMERICANO DE ESTUDIOS DEL TRABAJO. Anais. Buenos Aires.) do agronegócio canavieiro.

Em meio às várias trajetórias migratórias (Sánchez, 2012SÁNCHEZ, L. R. (2012). “Las trayectorias en los estudios de migración: una herramienta para el análisis longitudinal cualitativo”. In: ARIZA, M.; L. VELASCO. Métodos cualitativos y su aplicacións empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unan, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte.) que podem ser conjugadas na tipologia de mobilidades (Heyman, 2012HEYMAN, J. (2012). “Constucción y suo de tipologías: movilidad geográfica desigual en la frontera México-Estados Unidos”. In: ARIZA, M.; VELASCO, L. Métodos cualitativos y su aplicación empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unam, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte, pp. 419-454.), associadas às dinâmicas espaciais do setor sucroenergético (Castillo, 2015CASTILLO, R. (2015). Dinâmicas recentes do setor sucroenergético no Brasil: competitividade regional e expansão para o Bioma Cerrado. GEOgraphia, pp. 95-119.), este artigo destaca a chegada de José (nome fictício), em Suzanápolis (Mapa 2). Natural de Chinandega, na Nicarágua, José trabalhava há oito anos na usina da Pantaleón em sua cidade natal. Nunca havia morado em outro lugar antes de se mudar para o noroeste paulista, em 2015. Em suas palavras:

Mapa 2
Trajetória migratória de José. Nicarágua-Brasil, 2015-atual

Quando eles começaram a expandir a produção aqui no Brasil, veio gente das empresas que fazem parte do grupo Pantaleón e Manuelita. Por exemplo, o gerente geral é da Colômbia. A Manuelita o colocou como gerente geral da usina, em 2013. Também abriram vagas para vários setores, tanto na parte administrativa, como na parte de maquinários agrícolas, que foi onde surgiu a vaga para mim [...]. Aqui na usina tem bastante estrangeiro, em diferentes setores. Tem da Guatemala, da Nicarágua, do Peru, Colômbia, México [...].

A mudança de residência para o Brasil possibilitou ao José ascender em sua carreira profissional: tornou-se chefe do setor de maquinários agrícolas. Inicialmente, chegou na Vale do Paraná com um contrato de trabalho temporário, válido por dois anos. Nesse período, a cada três meses retornava a Chinandega e passava duas semanas com sua família. Em 2018, seu vínculo com a empresa foi renovado por tempo indeterminado. Foi quando sua esposa e seus dois filhos também se mudaram para a região.

Quando me mostraram o contrato de trabalho daqui eu gostei da proposta. A empresa deu um suporte muito grande na mudança. Arrumar casa, saúde, questões burocráticas, passagens para visitar a família e aulas de português.

De acordo com as informações fornecidas pela Polícia Federal brasileira, entre 2010 e março de 2020, 120 imigrantes internacionais com Registro Nacional Migratório (RNM) declararam residência no município de Santa Fé do Sul. Em Suzanápolis, por sua vez, foram apenas 3. O principal amparo legal desses registros se refere-se ao artigo 13, item V, da lei n. 6.815 de 1980, responsável por disciplinar a concessão de visto temporário “ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil na condição de cientista, pesquisador, professor, técnico ou profissional de outra categoria”.11 11 Essas informações estão disponíveis no Banco Interativo do Observatório das Migrações em São Paulo – Números da Imigração Internacional para o Brasil. Disponível em: https://www.nepo.unicamp.br/observatorio/bancointerativo/numeros-imigracao-internacional/sincre-sismigra/. Acesso em: 1º set 2020. Levando-se em consideração apenas esse dispositivo jurídico, 23 pessoas chegaram a esses municípios, nesse período, 10 dos quais da Guatemala e 9 da Nicarágua, países de forte atuação da Pantaleón. Destacam-se as ocupações de mecânico e operador de maquinário, além de engenheiros e economistas. Todos possuem visto temporário, o que reforça a intensa rotatividade migratória desse fluxo (Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp.), também relatado por José:

Em 2015, quando eu cheguei, viemos em quatro pessoas da Nicarágua. Depois, em 2017, três voltaram. Da Nicarágua mesmo, só ficou eu e outras duas famílias, que já estavam aqui há mais tempo. Um é responsável pela área da colheita e outro trabalha na parte administrativa [...]. Hoje, para ficar mesmo, eu acho que não vem mais. Agora, para fazer visita, vistoria, acompanhamento, sempre estão vindo. Mas ficam aqui temporariamente [...]. O pessoal da parte corporativa, eles ficam sempre mudando. Eles precisam visitar as diferentes usinas do grupo.

A trajetória de José evidencia a emergência de uma migração internacional inédita na história da região, decorrente das alianças por cima (Gras e Hernández, 2013GRAS, C.; HERNÁNDEZ, V. (2013). El agro como negocio: producción, sociedad y territorios en la globalización. Buenos Aires, Biblos.; Portes, Guarnizo e Landolt, 2003) realizadas pelo agronegócio canavieiro. A internacionalização da Vale do Paraná não apenas provocou uma inovação radical nos processos de gestão e produção da empresa, como também mobilizou outras identidades profissionais (Gras e Hernández, 2013GRAS, C.; HERNÁNDEZ, V. (2013). El agro como negocio: producción, sociedad y territorios en la globalización. Buenos Aires, Biblos.), sobretudo entre as ocupações que envolvem alto nível de reflexividade e conhecimento, próprias da economia da informação (Castells, 2006CASTELLS, M. (2006). A sociedade em rede. São Paulo, Paz e Terra.). Nesse contexto, a transformação de espaços selecionados (Sassen, 1998SASSEN, S. (1998). As cidades na economia mundial. São Paulo, Studio Nobel.) do noroeste paulista em áreas da produção globalizada de commodities alterou a dinâmica de suas migrações internacionais, alimentando também deslocamentos pendulares e outras formas de mobilidade, os quais, em conjunto, precisam ser compreendidos no âmbito de um mesmo processo de mudança social (Renner e Patarra, 1980RENNER, C. H.; PATARRA, N. L. (1980). “Migrações”. In: JAIR, M. S.; SANTOS, L. F. Dinâmica da população: teoria, métodos e técnicas de análise. São Paulo, T. A. Queiroz.).

