Abstract in Portuguese:
Mudanças ocorridas na última década em termos econômicos e assistenciais podem haver afetado a saúde materno-infantil. Dois estudos foram realizados em Pelotas, Rio Grande do Sul. As coortes de mães e recém-nascidos nos anos de 1982 e 1993 foram estudadas desde o nascimento. As mães foram identificadas nos hospitais-maternidade e responderam a um questionário padronizado, sendo seus filhos examinados. Mais de 99% dos recém-nascidos foram incluídos nas coortes, totalizando 5.914 nascidos vivos em 1982 e 5.249 em 1993. A mortalidade das crianças foi monitorizada, e em 1993 as hospitalizações também o foram. Em 1982, tentou-se localizar cerca de 25% das crianças aos 12 meses de idade e todas com a idade média de vinte meses. Foi possível encontrar cerca de 82% das crianças aos 12 meses e, graças a uma mudança de estratégia, 87% aos vinte meses. Em 1993, tentou-se acompanhar 20% das crianças e mais todos os recém-nascidos de baixo peso aos 12 meses de idade, sendo 95% localizados. Este artigo descreve os principais aspectos metodológicos de ambos os estudos, cujos principais resultados estão incluídos nos próximos artigos desse suplemento.Abstract in English:
Important changes have taken place in both the economy and health care in Brazil since 1980 and may have affected maternal and child health. Two studies in the city of Pelotas in Southern Brazil provide a unique opportunity for assessing these issues. Cohorts of mothers and infants from 1982 and 1993 were studied from the time of delivery. In both years, all mothers identified in the city's maternity hospitals answered a standardized questionnaire, and their infants were examined. Over 99% of all children born in the city in each of the two years were included in the cohorts, totalling 5,914 live births in 1982 and 5,249 in 1993. Deaths among these children were monitored prospectively, as were all hospital admissions in the 1993 cohort. In 1982, attempts were made to locate a 25% sample of the children at the mean age of 12 months, as well as all of the cohort children at the mean age of 20 months; 82% of the former were located, and thanks to a change in strategy, 87% were traced at 20 months. In 1993, a search was made at 12 months of age for 20% of all children plus all low birthweight infants, and 95% were successfully traced. This paper presents the main methodological aspects of both cohort studies, the principal results of which are presented in the subsequent articles in this supplement.Abstract in Portuguese:
Com base em duas coortes de crianças nascidas na zona urbana de Pelotas, Rio Grande do Sul - 6.011 em 1982 e 5.304 em 1993 -, foi possível comparar alguns indicadores sócio-econômicos e características da habitação de famílias que tiveram filhos nestes anos. Em 1993, nasceram menos crianças pobres: 60,8 % das famílias tinham renda inferior a três salários mínimos por mês comparadas com 69,5% em 1982. O saneamento melhorou bastante, subindo dez pontos percentuais na cobertura de água encanada e de sanitário com descarga. A inserção materna no trabalho remunerado cresceu de 34% para 38%. Por outro lado, não houve alteração na proporção de famílias com a presença do pai e na proporção de famílias que dispunham de rádio, fogão e geladeira, embora estes dois itens tenham apresentado importantes variações conforme a renda familiar. O número médio de pessoas por dormitório aumentou de 3,0 em 1982 para 3,2 em 1993, destoando um pouco da tendência positiva registrada nos demais indicadores. De modo geral, pode-se apontar para uma melhora nas condições de vida para quem teve filhos em Pelotas nesta última década, o que deve ser levado em conta quando da interpretação dos demais resultados dos estudos de coorte realizados.Abstract in English:
Socioeconomic and family characteristics of two cohorts of babies born in 1982 and 1993 in Pelotas (Southern Brazil) were compared. There were 6,011 births in 1982 and 5,304 in 1993. In relation to family income, there were fewer poor babies in 1993; 60.8 % of the families earned less than 3 times the monthly minimum wage in 1993, as compared to 69.5% in 1982. Sanitary conditions also improved over the decade, and the proportion of families with running water and flush toilets increased by 10%. On the other hand, there were no changes in the proportion of single-parent families or availability of home appliances like radios, stoves, and refrigerators. The mean number of persons per household increased from 3.0 in 1982 to 3.2 in 1993. In general, comparison of the two birth cohorts in this city suggests an improvement in quality of living over the time period for families with newborns. This finding should be taken into account when studying the evolution of health indicators over the course of the decade.Abstract in Portuguese:
Através de duas coortes de nascimentos ocorridos em Pelotas, Rio Grande do Sul, nos anos de 1982 e 1993, uma série de características maternas foram comparadas, incluindo-se as sócio-econômicas, biológicas e reprodutivas. Todas as mulheres que deram à luz nas maternidades da cidade e que residiam na zona urbana foram entrevistadas ainda no hospital através de questionários padronizados e pré-codificados, totalizando 6.011 em 1982 e 5.304 em 1993. As mulheres que tiveram filhos em 1993 apresentaram um perfil bastante diferenciado das mulheres que tiveram filhos em 1982. As mães em 1993 viviam sob melhor situação sócio-econômica, expressa em maior renda familiar e maior escolaridade. Além disso, tinham altura e peso inicial significativamente maiores do que as de 1982. O número médio de filhos tidos não foi diferente, apesar de ter diminuído a proporção de primíparas e ter aumentado a proporção de mulheres com quatro ou mais filhos. Houve um maior espaçamento entre os partos em 1993 e uma possível razão para esta diferença, além do maior uso de contraceptivos, foi a maior ocorrência de abortos prévios em 1993 do que em 1982.Abstract in English:
The study of two birth cohorts in Pelotas (Southern Brazil) in the years 1982 and 1993 allowed for a comparison of maternal characteristics, including biological, socioeconomic, demographic, and reproductive variables. All women living in urban Pelotas and giving birth in the city maternity hospitals were interviewed with a structured questionnaire. There were 6,011 births in 1982 and 5,304 in 1993. Women in the 1993 cohort were of a higher socioeconomic status (as measured by familiy income and years of schooling). They were also significantly taller and heavier than mothers giving birth in 1982. Mean parity did not differ for the two groups, but in 1993 there were fewer primiparae and more women with four or more children. The birth interval was also significantly greater in 1993; one possible reason (in addition to more frequent use of contraceptives) was an increase in the number of previous abortions observed in 1993 as compared to 1982.Abstract in Portuguese:
As crianças com baixo peso ao nascer (menos de 2.500 g) apresentam um risco muitas vezes maior de morrer ou adoecer no primeiro ano de vida. O presente estudo teve como objetivo comparar a ocorrência de baixo peso ao nascer, nascimento pré-termo e retardo de crescimento intra-uterino, nos anos de 1982 e 1993, em Pelotas, Rio Grande do Sul. Nestes dois anos foram avaliados todos os nascimentos hospitalares, que representam mais de 99% do total dos nascimentos. O baixo peso ao nascer aumentou de 9,0% para 9,8% em 1993 (p=0,2), os nascimentos pré-termo aumentaram de 5,6% em 1982 para 7,5% em 1993 (p<0,01) e o retardo de crescimento intra-uterino passou de 15,0% em 1982 para 17,5% em 1993 (p<0,05). Nos dois períodos estudados, a renda familiar esteve inversamente associada com o risco de baixo peso e retardo de crescimento intra-uterino, mas não com nascimentos pré-termo. Em 1993, apesar da melhoria nas condições sócio-econômicas e nutricionais das mães, como também do aumento no número de consultas pré-natais, observou-se um crescimento na prevalência de baixo peso ao nascer que não foi significativa na análise bivariada. Entretanto, após ajuste para possíveis variáveis de confusão, por meio de regressão logística, houve um aumento no risco de baixo peso ao nascer da ordem de 33% (p<0,01).Abstract in English:
Low birthweight infants (under 2500 g) are much more likely to have severe diseases or die in the first year of life. This study's objective was to compare occurrence of low birthweight, preterm births, and intrauterine growth retardation in two cohorts born in the years 1982 and 1993 in Pelotas, Southern Brazil. All hospital births (corresponding to over 99% of total births) were evaluated for both years. Low birthweight increased from 9.0% in 1982 to 9.8% in 1993 (p=0.2), preterm births increased from 5.6% to 7.5% (p<0.01), and intrauterine growth retardation increased from 15.0% in 1982 to 17.5% in 1993 (p<0.05). In the two years under study, family income was inversely associated with low birthweight and intrauterine growth retardation, but not with preterm births. Compared to 1982, mothers in the 1993 birth cohort had better socioeconomic and nutritional status, as well as better coverage of prenatal care. However, these improvements were not expressed as a decrease in low birthweight. On the contrary, after the possible confounding effects of socioeconomic and nutritional variables were controlled, risk of low birthweight in 1993 was 33% higher than that of 1982 (p<0.01).Abstract in Portuguese:
A evolução da mortalidade perinatal foi estudada em Pelotas, Rio Grande do Sul, através de dois estudos de coorte realizados em 1982 e 1993. Todos os nascimentos hospitalares e os óbitos foram monitorizados com visitas diárias aos hospitais. A causa da morte foi determinada através de informações do prontuário, entrevista com o pediatra e de necrópsias. O coeficiente de mortalidade perinatal sofreu uma redução de 31% na década. O sub-registro que era de 42,1% em 1982, foi de apenas 6,8% em 1993. Dentre as causas de mortalidade perinatal, houve uma redução em 1993 de 58% para óbitos fetais antepartum, 47% para imaturidade e 62% para outras causas. Os coeficientes para asfixia sofreram um aumento de 4,5/1.000 para 8,3/1.000. As meninas apresentaram um coeficiente de mortalidade perinatal menor do que os meninos. Os coeficientes de mortalidade perinatal conforme peso ao nascer e renda familiar sofreram importantes reduções, sendo que a mais notável foi para crianças de baixo peso e de famílias de renda alta, com uma queda de 68%. Assim como em 1982, os recém-nascidos pré-termo tiveram coeficientes três vezes mais elevados do que crianças pequenas para a idade gestacional. Apesar da queda dos índices de mortalidade na década, as diferenças entre os grupos sociais mantiveram-se grandes.Abstract in English:
Trends in perinatal mortality were studied in Pelotas (southern Brazil) through surveys carried out in 1982 and 1993. All hospital births and perinatal deaths were assessed by daily visits to all maternity hospitals. Cause of death was determined through review of hospital case notes, interviews with pediatricians, and autopsies. The perinatal mortality rate decreased by 31% over the decade. Under-recording of perinatal deaths was reduced from 42.1% in 1982 to 6.8% in 1993. A reduction of 58% in antepartum fetal deaths was observed in 1993 (47% for deaths due to immaturity and 62% for other causes). The rate of deaths due to asphyxia increased from 4.5/1.000 in 1982 to 8.3/1.000 in 1993. Female babies showed a significantly lower perinatal mortality rate than males. Decreases in perinatal mortality rates in 1993 were observed in virtually all birthweight and family income groups. The most important reduction (68%) was observed for low birthweight babies belonging to high-income families. As in 1982, preterm babies were three times more likely to die in the perinatal period than babies with intrauterine growth retardation. Despite major decreases in perinatal mortality over the decade, large gaps between different social groups persisted.Abstract in Portuguese:
