Open-access Análise bibliométrica das evidências científicas sobre violência contra a pessoa idosa

Bibliometric analysis of the scientific evidence on violence perpetrated against the elderly

Resumo

O estudo tem como objeto as violências contra a pessoa idosa. Objetiva analisar a produção científica internacional sobre violência contra a pessoa idosa. Trata-se de uma pesquisa bibliométrica realizada na base de dados “ISI Web of Knowledge/Web of Sciencetm”, na qual foram usados os termos de busca: “elder*, violence* ou abuse* e health care”, no recorte temporal entre os anos 1991 e 2016. Os dados foram analisados considerando a trajetória de evolução anual das publicações, os periódicos com maior quantidade de registros, os autores com maior quantidade de publicações, a quantidade de artigos distribuídos por país de origem dos autores e os artigos de maior impacto. Foram identificados 267 registros de publicação em 174 periódicos distintos indexados à base de dados em questão e foram escritos por 901 autores que possuem vínculos a 410 instituições, localizadas em 39 países. Na análise descritiva do conteúdo dos “top journals” da temática e dos artigos mais citados verificou-se potenciais para o desenvolvimento do tema visto que existe a necessidade de mais dados sobre intervenções em casos de violências contra a pessoa idosa, com abordagem multidisciplinar, bem como a realização de mais pesquisas sobre as manifestações clínicas, qualidade vida e seu impacto econômico na utilização dos serviços de saúde.

Palavras-chave Idoso; Violência; Abuso; Cuidados de saúde

Abstract

The scope of this study is violence perpetrated against the elderly. It aims to analyze the international scientific production on violence against the elderly. It involved bibliometric research carried out in the ISI Web of Knowledge/Web of ScienceTM database, in which the search terms “elder,”violence” or “abuse” and “health care” were used, in the period between the years 1991 and 2016. The data were analyzed considering the evolution of the annual publications, the journals with the highest number of records, the authors with the highest number of publications, the number of articles distributed by authors’ country of origin, and articles with the highest impact. A total of 267 published records in 174 different journals indexed to the database in question were identified and were written by 901 authors with links to 410 institutions located in 39 countries. In the descriptive analysis of the content of the top journals on the topic and of the most cited articles there was potential for the development of the topic, since there is a need for more data on interventions in cases of violence against the elderly, with a multidisciplinary approach, as well as conducting more research on clinical manifestations, quality of life and its economic impact on the use of health services.

Key words Elderly; Violence; Abuse; Healthcare

Introdução

O envelhecimento da população mundial é uma realidade irreversível. As mudanças epidemiológicas, sociais e tecnológicas que promovem esse fenômeno podem ser observadas em diversos países, no entanto, cada um apresenta dinâmicas e velocidades diferentes na caracterização da transição demográfica que favorece o envelhecimento populacional.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU) existem atualmente uma média de 841 milhões de idosos no mundo e a projeção é que em 2030, as pessoas idosas de 60 anos ou mais superem o número de crianças de 0 a 9 anos chegando a 1,4 bilhões e até 2050 esse número chegue a 2,0 bilhões1.

Seguindo a tendência global, no Brasil, o número de idosos aumentou consideravelmente, somando atualmente 23,5 milhões representando 11,3% do total da população brasileira2.

O Estatuto do Idoso3, uma das principais políticas brasileiras voltada para os direitos da população idosa, define idoso toda pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. O envelhecimento é definido como um processo fisiológico, dinâmico e progressivo4. Uma definição mais qualitativa do envelhecimento traz a ideia de que a velhice não tem idade definida para seu início e que se condiciona à disposição, atitude e interesse de cada pessoa em relação à qualidade de vida5.

Vários aspectos devem ser considerados no que corresponde ao cuidado integral à pessoa idosa, principalmente visando à qualidade de vida dessa população. A atenção à saúde do idoso tem sido uma temática de amplo debate mundial. As discussões sobre saúde pública e violência na faixa etária considerada idosa inclui necessidades específicas que estão relacionadas a aspectos de cronicidade e complexidade que demandam cuidados adequados à essa população6.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) adotou a definição de “envelhecimento ativo” com a ideia de que uma vida mais longa deve estar atrelada a oportunidades e acesso contínuos a bens e serviços de saúde, participação social e segurança das pessoas idosas7. Neste contexto, com o aumento da expectativa de vida das populações, as pessoas estão vivendo mais, porém tornam-se mais vulneráveis à violência sendo essenciais ações que promovam a segurança dos idosos.