A reestruturação produtiva dos frigoríficos de carne bovina e a partida de João12

A formação capitalista de todo o oeste paulista deita raízes na criação de bovinos (Tartaglia e Oliviera, 1988TARTAGLIA, J. D.; OLIVIERA, O. L. (1988). “Agricultura Paulista e sua Dinâmica Regional (1920-1980)”. In: CANO, W. A interiorização do desenvolvimento econômico no Estado de São Paulo (1920-1980). São Paulo, Seade.; Mamigonian, 1976). As antigas estradas boiadeiras, estruturadas nas trilhas dos bandeirantes, constituíram os principais veios de penetração das relações de mercado na região, servindo como base para o traçado das ferrovias e, posteriormente, das rodovias (Gonçalves, 1998GONÇALVES, M. F. (1998). As engrenagens da locomotiva: ensaio sobre a formação urbana paulista. Tese de doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas.). Ao longo desses caminhos, foram plantadas cidades e indústrias de diferentes perfis, fomentado uma divisão socioespacial do trabalho que se redefine na medida em que capitais entram e saem de cada localidade (ibid.).

No contexto dessas transformações, o noroeste paulista deixa de ser parte de uma grande área de engorda de bovinos, tal como se apresentava em fins do século XIX (Mamigonian, 1976), para se consolidar como importante fonte de carne e couro, em meados do século XX (Tartaglia e Oliviera, 1988TARTAGLIA, J. D.; OLIVIERA, O. L. (1988). “Agricultura Paulista e sua Dinâmica Regional (1920-1980)”. In: CANO, W. A interiorização do desenvolvimento econômico no Estado de São Paulo (1920-1980). São Paulo, Seade.). Esse percurso sintetiza as diferentes funções que Santa Fé do Sul13 13 Com 29 mil habitantes, segundo o censo demográfico de 2010, Santa Fé do Sul sobressai-se como uma das “cabeças” da rede urbana do noroeste paulista (Demétrio, 2013). tem assumido no circuito espacial da carne bovina (Bini, 2010BINI, D. L. (2010). Mudanças na pecuária de corte e algumas implicações socioespaciais na Região de Araçatuba (SP). Revista Formação, v. 2, n. 6, pp. 26-36.). Até 1920, toda a região compunha as invernadas do frigorífico de Barretos, uma propriedade do grupo britânico Anglo (Mamigonian, 1976). No auge das políticas públicas de nacionalização do setor, amplos incentivos fiscais foram concedidos para a construção de unidades de abate nas principais áreas de criação de gado do País (Mamigonian, 1976). Nesse contexto, inaugurou-se, em 1958, o frigorífico de Santa Fé do Sul, então denominado Tatuibi (Corrêa, 2012CORRÊA, D. S. (2012). Fusões e aquisições nos segmentos carne bovina, óleo de soja e sucroalcooleiro (1992-2010). Tese de doutorado. São Paulo, Universidade de São Paulo.). Por cerca de 50 anos, essa indústria permaneceu como empresa familiar, constituindo-se como uma das principais fontes de emprego e renda da cidade.

Esse cenário é radicalmente alterado na primeira década do século XXI. Em primeiro lugar, o aumento do consumo interno e internacional de carnes alavancou o crescimento do setor, ao mesmo tempo que impulsionou o processo de fusão e aquisição responsável por forjar as quatro transnacionais de origem brasileira que dominam o segmento: JBS, BRF, Minerva e Marfrig (Corrêa, 2012CORRÊA, D. S. (2012). Fusões e aquisições nos segmentos carne bovina, óleo de soja e sucroalcooleiro (1992-2010). Tese de doutorado. São Paulo, Universidade de São Paulo.; Aurélio Neto, 2019). Como parte desse movimento, o Tatuibi é vendido para a Rodopa Exportação de Alimentos e Logística, sendo arrendado para a JBS, em 2013. Após cinco anos de funcionamento sob comando desse grande grupo, o frigorífico fechou suas portas em 2017, causando enormes impactos locais, seja pela demissão de 600 funcionários, seja em função da perspectiva de queda na arrecadação de impostos para o município14 14 Informação disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/sao-jose-do-rio-preto-aracatuba/noticia/2017/02/fechamento-de-frigorifico-ira-impactar-economia-de-santa-fe-do-sul.html. Acesso em: 30 jul 2020.

Em segundo lugar, a venda crescente de carne brasileira para países asiáticos e africanos (Egito, Arábia Saudita, Irã, China e Hong Kong, em especial) atraiu investimentos do Sul Global, a exemplo da empresa iraniana Golden Imex Eireli. Inicialmente voltada à comercialização de carnes e derivados, em 2018, o grupo passou também a atuar no ramo de abate, arrendando o frigorífico de Santa Fé do Sul. A retomada de suas atividades inaugura uma nova fase na trajetória dessa indústria: a produção de carnes voltada exclusivamente para exportação.

A forte inserção dessa localidade nos mercados globais de carne reconfigura os processos migratórios do, para e no noroeste paulista. Entrevistas realizadas com agentes institucionais locais e funcionários do frigorífico relatam a presença, na cidade, de iranianos gerentes, diretores e degoladores especializados no abate halal.15 15 “A palavra halal no idioma árabe significa “lícito”, “permissível”. É considerado alimento halal desde que cultivado e processado de acordo com regras religiosas e higiênicas islâmicas”. A certificação halal trata-se de uma exigência na venda de carnes para países muçulmanos. Fonte: Agência de Notícias Árabe-Brasil/Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Disponível em: https://anba.com.br/. Acesso em: 9 ago 2022. Junto a essa imigração internacional, também inédita na história da região, a transformação do Tatuibi em JBS origina ainda uma emigração internacional completamente nova, composta por desossadores: uma ocupação marcada por altíssimas taxas de adoecimento por razões laborais e acidentes de trabalho (Vasconcellos, Pignatti e Pignati, 2009), cada vez mais raras nos países do Norte Global, onde a JBS e outras transnacionais mantêm unidades de abate.

