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Problemas de saúde na infância: desafios do tratamento à prevenção

Health problems in childhood: challenges from treatment to prevention

EDITORIAL EDITORIAL

Problemas de saúde na infância: desafios do tratamento à prevenção

Health problems in childhood: challenges from treatment to prevention

Este número temático "Problemas de saúde na infância: desafios do tratamento à prevenção" traz importantes informações sobre uma nova pediatria que passou a ter lugar nos cuidados ampliados de saúde que vão do feto ao adulto.

Aqui é tratada uma diversidade de temas: estudo sobre efetividade de programas neonatais, saúde bucal, análise de prevalência de agravos, determinantes da mortalidade infantil, prevenção de acidentes, aleitamento em prematuros, saúde escolar, humanização em UTI neonatal, cuidados com crianças com doenças crônicas, transtornos alimentares, notificação de maus-tratos, cuidados paliativos infantis, entre outros.

Esse acervo de artigos precisa ser colocado em contexto. Nas últimas quatro décadas, houve mudanças consideráveis no cenário demográfico e epidemiológico brasileiro, dentre as quais se destacam: acelerado processo de urbanização, declínio das taxas de fecundidade, natalidade e de mortalidade infantil e aumento da expectativa de vida. Apesar da transição demográfica, o contingente populacional de crianças e adolescentes no Brasil ainda é alto, justificando um olhar atento sobre ele.

Há também uma nova realidade relacionada à saúde da criança no mundo inteiro: aumentaram as taxas de aleitamento materno e o acesso ao pré-natal. Mas o número de partos prematuros também cresceu, assim como a incidência de obesidade e de crianças com doenças crônicas.

O acesso a tecnologias modernas e sofisticadas permitiu o aumento da sobrevida de crianças que antes morreriam, como é o caso dos prematuros extremos, portadores de malformações congênitas e doenças como fibrose cística e osteogênese imperfecta. Criou-se assim uma nova clientela que demanda peculiar nível de cuidado: a criança dependente de tecnologia.

A influência da nova realidade populacional e epidemiológica no curto e longo prazo para o setor saúde e os custos para a sociedade ainda não estão bem determinados, principalmente porque muitos aspectos da saúde infantil não encontram paralelo na saúde do adulto. Por exemplo, o atendimento a crianças dependentes de tecnologia vem acarretando uma peregrinação dos familiares em busca do atendimento integral. O sistema de saúde não está preparado para tal tipo de cuidado. E se as crianças não forem tratadas a tempo, seu desempenho na vida adulta e na sociedade será afetado.

Ressalta-se neste número um estudo de coorte sobre problemas periodontais na infância que apontam-nos como responsáveis por aumentar duas a sete vezes o risco de doença cardiovascular. E outro que adverte para o fato de que a prevenção das doenças crônicas e degenerativas dos adultos, como é o caso dos hábitos alimentares e o estilo de vida, precisa ser abordada ainda na infância.

Tudo o que se apontou aqui exige um novo paradigma para capacitação de pediatras e outros profissionais que cuidam da criança. Se o acesso a modernas tecnologias e a práticas baseadas em evidência melhoraram a capacidade de diagnóstico e as oportunidades de prevenção e tratamento, elas não garantem a integridade de um ser em desenvolvimento.

Em resumo, os artigos aqui publicados referem-se a esta nova criança que se apresenta ao profissional de saúde: uma criança que, com os conhecimentos atuais, poderia viver cem anos, mas que ainda não tem acesso aos cuidados necessários para que sua expectativa de vida aumente.

Maria Elisabeth Lopes Moreira

Editora convidada

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Abr 2010
  • Data do Fascículo
    Mar 2010
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