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Consumo de matéria seca e desempenho de novilhas Nelore alimentadas com dietas contendo cana-de-açúcar hidrolisada

Dry matter intake and performance of Nellore heifers fed with hydrolyzed sugarcane

Resumos

Objetivou-se avaliar o consumo de nutrientes e o desempenho de novilhas Nelore alimentadas com dietas contendo cana-de-açúcar in natura (CN) ou hidrolisada (CH) com 0,5% de Ca(OH)2 armazenada por 24, 48 e 72 horas. Foram utilizadas 24 novilhas com nove meses de idade e 119,6±8,1kg de peso corporal inicial. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualisado com quatro tratamentos e seis repetições. O consumo de matéria seca foi reduzido em 29% pela adição de Ca(OH)2, não sendo alterado pelo período de armazenamento da CH. O consumo de cálcio foi incrementado (P<0,05) pela utilização de CH nas dietas, mantendo níveis de ingestão aceitáveis. Novilhas alimentadas com CH armazenada por 24, 48 e 72 horas apresentaram, respectivamente, ganhos de peso 41, 30 e 35% inferior (P<0,05) àquelas alimentadas com CN. O tratamento da cana-de-açúcar com Ca(OH)2 não é recomendado para alimentação de novilhas Nelore, em virtude de limitar a ingestão e reduzir o ganho de peso.

Ca(OH)2; consumo de cálcio; ganho de peso; valor nutritivo


The study aimed to evaluate the nutrients intake and performance of Nellore heifers fed with chopped sugarcane, fresh (FS) or treated (HS) with 0.5% of Ca(OH)2 and stored during 24, 48 or 72 hours. It was used twenty-four heifers with nine months age and 119.6±8.1kg of initial body weight. The experimental design was completely randomized with four treatments and six replications. The dry matter intake showed an average reduction of 29% by adding Ca(OH)2, and didn't change with the storage period. Calcium intake was increased by the use of HS in the diet, while maintaining acceptable levels of intake. Heifers fed with HS stored during 24, 48 and 72 hours had, respectively, average daily weight gain of 41, 30 and 35% lower than those fed with FS. The treatment of sugarcane with Ca(OH)2 is not recommended for feeding Nellore heifers, due to limited intake and lower weight gain.

Ca(OH)2; calcium intake; nutritional value; weight gain


ARTIGOS CIENTÍFICOS

PRODUÇÃO ANIMAL

Consumo de matéria seca e desempenho de novilhas Nelore alimentadas com dietas contendo cana-de-açúcar hidrolisada

Dry matter intake and performance of Nellore heifers fed with hydrolyzed sugarcane

Regis Luis MissioI; Mauro Dal Secco de OliveiraII, 1 1 Autor para correspondência. ; Mariana Paula Rossi SforciniI; João RestleIII; Denise Adelaide Gomes ElejaldeIV; Viviane Borba FerrariV; Guilherme de Carvalho AbudV

IPrograma de Pós-graduação em Zootecnia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Jaboticabal, SP, Brasil

IIUnesp, Jaboticabal, SP, Brasil. E-mail: regisluismissio@gmail.com

IIIUniversidade Federal do Tocantins (UFT), Araguaína, TO, Brasil

IVPrograma de Pós-graduação em Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rio Grande do Sul, Brasil

VGraduação em Zootecnia, Unesp, Jaboticabal, SP, Brasil

RESUMO

Objetivou-se avaliar o consumo de nutrientes e o desempenho de novilhas Nelore alimentadas com dietas contendo cana-de-açúcar in natura (CN) ou hidrolisada (CH) com 0,5% de Ca(OH)2 armazenada por 24, 48 e 72 horas. Foram utilizadas 24 novilhas com nove meses de idade e 119,6±8,1kg de peso corporal inicial. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualisado com quatro tratamentos e seis repetições. O consumo de matéria seca foi reduzido em 29% pela adição de Ca(OH)2, não sendo alterado pelo período de armazenamento da CH. O consumo de cálcio foi incrementado (P<0,05) pela utilização de CH nas dietas, mantendo níveis de ingestão aceitáveis. Novilhas alimentadas com CH armazenada por 24, 48 e 72 horas apresentaram, respectivamente, ganhos de peso 41, 30 e 35% inferior (P<0,05) àquelas alimentadas com CN. O tratamento da cana-de-açúcar com Ca(OH)2 não é recomendado para alimentação de novilhas Nelore, em virtude de limitar a ingestão e reduzir o ganho de peso.

