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A mulher do garimpo: o romance autobiográfico de Nenê Macaggi em Roraima*

Resumo

Este texto se propõe a contextualizar e analisar o romance de Maria (Nenê) Macaggi (1913-2003), A mulher do garimpo: o romance no extremo sertão do Amazonas , publicado em 1976 pela Imprensa Oficial de Manaus, traçando um paralelo com a trajetória biográfica da autora. Na década de 1940, Nenê Macaggi participou de uma expedição à região norte do país e acabou se estabelecendo em Roraima. Foi na região dos rios Tepequém e Cotingo que Nenê conheceu o garimpo e trabalhou como indigenista para o Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Vários trechos da narrativa ficcional da autora ressoam da sua trajetória e, a partir do romance, é possível também pensar aspectos históricos e de gênero sobre o garimpo (atualmente chamado também de mineração de pequena escala) nessa região. O livro conta a história de dois personagens: Ádria, órfã nascida num cortiço do Rio de Janeiro e criada como menino, “virando” assim José Otávio, que quando adulto migra para a região amazônica, viajando por várias cidades, parando em um garimpo do então Território Federal do Rio Branco, hoje estado de Roraima; e Pedro Rocha, cearense migrante para o norte do país, que se torna garimpeiro, mas também extrativista das riquezas naturais amazônicas: seringa, caucho, castanha e balata. O presente artigo pretende ainda extrair informações sobre o garimpo e os garimpeiros roraimenses na segunda metade do século XX, a partir das descrições de alguns capítulos do romance que apresentam elementos que podem ser destacados no universo do garimpo da região, vinculados à época, que possam vir a colaborar para uma melhor compreensão histórica da mineração artesanal ou garimpagem desta região. Dividido em duas partes, trajetória e romance, o artigo tenta relacionar texto literário e elementos biográficos da atuação da romancista em relação ao garimpo, a fim de explorar sua proximidade com o contexto e a história do tema do garimpo em Roraima.

Nenê Macaggi; Mulher e garimpo; Garimpo em Roraima

Abstract

This text proposes to contextualize and analyze the novel by Maria (Nenê) Macaggi (1913-2003), “ A mulher do garimpo: o romance no extremo sertão do Amazonas ” (The woman from the garimpo: the romance in the Amazon’s extreme backlands), published in 1976 by the Official Press of Manaus, drawing a parallel with the author’s biographical trajectory. In the 40’s, Nenê Macaggi participated in an expedition to the northern region of the country and ended up settling in Roraima. It was in the region of the Tepequem and Cotingo rivers, where Nenê discovered the garimpo and worked as an indigenist for the Indian Protection Service (SPI). Several excerpts from the author’s fictional narrative resonate with her trajectory and based on the novel, it is possible to think about historical and gender aspects of artisanal small-scale mining, currently also called garimpo in Brazil. The book tells the story of two characters: Ádria, an orphan born in a tenement in Rio de Janeiro. She was raised as a boy, thus “turning” into José Otávio. As an adult, he migrates to the Amazon region, traveling through several cities, stopping at a mine located at the time in the Territory of Rio Branco, today the State of Roraima. Also Pedro Rocha, a migrant from Ceará to the north of the country, who became a gold miner, but also an extractor of the Amazon’s natural riches: rubber tree, natural rubber (caucho and balata) and Brazilnut. The present article also intends to extract information about the garimpo and the gold miners in Roraima, in the second half of the 20th century, present in the descriptions of some chapters of the novel. By presenting elements that can be highlighted in the universe of the garimpo of this region and time, which may come to collaborate towards a better historical understanding of artisanal mining or prospecting in this region. Divided into two parts: trajectory and novel, the article tries to relate literary text and biographical elements of the novelist's work in relation to mining, in order to explore its proximity to the context and history of the mining theme in Roraima.

Nenê Macaggi; Woman and garimpo ; Garimpo in Roraima

À Mariza Corrêa (in memoriam)

Introdução

Este trabalho, apresentado em duas partes– trajetória e romance –, tem como objetivo analisar as informações e dados relevantes do romance e da biografia de Maria (Nenê) Macaggi, buscando compreender melhor o cotidiano do garimpo (também chamada de mineração de pequena escala, na Amazônia), a partir da década de 1940, na região de Roraima e, como pano de fundo, a participação feminina nesses contextos.

A trajetória

No garimpo viveu quatro anos. Empunhou a peneira e a bateia. Lavou ouro e queimou limpo de azougue, numa colher de sopa. Lutou, sofreu, teve dias de glória e de amargura e quase perdeu a vida com a terçã maligna ( Xaub, 1976XAUB, Jaber. Posfácio: Ligeira biografia da autora. In: MACAGGI, Nenê. A mulher no garimpo: o romance do extremo sertão norte do Amazonas. Boa Vista Imprensa Oficial do Governo do Território Federal de Roraima. 1976, pp.419-422.: 421).

