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“Em Defesa da Humanidade”: A Associação Cultural do Negro

“In Defense of Humanity”: The Black Cultural Association

“En Défense de l’Humanité”: L’Association Culturelle du Noir

“En Defensa de la Humanidad”: La Asociación Cultural del Negro

RESUMO

O objetivo deste artigo é analisar a trajetória histórica da Associação Cultural do Negro, fundada em São Paulo em 1954. Serão discutidas suas formas de organização, luta e interlocução na arena nacional e internacional. A agremiação é abordada especialmente à luz de seu papel na rede afro-atlântica, uma dinâmica de rede de conexões político-culturais na qual os africanos e seus descendentes do Mundo Atlântico estabeleceram contatos e interligações, trocaram informações e experiências, discutiram ideias e projetos emancipatórios, influenciando uns aos outros.

diáspora africana; diálogos atlânticos; raça; afro-americano; negro

ABSTRACT

The aim of this article is to analyze the historical trajectory of the Associação Cultural do Negro [Black Cultural Association] founded in São Paulo in 1954. To do so, we discuss its methods of organization, struggle, and dialogue within the national and international arena, with a particular focus on its role in the Afro-Atlantic network, a dynamic mesh of political-cultural connections in which Africans and their descendants on either side of the Atlantic established contacts and interconnections, exchanged information and experiences, and discussed ideas and projects on emancipation, influencing one another.

African diaspora; Atlantic dialogues; race; Afro-American; black

RÉSUMÉ

L’objectif de cet article est d’analyser la trajectoire historique de l’Association culturelle du Noir, fondée à São Paulo en 1954. On discutera de ses formes d’organisation, de lutte et d’interlocution sur la scène nationale et internationale. On abordera particulièrement cette association à la lumière de son rôle dans le réseau afro-atlantique, à savoir une dynamique de connexions politico-culturelles au sein de laquelle les Africains et leurs descendants du Monde atlantique ont pu établir des contacts et des liens, échanger des informations et des expériences, débattre d’idées et de projets émancipateurs, dans le cadre d’une influence mutuelle.

diaspora africaine; dialogues atlantiques; race; afro-américain; Noir

RESUMEN

El objetivo de este artículo es analizar la trayectoria histórica de la Associação Cultural do Negro, fundada en São Paulo en 1954. Se discuten sus formas de organización, su lucha y su interlocución en el escenario nacional e internacional. El asociacionismo es abordado especialmente a la luz de su papel en la red afroatlántica, una dinámica de red de conexiones político-culturales dentro de la cual los africanos y sus descendientes del mundo atlántico establecieron contactos e interconexiones, intercambiaron información y experiencias, y debatieron ideas y proyectos emancipadores, influyéndose unos a otros.

diáspora africana; diálogos atlânticos; raza; afroamericano; negro

Em 1954, José de Assis Barbosa, conhecido por Borba, encontrou-se por acaso com seu antigo amigo José Correia Leite no centro de São Paulo. Entre cumprimentos e salamaleques, resolveram colocar a conversa em dia e, como cidadãos bem informados, falaram sobre um assunto que mobilizara a opinião pública: as comemorações do quarto centenário da cidade de São Paulo. Os eventos foram aparatosos, havendo muitas homenagens às diversas “colônias” de imigrantes europeus (italianos, espanhóis e portugueses, sobretudo). Tidos como os responsáveis pelo desenvolvimento, progresso e modernização de São Paulo, tais imigrantes e seus descendentes foram rememorados, celebrados e festejados aos píncaros, ao passo que a contribuição do negro não foi devidamente reconhecida na efeméride. Segundo Correia Leite, isso aconteceu porque não havia uma entidade organizada para tratar dessa questão. Foi quando, ainda inconformado, ele se deparou com Borba, que lançou a ideia de criar uma entidade de “propaganda em defesa dos valores negros” (Leite, 1992:163)1 1 . Sobre as comemorações do quarto centenário da cidade de São Paulo e a problemática incorporação dos negros à efeméride, ver a pesquisa de Barbara Weinstein. The color of modernity: São Paulo and the making of race and nation in Brazil. Durham and London: Duke University, 2015, particularmente o capítulo “Exhibiting exceptionalism: history at the IV Centenário”, pp. 267-295. .

Para ambos, o associativismo não era nenhuma novidade. Borba, quando jovem, na década de 1920, era atleta e participou de vários clubes de futebol formados apenas por “homens de cor”, como se dizia na época. Simultaneamente, fez parte do quadro de associados do Centro Cívico Palmares (1926-1929), colaborou com o jornal da imprensa negra O Clarim da Alvorada e, mais tarde, foi um dos fundadores do Clube Negro de Cultura Social (1932-1938)2 2 . “Uma lição do tempo”. O Novo Horizonte. São Paulo, 09/1954, p. 2. . José Correia Leite, por sua vez, criou, em conjunto com Jaime de Aguiar, O Clarim da Alvorada, em 1924. Sete anos depois, enfronhou-se no movimento que resultou na edificação da Frente Negra Brasileira, considerada a mais importante agremiação afro-brasileira da primeira metade do século XX. Porém, por divergências político-ideológicas, afastou-se dela logo na fase inicial. A partir daí contribuiu no soerguimento do Clube Negro de Cultura Social e, na década de 1940, na formação da Associação dos Negros Brasileiros. Portanto, por ocasião daquele fatídico encontro, Borba e Correia Leite já acumulavam a experiência de décadas no associativismo afro-paulista. Lançada a ideia, o primeiro iniciou uma campanha de mobilização racial. Conversas, reuniões informais e troca de ideias com “patrícios” daqui ou dacolá produziram adesões em escala crescente, até que a campanha adquiriu o mínimo de densidade. Então uma assembleia geral foi convocada.

Na noite quente de 28 de dezembro de 1954, às 21h00, reuniram-se vinte três homens e duas mulheres num salão da rua Augusta, no 179, na capital paulista. Todos eram de “cor”3 3 . Eis os nomes das pessoas listadas na ata da reunião de fundação da Associação Cultural do Negro: José Assis Barbosa, Manassés de Oliveira, Roque Antônio dos Santos, Oscar Guaranha, Maria Helena Lucas Barboza, José Ignácio do Rosário, José Francisco, Mary de Oliveira, Mário da Silva Júnior, Adolfo Anicetto dos Santos, Eduardo Francisco dos Santos, Marcos Maurício, Geraldo Campos de Oliveira, Geraldo Pereira de Carvalho, Ary Menezes, Geraldo de Oliveira, Jorge Chagas, Américo dos Santos, Bendito Pereira, Júlio de Brito, Dácio de Castro, Israel de Castro, José Correia Leite, Euzébio Augusto de Oliveira e Adélio Alves de Silveira. . Envoltos num clima de ansiedade e incertezas, eles evitaram fazer qualquer prognóstico. A assembleia foi presidida por Manassés de Oliveira e secretariada por Maria Helena Lucas Barbosa. Na pauta, questões organizativas. Depois de Oscar Guaranha fazer uma exposição dos motivos da reunião, “de acordo com a ideia inicial dos convocantes”, foi deliberado por unanimidade a fundação de uma sociedade “destinada a congregar as pessoas interessadas no movimento […] que tivesse por finalidade fundamental a desmarginalização e recuperação social de todos os elementos que vivem em situação marginal, principalmente o elemento negro brasileiro”. Oscar Guaranha sugeriu que a entidade se denominasse “Associação Cultural do Negro, o que foi aprovado unanimemente”4 4 . Acervo da Unidade Especial de Informação e Memória da Universidade Federal de São Carlos (Ueim-UFSCar). Coleção Associação Cultural do Negro (ACN). Pasta 07 (Conselho Superior – Assembleia – Estatuto). Ata da reunião de fundação da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 28/12/1954. . Já ao término da assembleia, o clima era de entusiasmo e otimismo. Um novo movimento de promoção dos interesses dos afro-brasileiros se constituía.

O objetivo deste artigo é analisar as formas de associativismo, mobilização racial e perspectivas internacionalistas no pós-guerra. A partir da experiência da Associação Cultural do Negro (ACN), com seus emaranhados de interlocuções plasmadas na arena nacional e transnacional, é possível avaliar formas de atuação e os sentidos do protesto negro num contexto subexplorado pelas pesquisas acadêmicas. Sugerimos que a ACN engendrou novas expectativas de conexões afro-atlânticas, na dimensão das redes político-culturais nas quais os africanos e seus descendentes na diáspora atlântica estabelecem contatos, trocam informações e discutem ideias emancipatórias enfeixados no movimento dialógico do pensamento social envolvente. Para além de espaço de produção, recepção e circulação de retóricas raciais, a ACN constituiu-se em importante polo na linha de reivindicações e denúncias das restrições dos direitos dos negros. Na medida em que articulou políticas raciais multilaterais, forjou diálogos “glocais” e realocou narrativas geopolíticas de igualdade no Brasil, sua trajetória distinguiu-se pela perspectiva transnacional afro-diaspórica5 5 . Para o conceito de diáspora associado à rede afro-atlântica, com seus sentidos e significados inclusive nas políticas raciais, ver Kim Butler (2001), Sérgio Costa (2006), Brent Edwards (2001), Paul Gilroy (2001), Stuart Hall (2003), Robin Kelley e Tiffany Patterson (2000), Marilise Reis (2010) e Khachig Tölölyan (1996). Quanto ao conceito de “glocal” – interpretações locais da globalização negra, ver Livio Sansone (2003). .