Palavras-chave: Ca(OH)2, consumo de cálcio, ganho de peso, valor nutritivo.

ABSTRACT

The study aimed to evaluate the nutrients intake and performance of Nellore heifers fed with chopped sugarcane, fresh (FS) or treated (HS) with 0.5% of Ca(OH)2 and stored during 24, 48 or 72 hours. It was used twenty-four heifers with nine months age and 119.6±8.1kg of initial body weight. The experimental design was completely randomized with four treatments and six replications. The dry matter intake showed an average reduction of 29% by adding Ca(OH)2, and didn't change with the storage period. Calcium intake was increased by the use of HS in the diet, while maintaining acceptable levels of intake. Heifers fed with HS stored during 24, 48 and 72 hours had, respectively, average daily weight gain of 41, 30 and 35% lower than those fed with FS. The treatment of sugarcane with Ca(OH)2 is not recommended for feeding Nellore heifers, due to limited intake and lower weight gain.

Key words: Ca(OH)2, calcium intake, nutritional value, weight gain.

INTRODUÇÃO

A alimentação de bovinos no período de baixa disponibilidade das forragens tropicais preocupa não somente pelo aspecto nutricional, mas também pelo custo do volumoso que substitui o pasto na dieta. Para tanto, quando considerada a composição do custo com alimentação, os volumosos assumem participação importante, pois podem representar a maior parte da matéria seca da dieta. Nesse sentido, a utilização da cana-de-açúcar como volumoso para alimentação de ruminantes destaca-se pelo baixo custo da tonelada produzida, assim como pela elevada produção de matéria seca e energia na forma de carboidratos solúveis (principalmente sacarose), o que coincide com o período de escassez de forragem.

A utilização da cana-de-açúcar na alimentação de bovinos baseia-se no corte diário e fornecimento da forragem fresca aos animais. Todavia, esse procedimento tem dificultado a logística das propriedades, notadamente em confinamentos comerciais e propriedades leiteiras, devido à quantidade de mão-de-obra e equipamentos necessários, bem como pelos custos envolvidos. Além disso, a cana-de-açúcar apresenta baixos teores de proteína bruta e minerais, fato que pode ser contornado pela utilização de ureia e mistura mineral. A cana-de-açúcar ainda apresenta baixa ingestão por ruminantes, fato associado à reduzida digestibilidade da fibra (MAGALHÃES et al., 2004). Em função disso, pesquisas têm sido desenvolvidas com intuito de melhorar as características nutritivas e diminuir a frequência de corte pelo armazenamento da cana-de-açúcar a partir de seu tratamento com óxido (CaO) ou hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) (PINA et al., 2011; PANCOTI et al., 2011).

Apesar do número de estudos com cana-de-açúcar tratada com cales ter aumentado nos últimos anos, o número de informações a respeito dos efeitos da adição desses agentes hidrolizantes, bem como do armazenamento da cana hidrolisada sobre o consumo de alimento e desempenho de bovinos são incipientes, sendo os resultados reportados pela literatura contraditórios (MORAES et al., 2008; FREITAS et al., 2011; MISSIO et al., 2012a). Dessa forma, objetivou-se com esta pesquisa avaliar o consumo de nutrientes e o desempenho de novilhas Nelore alimentadas com dietas contendo cana-de-açúcar in natura ou tratada com hidróxido de cálcio e armazenada por diferentes períodos.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizadas 24 novilhas da raça Nelore com nove meses de idade e 119,6±8,1kg de peso corporal inicial. Elas foram distribuídas ao acaso em quatro tratamentos constituídos pelas dietas experimentais (Tabela 1) com seis repetições, sendo o período experimental de 84 dias. As novilhas foram confinadas em baias individuais (14m2) parcialmente cobertas, equipadas com bebedouros e comedouros e, adaptadas por 17 dias às dietas e instalações. No início do experimento e a cada 28 dias, os animais foram pesados individualmente após jejum de sólidos e líquidos por 14-16 horas e avaliados quanto ao escore corporal, considerando escala entre um (muito magro) e cinco (muito gordo).

