EDITORIAL
Saúde da criança e do adolescente em perspectiva
Esse número temático traz grande contribuição para profissionais que trabalham com crianças e adolescentes. Os artigos oferecem diferentes abordagens metodológicas, apresentam diferentes saberes e abrangem diferentes regiões do país. Possibilitam uma reflexão abrangente sobre aspectos que vão desde o nascimento pré-termo à adolescência, integrando, em seu conjunto, estudos epidemiológicos, avaliação de comportamentos e práticas, educação em saúde e avaliação de programas de assistência à saúde.
As pesquisas sobre abandono do aleitamento materno e sobre intenção de abandono de mães de bebês prematuros impõem uma reavaliação de condutas e de práticas ligadas ao nascimento. Evidências científicas têm demonstrado a importância do aleitamento materno para a redução da morbidade e da mortalidade infantis.
Neste número temático destacam-se, ainda, condutas que fortaleçam o vínculo mãe-bebê para que possam contribuir para, dentre outras coisas, a redução do abandono. O parto e o nascimento hoje são práticas, em geral hospitalares e com excesso de medicalização. O abandono da amamentação, e posteriormente do bebê, podem ter raízes no desamparo institucional à mulher no ciclo grávido-puerperal, no excesso de cesarianas, nas práticas hospitalares que desautorizam as mães e que afastam o pai, a família e as redes de apoio social. Profissionais que trabalham na gestão ou na assistência pré-natal, sala de parto, alojamento conjunto, bancos de leite e ambulatórios devem estar atentos para a qualidade do vínculo e para a construção de redes familiares.
O debate natureza versus experiência traz à discussão as influências relativas de fatores biológicos e ambientais no desenvolvimento infantil. Tema esse também discutido neste número temático, nos artigos sobre ambiente domiciliar e alterações do desenvolvimento, retardo estatural em menores de cinco anos, fatores de risco para sobrepeso em adolescentes e o papel das redes sociais e da comunicação em programas de acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento da criança.
Outro destaque são seis trabalhos sobre saúde bucal, aspecto importante para a reorganização das ações e serviços, no âmbito da atenção básica, no SUS.
Também importantes são pesquisas sobre percepção e representação de crianças e adolescentes sobre diferentes questões, como corpo, sexualidade e violência, aqui abordadas.
Descortinamos, com os avanços e a incorporação cada vez maior das tecnologias duras, a necessidade de mudança no processo de trabalho em busca da interdisciplinaridade e da humanização. Deve-se evitar um descompasso entre as competências técnica e relacional, o que é discutido no artigo "Dialogia do riso: um novo conceito que introduz alegria para a promoção da saúde apoiando-se no diálogo, no riso, na alegria e na arte da palhaçaria".
Cuidar de crianças e adolescentes implica em formar laços e em construir redes. Acarreta em promover educação em saúde e em fomentar a construção de práticas de atenção integral no SUS, algumas estudadas e apresentadas aqui, como a assistência pediátrica no SUS a crianças com dependência crônica de ventilação pulmonar mecânica e a reflexão sobre o papel dos pediatras na Estratégia de Saúde da Família.
Como criar a ponte entre o conhecimento e a prática? As pesquisas desse número temático contribuem para a construção do conhecimento e promovem reflexões sobre a qualidade do cuidado, em busca da redução da morbidade e da mortalidade de crianças e adolescentes.
Zeni Carvalho Lamy; Antonio Augusto Moura da Silva
Departamento de Saúde Pública, Universidade Federal do Maranhão
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
23 Jan 2012 -
Data do Fascículo
Out 2011