A OMS define violência como o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha probabilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação8.

A violência contra a pessoa idosa é classificada em cinco categorias: violência física; violência psicológica ou emocional; violência financeira ou material; violência sexual; e negligência9. Essas violências são tradicionalmente expressas em discriminação, conferindo-lhes a definição de “descartáveis” e “peso social”. O Estado, não cumpre eficazmente sua condição de ordenar a proteção aos idosos, uma vez que as leis criadas para esse fim não são efivamente cumpridas10.

Atualmente, a Política Nacional do Idoso11, instituída em 1994, e o Estatuto do idoso3, em 2003, são as principais legislações no Brasil que garantem o direito da pessoa idosa, incluindo penalidades severas aos que praticam qualquer tipo de violência contra o idoso. No entanto, muitas vezes não são efetivamente conhecidas ou respeitadas, o que mantém muitas vezes a impunidade dos casos de violência ao idoso.

Especificamente na área da saúde temos a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, que afirma a valorização de ações integradas de combate à violência doméstica e institucional contra as pessoas idosas12.

A Estratégia Saúde da Família (ESF) exerce um papel essencial na identificação da violência contra o idoso, uma vez que a caracterização das equipes permite um contato próximo aos usuários, além de ser ordenadora do cuidado e porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). As ações devem centrar-se na prevenção, identificação e enfrentamento da violência contra os idosos, além da assistência a estes vítimas de violência. Ressaltam que todos os profissionais que formam a ESF, devem estar capacitados para promover ações integrais nos casos de violência13.

Neste sentido, apoiando-se na importância atribuída à temática que envolve a saúde do idoso, o estudo tem como objetivo analisar a produção científica internacional sobre violência contra a pessoa idosa.

Metodologia

Realizou-se uma pesquisa bibliométrica de caráter exploratório e descritivo, definida como uma técnica quantitativa e estatística com objetivo de busca de indicadores efetivos de atividade acadêmica, decorrentes de publicações e citações a cerca de determinado assunto14 podendo ser usada em pesquisas da área da saúde15. A sua aplicabilidade dá-se como relevante técnica de coleta e análise de dados, sendo uma importante fonte argumentativa na busca por recursos e investimentos em pesquisa nos rankings acadêmicos16,17, bem como instrumento eficaz para escolha de referências importantes ao assunto pesquisado.

Para a realização de um estudo bibliométrico, a seleção da base de dados a ser utilizada deve ser criteriosa, mantendo-se compatibilidade desta escolha com os objetivos da pesquisa e o alcance dos resultados18. Desta forma, foi especificada como base de dados a ISI Web of Knowledge/Web of Science que possui reconhecimento acadêmico, é considerada uma das mais abrangentes bases de periódicos de diversas áreas do conhecimento científico, além de ser importante e pioneira na reunião de periódicos de mais de cem áreas dos conhecimento19.

Para a coleta de dados, foi usado o período de busca disponível na base de dados, principal coleção do Web of ScienceTM, para anos completos entre 1945-2016, com o primeiro registro de artigo em 1991, a fim de permitir a replicação ou atualização deste estudo sem a necessidade de realizá-lo novamente desde o seu princípio. Desta forma, em ordem, foram definidos os seguintes termos de busca: “elder*, “violence*” ou (or) “abuse*” e (and) “health care”. As aspas indicam a representação exata dos termos com mais de uma palavra e os asteriscos as possibilidades de plural dos descritores. Estes termos representam a associação intencionada em atendimento ao objetivo do estudo. A coleta foi realizada a partir da busca destes termos no “tópico”, que representa o título dos artigos, resumos, palavras-chave do autor e palavras-chave criadas (keywords plus).

Após a busca, foi realizado um refinamento dos trabalhos encontrados por meio da aplicação de filtros oferecidos pelo mecanismo de busca da coleção principal da Web of ScienceTM. Não houve filtro de refinamento para áreas do conhecimento, países ou idiomas dos estudos, abrangendo todos os registros de publicações que tivessem os três termos em associação. Foram excluídos dos resultados artigos provenientes de eventos ou considerados ainda em edição (Conference Proceedings) e registros oriundos de proceedings papers, “editorial material” e letter, resultando apenas trabalhos finais e completos article e review (artigos e revisões). Desta forma, os estudos foram identificados e utilizados como conjunto de artigos para a análise bibliométrica proposta.

