RESENHAS BOOK REVIEWS
Desafios da avaliação de programas e serviços de saúde
Cynthia Magluta
Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. cynthia@iff.fiocruz.br
DESAFIOS DA AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE. Campos RO, Furtado JP, organizadores. Campinas: Editora Unicamp; 2011. 280p. (Coleção Saúde, Cultura e Sociedade). ISBN: 978-85-268-0924-6
O livro lançado em 2011 aborda a avaliação, tema desafiador e complexo para todos os sistemas de saúde. Mais desenvolvido na educação e no terceiro setor, tem suscitado crescente produção nos meios acadêmicos da saúde brasileira desde 1990. A avaliação deveria fazer parte do processo do cotidiano do SUS nas mais diversas instâncias, provocando a experiência do novo no cuidar e gerir. A necessidade de criar uma cultura de avaliação em todo SUS é decorrente da urgência de descobrir para transformar (ou manter) acesso, qualidade, acolhimento, linhas de cuidado, relações de trabalho, gestão, financiamento.
O foco da discussão é uma importante mudança de paradigma no fazer metodológico da avaliação de programas e serviços de saúde. Ressaltar as possibilidades do enfoque qualitativo de avaliação em que a participação dos diversos atores é fundamental. Romper dicotomias - entre os que avaliam e os que são avaliados, entre os valores do projeto/objeto de avaliação e o processo de avaliar. Superar tanto a externalidade do processo de avaliação em relação ao cotidiano do trabalho como os modelos sustentados pela ideia de verdade absoluta.
Os diversos autores, pensadores do SUS e para o "SUS que queremos", reconhecem que a avaliação no contexto do sistema brasileiro tem podido romper em algumas circunstâncias com a tendência de priorizar a utilização da avaliação como uma ferramenta da discussão de redução dos gastos em saúde, ou ainda como um eufemismo para controlar. Deve a avaliação tornar-se um ato de maior amplitude e implicação política com a finalidade de produzir aprendizagens consciência crítica - para os sujeitos envolvidos e para a sociedade.
Retomam um conceito caro à formação do SUS: a participação de trabalhadores e usuários. Tal participação desafia os autores a rever metodologias e a experimentar fazer avaliações em que a inclusão produza novas possibilidades de um repensar e recriar a realidade, das coisas e das pessoas, de ampliar a democratização dos processos por sua capacidade de escutar diversos pontos de vista dos distintos atores, de articular a necessidade do resultado com a atenção aos processos subjetivos e simbólicos.
Apesar da introdução apontar que os capítulos são separados em duas partes, sendo a primeira dedicada a discutir os fundamentos teóricos da avaliação, e a segunda a abordar experiências de avaliação. Os autores logram em todos os capítulos articular teoria e prática em doses distintas segundo os capítulos. Auxilia o leitor a compreender o campo da avaliação que inclui a avaliação da avaliação. Sistematiza a história das gerações da avaliação visando a clarear a pluralidade metodológica do campo. A formulação que integra a avaliação e a análise comparativa de sistemas de saúde permite discutir a transferência de conhecimentos e modelos, mostrando sua complexidade.
O relato da experiência de avaliação dos Centros de Atenção Psicossocial possibilita o entendimento das diversas fases de uma pesquisa de quarta geração. É importante ressaltar a necessidade de maior articulação entre a academia (e sua possibilidade de captar financiamento) e os serviços, para ampliar a realização de avaliações como a descrita visando a alcançar o objetivo de que a avaliação faça parte do gerir e cuidar do SUS.
Caro leitor, logo nas dedicatórias estão expressas as sólidas referências dos autores do livro, cada capítulo é acompanhado de bibliografia que auxilia a mapear o campo. O esforço da leitura vale muito, assim como ampliarmos a cultura de avaliação na perspectiva indicada no livro.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
01 Mar 2013 -
Data do Fascículo
Fev 2013