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Governando corpos e intimidades virtuais: indústrias de cibercasamentos entre os Estados Unidos e a América Latina* * Tradução: Sonia Hotimsky. Revisão: Richard Miskolci e Iara Beleli.

Resumos

Este artigo explora as maneiras como os estrangeiros surgem como fantasia de mobilidade nas indústrias de cibercasamentos, unindo mulheres mexicanas e colombianas com homens norte-americanos. Enquanto algumas mulheres constróem seus corpos como apaixonados e eróticos para atrair oportunidades, como o casamento com homens norte-americanos, estudiosos da internet, durante a década de 1990, celebraram a Internet como um espaço utópico para a construção de si fora das limitações do corpo físico. Argumento que essas teorias - em sua visão do pós-corpo nos intercâmbios por meio da Internet - carecem de uma análise do Estado e da economia política.

Intimidade; Casamentos pela Internet; Governança Estatal; Cirurgias Plásticas


This article explores the ways the foreign emerges as a fantasy of mobility in the Cybermarriage Industry uniting Mexican and Colombian women with U.S. men. While some women use the marketing of their bodies as passionate and erotic to attract opportunities such as marriage with U.S. men, Internet scholars during the 1990s celebrated the Internet as a utopian space for enacting oneself outside the limitations of the physical body. These theories, I argue, lack an analysis of the state and the political economy in their post-body analysis of Internet exchanges.

Intimacy; Internet Marriage; State Governance; Cosmetic surgery


A associação da América Latina com amor em abundância e paixão sexual continua a modelar oportunidades generificadas, trabalho, mobilidade e cidadania.1 1 Seções deste artigo foram retiradas do meu livro, Love and Empire (2013). Os corpos das mulheres têm figurado há muito como a força sedutora do comércio regional e nacional, inicialmente com os concursos de beleza, nos quais Miss Café, Miss Banana e Miss Flower atraíam investidores e viajantes desde os tempos coloniais até as atuais brochuras de turismo e, mais recentemente, os sites de Casamento pela Internet. Em particular, o marketing global de cibercasamentos empresta seu estilo do turismo latino-americano e de campanhas de investimento, particularmente a atual gestão de marcas da Colômbia intitulada Colombia es Passion.2 2 "Colombia is Passion" (Colômbia é Paixão) é uma campanha de marketing do governo colombiano iniciada em 2005, quando contrataram a ProColombia para promover o turismo, os investimentos e o branding do país. Tendo por objetivo remodelar sua imagem global (de um lugar associado ao tráfico de drogas e à violência a um lugar seguro e atraente para visitar e investir), a Colômbia exporta uma imagem respeitável de classe média sobre a força de trabalho generificada da nação por meio de uma campanha de vídeo de três minutos, retratando casais de pele clara, sedutoras rainhas de beleza, uma mulher bem vestida falando nos fones de ouvido de uma empresa e a ginga ardente das cadeiras de Shakira no palco global. Caso esqueçamos o ponto, os corpos das mulheres emergem como um importante recurso nacional ao lado de outros itens de exportação natural, como café, flores e tomadas turísticas das praias e ruínas colombianas. Enquanto espectadores, percebidos como turistas e investidores em potencial, somos convidados a consumir os recursos férteis da Colômbia, incluindo a paixão de seus cidadãos, naturalizando as trocas românticas heterossexuais como uma rota lucrativa para a felicidade. Várias das mulheres que encontrei em uma "Vacation Romance Tour" [Excursão de Férias Romântica]3 3 Em geral, esses tours são eventos sociais de três dias realizados em um hotel cinco estrelas, onde casais se encontram face a face. Os homens pagam cerca de US$500 a US$1,000 para o evento (despesas de viagens não inclusas), enquanto as mulheres são frequentemente convidadas sem ônus. em Cali, me falaram de seu desejo de melhorar e embelezar seus corpos por meio de cirurgias plásticas como uma forma de investimento nelas mesmas e em seu futuro. Essas imagens e atos de conversão (passionais) transformam o corpo e a nação em uma superfície moral e também produtiva, ao mesmo tempo em que o corpo se torna um instrumento maleável para que as mulheres possam se remodelar, um recurso natural que, com investimento apropriado de capital, vai lhes render a possibilidade de um casamento estrangeiro ou outras oportunidades.

No meu livro Love and Empire [Amor e Império] (2013)SCHAEFFER, Felicity Amaya. Love and Empire: Cybermarriage and Citizenship Across the Americas. New York: New York University Press, 2013., argumento que a indústria de casamentos pela internet emerge nos tempos de capitalismo de "livre mercado" ou neoliberal e quando o Estado norte-americano continua a administrar a imigração por meio da governança de desejos íntimos. O marketing da paixão no vídeo colombiano ata seus cidadãos a oportunidades morais e generificadas na América Latina e além, enquanto o amor romântico e o casamento asseguram sua mobilidade e potencial cidadania estadunidense. O neoliberalismo é um termo que busca capturar a reestruturação de algumas economias latino-americanas em direção a investimentos estrangeiros voltados à terceirização do trabalho e da produção. Essa estratégia econômica se entranha no cotidiano por meio de mandatos culturais que reforçam divisões coloniais, separando países ocidentais, que produzem produtos altamente tecnológicos, dos países ricos em recursos naturais, que exportam trabalho e matérias-primas. Ela também reflete o aprofundamento das trocas econômicas nos íntimos recantos dos desejos do indivíduo. Assim, durante entrevistas, as descrições do amor e do casamento por parte dos entrevistados acompanhavam a linguagem de trocas recíprocas, investimentos e riscos. Não é coincidência que essas indústrias de casamento pela internet se enraizaram no México e na Colômbia, assim como na Rússia e na Ásia, entre meados dos anos 1990 e o final daquela década, durante um período de transformações sociais e econômicas globais. A crise econômica no México e em outros países latino-americanos no final dos anos 1980, que levou à liberalização do "mercado livre" com a aprovação do NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio) no México em 1994 e ao incremento do intercâmbio com a Colômbia, aumentou ainda mais a dependência dessas nações em relação aos empréstimos estrangeiros, assim como aos negócios, ao turismo e às trocas com o exterior como um meio para salvaguardar as perdas econômicas. Ao mesmo tempo, a abertura da América Latina para o intercâmbio e o comércio exterior foi acompanhada pela aprovação de algumas das leis de imigração estadunidenses mais draconianas, erguendo muros e entrincheirando equipes e câmeras de vigilância nas fronteiras para impedir a travessia de imigrantes. A possibilidade de contato virtual propiciou a popularização de indústrias de casamento latino-americanas em 1996, quando o alcance da internet saturou os cibercafés, os locais de trabalho e os lares de muitas pessoas, disseminando intimidade através de fronteiras difíceis de cruzar por outros meios.

