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Elaboração do queijo mozarela de leite de búfala pelos métodos tradicional e da acidificação direta

Mozzarella cheese of buffalo's milk elaborated by traditional and direct acidification methods

Resumos

O objetivo deste trabalho foi avaliar a elaboração do queijo Mozarela de leite de búfala pelos métodos tradicional e da acidificação direta com ácido cítrico. O pH da acidificação variou de 5,1 a 5,2. Observou-se uma redução de 8 para 3 horas no tempo total de fabricação pelo método da acidificação direta em relação ao tradicional. Esta redução ocorreu devido à diminuição do tempo de coagulação de 50 para 5 minutos e da ausência da etapa de fermentação. A etapa de fermentação durou 4 horas no método tradicional. O rendimento obtido para o queijo Mozarela elaborado pelo método da acidificação direta foi maior que o obtido no tradicional, com valores de 18,0 e 17,3%, respectivamente. Em base seca, observou-se que os processamentos obtiveram rendimento equivalente. O queijo elaborado pelo método de acidificação direta apresentou menor teor de proteína e maior de umidade e, consequentemente, menor teor de sólidos totais em relação ao método tradicional. Os teores de gordura, cinzas e cálcio dos queijos elaborados para ambos os métodos não apresentaram diferenças significativas. Para o teste de aceitabilidade dos queijos, 50 provadores não treinados avaliaram as amostras utilizando escala hedônica de 9 pontos. Não houve diferença significativa na aceitabilidade das amostras, com médias 6,68 e 6,26 para o método de acidificação direta e método tradicional, respectivamente.

acidificação direta; leite de búfala; queijo Mozarela; aceitabilidade


The study was purpose to evaluate the processing of buffalo's milk Mozzarella cheese of elaborated by traditional method and by direct acidification method with citric acid. Acidification pH ranged from 5,1 to 5,2. There was a reduction from 8 to 3 hours in the total time of cheese production by utilization of direct acidification method in relation to the traditional method. This reduction occurred due to a decrease on coagulation time from 50 to 5 minutes and the absence of fermentation stage. Fermentation stage lasted 4 hours in the traditional method. The cheese elaborated by direct acidification method presented higher yield than those obtained with the traditional method, with values of 18,0 and 17,3%, respectively. Considering dry basis yield both processing methods did not differ. The cheese elaborated by the acidification method presented lower protein and higher humidity contents and, consequently, lower contents of total solids in relation to the traditional one. There were no significantly differences between the two types of cheeses on fat, ash and calcium levels. For the acceptance test, 50 non-trained tasters evaluated the samples using a 9 points hedonic scale. Results showed no significant difference (p<0,05) in the acceptance of the samples, with means of 6,68 and 6,26 for the direct acidification method and traditional method, respectively.

direct acidification; buffalo's milk; Mozzarella cheese


ELABORAÇÃO DO QUEIJO MOZARELA DE LEITE DE BÚFALA PELOS MÉTODOS TRADICIONAL E DA ACIDIFICAÇÃO DIRETA1 1 Recebido para publicação em 12/12/97. Aceito para publicação em 10/10/00.

Marta Regina Verruma-BERNARDI2 1 Recebido para publicação em 12/12/97. Aceito para publicação em 10/10/00. ,* 1 Recebido para publicação em 12/12/97. Aceito para publicação em 10/10/00. , Maria Helena DAMÁSIO3 1 Recebido para publicação em 12/12/97. Aceito para publicação em 10/10/00.

José Leonardo Etore do VALLE4 1 Recebido para publicação em 12/12/97. Aceito para publicação em 10/10/00. , Antonio Joaquim de OLIVEIRA5 1 Recebido para publicação em 12/12/97. Aceito para publicação em 10/10/00.