Sabe-se pouco sobre Maria Macaggi para além das notas de rodapé, prefácios de seus livros e do restrito universo literário roraimense.1 Natural de Paranaguá (Paraná), estudou em Curitiba e depois se mudou para o Rio de Janeiro2 2 É provável que haja relação de parentesco entre Nenê e a poetisa conterrânea e contemporânea Ada Macaggi Bruno Lobo (nascida em 29/05/1906). Professora normalista, filha de Narciso Macaggi e Maria Dias de Paiva, Ada Macaggi faleceu no Rio de Janeiro em 1948. Ada publicou Vozes Ephemeras (poemas, 1926); Taça (contos e novelas, 1933); Ímpeto (contos, 1941). Ada é citada no romance aqui analisado (p. 222). Em seu outro livro, Exaltação ao verde (1984), Nenê o dedica a Olivina e Flora Macaggi (em memória). . Na então capital federal começou a trabalhar como jornalista escrevendo reportagens e, posteriormente, como escritora de “contos trágicos” para alguns periódicos: Ilustração Brasileira, Revista da Semana, O Malho, A Seleta, A Carioca, Diário de Notícias e Jornal do Brasil. Ainda no período que morou no Rio de Janeiro, publicou dois livros de contos e um romance: Chica Banana (1938), publicado por Irmãos Pongetti Editores; Contos de dor e de sangue (1935), publicado pelo editor A. Coelho Branco; e Água parada (1933), pelo editor Calvino Filho.

Embora já tivesse publicado em importantes jornais, revistas literárias e artísticas do Rio de Janeiro, foi no “extremo sertão norte” do Brasil que Nenê Macaggi conseguiu “reconhecimento literário” regional anos mais tarde, no final da sua vida, realizando um percurso contrário ao da maioria das pessoas no país daquela época. Provavelmente Nenê tenha tido uma rede política pessoal forte na capital o que a favoreceu na indicação para trabalhar como jornalista do governo Vargas, descrevendo a situação dos territórios federais amazônicos.

No fim de 1938, já tendo sido declarada a Segunda Guerra Mundial e apaixonada que sempre foi pelas coisas do Amazonas, conseguiu cartas de apresentação do Catete para todos os interventores e então começou aquela que chamou de Viagem Maravilhosa. Foi a Buenos Aires e Mar del Plata, dali entrou no Rio Grande do Sul e foi subindo até o Amazonas, sempre escrevendo sobre as obras do então Estado Novo e publicando seus contos, não mais trágicos e sim sentimentais, nos jornais das capitais e das principais cidades que percorria, ficando hospedada pelos Governos ( Xaub,1976XAUB, Jaber. Posfácio: Ligeira biografia da autora. In: MACAGGI, Nenê. A mulher no garimpo: o romance do extremo sertão norte do Amazonas. Boa Vista Imprensa Oficial do Governo do Território Federal de Roraima. 1976, pp.419-422.: 419).

Durante a década de 40, após a realização de uma expedição à região norte do país, Nenê acabou se estabelecendo em Roraima, na região dos rios Tepequém e Cotingo. A região de Roraima, na época Território Federal do Rio Branco, mais tarde denominado Território Federal de Roraima (1962), e elevado a estado apenas na Constituição Brasileira de 1988, foi um dos lugares visitados por Nenê nessa excursão e onde a escritora acabou permanecendo a partir de 1941, se aproximado do contexto que o romance apresenta. Foi nomeada Delegada Especial dos Índios no Serviço de Proteção aos Índios (SPI)3 3 Informação confirmada em nota de rodapé do próprio romance: “Nota da autora – A descrição sucinta dos índios feita por Parente Alberto Saldanha, e tudo o que a eles se refere, relaciona-se exclusivamente com os selvagens do Rio Branco, hoje Território Federal de Roraima e onde eu fui, durante quatro anos, Delegada Especial do antigo SPI” ( Macaggi, 2012: 157). No prefácio da segunda edição do livro de 2012 também confirma-se essa informação: “Em 1940 encantou o Amazonas com sua beleza, e o seu talento encantou os intelectuais. Dentre eles Álvaro Maia, poeta e escritor. O que lhe valeu a nomeação para delegada especial do Serviço de Proteção aos Índios, o SPI, passaporte para o sonho de conhecer o garimpo e os índios. E, sem que ela o soubesse, para realizar o seu sonho de amor” ( Macaggi, 2012 ). , no final da década de 1940, e trabalhou na região do município de Amajari, que, na primeira metade do século XX, concentrava áreas de exploração mineral, especialmente diamante e ouro.

Foram muitas as suas viagens de Belém a Manaus, nas pequenas gaiolas dos SNAPP [Serviço de Navegação na Amazônia e Administração do Porto do Pará], sempre colhendo dados para as suas reportagens e também para o seu futuro livro, quer do pessoal de bordo e dos passageiros, quer dos habitantes ribeirinhos em todos os portos onde paravam para pegar lenha ou rancho ( Xaub, 1976XAUB, Jaber. Posfácio: Ligeira biografia da autora. In: MACAGGI, Nenê. A mulher no garimpo: o romance do extremo sertão norte do Amazonas. Boa Vista Imprensa Oficial do Governo do Território Federal de Roraima. 1976, pp.419-422.: 420).

Em Manaus, no ano de 1940, Nenê ganhou duas homenagens por essa “Viagem Maravilhosa”: Fã Número 1 do Amazonas e Rondon de Saias , este último título devido a “[...] em suas andanças pelo sertão, haver palmilhado lugares por onde o Grande Rondon passara e que mais tarde foi seu grande amigo no SPI” ( Xaub, 1976XAUB, Jaber. Posfácio: Ligeira biografia da autora. In: MACAGGI, Nenê. A mulher no garimpo: o romance do extremo sertão norte do Amazonas. Boa Vista Imprensa Oficial do Governo do Território Federal de Roraima. 1976, pp.419-422.: 420).