O contato íntimo com o estrangeiro depende do mito da reconstituição do sujeito e do corpo nacional, da purificação, do rejuvenescimento e de recomeços. Mulheres latino-americanas descreveram sua busca por homens estrangeiros na rede como uma rota crítica de realização pessoal, de se posicionar como mais apaixonadas que suas contrapartes feministas ocidentais, merecendo assim a devoção de homens que se dispõem a viajar grandes distâncias para vir a seu encontro. Não é coincidência que as leis de imigração dos EUA exigem demonstrações de amor "verdadeiro" dos casais como indicador da inocência, ou de altruísmo frente aos potenciais benefícios econômicos da imigração e da aquisição da cidadania. Enquanto os países latino-americanos reestruturam suas economias, buscando se tornar "democracias capitalistas", os Estados precisam "limpar" a imagem da nação. No caso do Estado colombiano, este procura se autoprojetar como produtivo - por meio de imagens de trabalhadores empreendedores ladeados por matérias-primas férteis - enquanto elimina populações dissidentes ou simplesmente pobres; deslocando agricultores de suas terras, casas e comércios; e projetando uma imagem sedutora da nação como uma mulher pura, inocente e erotizada. Numa veia semelhante, algumas mulheres colombianas se voltam para a cirurgia estética como forma de projetar seu espírito empreendedor, enquanto invisibilizam a natureza compulsória da feminilidade e da beleza que permeia suas vidas cotidianas.

Essas formas de inocência emocional são centrais à construção do que chamo de "cidadania flexível", isto é, maneiras sedimentadas por meio das quais as latinas se tornam parte das estruturas mais íntimas da família, do Estado-nação e da economia global. A inserção das mulheres no mercado de trabalho transnacional e a garantia da cidadania americana dependem do papel que desempenham como matéria-prima e sujeitos "flexíveis" que possam ser reconfiguradas pelo desenvolvimento e remodeladas em cidadãs dos EUA. A maleabilidade e a inocência perceptíveis asseguram que elas não serão uma ameaça à família e à nação estadunidense, e que sua sexualidade erotizada será produtiva ao invés de destrutiva às fronteiras morais da nação. Emoções generificadas são naturalizadas e se inserem nas fibras do corpo, enquanto a esfera produtiva do mercado vem de encontro às capacidades reprodutivas das mulheres associadas à domesticidade e à família. A mobilização da paixão pelas mulheres situa a nação latino-americana tanto no tempo secular da produção voltado para o futuro e o lucro, quanto no tempo sagrado da reprodução e do eterno rejuvenescimento. Assim, ao invés de interpretar a localização erótica das mulheres no imaginário ocidental como simples exploração de trabalho generificado, que é comercializado pelos benefícios econômicos da migração para o casamento, o termo cidadania flexível é utilizado por mim para chamar atenção para as maneiras pelas quais as mulheres remodelam virtualmente seus corpos e suas trajetórias afetivas, aumentando seu valor local e transnacional, mas também reforçando a violência de como Estados autorizam a imigração moral e a inclusão nacional, ao mesmo tempo em que justificam a vigilância ea exclusão de corpos perigosos e ilícitos.

Algumas mulheres latino-americanas se voltam para tecnologias, como a internet e as cirurgias cosméticas, pois entendem que precisam incrementar as maneiras pelas quais seus corpos podem ser valorizados nos mercados globais, por meio, por exemplo, da hiper feminilidade, domesticidade, maleabilidade, sexualidade e valores de família. Nesse contexto, muitas destas mulheres utilizam tecnologias como a internet e, em alguns casos, as cirurgias cosméticas para reconfigurar seus corpos de tal forma que estes podem ser traduzidos através de imaginários e lugares transnacionais, e que comunicam seus desejos por mobilidade social e geográfica de maneiras que são tanto excitantes quanto perigosas. Assim, ao invés de se voltarem para essas tecnologias em busca de sua promessa de uma cidadania universal ou descorporificada, seu uso é mediado pelo desejo de uma afiliação corpórea às promessas de atrair oportunidades atraentes ao cruzar fronteiras. São roteiros mútuos que moldam os jogos de identidades virtuais em fantasias altamente erotizadas que atravessam fronteiras.4 4 Jennifer González lembra que "passar" a identidade racial na rede tem consequências concretas, pois grande parte da atividade de "passar" está associada a fantasias raciais de alteridade. Por exemplo, homens estadunidenses são valiosos aos olhos dessas mulheres em função da crença de que são trabalhadores esforçados com uma boa qualidade de vida e por seu potencial como parceiros igualitários na esfera doméstica. Mulheres latino-americanas, por outro lado, são valorizadas aos olhos dos homens estadunidenses como tradicionais, dedicadas à família, apaixonadas, sexuais e femininas, quer os significados vinculados a esses estereótipos correspondam ou não.

Embora muitos estudiosos da internet nos EUA celebrem a habilidade dos indivíduos de se moldarem aos vários modos de subjetividade desalojados dos signos estáveis do corpo, minha pesquisa com mulheres mexicanas e colombianas demonstra que o desejo por subjetividades flexíveis não é meramente uma arena para diversão, mas uma arena que as mulheres abraçam na esperança de garantir uma migração através de fronteiras nacionais e de classe. As mulheres descobrem caminhos para fazer uso de tecnologias e representações de seus corpos como ferramentas de descolonização que ajudam a elas e às suas famílias a melhorar de vida. Porém, frequentemente, as teorias do corpo no ciberespaço ignoram a importância de valores de mercado neoliberais, assim como de fronteiras entre Estados que constrangem a subjetividade online, por exemplo, o modo pelo qual mulheres do Sul global negociam as expectativas do gosto estadunidense de forma a erotizar suas diferenças em relação às mulheres daquele país. Argumento que o conceito de transcender o corpo ou recombinar a própria identidade no ciberespaço é fruto de uma posição privilegiada que elide o trabalho do corpo e reafirma valores neoliberais de escolha e noções democráticas de mobilidade ascendente. Por trás do desejo por mobilidade de algumas mulheres latino-americanas em busca de maridos estadunidenses há disparidades de movimento, já que o aumento do controle das fronteiras, a instabilidade política e a recessão econômica deixam poucas opções em aberto, seja para a migração seja para a permanência. Mulheres da América Latina utilizam tecnologias da subjetividade moderna para transformar criativamente as ferramentas do poder, mas também perpetuam um terreno perigoso que reifica seu status objetificado e valor de uso como objetos maleáveis para o desejo ocidental.

Em Love and Empire (2013)SCHAEFFER, Felicity Amaya. Love and Empire: Cybermarriage and Citizenship Across the Americas. New York: New York University Press, 2013., analiso entrevistas e dados etnográficos concernentes a mais de cem homens e mulheres nas Vacation Romance Tours [Viagens de Férias Românticas], nas salas de chat na internet, nas conversas via e-mail, em restaurantes e em suas casas para compreender os processos por meio dos quais as participantes se voltaram para a tecnologia e para o "outro" estrangeiro para mobilizar sonhos através das fronteiras. Enquanto a maioria das mulheres no Tour de Guadalajara tem uma boa formação, profissão e acesso à internet, a maioria das participantes femininas da Cali Tour são mais misturadas racialmente, pertencem à classe trabalhadora e tem menos acesso à internet. Por esta razão, e porque a beleza é uma forma de mobilidade social na Colômbia, muitas mulheres recorreram à cirurgia cosmética para atrair os homens nos tours. O uso da internet para encontrar romance e casamento foi descrito por muitas mulheres como uma espécie de autoajuda, uma forma de descobrir seu eu "verdadeiro" que transcendia os significados locais de sua identidade. De forma semelhante, as mulheres de Cali recorreram à cirurgia plástica para enfatizar seu desejo de se tornar mais "autênticas" aos olhos de seus cortejadores estrangeiros, para que os sinais exteriores de seus corpos pudessem entrar em harmonia com seu ser interior.

