Open-access Viagens e sexo on-line: a internet na geografia do turismo sexual

Travels and on-line Sex: internet in the geography of sexual tourism

Resumos

Considerando a relevância da Internet na constituição do mercado transnacional do sexo, neste texto analiso as imagens de mulheres da América do Sul que, difundidas no ciberespaço, se integram na alteração dos circuitos mundiais de turismo sexual. Argumento que embora haja uma íntima relação entre turismo sexual e desigualdade, a pobreza, nem sequer quando é extrema, garante o "sucesso" de um novo centro de turismo sexual. No marco de certas condições econômicas, aspectos culturais que se expressam na imbricação entre traços étnico/regionais e estilos de sexualidade operam à maneira de atração para o surgimento de novos alvos. Apresento, primeiro, as especificidades do espaço virtual analisado e uma caracterização de seus usuários. Descrevo, depois, as interações propiciadas pelo site e os códigos nele vigentes e, levando em conta as conceitualizações associadas a diferentes regiões, analiso as características das fronteiras etno-sexuais traçadas. Finalmente retomo meu argumento inicial, refletindo sobre como os processos de racialização que operam nesse espaço virtual participam nos deslocamentos na geografia mundial do turismo sexual.

Ciberespaço; Sexualidade; Turismo Sexual; Racialização


Considering the relevance of Internet in the constitution of the transnational sex market, I analyze in this text, in an anthropological approach, how the images of South-American women spread throughout the cyberspace participate in the alteration of the world's sexual tourism circuit. I argue that, while there is a close relationship between sexual tourism and inequality, poverty, even if extreme, does not warrant the 'success' of a new center for sexual tourism. Given certain economic conditions, cultural aspects that express the intertwining of ethnic-regional traits and styles of sexuality, operate as ways of attraction for the rise of new targets. First, I present the specificities of the virtual space analyzed as well as a characterization of the users. Afterwards, I describe the interactions propitiated by the site and its working code and, taking into account the concepts associated to different regions, I analyze the characteristics of the sketched sexual-ethnic borders. Finally, I return to my initial argument, reflecting on how the processes of racialization that operate in this virtual space participate in the displacements in the world geography of asexual tourism.

Ciberspace; Sexuality; Sex Tourism; Racialization


Viagens e sexo on-line: a Internet na geografia do turismo sexual

Travels and on-line Sex: Internet in the geography of sexual tourism

Adriana Piscitelli

Pesquisadora da Unicamp, coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero - Pagu e professora participante no Doutorado em Ciências Sociais da mesma universidade, Campinas-SP. pisci@uol.com.br

RESUMO

Considerando a relevância da Internet na constituição do mercado transnacional do sexo, neste texto analiso as imagens de mulheres da América do Sul que, difundidas no ciberespaço, se integram na alteração dos circuitos mundiais de turismo sexual. Argumento que embora haja uma íntima relação entre turismo sexual e desigualdade, a pobreza, nem sequer quando é extrema, garante o "sucesso" de um novo centro de turismo sexual. No marco de certas condições econômicas, aspectos culturais que se expressam na imbricação entre traços étnico/regionais e estilos de sexualidade operam à maneira de atração para o surgimento de novos alvos. Apresento, primeiro, as especificidades do espaço virtual analisado e uma caracterização de seus usuários. Descrevo, depois, as interações propiciadas pelo site e os códigos nele vigentes e, levando em conta as conceitualizações associadas a diferentes regiões, analiso as características das fronteiras etno-sexuais traçadas. Finalmente retomo meu argumento inicial, refletindo sobre como os processos de racialização que operam nesse espaço virtual participam nos deslocamentos na geografia mundial do turismo sexual.

Palavras-chave: Ciberespaço, Sexualidade, Turismo Sexual, Racialização.

ABSTRACT

Considering the relevance of Internet in the constitution of the transnational sex market, I analyze in this text, in an anthropological approach, how the images of South-American women spread throughout the cyberspace participate in the alteration of the world's sexual tourism circuit. I argue that, while there is a close relationship between sexual tourism and inequality, poverty, even if extreme, does not warrant the 'success' of a new center for sexual tourism. Given certain economic conditions, cultural aspects that express the intertwining of ethnic-regional traits and styles of sexuality, operate as ways of attraction for the rise of new targets. First, I present the specificities of the virtual space analyzed as well as a characterization of the users. Afterwards, I describe the interactions propitiated by the site and its working code and, taking into account the concepts associated to different regions, I analyze the characteristics of the sketched sexual-ethnic borders. Finally, I return to my initial argument, reflecting on how the processes of racialization that operate in this virtual space participate in the displacements in the world geography of asexual tourism.

Key Words: Ciberspace, Sexuality, Sex Tourism, Racialization.

Apresentação

Na produção sócio-antropológica sobre a transnacionalização do mercado sexual, a associação das mulheres de certas nações pobres do mundo com a prostituição é vinculada a três fatores principais: as viagens de turistas e militares a países e regiões pobres nos quais compram sexo; a migração de mulheres do Sul para trabalharem em night clubs e bordéis em todo o mundo e à Internet.1 No que se refere a este último aspecto, os sites destinados a turistas sexuais heterossexuais são considerados espaços fundamentais em termos da produção e disseminação de estereótipos sexualizados e racializados de mulheres dos países pobres.2

Compartilhando a percepção da relevância desses espaços virtuais, neste texto considero, em uma abordagem antropológica, as imagens de mulheres da América do Sul que, neles difundidas, se integram na alteração dos circuitos mundiais de turismo sexual. A análise que apresento está baseada em uma pesquisa3 realizada em um site específico, el World Sex Archives, escolhido levando em conta dois aspectos, o fato de ter sido o espaço virtual mais citado por turistas à procura de sexo entrevistados em uma pesquisa anterior realizada em Fortaleza, capital do estado do Ceará, no Nordeste do Brasil4 e a enorme riqueza do material nele difundido quando comparado com páginas da web análogas.5

Os espaços virtuais destinados ao sexo, considerados principais veículos de informações que favorecem a exploração sexual e ainda refúgio favorável para todo tipo de "desviantes", vêm sendo objeto dos mais diversos tipos de pesquisa6, inclusive investigações realizadas em abordagens sócio-antropológicas. Essas últimas tendem a centrarem-se nos efeitos dos seus usos sobre a sexualidade. Essas análises afirmam que o discurso e os atos sexuais têm sido redefinidos pela institucionalização das conversas e dos atos sexuais virtuais, pois, de acordo com eles, a net conduz a uma re-significação das noções "escrever" e "ler" e tem a capacidade de criar novas definições de todo evento sexual, desde o flirt e o intercurso sexual às orgias.7 Ao mesmo tempo, esses estudos consideram que tais espaços representam a possibilidade extrema de contatos sexuais "des-incorporados" e freqüentemente chegam à conclusão de que o uso desses sites, ao operar como um substituto da sexualidade, conduz ao isolamento.

Nesse marco de discussões, a idéia sobre os sites voltados para viajantes à procura de sexo é que, longe de mostrarem um uso das novas instituições sexuais criadas pela tecnologia, eles reiteram formas masculinas "tradicionais" de imaginar, "experienciar" e representar a sexualidade. Nos termos de Bishop e Robinson, para os usuários dessas páginas da web, esse meio pós-moderno seria pouco mais do que um meio de globalizar, por meios eletrônicos, espaços reacionários de discurso sexual, como as paredes dos banheiros masculinos ou as festas de despedida de solteiros. Finalmente, segundo esses autores, tais sites refletiriam o isolamento e a alienação que caracterizam a aproximação de seus usuários à indústria do sexo e ao sexo em si mesmo.

A análise que apresento oferece elementos para dialogar com essas abordagens, referendando algumas dessas idéias e contestando outras (e faço isso ao longo do texto). No entanto, neste artigo, meu principal interesse é explorar como a análise dos sites destinados a esses viajantes contribui na compreensão da transnacionalização do mercado sexual. De maneira mais específica, interessa-me apreender aspectos vinculados às alterações na geografia do turismo sexual.

A literatura internacional sobre essa problemática permite perceber que a apreciação dos destinos escolhidos pelos viajantes à procura de sexo altera-se ao longo do tempo. Locais que há décadas são alvo desses turistas vêm perdendo valor. Considera-se que nas décadas de 1950 e 1960 as mulheres do Sudeste da Ásia e da Ásia oriental (regiões altamente visadas para o consumo de sexo a partir dessas décadas), representaram o ideal de mercadoria erótica, desejadas pela promiscuidade e passividade a elas atribuídas. No entanto, na virada do século, essas regiões teriam perdido "valor" no mercado transnacional de sexo. De acordo com a autora australiana Beverly Mullings8, o turismo à procura de sexo, do mesmo modo que outros tipos de turismo, está marcado pela busca de experiências singulares que, concedendo um plus de valorização aos turistas, outorgue a esses viajantes uma certa distinção social, diferenciando-os dos turistas "massificados". Nesse sentido, alguns centros asiáticos, como Tailândia ou Filipinas, excessivamente popularizados, teriam chegado a um "ponto de saturação". Na medida que números crescentes de viajantes concorrem para consumir serviços sexuais nesses países, as paisagens sexuais tornar-se-iam menos autênticas, menos reais e, portanto, menos desejáveis.

Nas décadas de 1980, 1990 e 2000 os percursos dos turistas à procura de sexo se voltam para outros cenários, habitados por "novos" seres apetecíveis para o consumo do sexo, ainda mais exóticos, ainda mais autênticos e, portanto, ainda mais eróticos. Nesse movimento, novas regiões alvo, na América do Sul, tornam-se almejados destinos. E a inserção do Nordeste do Brasil nesses circuitos e, alguns anos depois, de Buenos Aires e outras cidades da Argentina, oferecem bons exemplos das alterações desses circuitos.

Tomando como referência o material analisado no site, meu principal argumento é que embora haja uma íntima relação entre turismo sexual e desigualdade, a pobreza, nem sequer quando é extrema, garante o "sucesso" de um novo centro de turismo sexual. No marco de certas condições econômicas, aspectos culturais que se expressam na imbricação entre traços étnico/ regionais e estilos de sexualidade operam à maneira de atração para o surgimento de novos alvos. A alocação desses traços é construída em um marco no qual a re-criação de códigos da sexualidade é orientada por uma "educação" coletiva, através da transmissão de códigos de conduta e saberes que, atravessados por gênero, traçam fronteiras etno-sexuais.9 Trata-se de limites entre grupos, caracterizados pela intersecção e "interação" entre sexualidade e etnicidade. Essas fronteiras, que mostram a emergência de novos processos de racialização, são fundamentais na delimitação de novos espaços turísticos para o consumo de sexo.

Apresento, primeiro, as especificidades do espaço virtual analisado e uma caracterização de seus usuários. Descrevo, depois, as interações propiciadas pelo site e os códigos nele vigentes. Levando em conta as conceitualizações associadas a diferentes regiões, analiso posteriormente as características das fronteiras etno-sexuais traçadas. Finalmente, retomo meu argumento inicial, refletindo sobre como os processos de racialização que operam nesse espaço virtual participam nos deslocamentos na geografia mundial do turismo sexual.

O World Sex Archives

As pesquisas no ciberespaço vêm obtendo crescente legitimidade no âmbito da antropologia.10 No entanto, as discussões presentes nessa disciplina mostram as inquietações suscitadas, sobretudo, pela idéia de uma "etnografia" em espaços virtuais. Esse debate trata de problemas éticos11 e de diversas ordens de questões metodológicas.

