Open-access Percurso acadêmico e competências profissionais na percepção de egressos de Fonoaudiologia

RESUMO

Objetivo  Analisar os fatores associados à inserção profissional de egressos de Fonoaudiologia.

Método  Estudo observacional analítico de delineamento transversal, com amostra não probabilística, composta por 245 egressos de um curso de Fonoaudiologia no Brasil. Aplicou-se um questionário com questões objetivas e abertas, segmentadas em seis eixos e foi realizada análise bivariada e multivariada dos dados.

Resultados  Houve associação entre egressos que trabalham como fonoaudiólogos e as variáveis, sexo (p=0,031), idade (p≤0,001), iniciativa (p=0,001), capacidade de liderança (p=0,001), capacidade de tomar decisões (p=0,001), capacidade de trabalhar em equipe (p=0,001), competências gerenciais (p=0,034), interesse por novos conhecimentos (p≤0,001), orgulho pela profissão (p=0,001), rede de contatos (p=0,001) e participação em projetos de extensão (p≤0,001). A chance de estar inserido do mercado de trabalho como fonoaudiólogo foi maior para os egressos que adquiriram rede de contatos durante a graduação (3,3 vezes mais); tinham interesse pelo conhecimento (3,2 vezes mais); desenvolveram capacidade de liderança (2,6 vezes mais); tinham idade até 29 anos (0,3 vezes mais) e realizaram projetos de extensão durante a graduação (0,2 vezes mais).

Conclusão  Egressos de Fonoaudiologia que desenvolvem rede de contatos, têm interesse pelo conhecimento, desenvolvem capacidade de liderança e participam de projetos de extensão durante a graduação têm mais chances de inserção no mercado de trabalho como fonoaudiólogos.

Descritores:  Fonoaudiologia; Estudante; Mercado de Trabalho; Prática Profissional; Avaliação Educacional

ABSTRACT

Purpose  To analyze the factors associated with the professional insertion of Speech Therapy graduates.

Methods  Observational analytical cross-sectional study, with a non-probabilistic sample, composed of 245 graduates from a Speech Therapy course in Brazil. The research applied a questionnaire containing objective and open questions, segmented into six axes. Bivariate and multivariate analysis of the data were performed.

Results  There was an association between working as a speech therapist with the variables, gender (p=0.031), age (p≤0.001), initiative (p=0.001), leadership ability (p=0.001), decision making ability (p=0.001), teamwork ability (p=0.001), managerial skills (p=0.034), interest in new knowledge (p≤0.001), pride in the profession (p=0.001), network of contacts (p=0.001) and participation in outreach projects (p≤0.001). There was a higher chance of entering the job market as a speech therapist for those graduates who acquired network contacts during an undergraduate course (3.3 times more); were interested in knowledge (3.2 times more); develop leadership skills (2.6 times more); younger than 29 years old (0.3 times more) and carried out outreach projects during graduation (0.2 times more).

Conclusion  Graduates in Speech Therapy who develop a network of contacts, have an interest in knowledge, develop leadership skills and participate in outreach projects during graduation have enlarged possibilities of entering the job market as speech therapists.

Keywords:  Speech Therapy; Student; Labor Market; Professional Practice; Educational Assessment

INTRODUÇÃO

A Política de Acompanhamento de Egressos, realizada pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES(1) é considerada uma das estratégias de excelência na avaliação dos programas formativos no Brasil. Pela percepção dos ex-alunos é possível mapear informações relevantes sobre o percurso acadêmico, situação e satisfação profissional(2-8).

A Fonoaudiologia como uma ciência em constante evolução, instiga o aprimoramento contínuo do ensino(9,10). Na graduação em Fonoaudiologia, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação do fonoaudiólogo e direcionam a organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos cursos das instituições do Sistema de Ensino Superior. No que se refere aos egressos elas propõe, dentre outras normas, um perfil de egresso em Fonoaudiologia generalista, humanista, crítico e reflexivo, pautado em princípios éticos, no campo clínico-terapêutico e preventivo das práticas fonoaudiológicas(11).