As tecnologias modernas e o corpo

Nos anos 1990, estudiosos teorizavam sobre a internet, realçando seus potenciais em relação aos jogos de identidade e autotransformação, especialmente em relação àqueles que buscavam refúgio no anonimato do ciberespaço. Sherry Turkle, proeminente e precoce estudiosa da internet, levanta a possibilidade de escapar das hierarquias sociais na internet, de transformar o seu self, de brincar com identidades múltiplas e fluidas. Ela afirma,

o anonimato dos MUDs (multi-user domains)5 5 RPG multijogadores, normalmente executado em um servidor da internet. ... dá às pessoas a chance de expressar aspectos múltiplos e frequentemente inexplorados de seu self, de brincar com sua identidade e experimentar com novas identidades. MUDs tornam possível a criação de uma identidade tão fluida e múltipla que tenciona os limites desta noção (Turkle, 1995:121).

Outras estudiosas feministas tem se voltado para a internet como espaço para teorizar sobre outras expressões de filiação política que extrapolam o confinamento do corpo e a política de identidades. Por exemplo, Shannon McRae (1996:262)MCRAE, Shannon. Coming Apart at the Seams: Sex, Text, and the Virtual Body. In: CHERNY, Lynn and WEISE, Elizabeth Reba. Wired Women: Gender and New Realities in Cyberspace. Seattle, Seal Press, 1996, pp.242-264. afirma que todas as "coisas que separam as pessoas, todos os fatos supostamente imutáveis do gênero e da geografia, não importam tanto quando estamos todos juntos na máquina". Inspiradas pelo trabalho de Judith Butler, muitas estudiosas feministas celebram o queering das interações online que contribuem para o deslocamento do sexo e/ou gênero de uma localização natural no corpo e para a dissociação entre pistas visuais do corpo (raça, sexo e gênero) e a esfera interior do ser. Allucquére Stone (1996:180-1)STONE, Allucquére Rosanne. The War of Desire and Technology at the Close of the Mechanical Age. Cambridge: MIT Press, 1996. afirma,

No ciberespaço o corpo transgenerificado é o corpo natural. As redes são espaços de transformação, fábricas de produção de identidades nas quais os corpos são máquinas de significados, e transgênero - identidade como performance, como brincadeira, como uma chave inglesa nas engrenagens macias do aparato social da visão - é o estado básico.

O potencial radical atribuído às identidades cyborg é inflacionado pela noção que, como afirma Mimi Nguyen (2003:288), "nada no corpo cyborg é essencial".6 6 A crítica de Nguyen também tem por base o trabalho de Fuchs, 1995. As interações na rede levantam algumas possibilidades fascinantes para desnaturalizar a coerência presumida entre o ser externo e interno. Porém, a ênfase no jogo e na fluidez de identidades tem levado a uma teorização que afasta a materialidade do corpo e das fronteiras existentes e, de fato, limitam a flexibilidade, mobilidade e expressão da subjetividade das pessoas, conectadas ou não à rede. Por exemplo, Teresa, uma mulher segura de quarenta e dois anos, moradora de Guadalajara, descreveu como fez uma pausa em sua carreira como jornalista para se dedicar a encontrar um par romântico estrangeiro na rede. Ela defendeu o uso da rede como um lugar onde poderia ser brincalhona e espirituosa para poder avaliar como os homens respondem à sua inteligência e não apenas à sua beleza: "Posso ler nas entrelinhas numa conversa na rede e rapidamente julgar se alguém tem a cabeça aberta ou se respeita a confiança e inteligência de uma mulher".7 7 Esta entrevista aparece em maior detalhe em Schaeffer-Grabiel's, 2004:44. É interessante notar que, por meio de vários relacionamentos estabelecidos por e-mail, Teresa percebeu que muitos homens dos EUA querem uma mulher mais orientada para a vida em família e menos uma parceira intelectual. Por outro lado, os homens europeus seriam mais cultos, liberais e teriam a mente mais aberta. Por isto, ela optou por usar várias agências de namoro via internet, tendo por alvo homens europeus ao invés de frequentar as festas de apresentação dos tours de férias voltadas para os homens dos EUA.

Para muitas mulheres latino-americanas, o sucesso com a tecnologia da internet é mediado por seu valor de uso na economia global como sujeitos eróticos para consumo no Primeiro Mundo e enquanto trabalhadoras na economia de serviços e na esfera doméstica. Eu foco nas vozes e razões das mulheres que se voltam às novas tecnologias (e aos homens estrangeiros) como ações que marcam uma mudança empoderadora em suas vidas. Porém, também reconheço que suas histórias são complexificadas pelas expectativas dos homens, pelas expressões de amor compulsórias por parte do Estado norte-americano, pelo arsenal de propaganda neoliberal mais abrangente, que celebram a capacidade da tecnologia de promover, sem restrições, subjetividades maleáveis e flexíveis. Isso não quer dizer que as mulheres não jogam com suas identidades, mas que precisamos ser cautelosos quando a abordagem de questões de mobilidade e flexibilidade tende a apagar a contínua importância das fronteiras, o mercado em torno do desejo e o controle estatal da imigração.

Incrustadas nessas teorias de ciberespaço há compreensões mutáveis sobre o papel do corpo. Tradicionalmente, o corpo era considerado natural e imutável, com qualidades predeterminadas aquinhoadas por "deus" e o "destino" associado à vida humana. A ciência moderna tem tratado o corpo como alicerce biológico de teorias sobre o self e a sociedade - o "único constante em um mundo em rápida transformação" (Frank, 1990:133FRANK, Arthur W. Bringing Bodies Back. In: A Decade Review. Theory, Culture and Society 7.1, February 1990, pp.131-162.). Estudiosos da rede, novamente influenciados por pensadores pós-modernos como Judith Butler (1993)BUTLER, Judith. Bodies that Matter: On the Discursive Limits of "Sex." New York: Routledge, 1993. nos anos 1990, percebem o corpo como uma construção social. Esse conceito do corpo como construção social é também afirmado e reproduzido em campanhas de propaganda corporativa, que apresentam o corpo "natural" como obsoleto e o corpo do consumidor como uma entidade infinitamente improvável e maleável. Discursos populares que acompanham a engenharia genética, a cirurgia cosmética e a socialidade virtual na internet rearticulam a noção de que o corpo é cada vez menos importante, sendo uma superfície democrática e maleável que pode ser transformada por quem queira se tornar alguém novo.

