Open-access MULHERES QUE ORIENTAM MULHERES: A FILOSOFIA EM PERSPECTIVA COMPARADA

WOMEN MENTORING WOMEN: PHILOSOPHY IN A COMPARATIVE PERSPECTIVE

MUJERES QUE ORIENTAN MUJERES: LA FILOSOFÍA EN UNA PERSPECTIVA COMPARADA

FEMMES DIRECTRICES DES FEMMES: LA PHILOSOPHIE DANS UNE PERSPECTIVE COMPARATIVE

Resumo

Este é um estudo descritivo e quantitativo que tem por objetivo evidenciar as desigualdades de gênero na pós-graduação no Brasil, com ênfase na área da Filosofia, a partir das combinações possíveis entre orientandos e orientadores homens e mulheres. Foram analisados dados do Catálogo de Teses e Dissertações da Capes de 1991 a 2021 relativos às Grandes Áreas, às Ciências Humanas e às dez áreas com menos autoras. Conclui-se que todas as áreas de maioria feminina entre os concluintes apresentam o índice MQOM: mulheres orientando pelo menos 50% mais mulheres que homens. MQOM é sempre o caso quando homens orientam mais mulheres que homens e está ausente nas dez áreas com menos autoras. Na Filosofia, os homens orientaram mais que o dobro, e as mulheres quase o dobro, de homens que mulheres.

RELAÇÕES DE GÊNERO; ENSINO SUPERIOR; FILOSOFIA

Abstract

This descriptive and quantitative study aims to highlight gender inequalities in graduate education in Brazil, with a focus on the area of Philosophy, based on the possible combinations between male and female graduate students and supervisors. Data from the Capes Catalog of Theses and Dissertations from 1991 to 2021 were analyzed, covering the Major Areas, the Humanities, and the ten areas with the fewest female authors. The study concludes that all areas with most female graduates exhibit the WSW index: women supervising at least 50% more women than men. WSW is always the case when men supervise more women than men and is absent in the ten areas with the fewest female authors. In Philosophy, men supervised more than twice as many men as women, and women supervised nearly twice as many men as women.

GENDER RELATIONS; HIGHER EDUCATION; PHILOSOPHY

Resumen

Este es un estudio descriptivo y cuantitativo que tiene como objetivo resaltar las desigualdades de género en la posgraduación en Brasil, con énfasis en el área de Filosofía, a partir de las posibles combinaciones entre estudiantes y orientadores hombres y mujeres. Fueron analizados datos del Catálogo de Tesis y Disertaciones de la Capes de 1991 a 2021 relacionados con las Grandes Áreas, las Ciencias Humanas y las diez áreas con menor número de autoras. Se concluye que todas las áreas con mayoría femenina entre los egresados presentan el índice MQOM: mujeres orientando al menos un 50% más de mujeres que de hombres. MQOM es siempre cuando los hombres orientan a más mujeres que hombres y está ausente en las diez áreas con menos autoras. En Filosofía, los hombres orientaron más que el doble, y las mujeres casi el doble, de hombres que de mujeres.

RELACIONES DE GÉNERO; EDUCACIÓN SUPERIOR; FILOSOFÍA

Résumé

Cette étude descriptive et quantitative vise à mettre en évidence les inégalités de genre au troisième cycle au Brésil, principalement dans le domaine de la philosophie, à partir des combinaisons possibles entre les étudiants et leurs directeurs ou directrices de recherches. Des données issues du Catalogue des thèses et mémoires de la Capes de 1991 à 2021 ont été analysées concernant les Grands Domaines, les Sciences Humaines et les dix domaines avec le moins d’autrices. La conclusion est que tous les domaines où une majorité de femmes obtienent leur diplôme, l’indice FDF est respecté: femmes dirigeant au moins 50% de femmes de plus que d’hommes. L’indice FDF est toujours le cas où des hommes dirigent plus de femmes que d’hommes et est absent dans les dix domaines avec le moins d’autrices. En philosophie, les hommes ont dirigé plus de deux fois plus d’hommes que de femmes et les femmes presque deux fois plus d’hommes que de femmes.

RELATIONS DE GENRE; ENSEIGNEMENT SUPÉRIEUR; PHILOSOPHIE

NA ÚLTIMA DÉCADA, PROLIFERARAM ESTUDOS QUANTITATIVOS SOBRE DESIGUALDADE de gênero na academia nas diversas áreas da pós-graduação brasileira. Boa parte deles tem por interesse mensurar o tamanho dessa desigualdade e seu comportamento ao longo do tempo e identificar a presença de fenômenos presentes na literatura (como efeito tesoura e teto de vidro) a partir de bancos de dados públicos formulados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Estudos anteriores (Bernd et al., 2017; Candido et al., 2019; Estrela, 2020) utilizaram as bases da Plataforma Sucupira Capes,1 da Plataforma Lattes CNPq2 (Tuesta et al., 2019), dos Bolsistas de Produtividade CNPq3 (Guedes et al., 2015; Valentova et al., 2017; Barros & Silva, 2019; Tonini & Araújo, 2019; Oliveira et al., 2021; Cunha et al., 2021; Arêas et al., 2023) e, finalmente, da Plataforma Capes Dados Abertos,4 com suas bases sobre Docentes e Discentes na Pós-Graduação Stricto Sensu do Brasil5 (Araújo, 2019; Candido, 2023a, 2023b) e o seu Catálogo de Teses e Dissertações6 (Mena-Chalco & Rocha, 2014; Cruz et al., 2022). Este artigo, por sua vez, apresenta uma análise descritiva que parte do gênero de orientandos e orientadores, tendo como base de dados o catálogo de Teses e Dissertações da Capes. A pesquisa tem por objetivo evidenciar as desigualdades de gênero, investigando as combinações possíveis entre orientandos e orientadores homens e mulheres.

Após a descrição da metodologia, apresentamos e discutimos os resultados de forma progressiva: começamos pelo cenário geral de todas as Grandes Áreas, passando pela Grande Área de Ciências Humanas. A seguir, descrevemos as dez áreas com maior desigualdade de gênero para, por fim, tratar com mais detalhes da área da Filosofia. Em todos esses contextos, analisamos não apenas o número e a proporção de trabalhos orientados e redigidos por mulheres e homens, mas também a proporção dos trabalhos segundo a combinação do gênero do orientador e do autor. Os autores deste artigo são membros do Dataphilo, grupo de pesquisa sediado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que tem como propósito a análise descritiva de dados na área de Filosofia.

Metodologia

Este estudo descreve, a partir de uma abordagem quantitativa, a desigualdade de gênero na pós-graduação em Filosofia em relação a outras áreas no Brasil. Foram utilizados os bancos de dados disponíveis no Catálogo de Teses e Dissertações da Plataforma Capes Dados Abertos. O Catálogo é uma fonte de dados de domínio público e amplamente utilizada em pesquisas científicas, pois reúne diversas informações relativas aos trabalhos acadêmicos defendidos em programas de pós-graduação stricto sensu no país. Esses dados foram consolidados de 1987 a 2021, a partir do sistema Coleta Capes, e consistem em 1.395.895 registros com 58 variáveis. A unidade de análise deste artigo são os trabalhos (teses e dissertações) defendidos em programas de pós-graduação do Brasil e seus respectivos metadados. As análises consideram apenas pesquisas que chegaram a termo e, por isso, desconsideram pesquisas que tenham sido interrompidas ou que ainda estão em andamento.