Nessa perspectiva, e obedecidas as DCNs do Ministério da Educação brasileiro, cada curso de graduação engajado com o ensino, a pesquisa e a extensão, constrói seu projeto pedagógico (PP) que contempla um conjunto de diretrizes organizacionais e operacionais que expressa e orienta sua prática pedagógica, estrutura curricular, ementas, bibliografias, desenvolvimento do curso, incluindo o perfil dos egressos(12).

Na determinação do perfil do egresso são listadas competências a se alcançar, sustentadas pelo conhecimento, habilidades e atitudes - C.H.A. Dentro desse conceito, o conhecimento se refere ao saber e dominar um determinado tema ou área; a habilidade é o saber fazer na prática, transformar todo o conhecimento que possui na teoria estudada em ações reais e que agreguem valor e as atitudes são o fazer algo, antes mesmo de ser solicitado, entender a demanda e ter pró-atividade para fazer acontecer, se antecipar às necessidades(13).

Acreditamos que a compreensão da percepção dos egressos sobre o curso, especialmente na perspectiva do C.H.A, analisada criticamente, poderá promover ações de aperfeiçoamento curricular e melhoria da qualidade do ensino(5,6,14). Os achados estão além de uma avaliação particularizada de atores de uma instituição de ensino, eles se expandem extramuros e permitem que outros cursos também reflitam sobre a formação de forma multifatorial, educacional e profissional, compreendendo a educação, no sentido de transformá-la. Diante do exposto, o objetivo dessa pesquisa foi analisar a analisar os fatores associados à inserção profissional de egressos de Fonoaudiologia.

MÉTODO

Trata-se de um estudo observacional analítico de delineamento transversal, com amostra não probabilística, composta por 245 egressos de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Minas Gerais que foram convidados a participar da pesquisa no período de janeiro a junho de 2017, via e-mail, redes sociais ou presencialmente. Participaram do estudo apenas os que realizaram assinatura online ou física do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

De um total de 529 egressos, 245 aceitaram participar do estudo. O critério de inclusão foi ser bacharelado em Fonoaudiologia pela universidade do estudo entre o segundo semestre 2003 (1° turma do curso) e o primeiro semestre de 2016. Desses, 237 (96,7%) eram do sexo feminino e oito (3,3%) do masculino, com média de idade de 29,93 anos, desvio padrão de 3,88 anos. A metade (50,0%) cursou o ensino médio em escola pública e a outra metade (50,0%) em escola privada.

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário online e físico, desenvolvido pelas pesquisadoras(8). O instrumento foi composto por questões objetivas e abertas, e segmentado em seis grandes eixos: sociodemográfico; avaliação do curso; percurso acadêmico; situação profissional; satisfação profissional e continuidade dos estudos(8). Para análise do presente estudo foram utilizados somente os eixos que abordaram as questões sociodemográficas, situação profissional, avaliação do curso e percurso acadêmico.

A variável dependente analisada para esta pesquisa foi “trabalha como fonoaudiólogo” e as variáveis independentes os dados sociodemográficos (idade, sexo, tipo de instituição em que concluiu o ensino médio); avaliação do curso de graduação e das competências desenvolvidas nesse (incluindo: currículo do curso, iniciativa, capacidade de liderança, tomada de decisões, trabalho em equipe, competências gerenciais, rede de contatos, conhecimento do Sistema único de Saúde - SUS, interesse por novos conhecimentos, orgulho pela profissão, postura ética e crítica frente a questões ambientais, de direitos humanos e étnico-raciais, aspectos da graduação que auxiliaram na inserção no mercado de trabalho e que poderiam ter sido abordados na graduação); além do percurso acadêmico (participação em atividades de pesquisa, extensão, estágio extracurricular e monitoria).