Discute-se a dificuldade em obter dados sobre os parâmetros da população envolvida, as limitações colocadas pelas entrevistas on-line, as interpretações equivocadas às quais pode conduzir o fato de trabalhar exclusivamente em um meio textual.12 No debate entram também considerações relativas à própria idéia de trabalho de campo e à conceitualização de etnografia, sobretudo no que se refere ao objetivo de desvendar um contexto, em toda sua complexidade, através de uma descrição densa.13 Concordando com Escobar e com Guimarães Jr.14 no que se refere a afirmar que o espaço virtual é uma das esferas constituintes das sociedades complexas, considero que se a idéia de uma etnografia desses lugares virtuais está aberta à discussão, é inegável que uma leitura antropológica desses espaços faz todo o sentido. Sobretudo, quando se considera que cabe à disciplina o papel de esboçar os mapas de significado vinculados às diferentes configurações sociais (sem perder de vista os processos de interação nelas existente) e levando em conta que o ciberespaço possibilita a formação de novas redes, com referenciais específicos.

Considerando essas discussões, esclareço que neste trabalho penso o âmbito do site à maneira de micro-contexto no marco do qual são acionadas as conceitualizações de viajantes à procura de sexo sobre as diversas regiões do mundo. Todavia, este contexto não pode ser separado do processo amplo que torna possível a criação deste e outros sites voltados para oferecer informações a turistas sexuais: o crescente movimento de atravessar as fronteiras para oferecer ou consumir serviços sexuais.15A mídia eletrônica é constitutiva deste processo, assim como de outros vinculados à "nova ordem global".16 Este fato torna a divisão virtual/real inteiramente artificial. Contudo, apreender o significado das conceitualizações acionadas no site exige articular este micro-contexto com o processo do qual ele é uma materialização, um procedimento que requer situar este material em relação aos diversos aspectos desse processo.

As análises centradas nos turistas à procura de sexo mostram a heterogeneidade presente nesse universo de consumidores. Nessa literatura criaram-se diversas categorias para tratar das diferenças entre eles. As denominações concedidas aos diferentes "tipos" de viajantes a procura de sexo variam.17 No entanto, há uma relativa convergência em assinalar que para alguns o turismo a procura de sexo alarga o leque de opções disponíveis em termos de relacionamentos estáveis e perpassados por sentimentos, enquanto para outros, esse tipo de turismo possibilita inúmeras experiências sexuais com custos relativamente baixos em termos internacionais.18 Levando em conta as dimensões traçadas por Luiz Fernando Dias Duarte19 na configuração da sexualidade moderna, esses viajantes parecem corporificar uma expressão aguda do hedonismo, procurando um prazer inteiramente desvinculado de investimentos afetivos.

Precisamente os viajantes que correspondem a essa última categoria são os principais usuários do site analisado. Friso este ponto, impossível de apreender através de um estudo exclusivamente centrado nessas páginas web, sublinhando a importância de não generalizar as observações sobre esses usuários a todos os turistas à procura de sexo. Os usuários do site constituem um tipo particular, extremo, entre esses viajantes. Contudo, eles são relevantes no alargamento e na modificação dos circuitos de turismo sexual internacional (e, neste sentido, é importante considerar o singular efeito amplificador da web).

A recorrência de mensagens dos mesmos usuários sugere uma relação quase obsessiva com a temática dessas viagens. Eles são ávidos consumidores de informação que possibilite ampliar o leque de experiências sexuais tingidas por marcas étnicas. Alguns fazem esforços "científicos" com o objetivo de acumular informação.20 Sem dúvida, eles não constituem uma comunidade no sentido tradicionalmente acordado a esse termo no âmbito da antropologia, isto é, conformações de agentes que compartilham uma origem, uma localidade com limites geográficos estabelecidos, vinculados por relações que envolvem circuitos de reciprocidade. No entanto, apesar de sua heterogeneidade e de sua localização dispersa, esses viajantes compartilham características distintivas em função das quais estabelecem certo tipo de trocas.

O site considerado apresenta na página inicial uma ampla imagem com os rostos superpostos de umas quinze mulheres das mais diversas características, anunciando assim a diversidade étnica e racial presente no material nele veiculado. Clicando os rostos aparece o nome dos países cobertos pela página web. O site é apresentado como um espaço destinado à discussão de acompanhantes do mundo todo, mas se esclarece sua diferença em relação a outros espaços virtuais voltados para o sexo, seja daqueles destinados à pornografia ou dos que promovem sexo com menores de idade (suas regras proíbem veicular material referente a mulheres com idade inferior a 18 anos). A singularidade do site consiste em fornecer informações sobre prostituição e turismo sexual, particularmente útil para viajantes. O preview, além de apresentá-lo como o banco de dados interativo sobre "viagens adultas" mais amplo da Internet, oferece informações que aludem às preferências dos turistas sexuais. Sexo barato é um dos aspectos aos quais se refere; outro é a disponibilidade de mulheres que não são necessariamente prostitutas profissionais.

No WSA as viagens a "outras" partes do mundo são promovidas contrastando os estilos de feminilidade e sexualidade de mulheres dessas regiões com as feminilidades ocidentais:

As mulheres nos países ocidentais são umas vagabundas mimadas. Elas obtêm demais e dão de menos. Sabem que podem tratar seus homens como merda. Você sabe porque uma mulher sorri no dia do casamento? Ela sabe que não vai ter que chupar.21

Sinopse dos Arquivos Mundiais do Sexo

Essa comparação, na qual as nativas do Sul aparecem dotadas de uma espécie de inocência natural, passível de ser corrompida pelo exemplo das primeiras, é recorrentemente replicada nas mensagens trocadas no site. Inserindo-se na lógica presente não apenas no mundo da prostituição, mas, sobretudo, na que perpassa os universos turísticos e é característica do turismo sexual, essa página web realiza um verdadeiro apelo à criação de novos espaços para os viajantes à procura de sexo. Solicita-se aos assinantes contribuições no sentido de enviarem informações sobre áreas ainda não "descobertas" e, portanto, ainda não incluídas nas correspondências. E os assinantes se esforçam em responder a esse apelo.

O WSA está constituído por diversos espaços: uma área de mensagens, onde os e-mails são listados em ordem cronológica, sem nenhuma separação por país ou tema, uma área de fotografias, organizada de acordo com o mesmo critério, outra que aglutina os arquivos completos organizados por país, uma área de chat e uma área destinada ao calendário de eventos mensais. Neste último são anunciadas festas, com acompanhantes, em diversos lugares do mundo e as datas nas quais os assinantes estarão viajando por lugares determinados, oferecendo a eles a oportunidade de se encontrarem e saírem juntos. A área de arquivos completos organizados por país exibe as mesmas mensagens e fotografias que aparecem em outras áreas, aqui agrupadas tematicamente por países que, por sua vez, são organizados em continentes. Esta é a área na qual se concentrou o levantamento do material.

Colhi material relativo a vários desses países seguindo certos critérios. Orientada pelo interesse em compreender como certas regiões pobres do mundo atraem turistas à procura de sexo em quanto outras também pobres e relativamente próximas não o fazem, e preocupada por compreender a dinâmica de circulação desses viajantes, colhi e analisei de maneira extensiva o material (texto e fotografias) relativo a diversos países da América do Sul.

Esclareço que as fotografias são aspectos importantes nas trocas de mensagens. Os usuários que as conseguem parecem obter um plus de valorização no site. Muitos tentam negociar conjuntamente o preço do encontro sexual e o direito a fotografar as garotas. As imagens presentes nos arquivos por país sugerem especificidades no que se refere a estilos de corporalidade. As fotografias das africanas freqüentemente as retratam inteiramente vestidas ou com trajes étnicos, e exibindo posturas corporais não erotizadas. As asiáticas são mostradas vestidas, com roupas ocidentais, seminuas ou sem roupas, sorridentes, exibindo gestos às vezes "etnicizados", tais como as mãos, palma contra palma, grudadas ao peito. Ao contrário, as mulheres de América do Sul e do Caribe são apresentadas em posturas corporais extremamente sexualizadas. A elas cabe exibir os genitais e/ou serem mostradas em situações explícitas de relacionamentos sexuais ou masturbação. Esse tipo de imagens está vinculado particularmente aos países nos quais as mulheres são percebidas como singularmente "quentes" tais como o Brasil, ou nos quais o sexo é considerado mais banal e barato, como Republica Dominicana e o Paraguai, no qual há uma verdadeira coleção de fotografias "ginecológicas", com a explicação adicional de que as mulheres desse país adoram posar (dessa maneira) para as câmaras. Observo que, por razões éticas, no reproduzo nenhuma das fotografias. Elas mostram abertamente o rosto das garotas, enquanto as feições dos viajantes que estão com elas estão borradas.

É importante observar que América do Sul concentra 20% das mensagens que circulam no site sobre as regiões pobres do mundo.22 Apenas 1% dessas mensagens se referem a África, 28% a América Central e o Caribe e 51% a Ásia. Contudo, é importante levar em conta que Ásia é um continente no qual o turismo sexual tem uma história de várias décadas, enquanto na América do Sul é detectado, sobretudo, a partir da década de 1990.

No âmbito dessa região, escolhi países que apresentam certas especificidades. Alguns, por serem considerados já espaços "tradicionais" de atração na região, como Brasil e Colômbia. Outros, como Argentina, tidos como novíssimos lugares apetecíveis para o consumo do sexo. Finalmente outros, como Bolívia, por serem considerados os destinos menos atraentes na região. A coleta incluiu a leitura de mensagens disponíveis no site entre novembro de 2003 e agosto de 2005. A popularidade de certos países torna-se evidente considerando o volume de material sobre eles. No período analisado, a troca de correspondência sobre Chile, Uruguai, Bolívia e Paraguai não superou as 122 mensagens, respectivamente. O material sobre Argentina foi 10 vezes maior. O material sobre Colômbia quadruplicou o volume das trocas de mensagens sobre Argentina e o material sobre Brasil praticamente quadruplicou aquele sobre Colômbia. O volume diferenciado de material foi utilizado à maneira de indício inicial para explorar os aspectos vinculados à geografia mutante do turismo sexual.

A análise foi realizada contrastando o material desses países entre si e criando uma perspectiva comparativa mais ampla mediante a leitura de material referente aos dois países mais "populares" do Caribe, República Dominicana e Cuba, e a países que estão entre os mais e menos visados, na Ásia e África: Tailândia, Mongólia e Sri-Lanka; Quênia e Tanzânia.

MONGERS

O WSA não fornece informações sobre seus assinantes. Nas mensagens, há poucas referências à renda e à profissão. No entanto, alguns declaram a idade, outros a nacionalidade. Apresentam-se como homens na casa dos 20, 30, 40, 50 anos; geralmente originários dos países do Norte, embora entre eles também há pessoas nativas dos países do Sul, peruanos, brasileiros, argentinos, cubanos, há muito tempo residentes no Norte e de países que, embora europeus, estão longe de poderem ser considerados ricos, tais como a Romênia. Consideram-se como viajantes em férias; viajantes de negócios que esticam por alguns dias as viagens para poder engajar-se no que denominam de "ação" ou expatriates residentes em países do Sul. Eles fazem freqüentes alusões à diversidade de relacionamentos nos quais estão envolvidos. Apresentam-se como solteiros recalcitrantes, noivos, viúvos recentes ou casados. Esses últimos expressam à consciência de manter uma "dupla vida", atualizando, em alguma medida e em escala internacional, os relacionamentos que, no passado, os homens tinham com amantes.