O estudo da ACN pode se revelar útil para o entendimento mais amplo das formas de associativismo, especialmente devido ao seu rico acervo institucional (hoje sob a guarda da Universidade Federal de São Carlos). Sobre a ACN, há dezenas e dezenas de panfletos, boletins, atas, relatórios anuais, ofícios, notas jornalísticas, correspondências administrativas, fichas cadastrais, entre outros documentos que possibilitam entender a sua vida institucional, incluindo sua organização, seus projetos e sua dinâmica de funcionamento, sem falar nos direcionamentos, impasses e desafios.

A agremiação nasceu no período da história do Brasil conhecido por Segunda República (1945-1964) ou tempo da experiência democrática. Com a destituição de Getúlio Vargas do poder, chegou ao fim a ditadura chamada de Estado Novo. Uma atmosfera de euforia tomou conta do país, tendo em vista o restabelecimento da democracia. Em 1945, houve eleições e, no ano seguinte, foi promulgada uma nova Constituição. Tempos de nacionalismo, de desenvolvimentismo, da entrada em cena de novos personagens, com grandes mobilizações populares e lutas por ampliação de direitos alimentando esperanças e sonhos de um Brasil mais justo, fraterno e igualitário (Neves, 2001NEVES, Lucília de Almeida. (2001), “Trabalhismo, Nacionalismo e Desenvolvimentismo”, in J. Ferreira (org.), O Populismo e sua História: Debate e Crítica. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, pp. 167-203.; Negro, Silva, 2003NEGRO, Antonio Luigi; SILVA, Fernando Teixeira. (2003), “Trabalhadores, Sindicatos e Política (1945-1964)”, in J. Ferreira; L. A. Neves Delgado (orgs.), O Brasil Republicano: O Tempo da Experiência Democrática da Democratização de 1945 ao Golpe Civil-militar de 1964. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, pp. 47-96.; Gomes, 2012GOMES, Angela de Castro. (2012), “As Marcas do Período”, in A. de Castro Gomes (org.), História do Brasil Nação. Rio de Janeiro, Objetiva, pp. 23-39, vol. 4 (Olhando para Dentro 1930-1964).). No que diz respeito a São Paulo – visto como a locomotiva que puxava os vagões dos outros estados da Federação –, o estado atravessou significativas transformações sociais, culturais e econômicas. O ritmo acelerado de desenvolvimento industrial, de urbanização, de crescimento da classe trabalhadora, dos setores médios e de expansão do sistema educacional possibilitaram novas perspectivas na vida dos negros, mas nada que fosse tão animador. Estes continuavam levando desvantagens em relação aos brancos no mercado de trabalho, nas posições de prestígio, renda e poder, na rede de lazer e prestação de serviços, na estrutura educacional, no sistema político, no imaginário coletivo, em suma, na vida pública6 6 . Sobre as desvantagens dos negros frente aos brancos e as relações raciais em São Paulo nesse período, ver George Andrews (1998:243-281), Roger Bastide (1959), Virgínia Bicudo (1945), Harley Hammond (1963), Richard Morse (1953), Oracy Nogueira (1942) e Edgard Santana (1951). . Foi nesse cenário que emergiu a Associação Cultural do Negro. Antes, porém, de perscrutá-la, cabe uma observação.

Na maior parte das pesquisas acerca da Segunda República, questões como cidadania, embates por direitos, participação democrática, formas de associativismo, partidos políticos, sindicatos, greves e ideias nacionalistas e internacionalistas dialogaram pouco com as experiências e expectativas da população negra. Relegar essa temática para o campo de estudo das relações raciais tendeu a generalizar, quando não encapsular, os significados que os atores da história conferiram a suas ações coletivas, estratégias mobilizadoras, lógicas discursivas, formas intelectuais e publicações. Não obstante, recentemente tem ganhado força um interesse acadêmico renovado pela história da população negra, não só nas dimensões africanas e da escravidão, mas sobretudo nas do pós-abolição. Novos personagens, vozes, contextos, eventos, agrupamentos e movimentos vieram à tona.

Apesar dos inegáveis avanços, os pesquisadores têm negligenciado ou não conferem a devida atenção à mobilização racial no tempo da experiência democrática.7 7 . Uma das exceções é a pesquisa de Edilza Sotero (2015). Não é de estranhar, nesse sentido, os escassos trabalhos acadêmicos sobre a Associação Cultural do Negro, mesmo aqueles dedicados às relações raciais. Em texto de 1980 sobre as organizações negras de São Paulo, Clóvis Moura reservou um pouco mais de duas laudas à agremiação (Moura, 1980MOURA, Clóvis. (1980), “Organizações Negras”, in P. Singer; V. Caldeira Brant (orgs.), São Paulo: O Povo em Movimento. Petrópolis, Vozes; São Paulo, Cebrap, pp. 143-175.:157-159). Posteriormente, ela foi abordada de forma superficial ou secundária por Regina Pahin Pinto (1993PINTO, Regina Pahim. (1993), O Movimento Negro em São Paulo: Luta e Identidade. Tese (Doutorado em Antropologia), Universidade de São Paulo, São Paulo.:354), Maria Aparecida Pinto Silva (1997SILVA, Maria Aparecida Pinto. (1997), Visibilidade e Respeitabilidade: Memória e Luta dos Negros nas Associações Culturais e Recreativas de São Paulo (1930-1968). Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais), Pontifícia Universidade Católica, São Paulo.:134-142), Maria Angélica Motta Maués (1997MAUÉS, Maria Angélica Motta. (1997), Negro sobre Negro: A Questão Racial no Pensamento das Elites Negras Brasileiras. Tese (Doutorado em Sociologia), Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.:140), George Reid Andrews (1998ANDREWS, George Reid. (1998), Negros e Brancos em São Paulo (1888-1988). Bauru, Edusc.:294-295), Michael George Hanchard e Paulina Alberto. A postura destes dois últimos brazilianists, aliás, é emblemática. A pesquisa de Hanchard tem a pretensão de apreender o movimento negro brasileiro no Rio de Janeiro e em São Paulo de 1945 a 1988. Entretanto, nela, a Associação Cultural do Negro é lembrada em duas linhas (Hanchard, 2001HANCHARD, Michael. (2001), Orfeu e o Poder: Movimento Negro no Rio de Janeiro e São Paulo (1945-1988). Rio de Janeiro, EdUERJ.:131). Problema similar ocorre com o trabalho de Alberto, que, ao examinar como os ativistas e intelectuais negros de três cidades brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador) lidaram com a “democracia racial”, faz menções apenas perfunctórias à Associação Cultural do Negro (Alberto, 2001:234,249,289)8 8 . Do ponto de vista acadêmico, o quadro de negligência em relação à Associação Cultural do Negro tem apresentado sinais de mudança. Uma nova geração de pesquisadores tem envidado esforços para tirar a agremiação do limbo. Os primeiros trabalhos dedicados exclusivamente a ela são de Petrônio Domingues (2007, 2010), que foi acompanhado por Mário Augusto Medeiros da Silva (2012). .

Se é verdade que a mobilização racial no tempo da experiência democrática tem sido negligenciada, em contrapartida, discorre-se muito sobre a trajetória da Frente Negra Brasileira (FNB), na década de 1930, e sobre o Movimento Negro Brasileiro (MNU), nascido no final da década de 19709 9 . Andreas Hofbauer examina as visões e estratégias dos movimentos sociais afro-brasileiros, endossando a assertiva segundo a qual houve uma espécie de hiato na luta antirracista entre a Frente Negra Brasileira (1931-1937) e o Movimento Negro Unificado (fundado em 1978): “O Estado Novo desarticularia todos os movimentos políticos, principalmente os de base popular. Logo depois do final da era Vargas, houve alguns esforços de grupos isolados para fundar novas revistas (por exemplo, Senzala [1946], Niger [1959-1960], Ébano [1961]) e novas entidades políticas negras locais (por exemplo: Associação Cultural do Negro [1954]). Findo o breve interlúdio democrático, o nascente regime militar tampouco facilitou a formação de agremiações com objetivos políticos. Seria preciso aguardar até o fim da década de 1970 para que surgisse uma nova tentativa de unir as forças políticas negras em outra organização supra-regional” (Hofbauer, 2006:370). Henrique Cunha Junior vai mais longe, postulando que, de 1945 em diante, “os movimentos negros caminham para uma aparente extinção, entrando na década de sessenta com o menor índice de participação encontrado em toda sua história” (Cunha Júnior, 1992:76). . Isso significa dizer que, nesse ínterim – entre o sepultamento da FNB e o nascimento do MNU –, os afro-brasileiros pouco envergaram suas demandas no campo dos direitos e da cidadania? Em outros termos: 1950 e 1960 foram realmente “décadas perdidas” de mobilização racial? Vamos aos fatos.