As informações relacionadas a cada trabalho foram delimitadas da seguinte forma. Determinamos o período de 1991 a 2021 como ano-base de defesa, devido à falta de consistência no preenchimento do nome do orientador nos anos anteriores. As variáveis de detalhamento institucional dos trabalhos selecionadas foram: tipo de grau acadêmico obtido pelo discente (mestrado, mestrado profissional ou doutorado), nome da instituição de ensino superior (IES) à qual o trabalho é vinculado, região e unidade da federação da IES, bem como a Grande Área de Conhecimento e a Área de Avaliação da Capes, às quais os programas de pós-graduação estavam vinculados na data da coleta dos dados.

As variáveis contendo o nome do orientador e o nome do discente foram utilizadas para a criação das variáveis de gênero. Os dados de sexo foram introduzidos no sistema Capes, mas, devido à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), eles não são disponibilizados publicamente. Portanto foi necessário realizar uma classificação automatizada pelo cruzamento do primeiro nome dos autores com os dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 (Meireles, 2021), o que provê uma classificação por gênero de margem de erro minimizada, dado o contexto brasileiro dos dados. Assim, foram obtidas três novas variáveis que não estão presentes no banco original: gênero do orientador (homem ou mulher), gênero do discente (homem ou mulher) e a relação entre gênero de orientador e de discente (homem/homem, homem/mulher, mulher/homem, mulher/mulher). No caso da análise dos dados da Filosofia, o gênero dos orientadores não capturados automaticamente foi classificado manualmente.

Um dos modos culturais de marcar socialmente a diferença de gênero é através do nome utilizado. No Brasil, a utilização do nome social em instituições de ensino superior é uma realidade acessível a docentes e estudantes. Por esse motivo, consideramos que o pacote de gênero utilizado e descrito na metodologia, ao fazer uma aplicação por “nome”, captura o tipo de relação analítica implicada pela categoria gênero.7 Neste trabalho, considera-se que o gênero também é construído pelo discurso e serve não apenas como um marcador para simbolizar diferenças percebidas entre homens e mulheres, mas também como uma maneira de estruturar as relações de poder em uma sociedade8 (Scott, 1986). Por isso, chegamos ao resultado de que a análise aponta para algumas desigualdades de gênero no ambiente acadêmico.

Para manter o padrão de informação dos metadados escolhidos para o artigo, foram elaborados alguns filtros de exclusão de observações. Foram removidos os trabalhos classificados como “Doutorado profissional” (39 observações), os que não apresentavam identificação da Grande Área de Conhecimento (1 observação), aqueles que não puderam ter a identificação de gênero do orientador ou do discente (256.370 observações ou 18,65%) e os que não possuíam identificação de ano de defesa (1 observação). Após essa filtragem, o banco de dados utilizado para análise consistiu em 1.117.961 trabalhos. O banco de dados específico utilizado para as análises da Filosofia (como área de avaliação da Capes) contém 11.945 observações. Na análise dos dados, as variáveis foram descritas com frequência absoluta e relativa através da elaboração de tabelas e gráficos. A manipulação do banco de dados e as análises foram realizadas por meio do software R (versão 4.1.2, R Core Team, n.d.).9

Resultados e discussão: Gênero em teses e dissertações nas Grandes Áreas e nas Ciências Humanas

O século XX marcou o desaparecimento do hiato de gênero (gender gap) na educação brasileira, com as mulheres sendo a maioria da população a ter concluído a educação básica e o ensino superior (Beltrão & Alves, 2009). Em 1996, elas se tornaram maioria dos concluintes de pós-graduação. Como mostra a Tabela 1, a média geral de teses e dissertações defendidas por mulheres entre 1991 e 2021 é de 54,62%. Não obstante, os homens são a maioria dos orientadores dos trabalhos defendidos no período, 59,24%. Ao entendermos quais foram as tendências do período, detalhamos esses dados gerais por Grande Área; assim como, ao compreender por que o caso da Filosofia é especial nesse cenário, caracterizamos a área de Ciências Humanas.

Tabela 1
Descrição do gênero de orientadores e estudantes de teses e dissertações defendidas no Brasil de acordo com as Grandes Áreas da Capes (1991-2021)

Estipulamos para a análise desses dados que os cenários são considerados equitativos se a proporção entre homens e mulheres não superar 10 pontos percentuais de diferença. Ou seja, para ser paritária, a proporção deve localizar-se entre 45% e 55%. Na Tabela 1, constata-se que as Ciências Humanas são a Grande Área com maior percentual de trabalhos defendidos no período (16,66%), apresentando maioria de orientadores (53,57%) e autores de trabalhos (61,46%) do gênero feminino. Ela é seguida pelas Ciências da Saúde, com 15,92% dos trabalhos defendidos, com equilíbrio de gênero entre os orientadores (50,08% de mulheres) e predominância acentuada de autores do gênero feminino (67,49%). A área de Linguística, Letras e Artes é a de menor produção (6,11%), mas ela também apresenta maioria feminina entre orientadores (62,89%) e autores de trabalhos (67,53%). Nessas três áreas, vê-se concomitância entre a predominância de orientadoras e a predominância de autoras.

As Engenharias constituem a área com maior percentual de orientadores (80,77%) e de autores (66,2%) do gênero masculino.10 Elas são seguidas de perto pelas Ciências Exatas e da Terra, que têm 75,78% de orientadores e 65,75% de autores homens.11 As Ciências Sociais Aplicadas são a área mais produtiva (13,75% dos trabalhos) em que há predominância masculina entre os orientadores (64,84%); porém, há ali equidade entre autores (48,51% de mulheres).12 Nota-se uma divergência na predominância de gênero entre orientadores e autores em 3 Grandes Áreas: nas Ciências Agrárias,13 em que 29,68% de orientadoras contrastam com 55,02% de autoras; nas Ciências Biológicas, com 44,96% de orientadoras, mas 63,34% de autoras; e na área Multidisciplinar, que tem equidade entre orientadores (46,93% de mulheres), mas 59,22% de autoras.

As três Grandes Áreas que apresentam maioria feminina entre os orientadores têm desenvolvimento histórico diferente, como indicado na Figura 1.

