Acessibilidade / Reportar erro

NILSON MOULIN

NILSON MOULIN

Ele nasceu em São Jerônimo (ES), em 1947. Tradutor de autores como Cesare Pavese, Alberto Moravia, Italo Calvino, Giovanni Boccaccio, Maurice Joly, Roberto Calasso, Carlo Ginzburg e Baldassare Castiglione, Nilson Moulin descobriu o gosto pela leitura e a primeira língua estrangeira (o francês), ainda na infância. Mais tarde pensou em ser diplomata – “para poder viajar, conhecer outras culturas, outras línguas” –, entrou para a Faculdade de Direito, mas acabou abandonando o curso no terceiro ano: “Não ia aturar aquela gente, os filhos da burguesia, da classe média alta do Rio de Janeiro, como colega de trabalho”. Viveu exilado no Chile, na Itália e em Moçambique, durante a ditadura no Brasil. Nesse período, aprofundou a experiência com línguas neolatinas como o espanhol, o francês e o italiano; atuou como professor e foi consultor da UNESCO em Moçambique e na França. Em meados dos anos 1980, retornou ao país e entrou na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, onde se formou jornalista. De lá para cá, escreveu nove livros, quatro deles em parceria com o artista plástico Rubens Matuck; envolveu-se com projetos na área de educação; foi vice-presidente do Sindicato Nacional de Tradutores (SINTRA); traduziu para o português mais de 30 livros; e recebeu os prêmios Nazionale per la Traduzione, do Ministério da Cultura da Itália (1994); Internazionale Lumière (1998), por trabalhos de docência e pesquisa nas áreas de meio ambiente e cultura; Tradução Jovem (2003), da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e o Altamente Recomendável, pela Biblioteca Nacional, por traduções e livros que escreveu. Hoje, aos 69 anos, ele vive em Brasília e sonha com o dia em que irá mudar-se para um pedacinho de terra na Serra do Caparaó: “Depois de tanta desilusão, tanta decepção, quero um lugar quieto pra ficar comigo mesmo. Ter só livros e falar com pessoas na hora que me der vontade. Eu realmente devia ter nascido na Idade Média e ser monge copista. Então meu objetivo na vida é chegar a ser próximo de um monge copista, que trabalha sozinho”. Enquanto esse dia não chega, Nilson continua trabalhando: além de um livro de crônicas sobre Brasília, ele prepara para o final de 2017 o lançamento de Makondes em sua cultura, fruto de um trabalho de pesquisa que vem realizando na África há 25 anos, com o museólogo Gianfranco Gandolfo. Nessa conversa, gravada quando ele esteve em Florianópolis, a convite da PGET (Pós-Graduação em Estudos da Tradução da UFSC), Nilson Moulin fala sobre sua trajetória de tradutor e a paixão pela leitura.

ENTREVISTA COM NILSON MOULIN

Cadernos de Tradução: Como iniciou seu trabalho de tradutor?

Nilson Moulin (NM): A primeiríssima atividade como tradutor foi aos 15 anos, no Rio de Janeiro. Nós morávamos no Meier, em frente à casa do Ivan Serpa, um dos maiores artistas plásticos do Brasil, e da mulher dele, Lígia Serpa. Em 1968, ele estava negociando uma tela com o Guggenheim Museum, de Nova York; recebeu uma carta em inglês e me pediu para traduzi-la. Traduzi, e ele me disse: “Muito bem, vou lhe dar um presente pela tradução”, e me deu uma bela serigrafia (Série Amazônica). Ali compreendi que a tradução podia ser um trabalho, que era possível ganhar algo com ele. Mais tarde, quando dava aulas em cursinhos, comecei a traduzir pra ganhar dinheiro. Ganhava pouco, mas ganhava: traduzia historinhas policiais idiotas para a Bruguera, no Rio de Janeiro. Foi a primeira editora com a qual trabalhei. E tinha que ser rápido, eram 15 dias pra traduzir cada livrinho.

CT: O Boris Schnaiderman, no filme O Pracinha de Odessa (2013, produção e direção de Luis Felipe Labaki) confessou que na primeira tradução dele, Os irmãos Karamazov (Vecchi, 1944), de Dostoiévski, tinha consciência de que não estava fazendo uma coisa boa e assinou com pseudônimo. Você lançou mão desse recurso nessas primeiras traduções ou já assinava Nilson Moulin?