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar a elaboração do queijo Mozarela de leite de búfala pelos métodos tradicional e da acidificação direta com ácido cítrico. O pH da acidificação variou de 5,1 a 5,2. Observou-se uma redução de 8 para 3 horas no tempo total de fabricação pelo método da acidificação direta em relação ao tradicional. Esta redução ocorreu devido à diminuição do tempo de coagulação de 50 para 5 minutos e da ausência da etapa de fermentação. A etapa de fermentação durou 4 horas no método tradicional. O rendimento obtido para o queijo Mozarela elaborado pelo método da acidificação direta foi maior que o obtido no tradicional, com valores de 18,0 e 17,3%, respectivamente. Em base seca, observou-se que os processamentos obtiveram rendimento equivalente. O queijo elaborado pelo método de acidificação direta apresentou menor teor de proteína e maior de umidade e, consequentemente, menor teor de sólidos totais em relação ao método tradicional. Os teores de gordura, cinzas e cálcio dos queijos elaborados para ambos os métodos não apresentaram diferenças significativas. Para o teste de aceitabilidade dos queijos, 50 provadores não treinados avaliaram as amostras utilizando escala hedônica de 9 pontos. Não houve diferença significativa na aceitabilidade das amostras, com médias 6,68 e 6,26 para o método de acidificação direta e método tradicional, respectivamente.

Palavras-chave: acidificação direta; leite de búfala; queijo Mozarela; aceitabilidade.

SUMMARY

MOZZARELLA CHEESE OF BUFFALO'S MILK ELABORATED BY TRADITIONAL AND DIRECT ACIDIFICATION METHODS. The study was purpose to evaluate the processing of buffalo's milk Mozzarella cheese of elaborated by traditional method and by direct acidification method with citric acid. Acidification pH ranged from 5,1 to 5,2. There was a reduction from 8 to 3 hours in the total time of cheese production by utilization of direct acidification method in relation to the traditional method. This reduction occurred due to a decrease on coagulation time from 50 to 5 minutes and the absence of fermentation stage. Fermentation stage lasted 4 hours in the traditional method. The cheese elaborated by direct acidification method presented higher yield than those obtained with the traditional method, with values of 18,0 and 17,3%, respectively. Considering dry basis yield both processing methods did not differ. The cheese elaborated by the acidification method presented lower protein and higher humidity contents and, consequently, lower contents of total solids in relation to the traditional one. There were no significantly differences between the two types of cheeses on fat, ash and calcium levels. For the acceptance test, 50 non-trained tasters evaluated the samples using a 9 points hedonic scale. Results showed no significant difference (p<0,05) in the acceptance of the samples, with means of 6,68 and 6,26 for the direct acidification method and traditional method, respectively.

Keywords: direct acidification; buffalo's milk; Mozzarella cheese.

1 — INTRODUÇÃO

De acordo com estudos realizados, o rebanho bubalino no Brasil tem aumentado cerca de 12,7% ao ano mostrando ser uma alternativa à pecuária tradicional. O leite de búfala apresenta alto valor nutricional, altos níveis de gordura, proteínas e minerais, sendo importante tanto para o consumo in natura como matéria-prima para elaboração de produtos lácteos [20].

O queijo Mozarela é oriundo da Itália, elaborado originalmente com leite de búfala [2]. O processo comumente utilizado para a elaboração do queijo Mozarela é o método tradicional, onde ocorre a fermentação da massa, que propicia a redução do pH e a sinérese da coalhada. Estas transformações favorecem o processo de filagem e o desenvolvimento das características sensoriais do queijo [9].

Outra alternativa ao método tradicional para elaboração do queijo Mozarela é a técnica da acidificação direta [19, 27, 33]. Este método tem sido utilizado na elaboração de vários tipos de queijos, pois substitui de forma total ou parcial a acidificação proveniente da atividade microbiana. De acordo com vários autores [21, 24, 31, 33] a acidificação direta do leite para elaboração de queijos diminui a quantidade de coalho a ser utilizada, o tempo de coagulação e consequentemente a redução do tempo de fabricação.

