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Pré-requisitos para implementação do sistema APPCC em uma linha de alface minimamente processada

Requirements for HACCP system implementation in a minimally processed plant

Resumos

Boas Práticas de Fabricação (BPF) e Procedimentos Padrão de Higienização Operacional (PPHO) são Programas Pré-requisitos (PPRs) para implementação do sistema APPCC, sendo, em função disto, etapa inicial na adoção de sistemas de garantia de qualidade na indústria de alimentos. Nesse trabalho, foi avaliada uma unidade de processamento mínimo de hortaliças segundo uma auditoria, análises microbiológicas da água, equipamentos, utensílios e manipuladores. Foram verificadas diversas não-conformidades relacionadas à auditoria na unidade produtora. Nas análises microbiológicas foram identificados grupos microbianos em níveis superiores aos estabelecidos pela legislação (variação de <3->16 NMP/100 mL e 7-2400 NMP/cm² para coliformes a 35°C e a 44°C, na água e nos equipamentos e/ou utensílios, respectivamente). S. aureus não foi detectado nos manipuladores, enquanto que E. coli mostrou-se presente nos manipuladores e ausente na água. Os resultados revelam que a unidade produtora não tem as condições necessárias para a implementação do APPCC, sendo necessárias medidas corretivas, entre as quais, o ajuste do layout do processo, implementação de controle de pragas, treinamento para os manipuladores, além de controle efetivo dos parâmetros operacionais.

programas pré-requisitos; APPCC; vegetais minimamente processados


Good Manufacturing Practices (GMP) and Sanitation Standard Procedures Operation (SSOP) are Pre-requisite Programs (PPRs) for the HACCP system implementation, being the initial step at the adoption of an Assurance Quality System in the Food Industry. A Brazilian produce line was evaluated according to PPRs compliance and microbiological analysis of processing water, equipments/utensils and workers of packing room were performed. Several failures were detected in the auditing and presence of pathogens and microbial groups at values from the Brazilian legislation (range from <3 to>16 MNP/100 mL and 7-2400 MPN/cm² for total and fecal coliform at the water processing and equipments/utensils, respectively). S. aureus was not detected on the handlers, while E. coli was present on them and absent at the water processing. The results indicate the produce unit do not have conditions for the HACCP implementation, being necessary corrective actions to improve the safety of environmental processing, like pest control, food hygiene training and an effective control of standard parameters process.

pre-requisite programs; HACCP; minimally processed vegetables


Pré-requisitos para implementação do sistema APPCC em uma linha de alface minimamente processada

Requirements for HACCP system implementation in a minimally processed plant

Adriano Gomes da CruzI, * * A quem a correspondência deve ser enviada ; Sérgio Agostinho CenciII; Maria Cristina Antun MaiaIII

IPrograma de pós-graduação em Ciência de Alimentos do Instituto de Química (IQ). Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Rua Sidôneo Paes, 163 /103 CEP 21350-030 – Rio de Janeiro, Brasil E-mail: food@globo.com Telefones: (21) 3271-3686 / (21)2595-4901

IIEmbrapa Agroindústria de Alimentos, Avenida das Américas, nº 29.501 CEP 23020-470 – Guaratiba, Rio de Janeiro (RJ), Brasil

IIIEscola de Química (EQ). Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Bloco E, Sala 203 CEP 21949-900 – Rio de Janeiro (RJ)

RESUMO

Boas Práticas de Fabricação (BPF) e Procedimentos Padrão de Higienização Operacional (PPHO) são Programas Pré-requisitos (PPRs) para implementação do sistema APPCC, sendo, em função disto, etapa inicial na adoção de sistemas de garantia de qualidade na indústria de alimentos. Nesse trabalho, foi avaliada uma unidade de processamento mínimo de hortaliças segundo uma auditoria, análises microbiológicas da água, equipamentos, utensílios e manipuladores. Foram verificadas diversas não-conformidades relacionadas à auditoria na unidade produtora. Nas análises microbiológicas foram identificados grupos microbianos em níveis superiores aos estabelecidos pela legislação (variação de <3->16 NMP/100 mL e 7-2400 NMP/cm2 para coliformes a 35°C e a 44°C, na água e nos equipamentos e/ou utensílios, respectivamente). S. aureus não foi detectado nos manipuladores, enquanto que E. coli mostrou-se presente nos manipuladores e ausente na água. Os resultados revelam que a unidade produtora não tem as condições necessárias para a implementação do APPCC, sendo necessárias medidas corretivas, entre as quais, o ajuste do layout do processo, implementação de controle de pragas, treinamento para os manipuladores, além de controle efetivo dos parâmetros operacionais.