Em seguida à coleta de dados foi realizada a análise do material a partir da exportação destes dados para o pacote de software de análise bibliométrica HistCiteTM, a fim de organizar as informações e facilitar a análise. A análise dos artigos selecionados seguiu os três procedimentos sugeridos: a definição da base de dados e os critérios a serem utilizados para a coleta; a coleta dos dados; e a representação e análise destes20,21.

Foram analisadas a trajetória de evolução anual das publicações, os periódicos com maior quantidade de registros, os autores com maior quantidade de publicações e a quantidade de artigos distribuídas por país de origem dos autores. Além destes dados gerados pelo software, foram elucidados aspectos dos textos dos 18 artigos mais citados globalmente e dos 18 artigos mais citados localmente no intuito de identificar suas principais contribuições para a temática da violência contra a pessoa idosa. Os resultados destas análises estão apresentados a seguir.

Resultados

Após realizado o levantamento bibliométrico foram identificados 267 artigos relacionados à temática. Estes artigos estão publicados em 174 periódicos distintos indexados à base de dados em questão e foram escritos por 901 autores que possuem vínculos à 410 instituições, localizadas em 39 países. Para a consecução destes artigos foram utilizadas 10.526 referências, com uma média de aproximadamente 39 referências por artigo.

O Gráfico 1 apresenta a trajetória de evolução anual das publicações nesta temática. Os primeiros registros de artigos indexados na Web of ScienceTM datam do ano de 1991 com a publicação de 4 artigos. No ano seguinte, 1992, houve uma queda no número de produções, no entanto, nos anos posteriores, na década de 1990, as produções cresceram até o ano de 1999. Os anos de 2001 e 2008 registraram as principais quedas no número de produções para essa década. Os anos posteriores mantiveram uma tendência de aumento com o pico sendo registrado em 2014 com 25 artigos publicados. Nos demais anos houve oscilações nas produções, com destaque para os anos de 2012, 2013 e 2015 que apresentaram 19 artigos. Apesar de não apresentar um crescimento ininterrupto, o número de estudos que tratam da temática da violência contra a pessoa idosa continuam crescentes desde sua primeira ocorrência, destacando a atualidade e a relevância do tema.

Gráfico 1
Distribuição das publicações sobre violência contra a pessoa idosa (1991-2016).

A Tabela 1 identifica os periódicos internacionais mais representativos para a temática da violência contra a pessoa idosa. Dessa forma, dentre 174 periódicos indexados na Web of ScienceTM que publicaram sobre o tema, destacaram-se 09 periódicos com o maior número de publicações sobre o tema e citações na base de dados, obtendo assim, um total de 65 registros de artigos, o que corresponde a 37,3% da quantidade total de trabalhos identificados.

Tabela 1
Top Periódicos com mais artigos publicados (1991-2016).

Os três periódicos com maior número de registros de publicação foram o Journal of Elder Abuse & Neglect, Clinics in Geriatric Medicine e o Ciencia & Saude Coletiva, com respectivamente 15, 11 e 7 artigos. Contudo, ao identificar aqueles periódicos com maior impacto e representatividade, foi definido um índice em que é possível verificar a relação entre o número de citações e o número de artigos publicados em cada um deles. A partir deste, pode-se perceber o impacto dos artigos identificados nestes periódicos sob o total de citações recebidas dentro da base de dados em questão. Desta forma, fica evidente que o periódico com maior índice citações/artigo é o Psychiatric Services como aquele com maior índice (98,8). Este índice pode ser útil para futuras pesquisas e funcionar como um indicador da relevância dos periódicos com mais publicações sobre o assunto.

Dentre os 901 autores e autoras identificados no estudo, 08 são indicados com maior quantidade de publicações. Esses dados apontam relevância no contexto da temática em que Souza E.R, autora brasileira vinculado à Fiocruz que publicou 5 artigos. Isso demonstra o impacto positivo da participação de pesquisadores brasileiros na área de violência contra a pessoa idosa, que apesar de ainda escassa, já apresenta resultados em destaque internacional na Tabela 2.

Tabela 2
Autores com maior número de publicações (1997-2017).

