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Prevalência de distúrbios fonoaudiológicos em adultos e idosos, segundo sexo e faixa etária: um estudo populacional

RESUMO

Objetivo

Verificar a distribuição dos distúrbios fonoaudiológicos autorreferidos em relação ao sexo e à faixa etária em uma amostra representativa da população do sul do Brasil.

Método

Estudo transversal em adultos e idosos com base em um inquérito populacional domiciliar autodeclarado sobre Distúrbios da Comunicação Humana (DCH-POP). Foram realizadas entrevistas domiciliares padronizadas com a aplicação de um questionário com residentes da cidade de Porto Alegre entre 2012 e 2014. O desfecho estudado foi “distúrbios fonoaudiológicos”, constituído a partir dos dados das variáveis: linguagem, motricidade orofacial, audição e equilíbrio. Foram realizadas análises de frequência absoluta e relativa. Razões de prevalência multivariáveis foram estimadas em análise ajustada pela Regressão de Poisson com variância robusta e respectivos intervalos de confiança de 95%.

Resultados

Dos 1246 indivíduos entrevistados, 918 participantes foram elegíveis para este estudo. A maioria é do sexo feminino (58,1%) e a idade média foi de 48,9 (±19,6) anos. O desfecho distúrbio fonoaudiológico foi encontrado em 364 (39,4%) indivíduos, sendo que a faixa etária mais acometida foi a de 60 anos ou mais (54,4%), apresentando maior prevalência no sexo masculino (58,9%), do que no feminino (51,9%). Na análise multivariável ajustada verifica-se que há razão de prevalência significativa apenas em indivíduos idosos com 60 anos ou mais (RP 1,84 IC95% 1,50-2,26).

Conclusão

Neste estudo não encontramos diferenças significativas entre os sexos na prevalência dos distúrbios fonoaudiológicos autorreferidos em adultos e idosos. Entretanto, pessoas mais velhas apresentam maior prevalência destes, especialmente aquelas com idade entre 60 anos ou mais.

Descritores
Fonoaudiologia; Saúde Pública; Epidemiologia; Prevalência; Inquéritos Epidemiológicos

ABSTRACT

Purpose

To verify the distribution of self-reported speech-language and hearing disorders and their association to sex and age in a representative sample of the population in southern Brazil.

Methods

Prevalence of speech-language and hearing disorders in elderly and younger adults according to sex and age: a population survey based on a household survey on Human Communication Disorders (DCH-POP Study). Standardized home interviews were conducted using a questionnaire with residents of the city of Porto Alegre between 2012 and 2014. The study outcome was self-reported “speech-language and hearing disorders”, constituted from the variables: language, orofacial motricity, hearing, and balance. Analyses of absolute and relative frequencies were performed. Multivariable prevalence ratios were estimated in an adjusted analysis using Poisson Regression with robust variation and 95% confidence intervals.

Results

Of the 1246 individuals interviewed, 918 participants were eligible for this study. Most of them were female (58.1%), and the average age was 48.9 (± 19.6) years. The outcome of speech-language and hearing disorders was found in 364 (39.4%) individuals, and the most affected age group was 60 years old or more (54.4%), with a higher prevalence in men (58.9%) than in women (51.9%). The multivariate analysis showed a significant prevalence ratio only in elderly individuals aged 60 years or older (PR 1.84; 95% CI 1.50-2.26).

Conclusion

In this study, we did not find significant differences between sexes in the prevalence of self-reported speech-language and hearing disorders in elderly and younger adults. However, elderly and younger adults presented a higher prevalence of these disorders.

Keywords
Speech, Language and Hearing Sciences; Public Health; Epidemiology; Prevalence; Health Surveys

INTRODUÇÃO

Os distúrbios fonoaudiológicos têm impacto direto sob a vida dos indivíduos, interferindo de diferentes formas e em graus variados na comunicação, deglutição, audição e equilíbrio. Os estudos referentes a estes agravos aumentaram na última década, no entanto, em sua maioria, analisam ocorrências em um segmento específico da população e tratam de alterações isoladas(11 Medeiros SL, Pontes MPB, Magalhães HV Jr. Self-perception of chewing ability in elderly. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2014;17(4):807-17. http://dx.doi.org/10.1590/1809-9823.2014.13150.
http://dx.doi.org/10.1590/1809-9823.2014...
,22 Longo IA, Tupinelli GG, Hermógenes C, Ferreira LV, Molini-Avejonas DR. Prevalence of speech and language disorders in children in the western region of São Paulo. CoDAS. 2017;29(6):e20160036. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182016256. PMid:29160334.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2018...
).

