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O corpo de uma teoria: marcos contemporâneos sobre os atos de fala

The body of a theory: contemporaneous signs on speech acts

Resumos

Os estudos do filósofo inglês J. L. Austin têm controversas interpretações e apropriações, apontando a complexidade de seu texto e sua contribuição sempre produtiva. Um conjunto importante dessas interpretações são aquelas dos estudos sobre o corpo: elas discutem o corpo como ato de fala ou os processos corporais de subjetivação como performativos. Meu interesse é aproximar e diferenciar três marcos teóricos dessas abordagens do corpo e discutir suas conseqüências teóricas para os estudos da linguagem, especialmente nos estudos de identidades.

Atos de Fala; J. L. Austin; Corpo; Identidade


The English philosopher J. L. Austin's studies have contentious interpretations and appropriations, pointing out to the complexity of his texts and his always fertile contributions. One important set of these interpretations are body studies: these discuss the body as speech acts or the subjectivizing bodily process as performative. My interest is to approximate and to contrast three theoretical signs of those body interpretations and to discuss their theoretical consequences to language studies, in particular to the identity studies.

Speech Acts; J. L. Austin; Body; Identity


Joana Plaza Pinto

Professora adjunta da Faculdade de Letras/Universidade Federal de Goiás. joplazapinto@gmail.com

RESUMO

Os estudos do filósofo inglês J. L. Austin têm controversas interpretações e apropriações, apontando a complexidade de seu texto e sua contribuição sempre produtiva. Um conjunto importante dessas interpretações são aquelas dos estudos sobre o corpo: elas discutem o corpo como ato de fala ou os processos corporais de subjetivação como performativos. Meu interesse é aproximar e diferenciar três marcos teóricos dessas abordagens do corpo e discutir suas conseqüências teóricas para os estudos da linguagem, especialmente nos estudos de identidades.

Palavras-chave: Atos de Fala, J. L. Austin, Corpo, Identidade.

ABSTRACT

The English philosopher J. L. Austin's studies have contentious interpretations and appropriations, pointing out to the complexity of his texts and his always fertile contributions. One important set of these interpretations are body studies: these discuss the body as speech acts or the subjectivizing bodily process as performative. My interest is to approximate and to contrast three theoretical signs of those body interpretations and to discuss their theoretical consequences to language studies, in particular to the identity studies.

Key Words: Speech Acts, J. L. Austin, Body, Identity.

Introdução

"O corpo de uma teoria". Eis o título deste trabalho que aponta para seu tema diretamente. Minha intenção ao escolher este título era promover uma polissemia entre os sentidos de "corpo" como 1. parte essencial ou principal de uma estrutura abstrata de obra científica; e como 2. a materialidade do ser.

Espera-se, por força de uma posição ocupada no sistema da nossa língua, que o sintagma "o corpo de uma teoria" trate apenas desse primeiro sentido. Mas os estudos de que vou tratar disseminam a palavra "corpo", promovendo um encontro entre esses dois sentidos.

A teoria a que pretendo aqui dar corpo é a do filósofo inglês J. L. Austin (1976), reconhecido no meio lingüístico como um autor importante nas soluções teóricas para o problema do significado, especialmente entre os estudiosos e estudiosas que procuram incluir o uso da linguagem na sua descrição dos sentidos lingüísticos.

Só para se ter uma idéia, conforme nos mostra pesquisa recente (Santos, 2007), encontramos Austin como base teórica em autores dos estudos funcionalistas (Dik, 1995), dos estudos sociolingüísticos (Gumperz, 1982), da análise crítica do discurso (Coulthard, 1985), da lingüística textual (Van Dijk, 1981) e, é claro, em autores da filosofia da linguagem - nos exemplos famosos de Searle (1969) e Derrida (1990b).

Já é bem conhecida a vasta literatura que atribui a Austin uma retórica surpreendente, inesperada e criativa, intensificando sua argumentação em torno de temas nada consensuais.