A análise permitiu identificar que três importantes centros de pesquisas na área, o The University of Iowa por possuir dois autores vinculados à temática, Daly J.M e Jorgest G.J, que juntos possuem 8 artigos publicados; O Rush University Medical Center que possui o autor com mais publicações e a Fiocruz, instituição de pesquisa brasileira de grande impacto nacional e internacional com 5 artigos publicados. No entanto, tal análise demonstra que todas as demais instituições estão localizadas nos EUA, com excessão da Fiocruz. Isso representa o empoderamento e a potencialidade científica da América do Norte.

Para aprofundar a representatividade dos países de origem das instituições de vínculo dos 901 autores dos 267 trabalhos mapeados neste estudo bibliométrico, foram identificados os países com mais produções científicas no campo da violência contra a pessoa idosa, que podem ser observados na Tabela 3.

Tabela 3
Quantidade de artigos por país de origem das instituições de vínculo dos autores.

A partir da Tabela 3, percebe-se uma predominância de estudos originários da América do Norte, com destaque para o primeiro lugar EUA, com 153 artigos, e o segundo, Canadá, com 14 artigos publicados. O Brasil aparece em quinto lugar, com 11 artigos publicados sobre a temática. Os países Reino Unido, Suécia, Espanha, Finlândia e Itália destacaram a participação da Europa na produção científica na área, no entanto, a soma de todas as produções está aquém da produção dos EUA.

De acordo com Relatório da UNESCO sobre Ciência22, publicado em 2010, as publicações científicas em nível global estão atualmente dominadas pela tríade: EUA, Europa e Ásia. Afirma ainda que os EUA é o país que lidera a produção científica mundial em termos absolutos, corroborando com os achados neste estudo.

A Figura 1 apresenta a relação entre os artigos mais citados, separando-os em dois grupos: 1- artigos que receberam mais citações de outros trabalhos em toda a base de dados ISI Web of ScienceTM (GCS) e 2- artigos que receberam mais citações dos trabalhos do grupo de seleção deste estudo bibliométrico (LCS). O número de citações e as relações de citação entre estes trabalhos (representadas por linhas que conectam os círculos) indicam os estudos mais representativos sobre o tema, apresentando trabalhos seminais e aqueles posteriores que também foram muito referenciados. A direção das setas aponta a relação entre o trabalho e um estudo posterior que o cita.

Figura 1
Top 10 artigos mais citados na Web of ScienceTM (Global Citation Score) e Top 10 artigos mais citados no grupo de artigos selecionados (Local Citation Score) dentre o conjunto selecionado.

Legenda: GCS – Global Citation Score (Top 10 artigos sobre a temática que receberam maior quantidade de citações no Web of ScienceTM) LCS – Local Citation Score (Top 10 artigos sobre a temática que receberam maior quantidade de citações dos artigos selecionados).

1 – Adams et al.23; 2 – Berwick24; 3 – Jeste et al.28; 4 – Davies et al.29; 5 – Felker et al.30; 6 – Toole & Waldman31; 7 – Gallo & Lebowitz32; 8 – Nelson et al.33; 9 – Lachs & Pillemer27; 10 – Manchikanti et al.34; 11 – Lachs et al.25; 12 – Bird et al.35; 13 – Menckel & Viitasara36; 14 – Levkoff et al.37; 15 – Dong38; 16 – Rodriguez et al.39; 17 – Mosqueda & Dong40; 18 – Dong & Simon26.


Ao observar a relação entre os textos, podem ser identificadas as figuras denominadas de “artigo autoridade” ou “artigo base”18 que são aquelas referências principais de outros que também recebem grandes quantidades de citações.

Nesse caso representado por Adams et al.23 e Berwick24. Além da figura do artigo autoridade, também aparecem os “artigos hub” ou “artigos de conexão”18 que são aqueles que condensam informações importantes de trabalhos anteriores conectando estes a outros mais recentes, também recebendo grandes quantidades de citações. São eles: Lachs et al.25 e Dong & Simon26.

Embora não esteja explicitamente como artigo hub, o artigo dos autores Lachs & Pillemer27, apresenta representatividade nas duas áreas de citação, e demonstra importante referência do tema estudado.

A seção seguinte discute as principais contribuições de cada um destes trabalhos, tanto aqueles mais citados globalmente como aqueles mais citados localmente.