O grau de beleza auto-atribuída desses usuários é diferenciado. Alguns usuários parecem sentir orgulho de um tipo de corporalidade que viabiliza a obtenção de mulheres também nos lugares de origem. Outros consideram serem velhos, gordos, mas contam com a certeza de obter satisfação sexual nos países que visitam. O conjunto de mensagens sugere distinções que atravessam o universo dos freqüentadores do site, mas a "identidade" criada através do objetivo comum partilhado por esses viajantes parece obscurecer as diferenciações entre eles. A diferença mais marcante é traçada entre viajantes experientes e novos, na medida em que esta distinção é considerada substantiva em termos das possibilidades de usufruir o consumo do sexo. Compartilhando um interesse comum, o consumo de sexo corporificado em "outras" mulheres, os freqüentadores do site compartilham também uma linguagem diferenciada.

O idioma utilizado é o inglês (embora ocasionalmente aparecem mensagens em outras línguas, acompanhadas de tradução). Os e-mails revelam graus diferentes de domínio da língua que podem ser atribuídos à escolaridade diferenciada, mas, também, à origem diversa dos freqüentadores. Nesse marco, eles se comunicam utilizando uma terminologia específica, relativamente hermética e dinâmica. O termo mongers com o qual se auto-denominam é uma expressão dessa linguagem. Na língua inglesa o termo adquire sentido apenas acompanhando outras palavras. A parte implícita no uso atribuída ao termo no site poderia ser sexo ou prostitutas (sex/whore) mongers.

Os usuários utilizam essa linguagem para referir-se a uma diversidade de tópicos: às mulheres, aludindo ao grau de profissionalização e à disponibilidade para passar bastante tempo com os viajantes entabulando relacionamentos à maneira de namorados (girl friend experience) e, inclusive, viajar com eles, no país de origem ou para o exterior; às práticas sexuais, BB, BJ e BBBJ são siglas que aludem ao bareback, prática de manter relações sexuais sem camisinha, ao blow job, ao sexo oral e ao bare back blow job, ao sexo oral sem camisinha.

Esses usuários criam corredores através do mundo nos quais circulam (e se encontram), estabelecem trocas e realizam favores mútuos. O WSA mostra o estabelecimento de interações masculinas que ultrapassam o espaço virtual e a viabilização de contatos sexuais/corporais, materiais, ou, utilizando a linguagem de aqueles que contrapõem o mundo virtual ao "real", interações nas quais o "virtual" faz parte do "real". As interações masculinas fora do site costumam ter lugar no marco de encontros marcados através da área "calendário de eventos", ou, simplesmente, através da correspondência. O intercâmbio de números de telefones celulares, endereços privados e e-mails com estes objetivos são freqüentes. Expatriados que moram em determinadas regiões reservam hotéis, alugam apartamentos, ocasionalmente quartos, e acompanham aos bordéis e zonas "quentes" os freqüentadores dos sites com escasso conhecimento das áreas a serem visitadas.

Para os usuários, o site estabelece laços entre "libertinos assumidos" que se sentem orgulhosos de suas atividades. Conectando mongers que, antes de participar nele se sentiam isolados e até perversos, o site opera à maneira de espaço de legitimação coletiva do interesse pelo consumo do sexo através das fronteiras:

Até dois anos atrás, sempre achei mongering um mal necessário. Sempre foi uma atividade que eu tinha que gozar sozinho, sobre a qual eu não podia falar. Outros caras falavam de futebol ou de carros, eu pensava em xoxotas. Entrei nesta quando fiz minha primeira viajem ao Rio. Mudei dramaticamente ao saber que há um lugar no mundo com provavelmente dezenas de milhares de belas trabalhadoras e milhares de mongers como eu.23

Ground Zero,14/12/2002, Linha de conversação: Há vida além do Rio/Brasil?

Nesse espaço, o tom geral das conversas tende a ser cordial, amigável e polido. Os usuários se ajudam trocando informações sobre todo tipo de aspectos que possam facilitar a "ação", inclusive traduzindo termos chaves para as línguas dos locais a serem visitados. Ocasionalmente eles se irritam uns com os outros, quando sentem que informações "importantes" são sonegadas, ou quando alguém mostra recorrentes dificuldades para incorporar os ensinamentos oferecidos no site que, convertido em um espaço de "socialização", viabiliza a transmissão de "saberes" em termos de práticas sexuais, de etiqueta e estilos de comportamento e de atributos alocados às mulheres. Esse trabalho de construção e transmissão de saberes é perceptível nos esforços coletivos por ensinar os freqüentadores inexperientes.

A heterossexualidade do site é marcada nos e-mails, nos quais há clara rejeição aos travestis, chamados de transtesticles, impostores ou ladyboys. O consumo de sexo heterossexual oferecido por mulheres de "outros" lugares é considerado uma atividade que, vinculada à masculinidade, a reforça. Quando os mongers se deparam com mulheres do Primeiro Mundo engajadas abertamente nesse tipo de atividade parecem sentir-se atordoados. É o caso de um turista sexual circulando por Quênia.

Vi uma coisa interessante na Praia Diani, ao sul de Mombassa, no litoral. Vi duas mulheres européias abonadas (uma era Linda de morrer) com prostitutas – altos Masai vestidos com seus trajes tradicionais. Se eu tivesse minha câmera teria tirado uma fotografia delas e a exibiria aqui. Eu já tinha lido sobre isso antes, mas foi a primeira vez que o vi na vida real.24

Gordon, 12/01/2001, Linha de conversação: Kenya: Nairobi

E manifestam ceticismo em relação à distinção que se estabelece entre o consumo de sexo realizado pelas mulheres "ocidentais", tido como próximo do romance, e o que eles próprios procuram. Descrevendo e censurando a atitude de uma canadense branca em Cuba um usuário comenta:

Ela estava passada da idade, provavelmente quarenta e muitos. Ele tem trinta e tantos. Ela tratava meu amigo cubano como um bichinho de estimação, ainda que ele fosse muito mais inteligente e educado do que ela. Falava com ele de cima, dizia que não gostava de foder com ele, negava sexo, jogava os jogos cabeça a que estamos tão acostumados. Achava que eu e os outros turistas éramos ralé e dizia isso a todos os cubanos. Parece que, quando uma mulher vai a Cuba e fode com um homem mais jovem, são férias românticas, mas, quando um homem vai a Cuba e fode com as mulheres cubanas, somos "turistas sexuais" as "piores pessoas da sociedade, de que os outros canadenses tem vergonha" (palavras dela).25

OhCanada, 04/10/1999, linha de conversação: As Dez Melhores Razões Porque as Mulheres Cubanas são melhores que as Canadenses (ou Americanas)!!

A construção desse estilo de masculinidade requer a inferiorização não apenas das mulheres, mas a constituição de uma superioridade considerada "Ocidental" em relação às masculinidades "nativas", que se expressa através da comparação entre diferentes aspectos. No que se refere aos nativos da África, o ponto de comparação são as práticas sexuais tidas como mais sofisticadas entre os Ocidentais e mais "básicas", entre os homens locais. Em termos dos asiáticos, essa superioridade se expressa no tamanho do pênis e no grau de potência e exigência sexuais.

A maioria dos fregueses nesses lugares é de malaios chineses ou de Singapura. A maioria das meninas prefere os chineses aos locais: eles têm picas menores e as fazem trabalhar menos (trabalho quer dizer "foda" em Hat Yai!) E dão gorjetas maiores.26

Loso, 28/03/2005, Linha de conversação:

Informação sobre Hat Yai & Songkhia/Tailândia

A cor branca, predominante no espaço do site, é muitas vezes utilizada como sinônimo de "Ocidental". Trata-se de um aspecto marcado, sobretudo, quando se trata dos poucos usuários que se apresentam como negros. Essa cor é inegavelmente considerada como atributo vinculado à superioridade desses viajantes sobre as populações nativas e/ou sobre viajantes e clientes não "Ocidentais".

Trocas

O intercâmbio de mensagens trata de questões de interesse comum a todos os turistas. Os mongers discutem o preço e a qualidade de hotéis; a obtenção de passagens econômicas, a qualidade dos restaurantes e a "autenticidade" da comida. Essas trocas incluem seqüências de imagens com caráter "cultural", como séries sobre os desfiles de carnaval em São Paulo que quase não incluem mulheres despidas, ou comentários sobre filmes.

Os e-mails relevam um enorme interesse por questões associadas às leis vinculadas à prostituição, sobretudo envolvendo menores de idade, nos diferentes países. A idade legal do consentimento é um item da maior relevância, recorrentemente registrado nos "guias" de viagem que esses turistas elaboram sobre os distintos países. Ocasionalmente, as discussões em torno das leis envolvem critérios morais:

De qualquer maneira, caras, mesmo que a idade do consentimento fosse 5, acho que é imoral fazer sexo por dinheiro com uma menina de menos de 18 pela simples razão que uma menina abaixo de certa idade não é capaz de decidir livremente se ela quer fazer sexo com você...27

Chico, 14/07/2003, Linha de conversação Asuncion/ Paraguay.

No entanto, as preocupações sobre o estatuto legal da prostituição, a globalização das leis e os tratados internacionais envolvendo os diversos países, tendem a ser apenas mais um aspecto do interesse por garantir a segurança pessoal e pela avaliação da disponibilidade de garotas. As intermináveis discussões sobre o estado da repressão ao jineterismo em Cuba e sobre a exigência das garotas portarem os documentos de identidade dão uma idéia desse interesse. Os intercâmbios de mensagens relativos à última CPI do turismo sexual em Fortaleza também mostram essa preocupação:

A Polícia Federal recentemente completou uma investigação exaustiva da prostituição em Fortaleza, gravando vídeos de todos os estrangeiros que chegavam ao aeroporto, mandando agentes disfarçados a casas de massagens e apartamentos, entrevistando garotas de programa, e escrevendo um relatório detalhado que foi posto à disposição da mídia. A maior parte dele enfocava a declaração de Lula no sentido de acabar com a prostituição infantil. Mas o alvo são definitivamente os donos do Café del Mar, África, etc., a despeito de que controlem as meninas.28

By bom boa on Sunday, June 15, 2003 Linha de conversação: Espera-se Grande Estouro em Fortaleza

No site, ocasionalmente, mongers nativos esclarecem sobre os perigos, vinculados à violência, a que os gringos se expõem nos países visitados, particularmente quando transitam por lugares de prostituição de baixo preço. Além da preocupação pela segurança, os e-mails mostram, também, o interesse pela situação política e econômica dos diversos países. Esses freqüentadores realizam uma íntima associação entre pobreza, escassez de recursos e oferta de mulheres. Os usuários prestam particular atenção à pobreza recente, e à sua incidência na integração das mulheres no mercado do sexo. Assim, os países que acabam de ser afetados por problemas econômicos se tornam objeto de especial interesse.

Li que Montevidéu e o Uruguai sofrem com a quebra da Argentina. Muitas oportunidades lá.29

Bigjeff, linha de conversação Uruguay/Montevideo em 7/05/2002

Neste sentido, é importante observar que no início de 2002, quando a crise econômica na Argentina se tornou mais aguda, esse país converteu-se abruptamente em "receptor" de um número crescente de turistas à procura de sexo. Em finais da década de 1990, os jornais argentinos tratavam do turismo sexual como um fenômeno inteiramente externo. Em 2003, veiculavam notícias que mostram o alarme provocado pela presença de turistas à procura de sexo no país.30 Prova da integração da Argentina nos circuitos mundiais de turismo sexual é sua incorporação, a partir desse período, nos sites da web destinados a difundir informações para os viajantes à procura de sexo (nos quais não aparecia no ano 2000). Nesses espaços virtuais, nos quais o país é considerado um novíssimo destino na América Latina, a disponibilidade das argentinas para esse tipo de turismo está abertamente associada à crise econômica.