O volumoso utilizado foi a cana-de-açúcar cv. IAC 86-2480 (ciclo precoce), com idade entre 10-12 meses, triturada em máquina forrageira regulada para obtenção de partículas com tamanho de 2-3cm. Depois de picada, parte da cana-de-açúcar foi espalhada em camadas de 20cm sobre piso de concreto em galpão coberto e adicionou-se a solução de cal com auxílio de regador. A solução foi preparada com 0,5kg de cal hidratada em 2 litros de água 100kg-1 de cana-de-açúcar. Segundo os níveis de garantia do fabricante, a cal apresenta 95,5% de Ca(OH)2 e 1,5% de MgO, o que determina que a quantidade de CaO total (agente hidrolizante) seja de 72,5%. Destaca-se que os demais componentes, que totalizam 3% da composição da cal, não são identificados pelo fabricante. Após homogeneização da solução de cal com a cana-de-açúcar, foi realizada a concentração do material em amontoados (500kg e 80cm de altura), obtendo-se a cana hidrolisada armazenada por 24, 48 ou 72 horas, sendo que, na dieta com cana in natura, a forragem foi fornecida imediatamente após picagem.

As dietas foram formuladas considerando consumo de 2,4% do peso corporal para ganho de peso de 750g dia-1. A ração foi fornecida em duas refeições diárias (8h e 14h), sendo o consumo de ração registrado diariamente e a oferta de alimentos mantida 10% acima do consumo voluntário.

A composição química das dietas foi determinada em amostras de alimentos e sobras coletadas semanalmente, pré-secas em estufa com ventilação forçada a 55°C por 72 horas e moídas em moinho tipo Willey, equipado com peneiras com crivos de 1mm de diâmetro. Os teores de matéria seca, matéria mineral (MM), extrato etéreo (EE) e proteína bruta (PB) foram determinados segundo AOAC (1990). O teor de fibra em detergente neutro (FDN) foi determinado segundo VAN SOEST et al. (1991), sendo corrigida para cinzas e proteínas. Os teores de fibra em detergente ácido e lignina foram determinados segundo Van SOEST (1973). Os teores de carboidratos totais (CT) e carboidratos não fibrosos (CNF) foram determinados segundo SNIFFEN et al. (1992): CT = 100-(PB+EE+MM) e CNF = CT-FDN.

O teor de nutrientes digestíveis totais (NDT) foi determinado segundo WEISS (1993): NDT = (PBDcp x PB)+(EE x 2,25)+[0,98 x (100-FDNn-PB-Cinzas-EE-1)]+0,75 x {(FDNn-lignina) x [1-(lignina/FDNn)0,667]}-7, em que: PBDcp = proteína bruta digestível, determinada distintamente para forragem (Y = e- 0,012 x PIDA) e concentrado (Y = 1 - 0,004 x PIDA); FDNn = FDN ajustada para nitrogênio, determinada a partir da proteína em detergente neutro do resíduo do FDN {PIDN = -8,77+(0,33 x PB)+(0,143 x FDN)}; PIDA = proteína insolúvel em detergente ácido, determinada a partir do resíduo da FDA. A composição mineral dos volumosos e dietas (Tabela 2) foi determinada segundo metodologia descrita por SILVA & QUEIROZ (2002).

O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado. Os dados foram submetidos à análise da variância e contrastes ortogonais, em que a soma de quadrados de tratamentos foi decomposta em três contrastes ortogonais: cana in natura x cana hidrolisada (-3 1 1 1) e efeito linear (0 -1 0 1) e quadrático (0 -1 2 -1) do tempo de hidrólise, considerando-se α = 0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O consumo de matéria seca (CMS) foi superior (P<0,05) para as novilhas alimentadas com dietas com cana in natura (CN) em relação às demais, não sendo alterado pelo tempo de armazenamento da cana hidrolisada (CH) (Tabela 3). Os resultados apresentados foram similares aos reportados por MORAES et al. (2008), que avaliando dietas com CN e CH para novilhas de 8 a 12 meses de idade, verificaram redução do CMS pela inclusão de óxido de cálcio (CaO). Esses autores justificaram os resultados pela menor aceitabilidade da CH, fato evidenciado neste estudo pelo comportamento ingestivo dos animais (MISSIO et al., 2012b).