A tecnologia como subjetividade flexível

A promessa do marketing na internet de que você vai se tornar alguém novo, ou até uma versão mais "autêntica de você mesmo", desimpedido pelo seu corpo, se assemelha à forma como as mulheres descrevem sua busca pela cirurgia cosmética nas Cali Tours. O uso que as mulheres colombianas fazem da cirurgia demonstram novas vias para a compreensão do corpo em relação às configurações científicas da flexibilidade, da democracia e da mobilidade. Na Cali Tour, que acontece em uma região com uma população mais negra ou morena (devido à historia da região com o tráfico de escravos africanos), havia muito mais mulheres de tez escura e de classe trabalhadora do que no Guadalajara Tours no México. Ao contrário do México, onde a tradição carregava maior peso simbólico cultural, muitas participantes na Cali Tour eram jovens e tinham se submetido a cirurgias plásticas. Devido ao clima político e econômico diferente e ao fato de que as mulheres tinham menos acesso à comunicação via internet do que aquelas em Guadalajara, agarrar um homem no tour era um projeto mais urgente. Algumas orgulhosamente ostentavam implantes extremos de seios, outras tinham uma combinação de implantes de seio e de nádegas, e ainda outras tinham se submetido a procedimentos de lipoaspiração. Célia, por exemplo, planejava aspirar a gordura da barriga e transferi-la para as nádegas. Acompanhei vários casais durante e depois do tour, saindo com eles à noite e atuando como tradutora. Acompanhei o afro-americano Seth (motorista de táxi de quarenta e poucos anos) e a afro-colombiana Célia, com a qual ele tinha marcado um encontro em um restaurante que atendia turistas.8 8 Ambos sabiam que eu era uma pesquisadora escrevendo um livro sobre a indústria de cibercasamentos e, enquanto tal, não cobrava pelos meus serviços como tradutora, embora Seth tenha pago pela minha refeição e ofereceu me dar uma "gorjeta" no final de uma longa noite. Durante nossa refeição em conjunto, Célia contou com entusiasmo que ela iria se submeter a uma lipoaspiração, embora Seth fizesse questão de lembrá-la que se tratava de uma cirurgia perigosa. Célia explicava que ele tinha economizado dinheiro ao longo de vários meses para poder custear a lipoaspiração cujo preço era U$1.300,00 (ela também usaria para este fim o dinheiro que um namorado americano anterior havia lhe dado). Ela nos contou que sua irmã, atualmente casada com um homem e vivendo nos Estados Unidos, fez uma lipoaspiração bem-sucedida e que ela contribuiu para sua tomada de decisão. Embora tanto eu como Seth lhe disséssemos que seu corpo era perfeito, ela nos explicou que mesmo gostando de seu corpo ela queria melhorá-lo, reduzindo seu estômago e fortalecendo suas nádegas:

Se tenho a oportunidade de mudar alguma coisa no meu corpo, me aperfeiçoar, então vou fazê-lo. Do mesmo modo que Seth optou por vir para Cali (no tour), eu também decidi melhorar minha vida optando pela cirurgia. É um investimento em mim.9 9 Outras mulheres com as quais conversei descreveram de modo semelhante seus múltiplos procedimentos cirúrgicos como um investimento em si mesmo, em suas carreiras e no seu futuro.

O desejo de Célia, assim como de muitas mulheres que entrevistei, de investir em seus corpos com a esperança de melhorar suas chances de encontrar alguém indica como as mulheres usam sua beleza, segundo suas próprias aspirações, para transformarem-se em produtos de troca comercializáveis. As mulheres contaram que tiveram que anexar fotos e descrições físicas nos formulários de emprego. E mulheres com trinta anos ou mais se queixavam que tinham muito mais dificuldade em conseguir empregos e atrair homens estrangeiros, que iam atrás das moças mais jovens. Essas mulheres participam, assim, de uma velha e conhecida narrativa de desenvolvimento, parecida com aquela com a qual muitos homens se regozijam em relação às suas viagens para a América Latina: se você pode mudar sua vida, você deve fazê-lo, se não faz, você merece as consequências que lhe aguardam. Os Estados modernos encorajam uma cidadania organizada em torno da autoajuda, ou o que Foucault (1988)FOUCAULT, Michel. The History of Sexuality, Vol. 3 The Care of the Self. London: Penguin, 1988. denominava cuidado de si, pois desloca o olhar da crítica social mais ampla (revolução) e do Estado para o self. Trabalhar o corpo equivale a abraçar um espírito empreendedor, segundo o qual os corpos das mulheres se tornam objeto de aperfeiçoamento de si, de autoajuda e a promessa de um futuro democrático. Esforçar-se muito para se transformar é equivalente ao ingresso na subjetividade e cidadania modernas, onde pode se transformar na imagem e no estilo de vida almejados. Em Cali, qualquer confiança no Estado - força corrupta e violenta - se deslocou para uma confiança na ciência, nas novas tecnologias, no mercado, no consumo (ao invés da produção) e nos indivíduos enquanto arenas de mudança e mobilidade.

Para Célia, sua voz suave, seus gestos graciosos (reminiscente de uma mulher preparada para os concursos de beleza) e seu desejo de ter um traseiro mais saliente articulam um desejo complexo por uma construção mais flexível de identidade, etnicidade e sexualidade que tenha valor cambial local, assim como global, que situe sua subjetividade de maneira incorporada e traduzível em um contexto mais amplo. Dependendo dos espaços e situações sociais pelas quais Célia se desloca, ela sente que pode remodelar os significados de sua raça e classe. Como os tours acontecem em hotéis de luxo com homens procurando por mulheres de "qualidade superior" (e classe está implícito em seu desejo por qualidade), as mulheres precisam aprimorar seus corpos para se entrosar nessas zonas de turismo e não serem confundidas com prostitutas ou caçadoras de vistos de imigração permanentes (greencardsharks). Porém, ao mesmo tempo, essas mulheres procuram acumular valor em seu contexto local e com homens estrangeiros por meio de signos incorporados de diferença autêntica e hipersexualidade. Influenciadas talvez pela cultura de concursos de beleza, onde as mulheres são preparadas para assumir uma feminilidade respeitável, Célia altera seu corpo de tal forma que confunde as fronteiras entre o trabalho sexual e o casamento, aumentando os marcadores visíveis de classe, capital étnico e apelo sexual em busca da mobilidade local e/ou o movimento através de fronteiras.10 10 Para uma descrição rica sobre como mulheres trans venezuelanas invocam a beleza para renegociar seu valor incorporado frente à nação, ver Ochoa, 2014.

A percepção que as mulheres têm de seus corpos como mercadorias flexíveis é também uma resposta ao desejo erótico de homens estrangeiros, particularmente os afro-americanos, por traseiros grandes e corpos curvilíneos. Em Cali, 20% dos homens eram afro-americanos (incluindo dois da Europa), ao contrário da maioria dos homens nos tours do México, que eram brancos e latinos. Para as mulheres afro-colombianas, enfatizar suas qualidades físicas pode ser mais complexo do que uma mera conformidade às demandas do mercado turístico e do desejo patriarcal; é também uma chance de acentuar prazerosamente características (como traseiros grandes) que têm sido degradadas pelas noções prevalentes do ideal de beleza colombiano, caracterizado pela branquitude, cabelos lisos e peitos grandes.11 11 Frances Negrón-Mutaner (2003) utiliza o mesmo argumento em relação à diáspora porto-riquenha por meio de uma teorização em relação ao traseiro de Jennifer Lopez. Acostumadas ao escrutínio baseado em sua beleza física, essas mulheres capitalizam as novas tecnologias cosméticas e as configurações estrangeiras do desejo para colocar à mostra seu estímulo e espírito empreendedor face às oportunidades limitadas de trabalho, viagem e mobilidade em seu país.

