Resumos
A autora dessa carta imaginária, Annette Devereux, é uma personagem fictícia, bem como seu marido, Victor, tipógrafo Cartista, e M. e Mme.Ducrocq. Todos os outros personagens mencionados, no entanto, são figuras históricas e a informação sobre eles é apresentada, na ordem em que aparecem, no final da carta. O argumento e as demandas feitas, os eventos políticos descritos, as revistas e a Falange Fourierista em Wisconsin são todas baseadas na realidade histórica.
Feminismo; Socialismo; Manifesto Comunista; Falanges
The author of this imaginary letter, Annette Devereux, is a fictional character, along with her husband, Victor, the Chartist typographer and M. e Mme. Ducrocq. However, all the others characters mentioned are historical figures and infomation about them is provided in the order in which they appear at the end of the letter. The arguments and demands presented, the political events described, the journals and the Fourierist Phalanx at Wisconsin are all based on historical reality.
Feminism; Socialism; Communist Manifest; Phalanx
ARTIGOS
Caro Dr. Marx. Carta de uma feminista socialista * * Dear Dr Marx. A letter from a socialist feminist. In: Threads through time. Writings on history and autobiography. Penguin Books, 1999. [Tradução: Mariza Corrêa]
Dear Dr Marx. A letter from a socialist feminist
Sheila Rowbotham
RESUMO
A autora dessa carta imaginária, Annette Devereux, é uma personagem fictícia, bem como seu marido, Victor, tipógrafo Cartista, e M. e Mme.Ducrocq. Todos os outros personagens mencionados, no entanto, são figuras históricas e a informação sobre eles é apresentada, na ordem em que aparecem, no final da carta. O argumento e as demandas feitas, os eventos políticos descritos, as revistas e a Falange Fourierista em Wisconsin são todas baseadas na realidade histórica.
Palavras-chave: Feminismo, Socialismo, Manifesto Comunista, Falanges.
ABSTRACT
The author of this imaginary letter, Annette Devereux, is a fictional character, along with her husband, Victor, the Chartist typographer and M. e Mme. Ducrocq. However, all the others characters mentioned are historical figures and infomation about them is provided in the order in which they appear at the end of the letter. The arguments and demands presented, the political events described, the journals and the Fourierist Phalanx at Wisconsin are all based on historical reality.
Key-words: Feminism, Socialism, Communist Manifest, Phalanx
12 John Street
Toronto
Canadá
29 de dezembro de 1851
Caro Dr. Marx1 1 Além dos livros e artigos mencionados abaixo, também utilizei Blumenberg (1972), Cross e Gray (1992), Guarnieri (1991), Moses (1984), Peters (1986); Scott (1988).
Estou terrivelmente atrasada. Minha desculpa é a revolução, o exílio, a roupa lavada da Falange de Wisconsin, uma convenção sobre os direitos das mulheres americanas, e duas crianças pequenas. A filosofia foi deixada de lado e só agora li seu alentador Manifesto. Ele foi descoberto por mim em circunstâncias extraordinárias - e creio que o senhor concordará que "o diabrete assustador"2 2 Helen Macfarlane traduziu "espectro" como "diabrete assustador" na versão resumida do Manifesto do Partido Comunista serializado no The Red Republican de 9 de novembro de 1850. Uma re-edição, com introdução de John Saville, foi publicada pela Merlin Press, Londres, 1966. O "diabrete assustador" aparece na p.161. Todas as referências a seguir são do Manifesto do Partido Comunista de Karl Marx e Frederick Engels, Londres, 1968. teve uma chegada especialmente rara quando eu lhe contar minha história.
Eu teria lido o senhor e o senhor Engel em Paris, em 1848, se eu não estivesse correndo das barricadas para o escritório de Voix des Femmes e depois para os clubes de mulheres. Depois do horror dos dias de junho, trabalhei tanto em nossa casa e creche associada que li muito pouco além dos jornais de mulheres que continuávamos a lançar. O senhor provavelmente conhece as circunstâncias que me obrigaram a fugir da França em 1850, depois que a polícia nos encontrou na casa de Mme Deroin no final de maio. Ela e Pauline Roland foram levadas, para serem julgadas, junto com Femme Nicaud, e presas por sua participação na federação das associações. Victor, meu marido, tinha se correspondido com os associacionistas americanos por alguns anos. Foi assim que chegamos a Wisconsin.
A Falange de Wisconsin estava dividida por questiúnculas e intrigas quando chegamos. O senhor gostará de saber, no entanto, que, ao contrário de algumas das comunidades do leste, nossos falanstérios em Wisconsin eram economicamente bem sucedidos. As utopias, veja só, vêm em diferentes formas e formatos. Nossos associacionistas de Wisconsin sabiam cultivar e tínhamos um excedente para levar ao mercado.
No entanto, para ser franca, acredito que poderíamos ter sido mais felizes no leste. Entre os plantadores, sempre seríamos estranhos. Victor e eu caminhávamos entre os juncos do lago pensando nas ruas de pedras de Saint-Germain. Paris não é um lugar para prepará-lo para a natureza, não importa o que M. Fourier diga a respeito das virtudes do ar do campo para a harmonia passional e o bem estar. Em geral, prefiro visitar a natureza a lidar com ela.
Victor pôde fazer seu trabalho - todos gostavam de fumar os charutos que ele enrolava à noite - mas as conversas eram geralmente sobre agricultura. Eu era obrigada a passar longas horas na lavanderia com as mulheres, que só falavam de problemas domésticos. Minhas tentativas de fazer um trabalho mais criativo, não deram em nada. Os americanos não achavam o meu inglês suficientemente fluente para ensinar na escola. Percebi um certo preconceito aqui contra aqueles cuja língua materna não é o inglês, algo de que não gosto. Sei que poderia ter contribuído enormemente para a escola. As crianças ainda estavam aprendendo pelo método de decorar, e as habilidades passionais, tão valorizadas pelos associacionistas, eram completamente negligenciadas. Minhas sugestões sobre música, dança e pintura foram deixadas de lado. Havia uma espécie de democracia lá, mas se você não fosse um investidor, sua voz contava pouco.
