Detecção de Salmonella Anatum em ema (Rhea americana)

Detection of Salmonella Anatum in the Greater Rhea (Rhea americana)

NOTA

MICROBIOLOGIA

Detecção de Salmonella Anatum em ema (Rhea americana)

Detection of Salmonella Anatum in the Greater Rhea (Rhea americana)

Rosecler Alves Pereira^{I, II,1}; Cláudio Wageck Canal^III Verônica Schmidt^IV

^IPrograma de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Faculdade de Veterinária (FAVET), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 91590-900, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [e-mail]

^IILaboratório Mercolab, 85818-560, Cascavel, PR, Brasil

^IIIDepartamento de Patologia Clínica Veterinária, FAVET/UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil

^IVDepartamento de Medicina Veterinária Preventiva, FAVET/UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil

RESUMO

Para pesquisa de Salmonella spp. foram coletadas amostras de fígado e conteúdo cecal de 70 emas (Rhea americana) abatidas no Rio Grande do Sul - Brasil. Uma colônia morfológica e bioquimicamente compatível com Salmonella spp., isolada de uma amostra de fígado, foi sorotipada como Salmonella Anatum. Considerando-se o alto potencial zoonótico deste microrganismo, destaca-se a relevância do controle microbiológico efetivo em frigoríficos que abatem espécies silvestres, assim como no produto final.

Palavras-chave:Salmonella Anatum, Rhea americana, diagnóstico, ratita.

ABSTRACT

In aiming to investigate the Salmonella spp. presence in one slaughterhouse in Rio Grande do Sul - Brazil, liver and cecum samples from 70 Greater Rhea (Rhea americana) were collected. One Salmonella-like colonie was serologically typed and identified as Salmonella Anatum. Considering the high zoonotical potential of this microorganism, an effective microbiological control of wild animal slaughterhouses and the final product is needed.

Key words:Salmonella Anatum, Rhea americana, diagnosis, ratite.

A Salmonella spp. é um dos mais importantes patógenos veiculados por alimentos porque está amplamente distribuída na natureza, possui um grande número de reservatórios, como as aves silvestres, e também porque apresenta sorotipos inespecíficos quanto ao hospedeiro e cepas multiresistentes aos antimicrobianos (BERSOT, 2006). Certos sorotipos são específicos de algumas espécies animais, embora possam acarretar tanto a salmonelose animal quanto a humana (ANDREATTI FILHO et al., 2001). Informações sobre a ocorrência e a distribuição dos sorotipos de salmonelas na população de animais silvestres e domésticos são essenciais para relacionar os possíveis reservatórios que possam ser responsáveis pela transmissão desse agente (GAST, 2003). Vários sorotipos de salmonelas paratíficas são responsáveis por infecções em aves silvestres. No entanto, Salmonella Typhimurium é o sorotipo mais isolado em pássaros exóticos e silvestres (CUBAS, 1993; CARPENTER & GENTZ, 1997).

Tanto aves clinicamente sadias quanto infectadas que sobreviveram a um surto podem ser portadoras de salmonelas. Desse modo, aves destinadas a programas de soltura ou reintrodução ao ambiente natural, assim como aves de produção como as ratitas, devem ser avaliadas quanto à presença deste microrganismo (CUBAS, 1993).

A ema (Rhea americana) pertence ao grupo de aves conhecido como ratitas (HUCHZERMEYER, 2000) e é identificada como uma ave silvestre. A sua criação da ema é controlada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -IBAMA. Além disso, sua caça é proibida e a espécie está classificada como animal de baixo risco de extinção na lista vermelha do Comitê Internacional de Tráfico de Espécies Ameaçadas de Extinção (CITES, 2006). É permitido o comércio de carne de emas proveniente de animais oriundos de criadouros comerciais regularizados junto ao IBAMA e abatidos em frigoríficos com serviço de inspeção (BRASIL, 2003).

Como a criação e a comercialização de carne de emas estão em uma fase inicial, pouco se conhece sobre as doenças que afetam esta espécie em criações intensivas. Desta forma, o presente trabalho faz parte de um esforço para determinar a ocorrência de enfermidades nesta espécie, com objetivo de detectar a presença de Salmonella spp.

Para tanto, foram coletadas amostras de fígado e conteúdo cecal de 70 emas, oriundas de produtores cooperados, abatidas em um frigorífico no Rio Grande do Sul. Alíquotas de 10g de cada uma das amostras foram pré-enriquecidas em água peptonada tamponada (90mL), por 18 horas a 35°C; sendo transferido 1mL do inóculo para 9mL de meio caldo tetrationato Muller Kaufmann e 0,1mL do inóculo para 9,9mL de caldo Rappaport-Vassiliadis, cultivados a 42°C por 24 horas. Após o enriquecimento, as amostras foram subculturadas em ágar XLT4 e ágar verde brilhante lactose-sacarose, segundo MICHAEL et al. (2003).

Em 66 indivíduos (94,2%), isolaram-se 114 colônias morfológica e bioquimicamente compatíveis com Salmonella spp., as quais foram encaminhadas para sorotipificação no Laboratório de Enterobactérias do Instituto Oswaldo Cruz na Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz/RJ.

Destas, identificaram-se 19 (16,6%) como S. enterica subspécie enterica rugosa, 41 (35,9%) como S. Typhimurium, 53 (46,5%) como S. Newport e uma amostra (0,9%) como S. Anatum; sendo esta última proveniente de um fígado que se apresentou, macroscopicamente, ligeiramente esverdeado.

No Instituto de Veterinária de Onderstepoort, na África do Sul, foram isolados vários sorotipos de Salmonella de amostras provenientes de avestruzes, estando entre elas S. Anatum (HUCHEZERMEYER, 2000). Este sorotipo é comumente isolado de eqüinos, bovinos, cães, gatos e aves domésticas (JONES et al. , 2000).

A importância da Salmonella Anatum tem aumentado significativamente nos últimos anos devido a surtos ocorridos em lactentes na Europa (WEGENER et al., 1997; THRELFALL et al., 1998). Este sorotipo já foi isolado de casos de salmonelose em humanos (CHIEH SUNG et al., 1949; BUTLER et al., 1968; ARGRAWAL, et al., 1970; PANHOTRA et al., 1979; WEGENER et al., 1997; THRELFALL et al., 1998; PEZZINO et al., 1998; GUITIERREZ-COGNO et al., 2000; KRAUSE et al., 2001), apresentando ampla distribuição geográfica.

No Brasil, este microrganismo já foi isolado de carcaças de eqüídeos (HOFFER et al., 2000), carcaças e água em abatedouros de frangos (CORTEZ et al., 2006) e em matéria-prima de rações para animais (HOFER & SILVA, 1998; SAENZ et al., 2001). Este sorotipo foi isolado, ainda, de carcaças de suínos em Portugal (VIEIRA-PINTO, 2006) e de suínos e ovinos na Nova Zelândia (DAVIS & RUSSEL, 1960).

Ao considerar a detecção deste sorotipo em abatedouro e conhecer a contaminação cruzada por salmonelas em diferentes pontos no processamento e no abate, especialmente no produto final, a detecção de S. Anatum alerta para o risco à saúde pública devido ao seu alto potencial zoonótico. Além disso, demonstra a relevância de um controle efetivo em frigoríficos que abatam espécies de criações alternativas, bem como do controle microbiológico no produto final.

Recebido para publicação 13.12.06

Aprovado em 18.07.07

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1

Autor para correspondência.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  04 Abr 2008
• Data do Fascículo
  Jun 2008

Histórico

• Recebido
  13 Dez 2006
• Aceito
  18 Jul 2007