Discussão

A literatura internacional aborda o tema violência contra a pessoa idosa de forma ampla e diversificada. Dentre os 18 artigos de maior fator de impacto, mais citados local e globalmente na Web of Science, destacam-se estudos sobre: a esquizofrenia como uma doença de encurtamento da vida; prevalência e incidência dos principais transtornos mentais do final da vida; saúde mental do idoso e uso de álcool; adultos idosos e a violência familiar por parceiro íntimo; idosos vítimas de abusos, que vão desde negligência e maus-tratos; abuso e negligência no atendimento aos idosos entre os profissionais de saúde; baixas taxas de notificação de abuso de idosos por médicos; maus-tratos a idosos, abuso emocional, financeiro, físico e sexual, negligência de outros indivíduos e autonegligência; ameaças e violência no trabalho; prevalência ao longo da vida da dor na coluna vertebral; síndrome do choque tóxico estreptocócico e fasciite necrotizante em idosos; a mortalidade e problemas médicos em pacientes psiquiátricos; altas taxas de mortalidade durante o período imediatamente após a migração de refugiados idosos, com destaque para as pesquisas publicadas em 2014. Os três periódicos com maior número de registros de publicação foram o Journal of Elder Abuse & Neglect, Clinics in Geriatric Medicine e o Ciencia & Saude Coletiva. Há predominância de estudos originários da América do Norte, com destaque para os EUA com 153 artigos.

O estudo bibliométrico evidenciou pontos pouco explorados pela produção científica. O estudo de Adams et al.23, é considerado como artigo autoridade na relação demonstrada no gráfico, sendo citado na GCS e na LCS, que determina a prevalência, a variação geográfica e as taxas para Medicare de hospitalizações relacionadas ao uso álcool entre idosos nos Estados Unidos da América (EUA). Os resultados deste estudo apontaram que a prevalência de hospitalizações relacionadas ao álcool entre pessoas com 65 anos e mais nos Estados Unidos, em 1989, foi de 54,7 para homens e 14,8 para mulheres considerando a população de 10.000 habitantes.

Os registros hospitalares no estudo demonstraram que dados do MEDPAR apresentaram sensibilidade de 77% para detectar hospitalizações relacionadas ao álcool e que ocorreu uma variação geográfica considerável na prevalência de 18,9 a 77,0 no Alasca. Apontou ainda uma forte correlação entre hospitalizações relacionadas ao álcool e ao consumo per capita de álcool por estado. Considerando esses resultados, os autores afirmam que as hospitalizações relacionadas ao álcool entre idosos podem ser consideradas comuns e que as taxas encontradas foram semelhantes aos casos de infarto do miocárdio.

Outro artigo considerado autoridade é o produzido por Berwick24, no qual propõe objetivos a serem alcançados para a liderança clínica na reforma do sistema de saúde, visando o comprometimento nas mudanças fundamentais e contínuas no desenvolvimento clínico-dirigido. Esses objetivos são: reduzir as cirurgias inadequadas, internações hospitalares e testes diagnósticos; reduzir as principais causas radicais subjacentes da doença (especialmente o tabagismo, violência armada, lesões infantis evitáveis e abuso de álcool e cocaína); reduzir as taxas de cesariana para níveis pré-1980; reduzir o uso de procedimentos médicos indesejados no final da vida; simplificar o uso farmacêutico, especialmente para antibióticos e medicamentos de idosos; aumentar a participação ativa do paciente na tomada de decisão terapêutica; diminuir o tempo de espera para os cuidados de saúde; reduzir os níveis de inventário nas organizações de cuidados de saúde; registrar as informações úteis apenas uma vez; consolidar e reduzir o suprimento total de assistência médica e cirúrgica de alta tecnologia; e reduzir a mortalidade infantil e o nasciemnto de crianças com baixo peso.

O autor conclui que os profissionais clínicos exercem um papel de liderança para a melhoria dos cuidados, e sugere priorizar os objetivos da “reforma dos cuidados de saúde” adotando uma agenda de mudanças que atendam às necessidades sociais e impulsionem esse movimento.