NM: Não, eu colocava o nome completo, Nilson Carlos Moulin Louzada. Isso veio depois, quando voltei do exílio e fui trabalhar com a Companhia das Letras. O projeto gráfico da editora, naquela altura, passou a incluir, por causa das demandas dos tradutores, o nome na capa – ao invés de dar dinheiro, resolveram alisar a vaidade, afagar o ego dos tradutores. E aí me disseram: muito nome não pode, tem de ser só um prenome e um sobrenome.

CT: Qual sua definição de tradução?

NM: Minha escola de tradução é a dos irmãos Campos (Haroldo e Augusto de Campos), tão citados e pouco praticados... É uma atividade que me dá tanto prazer que um dia cheguei à conclusão de que traduzir é igual a sexo de qualidade. Tudo o mais o povo já falou!

CT: Então, sua definição de tradução passa pela transcriação, defendida pelo Haroldo?

NM: A base teórica é essa, depois fui tornando mais complexo porque na Unicamp tive o privilégio de ser aluno da Rosemary Arrojo e do Fernando Tarallo, que era sociolinguista. Eram dois professores geniais, excepcionais, dando aula de tradução. E aí eu peguei essa coisa do coautor: Se sou coautor, então não só posso e tenho liberdade de recriar – seguindo a linha dos irmãos Campos, do Décio Pignatari, dessa turma toda; como posso ir além e exigir. Foi quando veio a questão política: passei a procurar o pessoal da área e exigir direito autoral – “Direito autoral não tem! É só pra velho e gênio”, diziam. Bom, não sou nem gênio e nem velho, então tenho que brigar no sindicato. Entrei para o Sindicato Nacional dos Tradutores, e a Lia Wyler, nossa Joana D´Arc da tradução, estava refundando o SINTRA, que era muito reacionário; algumas damas da burguesia carioca se reuniam lá para tomar chá! E Lia, a peremptória, rompeu com isso e disse “vamos reivindicar direito autoral”.

CT: Em que medida seu percurso de tradutor revela a relação do Nilson leitor com a obra de Calvino?

NM: Traduzi nove livros do Calvino. O primeiro que me deram para traduzir dele foi Il barone rampante (O barão nas árvores, na tradução de Nilson): o moleque gostava de ler e subia na árvore pra ler, e aí pensei “mas sou eu”! Porque quando eu era menino eu estava sempre me escondendo, fugindo dos outros para ler, e descobri que se subisse no abacateiro ninguém ficava me enchendo, ninguém me chamava pra nada. E o menino lá, o Chuvasco de Rondó (Cosimo Piovasco di Rondò), sobe na árvore para ler. Quando vi aquilo, pensei: esse autor sacou tudo. Porque a família reprime – “não, você tem que jogar futebol; tem que fazer isso, tem que fazer aquilo”... Então, com o Calvino, com o Barão nas Árvores, confirmei que ler escondido é uma safa, porque não tem nem mãe, nem pai, nem empregada e nem ninguém enchendo seu saco.

CT: Como é o seu processo de tradução? Você faz, por exemplo, pesquisas sobre a época de produção do texto antes de traduzi-lo? Usa alguma das ferramentas tecnológicas disponíveis atualmente – como os tradutores automáticos ou os softwares de memória de tradução (CAT tools)?

NM: Não, eu não uso nada eletrônico, uso dicionários. E o processo varia. Varia porque cada livro é um caso. Quando tenho dificuldades específicas, procuro me informar. Se não, vou direto. É isso: gosto de traduzir direto, não gosto de fazer muito preâmbulo. No caso de autor vivo é uma desgraça, porque o autor vivo sempre quer controlar muito; então é melhor traduzir autor morto.

CT: Seus dicionários, então, não são virtuais?

NM: Não, eu não uso nada virtual, porque por excesso de tradução, fiquei aleijado, tenho tendinite. A minha saleta de tradução, onde trabalho em casa, só tem dicionário. Dicionários de tudo o que você imaginar! Eu gosto de dicionário, você vê a palavra de cima, a palavra detrás, é uma maravilha! Hoje tem essa porcaria eletrônica, mas que não ensina muito porque quando olham lá, veem uma palavrinha e não olham em volta. Tive uma professora na escola primária, escola pública do Rio de Janeiro, que trabalhava com dicionários em sala de aula e que ensinou a gente a usar. E sabe o que eu fazia quando não tinha livro novo? Ia ler dicionário! Às vezes eu atrasava a tradução porque ficava uma, duas horas lendo dicionário. Foi quando me disseram: “Você é doido, vai acabar numa clínica psiquiátrica”. E eu falei: se tiver uma biblioteca, tudo bem.