Entretanto, é possível lançar mão de inquéritos epidemiológicos para evidenciar a distribuição da morbidade, tanto de forma autorreferida, como a partir da aferição de medidas. Além disso, estes inquéritos contribuem para o levantamento de dados para a avaliação dos serviços de saúde, bem como os determinantes comportamentais que os influenciam(33 Barros MBA. Health household surveys: potentials and challenges. Rev Bras Epidemiol. 2008;11(Supl 1):6-19. http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2008000500002.
http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2008...
).

Cabe destacar que o levantamento de medidas autorreferidas está relacionado à percepção e à interpretação do sujeito sobre o seu próprio corpo e a sua saúde. Isso favorece a participação indireta da comunidade na formulação de políticas públicas, sendo amplamente utilizada, especialmente em estudos de base populacional(44 Vasconcelos LCA, Prado RR Jr, Teles JBM, Mendes RF. Self-perceived oral health among elderly individuals in a medium-sized city in Northeast Brazil. Cad Saude Publica. 2012;28(6):1101-10. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2012000600009. PMid:22666814.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2012...
).

Atendendo aos conceitos contemporâneos de prevenção e promoção de saúde, além da distribuição dos seus agravos, faz-se importante que a Fonoaudiologia estude a distribuição dos distúrbios da comunicação humana, visto que estes levantamentos são especialmente úteis para o planejamento e a gestão de ações e serviços de saúde e ainda são escassos em nossa área.

Apresentamos um estudo que objetiva verificar a distribuição dos distúrbios fonoaudiológicos autorreferidos em relação ao sexo e à faixa etária em uma amostra representativa de adultos e idosos da população do sul do Brasil.

MÉTODO

Estudo transversal em adultos e idosos com base em um inquérito populacional domiciliar autodeclarado sobre Distúrbios da Comunicação Humana (DCH-POP). Informações metodológicas estão disponíveis na literatura indexada(55 Goulart BNG, Martins-Reis VO, Chiari BM. Household survey on self-declared communication disorders: study design and protocol. Audiol Commun Res. 2015;20(4):336-48. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2015-1586.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2015...
). Foram realizadas entrevistas padronizadas na população residente em um bairro da cidade de Porto Alegre, entre os anos de 2012 e 2014. A amostragem probabilística foi estratificada por múltiplos estágios por meio da análise de distribuição de idade e escolaridade. Para o tamanho da amostra de 1500 indivíduos, foi utilizado um coeficiente de confiança de 95% na determinação dos intervalos de confiança (z=1,96), com erro de amostragem de 10% e a proporção a ser estimada nos subgrupos populacionais seria de 20% (P=0,20). O critério de inclusão no estudo foi o endereço de residência constar na estratificação selecionada, sendo que para este estudo específico, outro critério de inclusão foi ter 18 anos ou mais.

Após, selecionado o domicílio, elegeu-se um morador, denominado proxy, para responder ao questionário, conforme sua concordância em participar do estudo. Foram excluídos da amostra todos os domicílios em que os indivíduos se negaram a participar da entrevista, bem como aqueles que não atenderam tanto por contato telefônico quanto após quatro ou cinco visitas na residência, sem sucesso de resposta. A amostra total de residentes selecionados incluiu 1500 indivíduos, sendo entrevistados 1246 (16,9% de perdas e recusas).

Variáveis em estudo

A variável desfecho foi considerada os distúrbios fonoaudiológicos que foi constituída a partir dos dados das seguintes variáveis: linguagem (composto por linguagem oral, fluência, linguagem escrita e voz, questões D2, D6, D7, E4, E6, F1, F6, F10, G1, G3 e G5), motricidade orofacial (relacionado a mastigação e deglutição, questões H5, H7 e H8), audição e equilíbrio (se há zumbido, perda auditiva e/ou tontura, questões I1, I6 e I7). Todas as questões tinham as respostas “sim”, “não”, “não sei/não respondeu” e “algumas/às vezes”, sendo que “algumas/às vezes” foi recodificado para “sim” e “não sabe/não respondeu” foi recodificado para “não”.

Maiores informações sobre o questionário podem ser consultadas no artigo de Goulart et al.(55 Goulart BNG, Martins-Reis VO, Chiari BM. Household survey on self-declared communication disorders: study design and protocol. Audiol Commun Res. 2015;20(4):336-48. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2015-1586.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2015...
). As variáveis contextuais analisadas foram “sexo” (feminino/masculino); “idade” (em anos) categorizada em: 18 a 39 anos, 40 a 59 anos e 60 ou mais. A variável de confusão “escolaridade” (em anos) foi categorizada em: 1 a 10 anos, 11 a 15 anos e 16 anos ou mais.

