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Conversando sobre sexualidade na família: olhares de meninas de grupos populares

Talking about sexuality in the family: views of girls in lower class groups

Conversando sobre sexualidad en la familia: miradas de niñas de grupos populares

Resumos

Este estudo objetivou conhecer o entendimento de adolescentes de grupos populares sobre a possibilidade de conversar a respeito de sexualidade na família. Realizaram-se grupos focais com meninas de duas escolas de ensino fundamental de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. Os resultados, após análise de conteúdo, apontam que a sexualidade é pouco tratada na família, pois os pais têm dificuldades para tanto, lançando mão de estratégias para se desvencilharem do assunto. Perante o silêncio dos pais, as adolescentes buscam outras fontes de informação e diálogo, sendo a principal delas os amigos. Apesar da complexidade do tema, as adolescentes demonstram desejo de saber sobre o assunto. Destaca-se a importância de programas de intervenção que visem trabalhar com pais a possibilidade de abertura para o diálogo sobre o tema.

adolescentes; família; sexualidade


This study investigated how adolescents in lower class groups view the possibility of talking about sexuality in the family. Focus groups were held with girls from two elementary schools in a city in the inland of the state of Rio Grande do Sul, Brazil. After a content analysis results indicated that sexuality is hardly treated in the family because parents find it difficult to discuss it; they resort to strategies to evade the subject. Given their parents' silence, the adolescents seek other sources of information and dialogue, mainly their friends. Despite the complexity of the subject, adolescents demonstrate a desire to learn about it. This study highlights the relevance of intervention programs that aim to work with parents on the possibility of establishing a dialogue about the subject.

adolescents; family; sexuality


Este estudio tuvo el propósito de conocer el entendimiento de adolescentes de grupos populares sobre la posibilidad de conversar sobre sexualidad en la familia. Se llevaron a cabo grupos focales con niñas de dos escuelas de educación fundamental de una ciudad del interior de Rio Grande do Sul. Los resultados, después de analizar el contenido, señalan que la sexualidad es poco tratada en la familia, ya que los padres tienen dificultades para ello, utilizando estrategias para escapar del tema. Frente al silencio de los padres, las adolescentes buscan otras fuentes de información y diálogo, siendo la principal de ellas los amigos. A pesar de la complejidad del tema, las adolescentes demuestran su deseo de saber más sobre el mismo. Se destaca la importancia de programas de intervención con miras a trabajar con los padres la posibilidad de apertura para el diálogo sobre el tema.

adolescentes; familia; sexualidad


OUTROS TEMAS

Conversando sobre sexualidade na família: olhares de meninas de grupos populares

Talking about sexuality in the family: views of girls in lower class groups

Conversando sobre sexualidad en la familia: miradas de niñas de grupos populares

Sabrina Dal Ongaro SavegnagoI; Dorian Mônica ArpiniII

IMestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM (RS) binasavegnago@yahoo.com.br

IIProfessora associada do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM – e docente e preceptora da Residência Multiprofissional Integrada em Sistema Público de Saúde da UFSM (RS) monica.arpini@gmail.com

RESUMO

Este estudo objetivou conhecer o entendimento de adolescentes de grupos populares sobre a possibilidade de conversar a respeito de sexualidade na família. Realizaram-se grupos focais com meninas de duas escolas de ensino fundamental de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. Os resultados, após análise de conteúdo, apontam que a sexualidade é pouco tratada na família, pois os pais têm dificuldades para tanto, lançando mão de estratégias para se desvencilharem do assunto. Perante o silêncio dos pais, as adolescentes buscam outras fontes de informação e diálogo, sendo a principal delas os amigos. Apesar da complexidade do tema, as adolescentes demonstram desejo de saber sobre o assunto. Destaca-se a importância de programas de intervenção que visem trabalhar com pais a possibilidade de abertura para o diálogo sobre o tema.

Palavras-chave: adolescentes; família; sexualidade

ABSTRACT

This study investigated how adolescents in lower class groups view the possibility of talking about sexuality in the family. Focus groups were held with girls from two elementary schools in a city in the inland of the state of Rio Grande do Sul, Brazil. After a content analysis results indicated that sexuality is hardly treated in the family because parents find it difficult to discuss it; they resort to strategies to evade the subject. Given their parents' silence, the adolescents seek other sources of information and dialogue, mainly their friends. Despite the complexity of the subject, adolescents demonstrate a desire to learn about it. This study highlights the relevance of intervention programs that aim to work with parents on the possibility of establishing a dialogue about the subject.

Keywords: adolescents; family; sexuality

RESUMEN

Este estudio tuvo el propósito de conocer el entendimiento de adolescentes de grupos populares sobre la posibilidad de conversar sobre sexualidad en la familia. Se llevaron a cabo grupos focales con niñas de dos escuelas de educación fundamental de una ciudad del interior de Rio Grande do Sul. Los resultados, después de analizar el contenido, señalan que la sexualidad es poco tratada en la familia, ya que los padres tienen dificultades para ello, utilizando estrategias para escapar del tema. Frente al silencio de los padres, las adolescentes buscan otras fuentes de información y diálogo, siendo la principal de ellas los amigos. A pesar de la complejidad del tema, las adolescentes demuestran su deseo de saber más sobre el mismo. Se destaca la importancia de programas de intervención con miras a trabajar con los padres la posibilidad de apertura para el diálogo sobre el tema.

Palabras clave: adolescentes; familia; sexualidad

ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE

A adolescência é um período de mudanças profundas e bruscas, as quais são acionadas por uma interação de fatores biológicos, psíquicos, sociais e culturais Em um curto espaço de tempo, o adolescente se percebe diante de novas relações consigo mesmo, com seus familiares, com o ambiente no qual está inserido e com outros adolescentes (TAKIUTI, 1997). Uma das transformações mais significativas dessa fase é o desenvolvimento da maturidade genital e a possibilidade do exercício da sexualidade genital (RAPPAPORT, 1993). Para a psicanálise, a adolescência constitui a etapa final da fase genital, quarta fase de desenvolvimento psicossexual, a qual foi precedida pelo período de latência (BLOS, 1998).

O aparecimento de caracteres sexuais secundários coloca o adolescente diante da evidência de seu novo status e da perda do corpo infantil. O surgimento da menstruação na menina e do sêmen no menino, duas funções fisiológicas que amadurecem nesse período, sinalizam a presença da genitalidade, que lhes impõe o papel que deverão adotar na união com o parceiro e na procriação (ABERASTURY, 2007; KNOBEL, 2007).

O adolescente realizará modificações subjetivas para dar conta das transformações que levam à maturidade genital e ao exercício da sexualidade genital, e para lidar com as mudanças na relação com o Outro delas decorrentes (RAPPAPORT, 1993). Cabe a ele ajustar-se às novas condições interiores e exteriores que lhe são impostas (BLOS, 1998).

No momento em que o adolescente aceita a sua genitalidade, ele começa a procura por um parceiro, talvez de forma tímida, mas intensamente. Nessa fase do desenvolvimento, como observa Knobel (2007), há uma oscilação entre a atividade masturbatória e os primeiros contatos genitais, que vão ficando cada vez mais profundos e mais íntimos, mas ainda têm um caráter mais exploratório e preparatório.