A limitação do CMS pela adição de cal à cana-de-açúcar não está somente relacionada à palatabilidade do volumoso, mas também à categoria animal, visto que, para bovinos jovens, notadamente zebuínos, tem sido postulado que a aceitabilidade da CH é menor (MISSIO et al., 2012b). Ao contrário, quando a CH foi fornecida para animais mestiços e/ou de categorias de maior idade, como novilhas da raça Nelore, com 14-16 (MISSIO et al., 2012a) e 24 meses de idade (PINA et al., 2011), novilhas mestiças Angus-Nelore com 242kg (DOMINGUES et al., 2012), novilhas mestiças Holandês-Zebu com 200kg (CARVALHO et al., 2010) e novilhos da raça Nelore confinados dos 390 aos 488,8kg de peso corporal (FREITAS et al., 2011) ou vacas em lactação (ALVES et al., 2010), o CMS não foi alterado pela CH na dieta. Apesar de, em geral, não se verificar alteração no CMS de dietas com CH, espera-se aumento na ingestão de alimento (FREITAS et al., 2011) como resultado do aumento da digestibilidade da fração fibrosa da forragem, como verificado por DIAS (2009).

O consumo de proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro (CFDN), fibra em detergente ácido (CFDA), carboidratos totais (CCT), carboidratos não fibrosos (CCNF) (kg/dia) e nutrientes digestíveis totais (CNDT) foi superior (P<0,05) em dietas com CN, em relação àquelas com CH (Tabela 3). Esses resultados discordaram do exposto na literatura (PIRES et al., 2010; MISSIO et al., 2012a), em que tem sido proposto que a ação dos agentes alcalinos sobre a fração fibrosa dos volumosos aumenta a disponibilidade de nutrientes (carboidratos solúveis e carboidratos estruturais livres da lignina), fato que geraria, em função do aumento da digestibilidade, incremento na ingestão de nutrientes.

Nas dietas com CH, o armazenamento do volumoso não alterou (P>0,05) o CFDN, CFDA, CCT e CCNF (Tabela 3), reflexo do similar CMS entre as dietas com CH. Esses resultados demonstraram que o período de armazenamento avaliado não alterou o valor nutritivo da forragem a ponto de alterar o consumo das frações alimentares mencionadas. MOTA et al. (2010) verificaram que o tratamento da cana-de-açúcar com 0,5% de CaO ou hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) não alterou o valor nutritivo da forragem, permitindo sua utilização após 60 horas de armazenamento. DOMINGUES et al. (2012) verificaram que o armazenamento da cana-de-açúcar tratada com CaO (0,5 e 1% na matéria natural) até 72 horas não alterou o consumo de nutrientes, com exceção do CFDN, que diminuiu com o aumento do tempo de armazenamento da forragem.

O tempo de armazenamento da CH determinou variação quadrática (P<0,05) no CNDT (% do peso corporal), sendo esse maior em dietas com CH armazenada por 48 horas (Tabela 3), todavia, esses resultados não foram suficientes para compensar a redução no CMS em relação à dieta com CN e alterar o desempenho animal. O aumento do CNDT ocorrido pelo fornecimento de dietas com CH armazenada por 48 horas, em relação às com 24 horas, foi associado à melhora da digestibilidade da forragem. Já a redução do CNDT nas dietas com CH armazenada por 72 horas foi resultado da redução do valor energético do volumoso (Tabela 1). Vale ressaltar que a diminuição do teor energético da CH durante o armazenamento está relacionado com a degradação de açúcares solúveis por leveduras e fungos, apesar das cales serem efetivas na melhora da estabilidade aeróbica da CH, em relação à CN (DOMINGUES et al., 2011).