Mas estou fugindo de minha promessa de lhe contar sobre a maneira curiosa e interessante pela qual o Manifesto encontrou seu caminho para Wisconsin. Uma das conseqüências do sucesso da Falange era vista com pouco entusiasmo pelas mulheres que a integravam: nossa prosperidade atraía visitantes - e visitantes significavam mais roupa para lavar. Antes que o senhor nos condene, peço-lhe que tente enfrentar o vapor da lavagem por oito horas. Cestas e cestas de roupa suja não o inclinarão a dar as boas vindas aos que as vestem. Pessoalmente, estava um pouco inclinada a receber favoravelmente os visitantes filosóficos e literários, já que eles traziam notícias do mundo. Mas os palestrantes sobre tais assuntos não se interessavam pelo oeste e, assim, infelizmente, atraíamos mais economistas e eu achava suas palestras muito secas para compensar o trabalho extra.
Bom, agora o senhor deve ter adivinhado! Estou orgulhosa de anunciar que resgatei seu Manifesto antes que ele se afogasse. Lá estava ele, no bolso de uma camisa, coberto de roupa suja. Uma cópia do The Red Republican vindo desde Londres, com a tradução de seu trabalho pela senhorita Macfarlane. Eu estava preocupada com seu destino no meio do vapor e fui logo atrás de seu dono distraído, um jovem tipógrafo e antigo Cartista que estava se livrando dos desapontamentos do Velho Mundo. Tivemos uma conversa bem animada sobre os ideais e fracassos de '48. Esse breve intervalo é uma das minhas memórias mais felizes de Wisconsin, já que havia poucas pessoas que compreendiam o que esse ano tinha significado na Europa. A oportunidade de me comunicar com alguém que tinha conhecido uma derrota análoga foi um alívio para a angústia crescente que eu trouxera sem perceber para a América. Nesse encontro casual senti-me inteiramente viva de novo. Ele insistiu para que eu ficasse com a revista de presente quando continuou sua viagem pelo oeste. Realmente, eu deveria tê-la doado para a biblioteca da Falange, mas era uma posse tão preciosa.
O senhor Dana passou por aqui depois (ele gostava de nós graças à sua paixão pela agricultura) e ficou encantado quando lhe mostrei o The Red Republican. O senhor sem dúvida está familiarizado com o jornal que ele edita, o New York Daily Tribune. Ele disse que tinha ouvido falar que foi a senhora Marx que o encorajou a colaborar com os trabalhadores da Liga Comunista. Posso imaginá-la percebendo o desconforto dos trabalhadores no meio de filósofos que podem às vezes agir com uma arrogância acadêmica não intencional, supondo familiaridade com termos e idéias alheias naqueles que tiveram de educar-se a si mesmos. Os trabalhadores inclinam-se então a suspeitar que uma aristocracia acadêmica vai substituir uma aristocracia monetária. Acredito que nós, mulheres socialistas, também somos capazes de perceber ditadores democráticos nas nossas próprias fileiras, assim, posso apreciar a percepção da senhora Marx de todo coração.
Deixamos a Falange em meio a discórdias há seis meses. Ela tinha se tornado vítima de seu próprio sucesso, servindo para alguns como uma alavanca para que se tornassem capitalistas. Mas esse é um vento daninho que não faz bem a ninguém. Depois de um breve período em Akron, mudamos para cá por sugestão do senhor e da senhora Ducrocq, que fundaram uma escola baseada nas idéias associacionistas de uma educação integral. Posso dar aulas de novo e fico encantada com o quanto as crianças florescem com o exercício do corpo e dos sentidos tanto quanto do intelecto. Nós as encorajamos a aprenderem tanto com a experiência quanto com os livros, e nossa escola, freqüentada pelos filhos dos artesãos e dos professores, é um pequeno palácio de harmonia social. Ao invés do decoreba e de punições duras, nossos alunos descobrem o conhecimento por si mesmos, num espírito de cooperação e democracia. Acredito que a educação deve ser, na medida do possível, algo agradável. Tenho até hoje gratas memórias das ótimas declamações da senhora Marx. Diga a ela que as crianças já são capazes de declamar Goethe e Shelley. Como gostaria que vocês pudessem ouvi-las através do Atlântico.
Meu marido pode seguir seu ofício de maneira independente - mas asseguro-lhe que meu honesto Victor não é nada burguês. No momento, ele está estudando as condições dos trabalhadores em Toronto e conversando com outros homens de seu ofício a respeito do associacionismo. Assim, mesmo que tantas de nossas grandes esperanças tenham sido esmagadas, aqui ainda podemos fazer algo. Continuo a sentir falta da França, especialmente de minha amada Paris, mas começo a reconhecer um espírito de liberdade e uma disposição para quebrar as barreiras existentes no Velho Mundo que valorizo enormemente. O verdadeiro inimigo do associacionismo aqui é a ganância, e não uma aristocracia de berço.
Assim, temos estado ocupados, mas este mês, em meio à neve pesada, à noite, tive tempo para a reflexão e pude finalmente ler o seu Manifesto. Li de uma vez só, numa crescente excitação. Minha primeira impressão foi sobre a dramaticidade e o vigor da linguagem - tão diferente do estilo seco da maior parte da economia política. Pude ver os esforços que o senhor fez para romper com um estilo puramente filosófico. Não se trata apenas das palavras - os trabalhadores aqui estão no centro do palco, lutando pela sua emancipação. Me fez lembrar os velhos épicos, nos quais forças gigantescas se juntam e partem para a luta - mas isso trata do aqui e do agora - o duro e devorador sistema social rompendo com todos os costumes, esmagando todos nossos supostos e fazendo com que a própria terra pareça tremer sob nossos pés. Fiquei encantada com sua capacidade de atingir o âmago da sociedade e de apresentar uma visão tão ampla da história com uma clareza tão admirável.