É nessa etapa da organização da sexualidade humana, segundo Freud (1972), que surge a possibilidade de reprodução, do encontro com o outro sexo, e esse processo de escolha objetal, que se inicia então, acontecerá, de alguma forma, seguindo os vestígios deixados pelas relações iniciais da infância.

Blos (1998) assinala que a primeira infância e a puberdade são dois períodos cruciais no desenvolvimento da sexualidade, ambos apoiados em funções fisiológicas, a saber, a lactância na primeira infância e a maturação genital na puberdade. Ele se refere a um "desenvolvimento sexual bifásico" (BLOS, 1998, p. 19) do indivíduo, já que o avanço rumo à afirmação genital na adolescência é a continuidade de um desenvolvimento que foi temporariamente detido durante a latência.

Assim, tendo em vista que a sexualidade é uma parte significativa da vivência dos adolescentes, uma vez que nesse momento ocorre um "redespertar" da sexualidade, é de fundamental importância que o tema seja abordado no contexto familiar.

ADOLESCÊNCIA, FAMÍLIA E SEXUALIDADE

As modificações psicológicas que acontecem nessa época, as quais estão diretamente associadas às transformações corporais, geram uma nova relação do adolescente com os pais e com o mundo (ABERASTURY, 2007). Como refere a autora, a adolescência é um período doloroso e confuso, marcado por muitas contradições, ambivalências e por atritos com a família e o meio social. Tal situação muitas vezes é confundida com crises e estados patológicos. Quando o adolescente começa a demonstrar interesse sexual, é comum que os familiares se sintam confusos e assustados (PRETO, 1995).

Para Aberastury (2007), o mundo dos adultos pode ser visto pelo adolescente como desejado e, ao mesmo tempo, temido. Ao entrar nesse mundo, ele perde definitivamente sua condição de criança. A adolescência é um período crucial na vida do ser humano, um momento decisivo do processo de amadurecimento que se iniciou no nascimento. Para se desprender do mundo infantil e enfrentar o mundo adulto o adolescente deve elaborar três lutos fundamentais, segundo a autora: "o luto pelo corpo de criança, pela identidade infantil e pela relação com os pais da infância" (ABERASTURY, 2007, p. 13). Ela lembra que os pais podem se sentir rejeitados diante do surgimento e da expressão da genitalidade no adolescente, e ter dificuldade para aceitar o amadurecimento deste.

Existe uma preocupação dos pais com os filhos perante os problemas da sociedade atual, mas eles não se sentem preparados para debater e conversar a respeito de questões relacionadas à sexualidade por considerá-las delicadas – o que os distancia dos filhos adolescentes. Muitos acreditam que os professores estão mais preparados do que eles para trabalhar o tema da sexualidade com os adolescentes, e por isso delegam à escola essa tarefa (CANO; FERRIANI, 2000, VALDÉS, 2005; BARBOSA; COSTA; VIEIRA, 2008).

Borges, Latorre e Schor (2007) realizaram um estudo com 383 adolescentes, que teve como objetivo analisar os aspectos individuais e familiares relacionados ao início da vida sexual. Eles verificaram que há uma baixa proporção de adolescentes que afirmam ter espaço para conversar com os pais sobre assuntos relativos a sexo e que existe maior abertura com a mãe do que com o pai. Um estudo anterior, realizado por Bozon e Heilborn (2006), também constatou que a comunicação familiar referente a sexualidade e reprodução é feita principalmente pelas mães, as quais transmitem para os filhos e filhas as primeiras informações sobre gravidez e contracepção. Segundo Brandão (2004), os pais têm pouca habilidade para o diálogo, muitos são distantes do dia a dia dos filhos, ou não são disponíveis para negociações familiares, o que dificulta a comunicação voltada para o tema da sexualidade.

Segundo pesquisa realizada por Duque-Arrazola (1997) com adolescentes de grupos populares, estes afirmam não falar sobre sexo com os familiares, mas sim com os amigos. Da mesma forma, Borges, Nichiata e Schor (2006) constataram em seus estudos que as pessoas com quem os adolescentes conversam sobre sexo com mais frequência são os amigos.

Bozon e Heilborn (2006) verificaram em sua pesquisa que quanto mais elevado o nível social dos jovens, mais aparece a busca da família como fonte de informação no que diz respeito à vida sexual e reprodutiva. Os autores também constataram que as jovens de grupos populares buscavam mais informações junto às amigas e, em segundo lugar, junto à mãe e à escola (BOZON; HEILBORN, 2006).

Segundo Aquino et al. (2006), num estudo que fez parte de uma pesquisa que abrangeu 4.634 participantes de 18 a 24 anos, com o objetivo de investigar os comportamentos sexuais e reprodutivos de jovens brasileiros, os índices de gravidez na adolescência entre as mulheres que afirmaram ter sido providas de informações pelos pais ou pela escola foram mais baixos do que entre aquelas que não receberam estas informações. De acordo com os autores, "o modo como são veiculadas as primeiras informações sobre sexo, gravidez e contracepção situa os indivíduos em diferentes perfis de socialização, com consequências para suas trajetórias reprodutivas" (AQUINO et al., 2006, p. 322).

Brandão (2004) observa que as conversas sobre sexualidade na família mostram-se ainda pouco explícitas. "Tomam formas indiretas, pouco palpáveis, permeadas de reticências, advertências, reprimendas" (p. 80). Raramente as famílias conseguem tratar deste assunto com os filhos de forma direta, direcionada para as vivências desses indivíduos. Em geral, os assuntos são abordados indiretamente. Por exemplo, fala-se de maneira genérica da sexualidade, dos métodos anticoncepcionais, da AIDS, como se esses elementos não estivessem próximos das experiências dos filhos. Muitas vezes essas conversas são apoiadas em fatores externos, como na experiência de outras pessoas, em reportagens, filmes, entre outros. Ou seja, a experiência do adolescente não é levada em consideração. Ainda assim, segundo a autora, é comum os pais afirmarem que, apesar das dificuldades, eles conversam com seus filhos muito mais do que, quando adolescentes, conversavam com seus próprios pais.

Segundo Takiuti (1997), os adolescentes necessitam dialogar, conversar, ouvir e expor suas dúvidas, opiniões, críticas e ideias num ambiente marcado por compreensão, afeto e respeito. Tendo em vista que essa é uma fase de muitas dúvidas, essas devem ser ouvidas, debatidas e elucidadas com liberdade e sem preconceitos. Caso contrário, poderão gerar ansiedades, angústias e frustrações, colaborando, dessa forma, para que a população adolescente se torne um dos grupos mais vulneráveis aos riscos atuais (TAKIUTI, 1997). Corroborando essas ideias, Brandão (2004) propõe que um tipo de relacionamento familiar ideal seria aquele baseado nas premissas do diálogo, na negociação e argumentação. Para o autor, não é mais possível educar os filhos atualmente sem levar em consideração o tema da sexualidade.

