Sob uma abordagem antropológica da dimensão simbólica da doença, o artigo enfoca as representações sobre a síndrome característica do ritual da reclusão pubertária entre indígenas da região do Alto Xingu (Brasil Central), em uma perspectiva comparativa com a abordagem clínico-epidemiológica clássica. A categoria tradicional da medicina indígena é considerada como ponto de partida para o contraste com a categoria da medicina ocidental, identificada em alguns casos da síndrome como uma neuropatia periférica de origem possivelmente tóxica. O tratamento epidemiológico dos dados sobre a categoria tradicional evidencia relações com acontecimentos de ordem cultural, afetos à conjuntura sócio-política e das relações de contato. Essa "síndrome cultural" representa um desafio aos métodos utilizados pela medicina ocidental moderna, em particular para a abordagem clínica e epidemiológica. Finalmente, os autores apresentam consideração de ordem metodológica, explicitando aspectos de dimensão cultural específicos da sociedade moderna, contidos nos procedimentos das disciplinas científicas envolvidas.