A pobreza vinculada às desigualdades regionais internas a cada país é registrada pelos viajantes mais experientes. No caso do Brasil, os usuários mais familiarizados com o país detectam a rejeição aos estrangeiros, percebidos como inferiores por parte de mulheres bem posicionadas na escala de classes das cidades mais ricas.

Recomendo que você visite São Paulo Uma coisa importante a considerar: as melhores danceterias não profissionais em sampa estão tipicamente cheias de meninas de classe média e alta. Para essas meninas, classe é importante. Em outras palavras, mesmo se você for boa pinta, mas parecer não pertencer à classe delas, elas o ignorarão. Turistas também fazem parte dessa categoria não desejada.31

Linha de conversação: Paulsobe # no Carnaval de 2003 em São Paulo/Brasil, 02/03/2003

Neste marco, no Brasil, o Nordeste, surge como destino a ser privilegiado. Instando um jovem usuário a trocar Curitiba pelo Nordeste do Brasil, um freqüentador experiente aconselha.

Suas expectativas eram altas demais, louras são caçadas no Brasil pela elite rica, e muito procuradas em geral. Pegar uma loira não profissional, de Curitiba, especialmente com pouco conhecimento do Brasil, não é fácil. Para uma experiência de namoro (GFE) de longo prazo, aposta melhor teria sido o nordeste, onde as meninas são pobres, acostumadas a ficar com gringos com quem mal podem se comunicar, e que não fazem muito mais durante o dia do que programas, mas é claro que essas meninas tendem a ser mais mulatas e morenas. Sugiro que você vá para o nordeste você anda procurando no lugar errado 32

Linha de conversação: Paulsobe# no Carnaval de 2003 em São Paulo /Brazil, 02/03/2003

Os itens básicos tratados no intercâmbio de correspondência virtual arquivada no site referem-se aos procedimentos necessários e aos lugares apropriados para procurar mulheres que oferecem serviços sexuais em diferentes cidades e países, com a melhor relação entre "custo e serviço". No entanto, um fator relevante para a escolha de lugares, que se soma aos cálculos dos lugares nos quais dólares e euros rendem é a excitação suscitada pela abertura de "novos mercados".

Lugares muito conhecidos como o Rio de Janeiro, que concentra a maior parte da informação sobre o Brasil, são positivamente avaliados em termos do tempo e energia que a profusão de informação e de mulheres profissionalizadas possibilita. Outras regiões, pouco exploradas, parecem fascinar pelo caráter desbravador e aventureiro que visitá-las imprime à viagem. Seguindo uma lógica na qual se insere a rejeição dos lugares com excesso de gringos (over gringofied), e se valorizam aqueles lugares freqüentados apenas por habitantes locais, no site, certas regiões da África aparecem como oferecendo a possibilidade de experimentar o grau extremo de aventuras.

Completamente fora dos caminhos usuais. Você pode ir ao Distrito de Samburu, a aldeias como Larata B, Ndyondo Wasin, Ngilai. Essas aldeias ficam longe das estradas principais e o povo de Samburu continua com seu modo de vida tradicional As mulheres lá andam quase sempre nuas da cintura para cima e você vê seus peitos suados. Não sentem qualquer vergonha, pois é seu traje tradicional As meninas podem pedir quase qualquer coisa: um sabonete, mel, espelho. O uso de dinheiro é meio limitado ali. Se você quiser casar com uma mulher – nada é mais fácil. Você precisa comprar 10 vacas, para o dote Ainda mais fora dos caminhos usuais. Você pode ir para a Tribo Gabgra Suas meninas têm a pele mais clara que em Samburu e o dote é menor – apenas 3 camelos.33

Blackion, 02/12/2004, Linha de conversação: Um Guia para a Cena do Sexo no Quênia 4ª. edição

No que se refere ao Brasil, esse espírito desbravador aparece associado, sobretudo, ao Nordeste. Referindo-se a Fortaleza, um usuário comenta:

Me arrepio só de pensar no talho que você vai abrir nesse território quase virgem.34

mangomam, 13/12/2002, linha "etiqueta BBBJ"/Brasil

Os mongers mais experientes circulam mapas das diversas cidades. Buenos Aires, em seu recente boom tem sido objeto de roteiros minuciosos. Os circuitos de prostituição de Bangkok são reproduzidos à exaustão. Há listas intermináveis de saunas, casas de massagem, boates de strip tease, agências de escorts. Os lugares são descritos em detalhe, assim como os diversos procedimentos necessários para chegar a eles, as modalidades de prostituição com melhor relação custo benefício segundo o local e os passos a seguir para obter uma garota.

O intercâmbio de e-mails possibilita traçar o percurso que os freqüentadores afirmam realizar por diversas cidades do circuito global de turismo sexual, dando, também, uma idéia das regiões preferidas. As mensagens que adquirem, às vezes, formas análogas a guias de viagem, e, ocasionalmente, replicam diários de viagem, relatando as atividades e emoções dos autores, dia após dia, sugerem uma circulação impressionante entre os mais diversos países. Freqüentadores que estão na América do Sul partem para África, Ásia, Oriente Médio. E, no que se refere à América do Sul, mostram o repetido trânsito por diversos países. Os mesmos viajantes circulam por Chile, Argentina, Brasil. Aliás, a integração da Argentina no circuito mundial de turismo sexual sugere uma circulação de viajantes à procura de sexo, análoga à realizada pelas prostitutas estrangeiras, no início do século XX, nas narrativas sobre o tráfico sexual nesse período.35 Assim, nos relatos de viagem desses turistas sexuais, Rio de Janeiro e Buenos Aires aparecem novamente interligadas no contexto da prostituição.

Nesse intercâmbio de informações é possível perceber como diversos fatores se integram nas delimitações relevantes em termos da escolha de países, regiões e locais a serem visitados pelos viajantes. As práticas sexuais possíveis de serem realizadas em certas regiões fazem parte desse conjunto de fatores.

Transgressões

No site, ocasionalmente, alguns usuários assumem a preferência por fetiches específicos. Outros afirmam utilizar brinquedos, como dildos, para brincar com as mulheres nativas que não têm costume de incorporar esses artefatos (e expressam certo orgulho por seu papel de "iniciadores"). Vários afirmam gostar de elementos bizarros/kinky, ou de práticas consideradas levemente sado. No entanto, o conjunto dos e-mails analisados mostra o predomínio de práticas sexuais, "universalmente" apreciadas. A habilidade na realização de sexo oral e a disposição para o sexo anal fazem parte do que alguns daqueles que afirmam transitar pela América do Sul denominam uma completa. Essas práticas são valorizadas precisamente por serem consideradas resistidas pelas mulheres "Ocidentais". Descrevendo, no item "Analmania" o relacionamento sexual com uma cubana e comparando as nativas desse país com as canadenses um usuário afirma:

Nada dessa merda canadense de "Meu esfíncter é um templo sagrado" dito pelas mocinhas do norte.36

Claudiusjb, 25/07/2002, linha de conversação: Havana July 2002: Buns'R Us, Cuba

Para alguns freqüentadores, o sexo sem camisinha, possibilidade aberta em certos lugares, geralmente os mais pobres, aparece como central fator de atração. Nesse sentido, e levantando reflexões sobre os efeitos das campanhas de saúde voltadas, sobretudo, para as trabalhadoras do sexo, Brasil e Argentina são considerados países difíceis.

Não gostei demais das prostitutas no Brasil porque em geral estavam obcecadas com a questão do preservativo.

Sim, o Paraguai é barato. Assunção foi avaliada como a capital mais barata do mundo no último junho. Outra grande vantagem para mim é que é relativamente fácil persuadir as prostitutas a fazer sexo "em pelo" [sem camisinha] (muito mais fácil do que no Brasil ou na Argentina).37

Yptoor 5/5/2003; 20/10/2003, Linha de conversação: Guide Asuncion with 20 pics/Asuncion/Paraguay

Isto não quer dizer que a AIDS não constitua uma preocupação no site. Contudo, mesmo os mongers preocupados com ela aconselham não exagerar. O uso do preservativo é considerado fundamental para qualquer penetração, mas a tendência geral é, além de considerar que o sexo oral não é tão perigoso, entender que certos riscos fazem parte do sport.

Prezados senhores, essas são minhas idéias sobre o assunto:

Uma vez mais: foda sempre com preservativo! Mas se não chupou sua xota ou teve uma completa chupada sem camisinha, você não a fodeu, ponto... Faça o teste quando voltar e considere como risco do esporte... ache seu nível de risco/conforto, seja responsável, não paranóico. Não fique em casa por medo de um BBBJ... Feliz mongering!38

Havana, 13/12/2002, Linha de conversação: "Termas 65 com descontos para múltiplas visitas"

No âmbito da América do Sul, outras particularidades tais como as festas, orgias com várias garotas, nas quais os mongers participam sós ou acompanhados por outros mongers, (festinhas, troca de casais, surubas), são vinculadas, particularmente, às possibilidades abertas pelo Brasil e, de maneira mais específica, o Rio de Janeiro, considerado a Meca do sexo profissional nessa região. No entanto, os aspectos que guiam a circulação desses turistas pelo mundo, particularmente daqueles empenhados em saborear o gosto das aventuras extremas, não se restringem à possibilidade de práticas específicas, nem sequer das que em termos gerais são mais apreciadas, tais como as práticas sem uso de camisinha. Paraguai aparece como o lugar, na América do Sul, no qual isto é possível, em função da extrema pobreza.

Acho que você pode obter quase qualquer coisa que quiser no Paraguai. Faça as contas. A vida no Brasil é dura, é bem mais dura no Paraguai. A fome faz estranhos companheiros.39

Garotoz, 6/05/2003, Linha de conversação: Asuncion/ Paraguay

No entanto, apesar dessa possibilidade e de oferecer o sexo considerado como mais barato na América do Sul, o Paraguai não se "firma", no âmbito da região, como destino favorito entre os viajantes à procura de sexo na região.

As trocas de mensagens sobre os lugares considerados mais "exóticos", como Quênia mostram que, para alguns desses viajantes, o sabor do ainda não conhecido, virgem, não tocado por outros turistas supera o valor concedido a determinadas posições ou espaços de penetração. E, nessas circunstâncias, os usuários do site são capazes de tolerar comportamentos altamente restritivos, inclusive quando se trata de prostitutas. Um expert em África descreve sem irritação os hábitos e limitações das garotas de bares em Etiópia, no que se refere às posições aceitas e aos graus de nudez:

Mudar de posição também é um problema, pois elas preferem só a do missionário. Muitas não gostam de beijar (lembre-se elas pensam que você veio para ejacular) e algumas não gostam de beijos nos seios e no corpo. Dou um exemplo bem vívido: se você for com uma menina por certo tempo, ela se despe da cintura para baixo, mas fica de camiseta. Ela recusará a despir-se completamente, esperando que você estimule seu pênis até que fique ereto, ponha o preservativo, a foda e ejacule.40

Blackion, 26/05/2005, Linha de conversação: Etiópia- A Última Palavra em Guia Sexual

Detive-me nas práticas dos usuários do site porque elas são sugestivas quando confrontadas com as idéias correntes sobre os turistas sexuais. A percepção de que esses viajantes procuram predominantemente sexo com crianças e práticas violentas e bizarras, enquadrando-se nos degraus inferiores das sexualidades estigmatizadas41, se torna mais complexa à luz do material veiculado no site. O espírito de transgressão permeia a troca de mensagens entre os usuários, mas mais do que as práticas específicas ele está associado, sobretudo, à possibilidade de escapar às normas de relacionamento consideradas "Ocidentais" por esses viajantes. Trata-se de fugir dos relacionamentos com mulheres em situação equivalente em termos de localização, classe, idade e cor. Este objetivo é justificado através de um jogo no qual a cor e o estilo de mulheres de lugares não "Ocidentais" são aparentemente valorizados. No entanto, essa ilusão se desvanece ao considerar que ela se produz reduzindo essas mulheres a órgãos genitais.