O ESTRIBAR

A Associação Cultural do Negro iniciou suas atividades em 1955, depois da aprovação e registro do seu estatuto em cartório. No primeiro artigo do documento, ficava estabelecido que a associação adotaria uma sigla com as letras iniciais do nome – ACN, sendo uma sociedade civil, com a “finalidade de propugnar pela recuperação social do elemento afro-brasileiro”. O segundo artigo definia que todos os cidadãos brasileiros, “em pleno gozo dos seus direitos civis”, poderiam ingressar no “Quadro Social”, sem distinção de “raça, cor, credo político, religioso ou filosófico”10 10 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 07 (Conselho Superior – Assembleia – Estatuto). Estatuto Social da Associação Cultural do Negro, fl. 1. São Paulo, 01/02/1955. . De fato, o estatuto da agremiação não proibia que pessoas não negras compusessem seu quadro de associados: a filiação e participação da historiadora Paula Beiguelman, do jornalista Henrique L. Alves e do empresário José Mindlin são exemplos disso. A primeira sede social da ACN foi instalada na Praça Carlos Gomes, 153, 3o andar – conjunto 31, bem no centro de São Paulo. Do ponto de vista administrativo, a associação tinha uma estrutura centralizada, reunindo dois órgãos diretivos. Um Conselho Superior, composto pelos “elementos que mais se destacarem nas atividades associativas”, e uma Diretoria Executiva, responsável pela efetiva administração da associação e sua representação legal. Com sete membros escolhidos entre os componentes do Conselho Superior, a Diretoria Executiva era formada pelos cargos de presidente, vice-presidente, secretário-geral, 1o e 2o secretários, 1o e 2o tesoureiros11 11 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 07 (Conselho Superior – Assembleia – Estatuto). Estatuto Social da Associação Cultural do Negro, fl. 2. São Paulo, 01/02/1955. .

Ao longo de sua existência, a ACN convocou várias reuniões e assembleias do Conselho Superior12 12 . Em 1959, o relatório da secretaria da ACN informava que o Conselho Superior da agremiação havia até então convocado oito assembleias gerais e realizado trinta e sete reuniões ordinárias e trinta e uma extraordinárias. Quatorze reuniões não se realizaram por falta de quórum ou por outro motivo qualquer, “totalizando oitenta e duas convocações”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório Extraordinário da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 21/12/1959. e acomodou relativa alternância em seus quadros dirigentes. O sócio-fundador José de Assis Barbosa foi eleito seu primeiro presidente. Sua gestão – caracterizada pelo trabalho de estruturação burocrática, desenvolvimento de um programa de atividades e arregimentação de novos associados – foi acompanhada pela de outras lideranças13 13 . A gestão de José de Assis Barbosa levou pouco tempo, já que em 1956 ele foi substituído por Geraldo Campos de Oliveira, que, por sua vez, presidiu a agremiação até 1960, após ter solicitado demissão do cargo. Quem assumiu interinamente foi José Correia Leite. No início de 1961, Adélio Alves da Silveira tomou posse do cargo de presidente da Diretoria Executiva, mas pediu demissão em 1963, tendo Henrique Antunes Cunha assumido a “junta governativa provisória”, com mandato de 18 meses. Um ofício confirmava que Henrique Antunes Cunha era o presidente da agremiação. Dois anos depois, este foi substituído por Antonio Salvador de Oliveira, por aclamação. . No tocante às finanças, a agremiação era mantida com recursos advindos mormente da mensalidade dos associados. Com o tempo, as doações constituíram outra importante fonte de recursos. Todo “aceneano” – este era o epíteto dado às pessoas que pertenciam à ACN – ganhava uma “carteira social” como membro associado (contendo os dados pessoais e uma foto 3x4) e uma cópia do estatuto, para se certificar de seus direitos e deveres. Todo o trabalho social realizado em prol da associação era voluntário, pois imperava o ideal de “recuperação social do elemento afro-brasileiro”. Até aqueles que ocupavam cargos diretivos – como foi o caso de José de Assis Barbosa, José Correia Leite, Geraldo Campos de Oliveira e Henrique Antunes Cunha – conciliavam suas carreiras profissionais com as atividades ligadas à ACN.

É difícil dimensionar o número exato de associados. Com efeito, as informações disponíveis – ainda que fragmentadas – permitem traçar algumas estimativas. Segundo o relatório da Secretaria do Conselho Superior de 1956, teriam sido encontradas “850 fichas de associados” na sede social14 14 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 03/12/1956. . De acordo com um comunicado remetido ao Conselho Superior, existiam 527 associados inscritos em 1o de setembro de 1957. De 1o de setembro de 1957 a 31 de julho do ano seguinte, 235 sócios de inscreveram, totalizando, assim, um número de 762 associados até 31 de julho de 195815 15 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Comunicado de Geraldo Campos de Oliveira (presidente da Diretoria Executiva) ao Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 30/08/1958. . Também não é tarefa fácil aquilatar o grau de aceitação da associação no meio afro-paulista. De todo modo, foi possível encontrar uma carta na qual Hélcio Lacerda dirigia-se aos “Exmos. Senhores Diretores da Associação Cultural do Negro”, declarando que lia sempre as notícias atinentes à “magnífica” associação. Em razão disso, “gostaria que fosse aceito sócio, pois o serviço que [a ACN] presta pelas causas do negro do Brasil é grande”. Declarava ainda ser “de cor” e que, residindo na cidade de Jaboticabal (SP), poderia difundir em “muito a causa e os assuntos” relacionados à associação16 16 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 19 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de Hélcio Lacerda, de Jaboticabal, aos Exmos. Senhores Diretores da Associação Cultural do Negro, em 18/02/1965. .

Para facilitar a administração e a execução de alguns projetos, a ACN estruturava-se em departamentos. Em fevereiro de 1956, seu Conselho Superior aprovou a criação dos departamentos de “Educação e Cultura”, de “Propaganda e Arregimentação”, de “Relações”, de “Recreação e Esportes”, de “Finanças” e “Feminino”17 17 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 3 (Conselho Superior – Correspondência). Comunicado do Conselho Superior da ACN à Diretoria Executiva. São Paulo, 21/02/1956. . Apesar disso, apenas dois departamentos estavam em atividade em dezembro daquele ano: o de “Recreação e Esportes” e o “Feminino”18 18 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 03/12/1956. . O primeiro era o responsável por proporcionar aos associados os programas de lazer – como festas, bailes e convescotes – e as práticas desportivas – como “bola ao cesto” (basquete), voleibol e “pedestrianismo” (atletismo)19 19 . Ver, entre outras fontes, “Associação Cultural do Negro deu show de basquetebol em Jundiaí”. A Gazeta Esportiva. São Paulo, 28/05/1961; “Atletas destacados em ação na pista do Tietê; afigura-se como das mais interessantes a competição entre a Fupes, Associação Cultural do Negro e a Colônia Japonesa”. Diário Popular. São Paulo, 06/05/1961; “Associação Cultural do negro coroou Rainha do Esporte com grande baile no Palácio Mauá”. Última Hora. São Paulo, 07/06/1961. . Já o segundo, que reunia as mulheres da associação, encarregava-se da organização de “festividades”, da ornamentação da sede, dos serviços de limpeza etc. Os demais departamentos não funcionavam por “falta de elementos capacitados para este mister”20 20 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 03/12/1956. . Em 1958, houve uma reforma na estrutura da associação, sendo aprovada a implantação da “Comissão de Recreação” e dos departamentos “Feminino”, de “Esporte”, de “Cultura” e “Estudantil”21 21 . Em 1958, também foi formado o Departamento da Sede Própria. Seu período de vida, porém, foi efêmero, pois, em 1961, houve a sua extinção, em virtude de “dificuldades de ordem social e financeira” que a ACN atravessava. Em 1960, foi criado o “Departamento Social” ou “Departamento de Assistência Social”, sendo Antonio Dias eleito seu diretor. Cf. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 21/12/1959; Pasta 3 (Conselho Superior – Correspondência). Correspondência do Conselho Superior da ACN ao Senhor Alcides de Oliveira Santos. São Paulo, 04/04/1961; Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 05/01/1961. .

Na ocasião, um grupo de jovens “aceneanos” lançou O Mutirão: Órgão da Associação Cultural do Negro, jornal que no primeiro número trazia um artigo em que José Correia Leite – em nome do Conselho Superior da ACN – saudava o projeto editorial22 22 . O Mutirão. São Paulo, 05/1958, p. 1. . No segundo número, o subtítulo do jornal foi alterado para “Órgão do Departamento Estudantil da Associação Cultural do Negro”. Intercalando noticiários de festas, comemorações, competições desportivas e informações acerca dos “vultos de origem negra que alcançaram a fama e a glória”, suas edições tinham quatro páginas. Era mensal e publicado em formato tabloide. Em linhas gerais, O Mutirão serviu de tribuna aberta para discutir questões relacionadas à raça, nação, juventude, identidade e cultura.