Para análise estatística, a variável currículo, inicialmente composta pelas opções de resposta “muito bom”, “bom”, “regular”, “insatisfatório” e “ruim” foi agrupada nas variáveis dicotômicas “bom” (muito bom e bom) e “ruim” (regular, insatisfatório e ruim). Da mesma forma, as demais variáveis de avaliação do curso que apresentavam como opção de resposta “nada”, “pouco” e “muito” foram reagrupadas em “nada/pouco” e “muito”.

As duas questões abertas foram respondidas de forma livre pelos egressos, que poderiam fazer quantas observações desejassem. Os resultados foram categorizados para posterior análise. Sobre os aspectos que auxiliaram na inserção no mercado de trabalho os dados foram agrupados em: formação recebida, participação em projetos, estágio extracurricular, rede de contatos, ter sido aluno da UFMG, desenvolvimento de habilidades, qualidade do corpo docente ou nada. No que se refere aos assuntos que poderiam ter sido abordados na graduação, as respostas foram categorizadas em, empreendedorismo, gestão financeira e pessoal, mercado de trabalho, aprofundamento em determinadas áreas da Fonoaudiologia, estágio extracurricular, trabalho em equipe multidisciplinar, noções de Farmacologia, recursos tecnológicos e nada/não sei.

As respostas das variáveis referentes ao percurso acadêmico foram categorizadas em “sim” e “não”. Neste artigo, não foram analisados os motivos do egresso ter participado ou não das ações e nem consideradas a quantidade de vezes que essas ações foram realizadas.

Foi realizada a análise descritiva da distribuição de frequência das variáveis categóricas e de medidas de tendência central e de dispersão das variáveis contínuas. Para a análise de associação bivariada foi utilizado o teste Qui-Quadrado de Pearson. Foram consideradas como associações significantes as que apresentaram valor de p≤0,05.

Para verificar a força da associação dos aspectos com a variável “Trabalha como fonoaudiólogo” foi realizada análise multivariada por meio de Regressão Logística Binária. Para tanto, utilizou-se o método Stepwise para seleção das variáveis. Inicialmente, entraram no modelo as variáveis que apresentaram valor-p inferior a 0,25, sendo consideradas no modelo final aquelas que apresentaram valor-p≤0,05.

Para entrada, processamento e análise dos dados foi utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences - SPSS, versão 21.0.

A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição, sob o parecer número 2.936.803.

RESULTADOS

Na tabela 1 é possível observar que a maioria da amostra trabalha como fonoaudiólogo e que houve associação do egresso que trabalha como fonoaudiólogo e as variáveis sexo e idade (p=0,031 e p≤0,001).

Tabela 1
Associação entre egressos que trabalham como fonoaudiólogos e características sociodemográficas gerais

As Figuras 1 e 2 apresentam dados descritivos do estudo referentes a aspectos que auxiliaram na inserção no mercado e os que deveriam ter sido abordados no curso de acordo com as questões abertas. Em relação aos aspectos que mais auxiliaram o egresso na inserção do mercado de trabalho (Figura 1) o mais citado foi a formação recebida (47,3%) e o menos citado a rede de contatos (2,4%). Quanto aos aspectos que deveriam ter sido abordados no curso (Figura 2) o mais citado foi empreendedorismo (26,1%) e o menos citado recursos tecnológicos (0,4%).

Figura 1
Dados descritivos dos aspectos que mais auxiliaram na inserção do egresso no mercado de trabalho.
Figura 2
Dados descritivos dos aspectos que deveriam ter sido abordados no curso.

A Tabela 2 mostra a associação entre quem trabalha como fonoaudiólogo e competências profissionais desenvolvidas no curso. Houve associação entre a inserção no mercado de trabalho e as variáveis iniciativa (p=0,001), capacidade de liderança (p=0,001), capacidade de tomar decisões (p=0,001), capacidade de trabalhar em equipe (p=0,001). Houve também associação com competências gerenciais (p=0,034), interesse por novos conhecimentos (p≤0,001), orgulho pela profissão (p=0,001) e rede de contatos (p=0,001). Observou-se que houve maior porcentagem de respostas de quem trabalha como fonoaudiólogo e relatou ter desenvolvido no curso muita iniciativa (76,0%), capacidade de tomar decisões (78,1%), capacidade de trabalhar em equipe (85,2%), interesse por novos conhecimentos (94,9%) e orgulho pela profissão (80,6%). Observou-se também uma tendência entre quem não trabalha como fonoaudiólogo e quem relatou ter adquirido pouco ou nada acerca de capacidade de liderança (75,5%), competências gerenciais (83,7%) e rede de contatos (85,7%).