Enquanto lia, estava de volta à Rue Vanneau. Como o senhor batia na mesa! O senhor Ruge explicava que isso era necessário, já que o princípio socialista deve ser 'a crítica impiedosa de tudo o que existe'.3 3 Karl Marx para Arnold Ruge, setembro de 1843 (Marx e Engels, 1975:142). Não obstante, a senhora Marx várias vezes lançou um olhar preocupado para as louças. Conversas, era tudo o que sabíamos sobre o socialismo naqueles dias. Tantas coisas aconteceram nos oito anos seguintes que parece que estamos numa nova era. Como poderíamos ter imaginado as barricadas, as traições ou o despotismo atual na França? Nosso mundo político fez a volta completa e foi virado do avesso. Foi alguma intuição que o levou a escrever "tudo que é sólido desmancha no ar"? (Marx e Engels, 1968:38). Sei que o senhor me reprovaria, se estivéssemos de volta a Saint-Germain, por entreter noções fantasiosas. Mas o senhor estava escrevendo enquanto uma revolução cozinhava em fogo lento abaixo da superfície e o Manifesto prevê uma grande conflagração. Mas o que fazemos com isso agora? Se tivéssemos sabido as conseqüências de nossos atos, teríamos agido com maior sabedoria, ou congelado assustados ante circunstâncias caprichosas? Não posso sentir-me tão segura quanto o senhor em relação ao nosso triunfo inevitável. Aqui, no Novo Mundo, vejo poucos sinais de qualquer movimento em direção ao associacionismo - bem ao contrário. Parece que teremos que avançar aos poucos.
Agora já li o Manifesto várias vezes, de uma maneira mais crítica, e gostaria de saber se o senhor reconsiderou alguns pontos dele à luz das terríveis derrotas que testemunhamos em 1848.
E - ainda que eu tivesse gostado de ouvir sua opinião pessoalmente - suspeito que uma carta me favorece, já que o senhor tem o hábito de afogar objeções numa torrente de oratória. Como o senhor é um homem poderoso, com muito estudo, não é fácil manter argumentos contrários aos seus face a face - assim, talvez seja melhor que tenhamos o Atlântico entre nós.
Concordo com sua crítica aos "socialistas conservadores reacionários" (Id. ib.:61). Muitos integrantes da Falange de Wisconsin estavam, de fato, mais interessados em seus estoques do que em ampliar a associação. Ainda assim, acho que o senhor foi muito duro ao desqualificar a causa associacionista. As comunidades são muito variadas. A nossa, como já disse, era economicamente forte e fraca quanto ao convívio. Penso, no entanto, que uma mistura melhor poderia ter sido possível em outras circunstâncias. Quando nos mudamos, lamentei que estivéssemos abandonando o associacionismo como um modo de vida e, olhando para trás, recolhi minhas melhores lembranças - descascando ervilhas no verão, ou cantando com as outras mulheres enquanto trabalhávamos. Não pude deixar de pensar se sua tentativa breve e infeliz de uma vida associacionista não poderia ter, talvez, prejudicado de algum modo sua avaliação.
A senhora Ruge tinha várias virtudes, mas ela e a senhora Marx tinham pouco em comum. Se uma comunidade é ampla e diversificada, deveria ser possível procurar aqueles cuja companhia é agradável e gratificante.
Antes que o senhor me acuse de idealismo, deixe-me dizer que foi uma experiência valiosa - mesmo que não tenha dado certo - ver as teorias que debatíamos tão entusiasticamente em Paris serem postas em prática. O tempo que passei na Falange de Wisconsin me ensinou quão grande pode ser o hiato entre uma idéia e sua realização. As melhores idéias podem ser desvirtuadas e conspurcadas quando postas em prática e isso é verdade tanto sobre revoluções quanto sobre lavanderias dos falanstérios. O esforço para vivermos de acordo com nossas crenças pode conter, como o senhor diz, uma dose de loucura - mas é uma grande experiência. E certamente o que aprendemos deve contribuir para a questão de como vamos alterar os nossos hábitos, que certamente será colocada quando fizermos a revolução mais ampla que o senhor visualiza. Sei que o senhor vai dizer que tais circunstâncias serão inteiramente diferentes, mas os proletários terão vivido de acordo com os velhos costumes até então e isso pode ser um obstáculo no caminho do "livre desenvolvimento" (Id. ib.:53). de alguns - especialmente, suspeito, se se tratar das mulheres.
Nos últimos dez anos estive tão envolvida nos debates das mulheres a respeito da renovação social que falo com grande convicção quando digo que a seção sobre mulher e família é um enorme desapontamento. Ela tem a mesma qualidade abstrata dos escritos do senhor Cabet sobre a questão, como se ambos estivessem satisfeitos com opiniões de segunda mão. Percebo que isso o desagradará, já que o senhor despreza os Icarianos, mas a verdade é que, como ele, o senhor ignora as idéias e a participação das mulheres. A riqueza e a complexidade do nosso pensamento não estão de modo nenhum presentes no manifesto dos proletários. É como se, aos seus olhos, não houvesse lugar para nós no seio das lutas e dos debates. O senhor nos oferece a proteção que acha conveniente e nega nossas próprias vozes. Nós também não temos um mundo a conquistar?
