Resumos
A influência da Trifluralina 600 CE sobre a atividade microbiana e taxa de liberação de CO2 foi estudada com amostras de solos da Unidade de Mapeamento São Pedro e Cruz Alta, incubados a 80% da capacidade de campo ou saturados, com tratamentos equivalendo a 2 e 4 litros por hectare, com cinco repetições, durante 140 dias. A cada sete dias foram efetuadas titulações de CO2 liberado. Posteriormente foi executado bioensaio com Sorghum bicolor L. Moench para análise da persistência do produto no solo. O herbicida nas dosagens usadas não afetou a atividade microbiana. A persistência do herbicida mostrou diferença significativa entre plântulas anormais para os dois solos em capacidade de campo, o mesmo não ocorrendo quando a germinação foi em solos saturados.
trifluralina 600 CE; atividade microbiana; CO2 evoluído
The effects of Trifluralin 600 CE on microbial activity measured by CO2 evolution were studied in a Red Yellow Podzolic soil (São Pedro [soil mapping unit] and a Dark Red Latosol (Cruz Alta [soil mapping unit]. The experiment was conducted during 140 days. Treatments with two and four liters of Trifluralin per hectar, in saturated soil and soil with at equivalent to of field capacity. The CO2 evoluted was measured each seven days. After CO2 evolution a biossay using Sorghum bicolor L. Moench was performed to test herbicide persistance. The herbicide did not affect microbial activity. Abnormal seedlings were detected in soil with moisture at 80% of field capacity but none for saturated soil. The abnormal seedling usually indicates persistence of Trifluralin when it is applyed in unsaturated soil conditions.
trifluralin; microbial activity; CO2 evolution
EFEITO DA TRIFLURALINA SOBRE A ATIVIDADE BIOLÓGICA EM DOIS SOLOS
EFFECTS OF TRIFLURALIN ON MICROBIAL ACTIVITY IN TWO SOILS
Ecila Maria Nunes Giracca1 1 Engenheiro Agrônomo, Professor Titular do Departamento de Solos. Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria. 97.119 - Santa Maria, RS. Zaida Inês Antoniolli2 1 Engenheiro Agrônomo, Professor Titular do Departamento de Solos. Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria. 97.119 - Santa Maria, RS. Antonio Pasqualetto3 1 Engenheiro Agrônomo, Professor Titular do Departamento de Solos. Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria. 97.119 - Santa Maria, RS. Flávio Hoff3 1 Engenheiro Agrônomo, Professor Titular do Departamento de Solos. Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria. 97.119 - Santa Maria, RS. Jorge Miotti4 1 Engenheiro Agrônomo, Professor Titular do Departamento de Solos. Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria. 97.119 - Santa Maria, RS.
RESUMO
A influência da Trifluralina 600 CE sobre a atividade microbiana e taxa de liberação de CO2 foi estudada com amostras de solos da Unidade de Mapeamento São Pedro e Cruz Alta, incubados a 80% da capacidade de campo ou saturados, com tratamentos equivalendo a 2 e 4 litros por hectare, com cinco repetições, durante 140 dias. A cada sete dias foram efetuadas titulações de CO2 liberado. Posteriormente foi executado bioensaio com Sorghum bicolor L. Moench para análise da persistência do produto no solo. O herbicida nas dosagens usadas não afetou a atividade microbiana. A persistência do herbicida mostrou diferença significativa entre plântulas anormais para os dois solos em capacidade de campo, o mesmo não ocorrendo quando a germinação foi em solos saturados.
Palavras-chave: trifluralina 600 CE, atividade microbiana, CO2 evoluído.
SUMMARY
The effects of Trifluralin 600 CE on microbial activity measured by CO2 evolution were studied in a Red Yellow Podzolic soil (São Pedro [soil mapping unit] and a Dark Red Latosol (Cruz Alta [soil mapping unit]. The experiment was conducted during 140 days. Treatments with two and four liters of Trifluralin per hectar, in saturated soil and soil with at equivalent to of field capacity. The CO2 evoluted was measured each seven days. After CO2 evolution a biossay using Sorghum bicolor L. Moench was performed to test herbicide persistance. The herbicide did not affect microbial activity. Abnormal seedlings were detected in soil with moisture at 80% of field capacity but none for saturated soil. The abnormal seedling usually indicates persistence of Trifluralin when it is applyed in unsaturated soil conditions.
Key Words: trifluralin, microbial activity, CO2 evolution.