Com destaque na LCS, o estudo de Lachs et al.25, classificado como artigo de conexão, analisou a natureza e a frequência do uso do departamento da emergência (DE) por vítimas idosas decorrentes de abusos físicos em dois serviços. Os resultados demonstram que 182 idosos foram identificados como vítimas de abuso físico, na área de coleta de dados do estudo no período de 7 anos. Destes, 114 (62,6%) foram atendidos em um ou ambos os serviços de emergência pelo menos uma vez durante um período de 5 anos. Esses 114 indivíduos representaram 62,8% de idosos atendidos em emergências, e 30,6% em internação hospitalar. Verificou-se que 37,8% dos indivíduos tiveram pelo menos um atendimento categorizado como de alta probabilidade de caso de abuso físico e 66% dos indivíduos tiveram pelo menos um atendimento que resultou em um sintoma efetivamente relacionado à lesão.

Desse modo, o estudo concluiu que as pessoas idosas vítimas de abuso apresentam estreita relação com visitas em unidades de emergência, e estas resultam em admissão destes indivíduos, assim como na identificação dos abusos, e sugere que a assistência ao idoso seja realizada de forma precoce, melhorando a qualidade de vida do mesmo e resultando em economias na saúde.

Dong & Simon26, classificado como artigo de conexão, por sua vez, verificaram a relação entre o abuso geral e subtipos de abuso sofridos por idosos e a taxa de hospitalização em uma população de adultos idosos por meio de um estudo prospectivo com base populacional. Foi considerado um total de 6.674 idosos residentes na comunidade que participaram do Projeto Saúde e Envelhecimento de Chicago, sendo 106 identificados por serviços sociais de identificação de abusos em idosos.

Os resultados desse trabalho consideram variáveis sociodemográficas e socioeconômicas, doenças médicas, função cognitiva e física e bem-estar psicossocial. E demonstra que o abuso de idosos encontrado no estudo, apresenta taxas mais altas de internação, seguido de abuso psicológico, exploração financeira, negligência do cuidador, no qual foram associados a taxas elevadas de hospitalização, após considerar os mesmos fatores potenciais. Os resultados da interação com a maioria dos pacientes sugeriram que a associação entre o abuso e a hospitalização não diferiu dos níveis de comorbidades médicas, deficiência cognitiva e funcional ou dificuldade psicossocial.

Lachs & Pillemer27, artigo com representatividade nas duas áreas de citação, presente nas listas do GCS e LCS, afirmam que o abuso de idosos recebe atenção cada vez maior no decorrer da última década, caracterizado como um sério problema de saúde que interfere no bem-estar das pessoas idosas. Esse trabalho teve por objetivo auxiliar profissionais clínicos por meio de pesquisas internacionais recentes com achados clínicos sobre o tema de abuso contra a pessoa idosa. Os autores afirmam que a violência familiar sofrida por idosos afeta diretamente a qualidade de vida. Verificou que existe a necessidade de mais dados sobre intervenções em casos de abusos. Sugere ainda que outras pesquisas devem se concentrar na elaboração de técnicas de triagem clinicas úteis e avaliações baseadas em evidências de intervenções replicáveis.

Diante do exposto, são poucos os países e os periódicos onde estudos sobre a violência contra a pessoa idosa foram realizados e publicados. A bibliometria demonstrou que a maioria dos estudos não abordou as consequências dessa violência.

Conclusão

Na análise descritiva do conteúdo dos top journals da temática e os artigos mais citados verificou-se potenciais para o desenvolvimento do tema visto que existe a necessidade de mais dados sobre intervenções em casos de violências contra a pessoa idosa, com abordagem multidisciplinar, bem como a realização de mais pesquisas sobre as manifestações clínicas, qualidade vida e seu impacto econômico na utilização dos serviços de saúde.

Ressalta-se a necessidade de discussões sobre o tema na formação dos profissionais de saúde para identificação precoce dos casos de abuso e melhoria do manejo clínico.

Sugere-se a realização de novas pesquisas, principalmente no que concerne às intervenções clínicas e atuação profissional, uma vez que as discussões sobre violência precisam ser ampliadas e atualizadas, tendo em vista o seu impacto social. Outros estudos, podem investigar as causas da reprodução da violência contra a pessoa idosa, além de analisar como os idosos que sofrem violências e maus tratos percebem as consequências e as dificuldades para o enfrentamento. O estudo possui limitações, considerando que a qualidade das pesquisas não pode ser avaliada somente por indicadores bibliométricos.

As evidências científicas sobre o tema poderá contribuir para o desenvolvimento de novas pesquisas com a finalidade de preencher lacunas no conhecimento servindo de orientação para futuros estudos sobre a violência contra a pessoa idosa como uma ferramenta para o planejamento e implementação de políticas públicas efetivas de atenção ao idoso.