Concordo, é claro, que as mulheres de fato tem sido vistas como "instrumentos de produção" (Id. ib.:50). Estou impressionada com o quanto as mulheres na América do Norte tem concorrido para a causa da abolição e suspeito que isto não se deva apenas a ideais religiosos ou democráticos sobre a igualdade de todas as almas, mas porque elas podem se imaginar sendo usadas no corpo e no espírito. Mas o senhor e o senhor Engels não fazem qualquer menção a respeito dos meios pelos quais nós mulheres poderíamos mudar nossa circunstância atual. Devemos de fato esperar pela "abolição do sistema atual" (Id. ib.)? E entrementes o quê?
Ainda que possa entender que o senhor foi forçado a resumir suas idéias no Manifesto, a exclusão de qualquer referência à participação das mulheres em nossa própria emancipação nos apresenta a todas como sendo fracas e a todos os homens trabalhadores como sendo fortes. O senhor nega, assim, os esforços que as mulheres fizeram através do associacionismo para por a igualdade e a democracia em prática na Europa, e, por omissão, atrasa a causa da abolição de todos os privilégios de sexo, raça, nascimento, casta e riqueza, pela qual tanto nos sacrificamos. Ainda que haja pouco entusiasmo por aqui pelo socialismo democrático, o movimento pela emancipação das mulheres tem se desenvolvido a passos largos. A "dissolução das velhas idéias" e de "velhas condições de existência" (Id. ib.:51) está acontecendo entre as mulheres e estou convicta de que as conseqüências serão tão significativas quanto as da emancipação dos escravos e das lutas do proletariado.
O senhor, que tanto suspeita do ideal por contraposição à prática, não deveria supor que na política real as mulheres possam se dar ao luxo de confiar nos homens para sua emancipação. Não pretendo sugerir que indivíduos não possam superar os preconceitos de seu sexo, mas há tantos exemplos dos homens em geral agindo para proteger os interesses estreitos do sexo masculino que o peso da história vai contra a suposição de que a liberdade será facilmente concedida. Mesmo entre nossos irmãos proletários, a injustiça e o espírito anti-democrático podem prevalecer. Não recusaram eles a defesa de nossa reclamação pela igualdade política, não negaram pagamento igual às mulheres e não as excluíram de suas associações? O senhor Delbrouk até insistiu em que a senhora Deroin deveria negar sua participação na montagem do esquema federativo da nossa associação de trabalhadores em Paris, sob o pretexto de que sua conexão com a causa dos direitos das mulheres poderia atingir a reputação da União das Associações e do socialismo. Em seu julgamento, ela renegou ao seu direito de falar pela associação de modo a não revelar a amarga discordância entre nós para nossos adversários.
Nossas vozes, silenciadas e vilipendiadas na Europa, cruzaram o Atlântico. Em Akron, tive o privilégio de assistir à convenção dos direitos das mulheres e de ajudar a senhora Mott a copiar e traduzir a inspirada carta de minhas queridas irmãs e companheiras associacionistas Jeanne Deroin e Pauline Roland desde sua prisão francesa. Elas vêem esse novo movimento pelos direitos das mulheres na América como a esperança nascida do desespero, e consideram que a negação da democracia para uma metade da humanidade ajudou a emudecer a liberdade:
A escuridão da reação obscureceu o sol de 1848, que parecia ter nascido tão radiante. Por quê? Porque a tempestade revolucionária, ao derrubar, ao mesmo tempo, o trono e o cadafalso, ao romper as cadeias dos escravos negros, esqueceu-se de romper as cadeias dos mais oprimidos de todos os párias da humanidade.
4 4 Jeanne Deroin e Pauline Roland, Letter to the Convention of the Women of America, 15 de junho de 1851 (Bell e Offen, 1983:287-288).
Certamente há algumas diferenças entre nossa abordagem como mulheres socialistas e o movimento das mulheres americanas pela emancipação. Elas enfatizam seus direitos à igualdade e liberdade com base na constituição de sua revolução, mas ouvi dizer que as mulheres trabalhadoras estão formando suas próprias associações para melhorar suas condições de trabalho. E houve também um discurso singularíssimo à convenção em Akron, por uma ex-escrava, de nome Sojourner Truth. Ela observou que tinha "arado e semeado e podado e cortado"5 5 Sojourner Truth, citada em Nell Irvin Painter, Sojourner Truth's Defense of the Rights of Women (as reported in 1851; rewritten in 1863) (Kerber e De Hart, 1995). tanto quanto qualquer homem.
Tais reivindicações de igualdade e emancipação, enraizadas como estão na experiência, certamente são "relações concretas desenvolvidas a partir de uma luta de classes existente, de um movimento histórico que se desenvolve sob nossos olhos" (Marx e Engels, 1968:46-47). A expressão feminina das relações que o senhor descreve é frequentemente diferente da dos homens, pois as circunstâncias de nossa dependência não são inteiramente as mesmas. Por essa razão, Désirée Gay argumentou que as mulheres trabalhadoras nas reuniões nacionais deveriam ter suas próprias reuniões, além de assistir as reuniões com os homens. Creio que uma combinação de autonomia com solidariedade é necessária, se queremos uma democracia real.
Na convenção de Akron, as mulheres americanas aprovaram a seguinte resolução: "Somos contra o direito de qualquer porção da espécie de decidir por outra porção... o que seja e o que não seja sua "esfera apropriada" (apud Dubois, 1978:36). Não concordo inteiramente com essa declaração em todas as circunstâncias, já que temo que ela possa minar os laços genuínos de solidariedade que conheci nas associações. Por outro lado, essa idéia de que as mulheres devem agir em prol de sua própria emancipação certamente está de acordo com sua insistência de que "os proletários não tem nada a perder, exceto seus grilhões" (Marx e Engels, 1968:63). Nós, as mulheres socialistas francesas, acreditávamos que a causa das mulheres e a causa dos trabalhadores poderiam ser levadas em conjunto, apesar de exemplos de preconceito e hostilidade. Mas também sabíamos que se quiséssemos superar injustiça e desrespeito, deveríamos nos juntar como mulheres e agir autonomamente em relação aos homens. Penso que a emancipação social de todos será baseada na auto-emancipação de todos os párias da sociedade.