Figura 1
Descrição da tendência do aumento/diminuição de pontos percentuais da defesa de teses e dissertações orientadas por mulheres no Brasil nas Grandes Áreas (1991-2021)

Como mostra a Figura 1, Linguística, Letras e Artes têm maioria feminina constante ao longo de todo o período (variação positiva de 4,7%). Essa maioria é recente para as Ciências da Saúde, que mostram uma acentuada tendência de alta ao longo de todo o período (sai de 20% em 1991 para 56,57% em 2021). As Ciências Humanas, que só conquistaram essa maioria em 1996, já tiveram patamares mais altos do que a média da Tabela 1 (56,8% em 2009) e mostram ligeira tendência de queda. Nas demais Grandes Áreas, nota-se um quadro de ascensão no número de trabalhos orientados por mulheres nas duas primeiras décadas do período, seguida de uma última década bastante estável, mesmo nas áreas ainda distantes de situações equitativas. As Ciências Agrárias passam de 10,75% em 1991 a 23,59% em 2001 e a 32,75% em 2021. As Ciências Biológicas e a Grande Área Multidisciplinar14 passam de cerca de 30% na primeira década a 45% na segunda década e mantêm esse nível. As Engenharias vão de 7,46% em 1991 a 20,76% em 2011 e permanecem nessa proporção. As Ciências Exatas e da Terra vão de 15,67% em 1991 a 25,5% em 2001 e mantêm essa média. Vejamos agora o desenvolvimento histórico do gênero de concluintes nas Grandes Áreas (Figura 2).

Figura 2
Descrição da tendência do aumento/diminuição de pontos percentuais da defesa de teses e dissertações defendidas por mulheres no Brasil nas Grandes Áreas (1991-2021)

De acordo com a Figura 2, em todas as Grandes Áreas há um avanço com respeito ao número de concluintes mulheres na primeira década analisada, e elas variam muito nas duas décadas subsequentes. Um movimento de alta constante é identificado nas Ciências Agrárias, que vai de um patamar de 37,91% em 1991 para 59,57% em 2021. O mesmo ocorre nas Ciências da Saúde, que passa de 42,43% em 1991 a 69,75% em 2021, tornando-se a área em que proporcionalmente mais mulheres defendem trabalhos de pós-graduação. Um outro grupo avança bastante nos 20 primeiros anos e mantém esse nível nos últimos 10. A Grande Área Multidisciplinar começa com cerca de 46%, atinge 60% de trabalhos de autoria feminina em 2011 e permanece nesse patamar. As Engenharias têm, entre 1991 e 2011, um desenvolvimento muito expressivo, passando de 18,28% a 35,42% e mantêm-se nesse nível até o fim do período. As Ciências Sociais Aplicadas passaram de 37,4%, em 1991, a 49,95%, em 2011, e permaneceram nesse patamar de equidade. Um terceiro grupo apresenta trajetórias com momentos de baixa. As Ciências Biológicas têm uma trajetória de leve alta na primeira década (de 63,33% em 1991 para 66,48% em 2001) e leve baixa na segunda (62,3% em 2011), mantendo-se nessa proporção na terceira década. Na Linguística, Letras e Artes, a alta da primeira década (de 67,07% em 1991 a 71,19% em 2001) reverte-se em uma queda branda constante (2021 com 65,63%). Nas Ciências Humanas, níveis que oscilavam em torno de 63% nas duas primeiras décadas passaram a uma constante de 60% na última década. As Ciências Exatas e da Terra, pior colocação entre as Grandes Áreas quanto ao número de trabalhos concluídos por mulheres, têm ligeira alta na primeira década, passando de 37,46% em 1991 a 39,98% em 2001, seguida de tendência de leve baixa até 31,92% em 2021.

Se voltarmos à análise da Tabela 1 quanto aos indicadores da relação entre gênero de orientadores e de autores, observamos que, para todas as Grandes Áreas em que as mulheres são maioria entre os concluintes, as orientadoras orientam mais do que o dobro de mulheres do que homens. Essa observação nos fez cunhar o padrão MQOM,15 que, como veremos adiante, será definido como o cenário em que mulheres orientam pelo menos 50% mais mulheres que homens, ou seja, índice M/M por M/H superior a 1,5. No cenário geral das Grandes Áreas, entretanto, MQOM é bem mais acentuado, com índice superior a 2 e, no total da pós-graduação brasileira, o índice MQOM é de 2,05. MQOM ocorre concomitantemente a situações em que H/H é superior, igual ou inferior a H/M. Não obstante, não há uma ocorrência em que H/M seja maior que H/H sem que o padrão MQOM seja o caso.

Veja-se o caso das Ciências Agrárias, em que há maioria de concluintes mulheres: verifica-se MQOM (19,92% de M/M contra 9,75% de M/H, resultando em um índice 2,04) concomitante a homens que orientaram equitativamente homens e mulheres (35,1% contra 35,23%). Compare-se as Ciências Agrárias com as Ciências Sociais Aplicadas, em que não há maioria de concluintes mulheres: os homens orientam 1,34 vez mais homens que mulheres (37,19% contra 27,65%), mas, entre as mulheres, apesar de elas terem orientado mais mulheres que homens, não se verifica o padrão MQOM (20,86% contra 14,31%, índice 1,45).

MQOM é claro em todas as áreas em que o número de trabalhos defendidos por mulheres supera o dos defendidos por homens. Dentre essas, há dois cenários. No primeiro deles, MQOM é concomitante a homens orientando equitativamente homens e mulheres. Na área Multidisciplinar, por exemplo, em que há quase 20% a mais de trabalhos defendidos por mulheres, os homens orientam equitativamente homens e mulheres (27,65% de mulheres contra 25,42% de homens), enquanto para as mulheres vale MQOM (31,57% de orientações de mulheres contra 15,36% de homens - índice 2,05). Também nas Ciências Humanas, em que há mais de 50% a mais de trabalhos defendidos por mulheres do que por homens, MQOM é o caso (37,29% de mulheres contra 16,28% de homens - índice 2,29) concomitante a homens que orientaram equitativamente mulheres e homens (24,17% de mulheres contra 22,26% de homens).

No segundo cenário, verifica-se o padrão MQOM concomitante a homens orientando mais mulheres do que homens. Nas Ciências Biológicas, os homens orientaram 1,44 vez mais mulheres que homens (32,47% contra 22,57%) e as mulheres orientaram 2,19 vezes mais mulheres que homens (30,87% contra 14,09%). Na Linguística, Letras e Artes, os homens orientaram 1,5 vez mais mulheres que homens (22,26% contra 14,85%), enquanto as mulheres orientaram 2,57 vezes mais mulheres do que homens (45,27% contra 17,62%). Nas Ciências da Saúde, os homens orientaram 1,29 vez mais mulheres que homens (28,68% contra 22,24%) e as mulheres orientaram 3,45 vezes mais mulheres que homens (38,8% contra 11,28%). Em todas essas áreas, o número de concluintes mulheres é superior ao de homens.