CT: Você costuma ler traduções?

NM: Leio tradução de bom tradutor, tradução recomendada. Porque já li tradução porca e jogo fora. Não costumo jogar livro fora, mas em algumas situações fiz isso, porque tradução mal feita eu não dou pra ninguém. E quando posso, prefiro ler na língua em que foi escrito.

CT: Suas traduções são escolhas suas ou das editoras?

NM: Raras escolhas minhas. Mas me orgulho, por exemplo, de ter escolhido e levado para a Cosac Naify Diálogos com Leucó (Dialoghi con Leucó), de Pavese.

CT: Na trilogia de Calvino Os nossos antepassados – Il visconte dimezzato (1951), Il barone rampante (1957), Il cavaliere inesistente (1959) –, você leu as versões de Wilma Freitas Ronald de Carvalho e Joel Silveira antes de traduzir os livros?

NM: A do Joel eu não li, mas a outra é ruim. No meu caso, cotejo com boas traduções para o francês e para o espanhol. Porque desde que comecei, encontrei muita merda. Por exemplo: a tradução de Boccaccio por Torrieri Guimarães é uma porcaria, é uma antiga que circula por aí e que devia ser eliminada do mercado porque não é Boccaccio. É má literatura, literatura de terceira qualidade. Claro, nos últimos vinte anos, a editoria brasileira vem se qualificando; então, há hoje traduções mais qualificadas.

CT: No caso dos títulos Se una notte d’inverno un viaggiatore (1979) e Il barone rampante, as escolhas por traduzi-los como Se um viajante numa noite de inverno e O barão nas árvores, respectivamente, foram suas ou da editora?

NM: Foram minhas. As editoras, em geral, gostam de dar os títulos. Elas dizem: “Nós é que sabemos qual o título que vende.” Na Companhia das Letras, como tem o Luiz Schwarcz, a Lilia Moritz, gente boa, gente inteligente, eles pediam sugestões. Aí o que eu fazia? Eu dava uma lista com dez sugestões. Por exemplo: “O barão rampante é legal”; rampante é uma palavra portuguesa, em desuso, considerada do português arcaico. Mas eles disseram: “Não, não é legal”... Então, falei “O barão nas árvores”, e aceitaram. Tem sido assim com vários livros, eles escolhem um da lista que envio como sugestões.

CT: Estou perguntando isso porque percebo que há um problema, entre os tradutores, em relação à escolha de alguns títulos pelas editoras...

NM: Voilà! O critério das editoras é comercial, então é um critério às vezes imbecil, é uma coisa secundária no livro: eles escolhem porque pode ajudar a vender. E o critério principal não deveria ser esse.

CT: Como você vê esse tipo de interferência?

NM: Eu me rebelo. O embate entre tradutores e autores contra os editores é uma luta secular que vai continuar enquanto houver pessoas escrevendo e publicando. Parto do princípio que o editor é meu antagonista, raramente encontro um editor inteligente e sofisticado como era o Arthur Nestrovski. O Nestrovski (Editora Imago, RJ) era tão bom que não está mais na editoria: como ele é doutor em História da Música e músico, ele trabalha com a OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). É raro encontrar uma pessoa tão inteligente, sofisticada e aberta como o Arthur Nestrovski. Mas encontrei outro, o Jézio Gutierre, da Unesp. Com ele, eu fiz o Diálogo no Inferno, do Joly (Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu, de Maurice Joly). O livro é uma delícia!

CT: O que é mais desafiador: traduzir ou retraduzir?