Pitcher (1973:19), que assistiu aos "divertidos" seminários em Harvard, afirma que Austin "usava exemplos modestos mas graciosamente inventivos".1 1 Todas as traduções de trechos de obras em língua estrangeira citadas foram feitas por mim, para fins exclusivos deste artigo. Derrida (1990b:38) afirma que a análise de Austin é "paciente, aberta, aporética, em constante transformação, sempre mais fecunda no reconhecimento de seus impasses que nas suas posições". Warnock (1973:32) chama a atenção para os procedimentos austinianos "excepcionalmente fluidos e livres, sem nenhuma ordem formal" e suas passagens "breves e áridas" (Warnock, 1999:105). Rajagopalan (1992; 2000) discute o estilo faceto, brincalhão e descontraído, presente nas diversas expressões idiomáticas e trocadilhos espalhados por todo o texto de Austin.

Muitos autores (Berlin, 1973; Rajagopalan, 1992; Rajagopalan, 1996; Searle, 1969; Warnock, 1973; Warnock, 1999) alegam que seu estilo jocoso deixou brechas para interpretações diversas, aberturas para arranjos que colocassem um ponto final no que tantas vezes se transformou no decorrer da argumentação austiniana. Portanto, é necessário admitir que os trabalhos de Austin, especialmente as conferências do livro How to do things with words (Austin, 1976), têm sido alvo de controversas interpretações e apropriações, apontando para a complexidade de seu texto e sua contribuição sempre produtiva.

Algumas dessas interpretações encontram-se no campo das teorias contemporâneas sobre o corpo, cuja produção cresceu fortemente nos últimos anos. Discutindo o lugar do corpo como ato de fala ou os processos corporais de subjetivação, autoras e autores diversos exploram, direta ou indiretamente, o pensamento austianiano.

Conforme mostrei em outra ocasião (Pinto, 2003), na IX Conferência, Austin abriu precedentes para compreendermos suas explicações sobre os atos de fala não só como explicações sobre sons e gramática, mas também explicações sobre corpos. Nesse contexto, Austin reflete sobre a linha que separa os atos que fazemos e suas conseqüências. Suas reflexões nos levam ao ato físico, que torna essa linha bem mais problemática, nos levando adiante no mesmo entrelaçamento entre ato ilocucionário (o que se faz ao dizer) e ato perlocucionário (o ato que se faz por conseqüência e efeito do dizer). Austin usa o mesmo termo, efeito (effect) para definir as conseqüências de ambos os atos, assim como o ato físico se define ao mesmo tempo pelas suas conseqüências. Nesse ponto, nos parece possível pensar que o sujeito do ato de fala está imbricado num ato físico com conseqüências que tornam essa separação de três possíveis (ato de fala, ato físico, conseqüência) um mesmo conjunto embaralhado.

Precedentes austinianos como esses e outras aberturas textuais operaram o espaço para uma aproximação dos estudos de atos de fala com os estudos do corpo. Acredito que, para entendermos o quadro atual dessa aproximação, podemos utilizar três marcos teóricos.

O primeiro foi a vigorosa entrada das idéias de Jacques Derrida no feminismo estadunidense e, mais especificamente, a conferência Signature événement contexte, de 1971, e o debate gerado entre Derrida e Searle por ocasião da tradução dessa conferência (Derrida, 1990a; 1990b). Como é já muito bem conhecido e discutido, em agosto de 1971, nove anos depois da publicação de How to do things with words, Derrida (1990b) profere uma conferência em Montréal e lá procura debater as idéias de J. L. Austin sobre o performativo, numa leitura mordaz e rigorosa. Austin sem dúvida não foi o primeiro objeto desse tipo de leitura de Derrida, mas o impacto desse texto no cenário estadunidense - a partir de sua tradução na Glyph (Derrida, 1977), e do decorrente debate com uma já reconhecida autoridade da filosofia da linguagem nos Estados Unidos (Searle, 1977; Derrida, 1990a) - vai chamar a atenção e evidenciar o chamado "problema do performativo". Mas o impacto desse debate nos estudos do corpo só será possível porque importantes feministas estadunidenses já estavam recebendo influência do pensamento de Derrida, especificamente a partir da tradução de De la grammatologie (Derrida, 1967) pela feminista indiana radicada nos Estados Unidos Gayatri Spivak (Derrida, 1976). Essa tradução veio seguida de outra perturbadora tradução: em 1979, Barbara Harlow (Derrida, 1979) traduz Éperons: les styles de Nietzsche imediatamente após seu lançamento na França (Derrida, 1978), aproximando ainda mais as teóricas feministas da desconstrução - a crítica de Derrida ao "fetiche essencialista" do conceito de "mulher" encontra ressonância no refrão já anti-essencialista da época (Gallop, 1997). Como bem explica Spivak (1993:121), a desconstrução e o feminismo iniciam "uma negociação e uma confissão de cumplicidade".