Dormiu em muitas malocas (a maior delas, do tuxaua Axi, na base do [Monte] Roraima), comeu de sua damorida [caldo de pimenta] e bebeu do seu pajuaru e caxiri. Assistiu ao ritual de morte e ao batimento de folhas dos pajés, ambos interessantíssimos. Dançou com os Tuxauas nos caxiris, fez amizade com os pajés, teve intimidade com os usos e costumes dos selvagens e por ele lutou, caluniada e sozinha, incompreendida e eternamente sem auxílio. Uma mulher que solitariamente desbravou as serras e lavrados desse Estado sem perder a feminilidade, porém com o pulso firme mostrando na década de quarenta o que a mulher poderia realizar ( Xaub, 1976XAUB, Jaber. Posfácio: Ligeira biografia da autora. In: MACAGGI, Nenê. A mulher no garimpo: o romance do extremo sertão norte do Amazonas. Boa Vista Imprensa Oficial do Governo do Território Federal de Roraima. 1976, pp.419-422.: 421).

No arquivo do Serviço de Proteção aos Índios4 4 Disponível em: http://base2.museudoindio.gov.br/cgi-bin/wxis.exe?IsisScript=phl82.xis&cipar=phl82.cip⟨=por – acesso em: 25 jun 2016. , disponível online, sob a guarda do Museu do Índio, foi possível encontrar uma fotografia ( Figura 1 ) que registra a presença de Nenê na região. A fotografia está como anexo do Relatório do órgão indigenista referente ao exercício de 1944, elaborado por Alberto Pizarro, responsável na época pela Inspetoria do SPI do Rio Branco, e menciona Nenê como jornalista (“o jornalista”). Infelizmente, não é possível ver o rosto de Nenê na foto. No acervo digital disponível não foram localizados outros documentos (relatórios, documentos oficiais, fotografias) de Nenê Macaggi nessa função pública. No entanto, uma pesquisa mais criteriosa ainda precisa ser realizada.

Figura 1
Fotografia Nenê Macaggi

A fotografia acima reproduzida ( Figura 1 ) tem originalmente como legenda a referência de uma estrada em construção. Vale esclarecer que, no século XIX, foram criadas “fazendas nacionais” ou “reais” na região de Roraima, baseadas na produção de gado, aproveitando os campos/lavrados típicos da região e os aldeamentos indígenas, como estratégias do governo imperial português para a permanência das fronteiras ( Farage, 1991FARAGE, Nádia. As muralhas dos sertões: os povos indígenas no rio Branco e a colonização. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra; ANPOCS, 1991. ). Apenas recentemente, na primeira metade do século XX, teve início a exploração de minérios impulsionada pelo Estado, especialmente ouro e diamante, que provocou levas migratórias e um novo fluxo colonizador. Surgiram políticas de incentivo à colonização do Centro Oeste e da Amazônia, que passaram a ser de interesse público, mas também privado por conta de áreas não regularizadas. Nos últimos quarenta anos, surgiram novas políticas de colonização implementadas por órgãos federais, como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), e pelos Plano Nacional de Desenvolvimento e Plano de Integração Nacional, que estimularam a exploração agrícola em larga escala, especialmente de gado e arroz.

A exploração dos recursos minerais se mantém como uma das principais atividades econômicas de Roraima e é tema de conflito entre indígenas e não indígenas. Há poucas informações sobre a participação das populações indígenas nesse processo extrativo econômico, que no romance é mencionado e limitado à utilização da mão de obra indígena no garimpo da região, por meio de apoio logístico, como guias locais conhecedores do território e localização dos recursos minerais: “Nessa época quem leva a carga dos garimpeiros são os índios, pois não há nas serras passagem para comboios” ( Macaggi, 2012MACAGGI, Nenê. A mulher do garimpo: o romance no extremo sertão do Amazonas. 2ª ed. Boa Vista, Gráfica Real, 2012.: 359). No entanto, não há menção ou dados mais detalhados sobre a relação dos indígenas com as práticas de extração mineral.

Percebe-se que a trajetória de Nenê como servidora pública do órgão indigenista traz uma aparente contradição: ter sido tutora dos índios e ao mesmo tempo ter realizado a garimpagem. A nota de rodapé da página 181 menciona certa veracidade de partes do livro com a biografia da autora: “Os bilhetes do garimpo são todos transcritos, na íntegra, dos originais que ela conserva como lembrança” ( Xaub, 1976XAUB, Jaber. Posfácio: Ligeira biografia da autora. In: MACAGGI, Nenê. A mulher no garimpo: o romance do extremo sertão norte do Amazonas. Boa Vista Imprensa Oficial do Governo do Território Federal de Roraima. 1976, pp.419-422.: 181).

Ei-lo pronto e burilado, o livro da única escritora brasileira que foi realmente Delegado [sic] de Índios no Amazonas (e por que não dizê-lo do Brasil?) e que empunhou uma peneira e uma bateia.