Palavras-chave: programas pré-requisitos, APPCC, vegetais minimamente processados.

SUMMARY

Good Manufacturing Practices (GMP) and Sanitation Standard Procedures Operation (SSOP) are Pre-requisite Programs (PPRs) for the HACCP system implementation, being the initial step at the adoption of an Assurance Quality System in the Food Industry. A Brazilian produce line was evaluated according to PPRs compliance and microbiological analysis of processing water, equipments/utensils and workers of packing room were performed. Several failures were detected in the auditing and presence of pathogens and microbial groups at values from the Brazilian legislation (range from <3 to>16 MNP/100 mL and 7-2400 MPN/cm2 for total and fecal coliform at the water processing and equipments/utensils, respectively). S. aureus was not detected on the handlers, while E. coli was present on them and absent at the water processing. The results indicate the produce unit do not have conditions for the HACCP implementation, being necessary corrective actions to improve the safety of environmental processing, like pest control, food hygiene training and an effective control of standard parameters process.

Keywords: pre-requisite programs, HACCP, minimally processed vegetables.

1 - INTRODUÇÃO

O processamento mínimo de hortaliças o objetivo de fornecer ao consumidor produtos semelhantes aos comercializados frescos e, ao mesmo tempo, garantir a sua segurança e manter a qualidade nutricional e sensorial, sendo por isso isento de uma etapa efetiva de morte microbiana, como tratamento térmico [18].

Por utilizar matéria-prima de origem vegetal, que está sujeita a diversas fontes de contaminação microbiana ao longo do seu cultivo e processamento, como água de irrigação, manipuladores, solo, equipamentos e utensílios e água, a implementação de um sistema de garantia de qualidade por unidades que processam esse tipo de produto torna-se compulsória.

Programas Pré-Requisitos (PPRs) representam a primeira etapa na obtenção de qualidade assegurada para estabelecimentos que processam e/ou manipulam alimentos. Podem ser definidos como procedimentos ou etapas universais que controlam condições operacionais dentro de uma indústria alimentícia, permitindo a criação de condições ambientais favoráveis à produção de um alimento seguro [9]. Eles incluem elementos que são freqüentemente descritos como Boas Práticas de Fabricação como, por exemplo, limpeza e sanitização, higiene pessoal e do ambiente fabril, projeto higiênico-sanitário da planta e manutenção preventiva. Essas condições estão bem estabelecidas e têm sido empregadas há bastante tempo pelo setor alimentício, de tal forma que qualquer estabelecimento processador de alimentos trabalha de acordo com um destes itens [27].

PPRs não constam como parte integrante do sistema APPCC formal, sendo freqüentemente gerenciados como programas gerais de qualidade da indústria e dirigidos a um produto ou processo específico, e por isso é mais razoável incluí-los dentro de um sistema de qualidade. Ao contrário do APPCC, falhas no seu cumprimento não resultam em ação direta sobre o produto, sendo, por isso, uma diferença essencial entre os mesmos. Entretanto, se um PPR não é conduzido adequadamente, a análise de perigos pode estar equivocada e o plano APPCC inadequado, já que Pontos Críticos de Controle (PCCs) serão adicionados, resultando em um aumento da complexidade do plano APPCC [21].

WALLACE e WILLIAMS [27] relatam o exemplo de estabelecimento produtor de alimentos desidratados que elaborou um plano APPCC com 600 Pontos Críticos de Controle por não implementar previamente os programas pré-requisitos.

Boas Práticas de Fabricação (BPF) e Procedimentos Padrão de Higienização Operacional (PPHO) são exemplos universalmente aceitos de PPRs. O primeiro é um programa utilizado para controlar processos e procedimentos de condições operacionais para facilitar a operação de alimentos inócuos, e abrange procedimentos relacionados à utilização das instalações, recepção e armazenamento, manutenção de equipamentos, treinamento e higiene dos trabalhadores, limpeza e desinfecção, controle de pragas e devolução de produtos.