A ideologia das mulheres de se melhorar se assemelha às narrativas populares de cirurgias cosméticas tal como aparecem na onda de reality shows sobre este tema na televisão. A cirurgia plástica parece ser uma prática apta e uma metáfora popular para indivíduos que vêem a pobreza como uma falha que pode ser remediada através do empenho pessoal ao invés de vê-la como um problema social baseado em estruturas desiguais de poder, de oportunidade e as contínuas repercussões das desigualdades raciais. Em um reality show popular nos EUA chamado The Swan (O Cisne), o poder da ciência é encrustado em um conjunto de cirurgiões heróicos (e um psicólogo), que tornam visíveis características físicas - como dentes tortos e manchados, corpos com sobrepeso, peitos pequenos e traços faciais esmorecidos -, distanciando-se de uma potencial discussão sobre um sistema econômico que falha em prover saúde e educação aos mais empobrecidos, em favor de uma ciência, por meio da qual aqueles que optam por se aprimorar testemunham possibilidades estonteantes.12 12 Para uma discussão sobre cirurgia cosmética na profusão de programas de televisão, como Extreme Make over, The Swane outros, ver Weber, 2009. Essa narrativa é reiterada nos concursos de beleza colombianos,cujos comentadores de televisão se concentram no sucesso ou fracasso de acréscimos cosméticos efetuados pelas mulheres, enfatizando a compreensão do corpo não como algo íntegro e natural, mas como um conjunto de partes flexíveis, assim como uma superfície democrática disponível a todos para ser moldada artística e cientificamente. Os concursos de beleza e as telenovelas também individualizam a beleza e o romance como qualidades adquiridas por meio da inspiração empreendedora da mulher, ao invés de levantar questões sobre como a beleza está relacionada à sociedade patriarcal, questões de acesso a procedimentos cirúrgicos caros (e perigosos), ou o exame da lucrativa indústria de beleza e moda que acompanham estes eventos populares. Nesses contextos, é evidente que o sucesso das mulheres, seja em termos românticos ou em outras esferas, é de responsabilidade de seu próprio espírito empreendedor e das alterações estéticas realizadas, ao invés de ser uma questão problematizada em termos da relação estabelecida com o Estado ou o capitalismo.

O que testemunhamos nessas noções do self é o malabarismo que desvia a percepção das alterações nos signos externos do corpo para seu significado em termos da interioridade do ser. Para os transgêneros, ocupantes naturais do ciberespaço, como afirma Allucquére Stone (2000)______. Will the Real Body Please Stand Up? Boundary Stories about Virtual Culture. In: BELL, David e KENNEDY, Barbara M. The Cyber cultures Reader. London, Routledge, 2000, pp.439-59., a metamorfose textual e eletrônica do corpo tende a contradizer a realidade bruta que resulta das alterações protéticas efetuadas travestis que se prostituem. A associação de flexibilidade com transgressão apaga violentamente os corpos que não conseguem escapar das leituras hegemônicas visíveis na sua superfície. Tal é o caso dos sujeitos trans, cujo trabalho reside diretamente nos seus corpos, o que se torna evidente nas narrativas sobre si de prostitutas brasileiras que injetam silicone em zonas eróticas de seus corpos (como quadris e nádegas), como forma de aumentar o retorno financeiro que provém de seu trabalho sexual (Kulick, 1998KULICK, Don. Travesti: Sex, Gender, and Culture among Brazilian Transgendered Prostitutes. Chicago: University of Chicago Press, 1998.). O uso de tecnologias por muitos sujeitos do Sul global é relegado ao papel que desempenham na crescente mercantilização do corpo erotizado, que então reinscreve diferenças de raça, classe e sexo, ao invés possibilitar a transcendência em relação aos marcadores sociais da diferença. Como afirma Nakamura (2002)NAKAMURA, Lisa. Cybertypes: Race, Ethnicity, and Identity on the Internet. New York: Routledge, 2002., as interações na internet continuam sendo modeladas por identidades cibernéticas, ou estereótipos de corpos racializados e generificados, a despeito da fantasia que a internet vai inaugurar a era "pós-corpo".

A prevalência da "escolha" como um dogma central dos valores de mercado e do individualismo neoliberal corresponde às recentes construções do corpo como flexível via discursos populares acerca da tecnologia, ciência e genética. Esses novos discursos e os usos da tecnologia e da flexibilidade dão continuidade à propaganda do neocolonialismo, mas também oferecem às mulheres latino-americanas a possibilidade de desenvolver uma estratégia de descolonização, investindo em uma performance de si mesmas como cidadãs globais ideais, com características reprodutivas e morais superiores. Os perigos da subjetividade flexível via tecnologia e ciência têm a ver com a conjugação de uma ética de consumidor e do mapeamento genético, comercializados como socialmente benéficos para se livrar de doenças e oferecer às pessoas a flexibilidade não apenas de ser quem são, mas de se produzirem, de alterarem a reprodução interna e externa de seu ser. Vale lembrar que em seus primórdios as cirurgias cosméticas eram cruciais para apagar as marcas de doenças como a lepra, permitindo que sujeitos passassem por pessoas com corpos sem deficiência e livres de doença. Nesse caso contemporâneo, a cirurgia plástica dissocia dos corpos das mulheres a violência e as duras condições econômicas do cotidiano em Cali. De modo semelhante, o corpo como recurso maleável pode servir como matéria-prima para se transformar em uma cidadã mais apropriada, cuja pele estende seus significados através do espaço global.

Para muitas mulheres do México e da Colômbia, a tecnologia oferece um modelo de vida que empodera o indivíduo para atuar contra a tradição e o destino e alterar seu futuro. Assim, o discurso dessas mulheres acerca da tecnologia e da cultura estrangeira articulava sua posição como sujeitos modernos, no controle, ao invés de estarem à mercê de seu destino. Para algumas mulheres de Cali, as cirurgias cosméticas lhes possibilitam aumentar seu capital corporal e suas chances de avançar em ligações românticas com estrangeiros, ou então a ingressar em uma variedade de mercados de trabalho. Para mulheres e homens que não optam por melhorar suas chances de romance ou de melhora pessoal, a recusa de se ajudar se traduz numa falha de caráter, ou em falta de motivação, de iniciativa ou ainda em uma falta de vontade de mudar.

Aparentemente, uma nova linguagem de privilégio e modernidade está sendo articulada por meio de alterações cosméticas. É por meio da aderência às normas da feminilidade heterossexual e do desejo masculino inscritos no corpo, ao invés de simplesmente na cor da pele, que se adquire uma nova linguagem de ascendência global. Avanços cosméticos rearticulam legados coloniais de longa duração concernentes às diferenças raciais, como se fossem biologicamente fundamentadas, para criar identidades flexíveis, disponíveis "democraticamente" e dependentes de inovações tecnológicas. Ser civilizado equivale a tecnologias de autocultivo, ser esforçado no trabalho, arriscar-se e correr atrás das oportunidades que se apresentam em seu caminho. Isso está diretamente relacionado ao papel da área de imigração norte-americana em desencorajar a cidadania daqueles que podem se tornar um encargo público, em outras palavras, aceitam-se apenas aqueles cujo espírito empreendedor contribuirá para a força de trabalho excedente da nação.