Constata-se, portanto, o padrão MQOM em todas as seis Grandes Áreas de maioria feminina entre os concluintes, que juntas somam quase 80% dos trabalhos defendidos no período. Dado esse cenário geral, é importante descrever o que acontece nas duas áreas em que ela não é o caso. Nas Engenharias, os trabalhos redigidos por homens são quase o dobro e neles os homens orientaram 2,33 vezes mais homens que mulheres (56,51% contra 24,26%), ao passo que as mulheres orientam equitativamente (9,69% de homens e 9,54% de mulheres). Nas Ciências Exatas e da Terra, os homens orientaram 2,23 vezes mais homens do que mulheres (52,31% contra 23,47%), enquanto as mulheres orientaram 1,25 vez mais homens que mulheres (13,44% de homens contra 10,78% de mulheres), fazendo a relação orientadoras/alunas nas Ciências Exatas e da Terra uma exceção na pós-graduação brasileira. O que é comum a essas duas Grandes Áreas é o padrão antípoda ao MQOM: homens orientando mais de 50% a mais de trabalhos de homens que de mulheres, a partir daqui chamado de HQOH.16 HQOH só ocorre concomitantemente à maioria de concluintes homens, embora possa haver maioria de concluintes do gênero masculino sem que HQOH seja o caso, como veremos adiante.

Uma vez que nosso propósito é abordar a desigualdade de gênero na Filosofia por meio de uma perspectiva comparada, passamos agora a uma especificação da Grande Área de Ciências Humanas.

A informação mais saliente da Tabela 2 é o impacto da área da Educação, a mais antiga área de pós-graduação no país e responsável por 38,51% dos trabalhos defendidos no período em Ciências Humanas, que, como vimos, é a Grande Área de maior produção nacional. Não é apenas pelo nível de produção que a Educação se destaca: a predominância feminina é marcante, com 65,69% das orientações de trabalho e 72,87% da autoria de trabalhos defendidos. A segunda área de maior produção é a Psicologia, com 15,65% dos trabalhos defendidos no período. Ali também a predominância de mulheres é forte: 63,45% das orientações e 75,17% dos trabalhos; esse último é o índice mais elevado das Ciências Humanas. A Educação e a Psicologia têm índice MQOM superior a 3. O índice na Psicologia é o mais alto (3,87) e concomitante a homens orientando 2,09 vezes mais mulheres. Na Educação ele é de 3,27 e concomitante a homens orientando quase que o dobro de mulheres do que homens (1,92).

Tabela 2
Descrição do gênero de orientadores e estudantes de teses e dissertações defendidas no Brasil de acordo com as Ciências Humanas (1991-2021)

A Antropologia também tem predominância feminina na autoria (58,66%), mas há equidade de gênero entre os orientadores (50%). São casos como o da Antropologia (índice MQOM 1,74) que nos fazem definir o padrão MQOM associado à maioria feminina entre os concluintes como índice mínimo de 1,5, ou seja, mulheres orientando pelo menos 50% a mais de trabalhos de mulheres do que de homens. Essa definição deve levar em conta outros dois casos: o da História e o da Sociologia. Ambas têm perfil equitativo tanto entre orientadores quanto entre autores, porém a História não tem maioria de mulheres concluintes (49,4% de autoras); já a Sociologia, sim (53,66% de autoras). Por outro lado, verificamos que, na História, as mulheres orientam 1,16 vez mais mulheres que homens, ao passo que na Sociologia esse índice é de 1,49, que arredondamos para 1,5. Assim, embora no quadro geral da pós-graduação brasileira a predominância de mulheres concluintes é concomitante a um índice MQOM de 2,05, o que se observa nas áreas é a concomitância entre maioria de mulheres concluintes e mulheres orientando pelo menos 50% a mais de mulheres do que homens.

As demais áreas têm maioria de orientadores e autores homens e ausência de MQOM, mas elas se diferenciam entre aquelas em que há equidade entre os autores e aquelas em que não há. As primeiras são a Geografia, que tem 59,67% de orientadores homens e 48,56% de mulheres concluintes, e a Ciência Política/RI, que consegue atingir patamares equitativos em autoria (45,41% de mulheres), mas tem 69,33% de orientadores do gênero masculino.17 Na Geografia, as mulheres orientam 1,13 vez mais mulheres que homens e os homens orientam 1,19 vez mais homens que mulheres. Já na Ciência Política/RI, as mulheres orientam 1,1 vez mais mulheres que homens, e os homens 1,36 vez mais homens que mulheres.

Finalmente temos as duas áreas sem maioria feminina entre orientadores e autores e sem equidade: a Filosofia e a Teologia. Elas guardam semelhanças históricas e constituíram, até 2016, uma área única da Capes. Na Teologia, 18,94% dos trabalhos do período foram orientados por mulheres, mas 37% são de autoria feminina. Ali as mulheres orientam mais trabalhos de mulheres do que de homens (10,02% contra 8,92%, índice 1,12, maior do que o da Ciência Política/RI) e isso é concomitante a homens orientando o dobro de trabalhos de homens do que de mulheres (54% contra 27,06%), ou seja, HQOH.18

Em contraste, a Filosofia tem, proporcionalmente, um pouco mais de trabalhos orientados por mulheres do que a Teologia (19,77%), mas menos trabalhos concluídos por mulheres: 29,26%, o pior índice das Ciências Humanas. Na Filosofia, os homens orientaram 2,56 vezes mais trabalhos de homens do que de mulheres, ou seja, verifica-se HQOH em níveis semelhantes ao da Teologia (2,00) e das Grandes Áreas das Engenharias (2,33) e das Ciências Exatas e da Terra (2,23). Mas a Filosofia introduz um outro fator, que podemos chamar de MQOH: ela é a única entre as Ciências Humanas em que mulheres orientaram mais de 50% a mais de homens do que mulheres, para sermos específicos, 1,95 vez mais trabalhos de homens que de mulheres. A Filosofia é um caso de exceção no cenário de maioria feminina da pós-graduação brasileira, mas ela não está sozinha. Por isso, na próxima seção analisaremos outros casos semelhantes.

Resultados e discussão: Teses e dissertações nas áreas com maior índice de desigualdade de gênero e o caso da Filosofia

Até aqui, vimos a distribuição de gênero de orientadores e autores de teses e dissertações nas Grandes Áreas e na Área das Ciências Humanas. Como nosso objeto de estudo é a área da Filosofia, não pretendemos detalhar todas as demais áreas, mas encontrar aquelas que possuem um comportamento semelhante a ela no que diz respeito à desigualdade de gênero. A Figura 3 mostra a relação entre a distribuição da proporção de mulheres que orientaram e as que foram autoras de trabalhos de conclusão de pós-graduação em diversas áreas de avaliação da Capes.