O segundo compreende a descrição completa das atividades específicas necessárias para manter as instalações e utensílios livres de microorganismos patogênicos e com a microbiota deteriorante minimizada, que conseqüentemente previne a contaminação do alimento quando em contato com estes utensílios e instalações, estando incluído no sistema BPF, mas, devido a sua importância, é freqüentemente estudado em separado [16].

Estabelecimentos processadores e/ou manipuladores de produtos alimentícios que adotaram os PRPs antes do sistema APPCC mostraram uma significativa melhora na qualidade higiênico-sanitária e, conseqüentemente, uma elevação de nível de segurança em seus processos, evidenciada pela eliminação de patógenos e pela redução da carga microbiana global [2, 23, 26].

O objetivo deste trabalho é avaliar uma unidade processadora de vegetais minimamente processados, com relação aos Programas Pré-requisitos (PPRs) e PPHO, verificando, com isso, se há condições suficientes para a implementação do sistema APPCC. A linha de alface minimamente processada, por representar o maior volume de vendas da unidade produtora, foi a escolhida para a realização deste estudo.

2 - MATERIAL E MÉTODOS

O critério de escolha da unidade a ser auditada baseou-se na parceria da mesma com o Projeto Prodetab/Embrapa. Localizada no Estado de São Paulo, constitui-se em unidade de pequeno porte e realiza atividades de processamento mínimo de diversos legumes e hortaliças, como alface, couve, cenoura, tomate, saladas mistas etc. A água utilizada no processamento é submetida à etapa de filtração (filtro de areia).

Foram realizadas três visitas à unidade agroindustrial. A linha de processamento de alface minimamente processada foi auditada in loco por meio de check-list elaborado segundo as diretrizes das Portarias 1.428, de 30 de novembro de 1993, e 326, de 30 de julho de 1997, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, dividida [7, 8] nas seguintes áreas: (i) Instalações, (ii) Operações, (iii) Pessoal, (iv) Controle de Pragas e (v) Registros e Documentação.

Análises microbiológicas foram realizadas na água utilizada nas etapas de lavagem 1, lavagem 2 e sanitização usada no processamento da alface (coliformes a 35°C, coliformes a 45°C e pesquisa qualitativa de Escherichia coli), na superficie da centriífuga e no rolo da esteira, equipamentos e/ou utensílios considerados críticos no processo (coliformes a 35°C e coliformes a 45°C) e dos manipuladores que trabalhavam na seção de empacotamento do produto final (pesquisa qualitativa de Escherichia coli e Staphylococus aureus). Todo o procedimento envolvido na coleta, transporte e execução das análises seguiu a metodologia preconizada pela American Health of Public Association [3].

3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 - Processamento mínimo da alface minimamente processada

As etapas executadas pela unidade produtora no processamento mínimo do alface, estão descritas em um fluxograma conforme mostrado na Figura 1. Foram identificadas dez etapas, a saber: (a) Estocagem da matéria-prima, (b) Recepção / seleção feita de forma manual, (c) Pré-lavagem do produto em detergente específico para vegetais, (d) e (e) Lavagens sucessivas com água, (f) Sanitização com ozônio, (g) centrifugação, (h) acondicionamento, (i) Estocagem refrigerada e (j) Transporte / distribuição.


3.2 - Auditoria de BPF

Foram verificadas as seguintes não-conformidades durante a auditoria de BPFs, descritas a seguir:

(1) Instalações: (a) layout do processo inadequado, expresso pela inexistênica da separação entre a área de recepção da matéria-prima das demais áreas, possibilitando o contato do produto processado com a matéria-prima, no ambiente de processamento, propiciando contaminação cruzada; (b) pisos dotados de superfície não-sanitária, observando-se a presença de ressaltos de concreto ásperos, dificultando a operacionalidade e o tráfego durante o processo; (c) inexistência de cobertura para a região externa de recepção da matéria-prima, tornado a mesma vulnerável ao ataque de animais em geral e própria ao contato com sujidades; (d) falhas no revestimento e pintura das paredes e tetos; (e) câmara de refrigeração do produto final em condição higiênico-sanitária estrutural deficiente, com paredes e pisos carecendo de novos revestimentos. O local é desprovida de lâmpadas com protetores anti-choque e luminárias sem proteção contra quebras na área de processamento; (f) ausência de chiller, para resfriamento da água de processo a 7°C, mais adequada por razões de segurança; (g) presença de drenos (ralos) sem o devido cuidado sanitário, como sifões e tampas escamoteáveis; e (h) inexistência de área ou antecâmaras antes da entrada das salas de processamento dotadas de dispositivos destinados à assepsia de mãos, e de boxes para lavagem de botas utilizadas pelos manipuladores.

