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Diagnóstico de obesidade e determinação de requerimentos nutricionais: desafios para a área de Nutrição

EDITORIAL

Diagnóstico de obesidade e determinação de requerimentos nutricionais: desafios para a área de Nutrição

O perfil nutricional da população brasileira mudou. Apesar de a desnutrição quanto ao déficit de estatura/comprimento e quanto ao déficit de massa corporal para estatura/comprimento ainda existir em segmentos vulneráveis da população e em frequência inaceitável, ela continua em declínio em todas as regiões. O sobrepeso/obesidade é o agravo nutricional que mais preocupa, tanto pelo incremento rápido e progressivo na sua prevalência quanto pelo fato do fenômeno ocorrer em todas as fases da vida. Preocupa, sobremaneira, a situação em crianças e adolescentes. Este fenômeno, observado internacionalmente, é causado por modificações ambientais, particularmente, no que concerne à prática de atividade física e de hábitos alimentares e evidencia um quadro de balanço energético positivo (ingestão energética maior do que o gasto energético). Tal situação induz à modificação da agenda de alimentação, nutrição e saúde no país, para contemplar o previsível aumento nas doenças crônicas não transmissíveis. Algumas ações do Ministério da Saúde já refletem a nova situação epidemiológica. O desenvolvimento de um sistema de vigilância de doenças crônicas (Vigitel) visa ao monitoramento permanente do comportamento saudável da população e à avaliação de ações de promoção da saúde. Planeja-se, para 2013, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), inquérito domiciliar que focará as doenças crônicas não transmissíveis, o estilo de vida da população adulta e realizará medidas antropométricas e exames laboratoriais.

Os artigos apresentados na atual edição da Ciência & Saúde Coletiva contemplam vários importantes aspectos dessa nova agenda seja no tocante à pesquisa, aos métodos ou aos serviços. Os tópicos envolvem aspectos relativos ao papel da área de Nutrição na atenção primária em saúde, à percepção da obesidade, à segurança alimentar e à alimentação saudável. Dois outros tópicos, presentes em artigos desta edição, realçam lacunas metodológicas que merecem ser exploradas na área de Nutrição: composição corporal e requerimento energético.

Inicialmente, obesidade é definida de uma forma – estado de excesso de gordura corporal que afeta a saúde – e medida de outra – a relação entre massa corporal e estatura expressa como o índice de massa corporal (IMC). O uso do IMC foi sugerido pela facilidade de sua obtenção, por sua relação com a composição corporal (quantidade de gordura corporal) e com agravos à saúde. Entretanto, as evidências estão se acumulando no sentido de documentar que a relação entre o IMC e a gordura corporal não é igual universalmente, o que induz a pensar em pontos de corte específicos para cada população, como, aliás, já foi aceito pela OMS para a população asiática. O desenvolvimento de métodos mais simples de estimação da composição corporal vai permitir o estabelecimento de pontos específicos de corte para obesidade para cada população ou, preferencialmente, a migração para o uso da composição corporal em estudos populacionais no futuro próximo.

Talvez o maior desafio para a área de Nutrição, nos tempos de alta prevalência de obesidade, seja a determinação dos requerimentos energéticos. A partir da década 1980, o requerimento energético é entendido como o nível de ingestão energética que contempla o gasto energético compatível com a boa saúde da população. Desde então, documenta-se a necessidade de desenvolver métodos mais confiáveis na estimação da atividade física da população – de preferência usando métodos objetivos –, do gasto energético de atividades e do gasto energético total diário. Sem métodos que estimem o gasto energético de forma confiável o planejamento alimentar e nutricional estará comprometido, como demonstrado em amostra probabilística de adultos de Niterói, RJ (ver Anjos LA, Ferreira BCM, Vasconcellos MTL, Wahrlich V. Gasto energético em adultos do município de Niterói, Rio de Janeiro: resultados da Pesquisa de Nutrição, Atividade Física e Saúde – PNAFS. Cien Saude Colet 2008; 13(6):1775-1784).

Luiz Antonio dos Anjos

Editor convidado

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jan 2013
  • Data do Fascículo
    Fev 2013
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