NM: Na escala de hierarquias, eu acho que o mais difícil é escrever poesia – de qualidade, porque de bobagem está cheio aí. O segundo mais difícil que eu conheço é traduzir poesia e o terceiro traduzir prosa de qualidade. Quanto a retraduzir: O velho Schnaiderman (Boris) falou: “Estou revendo traduções que fiz há 30, 40 anos”... Isso é um luxo, o máximo do máximo, você pegar um texto seu e rever porque tem coisas que você lembra, outras não. Eu já cheguei a dizer (revendo traduções): “Mas como é que eu pude fazer uma bobagem dessa? Como é que eu pude traduzir isso tão mal?” Mas como foi há 40 anos, há trinta, há vinte, eu estava aprendendo, estava treinando para ser um bom tradutor. É isso.

CT: Você acompanha críticas ao seu trabalho de tradutor?

NM: Acompanhei. Mas tive uma história horrível, que não vou contar aqui, e aí parei de acompanhar.

CT: Que papel ocupa a revisão da tradução em seus trabalhos?

NM: A revisão é muito importante. Quando posso, deixo repousar a tradução por 15 dias ou um mês, porque aí você tem um distanciamento que é perfeito: vê coisas que não conseguia ver antes. É um dos segredos da boa tradução.

CT: E no caso de novas edições de traduções suas?

NM:Aí eu não quero saber, eles que façam. Porque uma coisa é o que o velho Schnaiderman disse: é um luxo depois de trinta ou quarenta anos você poder rever o que fez, com tempo e sendo pago para isso. Mas a reedição não é trabalho meu: o prazo é curto, os interesses são comerciais, é problema da editora.

CT: Em sua opinião, as teorias da tradução ajudam ou atrapalham a prática tradutória?

NM: Ajudam. Veja o Lawrence Venutti, A invisibilidade do tradutor (The Translator’s Invisibility). O Arthur Nestrovski, que era professor, e acho que ainda continua como professor da PUC, trouxe o Venutti ao Brasil – eu participei, olha que privilégio, participar de uma sessão de trabalho com Lawrence Venutti! E no Brasil tem a Rosemary Arrojo, que é genial.

CT: Falando emacademia: O que você acha dos cursos institucionais (graduação e/ou pós-graduação) para a formação de tradutores?

NM: Vejo gente que está dentro e critica. E não falo dos acomodados, esses estão contentes, porque chegaram lá e têm um diploma “x”. Acho que é bom, mas que tem alguma coisa que não funciona porque eles dão diploma para pessoas que acreditam que são tradutores e quando vão traduzir só fazem porcarias. Então tem alguma disfunção aí.

CT: Um bom tradutor pressupõe um bom escritor?

NM: E vice-versa. Ainda vou escrever sobre isso, porque a discussão é bizantina, tautológica: pra você ser um bom autor, seja como escriba de lavra própria ou como tradutor, tem de ser um grande leitor. A prévia é essa.

CT: Todo tradutor é um traidor, como reza a expressão italiana traduttore, traditore?

NM: Sim, precisa! Porque o tradutor que não trai é igual a marido que só quer fazer sexo na mesma posição: papai e mamãe. Desculpe, é escatológico, lembra Boccaccio – vou voltar a traduzir Boccaccio! –, mas é isso.

CT: Falando em Boccaccio: No caso de Vingança em Veneza, uma das novelas do Decamerão (Decameron), que estratégias você usou para traduzir ao público juvenil o estilo característico do autor? E como foi tratado o italiano arcaico em sua versão para o português?

NM: Eu tive de fazer concessões. O texto tem mais de 600 anos de idade. Imagina: um texto que já é antigo, censurado pela Santa Madre – e se é censurado pela Santa Madre, pra mim já é bom, a priori. Então eu já tinha curiosidade com o livro porque pensava: pra ser censurado durante séculos, só pode ser bom. Esse foi um dos raros casos que eu li primeiro as traduções francesa e espanhola antes de traduzir. Aí descobri a tradução lusitana, que é maravilhosa. E tinha coisas que eu não conseguia dar um jeito – eu fazia, mas ficava amarrado, a tradução ficava ruim. “Mas se encontrei uma tradução tão boa”, falei, “eu vou só colar”! Muito tradutor faz isso e não conta. Eu devia ter usado aspas em alguns pedaços, mas não usei. E se o tradutor estiver vivo, ele pode processar a editora, não a mim. Porque eu avisei, “Olha, fiz metade; a outra metade é do tradutor lusitano, está aqui o livro (a tradução lusitana); e se vierem cobrar direitos autorais, eles têm razão”. Ora, numa tradução tão boa, o que você vai ficar tentando melhorar? E é difícil o tradutor que tenha a franqueza de confessar isso, eles usam a boa solução do outro e ficam disfarçando.