De modo a garantir a força de trabalho necessária à sua reprodução, junto à aquisição de frigoríficos ao redor do mundo (Aurélio Neto, 2019; Corrêa, 2012CORRÊA, D. S. (2012). Fusões e aquisições nos segmentos carne bovina, óleo de soja e sucroalcooleiro (1992-2010). Tese de doutorado. São Paulo, Universidade de São Paulo.), o grupo criou o programa “JBS Sem Fronteiras”: uma iniciativa para levar “mão de obra brasileira, altamente especializada, à operação da Companhia em outros países”.16 16 Informação disponível em: https://jbs.com.br/imprensa/releases/jbs-exporta-mao-de-obra-de-ms-para-o-canada/. Acesso em: 29 jul 2020. Outras reportagens que abordam a emigração de magarefes brasileiros estão disponíveis em: https://www.beefpoint.com.br/os-100-hellos-que-movem-as-operacoes-da-jbs-no-canada/. Acesso em: 30 jul 2020. No âmbito desse projeto, inicia-se a exportação organizada (Sassen, 2010SASSEN, S. (2010). Sociologia da globalização. Porto Alegre. Artmed.) de magarefes brasileiros para o trabalho em frigoríficos americanos, canadenses, australianos e europeus.

Esse é o processo que levou João [nome fictício] a trabalhar como desossador na Irlanda. Nascido no interior de Pernambuco, passou por inúmeras cidades e ofícios antes de entrar no frigorífico de Santa Fé do Sul, em 2001 (Mapa 3). Foi vendedor de pães em sua região de origem, depois metalúrgico e pedreiro em São Paulo. Mudou-se para o noroeste paulista em fins da década de 1990, por influência de seu pai, que chegara na região anos antes para trabalhar na construção da ponte rodoferroviária do rio Paraná.17 17 Demétrio (2013) relaciona as trocas de população entre o noroeste paulista e a região nordeste, em especial com a Bahia e o Maranhão, à agroindústria canavieira. De fato, essa é a principal origem dos trabalhadores na base da hierarquia ocupacional das usinas do setor sucroenergético, com a expansão dos canaviais definindo os corredores da migração nordestina em São Paulo (Silva e Menezes, 2007; Demétrio, 2017). No entanto, a trajetória de José aponta para a importância dessa migração também para a construção civil, alavancada na região pela política dos grandes eixos, responsável por modernizar os principais entroncamentos logísticos do País (Cano, 2011). Por quatro anos, João também atuou na construção civil. Começou no frigorífico como ajudante na parte de embalagens. A princípio, relutou em trabalhar no cargo de desossador. Além do contato direto com o sangue e a gordura dos animais, o peso das carcaças e a cadência das linhas de produção o fizeram preferir outro setor. No entanto, logo sucumbiu a essa função quando viu seus colegas magarefes emigrarem:

Mapa 3
Trajetória migratória de João.Brasil-Irlanda-Brasil, 2009-2012

Lá no frigorífico eu conheci um rapaz que foi para a Irlanda. Mas só ia desossador [...]. Eu queria ir também. Então fui para a desossa. Trabalhar na desossa é pesado. Tem que carregar osso de 45, 50 quilos na cabeça [...]. Dói, chega em casa tem que tomar dorflex [...]. O serviço é ritmo. Na desossa, você tem obrigação de ficar bom. Se você não ficar, você sai da linha [...]. Eram 500, 600 bois por dia. Mas eu fiquei ali porque eu queria ir para a Irlanda, para Portugal, para a Austrália, para onde fosse. Eu queria conhecer esses lugares.

Para realizar seu sonho, João passou por vários testes nos quais sua destreza de desossador era avaliada. Foram anos planejando sua viagem e aperfeiçoando sua prática até conseguir entrar no seleto grupo de brasileiros aptos a trabalhar nos frigoríficos do Norte Global:

Já fazia uns dois meses que eu trabalhava na desossa quando o pessoal levou mais uma remessa de gente. Só que dessa vez eles foram para a Austrália. Cinco caras da desossa lá do frigorífico foram para a Austrália. Eu não fui porque ainda não tinha prática [...]. Depois de dois anos que eu estava no frigorífico como desossador, surgiu outro teste para a Irlanda. Mas o teste pedia cinco anos de carteira. E eu só tinha dois de desossa [...]. Eu cheguei a ir para Maringá, no Paraná, fazer um teste para ir para a Austrália. Mas não deu certo. Só que eu continuei correndo atrás [...].

Até que eu entrei em contato com a agência Mega Brasil [...]. O pessoal dessa agência, lá de Goiânia, vinha para cá e marcava um dia numa casa de carne daqui para avaliar a prática do cara [...]. Nessa época, tinha um grupo de 35 pessoas daqui que queria ir para a Irlanda. Mas tinha que pagar uma taxa de R$120 para fazer o teste. Só 8 pagaram. Quando a gente teve que fazer outro teste lá em Goiânia, dos 8, só foram 5. E no dia da viagem, só apareceram 3: eu e mais dois [...].

Eu fui até Goiânia fazer o teste por minha conta [...]. Cheguei lá, tinha 180 pessoas. Tinha gente do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Goiás. Aí eu fiquei desanimado [...]. E tinha que pagar mais R$200 para fazer esse segundo teste. A gente não sabia disso. Ficamos sabendo lá na hora. Eu paguei porque estava decidido a ir, mas umas 60 pessoas desistiram.

Depois de todos esses filtros, em julho de 2009, João finalmente desembarcou na Irlanda com outros 39 brasileiros: todos recrutados pela mesma agência para trabalhar como magarefes. Foi para Limerick, com um contrato de trabalho de dois anos. Passou por vários frigoríficos e cidades antes de retornar ao Brasil, em 2012:

Na Irlanda, cheguei a ganhar 540 euros por semana [...]. Descontando todas as taxas, cheguei a tirar 6 mil reais por mês [...]. Eu resolvi voltar porque o país entrou em crise. Fiquei dois anos lá com o salário caindo. Porque lá, a gente recebe por peça. Não é igual aqui, que o salário é fechado [...]. Aí eu desanimei e resolvi voltar.