A xota canadense é a pior do mundo. Tenho que concordar com o que outros disseram. Uma vez que você tenha estado em Cuba ou no Brasil não há como voltar para essas vagabundas pálidas.42

OhCanada, 04/10/1999, Linha de conversação: As Dez Melhores Razões Porque as Mulheres Cubanas são Melhores que as Canadenses (ou Americanas)

E trata-se, sobretudo, de evitar os relacionamentos estáveis, permeados por sentimentos. No site, o mercado sexual global é apresentado como marcado por substantivas distinções. Uma das principais diferenças é a maneira como as mulheres se inserem nele. A produção sobre turismo sexual aponta para um aspecto deste tipo de turismo que é muitas vezes ignorado nas discussões sobre a temática. Refiro-me ao fato de que, embora o turismo sexual se intersecte com a prostituição não se restringe a ela.43 Essa observação, amplamente ratificada no que se refere ao Nordeste do Brasil nas pesquisas que realizei em Fortaleza, é evidente no WSA.

No site, essa delimitação, recorrente e importante, distingue prostitutas, não prostitutas e semi-profissionais. Essas últimas são garotas que, contando com emprego, procuram algum dinheiro extra com os turistas estrangeiros e, ocasionalmente, contam com um grau de instrução relativamente mais elevado. No site, algumas regiões são percebidas como tornando o acesso às não prostitutas praticamente impossível. É o caso de Buenos Aires e, no Brasil, de cidades do Sul tais como Florianópolis e Curitiba, cidades tidas como marcadas pela ascendência européia, nas quais as garotas não se deslumbram com estrangeiros. Outras regiões do mundo são consideradas como eminentemente povoadas por prostitutas. Pattaya, conhecido resort da Tailândia é um dos exemplos mais extremos dessa idéia.

Para alguns viajantes, a distinção entre umas e outras garotas não faz diferença. Para muitos usuários, o importante é aceder a uma GFE (Girl friend experience), relacionando-se com mulheres às quais se trata como namoradas, sem importar se são ou não prostitutas. Nessa situação, considerada ideal e de difícil obtenção, as garotas passam dias ou semanas com os turistas. São situações que não envolvem contratos de pagamento estabelecidos por hora ou dia. Os mongers dão algum dinheiro no final do encontro, cuidando das garotas, em termos financeiros, durante o tempo que passam com elas. Além de serem consideradas mais econômicas, essas situações oferecem companhia altamente valorizada por alguns dos freqüentadores e um certo grau de envolvimento afetivo, por parte das garotas, considerado importante para maximizar a entrega sexual delas. No entanto, é tido como fundamental que o envolvimento afetivo seja da garota e não do monger.

Alguns freqüentadores valorizam a prática do hobby com non pro's em função de possibilitar sexo mais "econômico". Além disso, esses encontros são considerados à maneira de um plus de prazer (com uma pro se negocia, uma non-pro apresenta o desafio de ter que ser seduzida). Entre esses usuários, porém, alguns preferem as profissionais porque consideram que elas poupam dinheiro, tempo e energia. Seja qual for a preferência, em linhas de conversação dedicadas a um ou outro país, a importância de não enganar-se em relação ao caráter dos relacionamentos é recorrentemente ressaltada e, sobretudo, a relevância de manter o distanciamento afetivo.

Fronteiras etno-sexuais

Quais são as características das linhas que demarcam os lugares apreciados para esse tipo de consumo de sexo? Como se constrói a fronteira entre espaços que atraem esse tipo de viajantes e aqueles que, imersos em condições políticas e econômicas análogas, não o fazem?

O conjunto de e-mails aponta para a relevância de relações custo/benefício no consumo do sexo na construção dessas linhas. Nessas relações, a pobreza de regiões e países, somada ao fato de oferecem "novos" territórios a serem desbravados (mas não excessivamente inseguros) e as práticas sexuais possíveis neles adquirem importância. Todavia, nessas relações há outros critérios da máxima relevância, referidos à atração erótica vinculada a estilos de corporalidade associados a certos lugares.

O intercâmbio de mensagens sugere convergências em termos de rejeitar a gordura feminina, assim como a procura de mulheres que não superem a casa dos 20 anos. Muito ocasionalmente algum viajante manifesta seu interesse por mulheres mais velhas, tidas como mais experientes e por corpos mais volumosos. No marco dessas convergências, escolhem-se lugares na base de distinções expressadas em classificações, em uma hierarquia construída em torno dos aspectos acima mencionados e da "qualidade" das mulheres, item no qual participam o aspecto, a juventude e o fato de ter vaginas apertadas, motivo pelo as mulheres que não foram mães são particularmente valorizadas e os estilos de sexualidade.

O conjunto dessas qualidades está vinculado a características associadas a regiões e nacionalidades, singularizados em uma perspectiva comparativa. Nelas, os estilos corporais estão longe de serem avaliados de maneira uniforme.

Alguns freqüentadores deixam clara sua preferência pela brancura, corporificada em mulheres dos países do Norte, de peitos grandes. No entanto, elas são percebidas como inacessíveis, por não estarem inseridas no mercado sexual. As trocas de mensagens desses usuários mostram como, nesses casos, as mulheres do "Terceiro Mundo" operam à maneira de possibilidade de satisfação sexual de segunda classe (27/07/2002, linha de conversação Trip to Lima/Peru, consultado em 10/06/2003).

A partir da minha experiência, acredito que você vai encontrar o maior número de garotas de seios grandes na Europa, especialmente em países do norte, como Inglaterra, Holanda, Dinamarca, Alemanha, Polônia mas elas não são prostitutas, então a única coisa que posso fazer é sonhar em tocar os grandes seios macios!...

Yptoor, eu adoraria visitar esses países do norte da Europa mas o custo de vida é tão alto se não mais alto do que aqui nos EUA. É por isso que em geral fico pelo 3º mundo.44

Esses visitantes tendem a desvalorizar os tipos corporais associados à África e a certos países de América do Sul, associados a um grau extremo de pobreza que, segundo eles, se expressa na corporalidade, na pele, com acne, e em diferentes tipos de marcas ou no formato de peitos e bundas.

Eu tenho vivido em Nairobi (Quênia) nos últimos 10 anos, e acho que estou bem qualificado para falar do assunto. ... Um paraíso? Se você não se preocupar com os detalhes, é. Se você espera finesse, discussões filosóficas pós-coito, rostos delicados e pele lisa, esqueça! Infelizmente [a maioria] dessas meninas vive em condições extremamente baixas de higiene – espere só para vê-las nuas para perceber isso: acne, cicatrizes, feridas, marcas de todo tipo ("O que são todas essas cicatrizes no seu peito?" "A antiga mulher do meu marido me mordeu" – dei um jeito de afagá-la [estilo cachorrinho] só por causa da graça da situação).

Você ganha o que você paga, como sempre...

Ainda procuro meninas brancas, o único lugar em que as encontrei (moças asiáticas, não dos países ocidentais) foi o "Cherry, em Westlands E, se você tiver alguma informação sobre meninas ocidentais aqui no Quênia, por favor, me informe!!45

ENT January 10, 2001, Linha de conversação: Kenya: Nairobi

Nos termos do yptor, referindo-se às mulheres que encontrou no Paraguai:

Infelizmente não há quase mulheres de grandes tetas por aqui!... A maioria das mulheres tem bundas gordas e tetas pequenas Imagino que tem a ver com a pobreza: ser rico = comer muita carne = tetas crescidas. Não tenho outra explicação.46

Linha de conversação Guide Asuncion with 20 pics, 2/11/2003 e Escorts in Asuncion/Paraguai, 21/10/2003

A valorização positiva dos corpos mais "claros" é evidente também nos e-mails que tratam do Brasil, nos quais são comparadas as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. São Paulo é descrita como oferecendo com grande diversidade mulheres, loiras e castanhas, enquanto o Rio apresenta muitas mais mulatas ou negras, que embora apareçam como mais disponíveis para o sexo, são consideradas inferiores, em termos de beleza.47 Contudo, alguns usuários optam por "outros" tipos físicos. As cores mais escuras, associadas a uma hiper-sexualização "natural", podem chegar a determinar a preferência por certas regiões do mundo.

África sub-sahariana. O sexo não é uma coisa sagrada para eles, é parte da vida diária – como comer, beber e foder. Sua cultura também tolera parceitos múltiplos a até o encoraja. Um amigo meu descreveu sua atitude em relação ao sexo como "um negro convida uma negra a fazer sexo da mesma forma que um branco convidaria uma branca para uma xícara de chá".48

Gordon, January 12, Linha de conversação: Kenya: Nairobi

A atribuição de uma intensa sexualidade é sempre racializada. No entanto, em certas circunstâncias os aspectos que adquirem centralidade nestes processos são os traços culturais, essencializados, associados a certos países e/ou regiões. Citando um handbook sobre Cuba, difundido entre os usuários do site, um usuário afirma:

Cuba é uma sociedade sexualmente permissiva Os homens e mulheres cubanos transpiram um erotismo gozoso que transcende as aflições da América do Norte essencialmente puritana. A sedução é um passatempo nacional adotado por ambos os sexos... A promiscuidade é desenfreada. O amor não está associado ao sexo. E ambos os gêneros são extremamente audaciosos... As mulheres cubanas não caminham, ondulam A literatura cubana está repleta de referências às "nádegas cubanas" – a bunda cubana – em geral redonda e pertencendo a uma mulata cheínha.49

Izzo, 06/10/1999, As Dez Melhores Razões Porque as Mulheres Cubanas são Melhores que as Canadenses (ou Americanas)!!/Cuba

Há pouco tempo, uma jovem cubana me disse: "uma menina cubana sempre fode uma vez por dia, tem que foder, não importa com quem, ela simplesmente fode uma vez por dia".50

Zomba, 12/12/1999, linha de conversação: As 10 Melhores Razões Porque as Mulheres Cubanas são Melhores que as Canadenses (e as Americanas)!!/Cuba

No que se refere à América Latina, a sexualização tende a ser vinculada a uma certa tropicalidade. Este aspecto fica claro nas mensagens relativas aos países andinos, nas quais as regiões da selva são preferidas às do altiplano, percebidas como excessivamente "indígenas" e, portanto, pouco "quentes". Nesse quadro, os corpos femininos, associados à flora e fauna regionais, adquirem os atributos dos animais com os quais são comparados.