CT: Há quem diga que as notas de rodapé são uma espécie de confissão do fracasso do tradutor. O que você pensa a respeito?

NM: Isso é uma bobagem. É inveja de quem não consegue traduzir, crítica de gente que nunca pegou uma tradução difícil. Porque a nota bem feita é uma sofisticação, ajuda o texto, qualifica a leitura.

CT: Apesar de se dedicar mais à tradução de prosa, você traduziu para o português, na década de 1990, uma seleção de poemas de Michelangelo (Imago, 1994). Como foi essa experiência?

NM: Uma ousadia tremenda. O que fizemos? Fizemos uma tradução ao pé da letra. Juntamos três malucos: o editor, Arthur Nestrovski; este que está à sua frente; e outro, o Andrea Lombardi, que era professor de literatura italiana na USP, e foi quem fez as notas. Nosso objetivo era mostrar que o Michelangelo, além de ser um bom artista, era bom de poesia. Ficou um livro precioso – com o texto original, a tradução de ajuda à leitura e as notas –, e está esgotado, só encontra em sebo.

CT: Como você avalia sua trajetória de tradutor? Houve mudanças na forma como você vê e se relaciona com a prática tradutória?

NM: Houve. Porque tradução é tempo, é prática. Ninguém nasce grande tradutor. O tradutor se faz no malho mesmo, na pedreira. Traduzir bem é trabalho de marreta, é quebrar pedra e tentar encontrar alguma coisa melhor na pedra bruta. É igual a vinho: você vai ficando velho, vai ficando melhor – até ficar gagá: precisamos manter o desconfiômetro aceso!

CT: Em 1997, a Folha de São Paulo publicou um texto seu no qual você comentava a obra de Buzzati e a tradução de Ana Maria Carlos de Il Crollo della Baliverna (1957), coletânea de contos que saiu, na época, pela Nova Alexandria com o título A Queda da Baliverna. Naquela ocasião, você criticou a omissão do nome da tradutora, levantando a questão dos abusos editoriais e a falta de reconhecimento, por parte das editoras, do tradutor como coautor de uma obra. Passados quase vinte anos, esta crítica segue pertinente ou houve mudanças?1 1 “E ainda, um problema editorial: a omissão do nome da tradutora, nesta edição da Nova Alexandria, constitui uma ironia a Buzzati, ou não passa de um enésimo abuso contra os coautores que somos e que nossos editores insistem em negar?”. Ver: < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/8/09/caderno_especial/7.html >.

NM: Os editores estão menos canalhas. Eles ganham dinheiro às nossas custas, têm casas não sei onde, e viajam duas vezes ao ano para a Europa às nossas custas. Nenhuma editora conseguiria se manter se não fossemos nós, tradutores! Além do direito autoral, têm de colocar nosso nome na primeira página. Ponto.

CT: Você consegue viver do trabalho de tradutor?

NM: Um tempo eu fiz a experiência em São Paulo, traduzi muito. Foi quando fiquei aleijado.

CT: Qual sua opinião sobre intraduzibilidade?

NM: Desculpa de escritor preguiçoso.

CT: Há um livro que tenha lhe dado mais prazer de traduzir?

NM: Quase todos. Eu adoro traduzir, me dá muito prazer!

CT: Se, assim como Rilke em Cartas a um jovem poeta, você fosse procurado hoje por um (a) jovem aspirante a tradutor (a) literário, o que diria?

NM: Leia muito, leia tudo que aparecer na sua frente. E traduza o que você gosta, no tempo que você se dá.