Outro empreendimento editorial foi a publicação dos Cadernos de Cultura da ACN – Série Cultura Negra. O primeiro livro da série foi uma coletânea reunindo textos de Sérgio Milliet (“Alguns aspectos da poesia negra”), de Artur Ramos (“O negro e a República”) e poemas de Oswaldo de Camargo e Carlos de Assunção (Milliet et al., 1958MILLIET, Sérgio et al. (1958), O Ano 70 da Abolição. São Paulo, Edição da Associação Cultural do Negro (Série Cultura Negra 1).). Para o lançamento, na sede da União Brasileira de Escritores em 13 de dezembro de 1958, a associação preparou um “recital de canto, música e poesia” e convidou várias entidades e personalidades, entre as quais Jânio Quadros, então governador do Estado de São Paulo23 23 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 10 (Diretoria Executiva – Correspondência). Ofício de Geraldo Campos de Oliveira (presidente da Diretoria Executiva) ao Excelentíssimo Senhor Dr. Jânio Quadros (DD. Governador do Estado de São Paulo). São Paulo, 06/12/1958. . Em 1961, a ACN publicou o segundo livro da série: Cruz e Souza – o Dante Negro, do escritor Henrique L. Alves. No mesmo ano, o terceiro livro – 15 Poemas Negros, de Oswaldo de Camargo – veio a lume. Em 1962, foi a vez do quarto livro: Fatores determinantes da formação da cultura afro-brasileira, do jornalista Nestor Gonçalves. Nesse mesmo ano, editou-se Nina Rodrigues e o negro do Brasil, também de Henrique L. Alves24 24 . CAMARGO, Oswaldo de. 15 Poemas negros. São Paulo: Edição da Associação Cultural do Negro, 1961 (Série Cultura Negra 3); GONÇALVES, Nestor. Fatores determinantes da formação da cultura afro-brasileira. São Paulo: Edição da Associação Cultural do Negro, 1962 (Série Cultura Negra 4); ALVES, Henrique L. Nina Rodrigues e o negro do Brasil. São Paulo: Edição da Associação Cultural do Negro, 1962. (Série Cultura Negra 5). Da “Série Cultura Negra”, a ACN programou ainda o lançamento de A ecologia do grupo afro-brasileiro ante o serviço social, de Sebastião Rodrigues Alves; O alvorecer de uma ideologia, de José Correia Leite; e Mansidão, de Oswaldo de Camargo, mas, por falta de recursos, tais opúsculos não vieram a público. . Numa época em que havia poucas obras disponíveis no mercado editorial sobre a história e cultura afro-brasileira, a publicação dos Cadernos de Cultura da ACN foi uma iniciativa importante. E malgrado a baixa tiragem, precária divulgação e limitada distribuição, suas edições não passaram despercebidas. Em relatório de suas atividades gerais, a associação reconhecia que a publicação dos Cadernos de Cultura era uma das realizações de melhor resultado “no sentido da sua divulgação e penetração nas camadas mais responsáveis e representativas não só da sociedade brasileira mas de outros países, principalmente nos países da África”25 25 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades gerais da Associação Cultural do Negro no período de agosto de 1958 a julho de 1959. São Paulo, 19/10/1959. Um indício da repercussão positiva dos Cadernos de Cultura foi a carta escrita pelo general Mario de Mattos, do Estado da Guanabara: “Acabo de ler o exemplar no 1 da série “Cultura Negra” – Edição da Associação Cultural do Negro – São Paulo [...], motivo pelo qual me congratulo efusivamente com a ACN pelo seu alto empreendimento útil, certo e bem orientado em prol do elemento de cor negra, neste vasto continente que é o nosso querido Brasil!”. Cf. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 19 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência do Gen. Mario de Mattos Pinheiro ao Sr. Secretário da ACN. Estado da Guanabara, 07/11/1954. .

A ACN procurou viabilizar diversas ações no campo educacional. Havia um entendimento de que o letramento era, senão o principal, um dos mais importantes instrumentos pelo qual o negro lograria conquistar respeitabilidade, reconhecimento, oportunidades na vida e qualificação para o mundo do trabalho (Pinto, 1993PINTO, Regina Pahim. (1993), O Movimento Negro em São Paulo: Luta e Identidade. Tese (Doutorado em Antropologia), Universidade de São Paulo, São Paulo.)26 26 . Quanto ao projeto educacional da ACN, ver Petrônio Domingues (2010). . Recebendo educação, o negro poderia apropriar-se dos códigos da sociedade moderna e civilizada, conhecer sua história, sua cultura e, em última instância, fazer valer os seus direitos de cidadão. No seu “Plano de trabalho” de 1961, a associação prometia “providenciar o funcionamento do curso de Educação de Adultos, a título gratuito, de grande alcance social e cívico e de inestimável utilidade para as pessoas sem recursos”27 27 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 5 (Conselho Superior – Correspondência). Ofício de Adélio Alves da Silveira (presidente da Diretoria Executiva) a José Correia Leite (presidente do Conselho Superior). São Paulo, 19/06/1961. . Dois anos mais tarde, ela havia cumprido parte da promessa, uma vez que anunciava a oferta dos cursos de inglês, português, matemática, oratória e jornalismo, os quais eram ministrados por professores de “elevado grau de categoria intelectual”28 28 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório anual das atividades da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 13/01/1963. Ver também Coleção ACN. Pasta 13 (Diretoria Executiva – Correspondência). “Solicitação de reconsideração de despacho ao Tribunal Municipal de Impostos e Taxas”. São Paulo, 01/02/1963. . Em 1965, voltava a constar no relatório de atividades que a ACN oferecia “curso gratuito de alfabetização, aulas de português, aulas de jornalismo prático, aulas de inglês, aulas de matemática”29 29 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades da ACN no ano de 1965. São Paulo, 28/01/1966. , além de disponibilizar uma biblioteca, que funcionava para uso exclusivo dos associados.

Quanto à questão de gênero, convém reiterar que a ACN criou o “Departamento Feminino”, a princípio dirigido por Sebastiana Vieira30 30 . Sebastiana Vieira costumava convidar todas as associadas da ACN a integrarem o Departamento Feminino: “Tenho o prazer de convidar V. S. para participar da reunião que será realizada dia 2 de julho, à praça Carlos Gomes, número 156 – 3o. andar –, ocasião que discutiremos o seguinte: a) Funcionamento do Departamento Feminino da Associação Cultural do Negro; b) Formação de cursos do Departamento Feminino. O Departamento Feminino comunica ainda que, segunda-feira próxima passada, foi inaugurado na entidade o ‘Curso de enfermagem do lar’, para o qual espera contar com a presença e a colaboração da amiga”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 31(Diretoria Executiva – Departamentos). Carta-convite de Sebastiana Vieira (diretora do Departamento Feminino) às associadas da ACN. São Paulo, 27/06/1956. . Ao lado desta, outras “aceneanas” ganharam visibilidade na associação. Jacira da Silva foi diretora d’O Mutirão e do Departamento Estudantil; já Pedrina Faustina de Alvarenga dos Santos, tesoureira e “entusiasta” diretora dos esportes femininos, enquanto Nair Theodoro de Araújo – que era atriz, declamadora e cantora – foi diretora do Departamento de Cultura por um breve período. Em que pesem tais perfis e iniciativas, a ACN não desenvolveu nenhum trabalho dirigido para tratar, especificamente, da questão da mulher negra. Mais ainda: as mulheres constituíam uma força política importante, porém minoritária na associação. Poucas delas ocupavam cargos nas principais instâncias de decisão31 31 . Em 1958, dos oito componentes da Diretoria Executiva, dois eram mulheres (Teda Ferreira e Pedrina Faustina de Alvarenga dos Santos). Dos trinta e dois componentes do Conselho Superior, seis eram mulheres (Sebastiana Vieira, Maria Aparecida Venâncio, Engracia Ortêncio Pompêo dos Santos, Juraci Barbosa de Oliveira, Nair Theodoro de Araújo e Maria da Penha Paula). Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Composição dos departamentos da ACN, em 24/10/1958. .