Análise estatística

Foram realizadas análises de frequência absoluta e relativa com intervalo de confiança (IC) de 95%, estratificadas por sexo e faixa etária. Razões de Prevalência (RP) multivariáveis foram estimadas em análise ajustada pela Regressão de Poisson com variância robusta e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). Os dados foram analisados ​​usando o software SPSS v.21 (Chicago: SPSS Inc).

Questões éticas

O presente estudo foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Feevale, de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, sob protocolo no 4.07.01.07.635 e da Universidade Federal de São Paulo sob o protocolo 150/10. Todos os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS

No estudo DCH-POP foram previstos 1500 indivíduos, sendo entrevistados 1246 (16,9% de perdas e recusas). Destes, 321 foram excluídos desta análise por terem idade menor de 18 anos, além de 7 missing. Portanto, foram considerados dados de 918 participantes, a maioria do sexo feminino (58,1%). A idade média foi de 48,9 (DP ± 19,6) anos.

O desfecho distúrbio fonoaudiológico foi encontrado em 364 (39,4%) indivíduos, sendo que na análise ajustada, a faixa etária mais acometida foi a de 60 anos ou mais, apresentando maior prevalência no sexo masculino (58,9%).

Os distúrbios fonoaudiológicos com maior prevalência foram audição e equilíbrio (24,6%), seguidos por distúrbio de linguagem (20,2%) e, o menos frequente, foi de motricidade orofacial (4,5%).

A proporção de distúrbios fonoaudiológicos na amostra e sua relação com o sexo e a faixa etária são apresentadas na Tabela 1. Não foram encontradas associações entre estes e o sexo. Porém, é perceptível que os distúrbios foram referidos com mais frequência em indivíduos mais velhos (54,4%), do que em mais novos (29,9%).

Tabela 1
Prevalência dos distúrbios fonoaudiológicos autorreferidos, estratificada por sexo e faixa etária, em Porto Alegre, RS, entre os anos de 2012 e 2014

Na Tabela 2 apresentamos as análises brutas e ajustadas da associada entre idade, sexo, escolaridade e distúrbio fonoaudiológico. Verifica-se que há maior razão de prevalência em indivíduos idosos com 60 anos ou mais (RP 1,84 IC95% 1,50-2,26) quando comparado as demais faixas etárias.

Tabela 2
Razões de Prevalência (RP) bruta e ajustadas dos distúrbios fonoaudiológicos autorreferidas em Porto Alegre, RS, entre os anos de 2012 e 2014.

DISCUSSÃO

Neste estudo verificamos que a prevalência de distúrbios fonoaudiológicos autorreferidos em uma amostra de adultos e idosos representativa de base domiciliar de Porto Alegre foi de 39,4%, sendo a faixa etária de 60 anos ou mais, a que apresentou maior prevalência. Até o momento, não encontramos outro estudo com metodologia semelhante referente aos distúrbios da comunicação humana de base domiciliar em adultos e idosos. Somente há referências de estudos populacionais de base domiciliar que verificam aspectos específicos da comunicação, como audição(66 Cruz MS, Oliveira LR, Carandina L, Lima MCP, César CLG, Barros MBA, et al. Prevalence of self-reported hearing loss and attributed causes: a population-based study. Cad Saude Publica. 2009;25(5):1123-31. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2009000500019. PMid:19488497.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2009...
).

Não foram encontradas diferenças significativas entre homens e mulheres na ocorrência de distúrbios fonoaudiológicos de linguagem, motricidade orofacial e audição e equilíbrio, tanto associadas como isoladas. Entretanto, quando estratificado por faixa etária, em ambos os sexos se verifica que a partir dos 60 anos há uma maior ocorrência dos distúrbios fonoaudiológicos, sendo que o mais prevalente nessa faixa etária é de audição e equilíbrio (43,3%), seguido por Linguagem (19,3%) e Motricidade Orofacial (9,6%). Observa-se na análise multivariável que os idosos, ou seus familiares, são os usuários com maior prevalência de distúrbios fonoaudiológicos autorreferidos. Além disso, um estudo que analisou o acesso dos serviços fonoaudiológicos no sul do Brasil constatou que os indivíduos que mais procuram o atendimento são as mulheres e as pessoas com deficiência(77 Rech RS, Bulgarelli PT, Condessa AM, Santos CM, Hilgert JB, Goulart BNG. Access and use of speech-language therapy services in Porto Alegre, Brazil: a population-based study. Cien Saude Colet. 2020;25(3):817-25. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232020253.17212018. PMid:32159652.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320202...
).