Este trabalho teve como objetivos: definir as condições de processamento do queijo Mozarela de leite de búfala, utilizando a acidificação direta com ácido cítrico e avaliar as características físico-químicas e aceitabilidade dos queijos processados pelo método tradicional e pela acidificação direta utilizando ácido cítrico.

2 — MATERIAL E MÉTODOS

2.1 – Matéria-prima

A matéria-prima utilizada foi o leite de búfala integral, fornecido pela Fazenda Brandina em Campinas - SP, durante os meses de abril, maio e junho. O leite foi transportado em latões de 30 litros resfriado a ±10o C até o Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), em aproximadamente 20 minutos.

Coalho

O coalho utilizado foi o coalho líquido (força: 1:3.000), fornecido pela HA-LA do Brasil, CHR. HANSEN IND. e COMÉRCIO LTDA, Valinhos, SP.

Fermento láctico

O fermento láctico utilizado foi o DVS termofílico constituído por cepas de Streptococcus salivarius subsp. thermophilus fornecidas pela HA-LA do Brasil.

Outros ingredientes

- Cloreto de cálcio: solução aquosa a 50% (p/v).

- Cloreto de sódio comercial da marca Cisne.

- Ácido cítrico da marca Fermenta: solução a 20%.

2.2 – Métodos

2.2.1 – Testes preliminares

Foram realizados ensaios preliminares em laboratório para se definir as condições de processamento do queijo Mozarela de leite de búfala, utilizando ácido cítrico. Os ensaios preliminares foram realizados para: (a) determinação da quantidade em mL da solução de ácido cítrico a ser utilizada por litro de leite, (b) determinação da quantidade de coalho a ser utilizada para coagulação do leite em aproximadamente 5 minutos. Os ensaios foram realizados em triplicada.

2.2.2 – Processamentos

Foram efetuados 3 ensaios de produção, com volume de 20 litros de leite por processamento. Em cada ensaio foram realizados 2 tipos de processamentos para a elaboração do queijo Mozarela: os métodos, tradicional com o uso de fermento e o método da acidificação direta, com adição de ácido cítrico.

Na recepção, o leite foi analisado quanto às características físicas e químicas. A pasteurização foi realizada a 63º C por 30 minutos e o resfriamento a 34º C. Após o leite ser resfriado, foi adicionado o cloreto de cálcio (40mL para 100 litros de leite) e separado em 2 cubas. Para o queijo tradicional adicionou-se o fermento (1%) e depois o coalho (10mL/100 litros de leite).

Enquanto ocorreu a etapa de coagulação do leite no método tradicional trabalhou-se com a fabricação do queijo pelo método de acidificação direta adicionando-se o ácido até o pH entre 5,0 e 5,1 e em seguida adicionou-se o coalho (5 mL/100 litros de leite). Em ambos os métodos, o coalho foi diluído em água (15 a 20 partes de água e uma de coalho) e a solução foi adicionada ao leite, sob agitação constante.

A coagulação foi realizada a 34º C e o corte da coalhada foi feito com liras de tamanho 1,5cm e o aquecimento foi aproximadamente 40º C para ambos os métodos e durante o aquecimento fez-se uma agitação lenta. A operação de filagem foi realizada da seguinte maneira: temperatura da água de filagem ± 90º C; temperatura da massa ± 58º C e o tempo de filagem 5 minutos.

Após a filagem realizou-se a moldagem dos queijos na forma de bolas e, em seguida estas foram colocadas em água à 10º C. A salga dos queijos foi realizada em salmoura à 17% por 30 minutos e após secagem, foram acondicionados em embalagens plásticas e mantidos sob refrigeração por 3 dias à temperatura de ± 8º C.

2.3 – Métodos físico-químicos

2.3.1 – Amostragem

Amostras de leite e soro foram retiradas do tanque de fabricação, após prévia homogeneização e as de queijo foram coletadas depois da salga. Todas as amostras foram armazenadas em frascos de vidro. As amostras dos queijos foram cortadas e maceradas em graal até uniformização.