O "Estado" de amor

Enquanto realizava minhas entrevistas, rumores sobre um grupo de mulheres colombianas, que teriam confessado, durante uma festa em San José, Califórnia, que não estavam apaixonadas pelos seus maridos antes (e, em outros casos, depois) de mudarem para os Estados Unidos se espalharam rapidamente. As mulheres precisam guardar a sete chaves essas conversas entre si sobre o amor (ou a ausência dele), por medo de serem percebidas como calculistas e manipuladoras, prostitutas, lésbicas ou até mesmo criminosas. Embora os relacionamentos e casamentos que atravessam fronteiras possam se assemelhar mais ao tipo de amor que se desenvolve por meio da confiança e intimidade, construída ao longo do tempo, e por meio de sentimentos de gratidão mais do que pelo amor romântico (crianças/ remessas de fundos), cônjuges são obrigados a desempenhar o papel de casais românticos tontos sob o olhar escrutinador do ICE - U.S. Immigrationand Customs Enforcement [Departamento de Controle da Imigração e Alfândega dos Estados Unidos]. Revelar sua falta de amor é perigoso. As mulheres podem sofrer multas salgadas (até US$ 250.000), penas de prisão de cinco anos ou mais e até deportação, se descobrem que se utilizaram do casamento para outros fins.

A curiosa proteção do Estado sobre o amor como critério de cidadania, de fato, protege a ideologia virtual da Nação como equânime e democrática. Casamentos ilegítimos sofrem escrutínio de oficiais do consulado e da imigração, que desenvolveram listas elaboradas de indícios que provariam o casamento fraudulento. Alguns incluem grandes disparidades etárias; falta de uma língua em comum; grandes diferenças socioeconômicas, culturais e religiosas; contato inicial através da internet; uso de uma agência de casamento; e um período curto de convivência. Casamentos autênticos (bonafidemarriages) - provados pelo amor romântico - são confirmados por fotos dos casais engajados em atividades de lazer e evidências de cartas de amor. Quanto mais longo o período de namoro, melhor. Casais passam por interrogatórios que comprovam coabitação, respondendo a perguntas sobre o lado da cama que se costuma dormir, refeições prediletas, hábitos de higiene, etc. Casamentos buscados por meio da internet são particularmente suspeitos, o que levou à aprovação do Ato de Regulamentação das Agências de Casamento Internacionais (International Marriage Broker Regulation Act - IMBRA), nos Estados Unidos em 2005. Promulgado como parte do Ato sobre a Violência Contra as Mulheres (Violence Against Women Act - VAWA), o IMBRA buscava diminuir a possibilidade de abuso contra "noivas encomendadas pelo correio", exigindo que as agências internacionais de casamento fornecessem às clientes latino-americanas as fichas criminais e documentos relativos aos casamentos anteriores dos homens estadunidenses antes que elas se comunicassem com eles via e-mail ou se encontrassem com eles nos Tours de Férias Românticas. No debate ocorrido no Congresso americano antes da aprovação do IMBRA, um dos argumentos chave de uma ONG feminista afirmava que a maioria das mulheres que participava da indústria de cibercasamentos internacionais era proveniente de países de mais baixa renda que os homens com os quais namoravam e se casavam, diferente do que acontecia nos sites domésticos de namoro na rede, que crivam pares entre homens e mulheres com origens econômicas semelhantes (isentos da exigência de verificação das fichas criminais de seus clientes). Estereótipos acerca da relativa pobreza das mulheres em relação aos homens estadunidenses com os quais se casavam forneciam a base para a exploração das mulheres.

Casais também precisam comprovar sua legitimidade por meio de práticas financeiras compartilhadas, como extratos bancários. John, ao preencher o requerimento para solicitar um visto de noiva para trazer sua namorada de Cali para os Estados Unidos, teve que fornecer documentos referentes a todos seus bens, incluindo comprovação que era proprietário de um carro e de uma casa. Assim, a trajetória das políticas de imigração, em confluência com as políticas neoliberais de autossuficiência no contexto de investimentos públicos minguantes, se encaixa no critério de amor romântico como fundamento para dar suporte a casais autossuficientes e heterossexuais duráveis (os patrocinadores devem sustentar legalmente suas esposas estrangeiras por um período de 10 anos, mesmo se eles se divorciarem nesse período).

Enquanto o Estado trabalha ativamente no sentido de transformar seus imigrantes de "dependentes" dos benefícios dos serviços de assistência social em cidadãos "responsáveis", os cônjuges de casamentos internacionais, por meio do discurso do verdadeiro amor, precisam negociar cautelosamente sua identificação como mulheres desesperadas, pobres e hipersexualizadas, ou criminosas versus sujeitos apaixonados, inocentes e moralmente corretos. Uma questão permanece: a despeito dos riscos prolíficos, por que o casamento com estrangeiros continua a ser protegido pelas leis de imigração?

Argumento que o amor romântico heterossexual e o casamento também perpetuam mitos de fundação da cidadania e da democracia no estilo estadunidense. Noções ocidentais acerca do amor simbolizam o direito universal à liberdade de expressão e dão suporte a crenças populares de que o amor está profundamente incrustado nos valores da democracia, "liberdade" de escolha, e a igualdade dos indivíduos. A cidadania é baseada não apenas no casamento, mas na prova que a escolha de um parceiro heterossexual para casamento (neste caso, um estrangeiro), é cada vez mais o lugar para expressões normativas da modernidade emocional e econômica. Em outras palavras, a escolha no casamento e no amor comprova a modernidade dos indivíduos, sua capacidade de escolha, de se determinar como um corpo que governa a si próprio e como um ser igualitário. O desejo do estrangeiro de migrar para os Estados Unidos e se tornar um cidadão por meio do casamento é imaginado como uma forma de assimilação à democracia e a prova de que a democracia do estilo norte-americano é altamente desejada.

De fato, como defende Elizabeth Povinelli em Empire of Love (2006:184-5)POVINELLI, Elizabeth. The Empire of Love: Toward a Theory of Intimacy, Genealogy, and Carnality. Durham: Duke University Press, 2006., compreensões normativas do amor como fundacional à "liberdade" retrocedem a um passado até mais longínquo para justificar um governo secular. O amor como ato de escolha - livre dos constrangimentos sociais e familiares - revigora o momento de fundação do autogoverno entre os colonizadores no período colonial norte-americano, que se orgulhavam de sua capacidade de se desvincular da Europa em função de uma oposição filosófica aos constrangimentos do poder exercido pela família, pela aristocracia e pela religião. O autogoverno representava a liberdade humana e a igualdade universal resguardada por lei. A importação de noivas pioneiras pelos novos colonizadores que esperavam fazer uma nova vida na fronteira coincidia com a noção de que os sujeitos podiam se refazer, que poderiam se libertar de seus passados. Na formação do "self-mademan", como afirma Povinelli, "a trajetória de vida de um homem deve ser determinada pela sua vida, a vida que ele fez, ao invés do lugar que ele ocupa antes mesmo de seu nascimento em uma genealogia, ou qualquer outra grade socialmente definida" (Povinelli, 2006:185POVINELLI, Elizabeth. The Empire of Love: Toward a Theory of Intimacy, Genealogy, and Carnality. Durham: Duke University Press, 2006.). A migração resultante do casamento internacional na contemporaneidade fortalece esta ficção fundacional por meio da esperança das mulheres de se refazer ao atravessar as fronteiras e de reerguer suas famílias, deixadas para trás, por meio de remessas. Voltar para casa com histórias dos Estados Unidos e bens de consumo comprovam a participação delas no "sonho americano" que miticamente oferece um palco para encenar uma nova performance de si.