O APOGEU

Terminada a fase de estruturação, a ACN consolidou-se e dinamizou-se num ritmo acelerado. Sua transferência de sede em 1957 foi um marco desse processo. O crescimento do “quadro associativo” teria ultrapassado as expectativas iniciais, “criando o problema da escassez de local para a realização das atividades”. Seu novo endereço passou a ser avenida São João, no 35, 16o andar do edifício América – salas 1613, 1614 e 161532 32 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 3 (Conselho Superior – Correspondência). Comunicado da Diretoria Executiva da Associação Cultural do Negro aos associados. São Paulo, 17/07/1957. Quando a ACN inaugurou sua nova sede social, recebeu a visita de Afonso Schmidt (escritor e autor de A marcha, “o romance da Abolição”). Houve um ato solene. Tomaram assento na mesa os convidados especiais: o jornalista Fernando Góes, o professor Arlindo Veiga dos Santos (primeiro presidente da antiga Frente Negra Brasileira) e o tenente José Ignácio do Rosário, os quais afiançaram inteira solidariedade às atividades desenvolvidas pela agremiação. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 15 (Diretoria Executiva – Correspondência). São Paulo, 14/06/1957. . No período de apogeu, a agremiação organizou, fomentou e participou de diversas atividades culturais (comemorações cívicas, sobretudo relativa à promulgação da Lei Áurea33 33 . Eis como Adélio Alves de Silveira, presidente da Diretoria Executiva da ACN, referiu-se à efeméride de 13 de Maio em documento de circulação interna da agremiação: “Conforme é do conhecimento geral, as comemorações abolicionistas do mês de maio têm se constituído no ponto culminante das atividades da ACN desde a sua fundação, como ocorreu no presente ano”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 5 (Conselho Superior – Correspondência). Ofício de Adélio Alves de Silveira (Presidente da Diretoria Executiva) a José Correia Leite (presidente do Conselho Superior). São Paulo, 19/06/1961. ; conferências, tributos aos ícones negros do passado e do presente, “cursos educacionais”, coral, saraus e apresentações de música, dança, teatro e até de uma sessão cinematográfica, com a projeção de Sinhá Moça, filme cujo elenco contava com a presença da atriz afro-brasileira Ruth de Souza). Acreditava-se que o negro venceria na vida à medida que conseguisse elevar seu nível cultural. Somente no ano de 1956, ela patrocinou a “I Convenção Paulista do Negro”, a “Semana Nina Rodrigues”, “A Noite de Castro Alves”, “A Noite de Luiz Gama”, as “Comemorações da data de aniversário de José do Patrocínio”, a “Semana da Mãe Preta”, as “Reuniões dançantes”, o “Desfile de Modas”, no Clube Recreativo Royal, e o “Baile comemorativo do segundo aniversário de fundação da A.C.N.”34 34 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 05 (Conselho Superior – Correspondência). Atividades realizadas pela ACN no ano de 1956. Segundo George Andrews, as organizações afro-paulistas evitaram participar diretamente da política no interlúdio da Segunda República e, em vez disso, concentraram suas energias nas atividades sociais, culturais e educacionais. Esta postura ficaria evidenciada na “denominação da mais bem sucedida dessas organizações, a Associação Cultural do Negro” (Andrews, 1998:294). A assertiva de Andrews precisa ser relativizada. É verdade que as manifestações sociais, culturais e educacionais não se apresentam na sua concretude imediata como fato político, mas a cultura, como fenômeno de linguagem, é sempre passível de interpretação e reinterpretação. Em última instância, são os interesses em jogo dos grupos que definem o sentido da reelaboração simbólica desta ou daquela manifestação. A respeito das tensões existentes entre política e cultura nos movimentos afro-brasileiros desse período, ver Michael Hanchard (1993, 2001) e Kimberly Jones de Oliveira (2003). .

Tal mobilização racial despertou a desconfiança por parte dos órgãos de controle e repressão aos movimentos sociais. Nesse período, a polícia política continuou sendo acionada para monitorar, quando não coibir, todo tipo de atividade suspeita dos movimentos sociais – dos operários, comunistas, trabalhadores rurais, estudantes, mas também dos negros. Eventos que envolviam entidades, reuniões, comícios e protestos eram particularmente vulneráveis. O Departamento de Ordem Política e Social (Deops) vigiava a ACN. Seus agentes secretos se infiltravam na associação e acompanhavam suas atividades. Por exemplo, no dia 11 de outubro de 1957, o investigador identificado pela senha “104” infiltrou-se na reunião da ACN e produziu o seguinte relatório para o delegado do Deops:

A presente reunião teve início às 21,15 horas, terminando por volta de 22 horas e contou com a presença de 30 pessoas. Usaram da palavra os senhores: Américo Orlando Costa, Geraldo Gomes de Oliveira, Presidente do referido Centro. O Sr. Américo Orlando Costa discorreu sobre José do Patrocínio, por motivo da passagem de 104o aniversário de seu nascimento, exaltou também suas qualidades de abolicionista. O Sr. Geraldo Gomes de Oliveira teceu comentários sobre as ocorrências havidas nos Estados Unidos, nas quais estão envolvidos negros daquele país. Ao terminar solicitou que a mesa providenciasse e encaminhasse uma mensagem de protesto ao Presidente e ao Governador do estado americano onde se deram as ocorrências35 35 . Deops/SP, Arquivo Público do Estado de São Paulo (Aesp). Dossiê 20-J-09, 4. Relatório do investigador n. 104 dirigido ao Delegado Titular de Ordem Política e Social. São Paulo, 11/10/1957. Ver também Deops/SP, Aesp. Dossiê 20-J-09, 5. Relatório do investigador n. 1778 dirigido ao Delegado Titular de Ordem Política e Social. São Paulo, 19/10/1957. .

No que tange à sua linha de atuação, a ACN investiu numa política de alianças com diferentes setores da sociedade civil e do poder público. Sua expectativa era de que o apoio efetivo e/ou simbólico desses setores elevasse o conceito da associação junto à opinião pública, legitimasse seus projetos e, principalmente, fortalecesse a luta contra o “preconceito de cor”. Para se aproximar ou estabelecer algum tipo de vínculo com estudantes, intelectuais, artistas, jornalistas, empresários, políticos e autoridades públicas, a ACN geralmente os convidava para ministrar palestras nos eventos solenes, participar das atividades desenvolvidas, filiar-se ou mesmo publicar em seus veículos de divulgação – especialmente nos “Cadernos de Cultura”. Pode-se supor que a estratégia surtiu efeito. A ACN foi visitada por Freitas Nobre – vice na gestão do prefeito Prestes Maia (1961-1965) – e recebeu a presença de Porfírio da Paz – vice na gestão do governador Jânio Quadros (1959-1963) – na cerimônia de inauguração do medalhão de bronze em homenagem ao poeta Cruz e Sousa (Leite, 1992LEITE, José Correia. (1992), ...E Disse o Velho Militante José Correia Leite: Depoimentos e Artigos. Organizado por Cuti. São Paulo, Secretaria Municipal da Cultura.:188-189)36 36 . Em 1964, a ACN realizou uma sessão solene na data de sua fundação. Compareceram representantes da Câmara Municipal de São Paulo, Assembleia Legislativa, Casa do Poeta, Casa da Cultura Afro-Brasileira, Associação Cristã Brasileira de Beneficência, do Centro Catarinense de São Paulo, enfim, “pessoas de projeção na vida cultural e artística desta Capital para ouvirem o escritor Henrique L. Alves pronunciar vibrantemente uma conferência sobre o tema ‘Diálogo da Negritude’, historiando a vida e as realizações desta entidade no transcorrer destes dez anos, seguida de uma parte lítero-musical a cargo do poeta Oswaldo de Camargo”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades da ACN correspondentes ao período de janeiro a dezembro de 1964. São Paulo, 20/02/1965. . Jânio Quadros, aliás, franqueou uma “inestimável colaboração” à associação, subvencionando alguns de seus eventos37 37 . Em ofício, a diretoria da ACN listava as atividades para as quais o governador Jânio Quadros havia depositado “inestimável colaboração”: I Convenção Paulista do Negro, Semana Nina Rodrigues, Semana Teodoro Sampaio, Semana Castro Alves, Semana Cruz e Souza, Semana José do Patrocínio, 1a. e 2a. Quinzena 13 de Maio, Prova Pedestre 13 de Maio, além da organização do programa comemorativo de “O ano 70 da Abolição”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 10 (Diretoria Executiva – Correspondência). Ofício da Associação Cultural do Negro ao Excelentíssimo Senhor Dr. Jânio da Silva Quadros, DD. governador do Estado de São Paulo. São Paulo, 16/09/1958. . Adhemar de Barros foi outro chefe do executivo paulista que a apoiou38 38 . Nas comemorações dos setenta anos da Abolição, a ACN organizou um extenso programa cultural, social, artístico e recreativo que recebeu o apoio do cardeal D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, do governador Jânio Quadros, do prefeito Adhemar de Barros, de José Pedro Leite Cordeiro, Almeida Magalhães, Pedro Antonio de Oliveira Ribeiro Neto, Silvio Romero Filho, Sebastião Pagano, Honório de Sylos e René de Oliveira Barbosa, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do deputado Ariel Tomasine, dos prefeitos Ruy H. Novaes (de Campinas) e Francisco Romano de Oliveira (de Pindamonhangaba), dos vereadores Freitas Nobre (de São Paulo) e Humberto De Lucca (de Cruzeiro), sem falar dos intelectuais Sérgio Milliet, Rossini Tavares de Lima, Carlos Burlamaqui Kopke, Antônio Cândido e Florestan Fernandes (Cf. Milliet et al., 1958:4-7). . O então deputado estadual afro-brasileiro, Esmeraldo Tarquínio Soares de Campos, foi além e a ela se filiou. Comparecendo a algumas de suas atividades, chegou a doar “verba pessoal” e intermediar, junto ao executivo estadual, a doação de verbas, “que foram empregadas em dívidas patrimoniais da associação”39 39 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades da ACN correspondentes ao período de janeiro a dezembro de 1964. São Paulo, 20/02/1965. . Um canal de diálogo, e mesmo de negociação, foi aberto com o poder público. Por exemplo, os ofícios da ACN, remetidos aos prefeitos da capital e aos governadores do estado bandeirante em datas especiais, costumavam ser respondidos, ainda que de maneira lacônica. Os políticos com mandato – vereadores, deputados estaduais ou federais e governadores – geralmente lhe parabenizavam pelo aniversário. Sua delegação foi até recebida pelo prefeito de Ribeirão Preto, quando de sua visita à cidade, em novembro de 195840 40 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 10 (Diretoria Executiva – Correspondência). Relatório das atividades da ACN. Visita a Ribeirão Preto, em 11/1958. .