Tabela 2
Associação entre egressos que exercem a profissão de fonoaudiólogo com as competências desenvolvidas no curso

A Tabela 3 mostra a associação entre quem trabalha como fonoaudiólogo e o percurso acadêmico. Houve associação entre quem trabalha como fonoaudiólogo e realizou projetos de extensão (p≤0,001). As demais associações não mostraram resultados significativos.

Tabela 3
Associação entre egressos que exercem a profissão de fonoaudiólogo e percurso acadêmico

No modelo inicial da análise multivariada, foi considerado o valor de p≤0,25, no qual houve associação entre trabalhar como fonoaudiólogo e idade, tipo de escola em que cursou o ensino médio, capacidade de tomar decisões e trabalhar em equipe, conhecimento do SUS, interesse por novos conhecimentos, orgulho pela profissão, rede de contatos, e ter realizado atividades de pesquisa, extensão e monitoria. Após análise, por meio do modelo Stepwise, permaneceram no modelo final da análise de Regressão Logística Binária (Tabela 4), as variáveis idade (p=0,005), capacidade de liderança (p=0,016), interesse por novos conhecimentos (p=0,031), rede de contatos (p=0,013) e ter realizado projeto de extensão durante a graduação (p=0,005). A variável rede de contatos foi considerada preditora significativa para distinção entre profissionais que trabalham ou não como fonoaudiólogos. Observa-se que aqueles que construíram rede de contatos (OR=3,31; IC95%=1,28-8,52) apresentaram 3,3 vezes mais chances de estarem inseridos no mercado de trabalho como fonoaudiólogos. Observa-se também 3,2 vezes mais chances de estar atuando como fonoaudiólogo entre os egressos que responderam que durante a graduação apresentaram interesse por novos conhecimentos (OR=3,20; IC95%=1,11-9,24), 2,6 vezes mais chances para os que desenvolveram capacidade de liderança (OR=2,65; IC95%=1,19-5,88), 0,3 vezes mais chances dentre os que tinham idade até 29 anos (OR=0,31; IC95%=0,14-0,70) e 0,2 mais chances de estar trabalhando como fonoaudiólogo dentre os que realizaram projeto de extensão (OR=0,28; IC95%=0,11-0,67).

Tabela 4
Análise multivariada modelo final

DISCUSSÃO

Esse estudo analisou a inserção no mercado de trabalho de egressos em Fonoaudiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), de acordo com sua percepção quanto ao currículo, competências adquiridas e atividades desenvolvidas durante o percurso acadêmico. Os resultados permitem analisar a qualidade do ensino dessa instituição e instigam uma reflexão ampla, também para outros cursos, sobre os caminhos do ensino e da profissão do fonoaudiólogo no Brasil.

Participaram dessa pesquisa 46,3% da população total dos egressos, sendo que desses mais de dois terços estão trabalhando como fonoaudiólogos. Pode-se considerar esse resultado positivo, que reflete a inserção do fonoaudiólogo no mercado de trabalho. Contudo, observa-se uma baixa adesão dos ex-alunos ao questionário, aspecto pode ser justificado pela não atualização dos e-mails dos egressos. Em outros estudos, com a mesma temática, também foi evidenciada baixa adesão na participação dos egressos(4,7,15,16). Diante desse aspecto, faz-se necessário às instituições de ensino superior solidificar os vínculos e tornar o elo com os egressos mais atrativos, fomentando a participação dos ex-alunos na vida da instituição, mesmo após a conclusão do curso(5). Neste sentido, algumas universidades brasileiras já proporcionam aos egressos a possibilidade de participar de atividades culturais e acadêmicas, além de permitirem acesso às dependências da instituição, como bibliotecas e espaços de lazer(14,17). Contudo, essas ações, embora positivas, ainda não são suficientemente fortes para manter um vínculo mais permanente com os egressos.