A trajetória de João retrata os grandes fluxos migratórios entre o estado de São Paulo e o Nordeste, fundamentais na construção de sua principal região metropolitana (Cunha, 2015CUNHA, J. M. (2015). “A migração interna no Brasil nos últimos cinquenta anos: (des)continuidades e rupturas”. In: ARRETCHE, M. Trajetórias das desigualdades: como o Brasil mudou nos últimos cinquenta anos. São Paulo, Editora da Unesp e CEM, pp. 249-307.); a constituição de outras áreas de destino dessa população no território estadual, dentre as quais se destacam as frentes de expansão do agronegócio (Baeninger e Ojima, 2008BAENINGER, R.; OJIMA, R. (2008). Novas territorialidades e a sociedade de risco: evidências empíricas e desafios teóricos para a compreensão dos novos espaços da migração. Papeles de Población, pp. 141-154.; Silva e Menezes, 2007SILVA, M. A. M.; MENEZES, M. A. (2007). Migrações rurais no Brasil: velhas e novas questões. Revista Eletrônica do Nead. Brasília, v. 1, pp. 1-14.), como o noroeste paulista; e a emergência de um mercado global de desossadores com redes de recrutamento operantes nas principais unidades de abate de bovinos do País. Enquanto Magalhães (2017)MAGALHÃES, L. F. (2017). A imigração haitiana em Santa Catarina: perfil sociodemográfico do fluxo, contradições da inserção laboral e dependência de remessas no Haiti. Tese de doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas. relata a importância de haitianos nos frigoríficos de Santa Catarina, a trajetória de João aponta para a inserção do Brasil também como país de origem desses trabalhadores. Têm-se, assim, entradas e saídas, de migrantes internos e internacionais, dando novos contornos à tradicional rotatividade característica desse segmento.

O noroeste paulista no mercado global da tilápia e o retorno de Pedro18

Amparados no discurso sobre crescimento populacional, segurança alimentar e sustentabilidade ambiental, organismos internacionais como Banco Mundial e FAO (Food and Agriculture Organization of the World) têm incentivado amplamente a piscicultura no mundo (Schulter e Filho, 2017SCHULTER, E. P.; FILHO, J. E. (2017). Evolução da piscicultura no Brasil: diagnóstico e desenvolvimento da cadeia produtiva de tilápia. Brasília, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Texto para Discussão n. 2328. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8043/1/td_2328.pdf. Acesso em: 7 set 2022.
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). O Brasil, por seu clima tropical e abundância de recursos hídricos, foi eleito como o carro-chefe da chamada Revolução Azul,19 19 Expressão utilizada por Schulter e Filho (2017) para descrever as transformações na indústria pesqueira. atribuindo-lhe uma produção esperada de pescado na casa de 20 milhões de toneladas ao ano, até 2030 (ibid.). Em 2018, informações da Pesquisa Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontavam uma produção nacional de pescado próximo a 600 mil toneladas, das quais metade era de tilápia.20 20 Informação disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3940. Acesso em: 13 nov 2020.

De acordo com Nogueira (2008NOGUEIRA, S. D. (2008). O sistema agroindustrial de tilápias na região noroeste do estado de São Paulo: características das transações e formas de coordenação. Tese de doutorado. Seropédica, RJ, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro., p. 23), as primeiras experiências com o cultivo de tilápia para fins de piscicultura foram no Ceará, na década de 1970: uma iniciativa do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) para repovoar os reservatórios públicos e oferecer “fonte de proteína barata às populações ribeirinhas de baixa renda existentes na região”. Coube, todavia, ao Paraná, “o pioneirismo na criação comercial de tilápias” (ibid., p. 24), “estado que iniciou a tilapicultura com foco industrial” nos anos 1990 (Schulter e Filho, 2017SCHULTER, E. P.; FILHO, J. E. (2017). Evolução da piscicultura no Brasil: diagnóstico e desenvolvimento da cadeia produtiva de tilápia. Brasília, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Texto para Discussão n. 2328. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8043/1/td_2328.pdf. Acesso em: 7 set 2022.
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, p. 15).

No começo do século XXI, o crescimento da demanda por pescado alavancou outros polos produtores, como na região entre Bahia, Pernambuco e Alagoas, com uma produção concentrada nos reservatórios do rio São Francisco; Minas Gerais, mais precisamente no município de Morada Nova de Minas, às margens da represa de Três Marias; além do polo emergente do noroeste paulista e Mato Grosso do Sul, nos reservatórios dos rios Paraná, Grande e Baixo Tietê (Nogueira, 2008NOGUEIRA, S. D. (2008). O sistema agroindustrial de tilápias na região noroeste do estado de São Paulo: características das transações e formas de coordenação. Tese de doutorado. Seropédica, RJ, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.; Schulter e Filho, 2017SCHULTER, E. P.; FILHO, J. E. (2017). Evolução da piscicultura no Brasil: diagnóstico e desenvolvimento da cadeia produtiva de tilápia. Brasília, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Texto para Discussão n. 2328. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8043/1/td_2328.pdf. Acesso em: 7 set 2022.
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) (Mapa 4).

Mapa 4
Produção (em quilogramas) de tilápia nos municípios brasileiros, em 2018,com destaque ao noroeste paulista e ao nordeste do Mato Grosso do Sul

Nessa extensa zona piscicultora, a quantidade e qualidade da água, conjugada ao clima quente, ideal para o ciclo reprodutivo da tilápia, chamaram grandes investimentos no setor, tanto na parte de produção de alevinos, como na engorda e no processamento do peixe (Nogueira, 2008NOGUEIRA, S. D. (2008). O sistema agroindustrial de tilápias na região noroeste do estado de São Paulo: características das transações e formas de coordenação. Tese de doutorado. Seropédica, RJ, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.). Na pesquisa de campo, foi possível identificar cinco principais empresas do ramo com atuação na região:

1) Royal Fish,21 21 Informações obtidas no trabalho de campo e em consultas no site oficial da empresa, disponível em: http://royalfish.net.br/pt/home/. Acesso em: 7 fev 2020. empresa de origem nacional, com estações de engorda em Santa Clara d´Oeste e Suzanápolis, frigorífico em Buritama, centro de genética e reprodução de alevinos em Itupeva e escritório administrativo em Jundiaí;

2) Marfrig Global Foods,22 22 Informações obtidas no trabalho de campo e em consultas no site oficial da empresa, disponível em: https://www.marfrig.com.br/. Acesso em: 7 fev 2020. uma aliança entre capitais nacionais e britânicos, com atuação no segmento de alimentos à base de proteína animal e presença em mais de cem países. Inseriu-se na região por meio da compra da Zippy Alimentos, fechada em 2015 e reaberta em 2019 por essa transnacional. Possui unidades de produção de alevinos, engorda e processamento de tilápia, além de fábrica de ração própria, no município de Santa Clara d´Oeste;