Figura 3
Proporção de teses e dissertações orientadas e defendidas por mulheres no Brasil de acordo com as Áreas de Avaliação da Capes (1991-2021)

Convém, para uma melhor visualização, dividir a Figura 3 em quatro quadrantes: Q1 no alto à esquerda, Q2 no alto à direita, Q3 abaixo à esquerda e Q4 abaixo à direita. As áreas mais próximas do ponto de encontro dos quatro quadrantes, portanto mais equitativas em todos os sentidos, são a História e as Artes. A primeira informação relevante da Figura 3 é que Q4 está vazio. Isso mostra que não há áreas de predominância de orientadoras em que não haja predominância de autoras (ou vice-versa). Notamos também a concentração de áreas na fronteira entre Q1 e Q2, o que indica uma maioria de casos em que há, simultaneamente, equidade entre o número de trabalhos orientados por homens e mulheres e predominância de mulheres na autoria dos trabalhos. Outro ponto importante é que áreas específicas independem da Grande Área no que diz respeito ao seu comportamento de equidade de gênero, como já foi notado sobre a Filosofia e a Teologia em relação à Grande Área das Ciências Humanas. Q2, por exemplo, mostra que o avanço notável das Ciências da Saúde está muito ligado às posições de destaque da Enfermagem e da Nutrição, por oposição, por exemplo, à Medicina III. Devido ao nosso propósito, vamos nos concentrar em Q3, mais precisamente nas dez áreas com menor proporção de trabalhos concluídos de autoria de mulheres, que chamaremos de Grupo Desigual (descritas na Tabela 3).19

Tabela 3
Descrição do gênero de orientadores e estudantes de teses e dissertações defendidas no Brasil nas dez áreas com menor proporção de estudantes mulheres (1991-2021)

Seis das dez áreas no Grupo Desigual pertencem ao que ficou conhecido como STEM (abreviatura inglesa para Science, Technology, Engineering and Mathematics), notório por sua desigualdade de gênero.20 Há duas Engenharias: a Engenharia IV,21 que, englobando as subáreas de Engenharia Elétrica e Biomédica, ocupa a pior posição, e a Engenharia III, que inclui a Engenharia Mecânica, de Produção, Naval e Oceânica e Aeroespacial.22 É notável que as Engenharias I (que reúne Engenharia Civil, Sanitária e de Transportes) e II (que combina a Engenharia de Minas, de Materiais e Metalúrgica e Química) não estejam incluídas no grupo. A Grande Área mais representada no Grupo Desigual é a das Ciências Exatas e da Terra, com quatro áreas: Ciências da Computação,23 Astronomia/Física,24 Matemática/Estatística25 e Geociências.26

Diferenças em termos de perfil de desigualdade de gênero são também encontradas, com ainda mais amplitude, nas Ciências Sociais Aplicadas. Enquanto o Serviço Social se destaca em Q2, há duas de suas áreas no Grupo Desigual: a Economia27 e o Direito.28 O mesmo pode ser dito das Ciências Humanas, com a Educação e a Psicologia em Q2 e, no Grupo Desigual, a Teologia e a Filosofia. O fato das dez áreas do Grupo Desigual se classificarem em quatro Grandes Áreas distintas demonstra que a análise da desigualdade de gênero na pós-graduação brasileira deve ser feita por áreas, e não isoladamente por Grandes Áreas.

Vejamos então o comportamento dessas áreas do Grupo Desigual na Tabela 3.

Um primeiro dado notável na Tabela 3 é o volume de produção do Direito e das Engenharias III e IV, que torna o Grupo Desigual diverso quanto ao seu impacto na Grande Área de cada componente. Ele é diverso também quanto ao nível de desigualdade: enquanto a Engenharia IV teve 20% de autoria de trabalhos do gênero feminino, as Geociências e o Direito estão se aproximando de uma relação de equidade, com respectivamente 42,34% e 43,02% de mulheres diplomadas na pós-graduação. Outra diferença muito significativa entre essas áreas é o número de orientadoras, que varia de 11% nas Engenharias IV até mais do que o dobro disso no Direito. Como indicado, MQOM está ausente da Tabela 2, mas há outros índices apontando diferenças no interior do grupo.

O primeiro grupo a ser identificado é aquele em que as mulheres orientam mais mulheres do que homens: o Direito, em que o índice é 1,02, e a Teologia, com índice 1,12. Esses dois se diferenciam porque, como vimos, HQOH é o caso para a Teologia, mas não para o Direito, em que os homens orientam 1,45 vez mais homens que mulheres. As Geociências formam um caso distinto desses dois, porque as mulheres orientam equitativamente e verifica-se HQOH, com homens orientando 50% a mais de homens do que mulheres. Um terceiro grupo é representado por duas áreas em que HQOH é o caso, mas que MQOH não é o caso. Uma delas é a Economia, em que os homens orientaram 2,34 vezes mais homens do que mulheres, e as mulheres orientaram 1,42 vez mais homens do que mulheres. A outra são as Engenharias III, em que eles orientaram 2,88 vezes mais homens do que mulheres, e elas, 1,46 vez mais homens do que mulheres.

O último e maior grupo é caracterizado por HQOH e MQOH. Nas Engenharias IV, os homens orientam 4,44 vezes mais homens do que mulheres e as mulheres, 1,88 vez mais homens do que mulheres. Na Ciência da Computação, eles chegam a orientar 4,43 vezes mais homens do que mulheres e as mulheres orientam 2,48 vezes mais homens do que mulheres. Na Astronomia/Física, eles orientam 3,63 vezes mais homens do que mulheres e elas 2,33 vezes mais homens do que mulheres. Na Matemática/Estatística, os homens orientaram 2,83 vezes mais homens do que mulheres e as orientadoras 1,68 vez mais homens do que mulheres. Como vimos, aqui se encontra também a Filosofia, que tem índice HQOH de 2,56 e MQOH de 1,95.

Vejamos agora o comportamento do Grupo Desigual ao longo do tempo.

Na Figura 4 verifica-se que todas as áreas tiveram aumento no período, mas com tendências distintas. A forma mais evidente de comparação é pelo índice de aumento percentual de mulheres, em que se destacam a Economia (com aumento de 433,51%) e o Direito (com 321,9%). Porém, outro fator importante para a diminuição da desigualdade é a presença de uma tendência constante de mudança, o que se detecta claramente não apenas na Economia e no Direito, mas também nas Engenharias III e nas Geociências. Entre essas quatro, a Economia mostra avanços na primeira e na terceira décadas, mas estagnação na segunda. O mesmo perfil é encontrado na Matemática e Estatística, mas também na Filosofia, com índices mais tímidos. A Teologia tem a sua tendência de crescimento do número de mulheres revertida a partir de 2005. Isso ocorre também na Ciência da Computação, mas de modo tão acentuado que, ao final do período, os ganhos foram muito poucos. Cenário parecido se encontra na Astronomia e na Física: alta na primeira década e baixa significativa com uma leve reversão nos últimos 5 anos. Nas Engenharias IV, os últimos 5 anos foram de reversão de uma tendência constante de aumento no número de mulheres. Vejamos agora o desenvolvimento dos números de concluintes mulheres no mesmo período.