Entre os aspectos que mais auxiliaram o egresso no mercado de trabalho, o mais citado foi a “formação acadêmica recebida”, o que evidencia o reconhecimento dos egressos, pela instituição formadora. Em estudo realizado em 2013, na mesma instituição, esse também foi um aspecto referenciado(4) que reforça o quanto o ensino é um pilar essencial para uma formação profissional de qualidade.

Como aspecto mais negativo, os ex-alunos citaram a falta de rede de contatos. É indiscutível a contribuição do ensino no percurso acadêmico e profissional dos egressos, mas acredita-se que outros aspectos, como a rede de contatos e realização de estágios externos, auxiliaria o egresso no início da formação a fim de favorecer a entrada no mercado de trabalho. Estudos com egressos da área da saúde apontam a rede de contatos como um dos facilitadores para a inserção profissional no mercado de trabalho(18,19). O perfil do egressos traçado pelo curso do estudo, abrange diferentes aspectos, entretanto, observa-se que o empreendedorismo e a rede de contatos são aspectos pouco descritos ao longo do projeto e que necessitam de uma reflexão curricular(20).

Quanto aos aspectos que os egressos mais gostariam de aprofundar na grade curricular foi demarcado o aprofundamento de áreas da Fonoaudiologia. No entanto, o Conselho Federal de Fonoaudiologia reconhece 12 especialidades(21), fato que inviabiliza o aprofundamento em todas essas áreas. Além disso, as orientações do Conselho para os cursos de graduação são a formação de egressos com um perfil de generalista, que permite a interação com as várias áreas do saber fonoaudiológico.

Quanto aos aspectos que deveriam ser adicionados à matriz curricular na visão dos egressos estão o mercado de trabalho, gestão financeira, pessoal e empreendedorismo. Esses aspectos são importantes em virtude das exigências impostas pelo mercado de trabalho(4), que impele conhecimentos técnico-científicos, conhecimentos administrativos e econômicos(22,23) e onde se observa aumento da competitividade, do número de profissionais, surgimento de tecnologias e altos custos para manutenção e montagem da infraestrutura clínica(22).

Trabalhar como fonoaudiólogo teve relação com o sexo e idade. Quanto ao sexo, a maioria dos alunos da Fonoaudiologia da UFMG é do sexo feminino, e reflete uma tendência também na Fonoaudiologia brasileira(4,17,24). O predomínio de mulheres na área da saúde pode estar associado ao aumento do número de mulheres nas universidades brasileiras(25) e ao fato das mulheres serem mais envolvidas no processo do cuidado(8). Quanto à idade, a maioria dos egressos do estudo, inseridos no mercado de trabalho, apresentava média de idade de 29 anos. O fato dos egressos, do presente estudo, serem mais jovens pode ter relação com a idade do curso, em virtude deste ser relativamente recente, criado no ano 2000. Outro aspecto que pode ter influenciado na média de idade da amostra é que os egressos formados a pouco tempo tiveram menos chance de terem mudado os dados de contato.

Houve associação de quem trabalha como fonoaudiólogo com iniciativa, capacidades de liderança, de tomar decisões, de trabalhar em equipe, competências gerenciais, interesse por novos conhecimentos, orgulho pela profissão e rede de contatos. Observa-se que quem trabalha como fonoaudiólogo relatou muita iniciativa, capacidade de tomar decisões, capacidade de trabalhar em equipe, interesse por novos conhecimentos e orgulho pela profissão. Esses achados demonstram que há uma sincronia entre as diretrizes pedagógicas(22) com os objetivos do curso, para o perfil do profissional de Fonoaudiologia(23). Um estudo realizado com egressos da saúde mostra o quanto as habilidades de iniciativa, criatividade, capacidade de liderança e capacidade de tomar decisões são importantes na obtenção de emprego e para um bom exercício profissional, assim como a capacidade de trabalhar em equipe(3). Chama atenção o aspecto relacionado ao orgulho pela profissão, o qual remete a uma percepção altamente positiva da profissão. Em outros estudos, egressos de Fonoaudiologia mostram-se insatisfeitos monetariamente, mas apresentaram satisfação em serem fonoaudiólogos(4,8).