Existem poucos estudos sobre a prevalência dos distúrbios fonoaudiológicos na população adulta. Em um estudo realizado em São Paulo(88 Samelli AG, Rondon S, Oliver FC, Junqueira SR, Molini-Avejonas RD. Referred speech-language and hearing complaints in the western region of São Paulo. Clinics (São Paulo). 2014;69(6):413-9. http://dx.doi.org/10.6061/clinics/2014(06)08. PMid:24964306.
http://dx.doi.org/10.6061/clinics/2014(0...
), com indivíduos de 0 a 92 anos, cerca de 6,8% dos indivíduos apresentam queixa de linguagem ou deglutição e 3,6% dos indivíduos apresentam queixa auditiva. A menor prevalência encontrada nesse estudo quando comparado ao nosso, pode se dar devido a diferença de faixa etária da amostra, visto que a prevalência destes distúrbios aumenta com a idade.

A presbiacusia, que é o termo geral relacionado à perda auditiva em idosos, afetou cerca de 30% dos indivíduos acima de 65 anos em um estudo de coorte realizado na Holanda(99 Homans NC, Metselaar RM, Dingemanse JG, van der Schroeff MP, Brocaar MP, Wieringa MH, et al. Prevalence of age-related hearing loss, including sex differences, in older adults in a large cohort study. Laryngoscope. 2017;127(3):725-30. http://dx.doi.org/10.1002/lary.26150. PMid:27377351.
http://dx.doi.org/10.1002/lary.26150...
). Em um estudo realizado em adultos com idades entre 48 e 92 anos, residentes em Beaver Dam (Wisconsin, EUA) a perda auditiva esteve presente em 45,9% dos participantes, o que corrobora com os nossos achados, visto que neste presente trabalho, na faixa etária de 60 anos ou mais, a prevalência foi de 43,3%(1010 Cruickshanks KJ, Wiley TL, Tweed TS, Klein BE, Klein R, Mares-Perlman JA, et al. Prevalence of Hearing Loss in Older Adults in Beaver Dam, Wisconsin. The Epidemiology of Hearing Loss Study. Am J Epidemiol. 1998;148(9):879-86. http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals.aje.a009713. PMid:9801018.
http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals...
). Acreditamos que a alta prevalência distúrbios de audição quando comparada aos outros distúrbios fonoaudiológicos está relacionada com o fato de que os dados são autorreferidos e distúrbios na audição são mais facilmente percebidas, por trazerem maior impacto na vida social, mesmo quando em graus mais leves do que distúrbios relacionados à linguagem e motricidade orofacial.

A literatura é controversa em relação a maior prevalência de distúrbios de linguagem em indivíduos do sexo masculino. Esses achados ocorrem especialmente em estudos de base clínica(22 Longo IA, Tupinelli GG, Hermógenes C, Ferreira LV, Molini-Avejonas DR. Prevalence of speech and language disorders in children in the western region of São Paulo. CoDAS. 2017;29(6):e20160036. http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182016256. PMid:29160334.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/2018...
). Entretanto, vários estudos não levam em conta questões relacionadas à repercussão da escolaridade ou de condições sociais mais restritivas na diferença da ocorrência dos distúrbios de linguagem. Além do sexo, o fatores genéticos e aspectos relacionados ao ambiente, como a escolaridade materna e intercorrências durante a gravidez, podem estar associados ao aumento do risco de desenvolver distúrbios de linguagem na infância(1111 Rudolph JM. Case history risk factors for specific language impairment: a systematic review and meta-analysis. Am J Speech Lang Pathol. 2017;26(3):991-1010. http://dx.doi.org/10.1044/2016_AJSLP-15-0181. PMid:28672377.
http://dx.doi.org/10.1044/2016_AJSLP-15-...
,1212 Onnis L, Truzzi A, Ma X. Language development and disorders: possible genes and environment interactions. Res Dev Disabil. 2018;82:132-46. http://dx.doi.org/10.1016/j.ridd.2018.06.015. PMid:30077386.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ridd.2018.06...
). Assim, se faz necessário estudos que considerem a relação entre aspectos genéticos e ambientais, na ocorrência de distúrbios fonoaudiológicos, possibilitando uma análise mais detalhada desta diferença, principalmente na idade adulta.