Figura 4
Descrição da tendência do aumento/diminuição de pontos percentuais da defesa de teses e dissertações orientadas por mulheres no Brasil nas dez áreas de avaliação com menor proporção de estudantes mulheres (1991-2021)

Na Figura 5 vemos que nem todas as áreas tiveram aumento do número de trabalhos defendidos por mulheres no período. Desempenhos sólidos de diminuição de desigualdade são encontrados no Direito, nas Geociências e na Economia, áreas também destacadas na evolução das orientadoras. As Engenharias III, que têm o maior coeficiente de diminuição de desigualdade, mostram esse avanço expressivo na primeira década, mas isso se estabiliza na sequência. Esse avanço na primeira década também é visto nas Engenharias IV, mas a estabilidade da segunda década segue uma tendência de redução de desigualdade nos últimos 5 anos. A Teologia também atinge um avanço considerável - o segundo maior do Grupo Desigual em termos proporcionais - na primeira década, e depois apresenta uma tendência de queda, que só se recupera no fim do período. A Astronomia e a Física mostram estabilidade em todo o período. Os quadros de perda acentuada são o da Matemática/Estatística e o da Ciência da Computação. Essas áreas apresentam um aumento no número de mulheres na primeira década, seguido de uma queda muito forte na segunda e uma recuperação apenas nos últimos 5 anos, que não foi suficiente para tirar essas áreas dos piores índices de aumento de desigualdade. A Filosofia, por sua vez, apresenta tendência de queda na primeira década, de estabilidade na segunda e, ao contrário da Matemática/Estatística e da Ciência da Computação, não apresenta tendência de recuperação nos últimos 5 anos. Assim, mesmo que essas duas últimas áreas tenham coeficiente maior de aumento de desigualdade, a Filosofia apresenta em todo o cenário a tendência mais constante e evidente de aumento de desigualdade de gênero entre os concluintes da pós-graduação dentro do Grupo Desigual.

Figura 5
Descrição da tendência do aumento/diminuição de pontos percentuais da defesa de teses e dissertações defendidas por mulheres no Brasil nas dez áreas de avaliação com menor proporção de estudantes mulheres (1991-2021)

A desigualdade de gênero na Filosofia não é um caso singular do Brasil. Nos Estados Unidos, os dados indicam que as mulheres têm 21% de presença na área e há evidências de que, desde a década de 1990, não há redução nesse índice de desigualdade entre os docentes, conforme Alcoff (2011, p. 8) e Schwitzgebel e Jennings (2017, p. 13), embora mudanças tenham sido identificadas entre estudantes de graduação a partir de 2017 (Schwitzgebel, 2023). Além disso, homens estão mais bem representados que as mulheres nas posições mais elevadas da hierarquia acadêmica (Conklin et al., 2020). No Reino Unido, Beebee (n.d.) mostra que mulheres são 48% dos discentes de graduação, 37% dos mestrandos, 33% dos doutorandos, 32% dos palestrantes permanentes, e 25% dos professores dos departamentos de Filosofia. Além disso, a autora afirma que houve uma variação muito pequena no índice dessas desigualdades entre a década de 2011-2021. Atualmente, na Austrália as mulheres são 27% das posições permanentes em Filosofia (Goddard, 2008, p. 4). Segundo Canadian Philosophical Association (2018, p. 2), no Canadá, elas são 30% dos professores e não há mudança nos últimos 15 anos. No Brasil, as mulheres são, em média, 36,44% dos graduandos, 30,6% dos mestrandos, 26,98% dos doutorandos e apenas 20,14% dos docentes de pós-graduação (Araújo, 2019). A graduação é buscada majoritariamente por homens e as mulheres são a maioria dos que abandonam o curso antes de sua conclusão (Wilke, 2020, pp. 246-247). Gostaríamos de agora apresentar mais informações sobre esse quadro de desigualdade, as quais podem ser extraídas da base de dados de Teses e Dissertações.

Como mostra a Figura 6, há, na Filosofia, uma tendência muito estável, ao longo do período, de homens orientando homens em um padrão em torno dos 57,68% dos trabalhos concluídos. Há também estabilidade ao longo do tempo do pequeno número de mulheres orientadas por mulheres, quase um décimo do número anterior (6,71% em média, inferior, por exemplo, ao de áreas como a Ciência da Computação e a Matemática/Estatística). Homens orientaram mulheres em 22,54% dos trabalhos concluídos, mas há uma trajetória de declínio nesse grupo: de 29,41% dos trabalhos em 1991 para 20% em 2021. Por outro lado, há uma tendência significativa de alta no número de trabalhos de homens orientados por mulheres, que passa de 4,41% em 1991 para 14,6% em 2021. A tendência de queda no número de trabalhos escritos por mulheres na área da Filosofia, indicada na Figura 2, é concomitante a uma diminuição da orientação de mulheres por homens e ao aumento da orientação de homens por mulheres.

Figura 6
Descrição da evolução da defesa de teses e dissertações em Filosofia com base na relação de gênero entre professor/estudante (1991-2021)

Vejamos agora como essa tendência ocorre nos 15 programas mais produtivos na área da Filosofia.

Constata-se, primeiramente, na Tabela 4, o quanto esses programas são desigualmente distribuídos pelo país, com forte concentração nas regiões Sudeste e Sul. Nota-se também o impacto do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) na área, responsável por quase 10% dos trabalhos produzidos no período. Com esse destaque, não é de se estranhar que o cenário de desigualdade de gênero da USP corresponda ao perfil geral da área. Também semelhante ao perfil geral é a situação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a segunda mais produtiva na área: quase 80% das orientações são feitas por homens, 55% dos trabalhos são de homens orientados por homens e as mulheres orientam o dobro de homens do que de mulheres, resultando em uma média de 30% de concluintes do gênero feminino. Com números um pouco melhores estão a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), que têm cerca de 72% de trabalhos orientados por homens e cerca de 24% de trabalhos em que homens orientaram. A primeira tem proporção maior de orientadoras (28,36%), a segunda com a maior proporção de alunas pós-graduadas de todo esse grupo (38,83%).

Tabela 4
Descrição do gênero de orientadores e estudantes de teses e dissertações defendidas em Filosofia de acordo com as instituições de ensino superior (IES) (1991-2021)

Se, por um lado, o perfil médio geral da área é identificado na USP e na UFRJ, por outro, constata-se um outro grupo com perfil de desigualdade ainda mais forte: a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) apresentam de 85% a 86% das orientações feitas por homens, com 60% a 65% de trabalhos de autoria masculina com orientação masculina. Nesse grupo, as mulheres sempre orientam mais homens do que mulheres, mas, enquanto essa diferença é de cerca de 50% na UFSC, UFRGS e UFSM, ela é de mais que o triplo na Unicamp e na UFPR. Esse perfil de desigualdade mais forte distingue-se, ademais, de um terceiro grupo, caracterizado pela desigualdade extrema encontrada na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que não teve nenhum trabalho orientado por mulheres em todo o período e em que apenas 20% dos trabalhos foram concluídos por mulheres. Incluem-se aí também a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que apresentam versões ligeiramente mais leves desse caso extremo: a primeira com 91,3% de orientações feitas por homens, 20,29% dos trabalhos sendo de mulheres orientadas por homens e 22% de concluintes mulheres; a segunda com 5,57% dos trabalhos com orientação feminina e 26,5% de mulheres pós-graduadas, sendo as orientações de mulheres por homens 25,39% do total.