Acabo de voltar de Lima, e me diverti muito. Peguei uma menina de "la selva", uma cobra na cama, corpo sólido e compacta.51

El Colorao, 05/05/2003, Linha de conversação Trip to Lima/Peru

Os procedimentos de sexualização, porém, atingem também as latino-americanas com pele tida como mais clara, mostrando a diversificação dos procedimentos de racialização que permeiam o percurso desses viajantes. É importante destacar que não se trata aqui do conhecido procedimento de "obscurecer" fenótipos "claros", na base da associação a alguma nacionalidade ou região, como nos casos em que o Brasil e seus habitantes, para além das tonalidades da pele, são considerados intrinsecamente "morenos".52 Trata-se de inferiorizar mulheres cujas peles são percebidas como claras/caucásicas (um aspecto que é destacado uma e outra vez), na base da atribuição de traços culturais ou étnicos. Esses traços, associados à região, adquirem predominância na constituição dos estilos de sexualidade.

Estes procedimentos adquirem sentido considerando os novos processos de racialização mediante os quais são inferiorizados, na Europa, migrantes considerados de pele clara. Antes de explorar essa relação, porém, é necessário fazer uma observação sobre a noção de racialização. As abordagens que utilizaram essa noção para referir-se exclusivamente aos grupos inferiorizados por corporificar cores consideradas escuras são contestadas hoje. Assinalando que os processos de racialização são historicamente específicos e se baseiam em diferentes significadores da diferença, Avtar Brah afirma que não só os negros, mas também os brancos experienciam gênero, classe e sexualidade através da "raça" (embora a racialização da subjetividade branca nem sempre seja aparente para os grupos brancos, porque "branco" tende a ser um significante da dominância). E se em certo momento essa noção contemplou os grupos inferiorizados a partir de seus aspectos fenotípicos53, os recentes processos de racialização vinculados às novas migrações, na Europa, mostram procedimentos que situam em posições de desigualdade grupos cujas peles são tidas como claras (originários, por exemplo, no Leste da Europa) inferiorizando-os, sobretudo, em termos "étnicos" ou "culturais".54 Esses traços, essencializados, não se referem ao fenótipo, mas não deixam de ter como referência a idéia de uma "raça" natural e imutável.

Ao tratarem de Buenos Aires, os usuários do site mostram um procedimento análogo no que se refere a mulheres da América do Sul. Isto é evidente nas mensagens dos viajantes que apreciam especialmente os traços europeus atribuídos a uruguaias e argentinas, percebidos como aspectos fenotípicos que se articulam a estilos de sexualidade latinos.

Essas meninas são ótimas. A Argentina e o Uruguai são conhecidos por latinas quentes com aparência européia – que combinação!! (Nada de racismo, eu simplesmente prefiro em geral mulheres caucasianas, especialmente loiras).55

Tbird2000, 28/03/2001Linha de conversação BA with pictures.

Tbird2000 – Você está dizendo que parecem européias mas fodem como latinask like Latinas? Que combinação! Agora eu realmente quero ir!56

pops, 17/09/2001, linha de conversação BA with pictures

A noite perfeita em Buenos Aires. Um passeio pelas ruas do centro, uma garrafa de bom vinho com um bife fantástico, seguido de uma rodada (ou duas ou três)de uma xoxota euro-latina.57

El Mujerista, 20/09/2001, Linha de conversação BA with pictures

No site Buenos Aires é considerada centro de prostitutas de alto nível, com preços comparativamente elevados (em torno de 40U$ por serviços de uma hora), concentradas em agências de escorts e em clubes e cafés da Recoleta, e do centro da cidade. Os e-mails sobre Argentina chamam a atenção para os traços fenotípicos e para o elevado nível educacional dessas mulheres, uma combinação que aparece incidindo no preço, tornando essas garotas caras e, além disso, diferentemente das nativas de outros países da América do Sul, arrogantes: "as mais espertas e manipuladoras no mundo, ainda mais que as russas ou ucranianas". (Che Nenê, 25/10/2003, Linha de conversação: Attitudes, Changes and the Latin AAA Farm System, consultado em 28/10/2003.)

Usuários com experiência em diversos países se queixam da dificuldade de estabelecerem relacionamentos GF com as argentinas, pois só podem ter acesso a profissionais. Vários reclamam da idade dessas mulheres, muitas na faixa dos 30 anos, quase o dobro da idade das garotas que se oferecem na Colômbia ou em Cuba. Outros se incomodam com o habito de fumar de muitas argentinas. No entanto, no site aumenta o número de mensagens nas quais as argentinas tendem a serem privilegiadas na base da estetização.

Recém estive no Rio e devo admitir que acho em geral as mulheres em BA com aparência superior.58

Da Puppy, 18 de março, 2003, Linha de conversação Sexo incrivelmente barato em BA

A beleza dessas mulheres, com ares europeus e, ao mesmo tempo, portadoras de uma latin sexuality (leia-se quase brancas), faz com que Buenos Aires seja situada entre as 5 ou 6 cidades do mundo nas quais a possibilidade de um encontro com uma beldade seja elevado, assim como Chang Mai, Bangkok, Djakarta, Varsóvia. Alguns viajantes preferem as brasileiras, considerando-as mais "passionais".

Gostei mais das brasileiras do que das argentinas elas são mais apaixonadas, gozam mais. Alguém me disse uma vez que, não só gostam de fazer amor, mas têm prazer em dar prazer aos homens.59

Skmsteve, 04/09/2002, Linha de conversação: What are girls looking for?

No entanto, a maioria dos usuários que manifestam suas opiniões sobre Argentina coincide em valorizar os estilos de corporalidade de pele clara associados às nativas deste país.

Eu acho realmente que BA é mais o lugar para mim. Não curto as faces do Rio e a pele mais escura, e essas meninas de BA nas fotografias que vi parecem mais belas e mais européias...60

Marak5 on Thursday, 3 de março, 2005, Linha de conversação Argentina: Ba vs. Rio?

Eu mesmo sou atraído pela aparência européia, de modo que BA parece melhor para mim. As meninas em BA parecem ter peitos bem dotados, mais que as européias. O melhor das duas raças: tetas grandes de latinas e a beleza das européias.61

jedbod on Thursday, April 07, 2005, Linha de conversação Argentina: BA vs Rio?

Apesar dos aspectos "negativos", Buenos Aires continua tornando-se um destino favorito na América do Sul para muitos usuários envolvidos no jogo de uma sexualização/racialização que torna inferiores mulheres "parecidas" às do Norte. Este estilo de relação com a diferença oferece elementos para compreender aspectos associados à veloz integração da Argentina nos circuitos mundiais de turismo sexual. Ela está, sem dúvida, vinculada à crise econômica, à desvalorização do dólar nesse país, que facilita o acesso a serviços sexuais, em uma cidade tida como mais "segura" que outras do Terceiro Mundo, com excelente comida y bebida, e esses são aspectos freqüentemente comentados pelos turistas sexuais. Mas, essa integração está associada, sobretudo, à valorização de um estilo de sexualidade tido como "quente" corporificada por mulheres cujo aspecto as aproxima àquelas que tendem a serem as mais valorizadas: as brancas e inacessíveis mulheres dos países do Norte.

Conclusão

Estimulando a procura por uma "autenticidade" turística corporificada em mulheres de diversas regiões do mundo, este site, longe de operar como substituto da sexualidade, viabiliza a materialização do contato sexual entre viajantes à procura de sexo e mulheres nativas. Funcionando como espaço de "socialização" coletiva, orienta, em escala global, a re-criação de códigos de sexualidade e masculinidade associados à supremacia branca e a uma certa idéia do Ocidental. Neste último sentido, a análise das mensagens trocadas entre esses viajantes referenda conclusões de inúmeras pesquisas sobre turistas à procura de sexo em diversas regiões do mundo. No entanto, o material, e essa é uma de suas singularidades, mostra de maneira particularmente clara a relevância que a prática do sexo distanciado do afeto adquire na manutenção das desigualdades, permeando este tipo de consumo de sexo. A vinculação entre sexo e sentimentos aparece como uma ameaça para esse estilo de masculinidade. Dessa ameaça, que se inicia em seus países de origem, tentam fugir mediante o consumo de sexo em "outras" partes do mundo. Considerando a recorrente insistência no tema, os freqüentes chamados de atenção para o perigo que esses encontros sexuais oferecem (inclusive os abertamente comerciais, seja na Tailândia, em Cuba, no Brasil ou na Argentina) quando os turistas "confundem" a natureza das interações, talvez seja uma ameaça da qual nem esse tipo extremo de viajantes consiga escapar.

O material analisado sugere que as alterações na geografia dos circuitos mundiais de turismo sexual estão vinculadas a uma série de fatores, nos quais o empobrecimento dos países do Sul é um aspecto da maior relevância. No entanto, a pobreza, nem sequer quando é extrema, tal como no caso do Paraguai, no Cone Sul, garante o "sucesso" de um novo centro de turismo sexual. No marco de certas condições econômicas, a imbricação entre traços étnico/regionais e estilos de sexualidade operam à maneira de atração para o surgimento de novos alvos. A produção de novos lugares, vinculada a esses traços, aparece regida por uma lógica que longe de restringir-se ao mundo da prostituição, se intersecta com uma lógica "turística". Um dos seus principais elementos é a busca de autenticidade nos lugares visitados, procurada na confluência entre traços alocados à nacionalidade/etnicidade/cor e estilos de sexualidade.

Embora sempre racializados, esses estilos não são homogêneos. Neste marco, coexistem processos diferenciados de racialização que participam na sexualização de diferentes estilos de corporalidade. As linhas de conversação sobre o Nordeste do Brasil que, comparadas com a quantidade impressionante de material sobre o Rio e, em grau um pouco menor, sobre São Paulo, ainda parecem incipientes, remetem a estilos de feminilidade associados a uma intensa sensualidade vinculada à cor morena, somados à clara percepção de como as desigualdades regionais afetam as jovens locais. Esses estilos de feminilidade, viabilizando o acesso a mulheres não profissionais, aparecem como aspectos que incidem no traçado de fronteiras dentro do Brasil.

Nesse mesmo marco, porém, surgem as mensagens que constroem Buenos Aires como novo destino para o consumo de sexo, povoado por mulheres caras, duras e exigentes, mas portadoras de uma quase-brancura que envolve, sem chegar a ocultar, um temperamento "quente". Os turistas a procura de sexo que privilegiam as argentinas sexualizam/racializam mulheres cujo fenótipo oferece a atração de uma certa proximidade, proporcionando a ilusão de inferiorizar mulheres próximas àquelas (desejadas e inacessíveis, nas condições de distanciamento afetivo e desigualdade por eles exigidas) de seus países de origem.

Recebido para publicação em setembro de 2005, aprovado em outubro de 2005.