Em Akron, fiquei perturbada ao descobrir que tais conexões não são percebidas nesse novo movimento das mulheres e me senti perdida. Entre as americanas, que enfatizam a independência das mulheres ao invés da união das classes trabalhadoras, e o senhor e o senhor Engels, que seguem o curso dos movimentos democráticos tão de perto e no entanto conseguiram erradicar nosso pensamento e nossa ação, onde devemos nos localizar, nós mulheres socialistas? Lembrei das palavras de Louise Otto:
A história de todas as épocas, especialmente a do presente, nos ensina que aqueles que esqueceram de pensar sobre si mesmos serão esquecidos.... Em meio às grandes revoluções em que nos encontramos, as mulheres descobrirão que foram esquecidas se esquecerem de pensar sobre si mesmas (Otto, 1983:263).
Sou assaltada por dúvidas por todos os lados e a única arma que tenho é minha pena, com a qual pretendo fazer-lhe um relato de nossas idéias e debates, já que a revolução que vivemos foi uma grande mestra, e me preocupa a possibilidade de que tantas idéias se desmanchem no ar. Isso pode levá-lo a considerar um leque mais amplo de opiniões e ações no seu trabalho futuro.
Fomos enormemente inspiradas pelas mulheres do início dos anos de 1830. Pauline Roland, Désirée Veret, Suzanne Voilquin e Claire Démar (para nomear só algumas) nos mostraram que as mulheres devem, de fato, pensar sobre si mesmas para alcançar a emancipação. Com essas bravas mulheres, e com Flora Tristan, aprendemos que as mulheres que não são donas de si próprias não são donas de nada. No entanto, tendo estabelecido a necessidade de agir por conta própria, não esquecemos que nossa causa estava relacionada à da classe trabalhadora. De fato, fiquei surpresa ao não ver em seu Manifesto menção à proposta de Flora Tristan de uma União dos Trabalhadores, em 1843, e ao reconhecimento dela de que a emancipação do homem trabalhador era impossível enquanto as mulheres permanecessem oprimidas na família.
Certamente não nos "opomos a toda ação política" (Marx e Engels, 1968:61). Ao dedicar sua London Journey aos "homens e mulheres das classes trabalhadoras", Flora Tristan disse - "Não percam de vista seus direitos políticos"6 6 Flora Tristan, The London Journal of Flora Tristan, 1842, traduzido, anotado e apresentado por Jean Hawkes, Londres, 1982. - acrescentando que esses eram os "meios" para desafiar os "abusos... da ordem social" (Id. ib.:3). Avisou, no entanto, que:
É o sistema social, a base da estrutura, que deve interessá-los, não o poder político, que é apenas uma ilusão, vencedor num dia e derrubado no outro, restaurado numa nova forma apenas para ser modificado pela seguinte (Id. ib.).
Penso que o senhor e o senhor Engels deveriam ter reconhecido essa grande mulher.
Nós, os de '48 (como os americanos nos chamam), certamente fizemos muito que poderia levá-lo a modificar algumas das afirmações do Manifesto. No clube de mulheres Voix des Femmes, por exemplo, afirmamos que se o povo era soberano, nós também constituíamos "o povo". Jeanne Deroin se apresentou como candidata em 1849, mas o único grupo a tratá-la com respeito foram os socialistas democráticos. Nós nos voltamos para o associacionismo não em razão de qualquer desprezo pela política, mas por necessidade. De que outra maneira poderíamos assegurar o emprego ou aumentar nosso soldo? Acreditando que 'associar-se é superar', trabalhamos para vincular as associações, com o objetivo de superar nosso isolamento. Depois que Jeanne Deroin propôs a Association Solidaire et Fraternelle de Toutes les Associations Reunis no L'Opinion des Femmes, os delegados de 104 associações se inscreveram, sem distinção de sexo. Quando a polícia invadiu nossa reunião e nos levou para a cadeia, fomos acusados de conspirar para derrubar o governo pela força, mas a violência não estava nas nossas intenções.
A idéia de uma federação de associações surgiu a partir da experiência que tivemos em 1848 e 1849, quando costureiras, parteiras, trabalhadoras da seda e lavadeiras estavam todas formando associações. Como tínhamos experiência direta dos problemas que elas encontraram para obter capital, para definir necessidades e para vender seus produtos, pudemos perceber as vantagens e as dificuldades prováveis de uma forma mais extensa de produção cooperativa. Não treinadas na economia política abstrata, muitas de nós, não obstante, entendíamos a economia da nossa própria casa. O resultado foi um projeto mais desenvolvido de um sistema cooperativo de produção, distribuição e troca, que não saiu da cabeça de um teórico que não sabia nada da vida dos trabalhadores. Sempre preocupadas com o que era possível, nosso objetivo era uma federação que equilibrasse as necessidades de produtores e consumidores e fixasse um preço justo pelas mercadorias. Pensamos também em criar instituições financeiras que atendessem mulheres pobres e fossem dirigidas em termos da mutualidade e da democracia. Tais aspirações seriam esmagadas pela tirania que nos levou ao exílio ou nos destruiu na prisão. Maior razão para lembrar o que foi conquistado. Certamente a organização melhor da sociedade, que todos desejamos, vai requerer algum planejamento e preparação.