Que as leis de imigração e as relações de comércio econômico global tornam o casamento estrangeiro atraente e compulsório é algo ignorado quando o casamento com estrangeiro se associa com homens abusivos e indústrias que promovem o tráfico de mulheres. Discursos sobre o tráfico projetam uma linguagem potente de exploração, pois delimitam a "falta de escolha" das mulheres ou sua submissão a poderes patriarcais no casamento e por intermédio de sua mobilidade forçada através de um contrato de trabalho sexual. Esses cenários extremos são contrastados a casamentos autênticos baseados no verdadeiro amor, apagando as histórias de contato colonial e global que colocaram as mulheres em contato íntimo com o Ocidente, assim como as leis de imigração restritivas, que tornam o casamento estrangeiro uma rota compulsória para a cidadania, o acesso a oportunidades econômicas e a uma vida melhor. A separação entre a intimidade baseada na escolha e tradições familiares (ou até mesmo o uso de sites da internet) relega outras construções da intimidade - como casamentos por conveniência (onde a intimidade se desenvolve através do tempo e por meio de obrigações e apoio mútuo) - a serem tachadas de antidemocráticas e antiamericanas - tradicionais, retrogradas e abusivas. Atualmente, debates estatais sobre imigração classificam o casamento por conveniência (também conhecido como "casamentos arranjados") como um "casamento simulado". Casamentos orquestrados tendo em vista ganhos pessoais ou outros propósitos estratégicos levantam suspeitas e definem os limites de fronteiras e corpos nacionais. Para a sociedade americana convencional, de Hollywood ao ICE, o casamento por conveniência tipifica um contrato social que não apenas está fora de moda, mas representa uma ameaça às sociedades modernas, baseadas no amor ou na liberdade de escolha, no individualismo resistente e na governança baseada na equidade.

Contratos de casamento forjados a partir de necessidades, ou inequidades grosseiras, ao invés do amor altruísta continuam a determinar diferenças grandes demais, ocupando a exterioridade das fronteiras nacionais e raciais estadunidenses. Contratos forçados retratam condições de escravização e forma de governança que contrastam com aquelas que são escolhidas livremente nos Estados Unidos.

Definições estadunidenses modernas de liberdade, constituídas pela liberdade de escolha e pela igualdade, são inteligíveis como estar livre de obrigações, enquanto para as mulheres latino-americanas, segundo meu argumento, o mercado dos casamentos estrangeiros simboliza a liberdade de entrar em relações contratuais baseadas em obrigações mútuas. Argumento que é o sentido negativo de liberdade, obstinação do Ocidente, enquanto estar livre de obrigações, que continua a definir intimidades autênticas, socialidades e até mesmo a cidadania. Por esta razão, o amor encapsula o sentimento Ocidental ideal para expressar uma obrigação que é fruto da livre escolha, que não sofre constrangimentos de obrigações sociais (família) ou restrições econômicas.

O foco na liberdade individual como um relacionamento não vinculativo com outros (o que algumas mulheres latino-americanas definem como frio ou cultura alienante) coincide com o deslocamento na governança de um Estado de bem-estar social para um estado neoliberal, onde os indivíduos são encorajados a se libertarem da dependência do Estado, não saudável, e se tornarem autossuficientes e independentes. A idealização dos sentimentos modernos de liberdade enquanto afastamento das obrigações reforça a governança neoliberal do Estado numa época em que ele tem se retraído cada vez mais, e até mesmo patologizado suas obrigações em relação aos cidadãos (evidenciado no modo como aqueles que recebem benefícios sociais são demonizados, migrantes são criminalizados e sexualizados, etc.).

Mulheres mexicanas e colombianas exprimem uma relação alienada com a cidadania não em termos de sua exclusão ou status de estrangeira em relação à cidadania norte-americana, mas por meio de sentimentos de abandono na América Latina, especialmente em função de sua desvalorização e da sensação de ser descartável na esfera doméstica, no mercado de trabalho e em relação ao poder do Estado e ao pertencimento à nação. Josefina, mãe solteira e médica de Guadalajara, descreve como se voltou para a busca de homens estrangeiros:

Mulheres em nosso país, "A Raça de pele Bronzeada" estão acordando de um longo sono que tem se estendido por séculos e estão se dando o devido valor (mesmo que isto esteja resultando em maus tratos, humilhações, tortura e até a morte... não estou exagerando Felicity... é verdade)... A coisa mais importante, acho, (para a mulher) é reconhecer seu próprio valor diante de si e de outras pessoas, e ser respeitada como um ser humano valioso (entrevista realizada em 21/11/2001).

O estrangeiro funciona como estratégia viável em um período no qual as condições econômicas e políticas em casa fazem com que seja mais difícil ganhar um salário de classe-média e cujos laços sociais e familiares estão tensionados e as mulheres sofrem cada vez mais violência. Em entrevistas, as mulheres mexicanas e colombianas culpam os homens latinos e o poder excessivo do Estado pelo colapso da família, da lei e da ordem. Em outras palavras, as mulheres culpam o contrato de casamento fracassado com os homens e a falência das leis e do Estado pela falta de proteção de seu bem estar físico e financeiro. O acesso a trocas íntimas e estruturas legais mais equitativas acena com a possibilidade de reciprocidade, ao invés de liberdade, que renega a alienação de uma cultura de individualismo nos Estados Unidos. Assim, a vontade dessas mulheres de entrar no mercado de casamento estrangeiro como objetos de troca eróticos delineia não apenas o modo como seus corpos sexualizados fornece o canal para a venda de sua força de trabalho e para a aquisição do status de cidadania, mas também explica o desejo subjetivo das mulheres por contratos mais afetivos que vinculam as pessoas intimamente, economicamente e legalmente, oferecendo obrigações mais comprometidas entre os cidadãos e o Estado.

Está em jogo também o papel do Estado em admitir um contingente cada vez mais restrito de migrantes que podem provar que ingressam como cidadãos iguais e optam por morar nos Estados Unidos por amor patriótico ao invés de por necessidades econômicas. Para perpetuar o mito da nação como lugar de mobilidade ascendente é necessário eliminar as desigualdades, expulsar corpos necessitados, cuja racialização é naturalizada, para fora da nação. Sentimentos de amor projetam um espírito patriótico que despe o indivíduo de motivações econômicas, fraude e dos sentidos racializados e sexualizados associados ao corpo-como-ameaça biométrica. A branquitude não apenas representa um veículo para a mobilidade segura através das fronteiras, como também marca o espaço da invisibilidade, do direito à privacidade fora da vigilância social e estatal. O casamento com homens estadunidenses é mais seguro porque o status social e legal de cônjuge garante às mulheres maior permanência do que um contrato de trabalho e pode potencialmente se tornar uma mudança de residência permanente, possibilitando a volta periódica ao país de origem. Algumas mulheres latino-americanas recorrem à migração por meio do casamento estrangeiro como uma via moral, segura e de classe média para cruzar as fronteiras, que possibilita liberdade de movimento quando chegam aos Estados Unidos. Essa alternativa se torna mais atraente e assume uma urgência ainda maior no contexto de campanhas na mídia e leis que equacionam latino/a-americanos/as das classes trabalhadoras que cruzam a fronteira sem os devidos documentos com imoralidade (sexual) e crime.