Referências bibliográficas

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  • 2 BRENNAN, Denise. Tourism in Transnational Places: Dominican Sex Workers and German Sex Tourists Imagine One Another. Identities, vol. 7(4), 2001, pp.621-663;
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  • 4 PISCITELLI, Adriana. Périplos Tropicais. In: COSTA, Albertina. Homem, homens. São Paulo, Editora 34, (no prelo);
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  • 8 MULLINGS, Beverly. Globalization, tourism, and the International Sex Trade. In: KEMPADOO, Kamala. (ed.) Sun, Sex and Gold, Tourism and Sex Work in the Caribbean. Maryland, Rowman and Littlefield, 1999.
  • 9 NAGEL, Joane. Race, ethnicity and sexuality. Intimate Intersections, Forbidden Frontiers. New York, Oxford University Press, 2003.
  • 10 ESCOBAR, Arturo. Welcome to Cyberia: Notes on the Anthropology of Cyberculture. (pp.211-233) e STRATHERN, Marilyn. "Comments on Welcome to Cyberia", Notes on the Anthropology of Cyberculture. (pp.211-233) Current Anthropology, vol. 35, n° 3, June 1994;
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  • 12 HAMMAN, Robin: The application of Ethnographic Methodology in the Study of Cybersex. Cybersociology, issue 1, 1997, www.cybersociology.com.
  • 13 WITTEL, Andreas. Ethnography on the Move: From Field Net to Internet. Qualitative Social Research, vol. 1, n° 1, January 2000.
  • 16 Appadurai, Arjun. Modernity at large. Cultural Dimensions of Globalization. Minneapolis, University of Minnesota Press, 1996.
  • 17 DAVIDSON, Julia O'Connell. Sex Tourism in Cuba. Race and Class (38)1, 1996;
  • SILVA, Ana Paula e BLANCHETTE, Thaddeus Gregory. Prostituição e namoros internacionais em Copacabana. Anales del I Congreso Latinoamericano de Antropología, Universidad Nacional de Rosario, Argentina (CD), 2005.
  • 18 PISCITELLI, A. Periplos Tropicais. Op. cit.; e On Gringos and Natives... Op. cit., SEABRUCK, Jeremy. Travels in the skin trade. Tourism and the Sex Industry. Londres, Pluto Press, 2001 [1996].
  • 19 DIAS DUARTE, Luiz Fernando: A sexualidade nas ciências sociais. Leitura crítica das convenções. In: PISCITELLI, A.; GREGORI, M. F. e CARRARA, S. (orgs.) Sexualidades e saberes, convenções e fronteiras. Rio de Janeiro, Garamond, 2004.
  • 30 Ver: CAPARRÓS, Martin. Viajando se conoce gente. El turismo sexual: una costumbre de fin de siglo. Revista del Clarín, junio de 2000;
  • DELGADO, Daniel. Los turistas buscan sexo en Buenos Aires. Qué ciudad acogedora. TXT, año 1, n° 47, Buenos Aires, 06/02/2004;
  • El turismo sexual y sus falsas promesas para marear a chicas pobres. Clarín, 16/02/2004.
  • 35 PEREIRA, Cristiana Schettini. Fazer a vida na América do Sul: prostitutas e as histórias de tráfico de mulheres entre Rio de Janeiro e Buenos Aires. Projeto de pós-doutorado, 2003.
  • 41 RUBIN, Gayle. Thinking Sex: Notes for a Radical Theory of the Politcs of Sexuality. In: ABELOVE, H; BARALE, M. A. e HALPERIN, D. M. The Lesbian and Gay Studies Reader. NY/London, Routledge, 1992, [1984]
  • 43 OPPERMANN, Martin. Sex Tourism and prostitution, aspects of leisure, recreation and work, Cognizant Communication Corporation, 1998;
  • O'CONNEL DAVIDSON, Julia. Prostituiton, Power and Freedom. Cormwall, The University of Michigan Press, 1998.
  • 52 Ver PONTES, Luciana. Mulheres brasileiras na mídia portuguesa. cadernos pagu (23) cara, cor, corpo , Núcleo de Estudos de Gênero-Pagu/Unicamp, 2004, pp.229, 257
  • e BELELI, Iara. A marca Brasil. Anales del I Congreso Latinoamericano de Antropología, Universidad Nacional de Rosario, Argentina (CD), 2005.
  • 53 ANTHIAS, Floya e Yuval-Davis, Nira: Racialized Boundaries. Race, nation, gender, colour and class and the anti-racist struggle. Londres, Routledge, 1993.
  • 54 BRAH, Avtar. Cartographies of diaspora, constesting identities. Londres, Routledge, 1996.
  • 1
    ENLOE, Cynthia. Bananas, Beaches and Bases. Making Feminist Sense of International Politics. London, University of California Press, 2000 [1989]; THORBEK, Susanne. Prostitution in a Global Context: Changing patterns. In: THORBEK, Susanne & PATTANAIK, Bandana. Transnational prostitution. Changing global patterns. New York, Zed Books, 2002.
  • 2
    BRENNAN, Denise. Tourism in Transnational Places: Dominican Sex Workers and German Sex Tourists Imagine One Another. Identities, vol. 7(4), 2001, pp.621-663; KEMPADOO, Kamala. Gender, race and sex: Exoticism in the Caribbean. Text presented at the Symposium The Challenge of Difference: Articulating Gender, Race and Class, Salvador, Brazil, 2000; BISHOP, Ryan e ROBINSON, Lillian. Traveller's Tails: Sex diaries of tourists returning from Thailand. In: THORBEK, S. & PATTANAIK, B. Transnational prostitution... Op. cit.
  • 3
    "Paisagens sexuais: imagens do Brasil no marco do turismo sexual internacional", pesquisa financiada pelo CNPq e vinculada ao projeto temático Fapesp Gênero e corporalidades. Agradeço a colaboração das bolsistas do Pagu e, em particular, Aline Tavares, no levantamento do material. Agradeço também a contribuição de Ana Fonseca e os comentários de Mariza Corrêa, Iara Beleli, Monica Tarducci, Maria Filomena Gregori, Thadeus Blanchette, Patricia Diaz, Verena Stolcke, Virginia Maquieira, Teresa del Valle, Carmen Diez e Carmen Gregorio Gil.
  • 4
    PISCITELLI, Adriana. Périplos Tropicais. In: COSTA, Albertina. Homem, homens. São Paulo, Editora 34, (no prelo); On Gringos and Natives, gender and sexuality in the context of international sex tourism. Vibrant – Virtual Brazilian Anthropology, ano 1, 2004; Exotismo e autenticidade. Relatos de viajantes à procura de sexo. cadernos pagu, n° 19, Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu/Unicamp, 2002, pp.195-231.
  • 5
    Refiro-me a outros sites utilizados por esses viajantes tais como
  • 6
    QUAYLE, Ethel & TAYLOR, Max. Child Pornography and the internet: perpetuating a cycle of abuse. Deviant Behavior: An interdisciplinary Journal, nº 23, 2002, pp.331-361; GAUNTLETT, David. Digital Sexualities: a guide to internet resources. Sexualities, vol. 2(3), 1999, pp.327-332; KIBBY, Marjorie and COSTELLO, Brigid. Between the image and the act: interactive sex entertainment on the internet. Sexualities, vol. 4(3), 2001, pp.353-369; SAMPAIO, Anna & ARAGON, Janni. Filtered Feminisms, cybersex, E-commerce, and the Construction of Women's Bodies in Cyberspace. Women's Studies Quarterly, nºs 3 & 4, 2001, pp.126-147; CONSTABLE, Nicole. Romance on a Global Stage. Pen pals, virtual ethnography, and "mail order" marriages. California, University of California Press, 2003; BRENNAN, D. Tourism in Transnational Places... Op. cit.
  • 7
    BISHOP, R. e ROBINSON, L. Traveller's Tails... Op. cit.
  • 8
    MULLINGS, Beverly. Globalization, tourism, and the International Sex Trade. In: KEMPADOO, Kamala. (ed.) Sun, Sex and Gold, Tourism and Sex Work in the Caribbean. Maryland, Rowman and Littlefield, 1999.
  • 9
    NAGEL, Joane. Race, ethnicity and sexuality. Intimate Intersections, Forbidden Frontiers. New York, Oxford University Press, 2003.
  • 10
    ESCOBAR, Arturo. Welcome to Cyberia: Notes on the Anthropology of Cyberculture. (pp.211-233) e STRATHERN, Marilyn. "Comments on Welcome to Cyberia", Notes on the Anthropology of Cyberculture. (pp.211-233) Current Anthropology, vol. 35, n° 3, June 1994; GUIMARÃES, Mário Jr. O Cyberespaço como Cenário para as Ciências Sociais. Ilha, Revista de Antropologia, Florianópolis, vol. 2, n° 1, dezembro de 2000, pp.139-155.
  • 11
    CAVANAGH, Allison. Behaviour in Public?: Ethics in Online Ethnography. Cybersociology, issue six, 1999,
  • 12
    HAMMAN, Robin: The application of Ethnographic Methodology in the Study of Cybersex. Cybersociology, issue 1, 1997,
  • 13
    WITTEL, Andreas. Ethnography on the Move: From Field Net to Internet. Qualitative Social Research, vol. 1, n° 1, January 2000.
  • 14
    ID., IB.
  • 15
    THORBEK, S. Prostitution in a Global Context... Op. cit.
  • 16
    Appadurai, Arjun. Modernity at large. Cultural Dimensions of Globalization. Minneapolis, University of Minnesota Press, 1996.
  • 17
    DAVIDSON, Julia O'Connell. Sex Tourism in Cuba. Race and Class (38)1, 1996; SILVA, Ana Paula e BLANCHETTE, Thaddeus Gregory. Prostituição e namoros internacionais em Copacabana. Anales del I Congreso Latinoamericano de Antropología, Universidad Nacional de Rosario, Argentina (CD), 2005.
  • 18
    PISCITELLI, A. Periplos Tropicais. Op. cit.; e On Gringos and Natives... Op. cit., SEABRUCK, Jeremy. Travels in the skin trade. Tourism and the Sex Industry. Londres, Pluto Press, 2001 [1996].
  • 19
    DIAS DUARTE, Luiz Fernando: A sexualidade nas ciências sociais. Leitura crítica das convenções. In: PISCITELLI, A.; GREGORI, M. F. e CARRARA, S. (orgs.) Sexualidades e saberes, convenções e fronteiras. Rio de Janeiro, Garamond, 2004.
  • 20
    Em agosto de 2003 recebi alguns e-mails, em inglês, solicitando ampliação de informações por parte de um leitor de algum texto que escrevi sobre turismo sexual, em Fortaleza. Achei estranho o nome do usuário que aparecia na tela, bom boa e o estilo de apresentação na solicitação de informação. Respondendo minhas perguntas, meu correspondente declarou ter achado meu texto no departamento de estudos brasileiros de uma universidade estadounidense e estar trabalhando em uma pesquisa sobre o assunto. Na medida em que fui avançando na pesquisa do site fui percebendo que o nome desse usuário aparecia nas linhas de discussão do Brasil. E, finalmente, quando achei o endereço eletrônico do usuário em um mail no site e o comparei com o registrado em meu computador me dei conta de que, de fato, bom boa, um ativo monger, estava lendo bibliografia acadêmica sobre os novos espaços que desejava "experienciar" e, ainda, entrando em contato com pesquisadores, como eu, para o melhor aproveitamento dessas experiências.
  • 21
    Women in western countries are spoiled bitches. They get far too much and give too little. They know they can treat their men like shit. Do you know why a woman smiles on her Wedding day? She knows she will not have to give blowjobs. World Sex Archives preview.
  • 22
    Essa página web inclui mensagens, em número infinitamente menor, sobre consumo de sexo em países da Europa e América do Norte. Essas regiões não foram incluídas neste cálculo, realizado na base do total de mensagens trocadas sobre cada um dos países de América Central, do Sul e Caribe, África e Ásia.
  • 23
    Until two years ago I always viewed mongering as a necessary evil. It was always an activity I had to enjoy alone, that I could not talk about. Other guys would talk about football or cars, I would be thinking of pussy. I joined this board at the same time I took my first Rio trip. I have changed dramatically knowing there is a place in the world with probably tens of thousands of beautiful working girls and thousands of fellow mongers like me. Is there life after Rio/Brazil? (Consultado em 18/05/2004.)
  • 24
    I saw something interesting in Diani Beach south of Mombasa on the coast. I saw two upmarket European women (one was drop dead gorgeous) with male prostitutes – tall black Masai men dressed up in their traditional garments. If I had had my camera with me I would have taken a picture of them and posted it here. I had read about this before, but it was the first time I have actually seen it in real life. (Consultado em julho, 2005.)
  • 25
    She was past her time, probably lade 40s. He is in his 30s. She treated my Cuban friend like a pet even though he was far more intelligent and more educated than her. She talked down to him, told him she did not like fucking him, held off with sex, played the usual head games we are so used to. She considered myself and the other male tourists to be scum and told all Cubans this. Seems when a female goes to Cuba and fucks a younger man it is a romantic vacation, but when a man goes to Cuba and fucks Cuban women we are "sex tourists" and the "worse people in society that all other Canadians are ashamed of" (her words). (Consultado em 10/08/2004.)