O segundo marco é, novamente, em torno de uma tradução, num peculiar tráfico lingüístico: uma professora da universidade estadunidense de Yale publica em francês (Felman, 1980) e, três anos depois, é traduzida para o inglês (Felman, 2ª ed. 2003). Austin vai então reaparecer na cena estadunidense - mas dessa vez explicitamente seduzido pelo corpo. O livro Le scandale du corpos parlant: Don Juan avec Austin ou la seduction en deux langues, de Shoshana Felman (1980), é uma interpretação de Austin influenciada pelas idéias de Derrida e por uma certa articulação com a psicanálise lacaniana.2 2 A influência da Psicanálise, especialmente lacaniana, nos estudos sobre o corpo precisa ser destacada. As duas autoras principais (Felman, 1980; Butler, 1997) discutidas neste artigo articulam suas reflexões sobre performatividade do corpo com conceitos psicanalíticos, e essa articulação é fundamental para muitas das conseqüências de suas reflexões. No entanto, este artigo concentra suas forças no papel específico da obra de J. L. Austin e as conseqüências de sua teoria para os estudos do corpo, especialmente do conceito de performativo. O papel da Psicanálise nessa releitura de Austin é um excelente assunto para um novo texto. Agradeço às/aos pareceristas e editoras desta revista por me ajudarem a notar este e outros pontos relevantes durante o processo de elaboração deste artigo. Estudando a sedução performativa em duas obras literárias, Felman (1980) vai articular a base teórica dos atos de fala de Austin com o status do corpo na linguagem. Sua obra

prefigurou e muitas vezes impeliu o movimento interdisciplinar dos atos de fala: no direito ou em trabalhos literários, estudos de performance, teoria queer, teoria política, e etnografia (Butler, 2003:114).

Sua leitura claramente derridiana contribuiu fortemente para o impacto de sua obra.

Finalmente, e com desdobramentos acelerados, um terceiro marco teórico pode ser apontado na publicação, em 1989, de Gender trouble: feminism and the subversion of identity, de Judith Butler (1999b), e o aprofundamento de sua influência austiniana em Excitable speech: a politics of performative, oito anos depois (Butler, 1997). Gender trouble pode ser encontrada desde então em diversas referências bibliográficas que tratam de corpo e linguagem, especialmente nos trabalhos lingüísticos (Cameron, 1998). Dietz (2003:412) afirma que o trabalho de Butler "foi central, se não absolutamente definitivo" para a teorização das relações discursivas de poder, jogos de linguagem, significações, subversões e performances nos estudos do corpo.

A partir deste ponto, mostrarei alguns argumentos dos dois primeiros marcos, Derrida (1990b) e Felman (1980), e suas dívidas com Austin, para finalmente apresentar as idéias de Butler e suas filiações com as reflexões aporéticas deste importante autor. Essa priorização tem uma razão única: são os textos de Butler e suas intérpretes, com aproximações e diferenciações de Derrida (1990b) e Felman (1980), que impulsionam a intersecção entre os estudos lingüísticos de identidade e o tema "corpo", conforme procurarei destacar ao final.

Esses três marcos não são impermeáveis e separados, a não ser pela ironia do calendário, que os distancia exatamente nove anos um do outro; ao contrário, eles dialogam promovendo uma crescente aproximação do corpo com os atos de fala. Um efeito de "casa de espelhos" de citações e referências multiplicou em alta potência o número de trabalhos que contém esses trabalhos, recentemente mais concentrados nos de Butler. É essa casa de espelhos que aqui me interessa - Derrida (1990a:82) disse:

Eu citei e citarei longamente, o leitor fica desde já prevenido. (...) porque eu tenho nisso um prazer de que eu não quero me privar, mesmo se o julguem perverso: uma certa prática da citação, da iteração também (...) efetua, altera sempre, rapidamente, secamente, o que ela parece reproduzir [ênfase no original].