Se não for assim, pergunto no que vamos nos basear quando passarmos de um sistema de organização social para outro? O senhor escreve sobre os elementos de uma nova sociedade no interior da velha. Mas como decidiremos sobre o que manter e o que jogar fora? Vejo a mim mesma sentada numa espécie de quarto de despejo político, resgatando objetos que carregam memórias preciosas. O senhor gosta de usar pinceladas grossas e não se incomoda com detalhes. Mas vivemos no meio de detalhes e são eles que propiciam uma vida cômoda. Como o senhor pode ver, os filósofos podem se beneficiar das habilidades de uma dona de casa.
Na América, como já disse, as demandas pelos direitos das mulheres são em geral feitas a partir dos direitos inalienáveis à igualdade, mas Jeanne Deroin acredita que a experiência de maternidade das mulheres nos dá uma compreensão especial sobre cooperação e amor. Ela argumenta que as mulheres poderiam levar tais qualidades para a esfera social. Estou consciente de suas suspeitas em relação aos sentimentos nas discussões sobre mudança social, mas tenho certeza que o senhor concordaria com que o sentimento humano faz parte do quadro. Não é possível, então, ver na valorização das capacidades desenvolvidas pelas mulheres como mães uma forma de resistência a não serem reduzidas a "meros instrumentos de produção"? Vejo bem que, ao fundamentar na maternidade nossa demanda por direitos, podemos nos isolar e perdermos nosso lugar no território dos iguais. Por outro lado, uma igualdade puramente abstrata, concebida de acordo com a lógica masculina, pode eclipsar uma experiência única das mulheres como sexo. Esse dilema tem sido ardentemente debatido pelas mulheres socialistas já há duas décadas e, ainda assim, o senhor não o menciona. Ele tem também implicações para a questão mais geral de como os oprimidos vencerão. Se eles não têm conhecimentos para contribuir com o grande projeto de regeneração social, como é que eles vão impedir as pessoas privilegiadas, com oportunidades e conhecimento, de, mais uma vez, obterem a liderança?
O senhor conhece o livrinho de Claire Démar, Ma Loi d'Avenir, publicado por Suzanne Voilquin em 1834, no ano do trágico suicídio dela? Claire era uma voz solitária. Desconfiada das idéias fixas sobre a natureza feminina, ao mesmo tempo em que demandava liberdade de expressão para as necessidades, inclinações e desejos das mulheres, ela não tinha paciência com os decretos do senhor Enfantin, que atribuía às mulheres Saint-Simonianas as emoções e aos homens o mundo. Eu era muito jovem então para compreender seu conflito com Suzanne Voilquin e com as outras Saint-Simonianas, mas agora posso apreciar sua rebelião contra a concepção delas da "mulher" como uma redentora moral, que elas acreditavam que iria impor um novo conjunto de regras para as mulheres. Ela acreditava, ao contrário, que mesmo quando definimos "nossa própria natureza, nosso próprio desejo, nós afirmamos que cada natureza, cada desejo, é sagrado, e demanda satisfação".7 7 Claire Démar, citada por Eleni Varikas, A Supremely rebellious word: Claire Démar, a Saint-Simonian heretic, Argument Sonderband, AS 185, p.98. Sua vida continua a ser vista como escandalosa porque ela defendeu "um julgamento físico da carne pela carne" (Id. ib.:99), mas há uma considerável hipocrisia nesse escândalo já que os homens jovens fazem o mesmo, com uma piscada e um olhar de aprovação dos homens mais velhos. Como podemos dizer que deve haver uma moral para os homens e outra para as mulheres? Ela questionava a fidelidade baseada no medo e ela e seu jovem amante pagaram um preço terrível com suas próprias vidas.
O perigo real para a mulher livre, em minha opinião, é a extrema dificuldade de desafiar o preconceito em tantas frentes. Isso pode ser destrutivo e levar a grandes sofrimentos. Por isso, posso simpatizar com o seu desgosto, e o da senhora Marx, em relação aos abusos que podem resultar de algumas versões do 'amor livre'. Estou certa de que houve excessos no começo dos anos de 1830, porque as pessoas sentiam que o mundo estava desabando em volta delas. E também sempre há certos socialistas homens (lembro do insulto do senhor Herwegh à senhora Marx) que interpretarão liberdade como licenciosidade. E há ainda a questão das crianças, é claro. Não gosto da proposta de Claire Démar de negar aos pais biológicos o direito de criarem seus filhos e penso que a idéia de Pauline Roland de que a paternidade não tem importância atribui uma enorme responsabilidade às mulheres. Pauline Roland e Jeanne Deroin defenderam o celibato, mas nenhuma delas se manteve fiel a ele por muito tempo. E porque as mulheres deveriam sacrificar amor e maternidade por uma idéia de liberdade? O que sobra da liberdade quando a vida passa e estamos sós?
Tampouco fiquei satisfeita, no entanto, com sua observação de que devemos aguardar pela abolição do sistema atual para resolvermos essas questões. Temo que até lá estaremos muito velhos e grisalhos para nos importarmos. Estou certa de que o senhor tem razão - as idéias e formas do presente mudarão com a organização futura da sociedade. Mas como devemos proceder entrementes? E, uma vez que tomamos consciência da opressão, como poderemos continuar a viver numa condição de infelicidade e opressão? O que acontecerá com a mulher defendida por Claire Démar, no leito nupcial sem amor? Como democratas, certamente podemos concordar com Jeanne Deroin, que a maternidade deve ser voluntária, e respeitar a rejeição ao casamento de Pauline Roland, devido à posição inferior da esposa? Quanto ao comunismo, Flora Tristan não argumentou convincentemente que a desigualdade nas famílias da classe operária eram a causa de muita violência e crueldade? Sua avaliação da família não considera a questão da qual as mulheres socialistas tem se ocupado com grande preocupação - a relação entre a dominação masculina no lar e a suposição de sua superioridade na política e nos lugares de trabalho. Desde o início dos anos 1830, tentamos desafiar a desigualdade e o despotismo em todas as esferas da vida e muitas de nós sofremos gravemente por isso. O senhor não nos fez justiça. O senhor ofereceu à causa comunista um Manifesto no qual parece que nada disso aconteceu.