N’ A Mulher do garimpo não há ficção. É a pura realidade e nela entram inúmeros personagens que ainda são vivos e moram em Boa Vista ou no interior do Território” (Nota biográfica, Xaub, 1976XAUB, Jaber. Posfácio: Ligeira biografia da autora. In: MACAGGI, Nenê. A mulher no garimpo: o romance do extremo sertão norte do Amazonas. Boa Vista Imprensa Oficial do Governo do Território Federal de Roraima. 1976, pp.419-422.: 421).

Depois que se estabeleceu em Roraima, Nenê publicou ainda outros livros além do que analisamos aqui: Conto de Amor, Conto de Dor, Exaltação ao Verde: romance do baixo Rio Branco (1984), todos pela Imprensa Oficial do Governo do Território Federal de Roraima; A paixão é coisa terrível – esse na década de 90; À terra volta o que da terra veio e Amargura ; Minha virge santa, é mêmo o diabo! Seu último romance, Nara-Sue Uerená – O Romance dos Xamatautheres do Parima , foi publicado apenas em 2012.

No final da vida, Nenê ainda trabalhou como revisora e jornalista da Imprensa Oficial do Estado. Morreu em Boa Vista, em 2003. O Palácio da Cultura e o Hall da Assembleia Legislativa do Estado de Roraima têm o seu nome e, como forma de homenagem, o dia do seu nascimento foi decretado o Dia do Escritor Roraimense. Embora seja desconhecida nos cenários indigenistas e literários nacionais, parece ter ocupado um lugar de destaque no contexto artístico e político da comunicação roraimense. Foi membro da Academia Roraimense de Letras, que teria ajudado a fundar, e passou a ser reconhecida como um ícone local pelo seu empenho em valorizar a cultura, história e identidade de Roraima, por meio de uma literatura regional.

O livro A mulher do garimpo parece ser considerado o marco inicial da produção literária no estado. O livro foi adotado como obra de leitura obrigatória para os candidatos ao vestibular de 2009 da Universidade Federal de Roraima (UFRR), mas logo em seguida retirado da lista por motivo da ausência dele em livrarias e bibliotecas. Em 2012 foi publicada uma segunda edição, confirmando a importância e o papel político que a autora desempenha, no universo regional roraimense, ao estabelecer uma literatura voltada para questões da construção das identidades e da história local.

Diferente de outras personagens contemporâneas femininas do universo indigenista/etnológico, político e científico brasileiro que inspiraram a literatura com suas trajetórias ( Corrêa, 2004CORRÊA, Mariza. Antropólogas & Antropologia. Belo Horizonte, Editora da UFMG, 2004. ), Nenê parece ter escrito sua própria história em forma de ficção. Em vários trechos do livro A mulher do garimpo: o romance no extremo sertão do Amazonas se confunde a narrativa ficcional do romance com a trajetória da autora.

Relacionar a trajetória de vida e a narrativa ficcional autobiográfica de Nenê com uma antropologia/etnografia do garimpo na região de Roraima parece ser um caminho possível, levando em conta a perspectiva trazida por Kofes e Manica (2015KOFES, Suely; MANICA, Daniela (org.). Vida e grafias: narrativas antropológicas, entre biografia e etnografia. Rio de Janeiro, Lamparina & FAPERJ, 2015.: 17), que compreendem a concepção da narrativa da história de vida como algo além de um documento etnográfico, na qual “[…] as próprias noções de vida, “indivíduo”/“pessoa”, anthropos/ethnos, podem ser ampliadas e tensionadas ao se pensar vidas e grafias na antropologia”.

Muitas biografias são escritas com o objetivo de criar essa admiração ou uma aversão, ou mesmo com o objetivo de fazer da distância a escrita objetiva de uma vida. O que é fascinante notar nas narrações biográficas é como iniciam-se de maneira distinta, como configuram temas distintos: memória, migração, família, trabalho rural e urbano, produções de gênero, de falas, de maneiras particulares do uso da linguagem e formas narrativas, de crenças, religiosidade e personagens míticas, de atribuição de nomes e constituição de pessoas, de arte e de ciência. Essa relação entre biografia e narração, o nexo entre oralidade, escrita e visualidade, as interconexões do ato biográfico, retendo evocações e informações entre real (pessoa) e ficção (personagem), remetem ao estatuto ambíguo do fazer biográfico nas ciências humanas ( Kofes; Manica, 2015KOFES, Suely; MANICA, Daniela (org.). Vida e grafias: narrativas antropológicas, entre biografia e etnografia. Rio de Janeiro, Lamparina & FAPERJ, 2015.: 37).

Com essa inspiração, passemos então ao romance.

O romance

A história do livro tem início nos cortiços do Rio de Janeiro, no centro da cidade, aproximadamente nas primeiras duas décadas do século XX. A personagem principal do romance, Ádria, nasce da relação entre uma jovem, “ingênua” mulata, e um cafetão, que abandona a mãe de Ádria ao descobrir que ela está grávida. A mãe morre no parto, a criança é criada pela avó, até os três anos, e depois pelo padrinho, até a juventude. Com medo de que a afilhada sofra ao se tornar mulher, o padrinho corta os cabelos da menina, veste-a com roupas masculinas e lhe ensina a se comportar como homem, transformando-a assim em José Otávio.