O perfil menos desigual, no qual a orientação por mulheres passa de 30%, é detectado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com 62,37%. Ali, porém, homens orientaram apenas 13,75% de mulheres. Já a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) possui 68,77% de orientadores homens, com quase 23% de orientandas mulheres. Entre os mais produtivos, o programa menos desigual quanto ao gênero de orientadores no período é o da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com 44,3% dos trabalhos com orientadoras e 39,12% dos trabalhos sendo de homens orientados por homens. Ainda assim, a UERJ fica aquém da PUC-Rio em números de mulheres concluintes.

Conclusão

A análise do banco de dados de Teses e Dissertações da Capes entre 1991 e 2021 mostrou que as mulheres passaram a ser maioria entre os concluintes na pós-graduação stricto sensu no Brasil, embora mantenham-se como minoria entre os orientadores de trabalhos. Verificou-se, também, que há uma tendência muito marcada de mulheres orientarem mais mulheres do que homens. Chamamos de padrão MQOM quando mulheres orientam pelo menos 50% a mais de trabalhos de mulheres do que de homens. Ele está presente em sete das nove Grandes Áreas, as mesmas em que há maioria de autoras mulheres, indicando concomitância entre os dois índices.

As Ciências Humanas são a Grande Área em que há maior número de teses e dissertações defendidas, com maioria de mulheres tanto entre orientadores quanto entre autores. Suas áreas, porém, têm perfil muito distinto, com maior desigualdade de gênero nas áreas de Ciência Política/RI, Teologia e Filosofia. Em todas elas, MQOM está ausente, mas a Teologia difere da Ciência Política/RI por, além disso, apresentar um padrão HQOH, ou seja, homens que orientaram 50% a mais de homens do que mulheres. A Filosofia difere de ambas por apresentar ausência de MQOM e presença de HQOH e de MQOH, sendo este último um padrão em que mulheres orientam mais de 50% de homens do que de mulheres.

Analisamos também o grupo das dez áreas mais desiguais, entre as quais há cinco áreas STEM (Engenharias IV, Engenharia III, Ciências da Computação, Astronomia/Física, Matemática/Estatística), às quais se adicionam as Geociências, que pertencem à Grande Área de Ciências Exatas e da Terra. Há duas Ciências Sociais Aplicadas, a Economia e o Direito, e duas Ciências Humanas, a Filosofia e a Teologia. Em todas elas está ausente o padrão MQOM. Dentre essas, há um grupo em que mulheres orientam mais mulheres do que homens, constituído pelo Direito e pela Teologia. Esta última difere do Direito, porque nela se verifica HQOH. As Geociências formam um grupo por si só, em que mulheres orientam equitativamente mulheres e homens, mas verifica-se HQOH. O terceiro grupo, formado pela Economia e pelas Engenharias III, apresenta HQOH concomitante a uma situação em que mulheres orientam mais homens que mulheres. Finalmente, o maior grupo é o que associa HQOH com MQOH, no qual se encontram as Engenharias IV, a Ciência da Computação, a Astronomia/Física, a Matemática/Estatística e a Filosofia. É relevante o fato de que, em todos os casos analisados, não ocorre maioria feminina entre os concluintes de curso sem que ocorra MQOM, associado ao fato de que acontece maioria masculina de concluintes sem que HQOH seja o caso.

Na Filosofia, as mulheres são 29,24% dos autores de Teses e Dissertações em Filosofia no Brasil entre 1991 e 2021, e 19,77% dos orientadores desses trabalhos. Os homens orientaram 2,56 vezes mais homens do que mulheres e as mulheres orientaram 1,95 vez mais homens do que mulheres. Verifica-se na área um aumento de 40,36% no número de trabalhos orientados por mulheres, tendência ocorrida entre 1991 e 1995 e após 2015, com um período intermediário de leve baixa. Por outro lado, houve tendência de queda no número de mulheres concluintes da pós-graduação, com índice de menos de 31,7% e sem evidências de recuperação nos últimos 5 anos, como ocorre com as áreas da Ciência da Computação e da Matemática/Estatística. A análise das 15 IES de maior produtividade em Filosofia mostra que em um terço delas os homens chegam a orientar o triplo de homens que mulheres. Dessas, apenas três instituições têm mulheres com orientações mais paritárias entre homens e mulheres, ainda assim com predominância dos primeiros.

Este estudo apresenta algumas limitações dignas de consideração. Embora o Catálogo de Teses e Dissertações possa ser equiparado a um “censo” da pós-graduação brasileira, a unidade de análise restringe-se a trabalhos de tese e dissertação concluídos. Como resultado, a produtividade individual de cada orientador pode exercer influência sobre o número final descrito, ou seja, a proporção de trabalhos orientados ou autorados por homens e mulheres não reflete na proporção de homens e mulheres no corpo docente ou discente dos programas de pós-graduação. Adicionalmente, é válido ressaltar que o Catálogo não oferece dados relativos a abandonos na pós-graduação. Essas duas limitações podem ser analisadas a partir de outros bancos de dados do Portal da Capes. Por fim, é importante ter em mente que este estudo é de natureza transversal, o que impede a identificação de mecanismos causais subjacentes à desigualdade de gênero em determinadas áreas da pós-graduação, bem como a compreensão das dinâmicas da relação de orientação entre professor-estudante ao longo do tempo. Tais questões requerem outros tipos de estudos para serem abordadas.