A associação foi beneficiada, ainda, por uma rede de colaboradores “ilustres”, dos quais se destacaram Colombina (nome artístico de Yde Schloenbach Blumenschein), Serafina Borges do Amaral, Amélia Penteado; intelectuais como Sérgio Milliet, Afonso Schmidt, Florestan Fernandes, Otavio Ianni, Paula Beiguelman; jornalistas como Nestor Gonçalves, Henrique L. Alves; e empresários como José Mindlin. Para a ACN, era importante ter essas pessoas distintas vinculadas a ela, conferindo-lhe capital simbólico e político e funcionando como interlocutores na resolução de seus problemas frente às instâncias de maior dificuldade de acesso. Da perspectiva dos “ilustres”, por outro lado, aproximar-se da associação servia para ampliar o seu leque de influências e prestígio. Desses colaboradores, Florestan Fernandes foi sem dúvida o mais celebrado. Em 1961, a diretoria da ACN enviou votos de felicitações pelo seu empenho na aprovação do projeto que tramitava no “Parlamento sobre a reforma de base e diretrizes da Educação Nacional”41 41 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 05/01/1961. . No ano seguinte, o indicou como seu representante junto às entidades da sociedade civil e das pessoas interessadas em tratar de assuntos ligados às finalidades culturais42 42 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 15 (Diretoria Executiva – Correspondência). Ofício da Diretoria da ACN. São Paulo, 29/08/1962. . Em 1965, ele foi escolhido para receber uma honraria: “Considerando a monumental obra apresentada por Vossa Senhoria no livro intitulado ‘A integração do negro à sociedade’; considerando ainda a antiga e profunda amizade que lhe devotamos; a ACN resolveu conceder-lhe o título de sócio honorário, pelo que muito nos desvanece”43 43 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 14 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de Américo dos Santos (secretário-geral da ACN) ao Ilmo Snr. Prof. Florestan Fernandes – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. São Paulo, 25/03/1965. . A entrega desta honraria a Florestan Fernandes ocorreu na sede social da associação em sessão “magna” de 13 de maio, fazendo parte, assim, das comemorações da abolição da escravatura44 44 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades da ACN no ano de 1965. São Paulo, 28/01/1966. .

A ACN mantinha intercâmbio com diversos agrupamentos congêneres, localizados no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e, especialmente, no interior de São Paulo – em cidades como Sorocaba, Campinas, Santos, Piracicaba, Limeira, Araraquara, Jundiaí, Tietê, entre outras. Na documentação coligida, foi possível identificar mais de cinquenta agrupamentos com os quais ela estabeleceu algum tipo de contato e/ou correspondência45 45 . Eis os grupos do meio negro com os quais a ACN manteve algum tipo de contato. Em São Paulo: Clube Amigos da República do Haiti (Carhti); União dos Caboverdeanos Livres; Sociedade Cultural e Recreativa Palmares; XI Irmãos Patriotas F. C.; Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos; Associação José do Patrocínio; Casa de Cultura Afro-Brasileira; Associação Cultural Luiz Gama; Grêmio Recreativo Cultural Campos Elíseos; Associação Renovadora dos Homens de Cor; Associação Beneficente Pio XII; Aristocrata Clube; Sociedade Luiz Gama; Associação Brasileira de Defesa dos Direitos do Homem; Sociedade Henrique Dias; Clube 220; G.R.E.C. Coimbra; Grêmio Cruz e Sousa; La Paloma Club; Brasil F. C.; Associação Recreativa Afro-Brasileira; Colored’s Club de Vila Mariana; Associação Brasileira de Assistência Social e Educação; Grupo de Trabalho de Profissionais Liberais e Universitários Negros (G.T.P.L.U.N.); Teatro Popular Brasileiro (de Solano Trindade); Teatro Experimental do Negro de São Paulo e do Rio de Janeiro; Companhia Negra de Comédias e Revistas; Centro de Estudos Afro-Brasileiros; Grêmio Recreativo Familiar Flor de Maio, de São Carlos; Clube Atlético Limeirense dos Homens de Cor; Sociedade Luiz Gama, de Jaú; Associação Cruz e Souza e Clube Ébano, de Santos; Federação das Associações dos Brasileiros de Cor, de Sorocaba; C. R. 13 de Maio, de Itapetininga; Sociedade Cultural Luiz Gama, de Bauru; Clube Coração de Bronze, de Catanduva; Sociedade Beneficente 28 de Setembro, de Sorocaba; Sociedade Beneficente 13 de Maio, de Piracicaba; Sociedade Recreativa José do Patrocínio, de São Manuel; Clube Beneficente e Recreativo 28 de Setembro, de Jundiaí; Sociedade Dançante Familiar José do Patrocínio, de Rio Claro; Associação Recreativa Princesa Isabel, de Tatuí; Sociedade Recreativa Luiz Gama, de Botucatu; Clube Bandeirantes, de Tietê; S. C. R. Cruzeiro do Sul, de Araraquara; Associação Atlética Ponte Preta, de São José do Rio Preto; Society Colored Pinhalense, de Pinhal; Clube dos Aliados, de Ribeirão Preto; E. S. Rosa Branca, de Araçatuba; Grêmio Recreativo 7 de Setembro, de Itatiba; Clube Recreativo Luiz Gama, de São João da Boa Vista; Sociedade Negra de Campinas; Associação Cultural Pérola Negra, de Campinas; e Elo Clube Campineiro. Vale registrar ainda os intercâmbios com o Kenia Clube, a União dos Homens de Cor e o Renascença Clube, do Rio de Janeiro, e com os jornais da imprensa negra: Hifen, O Ébano e Correio D’Ébano. . A associação patrocinou várias atividades para as quais as “coirmãs” foram convocadas a comparecer. Uma delas, a I Convenção Paulista do Negro, ocorreu na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo em 1956. Sua finalidade era garantir o debate democrático dos problemas atinentes à população negra, “bem como o estudo de processos cujo encaminhamento visasse a sua integração na coletividade brasileira”46 46 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Regimento Interno da Convenção Paulista do Negro. São Paulo, 04/1956. .

Quando a circunstância exigia, a ACN tomava posição pública contra as “manifestações discriminacionistas”, seja dentro ou fora do Brasil. Em agosto de 1958, Geraldo Campos de Oliveira – o então presidente da associação – concedeu entrevista ao Última Hora e frisou que, aqui, o “problema da segregação racial, ao contrário do que se apregoa, existe de maneira bastante atuante”. Era um tipo de discriminação que ele denominou de “envergonhado”, isto é, “feito veladamente”. Haveria “inúmeros exemplos” que demonstravam sua existência: “em todos os nossos principais clubes esportivos, os negros são impedidos de frequentar as piscinas e daí a razão de não haver nadadores de cor”. O mesmo ocorreria em “numerosas outras atividades, em que a tez do indivíduo é condição sine qua non para sua admissão”. Portanto, “quando se diz que no Brasil o problema não existe, que nosso país é o protótipo da integração e da igualdade, está se dizendo uma inverdade”.47 47 . Deops/SP, Aesp. Dossiê 20-J-09, 11. “Preconceito racial no Brasil: existe, embora de modo velado”. Última Hora, 25/08/1958.