No presente estudo também foi possível observar que houve associação entre quem trabalha como fonoaudiólogo e realizou projetos de extensão. Esse dado que reforça a importância das novas Diretrizes de Extensão na Educação Superior Brasileira as quais estabelecem que a carga horária curricular dos cursos de graduação deverá compor, no mínimo, 10% de atividades de extensão, as quais deverão fazer parte da matriz curricular dos cursos(26). Autores apontam que a extensão proporciona aos discentes a oportunidade de atuar diretamente com a comunidade, trocar experiências, desenvolver senso crítico, capacidade de tomar decisões, solucionar problemas e de trabalhar em equipe(26-29). O contato direto com a profissão possibilita confrontar os conhecimentos teóricos adquiridos com as necessidades impostas na prática profissional(26-29).

A análise de regressão logística mostrou que a rede de contatos, interesse por novos conhecimentos, capacidade de liderança, a idade e realização de projeto de extensão estão associados com a variável trabalha como fonoaudiólogo. Ressalta-se que, em relação à rede de contatos, autores apontam que ela é fundamental para a inserção no mercado de trabalho(4,16,19) e primordial para um planejamento de carreira. Para tanto, é necessário que os estágios sejam ampliados também extramuros, a fim de que aluno possa viver possibilidades diferentes de atuação e construir redes de contatos externas à da comunidade universitária expandindo seus vínculos profissionais.

Na literatura pesquisada, os fonoaudiólogos já inseridos no mercado de trabalho apontam que a continuidade dos estudos, ou seja, o interesse por novos conhecimentos deve ser valorizado pelo profissional(4,8,12,19). A capacidade de atualização perante os avanços científicos e tecnológicos em Fonoaudiologia impele um caminho que precisa ser percorrido com afinco pelos profissionais da área(19) e que indica para um profissional ético, comprometido e preocupado com os problemas sociais.

Em estudo realizado com egressos da saúde, a capacidade de liderança mostrou-se uma característica que auxilia na conquista do emprego e no bom exercício profissional(3). Um profissional que apresenta capacidade de liderança é envolvido pelo compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para a tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz, qualificando o serviço e atendendo as expectativas do trabalho(30).

Como contribuições os resultados desse estudo estão auxiliando o Curso de Fonoaudiologia da UFMG a fazer sua segunda reforma curricular, que será implementada em 2021, a qual considera com interesse os dados dessa pesquisa, somados às demais avaliações internas do curso e à legislação e diretrizes nacionais da educação nacional. Acredita-se também que esta pesquisa fornece reflexões importantes para o ensino da Fonoaudiologia brasileira.

Como limitações, destaca-se a carência de estudos científicos com egressos de Fonoaudiologia no Brasil, o que impossibilitou comparações e discussões dentro da área. O desenvolvimento regular de pesquisas com esta temática promove informações valiosas para investigar, questionar e impulsionar o crescimento da Fonoaudiologia no país.

CONCLUSÃO

Egressos de Fonoaudiologia que constroem rede de contatos, têm interesse pelo conhecimento, desenvolvem capacidade de liderança e participam de projetos de extensão durante a graduação têm mais chances de inserção no mercado de trabalho como fonoaudiólogos. A avaliação continuada do currículo e das competências propostas pelos cursos de graduação em Fonoaudiologia no Brasil reforçam a importância para a prática do acompanhamento dos egressos nas IES e visam a melhoria na qualidade do ensino.

  • Trabalho realizado na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG - Belo Horizonte (MG), Brasil.
  • Fonte de financiamento:
    nada a declarar.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    03 Maio 2020
  • Aceito
    12 Out 2020
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