3) Brazilian Fish,23 23 Informações obtidas no trabalho de campo e em consultas no site oficial da empresa, disponível em: http://www.grupoambaramaral.com.br/. Acesso em: 7 fev 2020. empresa familiar do grupo brasileiro Ambar Amaral, também proprietário de centros de produção de alevinos, engorda, processamento de tilápia e fabricação de ração, com atuação concentrada no município de Santa Fé do Sul;

4) GeneSeas,24 24 Informações obtidas no trabalho de campo e em consultas no site oficial da empresa, disponível em: https://www.geneseas.com.br/. Acesso em: 7 fev 2020. empresa brasileira pioneira na exportação de peixes na região, com pisciculturas em Promissão, Ilha Solteira e Aparecida do Taboado/MS, onde também detém um frigorífico de peixe; e

5) Tilabrás,25 25 Informações obtidas em Schulter e Filho (2017), no trabalho de campo e em consultas no site oficial da empresa, disponível em: https://www.regalsprings.com/. Acesso em: 7 fev 2020. da transnacional Regal Springs, “maior produtora mundial de tilápia, com atividades no México, em Honduras e na Indonésia” (Schulter e Filho, 2017SCHULTER, E. P.; FILHO, J. E. (2017). Evolução da piscicultura no Brasil: diagnóstico e desenvolvimento da cadeia produtiva de tilápia. Brasília, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Texto para Discussão n. 2328. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8043/1/td_2328.pdf. Acesso em: 7 set 2022.
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, p. 21). Anunciou sua entrada no mercado brasileiro em 2015, com instalação de um megaprojeto em Selvíria/MS, divisa com o noroeste paulista, onde estima produzir 100 mil toneladas anuais de peixe (ibid.).

Sob atuação desses grupos, a região protagoniza novas articulações locais, nacionais e globais; surgem novos processos migratórios internos e internacionais, ao mesmo tempo que se reconfigura o mercado de trabalho regional, com o desenvolvimento de um novo nicho econômico. Como síntese e expressão dessas transformações, está a trajetória de Pedro (nome fictício), cujos percursos se confundem com a própria história da piscicultura no noroeste paulista (Mapa 5). Natural de Santa Fé do Sul, Pedro fez de seu hobby uma profissão e hoje atua como engenheiro de pesca na região:

Mapa 5
Trajetória migratória de Pedro. Santa Fé do Sul-Fortaleza-Santa Fé do Sul, 2005-2011

Sempre gostei muito de pescar. Desde criança pesco com meus pais. Quando estava no colegial, decidi fazer engenharia de pesca. Ninguém nem sabia que existia esse curso. Aqui ainda não tinha nada da estrutura de hoje. Tinha uma cooperativa com uma produção bem pequena só. Mas não tinha frigoríficos, indústria de ração, nada disso. Mas já se falava do potencial da região [...]. Em 2005 eu passei no vestibular na Universidade Federal do Ceará e fui morar em Fortaleza. Fiquei seis anos lá. Durante a faculdade, fiz estágio em várias pisciculturas, tanto na capital, com produção de camarão, quanto no interior, com produção de tilápia [...]. Resolvi voltar para Santa Fé porque meu pai, [...], prestou um serviço na casa do [...], dono da Zippy. Meu pai falou de mim e eu o [..., dono da Zippy] começamos a conversar por e-mail. Já estava tudo encaminhado para fazer mestrado lá na UFC [...], mas, quando eu vim para cá e vi a estrutura que eles estavam montando, larguei tudo em Fortaleza e voltei. Isso era 2011. Fiquei na Zippy uns sete ou oito meses. Depois eu fui para os Ambar Amaral. Fiquei lá mais uns sete ou oito meses trabalhando na fábrica de ração deles. Aí eu decidi montar minha própria piscicultura em Santa Clara [...]. Lá eu criava alevinos de tucunaré, porquinho, pacu e vendia para os pescadores da região toda. Não era uma produção integrada aos frigoríficos. Fiquei três anos com a piscicultura. Mas aí veio a seca de 2013. Quase 60% dos meus tanques ficaram parados. Foi muito difícil. Em 2015 veio a crise e ficou mais difícil ainda. Então resolvi parar e trabalhar na Royal Fish. Era encarregado de montar a piscicultura deles lá em Suzanápolis. Agora estou na Aquacultura Peixe Forte, em Três Fronteiras. Os donos são do Paraná. Produzem alevinos e engordam peixe para pesca esportiva.

A análise da piscicultura no noroeste paulista, sob o olhar da trajetória de Pedro, reforça o caráter oligopólico e excludente que marca o desenvolvimento desse setor (Nogueira, 2008NOGUEIRA, S. D. (2008). O sistema agroindustrial de tilápias na região noroeste do estado de São Paulo: características das transações e formas de coordenação. Tese de doutorado. Seropédica, RJ, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.). Evidencia, ainda, a emergência de novos processos migratórios internos, tanto de longa como de curta distância; a relação entre as motivações individuais e as causas estruturais da migração (Singer, 1980SINGER, P. (1980). “Migrações internas: considerações teóricas sobre o seu estudo”. In: MOURA, H. Migração interna: textos selecionados. Fortaleza, Banco do Nordeste do Brasil.); e o esboço de uma nova hierarquia na rede urbana local, distinta daquela construída historicamente na região, polarizada pelo município de Jales; bem como uma nova vinculação, no que concerne à migração, entre o nordeste e o sudeste, sem articulação com a metrópole de São Paulo, motivada por estudo e formação profissional.

Considerações finais

Passados mais de dez anos desde o último censo demográfico realizado no Brasil, este trabalho oferece subsídios para a análise dos novos arranjos da urbanização e da migração no país (Baeninger e Ojima, 2008BAENINGER, R.; OJIMA, R. (2008). Novas territorialidades e a sociedade de risco: evidências empíricas e desafios teóricos para a compreensão dos novos espaços da migração. Papeles de Población, pp. 141-154.). Ao iluminar as transformações regionais associadas ao agronegócio em uma região específica, o artigo reitera a emergência de “outras áreas de recepção, absorção e retenção populacional que passaram, a partir dos últimos vinte anos, a dividir com as antigas regiões metropolitanas os destinos migratórios” (ibid., p. 133). Para Limonad (2018)LIMONAD, E. (2018). “Novidades na urbanização brasileira?”. In: ELIAS, D.; PEQUENO, R. (orgs.). Tendências da urbanização brasileira: novas dinâmicas de estruturação urbano-regional. Rio de Janeiro, Letra Capital., a expansão do agronegócio redesenha o mapa do Brasil, atraindo investimentos que modificam a estrutura territorial (Villaça, 2001VILLAÇA, F. (2001). Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo, Studio Nobel/Fapesp/Lincoln Institute.) de cidades e regiões.