A amamentação é fundamental para o crescimento e desenvolvimento da criança. No Brasil, a duração mediana da amamentação é muito baixa; por isso, no início da década de 80, foram implementadas campanhas nacionais de estímulo ao aleitamento materno. O presente artigo teve como objetivo avaliar as mudanças na duração da amamentação na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, entre os anos de 1982 e 1993. Foram avaliados todos os nascimentos hospitalares ocorridos em ambos os anos, e amostras sistemáticas dessas crianças foram visitadas com cerca de 12 meses de idade. Observou-se um aumento na duração mediana da amamentação de 3,1 meses em 1982 para 4,0 meses em 1993. Este aumento suporta um possível impacto das campanhas nacionais ocorridas durante a década. Em ambas as coortes, houve interação entre a renda familiar e os percentuais de crianças amamentadas em diferentes idades. Nos primeiros meses, estes percentuais foram superiores nas famílias de maior renda, mas, a partir de nove meses, a amamentação foi mais freqüente no grupo de baixa renda. Crianças com baixo peso ao nascer apresentaram durações mais curtas da amamentação. Apesar dos progressos observados, a duração do aleitamento permanece bastante inferior ao recomendado internacionalmente, salientando a necessidade de campanhas futuras que priorizem crianças com baixo peso ao nascer e pertencentes às famílias de baixa renda.Abstract in English:
Breastfeeding is fundamental for infant health. However, its median duration in Brazil is very short, and national campaigns since the mid-1980s have attempted to revert this situation. In the present paper, data on breastfeeding are compared for two population-based cohorts of children born in 1982 and 1993 in the city of Pelotas in Southern Brazil. All hospital births in both years were studied and samples of these children were visited at home around 12 months of age. Median duration of breastfeeding increased from 3.1 to 4.0 months in this period. This rise suggests an impact by the national campaigns. In both cohorts, there were interactions between family income and the percentages of children breastfed at different ages. In the early months, breastfeeding was more prevalent in high-income families, but from nine months onwards it was more common among the poor. Low birthweight babies enjoyed shorter duration of breastfeeding. Despite the progress observed during the decade, duration of breastfeeding is still far short of international recommendations, justifying further campaigns prioritizing low birthweight babies and those from low-income families.Abstract in Portuguese:
Prevalências de déficits antropométricos e de obesidade foram medidas em duas coortes de nascimento de base populacional na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, em 1982 e 1993, quando as crianças tinham cerca de um ano de idade. Identificados todos os nascimentos hospitalares em cada ano, cerca de 20% das crianças foram visitadas e submetidas a exame antropométrico, totalizando 1.449 crianças em 1982 e 1.359 em 1993. Houve 20% de perdas em 1982 e 7% em 1993. Em onze anos, a prevalência de déficit de peso/idade (< -2 desvios-padrão da refe-rência NCHS) caiu de 5,4% para 3,8%, a de peso/comprimento reduziu-se de 1,3% para 0,8%, enquanto que a de comprimento/idade aumentou discretamente (5,3% para 6,1%). A obesidade cresceu de 4,0% para 6,7%. Em 1993 houve um ganho ponderal médio maior, aos 12 meses, do que em 1982, já que o peso ao nascer permaneceu inalterado. Crianças de mais baixa renda apresentam prevalências de cerca de 10% de déficits de peso/idade e comprimento/idade, enquanto que nas categorias de renda superior estes déficits são de 3% ou menos. Os progressos em alguns indicadores, portanto, não lograram eliminar diferenciais sociais. Por outro lado, a obesidade apresentou uma tendência crescente com o nível de renda familiar.Abstract in English:
Prevalence of anthropometric deficits and of obesity were studied in two population-based birth cohort studies in the city of Pelotas in Southern Brazil, in 1982 and 1993. All hospital delivered babies in each one-year period were identified, and samples of approximately 20% were visited at home at around 12 months of age, totalling 1,449 children submitted to anthropometric examination in 1982 and 1,359 in 1993. Losses and refusals accounted for 20% of the children in 1982 and 7% in 1993. In this 11-year period, prevalence of weight/age deficits (below -2 standard deviations of the NCHS reference) fell from 5.4% to 3.8%, while that of weight/height dropped from 1.3% to 0.8%. Height/age deficits increased slightly, from 5.3% to 6.1%, while the proportion of obese children increased from 4.0% to 6.7%. The increase in weight at 12 months was due to a more rapid weight gain in the first year, since birthweights remained unchanged. About 10% of the children from the lowest income group had weight/age or height/age deficits, compared to 3% or less of those with a high family income. On the other hand, obesity showed a direct association with income, except for the wealthiest group, where the prevalence dropped, possibly due to concern among these families about the consequences of infant obesity.Abstract in Portuguese:
Os padrões de utilização de serviços de saúde durante a gestação, o parto e o primeiro ano de vida foram analisados em duas coortes de mães e crianças, em 1982 e 1993. As coortes incluíram todos os nascimentos hospitalares ocorridos em Pelotas, Rio Grande do Sul, assim como o acompanhamento prospectivo de amostras de cerca de 20% das crianças. Reduziu-se o percentual de mães que buscaram atendimento após o quinto mês de gestação. O número médio de consultas pré-natais cresceu para 7,6. Os indicadores de assistência pré-natal foram significativamente piores para mães de baixa renda familiar e para aquelas com alto nível de risco gestacional. Em 1993, cesarianas foram realizadas em cerca de 31% dos partos, contra 28% em 1982. Os partos atendidos por médicos aumentaram para 88%. Mães pobres e de alto risco tiveram menores índices de cesarianas e de atendimento médico. As coberturas vacinais das crianças cresceram durante a década. O número médio de consultas das crianças, decresceu de 12,0 para 10,5, principalmente às custas da redução nas consultas preventivas. Embora a maior parte dos indicadores tenha mostrado progresso durante a década, os serviços de saúde seguem concentrando seus esforços nas camadas da população que deles menos necessitam.Abstract in English:
Two cohort studies of mothers and children (1982 and 1993) were used to document changes in health care utilization patterns. The cohorts included all hospital deliveries in the city of Pelotas, Southern Brazil, for the two years. Some 20% of the mothers and children were visited at home at a median interval of one year later. However, there was a reduction in the percentage of mothers seeking care after the fifth month of pregnancy. The mean number of prenatal consultations increased to 7.6. Prenatal care indicators were significantly worse for low-income and high-gestational-risk women. In 1993, caesarean sections accounted for 31% of deliveries. The proportions of deliveries assisted by medical doctors increased to 88%. Low-income and high-risk mothers were less likely to have a caesarean section or to be assisted by a medical doctor. Over half of the deliveries in the highest income group were caesareans. Vaccine coverage at 12 months increased over the decade. Socioeconomic differentials were also observed. The mean number of medical consultations during the first year of life decreased to 10.5, mainly due to a drop in preventive care. Although most health care indicators improved over the course of the decade, health services are still biased towards those who least need them.Abstract in Portuguese:
Cerca de 11.000 crianças pertencentes a duas coortes de base populacional foram acompanhadas na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, em 1982 e 1993. O objetivo era medir a ocorrência de hospitalizações e sua associação com peso ao nascer e renda familiar e comparar diferenciais entre estes estudos. Cerca de 20% das crianças foram hospitalizadas pelo menos uma vez no primeiro ano de vida; os meninos foram os mais acometidos; as internações por diarréia, apesar de terem sido reduzidas à metade (3%) em relação a 1983, ocorreram entre os mais pobres; o peso ao nascer mostrou-se inversamente associado às internações por diarréia e por todas as causas. Crianças nascidas com baixo peso ou com renda familiar inferior a três salários mínimos mensais foram cerca de três vezes mais hospitalizadas que as demais. Uma década depois, as hospitalizações continuam bastante freqüentes na localidade estudada; os mais pobres e nascidos de baixo peso são os mais acometidos.Abstract in English:
Over 11,000 children belonging to population-based cohorts were followed through infancy in the city of Pelotas, Brazil, in 1982 and 1993. Our objective was to measure the incidence of hospital admissions and the association with birthweight and family income, comparing differentials between the two studies. Approximately 20% of infants were hospitalized at least once, rates being higher among boys. Hospitalization due to diarrhea dropped from 6% to 3% and was more commom among the poor. Birthweight was inversely associated with both diarrhea specifically and all causes of hospitalization. Children with low birthweight or from low-income families (less than three times the minimum monthly wage) were approximately three times more likely to be hospitalized than those with adequate birthweight or higher incomes. Hospitalization was still common a decade later, especially among low birthweight and poor infants.Abstract in Portuguese:
Os 5.304 nascimentos hospitalares ocorridos em 1993 em Pelotas, Rio Grande do Sul, foram investigados. Além da avaliação perinatal de todos os recém-nascidos, 20% (1.400 crianças) foram acompanhadas, por meio de visitas domiciliares, durante o primeiro ano. Nestas visitas, era realizado o Teste de Denver II para avaliação do desenvolvimento. Aos 12 meses, das 1.362 crianças avaliadas, 463 (34%) apresentaram teste sugestivo de atraso no desenvolvimento. Este resultado esteve associado com a renda familiar, tendo sido duas vezes mais frequente entre as crianças de famílias mais pobres do que entre as de melhor situação sócio-econômica (p<0,001). Falha no teste também esteve inversamente associada com o peso de nascimento, com as crianças de baixo peso apresentando um risco três vezes maior do que aquelas com peso ao nascer igual ou superior a 2.500g (p<0,001). Além disso, crianças que nasceram com peso inferior a 2.000g apresentaram um risco três vezes maior do que aquelas com peso entre 2.000g e 2.499g. Os resultados indicam que o peso ao nascer e a situação sócio-econômica estão fortemente associados com potenciais atrasos no desenvolvimento de crianças aos 12 meses de idade. Apontam, também, para a necessidade de triagem sistemática do desenvolvimento e programas de intervenção precoce em grupos de risco.Abstract in English:
This study evaluated all children born in 1993 in hospitals from Pelotas, Rio Grande do Sul, Brazil. Besides a perinatal study, a sample of 20% (1400 children) was followed through home visits during the first year. During these visits the nutritional status was assessed and a screening test for development (Denver II Test) was performed. Thirty-four per cent of the children assessed at 12 months failed this screening. Failure was associated with socioeconomic status, with low-income children presenting twice the risk of those from more affluent families (p<0,001). Failure in the screening test was also associated with birthweight, and children weighing less than 2,500 g showed three times the risk of those with a birthweight equal to or greater than 2,500 g (p<0,001). In addition, children weighing less than 2000 g at birth were at three times the risk of failing the test as compared to those weighing between 2000g and 2499g. Results suggest that birthweight and family income are strongly related to the potential risk of developmental delays at the age of 12 months. It also points to the need for systematic developmental screening and early intervention programs in children at risk.Abstract in Portuguese:
Estudou-se a tendência temporal da mortalidade infantil através de dois estudos de coorte realizados em Pelotas, Rio Grande do Sul, em 1982 e 1993. Ambas coortes incluíram todos os nascimentos hospitalares e óbitos verificados através de visitas regulares aos hospitais, cartórios e cemitérios. As informações sobre a causa de morte foram obtidas através de entrevistas com pediatras, revisão do prontuário, necrópsias e entrevista com os pais das crianças. O coeficiente de mortalidade infantil caiu de 36,4 por mil nascidos vivos para 21,1 na década. As principais causas de mortalidade infantil em 1993 foram as perinatais, malformações congênitas, diarréia e infecções respiratórias. Crianças com baixo peso ao nascer apresentaram mortalidade 12 vezes maior do que crianças com peso adequado, e crianças pré-termo, duas vezes mais do que crianças com retardo de crescimento intra-uterino. Crianças de famílias com renda baixa (um salário mínimo) apresentaram mortalidade sete vezes superior àquelas com renda alta (10 salários mínimos). A mortalidade de crianças de baixo peso ao nascer e alta renda familiar decresceu em 67%, contra apenas 36% para as de baixa renda. Conclui-se que, mesmo com uma queda expressiva da mortalidade infantil na década, persistem importantes desigualdades sociais.Abstract in English:
Time trends in infant mortality were assessed through two cohort studies carried out in Pelotas, Southern Brazil, in 1982 and 1993. Both cohorts included all hospital deliveries, and deaths were monitored through regular visits to hospitals, cemeteries, and notary publics. Information on cause of death was obtained from pediatricians, case notes, autopsies, and home visits to parents. The infant mortality rate fell from 36.4 in 1982 to 21.1 per thousand live births in 1993. The main causes of death in 1993 were perinatal, congenital malformations, diarrhea, and respiratory infections. Low birthweight babies were twelve times more likely to die than the others. The death rate among preterm babies was 2.0 times greater than for those with intrauterine growth retardation. Mortality among children whose families earned less than one minimum wage was almost seven times greater than for those with a family income of more than ten times the monthly minimum wage. Mortality for low birthweight babies from high-income families decreased by 67%, as compared to only 36% for those from low-income families. Thus, although mortality decreased substantially over the course of the decade, wide social differentials have persisted.Abstract in Portuguese:
Este artigo resume os principais achados dos estudos das coortes materno-infantis de Pelotas em 1982 e 1993. Houve uma redução no número de nascimentos, de 6.011 em 1982 para 5.304 em 1993, fato não distribuído de forma eqüitativa entre os diferentes grupos de renda familiar, ocorrendo entre as mulheres de baixa renda cerca de 1.000 nascimentos a menos do que em 1982. O grupo com renda mais elevada contribuiu com um aumento de cerca de 300 nascimentos. A situação nutricional das mães apresentou variações na década, com um aumento médio de 3,5 cm em estatura e 3,9 kg no peso no início da gestação. Apesar destas melhoras, a proporção de recém-nascidos de baixo peso aumentou para 9,8% em 1993 (9,0%, 1982). Observou-se um aumento na incidência de nascimentos pré-termo e de retardo de crescimento intra-uterino assim como uma redução nos coeficientes de mortalidade perinatal - 32,2/1.000 em 1982 e 22,1/1.000 em 1993. A situação nutricional aos 12 meses de idade apresentou comportamentos distintos, com um discreto aumento do déficit de comprimento/idade em 1993, e uma redução de quase 50% nos déficits de peso/idade e peso/comprimento. O coeficiente de mortalidade infantil decresceu de 36,4 /1.000 nascidos vivos em 1982 para 21,1/.000 em 1993.Abstract in English:
This paper summarizes the main findings of the Pelotas birth cohort studies of 1982 and 1993. There was a reduction in the number of births from 6,011 in 1982 to 5,304 in 1993, which was not evenly distributed, as there were around 1,000 fewer births in the poorest groups and 300 more in the high-income strata. Nutritional status of the mothers also varied in the decade, with an increase of 3.5 cm in mean height and 3.9 kg in mean weight at the beginning of pregnancy. Despite such improvements, the proportion of low birthweight increased from 9.0% in 1982 to 9.8% in 1993. Preterm births and intrauterine growth retardation also increased. There was a reduction in perinatal mortality from 32.2/1.000 births in 1982 to 22.1/1.000 births in 1993. Nutritional status at 12 months of age varied according to the indicator: there was a slight increase in low height for age in 1993, whereas a reduction was observed in the prevalence of low weight for age and weight for height. The infant mortality rate dropped from 36.4/1.000 live births in 1982 to 21.1/1.000 in 1993.