1. Traduções e tráficos continentais

O primeiro marco aparece, como mostrei antes, em 1971, com a publicação da conferência Signature événement contexte (Derrida, 1990b).

Em sua discussão sobre a oposição sucesso/fracasso do ato de fala, Derrida (1990b) afirma que a elaboração de Austin é derivada da idéia de um sujeito intencional consciente da totalidade do seu ato de fala. Segundo Derrida (1990b), a intencionalidade parece organizar as conferências iniciais de Austin, enquanto ele procura um fio condutor para explicar o ato de fala. A oposição sucesso/fracasso se sustenta pelo que o/a falante intenciona para o enunciado que ele/a produz, tratando as convenções ritualizadas do enunciado como um contexto possível de ser saturado, de ser dado como totalmente determinável. Se é verdade que o filósofo inglês se esforça para trazer elementos que cerquem o enunciado performativo e garantam seu sucesso, é também verdade que ele mesmo define seu percurso como "a doutrina das coisas que podem e vão dar errado" (Austin, 1976:14).

Na sua leitura deste percurso, Derrida (1990b) evidencia a possibilidade estrutural de todo signo de ser repetido na ausência não somente de seu referente, mas também na ausência de seu significado ou intenção determinada. Essa ausência é a différance, "uma modificação ontológica da presença", que torna legível toda linguagem muito depois do desaparecimento empírico de seus destinatários ou de seus produtores - "essa ausência não é a modificação contínua da presença, é a ruptura da presença, a 'morte' ou a possibilidade da 'morte' inscrita na estrutura da marca" (Derrida, 1990b:27-28).

Derrida (1990a:105) mostra isso com precisão, discutindo a noção de rito como fundadora da noção de ato. É a iterabilidade própria ao rito que aciona a citacionalidade necessária para o funcionamento do significante:

A iterabilidade supõe uma sobra mínima (como uma idealização mínima embora limitada) para que a identidade do mesmo seja repetível e identificável na, através e mesmo tendo em vista a alteração. Pois a estrutura da iteração, outro traço decisivo, implica ao mesmo tempo identidade e diferença.

O ato de fala atualiza sua força no momento em que ele acontece (nesse sentido, ele não é um registro), mas isso não significa que ele é destituído de história; ao contrário, sua força vem do rito, da história repetida de sua fórmula. A citação é, para Derrida (1990b), a propriedade que faz funcionar o signo, rompendo a presença (da fala, da intenção, da consciência, do sentido, da verdade etc.) e mostrando-a como efeito histórico. "O performativo não tem seu referente fora dele ou antes dele ou diante dele (...) ele produz ou transforma uma situação, ele opera" (Derrida, 1990b:37).

Neste ponto, podemos perceber que o performativo tem lugar, é um acontecimento que não espera a deliberação, a consciência ou a organização do sujeito. Ao contrário do que se poderia esperar das duas primeiras conferências de Austin, Derrida mostra que o ato de fala não é um rito planejado e regulado juridicamente através de regras previamente acordadas entre falantes (o contrato social); o ato de fala é, como rito, um acontecimento, na medida em que sua força é iterável, e sua repetição instaura sempre uma diferença.

É o gesto de leitura derridiano, "um gesto duplo, uma ciência dupla, uma dupla escritura", praticando "uma inversão da oposição clássica e um deslocamento geral do sistema" (Derrida 1990b:50) que vai chamar a atenção de tantas estudiosas sobre as potencialidades da noção de performativo. Derrida (1990a:78) se declara "muito próximo, interessado e em dívida com sua [de Austin] problemática". O que há de tão interessante nessa idéia de performativo que acompanha a elaboração de uma crítica às oposições binárias e oferece os meios para intervir no campo destas oposições?

Nesse sentido, Derrida é interpretado pelas feministas estadunidenses, a partir da sua tradução na Glyph (Derrida, 1977), contra todo "fetiche" de oposições hierárquicas. O gesto de leitura feito por Derrida contra e ao mesmo tempo a partir de Austin será apropriado para a leitura da oposição corpo-mente e suas variáveis patriarcais (mulher-homem; natureza-cultura; emoção-razão). O corpo vai encontrar nesse gesto um lugar não mais complementar ou subalterno, mas o lugar a ser deslocado para se compreender o funcionamento do sistema hierárquico.