Este personagem “travestido”, José Otávio, migra do sudeste para o norte5 5 Na narrativa, José Otávio viaja no barco do Serviço de Proteção aos Índios (SPI). , com a expectativa de enriquecer na Amazônia e retornar futuramente para o sul. O outro personagem, Pedro Rocha, cearense, que só é apresentado ao leitor no final do livro, exibe uma trajeto que tem início no nordeste ao norte, representando um fluxo migratório e colonizador comum, que foi, inclusive, alvo de políticas públicas do governo brasileiro com o propósito de exploração da seringa.

Pedro Rocha vira um soldado da borracha: “Parte em demanda para os seringais do Acre. O ouro-negro chama-o como chamou e destruiu centenas de sertanejos cearenses” ( Macaggi, 2012MACAGGI, Nenê. A mulher do garimpo: o romance no extremo sertão do Amazonas. 2ª ed. Boa Vista, Gráfica Real, 2012.: 284). A autora descreve detalhadamente (páginas 305-306) a forma de exploração da borracha, as colocações, estradas de seringa, a forma de sangrar e cortar a árvore, defumar e o sistema de aviamento (endividamento dos seringueiros com os patrões seringalistas, donos dos barracões).

Entretanto, em seguida, Pedro Rocha explora o caucho, que também é descrito com detalhes por Nenê na sua forma de sangrar, derrubar, os tipos de goma que são produzidas e a forte influência peruana neste processo de extração vegetal. Faz o mesmo com a extração da castanha (páginas 335-337) e a balata, chamada no romance de “vaca leiteira” e também descrita na página 341. Por fim, Pedro Rocha acaba no garimpo de Roraima, conhece José Otávio e logo começa uma amizade entre os dois. O relacionamento vai, durante o enredo, se estreitando e ficando mais íntimo, até o momento em que José Otávio revela sua identidade feminina para poder vivenciar o amor antes proibido. Quando se concretiza a relação, o casal resolve sair do garimpo para viver o romance.

Muitas vezes o livro parece assumir um objetivo didático e pedagógico sobre a vida, as pessoas e, principalmente, sobre o ambiente tanto da região específica de Roraima como da Amazônia. Além disso, traz informações variadas e enciclopédicas sobre a constituição do solo, da geografia e, das riquezas naturais que compõem a “maravilha amazônica”, sempre com o objetivo de exaltar e demonstrar suas belezas, tesouros naturais e recursos a serem explorados. A divisão do livro é feita em 18 partes e 59 capítulos, sendo alguns desses capítulos eminentemente informativos para o leitor, com textos de temas específicos que podem ser considerados mais do que apenas explicações do cenário do romance. Esses capítulos parecem passagens/partes do romance separadas do enredo, dos personagens e da trama narrativa.

Na história, são raras as referências ao universo e a personagens femininas no garimpo. Interessante que a protagonista precisa performar outro gênero para se enquadrar no mundo do garimpo, reafirmando uma visão de garimpo como lugar do masculino em que não há espaço para o feminino. Vale lembrar que o personagem José Otávio se passa por homem até o final da história.

Como demonstrou Cano (2004)CANO, Gabriela. Amélio Robles, andar de soldado velho: fotografia e masculinidade na Revolução Mexicana. cadernos pagu (22), Campinas-SP, Núcleo de Estudos de Gênero-Pagu/Unicamp, 2004, pp.115-150. , é comum o “travestimento estratégico” como ferramenta feminina no contexto mexicano:

adoção de traje masculino para fazer-se passar por homem – a que algumas mulheres recorrem em períodos de guerra, seja para proteger-se da violência sexual que costuma acentuar-se durante conflitos armados, seja para alcançar postos militares, seja simplesmente para lutar como soldados, sem as restrições sociais de gênero que pesavam sobre as soldaderas, mulheres do campo que desde as guerras do século XIX marchavam na retaguarda dos exércitos encarregando-se do suprimento das tropas e da atenção aos feridos e ocasionalmente de mensagens e contrabando de armas e mantimentos, e só excepcionalmente pegavam em armas ( Cano, 2004CANO, Gabriela. Amélio Robles, andar de soldado velho: fotografia e masculinidade na Revolução Mexicana. cadernos pagu (22), Campinas-SP, Núcleo de Estudos de Gênero-Pagu/Unicamp, 2004, pp.115-150.: 119).

Nenê não traz no romance papéis geralmente associados à presença da mulher no garimpo. Não menciona, por exemplo, a prostituição ou o trabalho de cozinheiras, atividades comumente associadas ou reservadas às mulheres, parecendo trazer uma ambiguidade desta presença e, assim, a invisibilidade. A autora apresenta uma personagem principal que pratica a mineração (cata) o que não é comum nos contextos de garimpo, uma vez que, até hoje, permanece em muitos contextos sociais uma visão de que “a mulher dá azar na mina”. O romance traz personagens femininas secundárias, que geralmente são esposas dos garimpeiros e parece assim querer destacar ou mesmo deslocar outras interpretações, papéis e posições do feminino no garimpo6 6 Na página 167, é apresentado um diálogo entre uma mãe e seu filho, que vestia roupas femininas se parecendo com uma “cunhantã”. Há ainda outras situações no romance de mudanças homem-mulher-homem. .