INTRODUÇÃO
A Trifluralina é o herbicida mais vendido no Brasil para o controle de ervas daninhas de folha estreita, pois mais de nove milhões de litros por ano são usados no tratamento de cinco milhões de hectares para soja, algodão e feijão.
Segundo ALMEIDA & RODRIGUES (1985), os fungos Sclerotium rolfii, Aspergillus niger, Eusarium sp. e Trichoderma sp. degradam a trifluralina no solo. Sob condições de chuva excessiva aliada a drenagem insuficiente do solo ocorre degradação anaeróbica, 98% do produto são drenados no solo, enquanto em condições aeróbicas menos de 25% são decompostos.
A trifluralina 600 CE foi desenvolvida pela DEFENSA S/A apresentando a fórmula C13H16F3N304 e possui baixa volatilidade e sensibilidade à foto-decomposição, permitindo a sua utilização em pré-emergência (DEFENSA, 1984). É utilizada para plantas daninhas mono e dicotiledôneas, principalmente na cultura da soja (LANGE & FISCHER, 1971); é seletiva e eficiente MATSUNAGA & YONEDA (1976).
Como a Trifluralina pertence ao grupo químico Dinitroanilinas, esta inibe a divisão celular e a aplicação incorreta resulta na má formação de raízes, especialmente das secundárias. Os sintomas de fitotoxicidade se manifestam através de raízes curtas, grossas e com aparência de terem sido podadas, podendo ocorrer também engrossamento do hipocótilo. Além disto, poderá haver atrofia da parte aérea da planta e as folhas se apresentarem menores, enrugadas e com coloração verde escuro (GAZZIERO & NEUMAIER, 1985; ASHTON & GRAFIS, 1973).
A sua meia-vida ou persistência no solo é de 150 a 180 dias, (CAMPANHOLA et al, 1982) e não se possui dados sobre a Trifluralina 600 e do seu efeito sobre a atividade microbiana no solo. É usada em cerca de 200 mil hectares na sucessão trigo-soja, devido à economia na operação de incorporação ao solo e a possibilidade de utilização no sistema de plantio.
O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito da Trifluralina 600 sobre a atividade microbiana e sua persistência após 140 dias da aplicação, em dois solos arenosos úmidos à capacidade de campo e saturados.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Laboratório de Microbiologia do Solo, Departamento de Solos, Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria, no período de 03/1989 à 03/1990, com solos da Unidade de Mapeamento São Pedro e Cruz Alta.
Os solos foram coletados a uma profundidade de 0-15cm, secos ao ar e passados por peneira de 2mm de diâmetro. Usou-se frascos de vidro com capacidade de um litro, com tampa plástica rosqueada, para a incubação de 300g de solo por frasco. Durante três dias permaneceram à temperatura de 28°C, a fim de estabilizar o efeito do peneiramento.
Após a estabilização foram aplicados, nos solos São Pedro e Cruz Alta, os tratamentos equivalentes às dosagens máxima e mínima recomendadas, 4 litros/hectare e 2 litros/hectare respectivamente, além da testemunha com solo em Capacidade de Campo (CC) e Saturado (Sat), conforme tabela 1.
Na avaliação do C-CO2 desprendido do solo, foram feitas observações a cada sete dias, utilizando-se o método descrito por MINHONI & CERRI (1987).
Os frascos com os devidos tratamentos foram incubados em estufa tipo FABBE, à temperatura de 25°C, durante 140 dias.
Os solos foram mantidos nos teores de umidade planejados através da adição de água esterilizada. No final dos 140 dias, para verificar a permanência da Trifluralina 600 CE (Premerlin) no solo foram semeadas 30 sementes da planta teste, sorgo Sorghum bicolor L. Moench) por frasco e analisadas após uma semana.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com cinco repetições. As comparações específicas entre as médias, quando detectada significância estatística pelo teste F, foram efetuadas com o auxílio do teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados de C-CO2 liberado, nos dois solos, após 140 dias da incubação, encontram-se na tabela 1 e figuras 1 e 2.
Aos oito dias de incubação em capacidade de campo, o maior desprendimento de CO2 ocorreu no solo da Unidade de Mapeamento Cruz Alta, e o menor valor ocorreu no solo da Unidade de Mapeamento São Pedro, ambos nos tratamentos sem aplicação de Trifluralina 600 CE. (Tabela 1).
Verifica-se, na tabela 1, que não ocorreu diferença estatisticamente significativa, na liberação de CO2. A condição de solo saturado (Figura 2 e 3) independente da dosagem do herbicida, proporcionou a diminuição da taxa de evolução de CO2, evidenciando maior efeito da condição de incubação, do que da dosagem do herbicida.