2.3.2 – Métodos analíticos

pH

O pH do leite, do soro e do queijo foi determinado em potênciometro da marca Ingold, modelo 206.

Acidez

A acidez do leite, do soro e do queijo foi determinada por titulação com NaOH 0,1 N sendo expressa em ºD, de acordo com ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALITYCAL CHEMISTS [4]. Este método fundamenta-se na neutralização, até o ponto de equivalência, pelo hidróxido de sódio, na presença do indicador fenolftaleína.

Umidade

Os teores de umidade do leite e dos queijos foram determinados de acordo com a metodologia descrita pela AOAC [4], que se baseia na técnica de secagem em estufa a 100 - 105ºC até peso constante.

Gordura

Os teores de gordura do leite do queijo foram determinados pelo método Soxhlet de acordo com a metodologia citada pela AOAC [4].

Lactose

Os teores de lactose do leite foram determinados por diferença dos componentes avaliados.

Proteína

O teores de proteína do leite e do queijo foram determinados pelo método Kjeldahl, de acordo com a metodologia descrita pela AOAC [4].

Extrato seco total (EST)

O EST do leite e do queijo foi determinado pela seguinte relação:

% EST = 100 - % Umidade.

Cinzas

Os teores de cinzas do leite e do queijo foram analisadas de acordo com a metodologia descrita pela AOAC [4], que fundamenta-se na perda que ocorre quando o produto é incinerado a 500 - 550º C, com destruição da matéria orgânica.

Cálcio

Os teores de cálcio no leite e de queijo foram analisadas em extratos obtidos mediante digestão nitroperclórica e leitura em espectrofotômetro de absorção atômica [28].

2.4 – Análise sensorial

Condições do teste

As amostras foram servidas à temperatura ambiente em quantidades em torno de 20 gramas, as amostras foram codificadas com um número de 3 dígitos e a ordem de apresentação foi aleatória.

Os testes foram realizados no Laboratório de Análise Sensorial da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA/UNICAMP) em cabines individuais, utilizando-se luz branca. Os horários dos testes foram pela manhã entre às 9:00 e 12:00 horas e a tarde das14:00 as 17:00 horas.

Teste de aceitabilidade

O teste de aceitabilidade foi realizado com os queijos elaborados no 3º processamento. Foram utilizados 50 provadores não treinados, 32 mulheres e 18 homens, de idades variáveis de 20 a 45 anos, alunos, professores e funcionários da FEA. Cada provador avaliou as duas amostras. Foi utilizada uma escala hedônica estruturada de 9cm. A Figura 1 mostra a ficha utilizada no teste de aceitabilidade.


2.5 – Rendimento

A eficiência de cada processamento foi avaliada mediante a relação do volume inicial do leite utilizado na fabricação e o peso de queijo obtido.

2.6 – Análise estatística

Com os dados obtidos das medidas químicas foram realizadas análises de variância utilizando o SAS [29]. Para a comparação das médias foi utilizado o teste de Tukey ao nível de significância de 5% [23]. Para a análise estatística dos dados do teste de aceitabilidade dos queijos foi realizada análise de variância de 2 fatores (amostra e provador) e cálculo de médias.

3 — RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 – Testes preliminares

3.1.1 – Determinação da quantidade de ácido cítrico para o método de acidificação direta

A técnica de acidificação direta envolve algumas modificações na tecnologia tradicional. A Figura 2 mostra que a quantidade de ácido cítrico necessária para acidificar 1 litro de leite de búfala entre pH 5,0 a 5,1 foi entre 12 a 13mL de ácido cítrico para 1 litro de leite, dependendo da acidez inicial do leite.


Esta determinação é muito importante, pois a quantidade a ser utilizada é variável uma vez que está diretamente relacionada ao pH inicial do leite.