(2) Pessoal: (a) presença de funcionários utilizando adornos, como jóias, anéis e brincos, na área de produção e (b) ausência de treinamentos periódicos em práticas higiênicos-sanitárias de alimentos para os manipuladores.

(3) Operações: (a) conversas demasiadas entre os funcionários durante o processamento do produto; (b) ausência de higienização períodicas das mãos; (c) matéria-prima e produto final expostos por demasiado período fora da refrigeração; (d) caixas plásticas de armazenamento do produto final e da matéria-prima fora dos pallets; (e) tempo de centrifugação do produto não-padronizado; e (f) ausência de monitoramento da temperatura, concentração e tempo de contato do sanificante durante o processamento.

(4) Controle de Pragas: (a) Inexistência de programas de controle de pragas por parte da unidade processadora.

(5) Registros e Controles: (a) Inexistência de procedimentos operacionais e instruções claras para padronizar cada atividade do processo, assim como planilhas de controle associadas, normalmente escritas em um manual de BPF; e (b) ausência de PPHO.

SILVA JUNIOR [22] enfatiza a importância da escolha do tipo de piso a ser empregado e recomenda a aplicação de um piso monolítico com características antiderrapantes dotado de único nível o que diminuiria o perigo de acidentes no deslocamento de acessórios (caixas, pallets). O piso ainda deve ter inclinação suficiente para direcionar aos ralos sifonados à água de higienização e simultaneamente impedir a entrada de roedores.

O controle de pragas mostrou-se totalmente inexistente dentro da unidade produtora, podendo realmente acarretar prejuízos para a segurança microbiológica do produto. A total ausência de normatização das operações do processo, como o tempo de centrifugação do produto e a não monitoração dos parâmetros envolvidos na etapa de sanitização (tempo de contato e concentração do sanificante), podem contribuir para a contaminação microbiológica do mesmo. A primeira, ao não retirar totalmente a umidade presente, pode criar condições ambientais propícias para a multiplicação microbiana, e a segunda, realçada por ser a única etapa efetiva de morte térmica no processo.

A segurança microbiológica do produto minimamente processado passa, obrigatoriamente, por um cuidado todo especial com relação às condições higiênicas-sanitárias do pessoal, utensílios e equipamentos envolvidos e da estrutura da instalação. A unidade produtora deve iniciar o processo de implantação de Boas Práticas de Fabricação com medidas imediatas, como: (a) Ajuste no layout de processamento; (b) aquisição de um resfriador para água de processamento; (c) programas de treinamento em higienização de alimentos para manipuladores; (d) adoção de PPHOs sugeridos para os equipamentos/utensílios e manipuladores; (e) programa de monitoramento da qualidade da água utilizada no processamento, bem como a desinfecção da mesma; (f) implementação de medidas visando o controle de pragas; (g) estabelecimento de parâmetros para a etapa de sanitização (concentração, tempo de contato, temperatura do sanificante).

Os resultados encontrados na auditoria de BPFs concordam com trabalhos realizados por outros autores, demonstrando, de forma geral, a falta de comprometimento da indústria de alimentos com relação a programas de garantia de qualidade e consequente segurança do processo.

WALKER, PRITCHARD E FORSYTHE [28] auditaram 122 estabelecimentos de pequeno e médio porte comercializadores de alimentos, em Nottingham, Inglaterra, e contastaram nível de não-conformidade em questões elementares, como uso de refrigeradores domésticos para fins comerciais, controle deficiente de temperatura nas operações e ausência de registros das atividades em 60,5% locais, 65% e 40% do universo pesquisado, respectivamente.

NETO et al. [15], realizando auditorias para verificar o estado de um indústria de beneficiamento de castanha de caju, no Ceará, verificaram que instalações e registros foram os itens que lideraram as não-conformidades, atingindo, também, mais de 50% do total.

AMARAL et al. [1], ao inspecionarem uma unidade de alimentação e refeição observaram layout impróprio, que possibilitaria contaminação cruzada dos produtos e ausência de procedimentos operacionais padrão para as diversas fases como principais não-conformidades.