Shoshana Felman (1980) é uma das autoras feministas que seguirá contra as oposições hierárquicas, mais precisamente destruindo a dicotomia metafísica entre o domínio do 'mental' e o domínio do 'físico', numa sedutora aproximação entre Austin, Derrida, Benveniste e Lacan. Desde o início, a autora afirma ter sido seduzida pelo estilo de Austin, que "inclui piadas, trocadilhos, alusões literárias, um convite constante para se divertir fazendo filosofia" (Cavell, 2003:xii). Ela afirma: "É importante dizer logo de cara: eu fui seduzida por Austin; eu amo não somente a abertura que percebo em sua teoria, mas o potencial de escândalo dela" (Felman, 1980:99, ênfase minha).

A partir do ato de prometer, Felman (1980:13) articula teoricamente psicanálise e performativo, abrindo a discussão para

um escândalo (ao mesmo tempo teórico e empírico, histórico) da relação incongruente, mas indissociável, entre a linguagem e o corpo; o escândalo da sedução do corpo humano enquanto ele fala.

O escandaloso para Felman é que, enquanto corpo, o ato não pode saber o que está fazendo, nem controlar sua ação - aquele ou aquela que fala é cego/a para o agir do seu corpo - exatamente como a dificuldade de Austin (1976:107-120) para definir os limites dos atos ilocucionário e perlocucionário e suas relações com atos físicos (Pinto, 2003; 2007).

Concordando com Derrida (1990b:38), Felman (1980:19) considera a abordagem de Austin nietzschiana e persegue, à sua maneira, os mesmos temas do filósofo francês. O sucesso do ato de fala em Don Juan de Molière é o exemplo fundamental: para Felman, Don Juan seduz suas interlocutoras com o sucesso de seus atos de fala, que, ao invés de dizerem a verdade ou a intenção de quem fala (presenças ontológicas), operam um efeito sobre quem escuta. "O mito de Don Juan dramatiza a noção de ato humano como a questão da relação entre ato sexual e ato de linguagem" (Felman, 1980:36).

Para a autora, o ato de fala consiste numa armadilha sedutora, pois produz uma ilusão referencial, a ilusão de um referente real e fora da linguagem, escondendo o fato de que, como o performativo de Austin, é a própria linguagem quem faz - e nada existe fora dela. E Don Juan exprime a ruptura entre a intenção e o ato, entre o constativo e o performativo - como o próprio Austin ao abrir mão da oposição constativo/performativo, que, nas palavras do autor, "terá dificuldade para sobreviver" (Austin, 1998:119). Felman (1980) conclui que essa ruptura sedutora é a lembrança de que falar é um ato corporal. O abandono da dicotomia performativo/ constativo coloca toda a linguagem no espaço da performatividade, portanto a condição do fazer é transitiva - e o sujeito e o objeto do ato é o corpo. A partir desse ponto, a relação entre corpo e ato de fala, que apenas poderia ser imaginada nas entrelinhas dos textos de Derrida (1990b) à luz do de Austin (1976), torna-se categórica.

Felman valorizou a dissolução performativo/constativo iniciada pelo próprio Austin (1976) e consolidou a reflexão crítica sobre intenção como âncora do ato de fala feita por Derrida (1990b). Nesse sentido, ela acrescentou uma idéia a ser lembrada: o ato de fala diz mais, ou diz diferentemente, do que ele quer dizer, porque o que o corpo significa no ato não se reduz ao que o corpo diz.

Veremos como essas idéias aparecem e se consolidam num terceiro e mais recente momento.

2. Corpo, subjetivação e linguagem

A autora, que produziu o terceiro marco teórico para leitura da obra de Austin nos estudos do corpo é, sem dúvida, Judith Butler. Sob também explícita influência de Derrida, desde a obra que a tornou famosa, Gender trouble (Butler 1999b), Butler utilizou o conceito de performativo. O performativo em Gender trouble aparece no contexto de discussão final, quando a autora se pergunta porque a superfície corporal é a superfície de inscrição cultural por excelência.