Ao mesmo tempo, Nenê, por meio da ficção, relaciona situações verossímeis e atuais de histórias do garimpo, como, por exemplo, a trajetória de Marina Meu Caso7 7 Disponível em: https://folhabv.com.br/coluna/Personagem-da-Nossa-Historia/1917 . Acesso em 11 ago. 2022. (Roraima e Pará) e situações de transgressões, brincadeiras e transformações de gênero que o garimpo traz.

Um paralelo literário pode ser estabelecido entre o romance de Nenê Macaggi e Grande Sertão, Veredas , de João Guimarães Rosa, publicado exatamente 20 anos antes, em 1956 não apenas pela questão do “estranho amor” ou amizade entre dois "homens", presente nas duas histórias, mas pelo uso de uma linguagem de influência oral e representação regional, com terminologias locais. E, principalmente, pela valorização do rural, do local e do regionalismo literário, conforme demonstrou Almada (2017)ALMADA, Silvia Marques de. A questão do regionalismo em a mulher do garimpo, de Nenê Macaggi. Boa Vista, Editora da UFRR, 2017. Coleção Circum Roraima, v. 2. .

Para além das características e paralelos literários, o romance traz inúmeras descrições sobre o cotidiano do garimpo, informações sistematizadas e localizadas das riquezas minerais e naturais da Amazônia e especialmente de Roraima. Com relação aos recursos minerais da região, Nenê apresenta nas páginas 119 e 120 um levantamento dos principais recursos e suas localizações na região do Vale do Rio Branco:

E os recursos minerais, então? Ouro e diamante no Cotingo, Maú, Quinô, Tepequém, Urucá, Serra Verde, Serra Pelada e Serra do Sapão. Ouro com diatomita, no lavrado entre o Surumú, Itacutu e Maú, onde há mais de cinquenta mil metros cúbicos à vista. Enxofre e cobre no Alto Cotingo, cristal de rocha na Serra do Cristal, principal maciço granítico da Zona do Alto Rio Branco. Cobre no Parima, Mica magnesiana, calcáreos, salitre na Serra de Mina, Bauxita, no Cotingo e no Quinô. Betume, no Anauá e cassiterita, jade, nerita, ágata, estanho no Alto Uailang, tributário do Maú. E ainda segundo estudiosos de radiostesia, indícios acentuosos de petróleo para os lados do Mucajaí e também para o norte, na fronteira com a Venezuela ( Macaggi, 2012MACAGGI, Nenê. A mulher do garimpo: o romance no extremo sertão do Amazonas. 2ª ed. Boa Vista, Gráfica Real, 2012.: 119-120).

Vários trechos trazem informações sobre quantidade, valores de circulação, comércio do ouro e diamante extraídos no garimpo:

E todo aquele ouro é de vinte quatro quilates! Outras vezes procurando, acham regos que descem e de tanto rolar nas pedras formam panelões ou buracos, dentro das próprias pedras, enchendo-as de água e ali depositando generosamente o material.

O ouro corre mesmo! Há gente que pega numa só bateada trinta gramas e sempre de vinte e quatro quilates!

Ali Pedro despacha os caboclos, pagando-os com fazendas e quinquilharias, ficando com um companheiro, Domingos, a faiscar ouro, que vale a pena, pois a grama está a dezesseis cruzeiros. O diamante está sem valor. O próprio Don Julio [venezuelano] não tendo a quem vender uma bela partida de bons diamantes que possuía, mandou vendê-la na Guiana Inglesa e só lhe pagaram quarenta mil réis por quilate.

Vai para Venezuela com ele, para garimpar na mina da Pátria, mas não consegue entrar porque o governo venezuelano proíbe os brasileiros de entrarem lá ( Macaggi, 2012MACAGGI, Nenê. A mulher do garimpo: o romance no extremo sertão do Amazonas. 2ª ed. Boa Vista, Gráfica Real, 2012.: 359; 360).

Os capítulos Livro Sexto – Garimpo, Livro Sétimo – O Tepequém e Livro Décimo Quarto apresentam de maneira detalhada o cotidiano dos garimpos na região de Roraima. De forma diluída, mas em especial no capítulo Livro Sexto – O Garimpo , há várias descrições sobre o modo de garimpar e o cotidiano do garimpo, informações que podem servir de dados históricos para melhor caracterização da época no que se refere, por exemplo, às quantidades de minérios extraídos, técnicas de trabalho e exploração, percepções e usos do ambiente, associação entre mineração e outras práticas extrativas amazônicas, entre tantos outros elementos interessantes para futuras pesquisas sobre do tema.

O romance também menciona a contradição da categoria garimpeiro, que se mantém atualmente, pois ao mesmo tempo em que tenta demonstrar as estruturas da organização social do garimpo – seu histórico, características, regras sociais e valorização do trabalho realizado –, também traz elementos que colaboram para a sua marginalização e reafirmação do senso comum.