O consumo de cálcio, bem como a relação cálcio/fósforo ingerida, foi superior (P<0,05) nas dietas com CH em relação às dietas com CN (Tabela 3). Esses resultados foram condizentes com os resultados obtidos por MOTA et al. (2010) e PINA et al. (2011), os quais verificaram aumento do teor de cálcio da cana-de-açúcar pela adição de CaO e Ca(OH)2, tal como nesta pesquisa (Tabela 2). Ressalta-se que a elevação na ingestão de cálcio, bem como da relação cálcio/fósforo, manteve-se dentro de limites adequados para bovinos, melhorando o suprimento de cálcio frente às exigências nutricionais (NRC, 1996). Nota-se ainda, que a adição de Ca(OH)2, além de determinar variações na quantidade de cálcio da forragem tratada em relação à in natura, determinou variações na concentração dos demais minerais da forragem (Tabela 2), indicando a presença de outros minerais na cal além do Ca. Vale lembrar que o processamento de rochas calcárias para a produção de compostos mais reativos, tal como as cales microprocessadas, traz como benefício a obtenção de produtos livres de elementos tóxicos ou com concentração desses elementos muito abaixo da concentração tóxica para ruminantes, tal como verificado por DOMINGUES (2009).

O consumo de fósforo foi maior (P<0,05) nas dietas com CN em relação àquelas com CH (Tabela 3), reflexo do maior CMS. Por outro lado, o consumo de fósforo, bem como o de cálcio e a relação Ca/P ingerida não foram alterados (P>0,05) pelo tempo de armazenamento da CH, já que o CMS e o teor desses minerais na forragem (Tabela 2) não foram alterados pelo armazenamento da CH. Esses resultados estão de acordo com os obtidos por MOTA et al. (2010), os quais verificaram que o tempo de armazenamento da CH com CaO ou Ca(OH)2 por até 60 horas não alterou a concentração de cálcio e fósforo na forragem.

Em função da superioridade no CMS, as novilhas alimentadas com CN apresentaram maior (P<0,05) ganho de peso médio diário, bem como maior peso corporal e escore corporal ao final do experimento que as novilhas alimentadas com CH (Tabela 4). Esses resultados foram similares aos verificados por MORAES et al. (2008) e PINA et al. (2011), em que o menor desempenho dos animais alimentados com CH foi associado ao menor CMS. Por outro lado, quando o CMS não foi limitado pela adição de cal à cana-de-açúcar, o desempenho animal não foi prejudicado pela utilização da CH na dieta (CARVALHO et al., 2010; FREITAS et al., 2011; DOMINGUES et al., 2012), evidenciando que a possibilidade de sucesso com a utilização de CH na dieta de bovinos é mais provável quando seu fornecimento não estiver associado a categorias em que o CMS é limitado pela palatabilidade da forragem.

O armazenamento da CH entre 24 e 72 horas não alterou (P>0,05) o ganho de médio diário, o peso corporal final e a condição corporal final (Tabela 4), resultados similares aos verificados por PINA et al. (2011) e DOMINGUES et al. (2012). Segundo PINA et al. (2011), a possibilidade de estocagem da cana-de-açúcar por um período de 72 horas seria uma das vantagens do processo de hidrólise, em virtude das melhorarias sobre a logística das propriedades e redução dos custos associados com o corte, transporte e trituração do material.

A conversão alimentar e a eficiência energética não foram alterados (P>0,05) pelo tratamento da cana-de-açúcar com Ca(OH)2, bem como pelo tempo de armazenamento da CH (Tabela 4), concordando com os resultados obtidos por DOMINGUES et al. (2012). Esses resultados evidenciam que as alterações na composição química da forragem (Tabela 1) pela adição do Ca(OH)2 e pelo armazenamento da forragem não foram suficientes para aumentar a eficiência de utilização de dietas com cana hidrolisada por bovinos jovens.

CONCLUSÃO

Dietas com elevada proporção de cana-de-açúcar hidrolisada não são recomendadas para alimentação de novilhas Nelore, em virtude da adição de 0,5% de hidróxido de cálcio, na matéria natural, limitar a ingestão de alimento e reduzir o ganho de peso.

Apesar do consumo de alimento e o ganho de peso não serem alterados entre dietas que apresentem a cana-de-açúcar tratada com hidróxido de cálcio em diferentes tempos de armazenamento, a hidrólise com cal hidratada não deve ser recomendada como método de conservação de forragem quando o alimento for destinado para categorias em que a palatabilidade do volumoso limita a ingestão.

Recebido 26.07.12

Aprovado 23.12.12

Devolvido pelo autor 13.04.13

CR-2012-0591.R4

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  • 1
    Autor para correspondência.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Maio 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 2013
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