O trabalho de Judith Butler sobre a relação entre linguagem e corpo é uma certa prática da citação, que reproduz e altera Austin e Derrida.3 3 Aqui também poderíamos acrescentar: Althusser, Lacan, Foucault, Rubin e tantos outros autores e autoras. Mas, conforme interesse deste artigo, me restrinjo aos índices das iterações que Butler faz de Austin (e conseqüentemente de Derrida e Felman) em seus trabalhos. Quando inclui o ponto-cego da fala - o corpo - nas suas citações, Butler (1993; 1997) altera o performativo. E - o mais importante - suas alterações implicam não perder de vista, em nenhum momento, uma intersecção incomensurável entre o lingüístico e o político. Mais detalhadamente: a discussão de Butler (1993; 1997; 1999b) sobre corpo é atravessada ao mesmo tempo por um problema teórico - a iterabilidade do ato de fala, repetição e alteração, impedindo estruturalmente seu controle total - e por um problema político - criar condições lingüísticas de sobrevivência apesar dos mecanismos violentos de interpelação.

No prefácio para a edição comemorativa dos dez anos de Gender Trouble, a autora afirma que "(...) nenhuma revolução política é possível sem uma alteração radical numa noção do possível e do real" (Butler, 1999b:xxiii). Sua preocupação é articular teorias do corpo e da linguagem que ofereçam espaço para oposição no interior dos próprios termos do poder - e não somente uma descrição e explicação de seu funcionamento - parafraseando Austin, articular teorias do corpo com o performativo, que possa agir e operar nos termos do poder, e não somente constatar.

Butler afirma que

discursos, na verdade, habitam corpos. Eles se acomodam em corpos; os corpos na verdade carregam discursos como parte de seu próprio sangue. E ninguém pode sobreviver sem, de alguma forma, ser carregado pelo discurso (Butler, 1999a:163). [E mais: que] as normas regulatórias do "sexo" trabalham de uma forma performativa para constituir a materialidade dos corpos e, mais especificamente, para materializar o sexo do corpo, para materializar a diferença sexual a serviço da consolidação do imperativo heterossexual (Butler, 1993:2).

A autora afirma

a performatividade deve ser compreendida não como um "ato" singular ou deliberado, mas, ao invés disso, como a prática reiterativa e citacional pela qual o discurso produz os efeitos que ele nomeia (Butler,1993:2).

Para explicar essa prática reiterativa e citacional, ela fundamenta-se nas implicações da situação total de fala definida por Austin (1976) e na interpretação derridiana (Derrida, 1990b) do performativo, especialmente na sua relação com a iterabilidade.

Austin havia percebido, a certa altura de sua análise dos atos de fala, que não é possível compreender o ato de fala sem suas circunstâncias apropriadas, e tais circunstâncias só podem ser expostas nos termos de uma situação total de fala. Butler (1993; 1997) dialoga com suas percepções, afirmando que o enunciado performativo mantém a sua esfera de operação para além do momento em si da enunciação. A autora concorda com Derrida (1990b) que a iterabilidade - a propriedade que torna o rito o que ele é, um momento repetido, repetível, e submetido à alteridade - é a possibilidade estrutural do todo signo: possibilidade de ser repetido na ausência não somente de seu referente, mas também na ausência do seu significado ou intenção determinada.

A iterabilidade atravessa a realização do ato de fala, conduzindo "cada momento único, presente e singular, de realização do ato" em "um momento já acontecido, em acontecimento, a acontecer - é essa imbricação que lhe permite a performatividade" (Pinto, 2007:9). O ato de fala opera no momento da enunciação, mas como esse momento só existe porque é convenção ritualizada, o ato de fala tem sempre uma dívida com uma historicidade condensada, excedendo sua realização única exatamente para torná-la possível. Filiada à contribuição de Felman (1980), Butler argumenta:

Se a temporalidade da convenção lingüística, considerada como ritual, excede o instante de seu enunciado, e este excesso não é completamente capturável ou identificável (o passado e o futuro do enunciado não podem ser narrados com qualquer certeza), então parece que parte do que constitui a "situação total de fala" é a falha em completar com êxito uma forma totalizada em qualquer de suas instâncias dadas (Butler, 1997:3).