A prevalência da disfagia difere bastante entre as faixas etárias, sendo a prevalência mais alta nos idosos, e varia entre 1,7% e 11,3% na população em geral(1313 Roden DF, Altman KW. Causes of dysphagia among different age groups: a systematic review of the literature. Otolaryngol Clin North Am. 2013;46(6):965-87. http://dx.doi.org/10.1016/j.otc.2013.08.008. PMid:24262954.
http://dx.doi.org/10.1016/j.otc.2013.08....
). Um estudo realizado na Paraíba, com indivíduos de 20 a 60 anos, denotam 30,5% de prevalência de dificuldades mastigatórias, em contraste com os achados aqui. A discordância entre os dados pode ser explicada pelas diferenças entre as metodologias utilizadas, assim como pelas questões socioeconômicas (renda, acesso aos serviços de saúde, escolaridade, entre outros)(1414 Cavalcante TF, Moura C, Perazzo PAT, Cavalcante FT, Cavalcante MT. Prevalence of chewing difficulty among adults and associated factors. Cien Saude Colet. 2019;24(3):1101-10. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018243.10122017. PMid:30892530.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182...
).

As prevalências de distúrbios de motricidade orofacial podem ser explicadas pelo processo do envelhecimento, devido às inúmeras modificações que ocorrem no sistema estomatognático, como a perda de força e a diminuição do tônus muscular que interferem na realização das funções de fala, mastigação e deglutição(11 Medeiros SL, Pontes MPB, Magalhães HV Jr. Self-perception of chewing ability in elderly. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2014;17(4):807-17. http://dx.doi.org/10.1590/1809-9823.2014.13150.
http://dx.doi.org/10.1590/1809-9823.2014...
,1515 Freitas AC Jr, Almeida EO, Antenucci RMF, Gallo AKG, Silva EMM. Ageing of the stomatognathic system: physiologic and anatomical alterations. Rev Odontol Araçatuba. 2008;29(1):47-52.). As alterações estruturais envolvem desde o controle neurológico das estruturas e funções, até a diminuição da capacidade funcional das funções sensoriais e motoras. Tais alterações podem estar relacionadas com a maior prevalência dos distúrbios fonoaudiológicos na faixa etária de idade mais avançada.

Este é um estudo de base populacional, com uma amostra representativa e relativamente grande, porém, tem algumas limitações. Apesar da amostra aleatória de indivíduos em múltiplos estágios, as mulheres foram as principais entrevistadas e constituíram a maioria da amostra, aspecto que foi corrigido na análise multivariável ajustada . Além disso, uma variação na medida do resultado poderia ser esperada a partir da pesquisa de autorrelato. A depender do tipo e grau de alteração fonoaudiológica, há maior ou menor possibilidade de percepção do próprio individuo desta como uma limitação. Entretanto, o objetivo do estudo é justamente identificar alterações fonoaudiológicas que demandariam tratamento e que efetivamente trazem desconforto e queixa pelo sujeito, sendo identificáveis.

Por outro lado, o questionário utilizado, que foi criado e validado em um estudo-piloto, tem possivelmente tem uma alta sensibilidade em identificar alterações fonoaudiológicas pelo fato de perguntar sobre “ter dificuldade para mastigar, ter dificuldade para falar/para ser compreendido”, entre outros(55 Goulart BNG, Martins-Reis VO, Chiari BM. Household survey on self-declared communication disorders: study design and protocol. Audiol Commun Res. 2015;20(4):336-48. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2015-1586.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2015...
), o que pode ter aumentado a prevalência destes agravos na população estudada.

CONCLUSÃO

Neste estudo não encontramos diferenças significativas entre os sexos na prevalência dos distúrbios fonoaudiológicos autorreferidos em adultos e idosos, entretanto, pessoas mais velhas apresentam maior prevalência destas alterações, especialmente aquelas com idade entre 60 anos ou mais. Além disso, a prevalência destes agravos é relativamente alta, o que indica a necessidade da elaboração de políticas públicas de atenção à saúde.

AGRADECIMENTOS

FINEP, CAPES e CNPQ pelo financiamento do estudo. PROPESQ UFRGS pela bolsa de iniciação científica.

  • Trabalho realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS - Porto Alegre (RS), Brasil.
  • Fonte de financiamento: FINEP, CAPES e CNPQ.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    07 Abr 2020
  • Aceito
    23 Jun 2020
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