3.1.2 – Determinação da quantidade de coalho

Foi determinada a quantidade de coalho a ser utilizada para a coagulação do leite, e os resultados mostraram que a quantidade indicada para coagulação em aproximadamente 5 minutos, foi 5mL de coalho em 100 litros de leite para o método da acidificação direta, enquanto que no método tradicional foram necessários 10mL de coalho por 100 litros de leite para a coagulação em 40 minutos. QUARNE et al [24] reduziram praticamente pela metade a quantidade de coalho utilizada no método da acidificação direta e RATCLIFF [25] utilizou 50 a 75% da quantidade necessária de coalho para a coagulação do leite.

3.2 – Processamento dos queijos

3.2.1 – Características físicas e químicas da matéria-prima

De acordo com os resultados obtidos o leite não apresentou diferenças de pH e acidez entre as coletas. Observa-se que o pH do leite de búfala possui valores semelhantes ao do leite de vaca, enquanto que a acidez em oD é maior para o leite de búfala. Este fato está relacionado com o elevado teor de caseína no leite de búfala, que produz um efeito tampão na titulação acidimétrica, ocasionando elevação no valor de acidez do leite [15].

De acordo com a Tabela 2, o leite utilizado para a elaboração dos queijos de cada processamento não apresentou diferenças significativas. De acordo com FURTADO [14], a composição química do leite de búfala varia principalmente no período de junho a outubro, devido a época de lactação. Portanto, era esperado que não se encontrasse variações nestes valores, já que o leite utilizado foi dos meses de abril, maio e junho. Resultados semelhantes para a composição do leite de búfala foram obtidos por outros autores [12, 13, 16, 35], que encontraram valores entre 3,90 a 4,50% para proteína, 7,40 a 9,60% para gordura, 3,30 a 5,90% para lactose, 16,00 a 17,00% para sólidos totais, 0,70 a 0,85% para cinzas e 1,80 a 1,88% para cálcio.

3.2.2 – Coagulação e corte

A coagulação na técnica da acidificação direta é muito rápida, ocorrendo num tempo de até 10 minutos, enquanto que no método tradicional ocorre entre 40 a 60 minutos, dependendo entre outros fatores, do tipo de coalho utilizado. O tempo necessário para alcançar o ponto de corte da massa nestes experimentos para o método de acidificação direta foi em torno de 5 minutos. QUARNE et al [24], DEMOTT [11] e VALLE [33] trabalhando com queijo Mozarela fabricado com leite de vaca, pelo método de acidificação direta, cortaram a coalhada num espaço de tempo entre 3 a 10 minutos.

Após o corte da coalhada observou-se que a coagulação da massa pelo método tradicional eram mais firmes do que elaborado pela acidificação direta. De acordo com WEBER [36], esses resultados podem ser explicados pelo fato de que nos queijos elaborados pela acidificação direta a estrutura micelar é destruída e o coágulo é formado de partículas de caseína pequenas e desmineralizadas, que não tem propriedades de dessoragem em função da sua excessiva desmineralização. Com a ausência do cálcio e formação de ligações fracas, forma-se um coágulo gelatinoso que tende a fragmentar-se mais e contrair-se menos. Para JENNES & PATTON [18] a adição de ácidos pode alterar o processo de coagulação.

3.2.3 – Fermentação da massa no método tradicional

Nos experimentos realizados pelo método tradicional, a fermentação da massa ocorreu num período de 4 a 5 horas, mantendo-se a temperatura de 34o C(±2). O pH utilizado neste trabalho foi entre 5,0 a 5,2. A evolução do pH e acidez da massa pelo método tradicional são representadas na Figura 3. Nesta, observa-se um aumento progressivo da produção de ácido láctico e uma diminuição do pH da coalhada, atingindo-se o ponto de filagem da massa entre 4 a 5 horas.


De acordo com ALTIERO et al [3], o pH ideal da coalhada é da ordem de 5,2 e a coalhada não suficientemente acidificada apresenta-se pouco elástica e rompe-se à tração quando submetida à operação da filagem. No mesmo trabalho os autores relataram que o pH ideal para a filagem do queijo Mozarela de leite de búfala está em torno de 4,82, pois promove maiores níveis de rendimento. ADDEO & COPPOLA [1] trabalhando com Mozarela de leite de búfala, relataram que no pH mais próximo do ponto isoelétrico da caseína, a coalhada se torna mais firme e consequentemente ocorre menor perda de gordura da massa.