Onde começa um ato de fala, nos primeiros sons de um enunciado? No "toc-toc" da porta? No momento em que digo "pode abrir", temos o mesmo ou outro ato de fala? O ato de fala "É uma mulher" começa realmente no momento do parto? Termina nele? Quantas vezes é preciso repetir "é uma mulher" para que o ato de fala esteja completo?

A iterabilidade altera, parasita e contamina o que ela identifica e permite repetir; ela faz com que se queira dizer (já, sempre, também) outra coisa além do que se quer dizer, diz-se outra coisa além do que se diz e quereria dizer, compreende-se outra coisa que.., etc. Em termos clássicos, o acidente não é jamais um acidente. (...) Limitando aquilo mesmo que ela autoriza, transgredindo o código ou a lei que ela constitui, a grafia da iterabilidade inscreve, de modo irredutível, a alteração na repetição (ou na identificação): a priori, sempre já, sem espera, at once, também seco (Derrida, 1990a:120).

É a iterabilidade um meio de comunicação que estende o campo oral e gestual, o ato de fala e o ato físico? Se assim o é, como a iterabilidade afeta do corpo? O que há no corpo que é "estendido" pela iterabilidade?

Que tipos de atos são classificados ou designados ou nomeados? E quais são tão inomináveis e inclassificáveis que se tornam impróprios à impropriedade, ficando fora do impróprio? Refiro-me a atos que constituem um domínio daquilo que não pode ser dito e que condiciona a distinção entre impróprio e próprio. Ainda não somos capazes de considerar aqueles atos e práticas e modos de vida que foram brutalmente excluídos desse mesmíssimo binário próprio e impróprio. Eles não são a pré-história benigna desse binarismo, mas sim seu violento e inominável avesso (Butler, 1999a:165-166).

Sua existência depende de repetidos atos de nomeação - atos iteráveis. Esse ato é violento porque reconhece a autoridade, ao mesmo tempo em que apaga sua marca inaugurativa, limitando os contornos sociais do sujeito. Como afirma Butler (1997:36): "O nome carrega dentro de si mesmo o movimento de uma história que o aprisiona".

Destacando a convencionalidade de Austin (1976) como uma voz nunca singular, mas invocando uma fórmula - "um eco de outros que falam como 'eu'" (Butler, 1997:25) -, Butler constitui sua noção de agência. A autora concorda que o sujeito constitui-se através da interpelação do outro, mas ela enfatiza que a partir disso este sujeito torna-se também ele mesmo capaz de interpelar outros.

Nem soberano, nem puro cúmplice das operações de poder, o sujeito da agência é vulnerável às nomeações e às autoridades, e está implicado nas dinâmicas de sujeição. Mas a iterabilidade do performativo que interpela também possibilita - torna necessariamente possível, como disse Derrida (1990a) - a quebra com a origem ou o fim do ato interpelativo. Isso é o que a autora chama de "estrutura ambivalente da performatividade" (Butler, 1997:40), que regula a subjetividade e tem conseqüências políticas também ambivalentes.

O sujeito é chamado pelo nome, mas quem o sujeito é depende disso tanto quanto dos nomes que ela ou ele nunca são chamados: as possibilidades para a vida lingüística são duplamente inauguradas e excluídas através do nome (Butler, 1997:41).

Ou como disse Austin (1976:10): "nossa palavra é nossa fronteira".

Apontamentos finais sobre os estudos sobre identidades, corpo e linguagem

Neste ponto, gostaria de finalizar apontando para os estudos de identidade que articulam corpo e linguagem. A influência de Butler (1993; 1997; 1999b) nesses estudos é a mais direta, mas encontramos também Austin (1976), Derrida (1990a; 1990b) e Felman (1980).

Revisões bibliográficas do final da década de 1990 relacionam corpo, linguagem, ou apenas linguagem e performativo, e citam pelo menos um/a desses/as quatro autores/as aqui trabalhadas. Cameron (1998:949), na sua revisão sobre estudos de gênero, linguagem e discurso, cita Austin (1976) e Butler (1999b) no mesmo parágrafo para observar que "há uma certa capacidade em sua [de Austin] reapropriação para a análise de como identidades de gênero são realizadas no e através do uso da linguagem". Culler (1999:14), ao examinar os usos do conceito austiniano de performativo na teoria literária e nos estudos culturais, destaca como "uma virada singular no destino do performativo" a "teoria performativa de gênero e sexualidade, cuja figura-chave é a filósofa americana Judith Butler (...) que tem tido grande influência".