Após 140 dias de incubação a taxa acumulada de CO2 liberado (Tabela 1) também indica que não há efeito significativo do herbicida sobre a atividade microbiana dos solos estudados. Pois os critérios mais freqüentemente utilizados para estudar os efeitos secundários dos pesticidas são: respiração microbiana, mineralização de compostos nitrogenados e o número de microrganismos (ALEXANDER, 1977). Trabalhos desenvolvidos por MESSERSMITH et al (1976) e STORTZKY (1963), estudando o efeito de diferentes herbicidas sobre a atividade microbiana do solo, utilizaram como medida a liberação de C-CO2.
Segundo DOMMERGUES & MANGENOTT (1970), dos pesticidas usados, os herbicidas são os que menos afetam a atividade microbiana dos solos. Em geral, os herbicidas quando utilizados nas dosagens recomendadas, não afetam a atividade biológica dos solos (ALMEIDA & RODRIGUES, 1985).
Após os 140 dias de incubação, foi realizado um bioensaio, para detectar a presença de Trifluralina 600 CE nas amostras incubadas (Tabela 2, Figuras 3 e 4).
Conforme figuras 3 e 4, quando os solos foram incubados em CC houve diferença significativa entre plântulas anormais para os dois solos, o mesmo não ocorrendo quando da incubação dos solos saturados. Os quatro fatores principais que influem na degradação da Trifluralina nos solos são: volatilização, fotodecomposição, decomposição microbiana e degradação química (MESSERSMITH et al, 1976; ROMANUJAM et al, 1978; JENKINSON & POWLSON, 1976; BOLLAG, 1974; DEFENSA, 1984), além disso a importância de cada um destes fatores é influenciada pelo tipo de solo, teor de matéria orgânica, temperatura, microflora, regime pluviométrico, dosagem utilizada e método de incorporação.
Quando as amostras foram incubadas em capacidade de campo, as plantas de sorgo desenvolveram-se normalmente na testemunha, para os dois solos, enquanto na dosagem 4 litros/hectare ocorreram sintomas de toxidez nas raízes em maior número do que na dosagem 2 litros/hectare (Figuras 3 e 4) conforme descritos por GAZZIERO & NEUMAIER (1985). Os teores do produto no solo estavam elevados devido à falta de fotodecomposição, pois as amostras foram incubadas em estufa, não havendo fonte luminosa, indicando a não degradação da Trifluralina 600 CE via microbiana nos solos incubados em CC. A persistência da Trifluralina é, em média, de 150 a 180 dias, (BOLLAG, 1974; CAMPANHOLA et al, 1982; ALMEIDA & RODRIGUES, 1985), entretanto SANTOS et al (1983) observaram persistência máxima de 75 dias em solos hidromórficos, em trabalhos realizados no ano agrícola 1977/1978 em Santa Maria.
Na germinação das sementes de sorgo, com incubação de solos saturados nos quais foi retirado excesso de água por ocasião da semeadura, o efeito da toxicidade foi quase nulo (Figura 4). Quando os solos foram incubados em CC, houve diferença significativa entre plântulas anormais para os dois solos, o mesmo não ocorrendo quando da incubação dos solos saturados o que indica que a Trifluralina em CC não foi degradada via microbiana. Já em solo saturado o produto após os 140 dias não estava mais presente, o que indica que foi degradado via microbiana ou foi lixiviado com a água (embora seja pouco solúvel). Neste parâmetro recomenda-se maiores pesquisas. Klingmann & Ashton, citados por SANTOS et al (1983) relatando a persistência da Trifluralina sob condições de casa de vegetação, afirmam que em solos saturados, a uma temperatura média de 32°C, a Trifluralina foi degradada em sete dias.
CONCLUSÕES
A Trifluralina 600 CE, nas dosagens de 2 e 4 litros por hectare, não afetou a atividade microbiana nos solos das Unidades de Mapeamento São Pedro e Cruz Alta.
Nas incubações do solo em condições de capacidade de campo, após 140 dias não houve degradação da Trifluralina 600 CE.
Nos solos saturados não ocorreu persistência do herbicida.
2Biólogo, Professor Assistente do Departamento de Solos. Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria.
3Acadêmicos do Curso de Agronomia. Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria.
4Engenheiro Agrônomo da DEFENSA S/A.
Aprovado para publicação em 18.03.92.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
25 Set 2014 -
Data do Fascículo
Dez 1991
Histórico
-
Aceito
18 Mar 1992