Diante disso, é de fundamental importância que se aborde o tema da sexualidade com os adolescentes na família. Porém, é preocupante a dificuldade dos pais em fazer isso de maneira segura. Dessa forma, é válido refletir sobre quais fatores estariam influenciando na criação de obstáculos para esse diálogo (CANO; FERRIANI, 2000). Neste sentido, este estudo consistiu em uma pesquisa qualitativa, buscando compreender em profundidade a relação entre conversas sobre sexualidade e família, do ponto de vista de adolescentes de grupos populares.

MÉTODO

DELINEAMENTO E PARTICIPANTES

Participaram da pesquisa 15 adolescentes do sexo feminino, de 13 a 16 anos, que frequentavam duas escolas de ensino fundamental (instituições A e B), localizadas em uma região periférica de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. A instituição A é não governamental e filantrópica e oferece um projeto de Apoio Socioeducativo em Meio Aberto, por meio de oficinas (arte de rua, dança, coral, informática, escolinha de futebol, capoeira e teatro) no turno inverso à escola a cerca de 150 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade da região. A instituição B é governamental e funciona na modalidade de escola aberta, atendendo alunos de 10 a 18 anos. As principais fontes de encaminhamento dos alunos são os conselhos tutelares, as instituições de acolhimento, o Centro de Atendimento Socioeducativo , além de outras escolas. A escola funciona no sistema de etapas, sendo que cada etapa corresponde a duas séries, totalizando assim quatro etapas. A escola atende uma média de 18 a 20 alunos por dia, visto que há uma grande rotatividade. As aulas acontecem pela manhã, e à tarde ocorrem oficinas pedagógicas: padaria, papel reciclado, matemática na cozinha, teatro, cabeleireiro e informática.

É importante destacar a diferença no discurso das adolescentes das duas instituições. As instituições A e B estão localizadas na mesma região geográfica, porém a realidade das meninas é diferente. As meninas que frequentavam a instituição A relataram suas experiências afetivas mais no sentido de namoros, "ficadas" e paqueras e demonstraram muita curiosidade em relação ao tema da sexualidade. Já as meninas da instituição B mostraram ter mais vivências sexuais. Com exceção de uma, todas relataram espontaneamente suas experiências sexuais, principalmente no que se refere à perda da virgindade. Duas dessas meninas moravam com o companheiro, uma delas já havia morado com o ex-namorado e outra relatou uma gravidez aos 13 anos, mas, segundo ela, ocorreu um aborto espontâneo.

Na tabela a seguir são apresentadas as participantes da pesquisa, com a indicação da instituição de origem, além de alguns dados sociodemográficos das mesmas.

INSTRUMENTOS

A coleta de dados foi feita a partir de três grupos focais, sendo dois realizados na instituição A e um na instituição B. Cada grupo focal contou com a participação de cinco adolescentes e teve a duração aproximada de uma hora e quinze minutos. Segundo Gaskell (2005), o objetivo do grupo focal é estimular os participantes para que exponham suas ideias e reajam ao que os outros membros do grupo falam. Trata-se de uma "unidade social mínima em operação" (GASKELL, 2005, p. 75). Dessa forma, as ideias e representações que surgem no grupo são mais influenciadas pela natureza social da interação grupal ao invés de se basearem no ponto de vista de individual, como seria numa entrevista. Além disso, num grupo, a partir da partilha de experiências, opiniões e sentimentos, produz-se um quadro de articulações que dificilmente seriam realizados por um único indivíduo. Para o autor, o grupo focal é um ambiente holístico, no qual os participantes consideram as opiniões dos outros na formação de seus pontos de vista e discutem suas próprias experiências e as alheias.

PROCEDIMENTOS E CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

Após os diretores das escolas assinarem os termos de autorização institucional, o projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Maria (processo n. 23081.005730/2011-19 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética n. 0076.0.243.000-11).

O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado pelas participantes após esclarecidos os procedimentos a serem realizados, os objetivos e a justificativa da pesquisa. Destaca-se que, embora as participantes deste estudo tenham sido meninas com idade entre 12 e 18 anos incompletos, o TCLE foi assinado pelas mesmas, considerando-se que estas poderiam compreender os objetivos e a justificativa do estudo, estando, portanto, em condições de assentir sua participação. Esta consideração encontra-se embasada nas Diretrizes Internacionais para Pesquisa Biomédica em Seres Humanos – Diretriz n. 14 (GALLAGHER, 2004). Além disso, tal diretriz aponta para alguns estudos que incluem pesquisa das crenças e do comportamento adolescente em relação à sexualidade ou referentes à violência doméstica e ao abuso. Para tais pesquisas, pode-se prescindir da autorização dos pais se, por exemplo, o conhecimento por parte deles poudesse levá-los a questionar ou intimidar o adolescente.

Cabe destacar que todos os procedimentos éticos foram devidamente respeitados, considerando que o Comitê de Ética da Instituição analisou o projeto antes de sua realização. A abordagem do tema foi realizada após a apresentação dos objetivos do estudo, os quais foram abordados de forma clara e acolhedora, num ambiente de respeito e atenção. Destaca-se, contudo, que tratar do tema da sexualidade com adolescentes é trabalhar com vivências, curiosidades e interesses presentes em seu cotidiano que, quando cuidadosamente abordados, se constituem num importante recurso para ampliar o olhar sobre o tema.

ANÁLISE DOS DADOS

Os dados foram analisados através do método de análise de conteúdo, como proposto por Bardin (1977). Esse processo ocorreu em três etapas: 1) pré-análise: consistiu na organização dos dados e na elaboração de indicadores e hipóteses que fundamentassem a interpretação final, a partir de um primeiro contato com o material; 2) exploração do material: nessa etapa os dados brutos do material passaram pela codificação (recorte, enumeração e agregação dos dados em categorias), que permitiu atingir uma representação do conteúdo; e 3) tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Os indicadores e hipóteses que surgiram na pré-análise foram: dificuldade para tratar do tema por parte da família; curiosidade e interesse por parte das adolescentes; tentativas de postergar a abordagem do tema por parte dos pais. Após estas primeiras indicações, os resultados brutos foram tratados de maneira a serem significativos e válidos. Em seguida, foram realizadas inferências e interpretações de acordo com o embasamento teórico e os objetivos propostos.