  • 26
    Most of the customers in these places are Chinese Malaysians or Singaporeans. Most of the girls prefer Chinese to farangs: they have smaller dicks, make them work less (work means "fuck" in Hat Yai!) and give bigger tips. (Consultado em agosto, 2005.)
  • 27
    Anyway guys, even if the legal age of consent would be 5, I think that it is immoral to have money-sex with a girl under 18... for the simple reason that a girl under a certain age is not able to decide in a free way if she wants to have sex with you (Consultado em 15/06/2004.)
  • 28
    Federal Police recently completed a thorough investigation of prostitution in Fortaleza, video-taping all foreigners arriving at the airport, sending in undercover agents to massage parlors and flats, interviewing garotas de programa, and writing a detailed report that has recently been made available to the media. Most of it was focused on Lula's declaration to stop child prostitution. But the heat is definitely on the owners of Café del Mar, Africa, etc., regardless of the fact that they card the girls. Expect Major Fortaleza Crackdown.
  • 29
    I read Montevideo and Uruguay are hurting from the Argentina crash. Many opportunities there. (Consultado em 15/06/2004.)
  • 30
    Ver: CAPARRÓS, Martin. Viajando se conoce gente. El turismo sexual: una costumbre de fin de siglo. Revista del Clarín, junio de 2000; DELGADO, Daniel. Los turistas buscan sexo en Buenos Aires. Qué ciudad acogedora. TXT, año 1, n° 47, Buenos Aires, 06/02/2004; El turismo sexual y sus falsas promesas para marear a chicas pobres. Clarín, 16/02/2004.
  • 31
    I recommend that you visit São Paulo One important thing to consider: the top non-pro dance clubs in Sampa are typically filled with middle to upper class girls only. For these girls CLASS matters. In other words, even if you are a good looking guy but seem like you don't belong to their "class", they will ignore you, Tourists fall into this non-wanted category as well. (Consultado em 18/05/2004.)
  • 32
    Your expectations were too high, blondes are hunted in Brazil by the rich elite, and quite sought after in general. Picking a non-pro loira from Curitiba, especially with little Brazil knowledge, is not easy. For a lon term GFE a better bet may have been the Northeast where the girls are poor, used to hanging out with gringos they can barely communicate with, and don't do much during the day other than do programs, but of course these girls tend to be mulatas and morenas. I suggest you relocate to the Northeast you are looking in the wrong places (Consultado em 18/05/2004.)
  • 33
    Completely off the beaten track. You may go to Samburu District to such villages as Larata B, Ndyondo Wasin, Ngilai. These villages are far from the main roads and Samburu people over there continue their tradition al way of living The ladies there go almost always naked from waist up and you will see their sweaty boobs. They don't feel any shyness, as it's their traditional garments The girls can ask you about anything: piece of soap, honey, mirror. The use of money is somewhat limited around there. If you would like to marry a lady there – nothing is easier. You need to buy 10 cows, which is for the dowry Ultimately out of the beaten track. You may go to Gabgra Tribe Their girls have lighter skin than Samburu and the dowry is smaller – only 3 camels. A Guide to Sex Scene in Kenya, 4
    th edition. (Consultado em julho, 2005.)
  • 34
    I shudder to think of the swath you would cut in that nearly untouched virgin territory. "BBBJ etiquette"/Brazil
    . (Consultado em 18/05/2004)
  • 35
    PEREIRA, Cristiana Schettini. Fazer a vida na América do Sul: prostitutas e as histórias de tráfico de mulheres entre Rio de Janeiro e Buenos Aires. Projeto de pós-doutorado, 2003.
  • 36
    None of this Canadian "My sphincter is a sacred temple" crap uttered by the northern lassies. (Consultado em 13/08/2004.)
  • 37
    I didn't like the prostitutes in Brazil too much as they generally were very obsessed by the condom issue.
    Yes, Paraguay is cheap. Asuncion was ranked as the cheapest (capital) city in the world last June. Another big advantage for me is that it is relatively easy to persuade the hookers to have bareback sex (much easier than in Brazil or Argentina). Guide Asuncion with 20 pics/Asuncion/Paraguay (Consultado em 15/06/2004.)
  • 38
    Dear Sirs, these are my thoughts on this subject: Once again: always fuck with condom! But you have not eaten her pussy or gotten a complete BBBJ you have not fucked her, period Test yourself once home and consider it as a risk of the sport find your own risk/comfort level, be responsible, not paranoid. Don't stay home because you are afraid of a terma BBBJ Happy mongering! Termas 65 with discounts for multiple visits. (Consultado em 18/05/2004.)
  • 39
    I think you can get about anything that you want in Paraguay. Do the math. Life in Brazil is hard, it is a lot harder in Paraguay. Starvation makes strange bedfellows. (Consultado em 15/06/2004.)
  • 40
    Changing positions also seems to be a problem, as they prefer only missionary. Many wouldn't like kissing (remember, they think you came only in order to ejaculate) and some wouldn't even like to have their nipples/bodies kissed. I should give you a very vivid example: if you go with a girl for a short time, the lady will undress from the waist down, but will remain in t-shirt. She will refuse to be fully undressed and she will be expecting that you stimulate your penis until it will become erected, put condom, fuck her and ejaculate. Ethiopia – The Ultimate Sex Guide. (Consultado em julho, 2005.)
  • 41
    RUBIN, Gayle. Thinking Sex: Notes for a Radical Theory of the Politcs of Sexuality. In: ABELOVE, H; BARALE, M. A. e HALPERIN, D. M. The Lesbian and Gay Studies Reader. NY/London, Routledge, 1992, [1984]
  • 42
    Canadian pussy is the worst in the world. I have to agree with what others have said. Once you have been to Cuba or Brazil there is no coming back to these pale bitches. Top Ten Reasons Cuban Women are Better than Canadian (or American) Women. (Consultado em 10/08/2004.)
  • 43
    OPPERMANN, Martin. Sex Tourism and prostitution, aspects of leisure, recreation and work, Cognizant Communication Corporation, 1998; O'CONNEL DAVIDSON, Julia. Prostituiton, Power and Freedom. Cormwall, The University of Michigan Press, 1998.
  • 44
    From my experienceI believe that you will find the biggest number of big breasted girls in Europe, especially in Northern countries like England, Netherlands, Denmark, Germany, Poland... but these are not prostitutes though, so the only thing I can do is dream about touching those soft biggies! Yptoor, I would love to visit those northern Euro countries but the cost of living is just as high if not more costly than here in the USA. This is why I usually stick to the 3
    rd. World.
  • 45
    I have been living in Nairobi (Kenya) for the last 10 years now, and I guess I am pretty qualified to speak on the matter... A paradise? If you don't care about the details, yes. If you pretend finesse, post-coital philosophical discussions, delicate faces and smooth skin, forget about it! Unfortunately [most of] those girls live in dramatically low hygiene conditions – just wait to see them naked to realize this: acne, scars, wounds, marks of all kind ("What are all those scars on your chest?" "The former wife of my husband bitted me" – I managed to fondle her anyway [doggy style] just because of the humorous side of the situation). You get what you paid for, as usual I am still looking for white girls, the only place where I found them (asian ladies, not from western countries) was the "Cherry", in Westlands And, if you have any information on Western girls here in Kenya, please let me know!! (Consultado em agosto, 2005.)
  • 46
    Unfortunately there are hardly any big titted women here!... Most women have fat asses and small tits I guess it has to do with poverty: being rich = eating a lot of meat = growing big tits. I don't have any other explanation. (Consultado em 15/06/2004.)
  • 47
    ssbc, 17/03/2003; Linha de conversação: Termas 65 with discounts for multiple visits/Brazil; consultado em 18/05/2004.
  • 48
    Sub-Saharan África. Sex is not a sacred thing for them, it is a part of daily life – like eating, drinking and fucking. Their culture also tolerates multiple partners and even encourages it. A friend of mine described their attitude to sex as "a black man will ask a black woman for sex as easily as a white man would ask a white woman for a cup of tea". (Consultado em agosto, 2005.)
  • 49
    Cuba is a sexually permissive society... Cuban men and women alike pervade a joyous eroticism that transcends the hang-ups of essentially puritanical Europe of North America. Seduction is a national pastime pursued by both sexes. Promiscuity is rampant Love is not associated with sex. And both genders are unusually bold Cuban women don't walk, they sway Cuban literature overflows with references to "las nalgas cubanas" – the Cuban ass – usually plump and belonging to a wel rounded mulatto. (Consultado em 10/08/2004.)
  • 50
    Not long ago, a Cuban girl told me: "A Cuban girl always fucks one time a day, has to fuck, no matter who, she simply fucks one time a day". (Consultado em 10/08/2004.)
  • 51
    I just came back from Lima, and I had a great time. I took one girl from la selva, a snake in bed, very solid body and compact. Trip to Lima/Peru. (Consultado em 10/06/2003.)
  • 52
    Ver PONTES, Luciana. Mulheres brasileiras na mídia portuguesa. cadernos pagu (23) –cara, cor, corpo –, Núcleo de Estudos de Gênero-Pagu/Unicamp, 2004, pp.229, 257 e BELELI, Iara. A marca Brasil. Anales del I Congreso Latinoamericano de Antropología, Universidad Nacional de Rosario, Argentina (CD), 2005.
  • 53
    ANTHIAS, Floya e Yuval-Davis, Nira: Racialized Boundaries. Race, nation, gender, colour and class and the anti-racist struggle. Londres, Routledge, 1993.
  • 54
    BRAH, Avtar. Cartographies of diaspora, constesting identities. Londres, Routledge, 1996.
  • 55
    These chicks are great. Argentina and Uruguay are known for hot Latinas with European looks – what a combo!! (Nothing racist intended here, I simply generally prefer Caucasian women, blondes especially). BA with pictures.
  • 56
    Tbird2000 – So you are saying these girls look like Europeans but fuck like Latinas? What a combination! Now I really want to go! BA with pictures.
  • 57
    The perfect night in Bs. As.. A leisurely stroll down the streets in the center, a bottle of fine wine with a fantastic steak, followed by a round (or two or three) of Euro-Latina pussy. El Mujerista, BAS with pictures.
  • 58
    I have just been in Rio and must admit that I think overall the women in BA are superior in looks.
  • 59
    I liked Brazilian women over Argentinas they are just more passionate, and enjoy it more. Someone once told me that, not only do women love to make love, but that they take pleasure out of giving pleasure to men. What are girls looking for?
  • 60
    I really think BA is more the place for me. I don't so much dig the Rio faces and darker skin and these BA girls I have seen pictures of look a lot fairer and more European
  • 61
    I am attracted to the European look more myself, so BA looks better to me. The girls in BA look to have well endowed chest, where as most Europeans do not. The best of both races large tits of Latins and the fair look of Europeans.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Nov 2005
    • Data do Fascículo
      Dez 2005
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