A coletânea organizada por Bucholtz & Liang & Sutton (1999:5) contém vários artigos que referenciam Butler (1999b) e sua noção de "corpo como um palco no qual gênero é performado". Na análise de linguagem de jogos, de literatura, de mensagens de internet, de conversações, de veículos de mídia, entre outros, as autoras e autores da coletânea tratam dos vários nomes pelos quais os sujeitos são chamados no ato performativo de constituição de seus corpos: mulheres afro-americanas, mulheres lésbicas, bom rapaz, garota malvada, mulher irracional, adolescentes etc.

Há ainda artigos que tratam de temas diversos em torno do corpo: identidade e sexualidade (Ward & Winstanley, 2005; Sáez, 2005), atos de fala e pornografia (Saul, 2006); identidade e agência (Lovell, 2003; Mills, 2007); todos mencionam Austin e sua relação com Butler.

Pelo que mostram essas revisões bibliográficas, coletâneas e artigos, a tendência dos estudos sobre linguagem e identidades que se apóiam em Austin (1976), pela via da interpretação de Derrida (1990a; 1990b), Felman (1980) e especialmente de Butler (1993; 1997; 1999b), é aumentar, numa curva ascendente de produção. É a revolução "fragmentada e com estranhos objetivos" que o próprio Austin (1976:4) intuiu?

Resta-nos saber como esta paisagem de influências, de filiações ou de heranças de Austin vai se configurar no Brasil, aqui onde o corpo é freqüentemente negligenciado ou patologizado pelos estudos da linguagem, conforme mostrei em outro trabalho (Pinto, 2006).

Pessoalmente, desejo que os ventos soprem para o sul, mas trabalho para que não venha como tempestade cercar-nos, ou como brisa ligeira domesticar-nos. Espero que essas influências se nos ofereçam como a argumentação de Austin: um ato de fala plenamente performativo, uma praxis, como nos ensina brilhantemente Françoise Collin (1994:145):

aquele agir, ou aquela enunciação, cujo fim permanece ausente, que não se desenvolve sob a garantia de modelo algum, mas numa espécie de risco permanente, no desconhecimento de seus meios e seu fim (...) a praxis vai em direção, porém vai em direção daquilo que ela não sabe.

Recebido para publicação em outubro de 2008, aceito em maio de 2009.

  • AUSTIN, J. L. Performativo-constativo. In: Ottoni, Paulo. Visão performativa da linguagem Campinas-SP, Editora da Unicamp, 1998, pp.107-144 [Tradução: Paulo Ottoni]
  • ___________. How to do things with words 2ª ed. Oxford, Oxford University Press, 1976.
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  • O corpo de uma teoria: marcos contemporâneos sobre os atos de fala

    The body of a theory: contemporaneous signs on speech acts
  • 1
    Todas as traduções de trechos de obras em língua estrangeira citadas foram feitas por mim, para fins exclusivos deste artigo.
  • 2
    A influência da Psicanálise, especialmente lacaniana, nos estudos sobre o corpo precisa ser destacada. As duas autoras principais (Felman, 1980; Butler, 1997) discutidas neste artigo articulam suas reflexões sobre performatividade do corpo com conceitos psicanalíticos, e essa articulação é fundamental para muitas das conseqüências de suas reflexões. No entanto, este artigo concentra suas forças no papel específico da obra de J. L. Austin e as conseqüências de sua teoria para os estudos do corpo, especialmente do conceito de performativo. O papel da Psicanálise nessa releitura de Austin é um excelente assunto para um novo texto. Agradeço às/aos pareceristas e editoras desta revista por me ajudarem a notar este e outros pontos relevantes durante o processo de elaboração deste artigo.
  • 3
    Aqui também poderíamos acrescentar: Althusser, Lacan, Foucault, Rubin e tantos outros autores e autoras. Mas, conforme interesse deste artigo, me restrinjo aos índices das iterações que Butler faz de Austin (e conseqüentemente de Derrida e Felman) em seus trabalhos.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Fev 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2009

    Histórico

    • Aceito
      Maio 2009
    • Recebido
      Out 2008
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