Para se chegar às categorias, os grupos foram analisados primeiro de forma individual e posteriormente em conjunto, partindo-se para os elementos presentes nos mesmos, considerando-se a força discursiva, os sentimentos manifestados, os silêncios ou conflitos em relação à temática.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O NÃO DIÁLOGO SOBRE SEXUALIDADE NA FAMÍLIA

As adolescentes destacaram que a sexualidade é um assunto pouco tratado na família e que a maioria dos pais não dá abertura para que seja discutido. A maior parte das meninas afirmou que nunca teve um diálogo aberto sobre sexualidade com seus pais, tampouco receberam informações sobre o assunto, o que pode ser visualizado nas seguintes falas:

"Como tu falou, conversa com a família, né, eu acho que comigo não tem essa conversa assim [...] Meu pai não conversa comigo também, minha mãe também não..." (K, 14 anos); "A minha mãe não fala nada pra mim pelo menos..." (B, 14 anos); "Não, nunca tive [informação sobre sexualidade em casa], porque eu nunca fui de... sabe, por mim se não existisse sexo, pra mim nem... agora que eu sei o que que é bom, o que que não é. O que que ia acontecer antes, eu nunca sabia" (J, 16 anos). "Quando eu perdi a virgindade eu não falei pra minha mãe, porque se eu contasse ela ia me mandar embora. Mas um dia ela estava lá na venda e o meu ex falou pra ela. Ele disse: 'Tá, mas ela não te contou ainda?'" (G, 15 anos). "Até os pais às vezes acham besteira às vezes quando a gente fala em conversar, que quer conversar com eles..." (T, 13 anos)

Vários estudos sinalizam para o fato de que poucos adolescentes afirmam ter abertura dos pais para conversar assuntos referentes à sexualidade (DUQUE-ARRAZOLA, 2004; BRANDÃO, 2004; BORGES; LATORRE; SHOR, 2007; BORGES; NICHIATA; SHOR, 2008). Isso leva a pensar que ainda existe um longo caminho a ser trilhado no que se refere à busca por relacionamentos mais íntimos e positivos entre pais e filhos, permeados pela troca e a confiança mútua (BORGES; NICHIATA; SHOR, 2008).

Falar sobre sexualidade vai além da simples transmissão de informações, pois demanda que os pais ultrapassem várias barreiras para alcançar uma proximidade das experiências do filho adolescente e uma sintonia com seu momento existencial. Além disso, é um desafio para os pais encontrar um equilíbrio na transmissão das mensagens sobre sexo/sexualidade aos filhos, no sentido de que estas não sejam tão restritivas, nem demasiado permissivas (DIAS; GOMES, 1999).

As meninas demonstraram ter curiosidade em relação a esse assunto e costumam realizar tentativas para que ele seja tratado na família. Porém, na perspectiva das adolescentes, nota-se que, diante destas tentativas, acontece uma "fuga" por parte dos pais com relação a esse tema, o que é evidenciado nas seguintes falas:

"A minha mãe já muda de assunto quando eu vou falar com ela" (B, 14 anos); "É tipo quando a gente quer conversar e tipo, 'ah não quero conversar sobre isso', daí... tipo eu quero conversar sobre sexualidade com a minha mãe, mas a minha mãe não fala isso comigo"; "Eles fogem..." (F, 13 anos); "Daí a gente [S e o pai] brinca bastante. Mas quando chega num certo assunto ele já me tranca: 'Deu, acabou'" (S, 13 anos). "Assim, a gente quer ver como a gente pode fazer pra conversar com eles, porque a gente tenta, eu já tentei de tudo que é maneira e não dá". (T, 13 anos)

A realidade atual dessas adolescentes é marcada pela presença da sexualidade por todos os lados. O contexto em que elas se encontram as coloca em contato cotidiano com várias experiências e estímulos ligados à sexualidade. No entanto, o que elas parecem expressar é que a conversa com os pais é em alguma medida esperada, evidenciando que, para além de todas as informações que elas possam estar recebendo de outras fontes, a família parece ser para elas essencial quando se trata desse tema.

Dessa forma, percebe-se que há dois fenômenos ocorrendo simultaneamente: de um lado, estão os pais com dificuldades para conversar abertamente sobre sexualidade com seus filhos adolescentes; e de outro, estão estas adolescentes em contato direto com uma realidade onde o tema sexo está presente de maneira cada vez mais explícita (PREDEBON, 2002). Assim, "a comunicação sobre sexualidade entre pais e filhos é marcada, enfim, por uma ambiguidade em que ambas as partes reconhecem o problema, mas evitam enfrentá-lo" (DIAS; GOMES, 1999, p. 82).

Os pais geralmente estão cientes da problemática e reconhecem a importância do diálogo aberto com seus filhos sobre sexo/sexualidade, porém manifestam grandes dificuldades para abordar esta temática com os filhos, pois não se sentem preparados e aptos para fazê-lo, evitando assim enfrentar o problema (DIAS; GOMES, 1999; CANO; FERRIANI, 2000; PREDEBON, 2002; BARBOSA; COSTA; VIEIRA, 2008). Além disso, aqueles pais que raramente conversam com seus filhos sobre estes assuntos afirmam não fazê-lo por vergonha, insegurança e falta de motivação (BARBOSA; COSTA; VIEIRA, 2008).

Em relação a esse aspecto, o estudo de Dias e Gomes (1999) aponta que haveria uma espécie de "confusão de línguas" entre pais e filhos, no que se refere às conversas sobre sexualidade, pois, em alguns casos, os pais supõem que os filhos estejam bem informados. Em outros, o ponto de vista e as regras dos pais em relação à sexualidade dos filhos não estão claros para estes e tampouco para os próprios pais (BRANDÃO, 2004). Existem ainda adolescentes que relatam mais dificuldade na comunicação sobre sexo/sexualidade com seus pais, do que esses pais afirmam perceber (PICK; PALOS, 1995). Esse aspecto é demonstrado por Pick e Palos (1995) a partir de um estudo realizado no México, no qual os adolescentes consideraram o nível de comunicação com seus pais sobre sexo menor do que o grau de comunicação que os pais afirmaram ter com seus filhos.

BUSCANDO ENTENDER A AUSÊNCIA DE DIÁLOGO EM FAMÍLIA ACERCA DA SEXUALIDADE

As adolescentes afirmaram que tanto elas quanto os pais sentem vergonha de conversar sobre questões referentes à sexualidade.

"[...] acho que ela [a mãe] tem vergonha de falar isso comigo" (R, 13 anos); "A gente fica com vergonha, né, são pais, sei lá..." (A, 13 anos); "Vergonha, a gente tem vergonha também, né, de chegar e falar: " 'Mãe eu quero falar sobre sexo'. Ela fica com uma cara assim: 'Ahm? O quê, minha filha?!'" (R, 13 anos); "Com a minha mãe eu tenho vergonha, saio de perto. Só escuto, saio de perto, não falo nada, eu tenho vergonha" (N, 13 anos); "Eu nunca conversei sobre sexo com a minha mãe. Eu sempre tive vergonha" (J, 16 anos). "É. É porque assim tipo dentro de casa tu fica mais constrangido... fica mais acanhado mesmo pra conversar em casa [...]. Porque ah, tu vai falar com a tua mãe, às vezes ela pode olhar de um jeito diferente... como: 'Por que que ela tá perguntando isso agora? Por que ela quer saber disso agora?'. Ela vai olhar diferente, ela vai querer saber o porquê... eu não me informaria em casa". (L, 14 anos)

Esses dados vão ao encontro do estudo realizado por Duque-Arrazola (1997), no qual os rapazes afirmaram ter vergonha de falar sobre esses assuntos com os familiares, os quais também não procuravam falar com eles, nem com as garotas. Já as meninas declararam sentir medo e vergonha de fazer perguntas sobre sexo às mães.