  • 1
    A base de dados da Plataforma Sucupira está disponível em https://sucupira.capes.gov.br/.
  • 2
    A Plataforma Lattes está disponível em https://www.lattes.cnpq.br/.
  • 3
    As informações sobre os Bolsistas de Produtividade CNPq estão disponíveis em http://plsql1.cnpq.br/divulg/RESULTADO_PQ_102003.curso.
  • 4
    A Plataforma de Dados Abertos está disponível em https://dadosabertos.capes.gov.br/.
  • 5
    A base sobre docentes está disponível em https://dadosabertos.capes.gov.br/organization/diretoria-de-avaliacao? organization=diretoria-de-avaliacao&groups=docentes-da-pos-graduacao-stricto-sensu-no-brasil; a base sobre discentes está disponível em https://dadosabertos.capes.gov.br/organization/diretoria-de-avaliacao?organization=diretoria-de-avaliacao&groups=discentes-da-pos-graduacao-stricto-sensu-do-brasil.
  • 6
    O Catálogo de Teses e Dissertações está disponível em https://dadosabertos.capes.gov.br/organization/diretoria-de-avaliacao?organization=diretoria-de-avaliacao&groups=catalogo-de-teses-e-dissertacoes-brasil. Para comparações entre as bases de Docentes e Discentes e os Bolsistas de Produtividade do CNPq, cf. Freitas (2013), Tavares e Parente (2015), Venturini (2017) e Naidek et al. (2020).
  • 7
    A variável gênero é utilizada aqui como proxy de identidade de gênero, uma vez que sua rotulagem é realizada através do primeiro nome de cada indivíduo. Nomes próprios são importantes marcadores culturais não só de identificação pessoal, mas também de sexo e gênero (Pilcher, 2017; Watzlawik et al., 2016). Contudo, para deixarmos evidente a construção social dessas categorias, optamos pelo último termo. Além disso, dada a limitação do questionário do Censo Brasileiro de 2010, a variável restringiu-se à categorização binária de homem ou mulher.
  • 8
    Para o conceito de gênero, cf. Lauretis (1982, pp. 171-172), Butler (1990) e Almeida (2020).
  • 9
    Além de Meireles (2021), outros pacotes de dados foram utilizados, como Iannone et al. (2023) e Wickham et al. (2019).
  • 10
    Silva et al. (2022, pp. 7 e 14) indicam que, em 2019, na graduação as mulheres são 4,8% dos discentes de Engenharia Mecânica, 6% de Engenharia Eletrônica, 7,6% de Engenharia Elétrica, 21,6% de Engenharia Civil, 39,1% na Engenharia Química, 42,3% na Engenharia Ambiental, 49,4% na Engenharia Biomédica, 54,6% na Engenharia Bioquímica, 55,3% na Engenharia de Saúde e Segurança e 71% na Engenharia de Alimentos e que, na pós-graduação, as mulheres são 20% dos docentes.
  • 11
    Tuesta et al. (2019, p. 43) comparam, a partir da Plataforma Lattes, diferenças de gênero na Grande Área de Ciências Exatas e da Terra: a Física tem a maior desigualdade (20,67% são mulheres) e a Química a menor (48,57% de mulheres). Naidek et al. (2020, pp. 2 e 4-5) mostram que, na Química, as mulheres são 56% dos bolsistas de iniciação científica, 52% dos discentes da pós-graduação, 33% dos que receberam o Prêmio Capes de Tese, 36% dos docentes de pós-graduação e que há efeito tesoura nas bolsas de produtividade do CNPq.
  • 12
    Cruz et al. (2022, p. 462) analisaram o Catálogo de Teses e Dissertações para as Ciências Sociais Aplicadas de 2010 a 2019 e identificaram 48,66% de concluintes mulheres, com menor desigualdade na Administração, nas Ciências Contábeis e no Turismo. Bernd et al. (2017, pp. 417-421) mostram, com dados da Plataforma Sucupira de 2016, que, na Contabilidade, há 36% de mulheres ingressantes na graduação, 44% no mestrado e 42% no doutorado.
  • 13
    Estrela (2020) extraiu dados das plataformas Sucupira e Lattes entre 2013 e 2017 sobre Ciências Agrárias e concluiu que 26,3% dos docentes de doutorado eram mulheres.
  • 14
    Há uma anomalia nos dados dos dez primeiros anos da Grande Área Multidisciplinar devido a alterações nas áreas que a constituem. Ela foi desconsiderada.
  • 15
    A sigla “MQOM” significa “mulheres que orientam mulheres”.
  • 16
    A sigla “HQOH” significa “homens que orientam homens”.
  • 17
    Na Ciência Política/RI, Candido et al. (2019) usaram dados da Plataforma Sucupira de 2017, indicando que 33% dos docentes de pós-graduação eram mulheres, em comparação com 47% na Sociologia e 52% na Antropologia. Candido et al. (2021) mostraram que os homens são 70% dos autores nas publicações da área, inclusive sobre temas feministas (59%).
  • 18
    Sobre a Teologia, Furlin (2016) concluiu, com dados de 2008, que as mulheres eram 26,3% dos docentes de instituições confessionais e 15,3% de instituições católicas. Furlin (2021) indicou que as mulheres orientaram 30,2% das teses e dissertações em Teologia na PUC-Rio até 2013.
  • 19
    Embora a área de Materiais devesse integrar o Grupo Desigual, ela foi criada só em 2007 e não oferece parâmetros comparáveis às demais áreas, por isso não foi incluída no grupo de análise.
  • 20
    Para uma revisão da literatura sobre gênero e STEM, cf. Oliveira et al. (2019).
  • 21
    Freitas (2013) analisou as Engenharias de Produção, Mecânica, Elétrica, Química e Civil com base em dados de 2009 dos bolsistas de produtividade do CNPq e dos Docentes da Pós-Graduação da Capes, e concluiu que, entre essas, a Engenharia Elétrica tem maior desigualdade nos critérios de composição do corpo docente (10%) e distribuição de bolsas de pesquisa do CNPq (3%).
  • 22
    Na área de Engenharia Aeroespacial, Moreira e Velho (2010) indicam que, em 2008, as mulheres eram 19% dos pesquisadores, 27% dos concluintes da pós-graduação e que houve um aumento de quase 28 vezes no número de estudantes mulheres entre 1970 e 2007.
  • 23
    Monard e Fortes (2013, p. 10) mostram o decréscimo de concluintes mulheres na graduação de Ciência da Computação (de 47% em 2001 para 21% em 2011).
  • 24
    Agrello e Garg (2009, p. 1305) descrevem que as mulheres eram entre 5% e 25% das matrículas na pós-graduação em Física em 2005.
  • 25
    Brech (2018, pp. 2-3) aponta que, em 2014, na graduação em Matemática, o percentual de concluintes mulheres (48%) era superior ao percentual de ingressantes (42%) e que o corpo docente se mantinha estável em torno de 40%. Já na pós- -graduação, havia estagnação nos números de mulheres entre 1998 e 2014: 27% no mestrado, 24% no doutorado e 22% de professores da pós-graduação. Araujo (2018, p. 32) aponta que, dos 50 membros do mais importante centro de pesquisas matemáticas brasileiro, apenas um é mulher.
  • 26
    Marques (2019, pp. 57-58) indica que, de 2009 a 2018, as mulheres eram 18,1% dos bolsistas de produtividade do CNPq na área de Geociências.
  • 27
    Bernd et al. (2017, p. 424) indicam números de 2016 sobre as Ciências Contábeis: 44% de ingressantes mulheres no mestrado, 42% no doutorado. Rocha et al. (2021, pp. 824 e 832) indicam que, na Economia, em 2018, em cursos piores qualificados as mulheres são 43,2% na graduação, 42,2% no mestrado, 40% no doutorado e 37,9% dos professores titulares; já nos de melhor qualificação, são 33% na graduação, 23,3% no mestrado, 36,5% no doutorado e 16,3% dos professores titulares.
  • 28
    Bonelli et al. (2019, p. 664) indicam que, em 2015, 60% dos docentes de graduação em direito eram homens e 54% dos discentes eram mulheres.
  • Como citar este artigo
    Araújo, C., Fanton, M., Moreira-Zau, F. de S., Mota, H. R., Silva, M. S. da, & Canuto, R. (2025). Mulheres que orientam mulheres: A filosofia em perspectiva comparada. Cadernos de Pesquisa, 55, Artigo e10852. https://doi.org/10.1590/1980531410852

Disponibilidade de dados

O código utilizado para a limpeza e a análise dos dados e para elaboração das figuras e tabelas deste artigo estão disponíveis em https://github.com/marcosfanton/genero_filosofia

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Maio 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    12 Jan 2024
  • Aceito
    05 Fev 2025
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