Referências

  • 1 United Nations. Department of Economic and Social Affairs, Population Division. World Population Ageing 2015 (ST/ESA/SER.A/390) [citado 2013 Set 10]. Disponível em: http://www.un.org/en/development/desa/population/publications/pdf/ageing/WPA2015_Report.pdf
    » http://www.un.org/en/development/desa/population/publications/pdf/ageing/WPA2015_Report.pdf
  • 2 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Estudos e Pesquisas, Informação Demográfica e Socioeconômica. Rio de Janeiro: IBGE; 2012.
  • 3 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Estatuto do Idoso. Série E. Legislação de Saúde Brasília: MS; 2003
  • 4 Clegg A, Young J, Iliffe S, Rikkert MO, Rockwood K. Frailty in elderly people. Lancet 2013; 381(9868):752-762.
  • 5 Moreira WC, Lago EC, Viana MGP, Carvalho ARB, Frota BC, Pereira PSL. Sexualidade e prevenção de IST e HIV/aids entre idosos usuários da estratégia saúde da família. Revista Prevenção de Infecção e Saúde 2015; 1(3):76-82.
  • 6 Júnior VAO, Martins VS, Marin MJS. Atenção à saúde do idoso na Estratégia Saúde da Família e a presença de transtornos mentais comuns. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia 2016; 19(1):21-33.
  • 7 World Health Organization (WHO). Active ageing: a policy framework Geneva: WHO; 2002.
  • 8 World Health Organization (WHO). A global response to elder abuse and neglect: building primary health care capacity to deal with the problem worldwide: main report Geneva: WHO; 2008.
  • 9 World Health Organization (WHO). Missing voices: views of older persons on elder abuse Geneva: WHO; 2002.
  • 10 Minayo MCS. Violência contra idosos: relevância para um velho problema. Cad Saude Publica 2003; 19(3):783-791.
  • 11 Brasil. Lei 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o conselho nacional do idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União 1994; 4 jan.
  • 12 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Portaria nº 2.528, de 19 de outubro de 2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Diário Oficial da União 2006; 19 out.
  • 13 Rocha EN, Vilela ABA, Silva DM. Enfrentamento da violência intrafamiliar contra pessoas idosas pelos profissionais de saúde. Kairós Gerontologia. Revista da Faculdade de Ciências Humanas e Saúde 2015; 18(4):29-46.
  • 14 Araújo CA. Bibliometria: evolução histórica e questões atuais. Em questão 2006; 12(1):11-32.
  • 15 Moura LKB, Mobin M, Matos FTC, Monte TL, Lago EC, Falcão CAM, Sousa LRM. Bibliometric Analysis on the Risks of Oral Cancer for People Living with HIV/AIDS. Iranian Journal of Public Health 2017; 46(11):1583-1585.
  • 16 Diem A, Wolter SC. The use of bibliometrics to measure research performance in education sciences. Research in higher education 2013; 54(1):86-114.
  • 17 Miguel S, Dimitri PJ. La investigación en bibliometría en la Argentina: quiénes son y qué producen los autores argentinos que realizan estudios bibliométricos. Información, cultura y sociedad 2013; 29(6):117-138.
  • 18 Koskinen E, Eskelinen A, Paavolainen P, Pulkkinen P, Remes V. Comparison of survival and cost-effectiveness between unicondylar arthroplasty and total knee arthroplasty in patients with primary osteoarthritis: A follow up study of 50,493 knee replacements from the Finnish Arthroplasty Register. Acta orthopaedica 2008; 79(4):499-507.
  • 19 Santos JLS, Maldonado UM, Santos RNM. Inovação e conhecimento organizacional: um mapeamento bibliométrico das publicações científicas até 2009. Revista Organizações em Contexto 2011; 7(13):31-58.
  • 20 Santos PM, Selig PM. Indicadores para o novo serviço público: uma análise bibliométrica e sistêmica. Perspectivas em Ciência da Informação 2014; 19(3):82-97.