Durante a discussão em um dos grupos focais sobre o que faz com que os pais tenham dificuldades para falar sobre sexualidade com os filhos, uma das adolescentes afirmou: "Alguma coisa lá atrás, ele talvez não se informaram. Talvez os pais não conversavam com eles e hoje eles não conversam com a gente... ou têm vergonha..." (L, 14 anos). Assim, além da vergonha ser um dos fatores que impede que se fale sobre isso, há ainda o fato de que esses pais talvez não tenham tido esse tipo de conversa com seus próprios pais. Esse aspecto tem sido descrito na literatura como uma justificativa utilizada pelos pais para explicarem a dificuldade em terem um diálogo aberto sobre sexualidade com seus filhos (DIAS; GOMES; 1999; CANO; FERRIANI, 2000).

O estudo desenvolvido por Dias e Gomes (1999) com pais de adolescentes gestantes mostra que as recordações dos pais sobre sua própria vivência familiar durante a adolescência relacionam-se com a forma como vão conversar sobre sexualidade com seus filhos. O estudo destaca que esses pais não tiveram seus familiares disponíveis para oferecer informações e estabelecer um diálogo sobre sexualidade, tendo crescido num ambiente marcado por proibições, repressões e preconceitos. Assim, pode-se pensar que "esses pais compreendem que não devem repetir o modelo de orientação sexual recebido em suas famílias, mas o único modelo conhecido (isto é, aprendido) é o da imposição de padrões" (DIAS; GOMES, 1999, p. 91).

As adolescentes também mencionaram que levar esse assunto para dentro de casa é visto com desconfiança pelos pais, como sinal de que o sexo já esteja sendo praticado, ou que as adolescentes têm interesse imediato em fazê-lo. Os trechos a seguir mostram tal constatação:

"Elas ficam pensando que a gente já fez, sabe. Ou que quer fazer" (F, 13 anos); "Eles pensam que a gente quer fazer tal coisa..." (B, 14 anos); "O que vão pensar, né? Que já tá ali... [Risos] [...] Eles só pensam que a gente vai querer o pior. Eles já vão pensar: 'Ah, já quer...'" (K, 14 anos). "Sei lá, eles pensam que a gente vai agir errado". (A, 14 anos)

As meninas apontam, porém, que, ao contrário do que os pais (ou quem ocupa a função paterna ou materna) imaginam e temem, às vezes elas desejam no momento apenas saber, ter conhecimento sobre o assunto.

"A gente fala e eles: 'Ah, quer fazer!'. A gente quer só conhecer, sabe, ter informação pra se prevenir e alguma coisa. Não ficar sempre só no mesmo mundinho" (R, 13 anos). "Ela [avó] me explica o que deve fazer, o que pode acontecer... E daí ela me fala, e eu entendo, não é porque ela vai me falar que eu vou lá fazer. Isso cabe à gente ter consciência do que a gente vai fazer". (S, 13 anos)

Além disso, segundo as adolescentes, falar sobre o sexualidade é visto pelos pais como um incentivo à prática sexual dos filhos, o que é evidenciado nas falas de T e F, respectivamente, ambas com 13 anos:

"Os meus pais... eles têm tanto medo que aconteça alguma coisa comigo, que eu sou filha única, né, aí que... aí que eles não falam nada mesmo. É horrível isso! [...] Então assim às vezes eu acho que eles acham que se falarem isso com a gente aí a gente vai ter vontade de fazer sexo"; e "Também eles dizem: 'Não falo com ela hoje sobre isso porque senão ela vai fazer, porque vai ter aquele conhecimento'".

As meninas retratam em suas falas que os pais parecem ter dificuldades em conversar sobre o tema da sexualidade. Um dos aspectos importantes a serem levados em consideração nessas dificuldades é o fato de que para os pais as curiosidades podem remeter diretamente à prática da sexualidade e, dessa forma, o "não falar" pode ser compreendido como "não estimular", "deixar quieto". Isso poderia ser apontado como um dos fatores que contribui para que se preserve o silêncio em relação a essa temática.

É comum os pais se sentirem confusos por pensarem que os filhos podem estar aprendendo mais do que deveriam. Dessa forma, acreditam que dar esclarecimentos ao adolescente sobre sexualidade vai despertar neles ainda mais interesse por sexo (PREDEBON, 2002). Valdés (2005), nesse mesmo sentido, constatou em sua pesquisa no Chile que, em algumas famílias, falar sobre anticoncepcionais é visto pelos pais como algo perigoso, pois poderia servir como estímulo a uma sexualidade precoce ou descontrolada.

ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELOS PAIS PARA BARRAR A SEXUALIDADE

Segundo as adolescentes, muitos pais utilizam a imposição de medos e temores como estratégia para postergar a vida sexual dos filhos.

Parece que eles querem botar medo, sabe? Depois querem que tu tenha medo, pra gente não fazer as coisa... eu já ouvi fatos e coisas que a gente viu, que não adianta botar medo sabe, daí fazem pior. Tipo, a minha prima. Ele botou tanto medo nela que ela não pôde conhecer ela mesma... tem gente que... é diferente, se tu botar medo, a pessoa quer desafiar tipo não aceita. Ah, eu tenho direito de saber sobre o meu corpo! [...] Assim, pelo jeito que os pais contam as coisas, sabe, fazem um drama... dramatizam tudo... e daí tu vai pensando as coisas: Deus o livre tu beijar um guri! Não pode! (S, 13 anos)

Além disso, na perspectiva das participantes, os pais intensificam e exageram as consequências da vida sexual a fim de frear a sexualidade das adolescentes.

"Tipo, a minha prima, ela estava olhando televisão e ela viu cenas de sexo. Aí ela pediu: 'Mãe, o que é sexo?'. Aí a mãe dela disse: 'Oh, se tu fizer isso as tuas pernas vão ficar tortas e tu nunca mais vai conseguir andar!'" (S, 13 anos); "A minha mãe me contava antigamente que se tu beijava tu ia engravidar [...] Eu acho que eles [os pais] transformam uma coisa pequenininha em uma coisa grande". (R, 13 anos)

O estudo de Valdés (2005) constatou que os pais costumam utilizar-se de ameaças como mecanismos para controlar os comportamentos sexuais das filhas, o que, muitas vezes, mostra-se eficiente.

Outra estratégia dos pais para barrar o exercício da sexualidade é a narração de histórias que podem servir tanto para explicar os fatos quanto para assustar os filhos. Isso pode ser visualizado na fala da adolescente T e no trecho de um dos grupos focais:

"A minha mãe me contava: Se tu beijava, tu ia engravidar e daí se tu beijava assim, o homem tinha que comprar uma sementinha e pôr no teu umbigo pra ti ter um nenê, porque senão tu era condenada" (T, 13 anos); "S: Tipo eu tenho amigo, né. Aí a gente estava conversando... daí a gente falou sobre a cegonha... [Risos]. R: Ah! A história da cegonha ou a sementinha, que não sei o que... que enfiou a semente no umbigo, e daí tu nasceu da semente. T: Ah, a minha mãe fala isso! F: Até hoje a gente ouve essa história!". (S, R, T e F, todas com 13 anos)

Nesse sentido, F (13 anos) tenta explicar o que leva os pais a contarem "historinhas" para as adolescentes: "Eles acham que a gente não tá preparada pra saber das coisas do mundo real. Eles contam essas historinhas... pra gente não fazer as coisas..." (F, 13 anos).