As trajetórias migratórias selecionadas permitem a visualização de parte dessas alterações. Por um lado, a chegada de José representa uma migração internacional sem raízes históricas com o noroeste paulista, expressando as conexões estabelecidas no âmbito de uma nova geopolítica internacional (Manrique, 2012MANRIQUE, L. E. (2012). El emergente eje ‘Sur-Sur’ global. Revista Política Exterior, v. 26, n. 146, pp. 104-117.). Por outro lado, a saída de João também é emblemática de um processo migratório inédito na região, cuja constituição perpassa a exportação organizada de magarefes dentro do circuito espacial produtivo da pecuária (Sassen, 2010SASSEN, S. (2010). Sociologia da globalização. Porto Alegre. Artmed.; Bini, 2010BINI, D. L. (2010). Mudanças na pecuária de corte e algumas implicações socioespaciais na Região de Araçatuba (SP). Revista Formação, v. 2, n. 6, pp. 26-36.; Aurélio Neto, 2019). Finalmente, a trajetória de Pedro ressignifica o retorno migratório à luz das possibilidades de emprego que se abrem a partir da inserção do noroeste paulista nos mercados globais. É, sobretudo, com a piscicultura que a região se consolida como uma ilha de prosperidade (Araújo, 2000ARAÚJO, T. B. de (2000). Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro: heranças e urgências. Rio de Janeiro, Revan.).

Na compreensão desses novos processos migratórios, é necessário redefinir paradigmas explicativos, aportes teóricos (Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp.) e metodológicos (Sánchez, 2012SÁNCHEZ, L. R. (2012). “Las trayectorias en los estudios de migración: una herramienta para el análisis longitudinal cualitativo”. In: ARIZA, M.; L. VELASCO. Métodos cualitativos y su aplicacións empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unan, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte.; Heyman, 2012HEYMAN, J. (2012). “Constucción y suo de tipologías: movilidad geográfica desigual en la frontera México-Estados Unidos”. In: ARIZA, M.; VELASCO, L. Métodos cualitativos y su aplicación empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unam, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte, pp. 419-454.). Do ponto de vista conceitual, é preciso avançar em estudos que articulem a nova divisão internacional do trabalho (Sassen, 1998SASSEN, S. (1998). As cidades na economia mundial. São Paulo, Studio Nobel.; Harvey, 1992HARVEY, D. (1992). Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo, Loyola.) às relações Sul-Sul (Manrique, 2012MANRIQUE, L. E. (2012). El emergente eje ‘Sur-Sur’ global. Revista Política Exterior, v. 26, n. 146, pp. 104-117.) e às migrações transnacionais (Glick Schiller, 2007GLICK SCHILLER, G. (2007). Beyond the nation-state and its units of analysis: towards a new research agenda for migration studies. Essentials of migration theory. Working Papers – Center on Migration, Citizenship and Development. Bielefeld, Comcad.). A partir dessa perspectiva, o fortalecimento de “circuitos migratórios locais” (Brito, 2015BRITO, F. (2015). A transição para um novo padrão migratório no Brasil. Belo Horizonte, UFMG/Cedeplar. Texto para discussão 526. Disponível em: https://silo.tips/download/texto-para-discussao-n-526-a-transiao-para-um-novo-padrao-migratorio-no-brasil-f. Acesso em: 7 set 2022.
https://silo.tips/download/texto-para-di...
, p. 10) emerge como processo no qual não são as “articulações econômicas regionais” (ibid.) as grandes protagonistas, rompendo com o nacionalismo metodológico prevalecente nos estudos migratórios ao longo do século XX (Glick Schiller, 2007GLICK SCHILLER, G. (2007). Beyond the nation-state and its units of analysis: towards a new research agenda for migration studies. Essentials of migration theory. Working Papers – Center on Migration, Citizenship and Development. Bielefeld, Comcad.; Sassen, 2010SASSEN, S. (2010). Sociologia da globalização. Porto Alegre. Artmed.).

Nesse caminho, a dinâmica de reprodução do agronegócio no Brasil emerge como fenômeno conectado com a reestruturação produtiva global, articulando-a, localmente, à produção de arranjos urbanos-rurais regionais (Demétrio, 2017DEMÉTRIO, N. B. (2017). Arranjos urbanos-rurais regionais: o rural paulista no século 21. Tese de doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1631304. Acesso em: 5 set 2022.
https://hdl.handle.net/20.500.12733/1631...
) no quais se concentram os mecanismos de desencaixe (Giddens, 1991GIDDENS, A. (1991). As consequências da modernidade. São Paulo, Editora da Unesp.) responsáveis pela reconfiguração das hierarquias que tradicionalmente acomodaram os processos migratórios (Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp.). Sem iluminar essas conexões transnacionais, os estudos nessa área acabam por reificar categorias como nativos e estrangeiros, estado nacionais e seus imigrantes internacionais (Glick Schiller, 2007GLICK SCHILLER, G. (2007). Beyond the nation-state and its units of analysis: towards a new research agenda for migration studies. Essentials of migration theory. Working Papers – Center on Migration, Citizenship and Development. Bielefeld, Comcad.), desconsiderando as migrações internas e internacionais dentro de um mesmo processo de mudança social (Renner e Patarra, 1980RENNER, C. H.; PATARRA, N. L. (1980). “Migrações”. In: JAIR, M. S.; SANTOS, L. F. Dinâmica da população: teoria, métodos e técnicas de análise. São Paulo, T. A. Queiroz.).