Estudiosos estão começando a demonstrar as rupturas e a reconstrução de relações de parentesco devido às mudanças econômicas e de estrutura de governança, particularmente os regimes de ilegalidade. Conforme aponta Jennifer Chacon (2007:354-5)CHACON, Jennifer M. Loving across Borders: Immigration Law and the Limits of Loving. Wisconsin Law Review, vol. 2007, nº 2, UC Irvine School of Law Research Paper nº 2009-25, pp.345-378 Available at SSRN: <http://ssrn.com/abstract=1474988> .
http://ssrn.com/abstract=1474988...
, em 1967, o Estado norte-americano declarou as leis contra casamentos interraciais (como Loving vs. Virginia) inconstitucionais por serem racistas (por protegerem as intimidades e o parentesco de brancos) e por se contrapor ao direito constitucional de intimidade e privacidade. Essa mesma argumentação, porém, não tem sido utilizada em relação às leis de imigração. O controle soberano do Estado para proteger as fronteiras há muito tempo tem violado a proteção da intimidade, particularmente no que diz respeito aos asiáticos, impedidos de ingressar no país legalmente no final do século 19 e início do século 20. Quanto aos trabalhadores asiáticos já residentes nos EUA, sua privacidade também foi afetada à medida que se buscava restringir sua possibilidade de engajamento em relações íntimas heterossexuais. Nesse período, mulheres brancas que se casavam com estrangeiros inelegíveis à cidadania (como os homens asiáticos) perdiam sua cidadania.

Atualmente, a ilegalidade (e criminalidade) imposta a imigrantes que ingressam nos EUA sem autorização do Estado tem levado à emergência de leis que impedem os não-documentados, incluindo aqueles com residência permanente, de receberem cidadania após se casarem com um cidadão norte-americano. Antes de se casar, o imigrante sem autorização precisa voltar ao seu país de origem e esperar meses, às vezes anos, para requerer a cidadania (Chacon, 2007:364CHACON, Jennifer M. Loving across Borders: Immigration Law and the Limits of Loving. Wisconsin Law Review, vol. 2007, nº 2, UC Irvine School of Law Research Paper nº 2009-25, pp.345-378 Available at SSRN: <http://ssrn.com/abstract=1474988> .
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). Isto pode causar grandes atrasos quando tentam voltar aos EUA, pois aqueles que residem no país sem documentos são barrados por três a 10 anos. É claro que a maioria dos casais gays não tem o direito de atravessar as fronteiras por meio do casamento e assim são impedidos de se beneficiar da cidadania. Para os imigrantes que vivem nas sombras da ilegalidade nos EUA, sua configuração como criminosos pode levar ao despojamento da cidadania daqueles à sua volta, incluindo qualquer um que os transporta no carro que está dirigindo, que lhe dá um emprego, ou mesmo que aluga um quarto para eles. Os indocumentados se encontram em quarentena, havendo poucos espaços livres da intromissão do Estado. De acordo com um mexicano que entrevistei, e que estava nos EUA há mais de vinte anos, a intimidade com cidadãos era quase impossível após revelar seu status de não-documentado. O medo dos indocumentados como criminosos, ou o temor que espalhem sua criminalidade como uma doença, leva as populações a se segregarem afetivamente, até mesmo membros da mesma família que temem que seus amados sejam detidos ou deportados.

Invocar o amor é um privilégio que pode levar alguns à cidadania, enquanto despoja outros de seus direitos. Os benefícios do casamento internacional devem incluir a facilidade de movimento através de fronteiras nacionais e cotidianas, mas também incluem a possibilidade de transcender espaços seculares de cálculo, vigilância e outras tecnologias de governança. Assim, as obrigações do amor ditam violentamente estreitos comportamentos generificados e, ao mesmo tempo, abrem um espaço para as demandas das mulheres em relação aos seus maridos e ao Estado.

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  • WEBER, Brenda R. Make over TV: Selfhood, Citizenship, and Celebrety. Durham: Duke University Press, 2009.
  • *
    Tradução: Sonia Hotimsky. Revisão: Richard Miskolci e Iara Beleli.
  • 1
    Seções deste artigo foram retiradas do meu livro, Love and Empire (2013)SCHAEFFER, Felicity Amaya. Love and Empire: Cybermarriage and Citizenship Across the Americas. New York: New York University Press, 2013..
  • 2
    "Colombia is Passion" (Colômbia é Paixão) é uma campanha de marketing do governo colombiano iniciada em 2005, quando contrataram a ProColombia para promover o turismo, os investimentos e o branding do país.
  • 3
    Em geral, esses tours são eventos sociais de três dias realizados em um hotel cinco estrelas, onde casais se encontram face a face. Os homens pagam cerca de US$500 a US$1,000 para o evento (despesas de viagens não inclusas), enquanto as mulheres são frequentemente convidadas sem ônus.
  • 4
    Jennifer González lembra que "passar" a identidade racial na rede tem consequências concretas, pois grande parte da atividade de "passar" está associada a fantasias raciais de alteridade.
  • 5
    RPG multijogadores, normalmente executado em um servidor da internet.
  • 6
    A crítica de Nguyen também tem por base o trabalho de Fuchs, 1995.
  • 7
    Esta entrevista aparece em maior detalhe em Schaeffer-Grabiel's, 2004:44SCHAEFFER-GRABIEL, Felicity. Cyber-brides and Global Imaginaries: Mexican Women's Turn from the National to the Foreign. Space and Culture Journal, 7(1), February 2004, pp.33-48..
  • 8
    Ambos sabiam que eu era uma pesquisadora escrevendo um livro sobre a indústria de cibercasamentos e, enquanto tal, não cobrava pelos meus serviços como tradutora, embora Seth tenha pago pela minha refeição e ofereceu me dar uma "gorjeta" no final de uma longa noite.
  • 9
    Outras mulheres com as quais conversei descreveram de modo semelhante seus múltiplos procedimentos cirúrgicos como um investimento em si mesmo, em suas carreiras e no seu futuro.
  • 10
    Para uma descrição rica sobre como mulheres trans venezuelanas invocam a beleza para renegociar seu valor incorporado frente à nação, ver Ochoa, 2014OCHOA, Marcia. Queen for a Day: Transformistas, Beauty Queens, and the Performance of Femininity in Venezuela. Durham: Duke University Press, 2014..
  • 11
    Frances Negrón-Mutaner (2003)NEGRÓN-MUTANER, Frances. Jennifer's Butt. In: GUTMANN, Matthew C. et alii. Perspectives on Las Américas: A Reader in Culture, History, and Representation. Oxford, Blackwell, 2003, pp.291-98. utiliza o mesmo argumento em relação à diáspora porto-riquenha por meio de uma teorização em relação ao traseiro de Jennifer Lopez.
  • 12
    Para uma discussão sobre cirurgia cosmética na profusão de programas de televisão, como Extreme Make over, The Swane outros, ver Weber, 2009WEBER, Brenda R. Make over TV: Selfhood, Citizenship, and Celebrety. Durham: Duke University Press, 2009..

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Jun 2015

Histórico

  • Recebido
    27 Jan 2015
  • Aceito
    23 Mar 2015
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