Sei que o senhor é cético a respeito de "castelos no ar" (Marx e Engels, 1968:61), portanto, estou terminando com uma lista de propostas que foram desenvolvidas a partir da ação.
. Direitos civis e políticos iguais para as mulheres.
. Participação igual das mulheres nos comitês dos trabalhadores.
. Pagamento igual, fim do baixo pagamento às mulheres, de longas horas de trabalho e da exclusão de certos ofícios.
. Pagamento igual para as mulheres que trabalham em casa e as que trabalham na fábrica.
. Divisão do trabalho em momentos de desemprego.
. Empregos alternativos para as prostitutas.
. Restaurantes e creches em todos os lugares de trabalho.
. Centros de treinamento para as mulheres, inclusive as parteiras.
. Centros para encontro e organização das empregadas domésticas.
. Desenvolvimento da associação entre mulheres e homens trabalhadores através da união, de maneira a levantar capital.
. Boas condições de emprego.
. Meios para trocar trabalho pela produção e proteção em tempos de necessidade - incluindo-se uma associação artística e literária para ajudar as mulheres trabalhadoras nessas áreas e para expandir o interesse pela arte, e também uma associação para as mulheres desempregadas.
. Casas amplas, bem ventiladas, com hortas que facilitem refeições comunitárias baratas, e lugar para morar para famílias com crianças e pais e mães solteiros.
. Restaurantes públicos, lavanderias, lugares para reuniões, bibliotecas e creches. Espaço público para o lazer.
. Educação pública e profissional gratuita para todas as crianças, inclusive as meninas.
. Um sistema de seguro social que não seja agressivo para com as grávidas pobres.
. Assistência médica gratuita e pagamento de parteiras pelo estado.
. Fundo social para as mulheres, de modo que elas não dependam dos homens,
. Maternidade voluntária.
Minha experiência de vida na Falange me convenceu que a melhor maneira de assegurar essas reformas não é o isolamento, mas a agitação nos bairros dos trabalhadores. Pretendo fazer agitação pelos direitos das mulheres em Toronto e lutar para assegurar os direitos sociais que acredito possibilitarão às mulheres das classes trabalhadoras fazerem suas próprias escolhas a respeito de suas vidas. Nossas derrotas foram difíceis de suportar, mas temos a coragem de confrontá-las e idéias e propostas para contribuir com as gerações futuras. Nossa causa é realmente internacional. Faço eco à carta de Pauline Roland e Jeanne Deroin para a convenção das mulheres americanas no último verão:
Irmãs da América! Suas irmãs socialistas da França estão unidas com vocês na luta pelos direitos das mulheres à igualdade política e civil. Temos, além disso, profunda convicção de que apenas através do poder da associação baseada na solidariedade - pela união dos trabalhadores de ambos os sexos para organizar o trabalho - podemos atingir, inteiramente e pacificamente, a igualdade civil e política das mulheres, e o direito social de todos (
apud
Bell e Offen, 1983:289).
Sinceramente sua na luta pela liberdade,
Annette Devereux
Guia das figuras históricas
Jeanne Deroin foi uma costureira que se tornou professora auto-didata. Republicana, influenciada pelas idéias de Saint-Simon, trabalhou nos jornais La Voix des Femmes e La Politique des Femmes. Casou-se com um engenheiro e teve três filhos. Depois de sua prisão, foi para o exílio na Inglaterra e publicou um Almanaque das Mulheres, em francês e inglês. No final da vida esteve em contato com a Liga Socialista de William Morris.
Pauline Roland era professora e viveu com os Saint-Simonianos em Paris no início dos anos 1830. Em 1848 organizou a Associação Fraternal de Professores Homens e Mulheres. Tinha um filho de uma relação anterior e outros três de uma união livre com outro homem. Em 1848, lamentava as responsabilidades e falta de segurança de mães solteiras. No entanto, recusou-se a renegar suas opiniões sobre o casamento depois de sua prisão em 1850. Em dezembro de 1851, depois do golpe de estado de Luís Napoleão, foi novamente presa e enviada para uma colônia penal na Argélia. Morreu quando retornava à França.
Femme Nicaud era a líder da Associação das Lavadeiras.
Charles Fourier, teórico do socialismo, era a favor de pequenas comunidades cooperativas que chamava de falanges. Suas idéias foram levadas para a América nos anos de 1830 por Albert Brisbane e várias comunidades foram lá estabelecidas.
Helen Macfarlane traduziu o Manifesto Comunista para o The Red Republican.
Charles Anderson Dana, teórico americano do fourierismo e editor do New York Daily Tribune. Ele visitou Marx em Colônia, com Brisbane, no verão de 1848, e em 1852 convidou Marx para escrever uma coluna regular para seu jornal.
Jenny Marx vivia em Paris com seu marido em 1843, quando eles se mudaram para uma casa comunitária com Arnold Ruge e sua mulher, mas Jenny não se deu bem com a senhora Ruge. Ela gostava mais de Emma Herwegh, cujo marido, o poeta Georg Herwegh era amigo de Marx. Jenny Marx desaprovava as relações boêmias do poeta, rejeitou sua tentativa de sedução, e se horrorizava com as discussões sobre o amor livre em Paris. Em 1847, ela encorajou Marx a trabalhar com a Liga Comunista e transcreveu o Manifesto Comunista enquanto se preparava para uma festa de natal da União dos Trabalhadores Germânicos, em Bruxelas, na qual recitou alguns poemas.