Em se tratando dos desafios metodológicos, é fundamental reconhecer que a atuação desses capitais transnacionais não apenas rompe com regionalizações tradicionais, diluindo fronteiras engessadas por redes de articulação políticas locais e nacionais (Ribeiro, 2004RIBEIRO, A. C. T. (2004). “Regionalização: fato e ferramenta”. In: LIMONAD, E.; HAESBAERT, R.; MOREIRA, R. (orgs.). Brasil século XXI: por uma regionalização? Processos, escalas, agentes. São Paulo, Max Limonad.; Limonad, 2004LIMONAD, E. (2004). “Brasil século XXI, regionalizar para que? Para quem?”. In: LIMONAD, E.; HAESBAERT, R.; MOREIRA, R. (orgs.). Brasil século XXI: por uma regionalização? Processos, escalas, agentes. São Paulo, Max Limonad.; Santos, 2013SANTOS, M. (2013). Técnica, espaço, tempo. São Paulo, Edusp.; Sassen, 1998SASSEN, S. (1998). As cidades na economia mundial. São Paulo, Studio Nobel.), como também “promove as migrações em todas as direções” (Ianni, 2011IANNI, O. (2011). A era do globalismo. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira., p. 21), alavancando a rotatividade migratória e a diversidade das formas de deslocamento (Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp.). Embora não volumosas, as trocas de população tendem a ser cada vez mais heterogêneas, combinando migração interna e internacional, com ou sem raízes históricas, com ou sem mudança definitiva de residência (ibid.). Nesse contexto, as trajetórias migratórias (Sánchez, 2012SÁNCHEZ, L. R. (2012). “Las trayectorias en los estudios de migración: una herramienta para el análisis longitudinal cualitativo”. In: ARIZA, M.; L. VELASCO. Métodos cualitativos y su aplicacións empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unan, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte.) surgem como importantes fontes de informação. Mesmo sem significância estatística e possibilidade de generalização, essa metodologia é capaz de apontar novas tendências, mostrar outras conexões e escalas de poder (Brandão, 2007BRANDÃO, C. (2007). Território e desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global. Campinas, Editora da Unicamp.), reiterando a fluidez e o dinamismo dos processos de redistribuição de população na globalização (Baeninger, 2012BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp.).