No método tradicional de fabricação do queijo Mozarela a fermentação propicia as condições necessárias para a filagem, alcançando-se níveis adequados de desmineralização da massa, ou seja, a formação do paracaseínato monocálcico [9].

3.2.4 – Tempo de fabricação dos queijos

A Tabela 3 mostra o tempo aproximado para a fabricação dos queijos. Pode-se observar que as durações das etapas de coagulação e fermentação são as que se diferenciam em ambos os métodos. Observa-se que o tempo de coagulação diminuiu de 45 a 60 minutos no método tradicional para 5 minutos no da acidificação direta e a etapa de fermentação, que durou 4 horas no método tradicional, não é necessária na acidificação direta.

A fermentação é uma etapa praticamente inexistente na técnica de acidificação direta, pois o abaixamento do pH é causado pela adição de ácidos. De acordo com BALARIN [7], a adição de ácidos no leite coagula a caseína devido ao aumento da concentração de íons de H+, liberando sais de cálcio e ao perder sua afinidade pela água não encontra-se mais estabilizada no meio dispersante.

Com a diminuição do tempo de coagulação e ausência da etapa de fermentação no método de acidificação direta, observa-se uma redução de 8 para 3 horas, ou seja, aproximadamente 60% do tempo utilizado no método tradicional. Vários pesquisadores trabalhando com acidificação direta em queijo Mozarela obtiveram resultados semelhantes [5, 6, 10, 21, 22, 27, 32]. VALLE, [33] relatou uma redução de 3 a 4 horas em relação ao processamento tradicional.

3.2.5 – Composição química dos queijos

As Tabelas 4 e 5 mostram os resultados das análises químicas dos queijos elaborados pelos métodos tradicional e da acidificação direta nos 3 processamentos.

De acordo com as Tabelas 4 e 5 os resultados para as repetições (3 processamentos) dos queijos obtidos pelos métodos tradicional e da acidificação direta mostraram que, com exceção das cinzas, os outros componentes apresentaram diferenças significativas. Estas diferenças entre as repetições dos processamentos estão sujeitas a ocorrer, pois podem estar diretamente relacionadas com algumas etapas de fabricação dos queijos como o corte, agitação, dessoragem e momento da filagem, que não se repetem com precisão na elaboração dos queijos. Por outro lado, essas diferenças podem ser consideradas pequenas, já que o coeficiente de variação são muito baixos.

De acordo com VALLE [33], principalmente as etapas de agitação, aquecimento e manuseio da coalhada podem acarretar alterações na composição e qualidade dos queijos. No método da acidificação direta, a adição do ácido deve ser de maneira rápida e homogênea, pois pode acarretar prejuízos na qualidade do produto final, como a floculação da proteína e retenção excessiva de umidade. SAMPAIO et al [27] relata que a adição de ácido deve ser sob agitação para evitar superacidificação localizada.

Os resultados para gordura, proteína, sólidos totais, umidade, cinzas e cálcio para o método tradicional estão similares aos citados por vários autores [1, 3, 8, 26, 32, 34].

Na Tabela 6 observa-se diferenças significativas entre os dois métodos de processamento. Foi observado maior nível de umidade no queijo Mozarela elaborado pela acidificação direta e consequentemente um maior teor de sólidos totais no processo tradicional. Estes resultados também são confirmados nos testes sensoriais descritivos que levantaram atributos relativos a umidade. Também, observou-se diferenças para os resultados de proteína com valores mais baixos para o método da acidificação direta, o que pode ser explicado pela sua maior perda nesse método, devido a fragilidade do coágulo. Considerando-se o teor de proteína no extrato seco total, o seu nível também foi menor para o queijo elaborado pela acidificação direta (40,50%), que para o elaborado pelo método tradicional (43,82%). Porém, não apresentaram diferenças para os níveis de gordura, cinzas e cálcio. Os resultados para o cálcio estão de acordo com SHEHATA [30], que relatou que a acidificação direta em queijos não afeta os níveis de cálcio.