ANEXO

    Livros traduzidos

    • BANDELLO, M.; Wataghin, Lucia et al (Org.). Romeu e Julieta e outros contos renascentistas italianos Rio de Janeiro: Imago, 1996.
    • BOBBIO, Norberto. Direito e poder São Paulo: Unesp, 2008.
    • BOCCACCIO, Giovanni. Vingança em Veneza São Paulo: Cosac Naify, 2007.
    • BUONARROTI, Michelangelo. Poemas Rio de Janeiro: Imago, 1994.
    • BUZZATI, Dino. A famosa invasão dos ursos na Sicília São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2012.
    • CALASSO, Roberto. Os 49 degraus São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
    • ______. As núpcias de Cadmo e Harmonia São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
    • CASTIGLIONE, Baldassare. O cortesão São Paulo: Martins Fontes, 1997.
    • CALVINO, Italo. Fábulas italianas São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
    • ______. Perde quem fica zangado primeiro São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1995.
    • ______. Marcovaldo ou as estações na cidade São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
    • ______. O barão nas árvores São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
    • ______. O cavaleiro inexistente São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
    • ______. Os Nossos Antepassados São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
    • ______. Por que ler os Clássicos São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
    • ______. Se um viajante numa noite de inverno São Paulo: Companhia das Letras, 1982.
    • ______. Sob o Sol-Jaguar São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
    • COSTA, Antônio. Compreender o cinema Rio de Janeiro: Globo, 1987.
    • DE AMICIS, Edmondo. Coração São Paulo: Cosac Naify, 2011.
    • JOLY, Maurice. Diálogo no inferno entre Maquiavel e Montesquieu São Paulo: Unesp, 2009.
    • GINZBURG, Carlo. História noturna. Decifrando o Sabá São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
    • LEVI, Primo. Se não agora, quando? São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
    • LEVI, Giovanni; SCHMIT, Jean-Claude. História dos jovens São Paulo: Companhia das Letras, 1996. [Tradução de Claudio Marcondes, Nilson Moulin, Paulo Neves]
    • MORAVIA, Alberto. Histórias da Pré-História São Paulo: 34, 2003.
    • MUNARI, Bruno. Na noite escura São Paulo: Cosac Naify, 2007.
    • ORTESE, Anna Maria. O pássaro da dor São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
    • PAVESE, Cesare. Diálogos com Leucó São Paulo: Cosac Naify, 2001.
    • ROSSI, Paolo. O passado, a memória, o esquecimento. Seis ensaios da história das ideias São Paulo: Unesp, 2010.
    • SCIASCIA, Leonardo. A cada um o seu Rio de Janeiro: Alfaguara, 2007.
    • SQUAROTTI, Giorgio Barberi. Literatura italiana. Linhas, problemas, autores São Paulo: Edusp, 1989. [Tradução de Nilson Moulin, Maria Betania Amoroso e Neide Luzia de Rezende.]
    • SUBIRATS, Eduardo. Vanguarda, mídia, metrópoles São Paulo: Studio Nobel, 1993.
    • TABUCCHI, Antonio. O tempo envelhece depressa São Paulo: Cosac & Naify, 2010.
    • VENTURINI, Ernesto. A linha curva: o espaço e o tempo da desinstitucionalização Rio de Janeiro: Fiocruz, 2016.

    Obra própria

    • MOULIN, Nilson; MATUCK, Rubens. Caderno de contas: uma andança pelo olhar viajante São Paulo: Comdesenho, 2009.
    • ______.; MATUCK, Rubens. Leonardo desde Vinci São Paulo: Cortez, 2007.
    • ______.; JUCÁ, Luiza. Parindo um Mundo Novo: Janete Capiberibe e as parteiras do Amapá São Paulo: Cortez, 2002.
    • ______.; CAPOBIANCO, João; MATUCK, Rubens. Brasil que resiste São Paulo: Terceiro Nome, 2001.
    • ______. Por Dentro dos Cerrados São Paulo: Studio Nobel, 2000.
    • ______. Amapá: Um norte para o Brasil São Paulo: Cortez, 2000.
    • ______.; MATUCK, Rubens; Aldemir Martins. No lápis da vida não tem borracha São Paulo: Callis, 1999.
    • ______.; MATUCK, Rubens. Portinari: Vou pintar aquela gente São Paulo: Callis, 1997.
    • ______. Por dentro da Mata Atlântica (2 volumes). Coleção Bicho-Folha, São Paulo: Studio Nobel, 1997.

    Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      May-Aug 2017

    Histórico

    • Recebido
      01 Nov 2016
    • Aceito
      07 Jan 2017
    Universidade Federal de Santa Catarina Campus da Universidade Federal de Santa Catarina/Centro de Comunicação e Expressão/Prédio B/Sala 301 - Florianópolis - SC - Brazil
    E-mail: suporte.cadernostraducao@contato.ufsc.br