  • 21 Moura LKB, Mesquita RF, Mobin M, Matos FTC, Monte TL, Lago EC, Falcao CAM, Ferraz MAAL, Santos TC. Uses of Bibliometric Techniques in Public Health Research. Iranian Journal of Public Health 2017; 46(10):1435-1436.
  • 22 United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO). Relatório UNESCO sobre Ciência Paris: UNESCO; 2010.
  • 23 Adams WL, Yuan Z, Barboriak JJ, Rimm AA. Alcohol-Related Hospitalizations of Elderly People Prevalence and Geographic Variation in the United States. JAMA 1993; 270(10):1222-1225
  • 24 Berwick DM. Eleven worthy aims for clinical leadership of health system reform. JAMA 1994; 272(10):797-802
  • 25 Lachs MS, Williams CS, O'Brien S, Hurst L, Kossack A, Siegal A, Tinetti ME. ED use by older victims of family violence. Ann Emerg Med 1997; 30(4):448-454
  • 26 Dong X, Simon MA. Elder abuse as a risk factor for hospitalization in older persons. JAMA Intern Med 2013; 173(10):911-917.
  • 27 Lachs MS, Pillemer K. Elder abuse. Lancet 2004; 364(9441):1263-1272
  • 28 Jeste DV, Gladsjo JA, Lindamer LA, Lacro JP. Medical Comorbidity in Schizophrenia. Schizophrenia Bulletin 1996; 22(3):413-430.
  • 29 Davies HD, McGeer A, Schwartz B, Green K, Cann D, Simor AE, Low DE, and the Ontario Group. Invasive group a streptococcal infections in Ontario, Canada. N Engl J Med 1996; 335(8):547-554.
  • 30 Felker B, Yazel JJ, Short D. Mortality and Medical Comorbidity among psychiatric patients: a review. Psychiatric Services 1996; 47(12):1353-1363.
  • 31 Toole MJ, Waldman RJ. The public health aspects of complex emergencies and refugee situations. Annu. Rev. Public Health 1997; 18:283-312.
  • 32 Gallo JJ, Lebowitz BD. The epidemiology of common late-life mental disorders in the community: themes for the new century. Psychiatric Services 1999; 50(9):1158-1166.
  • 33 Nelson HD, Nygren P, McInerney Y, Klein J. Screening Women and Elderly Adults for Family and Intimate Partner Violence: A Review of the Evidence for the U.S. Preventive Services Task Force. Psychiatr Serv 1999; 50(9):1158-1166.
  • 34 Manchikanti L , Singh V , Datta S , Cohen SP , Hirsch JA , American Society of Interventional Pain Physicians. Comprehensive review of epidemiology, scope, and impact of spinal pain. Pain Physician 2009; 12(4): E35-70.
  • 35 Bird PE, Harrington DT, Barillo DJ, McSweeney A, Shirani KZ, Goodwin CW. Elder abuse: a call to action. J Burn Care Rehabil 1998; 19(6):522-527.
  • 36 Menckel E, Viitasara E. Threats and violence in Swedish care and welfare - magnitude of the problem and impact on municipal personnel. Scand J Caring Sci 2002; 16(4):376-385.
  • 37 Levkoff SE, Chen H, Coakley E, Herr EC, Oslin DW, Katz I, Bartels SJ, Maxwell J, Olsen E, Miles KM, Constantino G, Ware JH. Design and Sample Characteristics of He PRISM-E Multisite Randomized Trial to Improve Behavioral Health Care for the Elderly. J Aging Health 2004; 16(1):3-27.
  • 38 Dong X. Medical implications of elder abuse. Clin Geriatr Med 2005; 21(2):293-313.
  • 39 Rodríguez MA, Wallace SP, Woolf NH, Mangione CM. Mandatory Reporting of Elder Abuse: Between a Rock and a Hard Place. Ann Fam Med 2006; 4(5):403-409.
  • 40 Mosqueda L, Dong X. Elder abuse and self-neglect: "I don't care anything about going to the doctor, to be honest...". JAMA 2011; 306(5):532-540.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jun 2020
  • Data do Fascículo
    Jun 2020

Histórico

  • Recebido
    10 Maio 2018
  • Aceito
    12 Set 2018
  • Publicado
    14 Set 2018
location_on
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Av. Brasil, 4036 - sala 700 Manguinhos, 21040-361 Rio de Janeiro RJ - Brazil, Tel.: +55 21 3882-9153 / 3882-9151 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cienciasaudecoletiva@fiocruz.br
rss_feed Stay informed of issues for this journal through your RSS reader
Accessibility / Report Error