Segundo as participantes, os pais alegam que elas não estão na idade, não é o momento certo e que elas não estariam prontas para saber sobre sexualidade:

"Ela [a mãe] diz que eu não tô pronta, que não sei o que, que não sei o que... aí eu acabo conversando com outras pessoas" (R, 13 anos); "Só que, tipo eles tem a mentalidade assim que nós não estamos prontas pra quase nada..." (F, 13 anos); "Ela [a mãe] acha que não é o momento pra gente conversar esses assuntos [...]. Ela acha que é cedo pra gente..." (B, 14 anos)

Dessa forma, na perspectiva das meninas, os pais tentam postergar o momento em que precisarão abrir-se de fato para conversar sobre essas questões:

"Tipo assim, eu já gostei de um guri, sabe. E quando eu cheguei e falei pra minha vó. ela disse: 'Tá, mas como tu gosta do guri?'. Eu disse: 'Ah, a gente só conversa por telefone'. Ela disse: 'Ah, tudo bem, isso na boa'. E eu: 'Tá, por que que tu tá falando isso?' E daí tipo ela: 'Esquece, sabe, espera que vai chegar a idade que a gente vai poder conversar.'" (S, 13 anos); "Não, minha filha, depois, tu é muito nova pra isso [fala da mãe de R]". (R, 13 anos)

As adolescentes sinalizam, porém, que este é o momento em que elas mais precisam desse espaço de conversação: "Eles acham que a gente não tá preparada pra saber daquilo. Mas a gente tá preparada. Tá chegando a idade, a gente tem que saber disso. A gente tá na idade de saber essas coisas" (E, 13 anos). Elas apontam ainda que, às vezes, o momento que os pais resolverem se abrir para isso poderá ser tarde demais: "Eu acho que eles só vão conversar com nós mesmo quando verem que a gente tá mais velho, com 17, 18 anos. Aí muitas vezes já é tarde, né" (K, 14 anos).

Assim, considerando as falas das adolescentes, pode-se pensar que os pais tentam determinar uma idade na qual as questões sobre sexualidade poderão ser esclarecidas. Como afirmou S (13 anos): "E ela [avó] me disse: 'Tá, quando chegar nos 13 eu converso contigo'". Dessa forma, para as meninas, os pais se utilizariam da idade, e não do interesse das adolescentes, como marcador para se falar sobre sexualidade.

Constatou-se também, segundo as adolescentes, que os pais tratam-nas como crianças e têm dificuldades de reconhecer que os corpos de suas filhas estão mudando.

"Lá em casa o pai e a mãe eles agem comigo como se eu tivesse 8 ou 10 anos, sendo que eu tenho 13. É horrível!" (T, 13 anos); "Minha mãe também, me trata como se eu fosse uma criança! Eu sou adolescente! Sabe? [...] Eles acham que a gente é criança ainda... E a gente não é." (R, 13 anos); "Eles tratam a gente como criança, só que a gente não é, eles não sabem que a gente tá... que o nosso corpo tá mudando..." (S, 13 anos)

Em concordância com esse aspecto, Jones (2010) relata um caso no qual os pais não falavam sobre sexualidade com a filha adolescente por considerá-la ainda uma criança e que, por isso, supunham que ela não teria relações sexuais. Fica claro nesta atitude dos pais o desejo de que a filha não crescesse, pois crescer implicaria no início de sua vida sexual (JONES, 2010). O estudo realizado por Valdés (2005) evidencia que o pai evita falar sobre sexualidade com a filha pelo fato de ser difícil para ele reconhecer que sua filha é um indivíduo sexuado. Jones (2010), nesse mesmo sentido, afirma, a partir de pesquisa realizada com adolescentes, que a falta de conversas sobre sexualidade por parte dos pais se relaciona com a negação da atividade sexual das filhas. Essa negação é interpretada como ignorância e proibição. Ignorância por que os pais supostamente desconhecem as vivências sexuais das filhas, e proibição uma vez que esses pais não admitem que suas filhas tenham essas experiências durante a adolescência.

Levando-se em consideração que a adolescência, juntamente com a primeira infância, é um período crucial no desenvolvimento da sexualidade (BLOS, 1998), destaca-se que as modificações físicas e sexuais que acontecem neste momento têm um efeito muito significativo na forma como o adolescente se percebe e se avalia, além de alterarem radicalmente a forma como ele é visto pelos outros (PRETO, 1995). Assim, é necessário que a família se ocupe da tarefa de auxiliar esse adolescente a lidar com a confusão de pensamentos, sentimentos e comportamentos sexuais presente neste momento (PRETO, 1995).

POR QUE É TÃO DIFÍCIL FALAR SOBRE SEXUALIDADE?

Um dos motivos pelos quais é tão difícil conversar abertamente sobre o sexualidade é o fato de que esse tema é cercado por uma grande carga emocional e por vários preconceitos, mitos e tabus (PREDEBON, 2002; BRASIL, 2008). As participantes demonstram esse aspecto em suas falas, ao mesmo tempo em que tentam desconstruir os tabus e as ideias negativas relacionadas à sexualidade. Nesse sentido, afirmam:

"Tem gente que fala sexo como se fosse um bicho de sete cabeças. Não, não é mesmo [...] porque eu acho que quanto mais comentado sobre isso... se a palavra sexo não fosse uma palavra que... [...] A sociedade tem preconceito pela palavra sexo. Parece que é feio. Sexo é normal [...] O sexo é discriminado" (L, 14 anos). "Se não fosse pelo sexo a gente não estaria aqui". (J, 16 anos)

O fato de a sexualidade ser reprimida relaciona-se ao que ela possui de enigmático. Quando se reprime é porque não se quer tomar conhecimento de algo que exige ser reconhecido. E o que exige ser reconhecido é justamente o fato de que não existe um saber acerca do sexo (MASOTTA, 1987).

As participantes apontam as percepções relativas à sexualidade que os pais possivelmente têm:

"Porque eles acham... que no tempo deles é vergonhoso isso pra eles" (N, 13 anos); "Quando a gente quer falar sobre sexualidade, os nossos pais acham que sexualidade é só sexo". (F, 13 anos)

Dessa forma, para os pais a sexualidade está vinculada a algo vergonhoso, o que pode ser uma herança da época de sua adolescência, já que, para eles, muitas questões de sua própria adolescência ressurgem nesse período (LEVISKY, 1995). Conforme Dias e Gomes (1999), o olhar sobre a sexualidade do filho adolescente possibilita que os pais redimensionem e ressignifiquem suas próprias experiências relacionadas à sexualidade. Além disso, as conversas com suas filhas podem ser incômodas devido ao fato de que eles podem reexperienciar suas próprias dúvidas e angústias adolescentes referentes à sexualidade (DIAS; GOMES, 1999).

Nota-se, na fala de F, que os pais podem ter uma percepção equivocada da sexualidade, considerando que esta se restringe ao ato sexual. No entanto, as participantes apontam que a sexualidade se refere a algo mais amplo que, além da relação sexual, envolve outros aspectos, como o afeto, o carinho e a amizade.