VALLE [33] destaca que o teor de sólidos totais dos queijos pode ser influenciado por vários fatores como temperatura de coagulação, corte e temperatura e velocidade de aquecimento. No presente trabalho observou-se que o corte da coalhada no método de acidificação direta apresentou maior resistência a ação das liras. Estas observações também foram relatadas por VALLE [33] que justifica esta resistência devido ao aumento da viscosidade da coalhada com a adição do ácido.

O pH de ambos os tipos de queijos ficou em torno de 5,0 a 5,1. HAGRASS et al [17] avaliando o efeito da acidificação direta na composição química, não encontraram diferenças significativas entre as duas técnicas nos parâmetros de acidez, sal e nitrogênio total, porém encontraram menores teores de gordura quando a acidificação direta foi empregada. Portanto, os resultados encontrados no presente trabalho concordam com os desses autores, com relação a acidez, discordando, porém com relação a proteína e gordura.

3.3 – Rendimento

De acordo com os resultados obtidos e apresentados na Tabela 7, o queijo Mozarela elaborado pelo método de acidificação direta apresentou rendimento sensivelmente maior em relação ao método tradicional. Este maior rendimento foi devido ao maior teor de umidade presente neste queijo, resultado também obtido por QUARNE et al [24]. No entanto avaliando-se o rendimento descontando-se a umidade, ou seja, em base seca, observa-se que os processamentos obteve rendimento equivalente.

3.4 – Teste de aceitabilidade

As médias das notas obtidas por cada amostra podem ser observadas na Tabela 8 e pode-se verificar que não houve diferença significativa entre as amostras testadas.

4 — CONCLUSÕES

- A composição química do leite para elaboração dos queijos não apresentou diferenças entre os processamentos.

- Houve diferenças entre os dois tipos de processamentos, maior umidade para o queijo Mozarela elaborado pela acidificação direta e conseqüêntemente maior teor de sólidos totais para o elaborado pelo método tradicional. O queijo tradicional também apresentou maior nível de proteína. Porém, não apresentou diferenças para os níveis de gordura, cinzas e cálcio.

- As etapas de coagulação e fermentação foram as que diferiram do método de acidificação direta para o tradicional. Com a diminuição do tempo de coagulação de 50 minutos para 5 minutos e ausência da etapa de fermentação no método de acidificação direta, que durou cerca de 4 horas no método tradicional, observou-se uma redução de aproximadamente 60% do tempo de produção.

- Os rendimentos obtidos para o queijo Mozarela elaborado pelo método da acidificação direta foram maiores que os obtidos no tradicional, em torno de 18,00 e 17,30%, respectivamente, porém quando avaliou-se o em base seca, observa-se que os processamentos obteve rendimento equivalente.

- Não houve diferença significativa na aceitabilidade das amostras, com médias 6,68 e 6,26 para o método de acidificação direta e método tradicional, respectivamente.

5 — REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2 Departamento de Nutrição e Dietética - Faculdade de Nutrição/UFF - Rua São Paulo, 30 - 4o andar - Campus Valonguinho - Centro - Niterói - RJ CEP 24105-110.

3 Instituto de Agroquímica y Tecnologia de Alimentos - CSIC - Valência - Espanha.

4 Instituto de Tecnologia de Alimentos - ITAL - Campinas - SP.

5 ESALQ / USP.

* A quem a correspondência deve ser enviada.

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    Recebido para publicação em 12/12/97. Aceito para publicação em 10/10/00.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Abr 2001
    • Data do Fascículo
      Ago 2000

    Histórico

    • Aceito
      10 Out 2000
    • Recebido
      12 Dez 1997
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