BASTOS [4], auditando indústrias de polpa de frutas no Estado do Ceará, verificou que o layout da fábrica, tipo de piso empregado na linha de processamento e elaboração de procedimentos operacionais também constituíam-se nos principais problemas a serem resolvidos. Como resultado, 53% das empresas participantes adequaram o piso e paredes a padrões higiênicos-sanitários, 66,6% investiram na mudança de layout da fábrica, 83% das empresas adquiriram equipamentos/ utensílios de aço inoxidável e 60% investiram em um controle integrado de pragas.

3.3 - Água de processamento

A Tabela 1 mostra os resultados nas análises microbiológicas da água de processamento. Os resultados encontrados estão em desacordo com a Portaria 1.469, de 29 de dezembro de 2000, do Ministério da Saúde [6], que estabelece como critério microbiológico a ausência de coliformes totais, fecais e Escherichia coli para água, demonstrando uma precária qualidade higiênico-sanitária e inadequação da mesma para o processamento de alimentos.

A provável responsável pelo aumento do NMP de coliformes fecais (4-11 NMP/100 mL) entre as etapas de lavagem e sanitização e coliformes totais entre as etapas de recepção e lavagem (36-59 NMP/100 mL). Sugere-se a instalação de uma etapa de cloração prévia (200 ppm) imediatamente posterior à etapa de filtração já existente e a implementação um programa contínuo de monitoramento da qualidade microbiológica da água em questão, assim como a troca contínua da água de tanques de lavagem e sanitização, e o monitoramento da concentração do sanificante.

HOWARD e GONZALEZ [11] advertem que a qualidade da água é extremamente importante, já que ela é veículo para muitos microorganismos patogênicos, e todas as operações nas quais ela participa, como lavagem e enxágüe, merecem atenção especial por parte dos processadores. MCKNIGHT [14] ressalta que a potabilidade da água deve ser assegurada em todo o estágio da cadeia produtiva de alimentos, sendo este parâmetro regularmente monitorado e documentado.

3.4 - Equipamentos e utensílios

A Tabela 2 mostra os resultados das análises microbiológicas dos equipamentos/utensílios. Verificou-se um nível de higienização extremamente precário destes, indicando a necessidade de adoção de procedimentos padronizados de sanitização para os mesmos, sendo 100% dos resultados acima do valor recomendado pela APHA, 2 UFC/cm2[3]. No caso específico da centrífuga, localizada após a etapa de sanitização, isso se reflete diretamente sobre o produto final, comprometendo sua qualidade higiênico-sanitária e segurança. A Figura 1 mostra o Procedimento Padrão de Higienização Operacional (PPHO 1), sugerido para a higienização dos equipamentos.

Os equipamentos, uma vez mal higienizados, representam uma fonte potencial de contaminação. GARG et al. [10], ao realizarem análises microbiológicas em diversos vegetais minimamente processados em linhas de processamento antes e após a passagem sobre equipamentos/utensílios diversos (cortadores, descascadores, fatiadores, centrífugas), verificaram aumento de dois ciclos logarítmicos na contagem microbiana, sendo o cortador de alface (1,8x104 para 1,4x106 UFC/g) e o fatiador de cebola (4,0x103 para 1, 2x105 UFC/g) os maiores resultados encontrados, refletindo a fonte de contaminação representada por eles. KANEKO et al. [12] analisaram diversos equipamentos/utensílios em unidades processadoras de vegetais antes e após a sanitização dos mesmos, obtendo as seguintes faixas de valores para coliformes totais: centrífuga: 3,2x102 para 1,3x105 UFC/g, fatiador: 1,3x103 para 4,0x103 UFC/g, e redes destinadas ao recolhimento de vegetais no tanque de lavagem 2,5x103 para 2,0x105 UFC/g. A Figura 2 mostra o Procedimento Padrão de Higienização Operacional (PPHO 1) sugerido para higienização dos equipamentos e/ou utensílios, centrífuga e rolo de esteira.


3.5 - Manipuladores

A Tabela 3 mostra os resultados das análises microbiológicas realizadas nos manipuladores de alimentos da seção de empacotamento da unidade produtora. Não foram detectados S. aureus, porém a presença de E. coli foi verificada em um manipulador. Os resultados demonstraram a precária condição higiênico-sanitária dos manipuladores da linha de empacotamento do produto final, indicando urgente necessidade de estabelecer treinamento em higiene e manipulação de alimentos, já que a presença de E. coli no produto final torna o mesmo impróprio para o consumo do ponto de vista higiênico-sanitário [5]. Além disso, é perigo para a saúde pública, já que este não será submetido a nenhum tratamento térmico antes do seu consumo por parte do consumidor. Recomenda-se a adoção de um programa padronizado de lavagem de mãos e a instalação de hand-washings em locais determinados ao longo da linha de produção.