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Notas

  • 1
    Neste trabalho, entende-se por noroeste paulista a porção do estado de São Paulo integrada pela rodovia Euclides da Cunha (SP-320) próximo aos rios Paraná, Grande e Tietê, na divisa com Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Para fins operacionais, pode-se apreender o noroeste paulista como o conjunto dos municípios que compõem a Região de Governo de Jales (Fundação Seade), embora esse recorte não abranja localidades importantes para os circuitos espaciais produtivos (Castillo e Frederico, 2011) considerados na pesquisa.
  • 2
    Ferronorte, concedida à Rumo Logística, principal corredor de exportação agrícola do país, interligando a produção de grãos do Centro-Oeste ao porto de Santos.
  • 3
    SP 320/Euclides da Cunha, eixo no qual a indústria mais se fortalece no estado de São Paulo (Kalemkarian e Aparicio, 2013KALEMKARIAN, M.; APARICIO, C. A. (2013). Onde a indústria se fortalece no Estado de São Paulo. Primeira Análise Seade, n. 1, pp. 1-21. Disponível em: https://bibliotecadigital.seade.gov.br/view/linkPdf.php?pdf=10041434-1.pdf. Acesso em: 7 set 2022.
    https://bibliotecadigital.seade.gov.br/v...
    ).
  • 4
    Eixo Tietê-Paraná (Baeninger, 2004BAENINGER, R. (2004). Regiões e cidades no eixo da Hidrovia Tietê-Paraná. TEXTOS NEPO 48.).
  • 5
    Vale ressaltar que a construção da tipologia proposta por Heyman (2012)HEYMAN, J. (2012). “Constucción y suo de tipologías: movilidad geográfica desigual en la frontera México-Estados Unidos”. In: ARIZA, M.; VELASCO, L. Métodos cualitativos y su aplicación empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unam, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte, pp. 419-454. não equivale ao tipo estruturante discutido por Balán (1973)BALÁN, J. (1973). Migrações e desenvolvimento capitalista no Brasil: ensaio de interpretação histórico-comparativa. Estudos Cebrap. São Paulo, n. 5. e por Renner e Patarra (1980)RENNER, C. H.; PATARRA, N. L. (1980). “Migrações”. In: JAIR, M. S.; SANTOS, L. F. Dinâmica da população: teoria, métodos e técnicas de análise. São Paulo, T. A. Queiroz.. Para esses autores, os tipos estruturantes sintetizavam as transformações econômicas características da etapa do desenvolvimento capitalista da qual eram parte. Já para Heyman (2012)HEYMAN, J. (2012). “Constucción y suo de tipologías: movilidad geográfica desigual en la frontera México-Estados Unidos”. In: ARIZA, M.; VELASCO, L. Métodos cualitativos y su aplicación empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México, Unam, Instituto de Investigaciones Sociales; El Colegio de la Frontera Norte, pp. 419-454. a produção de uma tipologia dos movimentos migratórios constitui uma estratégia teórica e metodológica para organizar a diversidade de deslocamentos associada à atual fase de acumulação. Nesse sentido, essa perspectiva se aproxima das modalidades migratórias discutidas por Baeninger (2012)BAENINGER, R. (2012). Fases e Faces da Migração em São Paulo. Campinas, Núcleo de Estudos de População/Unicamp..
  • 6
    No total, a pesquisa conseguiu construir doze trajetórias migratórias: nove do setor sucroenergético, duas relacionadas ao frigorífico de carne bovina e uma da piscicultura. Essas entrevistas contaram com a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (Certificado de Apreciação Ética 20340219.2.0000.8142) e foram realizadas entre junho de 2019 e janeiro de 2020. A busca por interlocutores ocorreu via contato com as empresas citadas, por indicação de agentes institucionais locais, em pontos de ônibus com concentração de trabalhadores dos segmentos de interesse e pelas redes sociais. Neste artigo, foram escolhidas as trajetórias migratórias representativas da migração internacional e do retorno.
  • 7
    Termo utilizado pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) para designar açougueiros, desossadores e demais trabalhos relacionados ao abate de animais.
  • 8
    O guia das entrevistas era constituído das seguintes perguntas: (1) O que você faz e quando começou a trabalhar na empresa?; (2) Antes disso, você fazia o que e morava onde? (essa pergunta foi repetida até chegar ao local de nascimento da pessoa); (3) Conte um pouco sobre sua trajetória até aqui.
  • 9
    A entrevista com José, funcionário da usina Vale do Paraná, foi realizada em julho de 2019, em Santa Fé do Sul.
  • 10
    Com cerca de 4 mil habitantes, Suzanápolis é elevada à categoria de município nos anos 1990, como desmembramento de Pereira Barreto. Entre 2000 e 2010, sua taxa geométrica de crescimento populacional foi estimada em 1,95% a.a.: uma das mais altas de todo o noroeste paulista. De cidade imaginária (Veiga, 2003VEIGA, J. E. (2003). Cidades imaginárias: o Brasil é menos urbano do que se calcula. Campinas, Editora Autores Associados.) essa localidade se transforma em uma cidade agrária (Canales e Canales Ceron, 2013CANALES, A. I.; CANALES CERON, M. (2013). De la metropolización a las agrópolis: el nuevo poblamiento urbano en el Chile actual. Polis. Santiago, v. 12, n. 34, pp. 31-56. Disponível em: <http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-65682013000100003&lng=es&nrm=iso>. Acesso em: 5 set 2022. DOI: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682013000100003.
    http://www.scielo.cl/scielo.php?script=s...
    ), apontando as profundas recomposições escalares na organização do território (Brandão, 2007BRANDÃO, C. (2007). Território e desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global. Campinas, Editora da Unicamp.).
  • 11
    Essas informações estão disponíveis no Banco Interativo do Observatório das Migrações em São Paulo – Números da Imigração Internacional para o Brasil. Disponível em: https://www.nepo.unicamp.br/observatorio/bancointerativo/numeros-imigracao-internacional/sincre-sismigra/. Acesso em: 1º set 2020.
  • 12
    A entrevista com João, ex-funcionário do frigorífico, foi realizada em julho de 2019, em Santa Fé do Sul.
  • 13
    Com 29 mil habitantes, segundo o censo demográfico de 2010, Santa Fé do Sul sobressai-se como uma das “cabeças” da rede urbana do noroeste paulista (Demétrio, 2013DEMÉTRIO, N. B. (2013). População e dinâmica econômica na região de governo de Jales no século 21: o "outro" rural do oeste paulista. Dissertação de mestrado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1620515. Acesso em: 5 set 2022.
    https://hdl.handle.net/20.500.12733/1620...
    ).
  • 14
  • 15
    “A palavra halal no idioma árabe significa “lícito”, “permissível”. É considerado alimento halal desde que cultivado e processado de acordo com regras religiosas e higiênicas islâmicas”. A certificação halal trata-se de uma exigência na venda de carnes para países muçulmanos. Fonte: Agência de Notícias Árabe-Brasil/Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Disponível em: https://anba.com.br/. Acesso em: 9 ago 2022.
  • 16
    Informação disponível em: https://jbs.com.br/imprensa/releases/jbs-exporta-mao-de-obra-de-ms-para-o-canada/. Acesso em: 29 jul 2020. Outras reportagens que abordam a emigração de magarefes brasileiros estão disponíveis em: https://www.beefpoint.com.br/os-100-hellos-que-movem-as-operacoes-da-jbs-no-canada/. Acesso em: 30 jul 2020.
  • 17
    Demétrio (2013)DEMÉTRIO, N. B. (2013). População e dinâmica econômica na região de governo de Jales no século 21: o "outro" rural do oeste paulista. Dissertação de mestrado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1620515. Acesso em: 5 set 2022.
    https://hdl.handle.net/20.500.12733/1620...
    relaciona as trocas de população entre o noroeste paulista e a região nordeste, em especial com a Bahia e o Maranhão, à agroindústria canavieira. De fato, essa é a principal origem dos trabalhadores na base da hierarquia ocupacional das usinas do setor sucroenergético, com a expansão dos canaviais definindo os corredores da migração nordestina em São Paulo (Silva e Menezes, 2007SILVA, M. A. M.; MENEZES, M. A. (2007). Migrações rurais no Brasil: velhas e novas questões. Revista Eletrônica do Nead. Brasília, v. 1, pp. 1-14.; Demétrio, 2017DEMÉTRIO, N. B. (2017). Arranjos urbanos-rurais regionais: o rural paulista no século 21. Tese de doutorado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1631304. Acesso em: 5 set 2022.
    https://hdl.handle.net/20.500.12733/1631...
    ). No entanto, a trajetória de José aponta para a importância dessa migração também para a construção civil, alavancada na região pela política dos grandes eixos, responsável por modernizar os principais entroncamentos logísticos do País (Cano, 2011CANO, W. (2011). Novas determinações sobre as questões regional e urbana após 1980. Texto para Discussão. Campinas, Unicamp/IE, n. 193, pp. 1-36.).
  • 18
    A entrevista com Pedro, trabalhador do setor, foi realizada em janeiro de 2020, em Santa Fé do Sul.
  • 19
    Expressão utilizada por Schulter e Filho (2017)SCHULTER, E. P.; FILHO, J. E. (2017). Evolução da piscicultura no Brasil: diagnóstico e desenvolvimento da cadeia produtiva de tilápia. Brasília, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Texto para Discussão n. 2328. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8043/1/td_2328.pdf. Acesso em: 7 set 2022.
    http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream...
    para descrever as transformações na indústria pesqueira.
  • 20
    Informação disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3940. Acesso em: 13 nov 2020.
  • 21
    Informações obtidas no trabalho de campo e em consultas no site oficial da empresa, disponível em: http://royalfish.net.br/pt/home/. Acesso em: 7 fev 2020.
  • 22
    Informações obtidas no trabalho de campo e em consultas no site oficial da empresa, disponível em: https://www.marfrig.com.br/. Acesso em: 7 fev 2020.
  • 23
    Informações obtidas no trabalho de campo e em consultas no site oficial da empresa, disponível em: http://www.grupoambaramaral.com.br/. Acesso em: 7 fev 2020.
  • 24
    Informações obtidas no trabalho de campo e em consultas no site oficial da empresa, disponível em: https://www.geneseas.com.br/. Acesso em: 7 fev 2020.
  • 25
    Informações obtidas em Schulter e Filho (2017)SCHULTER, E. P.; FILHO, J. E. (2017). Evolução da piscicultura no Brasil: diagnóstico e desenvolvimento da cadeia produtiva de tilápia. Brasília, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Texto para Discussão n. 2328. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8043/1/td_2328.pdf. Acesso em: 7 set 2022.
    http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream...
    , no trabalho de campo e em consultas no site oficial da empresa, disponível em: https://www.regalsprings.com/. Acesso em: 7 fev 2020.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2023

Histórico

  • Recebido
    19 Abr 2022
  • Aceito
    8 Ago 2022
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