Na mina é como na floresta: o trabalhador fica desamparado de tudo. Mas aqui [garimpo] é mais por negligência e por egoísmo. Da planada para o tapiri [abrigo, palhoça, casa rústica] e do tapiri para a planada... Nos dias santos e domingos ninguém tem o que fazer porque não lê, não escreve, não quer alfabetizar-se, tendo preguiça até de limpar o tapiri, de lhe tapar os buracos... Para que tal incômodo? Pensa. Está ali provisório... e esse provisório dura anos... Então, se tem dinheiro da venda de sua produção, vai para o tapiri alheio, nem que seja distante e ali joga o dia inteiro e se embriaga, perdendo tudo o que levou. Regressando depois cheio de dívidas que espera pagar com a próxima lavagem. Horta? Roça? Para quê? Assim se brutaliza o garimpeiro, entorpecendo suas boas qualidades, quando não é pneumonia, o béri-béri ou a terçã maligna que o liquidam de vez. Que belo exemplo de trabalho e dignidade transmite aos filhos! É por isso que o serviço de garimpo é sinônimo de malandragem. Mas que é duro, duríssimo mesmo, é verdade ou não é? ( Macaggi, 2012MACAGGI, Nenê. A mulher do garimpo: o romance no extremo sertão do Amazonas. 2ª ed. Boa Vista, Gráfica Real, 2012.: 202).

Últimas considerações

A história de vida e os textos de Nenê Macaggi são interessantes porque apresentam uma voz feminina, em uma época em que quase não se permitia a presença das mulheres, em vários espaços sociais, especialmente no garimpo, por serem considerados locais masculinizados. No entanto, Nenê participou de alguns desses consagrados espaços: políticas públicas, grupos literários, imprensa e também o garimpo. Pensar e tentar compreender a presença desta mulher como indigenista, literata e, garimpeira pode colaborar para diminuir a invisibilidade histórica das mulheres em diversos campos de atuação e de conhecimento, incluindo as discussões de gênero do próprio universo do garimpo amazônico.

Por outro lado, é necessário levar em conta que a invisibilidade das mulheres nas arenas públicas precisa ser sempre contextualizada, questionando-se de quais mulheres estamos falando? A preocupação é não incorrer em uma abordagem que reitere a categoria mulher de modo monolítica, tão criticada pelas feministas nas décadas de 1980 e 1990. Com toda certeza, a origem sulista, letrada e presença em círculos políticos já estabelecidos na antiga capital federal, antes de chegar em Roraima, caracterizam o lugar de “destaque” de Nenê Macaggi.

Futuras pesquisas que se aprofundem na obra e vida de Nenê Macaggi podem amparar estudos interessados em mapear e demonstrar a presença de mulheres que se engajavam em campos profissionais, onde a presença feminina ainda era vista com estranhamento, e que estiveram à sombra nesses espaços, discutindo, por exemplo, se a invisibilidade estaria mais nas formas de produção de conhecimento do que nas atuações públicas das mulheres propriamente ditas.

Um interessante exemplo recente, e que pode render frutos paralelos, é a atuação indigenista de Wanda Hanke, pesquisada por Sombrio (2011)SOMBRIO, Mariana. Expedições científicas na América do Sul: a experiência de Wanda Hanke (1933-1958). Cadernos de História da Ciência. v. VII (2), São Paulo, Instituto Butantan, Jul/Dez 2011 [https://periodicos.saude.sp.gov.br/index.php/cadernos/article/view/34370].
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. Apesar de Nenê Macaggi não configurar como um exemplo da participação feminina no campo da ciência – talvez nem a própria Wanda Hanke8 8 Como demonstrou Sombrio (2011) , havia um forte questionamento da consagração científica dos trabalhos desenvolvidos por Wanda Hanke. -, mas sim da política e das artes, sua produção e sua trajetória podem ajudar a acessar elementos que nos ajudem a compor o cotidiano do garimpo de uma época, e relacioná-lo com outras redes e relações restritas às mulheres.

Ao mesmo tempo, ao atualizar ou dialogar com o travestimento (mulher-homem) relatado também por Guimarães Rosa na história de Grande Sertão: Veredas , Macaggi reafirma, a partir do contexto em que viveu o/no garimpo, as dificuldades e as (im)possibilidades – reais e/ou ficcionais - de trânsito para mulheres neste universo.

Muitos elementos ainda podem ser explorados nesta pesquisa não esgotada sobre a trajetória e os romances de Nenê Macaggi: sua produção literária, o contexto da sua atuação nos garimpos, sua relação com as políticas indigenistas da região e sua “autobiografia”, bem como uma análise mais detalhada dos elementos históricos do romance, os papéis de gênero nele representados e seus muitos travestimentos e transgressões, contribuindo para a reflexão e pontes possíveis com variadas pesquisas interdisciplinares de temas complementares.