A importância dos manipuladores na segurança microbiológica dos produtos e processos na indústria de alimentos é fundamental para sucesso de programas de segurança alimentar, na medida em que eles podem ser vias de transmissão de bactérias enteropatogênicas. KANEKO et al. [12] detectaram a presença de E. coli em manipuladores de indústrias de processamento mínimo, em Tóquio. ROSA et al [20] encontraram contagens na faixa de 2,8 x102 a 2,8 x 106 UFC/g de Staphylococus aureus, com 26,9% de contagem superior a 105 UFC/g em saladas comercializadas nos supermercados de Campinas (SP) e Belo Horizonte (MG), indicando alto risco para produção de uma toxiinfecção alimentar.

THUNDERG et al [25] encontraram S. aureus em contagens elevadas indicativas de toxiinfecção alimentar, em vegetais minimamente processados vendidos em lojas varejistas nos Estados Unidos. HOWARD e GONZALEZ [11] advertem que os processadores devem prover aos empregados instalações sanitárias adequadas, possuindo papel toalha, sabonete e água potável, aliados a cursos periódicos, a fim de conscientizá-los sobre como identificar sintomas e sinais de infecções alimentares.

Do ponto de vista qualitativo, é de extrema importância haver ações que disseminem corretas práticas higiênicos-sanitários para os manipuladores por meio de treinamentos periódicos. Isto se dá por causa das próprias características do processamento mínimo, como ausência de tratamento térmico para a efetiva morte dos microorganismos. Dessa forma, estes passam a ter importância fundamental na linha de produção, já que pode ser fonte de contaminação para o produto.

ROBBERTS e SNEED [19] encontraram uma relação positiva entre as práticas de segurança alimentar implementadas nas atividades e o nível de conhecimento recebido em treinamento por manipuladores em auditoria nos restaurantes de Iowa, Estados Unidos. LEIVAS e MASSON [13], ao realizarem avaliação de treinamento em uma unidades industrial alimentícia no Rio Grande do Sul, encontraram índice de satisfação de 80% por parte dos funcionários após implantação de BPFs e PPHO. REGO et al. [17] analisaram amostras de alimentos, água, utensílios, equipamentos e mãos de manipuladores de uma unidade de nutrição e alimentação hospitalar antes e após treinamento, constatando um decréscimo de 39% para 8,5% no quantitativo de amostras que se encontravam em situação higiênico-sanitária precária. Summer e Albrecht [24], realizando treinamento em segurança alimentar em unidades processadoras de pequeno porte em Nebraska, Estados Unidos, constataram intenção de mudanças de procedimentos de sanitização e BPFs em mais de 50% dos presentes.

A Figura 3 mostra o Procedimento Padrão de Higienização Operacional (PPHO 2), sugerido a higienização dos manipuladores da seção de empacotamento.


4 - CONCLUSÕES

Os resultados obtidos nesse estudo permitem concluir que a unidade produtora de alface minimamente processada não tem as condições necessárias para a implementação do APPCC. Os PPRs foram fundamentais para a identificação de medidas corretivas e/ou preventivas essenciais à segurança do processamento realizado.

Layout do processo era inadequado, propiciando contaminação cruzada, ausência de controle de pragas, inexistência de treinamento para os manipuladores e precário controle dos parâmetros operacionais foram as principais medidas corretivas com impacto direto sobre a segurança do processso de alface minimamente processado detectadas pelos PPRs.

5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

6 - AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos, André Luiz Bonnet Alvarenga e Carlos Alexandre de Oliveira Gomes e à assistente de pesquisa Eliane Rocha, pelo auxílio prestado durante a auditoria na unidade produtora e na realização das análises microbiológicas.Apoio Financeiro: Projeto Prodetab.

Recebido para publicação em 24/1/2005. Aceito para publicação em 23/1/2006 (001464)

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Maio 2006
    • Data do Fascículo
      Mar 2006

    Histórico

    • Recebido
      24 Jan 2005
    • Aceito
      23 Jan 2006
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