Em 1959, a ACN se insurgiu contra a Sociedade Esportiva Palmeiras, por ter excluído de sua “delegação de cestobolistas, que seguiu em excursão aos países da União Sul-Americana, o atleta negro Walter”48 48 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades gerais da Associação Cultural do Negro no período de agosto de 1958 a julho de 1959. São Paulo, 19/10/1959. . No mesmo período, a cantora Marita Luizi – chamada de “a artista negra do Sumaré” – foi alvo de “preconceito de cor” por parte da direção do Restaurante Zillerthal, na capital paulista, que não quis atendê-la. A associação, “no tempo oportuno, manifestou-se contra referida atitude, coerentemente com sua posição antirracista, divulgando expressivo manifesto a esse respeito”49 49 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades gerais da Associação Cultural do Negro no período de agosto de 1958 a julho de 1959. São Paulo, 19/10/1959. . De maneira análoga ela denunciou a política de intolerância contra os alunos negros do colégio Nossa Senhora Aparecida, localizado na cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul. Para tanto, realizou um debate público em sua sede sobre o tema “discriminação de cor – nos esportes, agremiações esportivas e recreativas, bem como em entidades culturais e religiosas”. Quando o então governador daquele estado, Leonel Brizola, mandou abrir sindicância para apurar o ato de discriminação racial do colégio, a ACN lhe enviou uma mensagem de congratulação50 50 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 13 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de Adélio Alves da Silveira (presidente da Diretoria Executiva da ACN) ao Exmo. Sr. Dr. Leonel Brizola (governador do Estado do Rio Grande do Sul). São Paulo, 23/03/1962. .

Um destaque nas ações da ACN foram os seus esforços para estabelecer conexões com lideranças, movimentos, associações e eventos internacionais no concerto da diáspora negra. Paul Gilroy assinalou como estratos da população africana e seus descendentes no Mundo Atlântico – em particular do eixo Américas-Caribe-Europa-África – viajaram, dialogaram, efetuarem trocas, empréstimos e influenciaram-se mutuamente, com a difusão, apropriação e reelaboração de produtos e artefatos culturais, estilos estéticos, ideias políticas e projetos libertários, constituindo um híbrido circuito de interconexões que ele qualificou de Atlântico Negro (Gilroy, 2001). No pós-guerra – num contexto de guerra fria, de luta por direitos civis nos Estados Unidos, de apartheid e de descolonização na África –, a ACN buscou se inserir no circuito mais amplo da diáspora afro-atlântica sob múltiplas perspectivas. Ela acompanhava (e ecoava) os fatos da conjuntura internacional que atingiam direta ou transversalmente a vida do africano e seus descendentes. Suas atenções voltavam-se notadamente para os Estados Unidos, onde em Little Rock, no estado de Arkansas, e em outras cidades explodiam conflitos raciais devido à resistência ao fim das medidas segregacionistas51 51 . Deops/SP, Aesp. Dossiê 20-J-09, 11. “Preconceito racial no Brasil: existe, embora de modo velado”. Última Hora, 25/08/1958. . Em 1957, a ACN enviou uma correspondência a Orval Faubus, governador de Arkansas, manifestando o seu “veemente protesto contra a atitude deploravelmente hostil aos negros, incentivada pelos grupos racistas dos quais. V. Excia. é um dos líderes”52 52 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 09 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência da Diretoria Executiva da Associação Cultural do Negro ao Excelentíssimo Senhor Orval Faubus – Governador do estado de Arkansas, nos Estados Unidos da América do Norte. São Paulo, 11/10/1957. Ver também Deops/SP, Aesp. Dossiê 20-J-09, 6. “Mensagem da Associação Cultural do Negro ao governador O. Faubus”. Notícias de Hoje, 19/10/1957. . A associação organizou um ato de solidariedade aos afro-americanos e a um só tempo remeteu uma carta ao então presidente Dwight Eisenhower, saudando-o por sua posição “serena, firme e acima de tudo justa” frente aqueles acontecimentos53 53 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 09 (Diretoria Executiva – Correspondência). Relatório das atividades gerais da ACN no período de 01/09/1957 a 31/03/1958. São Paulo, 05/05/1957. Pasta 09 – Conselho Superior; Correspondência de Américo Orlando da Costa (presidente em exercício da ACN) ao Excelentíssimo Senhor Dwight Eisenhower – DD. Presidente dos Estados Unidos da América do Norte. São Paulo, 11/10/1957. .

Assim que John Kennedy assumiu a presidência dos Estados Unidos, em 1960, irrompeu-se um clima de grandes expectativas. O país continuava mergulhado num cenário de violentos distúrbios entre brancos e negros e de crescentes mobilizações pelos direitos civis. Tempos, pois, de angústias, sofrimentos e incertezas, mas também de fé e esperança num futuro mais promissor à luz de ideias, mensagens, místicas e paradigmas emancipatórios. Tanto os distúrbios raciais quanto os embates por direitos eram amplamente divulgados pela imprensa estrangeira. John Kennedy se opôs ao regime Jim Crown – legislação que apartava brancos e negros em campos como educação, transporte, espaço público, casamento e lazer – e adotou uma postura política favorável à integração racial. Em 1961, lançou a Ordem Executiva no 10.925, na qual empregou pela primeira vez o termo affirmative action (ação afirmativa) ao estabelecer a Comissão para a Igualdade de Oportunidades no Emprego. Por essa e outras medidas Kennedy passou a ser visto como um aliado dos afro-americanos em várias partes das Américas e da África54 54 . Ver, entre outras fontes, “Kennedy e os negros”. Última Hora. São Paulo, 13/05/1963, Caderno 1, p. 6. . A ACN chegou a enviar uma correspondência ao cônsul-geral norte-americano, solicitando seus “bons ofícios”, para que chegasse às mãos do presidente Kennedy uma mensagem de “congratulações”, em que manifestava a sua “solidariedade, admiração e respeito”, pela atitude “enérgica e firme”, com que se houve o “nobre presidente, na defesa de um postulado consagrado nos princípios dos ‘Direitos Humanos’ – diante do desafio dos racistas de Oxford, Mississipi, no atual conflito pelo cumprimento de uma lei sábia e humana, qual seja, a da integração racial, na grande democracia do norte”55 55 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 13 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de Adélio Alves da Silveira (presidente da Diretoria Executiva da ACN) ao Senhor Cônsul Geral Americano. São Paulo, 02/10/1962. .

Se os distúrbios raciais dos Estados Unidos estavam chamando a atenção da opinião pública internacional, algo similar ocorria com a África do Sul a partir do recrudescimento do regime do apartheid – regime segundo o qual os negros eram obrigados a viver separadamente dos brancos, de acordo com uma legislação que os impediam de exercer a cidadania plena. Os consecutivos episódios de violência contra o negro do outro lado do Atlântico tinham repercussão na imprensa brasileira e, diante deles, a ACN não costumava se omitir. Em vários momentos, ela recriminou o racismo institucionalizado do país africano. Por exemplo, em 1959, os atletas negros da Associação Atlética Portuguesa, de Santos, foram discriminados pelas autoridades da Cidade do Cabo (África do Sul) e não tiveram permissão para ali desembarcar. Contra tal atitude, a ACN lançou uma moção de repúdio, “no que foi amplamente apoiada pelos seus associados e simpatizantes”56 56 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades gerais da Associação Cultural do Negro no período de agosto de 1958 a julho de 1959. São Paulo, 19/10/1959. . A moção evocava a “consciência democrática universal, em luta contra todas as discriminações que não se fundamentem em valores morais”, para pressionar o governo brasileiro a tomar uma posição. Se a “União Sul Africana” assinava a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) e consequentemente zelava pelos princípios norteadores da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Brasil não poderia aceitar ter ao seu lado a representação de um país que violava os compromissos assumidos livre e espontaneamente: “do nosso ponto de vista, o governo brasileiro deve levar o caso à ONU, propondo que seja eliminado dos quadros daquela organização internacional qualquer país que mantenha oficialmente discriminação de qualquer natureza”. Ao final do documento, a ACN manifestava “de público a sua solidariedade e apoio às organizações culturais, políticas, sociais e esportivas da União Sul Africana, na luta contra a segregação e pela libertação dos povos africanos”57 57 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 21 (Diretoria Executiva – Correspondência). Carta Pública da Associação Cultural do Negro, em 04/1959. .