AGRADECIMENTOS

1 Agradeço à Elena Fioretti, diretora do Museu Integrado de Roraima, pelo envio da nova edição do livro e pelas informações adicionais sobre a trajetória da autora. Segundo Fioretti, o Museu Integrado de Roraima possui um significativo acervo de Nenê Macaggi, composto por alguns recortes de jornais e revistas com suas publicações como jornalista durante a década de 30, fotografias em slides, da década de 60, com a escritora entre os indígenas no rio Uraricoera, objetos pessoais, cartas a amigos e instituições. Elena Fioretti é responsável também pelo documentário “Nenê Macaggi: Roraima entre linhas”, vencedor do EDITAL DocTV II (2001), que aborda a trajetória de Nenê, o seu romance, e principalmente as relações entre os pecuaristas, garimpeiros e indígenas da região do Rio Tepequém, utilizando trechos do romance e informações biográficas, revisitando os lugares citados e colhendo imagens dos antigos garimpos mencionados no romance. Agradeço ainda à equipe do Projeto Fapesp (462.17.201) “Sustainability Transformations in Artisanal and Small-scale Gold Mining: Transregional and Multi-Actor Perspectives’ (‘Gold Matters’) (2018–2022)”, financiado pela Belmont Forum e NORFACE Joint Research Programme on Transformations to Sustainability, pela revisão e diálogo na lapidação deste texto, em especial, à professora Marjo De Theje. Por fim, agradeço às pesquisadoras Daniela Manica, Dalila Mello, Madiana Valéria de Almeida Rodrigues e Lia Gomes Pinto de Sousa pelas leituras e apoio.

Referências bibliográficas

  • ALMADA, Silvia Marques de. A questão do regionalismo em a mulher do garimpo, de Nenê Macaggi. Boa Vista, Editora da UFRR, 2017. Coleção Circum Roraima, v. 2.
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  • MACAGGI, Nenê. A mulher do garimpo: o romance no extremo sertão do Amazonas. 2ª ed. Boa Vista, Gráfica Real, 2012.
  • MACAGGI, Nenê. Exaltação ao Verde: romance do baixo Rio Branco. Imprensa Oficial do Governo do Território Federal de Roraima. Gráfica Real. Boa Vista. 1984.
  • OLHAR PANORÂMICO [http://olharpanoramico.blogspot.com /2006_04_01_archive.html - acesso em: 03 ago 2016].
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  • SOMBRIO, Mariana. Expedições científicas na América do Sul: a experiência de Wanda Hanke (1933-1958). Cadernos de História da Ciência. v. VII (2), São Paulo, Instituto Butantan, Jul/Dez 2011 [https://periodicos.saude.sp.gov.br/index.php/cadernos/article/view/34370].
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  • XAUB, Jaber. Posfácio: Ligeira biografia da autora. In: MACAGGI, Nenê. A mulher no garimpo: o romance do extremo sertão norte do Amazonas. Boa Vista Imprensa Oficial do Governo do Território Federal de Roraima. 1976, pp.419-422.
  • 2
    É provável que haja relação de parentesco entre Nenê e a poetisa conterrânea e contemporânea Ada Macaggi Bruno Lobo (nascida em 29/05/1906). Professora normalista, filha de Narciso Macaggi e Maria Dias de Paiva, Ada Macaggi faleceu no Rio de Janeiro em 1948. Ada publicou Vozes Ephemeras (poemas, 1926); Taça (contos e novelas, 1933); Ímpeto (contos, 1941). Ada é citada no romance aqui analisado (p. 222). Em seu outro livro, Exaltação ao verde (1984), Nenê o dedica a Olivina e Flora Macaggi (em memória).
  • 3
    Informação confirmada em nota de rodapé do próprio romance: “Nota da autora – A descrição sucinta dos índios feita por Parente Alberto Saldanha, e tudo o que a eles se refere, relaciona-se exclusivamente com os selvagens do Rio Branco, hoje Território Federal de Roraima e onde eu fui, durante quatro anos, Delegada Especial do antigo SPI” ( Macaggi, 2012MACAGGI, Nenê. A mulher do garimpo: o romance no extremo sertão do Amazonas. 2ª ed. Boa Vista, Gráfica Real, 2012.: 157). No prefácio da segunda edição do livro de 2012 também confirma-se essa informação: “Em 1940 encantou o Amazonas com sua beleza, e o seu talento encantou os intelectuais. Dentre eles Álvaro Maia, poeta e escritor. O que lhe valeu a nomeação para delegada especial do Serviço de Proteção aos Índios, o SPI, passaporte para o sonho de conhecer o garimpo e os índios. E, sem que ela o soubesse, para realizar o seu sonho de amor” ( Macaggi, 2012MACAGGI, Nenê. A mulher do garimpo: o romance no extremo sertão do Amazonas. 2ª ed. Boa Vista, Gráfica Real, 2012. ).
  • 4
  • 5
    Na narrativa, José Otávio viaja no barco do Serviço de Proteção aos Índios (SPI).
  • 6
    Na página 167, é apresentado um diálogo entre uma mãe e seu filho, que vestia roupas femininas se parecendo com uma “cunhantã”. Há ainda outras situações no romance de mudanças homem-mulher-homem.
  • 7
    Disponível em: https://folhabv.com.br/coluna/Personagem-da-Nossa-Historia/1917 . Acesso em 11 ago. 2022.
  • 8
    Como demonstrou Sombrio (2011)SOMBRIO, Mariana. Expedições científicas na América do Sul: a experiência de Wanda Hanke (1933-1958). Cadernos de História da Ciência. v. VII (2), São Paulo, Instituto Butantan, Jul/Dez 2011 [https://periodicos.saude.sp.gov.br/index.php/cadernos/article/view/34370].
    https://periodicos.saude.sp.gov.br/index...
    , havia um forte questionamento da consagração científica dos trabalhos desenvolvidos por Wanda Hanke.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Set 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    10 Set 2020
  • Aceito
    20 Maio 2022
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