"Ah tipo... vamos dizer que sei lá alguém tá namorando. Aí a gente também... às vezes as gurias não pensam só assim vou ter um namorado pra fazer sexo. Não, a gente quer alguém pra tá perto, pra compartilhar sentimentos..." (T, 13 anos). "Pra trocar carinho..." (R, 13 anos). "Sim. Pra ter uma pessoa junto com a gente. Só que os pais já pensam outra coisa. Que a gente quer ficar se agarrando com o guri, mas não!" (T, 13 anos). "Não é só pra namorar... é pra ser amigo, entendeu? Mas um amigo que conheça a gente e que gosta da gente [...]. E daí chegou num momento que a gente começou a conversar e daí ela [avó] falou: 'Tá, ele praticamente não é teu namorado, ele é teu amigo'. E eu bem assim: 'Tá, então namorar é só pra fazer sexo?'. E ela: 'Não'. E eu: 'Pra mim, eu gosto dele e é diferente', sabe, a gente sente uma atração, a gente gosta dele, a gente quer conversar, a gente quer ver ele. Tipo assim os amigos, tu não quer eles toda hora. Tu... tá conversando com eles, vai embora, é normal. Agora quando tu tá conversando com aquela pessoa e ela sai do teu lado tu tem vontade de ir atrás dela, de ficar mais tempo com ela". (S, 13 anos)

Nota-se que na concepção das adolescentes a sexualidade não se restringe ao sexo, enquanto para os pais, na perspectiva das meninas, a sexualidade seria equivalente ao ato sexual. Neste ponto, parecem iniciar as divergências para o estabelecimento do diálogo sobre sexualidade entre pais e adolescentes. Destaca-se que a sexualidade é inerente à vida humana. Assim, o ideal é que haja maior abertura para que esta temática seja tratada, conversada e debatida, a fim de que as pessoas estejam mais cientes de seus direitos sexuais e reprodutivos e que possam exercer sua sexualidade de maneira plena e responsável (BRASIL, 2008).

Diz Preto (1995, p. 226): "Normalmente, os pais que estão à vontade com sua própria sexualidade conseguem aceitar melhor a sexualidade aumentada dos adolescentes e transmitir a sua aceitação". Desse modo, as vivências que os pais tiveram durante sua própria adolescência influenciam na forma como eles estabelecerão limites, normas e expectativas em relação aos filhos.

O DESEJO DE SABER DAS ADOLESCENTES

A ausência de diálogo dos pais sobre questões sexuais e a complexidade desse tema não fazem com que as adolescentes percam o desejo de saber sobre o assunto. As falas das adolescentes evidenciaram a curiosidade e o desejo delas de falar sobre esse tema:

"Quero me conhecer. Quero saber o porquê disso, o porquê disso e daquilo. [...] Não é porque eu vou fazer. Mas eu quero saber, eu quero descobrir, porque... a gente tem uma curiosidade... [...] Ah, eu tenho direito de saber sobre o meu corpo!" (S, 13 anos); "Desde pequena que eu sou curiosa sobre isso, eu sempre queria saber o que era isso, e aí eu perguntava pra mãe" (L, 14 anos); "Eu queria que falasse, porque como eu nunca fiz, sabe, eu queria saber como que é, como a J também estava falando agora". (N, 13 anos)

Os adolescentes são fortemente afetados pelas transformações que acontecem em seus corpos, da mesma forma que o processo de pubescência afeta seus interesses, comportamentos e o desenvolvimento de sua vida afetiva (BLOS, 1998). De acordo com Valdés (2005, p. 321), "o corpo, como realidade sensível, é capaz de provocar um sem número de fantasias nas quais o(a)s adolescentes vivem o intangível, sentem o inexplicável e, ao mesmo tempo, abraçam fantasmas e medos".

Assim, as modificações psicológicas que acontecem nessa época, as quais estão diretamente relacionadas com as transformações corporais, geram uma nova relação do adolescente com seus os pais e com o mundo (ABERASTURY, 2007). Tendo em vista que essa é uma fase de muitas transformações, as quais geram muitas dúvidas no adolescente, destaca-se a importância de que estas sejam ouvidas, debatidas e elucidadas pelos pais num ambiente marcado por compreensão, afeto e respeito (TAKIUTI, 1997).

Salienta-se também a dificuldade de encerrar os grupos focais, tal o anseio das meninas em falar sobre estas questões. Ao final de dois grupos, elas apontaram que consideravam bom falar sobre isso e a importância de se realizar um trabalho com pais nesse sentido.

"Foi bom conversar, porque aí, a gente desabafa, né? Não tem com quem a gente conversar, a gente conversou aqui... Podia continuar, né, mas tudo bem. Acabou o tempo de hoje..." (K, 14 anos); "Seria bom uma vez por semana a gente conversar sobre isso..." (A, 14 anos); "Bom seria se tivesse alguém no colégio pra conversar sobre isso... [...] A gente gostou!" (V, 14 anos). "Acho que até assim, até eu vou falar com a... supervisora pra ela chamar vocês ou sei lá quem pra vir aqui dar uma palestra pros nossos próprios pais" (T, 13 anos); "É, explicarem isso pra eles..." (R, 13 anos); "É, que eles têm que conversar isso com a gente". (T, 13 anos)

Diante da evidente dificuldade existente de conversas sobre sexualidade entre os pais e seus filhos adolescentes, destaca-se a necessidade de programas de orientação sexual, não só para os adolescentes, mas, em especial, para seus pais. Tais programas devem incentivar o diálogo sobre sexualidade entre pais e filhos e oferecer aos pais estratégias para melhor lidar com as demandas dos adolescentes referentes a essa temática (PICK; PALOS, 1995; DIAS; GOMES, 2000; SOUSA; FERNANDES; BARROSO, 2006; BARBOSA; COSTA; VIEIRA, 2008).

ALTERNATIVAS ENCONTRADAS PELAS ADOLESCENTES DIANTE DO SILÊNCIO FAMILIAR

Diante da falta de conversação sobre sexualidade com os pais, as adolescentes afirmam que buscam outras fontes de informação e diálogo. A principal delas são os amigos, o que pode ser constatado nas seguintes falas:

"Uma amiga minha que trabalha aqui nesse casarão, sabe. Aí vou pra casa dela e peço as coisas pra ela..." (G, 15 anos); "Muitas vezes a gente acaba falando coisas que... que a gente fala pros nossos amigos, mas pros pais a gente não fala. Muitas vezes tu tem que chegar e conversar com um amigo porque o pai e a mãe não conversam..." (B, 14 anos); "Daí com os amigos fica muito mais fácil do que conversar com os pais. A gente prefere conversar com os amigos do que com os pais [...] Eu acho que por mais que tu prender, né, por mais que tu tenha amigas mais velhas, elas vão conversar contigo, porque tu vai ter dúvidas" (A, 13 anos); "Entre nós assim é mais fácil do que conversar com os pais" (V, 14 anos); "Eu só com a minha melhor amiga. Só a minha amiga, eu falo tudo pra ela" (J, 16 anos). "Ah, eu acho que entre amigos é mais... entre amigas, né, já é mais, a gente conversa assim né, mas tem horas que a gente leva na brincadeira, tem horas que a gente leva a sério, né?" (K, 14 anos)

Percebe-se que as adolescentes têm mais facilidade, sentem-se mais à vontade e encontram mais abertura para conversar e trocar informações a respeito desse tema com os amigos. O estudo de Valdés (2005) mostra que as amigas são consideradas pelas adolescentes como as interlocutoras mais confiáveis para se falar sobre sexo/sexualidade. A autora acredita que as adolescentes têm essa preferência, pois com as amigas é possível falar sobre seus comportamentos, fantasias, sobre o que conhecem ou desconhecem, sem receber um juízo negativo.

