Mais uma página da história da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) foi escrita entre os dias 30 de outubro a 3 de novembro de 2023, durante o 9º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde 1, na Universidade Federal de Pernambuco. Com o tema Emancipação e Saúde: Decolonialidade, Reparação e Reconstrução Crítica, o evento foi proposto como um diálogo com as edições anteriores e absorveu as discussões da área, expressas no Plano Diretor da Comissão de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, construído ao longo de 2020 e 2022. Por ser realizado em um contexto pós-pandêmico, de restabelecimento das instituições democráticas e do fortalecimento dos ciclos de investimento de políticas públicas, os debates pautaram a diversidade, o propósito decolonial e a exigência de reparação social como princípios orientadores tanto para a produção de ações públicas, como para a produção e partilha do conhecimento.
A produção dos diálogos e debates circularam em torno de três grandes debates e 34 mesas que abordaram temas como Decolonialidade do Poder-ser-saber-fazer: Desafios e Contribuições das Ciências Sociais e Humanas em Saúde, Reparação de Injustiças Históricas no Campo da Saúde: Ethos, Saber, Política e Ação Social e Desafios para a Reconstrução Crítica do Brasil: o Lugar e as Contribuições das Ciências Sociais e Humanas em Saúde. Ainda ocorreram três painéis, pautados pelas discussões preparatórias do congresso, que debateram temáticas centrais da área, como A Distribuição dos Capitais e a Questão das Visibilidades no Campo da Saúde Coletiva, A Vanguarda Crítica das Humanidades em Saúde e sua Potencialidade no Campo da Saúde Coletiva e A Formação em Saúde (Coletiva) na Experiência das Ciências Sociais e Humanas em Saúde.
A participação da comunidade das Ciências Sociais e Humanas em Saúde se fez presente e potente em torno de quase 200 organizadores e mais de 2.300 participantes no congresso, 2.353 trabalhos submetidos e 1.770 apresentados nos 35 coletivos temáticos. Inovamos metodologicamente ao incluir, na comissão científica, representantes dos movimentos sociais que conosco desenharam as atividades e avaliaram os trabalhos submetidos, e ao realizar encontros entre gerações de pesquisadores e estudantes (cafés intergeracionais) e de trocas entre pesquisadores, estudantes e representantes dos movimentos sociais (merendas intersaberes).
O congresso deixa muitas reflexões sobre o papel das Ciências Sociais e Humanas em Saúde nos movimentos de renovação paradigmática da área e sobre o protagonismo e diversidade dos sujeitos epistêmicos, numa virada que afirma pluralidade de direitos, identidades e lutas. Também acena para a necessidade premente de se rever parâmetros de inclusão 2, visibilidade e sustentabilidade de nosso subcampo nos programas de formação em graduação e pós-graduação. Além disso, firmou a importância e o papel dos saberes e práticas das Ciências Sociais e Humanas em Saúde para a crítica, formulação e reformulação de políticas públicas fundadas e comprometidas com a democracia, os direitos humanos e a defesa da vida. Nessa direção, o congresso se posicionou, tanto no seu discurso de abertura, quanto na aprovação de uma moção, em defesa da paz e contra o desrespeito brutal às regras humanitárias do direito internacional, tal como ocorre atualmente contra o povo palestino na Faixa de Gaza.
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1 Associação Brasileira de Saúde Coletiva. 9º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde. https://www.cshs.org.br/ (accessed on Nov/2023).
» https://www.cshs.org.br/ - 2 Nunes MO, Deslandes S, Verdi MIM, Harayama RM, Leão LHC, Silva MBB, et al. Uma agenda de pesquisa para as Ciências Sociais e Humanas em tempos de pandemia da COVID-19. Cad Saúde Pública 2021; 37:e00158421.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
11 Dez 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
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Recebido
06 Nov 2023 -
Aceito
07 Nov 2023