Em 1845, quando o casal Marx estava no exílio em Bruxelas, Helene Demuth, uma jovem de 25 anos, foi trabalhar para eles como empregada doméstica. Em 1851 ela engravidou de um filho de Marx, que teria o nome de Freddy Demuth. Ele foi criado por um casal das classes trabalhadoras em Hackney, Londres.
Etienne Cabet era o autor de Voyage em Icarie e um conhecido defensor do comunismo na França durante a década de 40. Seus seguidores eram conhecidos como Icarianos. Em 1841, no livro La Femme dans la Société Actuelle et dans la Communauté, ele refutou a idéia de que o socialismo significaria o fim do casamento e da família. Mais tarde formou uma comunidade utópica no Texas.
Lucretia Mott lutava pela abolição da escravidão e pelos direitos das mulheres e estabeleceu relações com as socialistas francesas.
Sojourner Truth, ex-escrava e pregadora itinerante, vinculou-se à Associação de Northampton (Massachusetts) em 1843-4 e foi influenciada por William Lloyd Garrison e Frederick Douglass. Ela ditou a narrativa de sua vida em 1850 e compareceu à convenção pelos direitos das mulheres em Akron, Ohio, em 1851.
Louise Otto defendia a educação das mulheres na Alemanha (incluindo ciências e educação física) em 1847. Fundou um jornal de mulheres durante a revolução alemã de 1848, o Frauen-Zeitung, que continuou até 1852. Ela acreditava na missão especial das mulheres na política e estimulava a contribuição de mulheres trabalhadoras pobres para seu jornal.
Desirée Veret (depois Gay), chapeleira, influenciada pelos Saint-Simonianos, trabalhou no La Femme Libre em 1832. Foi para Londres, estabeleceu contato com os Owenitas e casou-se com um deles, Jules Gay, em 1837. Ela estava particularmente interessada na democratização dos lugares de trabalho e em 1848 liderou o protesto contra a desigualdade das mulheres no National Workshops [Ateliers Nationaux, que previa trabalho para os desempregados.]. Também ajudou a criar uma associação de costureiras. Depois da tomada do poder por Luís Napoleão, exilou-se na Suíça e em seguida na Bélgica.
Suzanne Voilquin fez parte do movimento de Saint-Simon e acreditava que as mulheres têm qualidades essencialmente diferentes das dos homens. Ela pensava que os socialistas deviam criar uma nova moralidade. Em 1848 organizou as Parteiras Unidas, uma associação que exigia pagamento igual e treinamento com homens obstetras. Viveu numa comunidade nos Estados Unidos.
Claire Démar escreveu Chamado de uma mulher ao povo pela liberação das mulheres em 1832. Seu Ma Loi d'Avenir foi publicado postumamente por Suzanne Voilquin, apesar de suas grandes discordâncias. Isolada das mulheres Saint-Simonianas, suicidou-se com seu amante, um homem mais jovem.
Flora Tristan trabalhou como colorista de um litógrafo e foi pressionada a um casamento infeliz com seu patrão. Fugiu quatro anos depois, grávida e com dois filhos. Incapaz de cuidar das crianças, trabalhou como empregada doméstica e acompanhante de senhoras em viagem. Ativa nos círculos socialistas na França, estabeleceu contato com os Owenitas e Cartistas e, nos anos 1840, escreveu e discursou extensamente sobre as condições dos trabalhadores, defendendo a criação da União dos Trabalhadores em 1843. Morreu numa excursão de organização política em 1844.
Prosper Enfantin, líder e teórico Saint-Simoniano, defendia a idéia da necessidade de uma mulher messias, desafiou a moral tradicional, mas tentou impor sua própria visão autoritária sobre as mulheres do circulo Saint-Simoniano.
Sheila Rowbotham, ela própria uma socialista feminista, é autora de vários livros importantes sobre as mulheres na história, o mais conhecido sendo Women, Resistance and Revolution (1972). Em 2008, um movimento de estudantes impediu que a Universidade de Manchester lhe concedesse uma aposentadoria involuntária. Ela continua a ser professora de História do gênero e do trabalho. Seu livro mais recente é uma biografia de Edward Carpenter Edward Carpenter: A Life of Liberty and Love. sheila.rowbothan@manchester.ac.uk
- BELL, Susan Groag e OFFEN, Karen M. (eds.) Women, the Family and Freedom: The Debate in Documents Vol. 1: 1750-1880, Stanford, California, 1983.
- BLUMENBERG, Werner. Karl Marx Londres, 1972.
- CROSS, Maire e GRAY, Tim. The Feminism of Flora Tristan. Oxford, 1992.
- DUBOIS, Ellen. Feminist and Suffrage: The Emergence of an Independent Women's Movement in America, 1848-1869 New York, Ithaca, 1978.
- GUARNIERI, Carl J. The Utopian Alternative: Fourierism in Nineteenth-century America Ithaca, 1991.
- KERBER, Linda K. e DE HART, Jane Sherron. (eds.) Women's America, New York, Oxford University Press, 1995.
- MARX, Karl e ENGELS, Frederick. Collected Works, vol.3, Londres, 1975.
- MOSES, Claire Goldberg. French Feminism in the 19th Century Albany, 1984.
- PETERS, H. F. Red Jenny: A life with Carl Marx London, 1986.
- OTTO, Louise. Program, Frauen-Zeitung, Ein Organ die hoheren weiblichen Interessen, nş 1 (21 de abril de 1849). In: BELL, Susan Groag e OFFEN, Karen M. (eds.) Women, the Family and Freedom: The Debate in Documents Vol. 1: 1750-1880, Stanford, California, 1983.
- SCOTT, Joan Wallach. Gender and the Politics of History New York, 1988.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
27 Out 2009 -
Data do Fascículo
Jun 2009