Apesar de os amigos serem uma importante fonte de informação para as adolescentes, algumas participantes relatam que prefeririam que essas conversas acontecessem com os pais, mas que como não há essa abertura em casa, acabam falando com estranhos. Elas percebem que falar com esses estranhos não é tão bom e que não gostariam que fosse assim.

"Aí tu tem que falar com um amigo, que tu não tem vontade de falar, até tu sente vergonha né. Aí tu acaba falando com um estranho. Isso é tri ruim!" (T, 13 anos); "[...] ela [a mãe] não conversa abertamente sobre esse assunto, e eu não gosto disso porque eu tenho que falar com outras pessoas!!" (R, 13 anos). "É, tem gente que a gente não gosta muito de conversar. E se a gente contar alguma coisa pode ser que espalhe pra todo mundo. Com uma pessoa que gosta de ti, que convive contigo, tu vai ter mais confiança". (S, 13 anos)

As participantes salientaram o papel de parentes que não os pais, como irmãs mais velhas, primas, cunhadas e avós, no que se refere ao diálogo e à transmissão de informações sobre sexualidade.

"Irmãs, cunhadas, primas..." (A, 13 anos); "Com as primas..." (C, 14 anos). "Eu só com a minha prima F" (N, 13 anos). "Eu sinto falta dela [irmã mais velha]. Ela era a única pessoa que conversava comigo, sabe." (R, 13 anos); "Eu tenho uma irmã mais velha que ela fala pra mim sobre sexo, sobre o que fazer pra não engravidar... [...] A minha mãe não fala, mas minhas irmãs falam..." (J, 16 anos). "Na minha família ninguém fala sobre sexo. Só a minha irmã..." (G, 15 anos)

Dessa forma, Borges, Nichiata e Schor (2006) apontam a importância de se levar em consideração esses outros familiares nas intervenções de educação em saúde, já que estes muitas vezes assumem um papel importante na orientação dos adolescentes.

Além de amigos e parentes, as adolescentes citam outros recursos buscados a fim de conversar e/ou se informar sobre sexualidade, como conhecidos, professores, internet, televisão, dentre outros.

"Tipo... minha... mãe da minha amiga, converso com a mãe da minha amiga, em vez de conversar com a minha mãe, que não quer falar de sexualidade comigo!!" (R, 13 anos); "Hoje tem vários meios...tem internet, televisão, sei lá..." (T, 13 anos); "Livros, professores... tudo isso. [...] Aqui as professoras respondem mais o que a gente quer saber, né. Até a gente teve uma aula das meninas, né, que a professora explicou sobre o corpo dos meninos, sobre o nosso, porque que acontece isso, e o que que acontece..." (S, 13 anos). "Nos postos. Nos postos tem... tem gente que faz palestras... essas palestras que tem na câmara de vereadores, que tem no teatro municipal... sobre sexo... É só se informar e pesquisar..." (L, 14 anos)

O estudo de Dias e Gomes (2000) mostra que, quando as conversas sobre sexualidade na família não são satisfatórias ou não existem, as adolescentes, além de buscar informações com amigas ou tias, tentam se virar com o que veem na televisão, em revistas ou com o que é discutido na escola. Segundo Valdés (2005), há uma redução no papel socializador das famílias, ao passo que a internet e os meios de comunicação estão adentrando os lares como novos agentes de socialização. Assim, cada vez mais os adolescentes recorrem a esses recursos para aquisição de informações, aprendizados e contato com a sexualidade.

Assim, apesar de recorrer a outras fontes de diálogo e/ou informação, as adolescentes ainda consideram o diálogo com os pais essencial. Porém, como este raramente acontece, resta a elas buscar outros recursos a fim de sanar suas curiosidades, dúvidas e inquietações a respeito da sexualidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das falas das adolescentes, pôde-se notar que a sexualidade é um tema pouco abordado no âmbito familiar. Evidenciou-se que as adolescentes sentem que há uma dificuldade dos pais em abordar o tema da sexualidade e, diante dessa dificuldade, entendem que os pais tendem a deixar essas conversas para depois. Apesar de as adolescentes apontarem para a falta de diálogo por parte dos pais sobre questões sexuais, isso não faz com que elas percam o desejo de saber sobre o assunto.

Quando à escolha metodológica deste estudo, ressalta-se que a utilização do grupo focal como instrumento de coleta de dados mostrou-se válida, já que possibilitou que as adolescentes expusessem espontaneamente suas opiniões sobre o tema. As adolescentes foram bastante receptivas à proposta de pesquisa. Na verdade, poucas intervenções foram necessárias para obter as informações indicadas no tópico-guia para os grupos focais, pois as adolescentes abordavam espontaneamente os itens do roteiro.

Ficou muito clara a necessidade dessas adolescentes de falar sobre o assunto, visualizada na intensidade e riqueza de suas falas, no pedido para que o tema fosse trabalhado com seus pais e na dificuldade de encerrar os grupos, já que elas pareciam ter muito a dizer.

Salienta-se que este trabalho traz contribuições no sentido de ofertar novas informações e reflexões a respeito do ponto de vista das adolescentes de grupos populares e sobre alguns aspectos de seu contexto local. Além disso, a partir dessa pesquisa, construiu-se a cartilha Conversando sobre sexualidade na família, a qual apresenta falas das adolescentes e reflexões em relação ao tema. Os itens abordados na cartilha foram os seguintes: Por que é difícil falar? De que forma se fala sobre isso? Quando falar? O que falar? Quem fala? Por que falar? e Por que se tenta fugir do tema? Esse material foi elaborado e distribuído à comunidade no intuito de que possa servir como instrumento de reflexão, apoio, estímulo e orientação para mães e pais no que se refere ao diálogo sobre sexualidade com os filhos adolescentes.

Destaca-se a importância de que os pais busquem possibilidades de diálogo, que procurem os serviços disponíveis na comunidade que possam auxiliar ou aliviar as angústias referentes ao tema. Nesse sentido, é importante deixar claro que a sexualidade dos adolescentes deve ser um tema presente nas diferentes políticas públicas voltadas para a família ou diretamente para os adolescentes, pois como tão enfaticamente colocaram as adolescentes participantes da pesquisa, a sexualidade gera curiosidades, angústias e o desejo de saber sobre está presente. Estudos enfocando o tema das conversas sobre sexualidade com adolescentes sob a ótica dos pais também poderiam complementar o panorama.

Recebido em: JANEIRO 2012

Aprovado para publicação em: AGOSTO 2013

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Mar 2014
  • Data do Fascículo
    Dez 2013

Histórico

  • Recebido
    Jan 2012
  • Aceito
    Ago 2013
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