No dia 21 de março de 1960 em Joanesburgo – a maior cidade da África do Sul –, cerca de 20 mil negros protestaram contra a chamada Lei do Passe, que os obrigava a portar cartões de identificação especificando os locais por onde podiam circular. No bairro de Shaperville, os manifestantes se encontraram com tropas do exército. Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão, matando 67 pessoas e ferindo outras 186. Este episódio, que despertou de vez a atenção da opinião pública internacional para o problema do apartheid, ficou conhecido como o Massacre de Shaperville58 58 . Sobre o regime do apartheid e o Massacre de Shapervile, ver entre outros Nancy Clark e William Worger (2011). A respeito da política africana do Brasil e das relações Brasil-África, consultar José Flávio Saraiva (1996). . Os “aceneanos” ficaram indignados e, em reunião de diretoria, resolveram convocar um “ato público de solidariedade às vítimas dos dolorosos acontecimentos na União Sul Africana”59 59 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 11 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de Geraldo Campos de Oliveira (presidente da ACN) ao Ilmo. Sr. Arsênio Tavoglieri (DD. presidente da Associação Paulista de Imprensa). São Paulo, 11/04/1960. . O ato ocorreu na sede da Associação Paulista de Imprensa, no dia 25 de abril, e contou com a presença de políticos, representantes de secretaria de governo, do Ministério Público, de corporações militares, de clubes negros, de grupos artístico-culturais, organizações civis, políticas, sindicais e estudantis60 60 . Participaram do ato público os “Vereadores Freitas Nobre, Silva Azevedo e Manoel de Figueiredo Ferraz, representado este último pelo Sr. Nautilo Sant’Ana; Deputados Luciano Lepera e Felício Castellano; Prof. Oswaldo Melantonio, da Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino; Major Fernando Cerqueira Lima, representando o comandante da II Região Militar; Dr. José Augusto Cesar Salgado, Presidente da Associação Interamericana do Ministério Público; Nelson Câmara, do Centro Acadêmico ‘João Mendes Júnior’, da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie; Solando Trindade, do Teatro Popular Brasileiro; Álvaro Rodrigues dos Santos, da União Paulista dos Estudantes Secundários; Alberto Augusto Teixeira, do Sindicato dos Mestres e Contra Mestres de Fiação e Tecelagem; Francisco Ferraz de Oliveira, da Associação Cívica de Defesa das Liberdades Públicas; Vicente de Paula Custódio, da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos; Luiz Lourival de Góes, do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Carris Urbanos; Frederico Penteado Júnior, do Club 220; Capitão Maximiano Lessa Salgado, representante do Presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Deputado Abreu Sodré; Karl Pereira, representante do Secretário da Viação e Obras Públicas, Brigadeiro Faria Lima; Lydia Chrispim, do Teatro Experimental do Negro de São Paulo; Manoel Cavalheiro, da Juventude Socialista; Pedro Rocha, da Liga Internacional Contra o Racismo e o Anti-Semitismo e Anselmo Pecci, da Frente Nacionalista”. Cf. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) remetido à imprensa sobre o ato público de “Solidariedade aos negros da União Sul Africana”. São Paulo, 27/04/1960. . Os trabalhos foram abertos por Geraldo Campos de Oliveira, presidente da ACN, que foi seguido por diversos oradores. Todos condenaram o quadro vigente na União Sul Africana, a “vergonha da civilização”. Mereceu atenção também a situação da África portuguesa, tendo sido denunciados os massacres em São Tomé e o “regime de terror” imposto pelas autoridades portuguesas aos “nativos de Angola, Moçambique e outros territórios de ultramar”, os quais se encontram com os seus “cárceres e campos de concentração cheios de pessoas que lutam pela independência de sua pátria e contra as discriminações raciais”. No final dos trabalhos, foi aprovada a divulgação do seguinte manifesto:

As entidades e pessoas reunidas no memorável ato público promovido pela Associação Cultural do Negro, na sede da Associação Paulista de Imprensa, na noite de 25 de abril do corrente ano, e que subscrevem o presente manifesto, entendem que ninguém pode ficar indiferente aos clamores por liberdade, justiça e democracia, partidos das vítimas do massacre determinado pelo governo da União Sul Africana. Os acontecimentos sangrentos de Shaperville representam o ressurgimento de tudo aquilo contra o que a Humanidade lutou duramente no último conflito mundial. O mundo se encontra diante de uma absurda tentativa de restauração dos fundamentos ideológicos de nazi-fascismo, que são os fundamentos do “apartheid”, com sua violenta negação do direito à liberdade, à igualdade, à justiça e à vida aos homens, mulheres e crianças negras sul africanas. […] Com base nas convenções internacionais, que o Brasil honradamente subscreveu, e protestando contra as violências cometidas pelo nazifascista governo sul-africano, e nos solidarizando ainda com as massas negras, na sua luta pela liberdade, entendemos de apelar para o Governo Brasileiro, no sentido de que rompa definitivamente as relações diplomáticas e comerciais com a União Sul Africana, em defesa da Humanidade61 61 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) remetido à imprensa sobre o ato público de “Solidariedade aos negros da União Sul Africana”. São Paulo, 27/04/1960. .

Foi constituída a “Comissão de Solidariedade aos Povos Africanos”62 62 . A “Comissão de Solidariedade aos Povos Africanos” era constituída pela “Associação Cultural do Negro, Associação Interamericana do Ministério Público, União Paulista dos Estudantes Secundários, Centro Acadêmico João Mendes Júnior, Federação dos Professores e Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino, Associação Cívica de Defesa das Liberdades Públicas e dos Direitos do Cidadão, Teatro Experimental do Negro de São Paulo, Teatro Popular Brasileiro, Sindicato dos Mestres e Contra-Mestres em Fiação e Tecelagem, e representantes da Juventude Socialista e da Frente Nacionalista de São Paulo”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) remetido à imprensa sobre o “Comício em homenagem ao 13 de Maio e de solidariedade aos negros da União Sul Africana”. São Paulo, 12/05/1960. . De igual maneira foi deliberada a realização de uma campanha pública, e diversos representantes da sociedade civil assinaram o manifesto. Dezoito dias depois daquele ato, a Comissão de Solidariedade aos Povos Africanos – da qual a ACN assumia papel dirigente – realizou um comício na praça da Sé, no centro de São Paulo, em homenagem ao 13 de Maio (“data da libertação dos escravos no Brasil”) e de solidariedade ao “povo da União Sul Africana, vítima do mais brutal e violento massacre por parte do governo nazifascista daquele país”. O comício foi assistido por aproximadamente 150 pessoas, registrou o araponga do Deops em seu relatório. Fizeram uso da palavra Geraldo Campos de Oliveira, em nome da ACN, e mais dez oradores, entre políticos e representantes dos movimentos nacionalista, negro, sindical, estudantil e juvenil. Na avaliação dos promotores da manifestação, era de fundamental importância denunciar os “atentados à dignidade humana praticados na União Sul Africana e noutras colônias [do continente], onde impera a mais desenfreada exploração escravagista”63 63 . Deops/SP, Aesp. Dossiê 20-J-09, 12. Relatório do investigador n. 1637 dirigido ao delegado titular de Ordem Política e Social. São Paulo, 13/05/1960. Ver também Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) remetido à imprensa sobre o “Comício em homenagem ao 13 de Maio e de solidariedade aos negros da União Sul Africana”. São Paulo, 12/05/1960. .

A África do Sul não seria o único país do outro lado do Atlântico a fazer parte do universo de preocupações da ACN. Atendendo ao chamado do Movimento Afro-Brasileiro pela Libertação de Angola (Mabla), a associação consorciou-se aos protestos que exigiam maiores informações sobre o que vinha sucedendo na chamada “África portuguesa”. Quando um grupo de pessoas ligado à colônia portuguesa em São Paulo preparava um festival para angariar fundos em benefício dos compatriotas que resistiam ao movimento de libertação colonial na África, a ACN reagiu com indignação: “quando os organizadores desse festival dizem que ‘Portugal cantando chora seus mortos em Angola’, é preciso que se chore também […] os 150.000 refugiados no Congo e centenas de milhares de negros angolanos mortos na luta pela autodeterminação daquelas colônias, que no atual momento, procuram seguir o exemplo de libertação de outras colônias do continente africano”64 64 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 2 (Conselho Superior – Correspondência). A diretoria da ACN solicita que redator secretário de “prestigioso órgão de imprensa” publique a nota “Autodeterminação de Angola”. Sobre a descolonização de Angola e sua ressonância no Brasil, ver José Francisco dos Santos (2010) e Jerry Dávila (2011), especialmente o quarto capítulo (“Guerra em Angola, crise no Brasil”). . A associação chancelou a conquista da independência do Senegal em 196065 65 . A ACN “saudou vivamente” a visita de Léopold Sédar Senghor – o então primeiro presidente eleito do Senegal independente – ao Brasil, em 1964, e promoveu a inauguração do retrato dele em sua sede, numa solenidade denominada “Presença Africana”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades da ACN correspondentes ao período de janeiro a dezembro de 1964. São Paulo, 20/02/1965. Ver também Correia Leite (1992:186). , procurou acompanhar de perto o conflito no então Congo belga e, em 1961, instou a ONU a investigar a morte de Patrice Lumumba, o primeiro chefe de Governo do Congo independente66 66 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 02 (Conselho Superior – Correspondência). Ofício da Diretoria da ACN ao Consulado Geral da Bélgica. São Paulo, 27/04/1961; Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Carta da Diretoria da ACN à Organização das Nações Unidas. São Paulo, 02/03/1961. No que concerne às conexões entre os afro-brasileiros e a África, ver ainda Anani Dzidzienyo (1985). . Na medida em que preconizava a solidariedade de todos os povos africanos e da diáspora, a ACN assumia a perspectiva do internacionalismo negro67 67 . Sobre a ideia de internacionalismo negro, consultar Brent Edwards (2003) e Minkah Makalani (2011). .

Talvez tenha sido exatamente por isso que suas ações, seus projetos e seus ideais não passaram despercebidos no circuito afro-atlântico. Ela foi a “única entidade representativa de elementos negros” a participar do Seminário Inter-Americano, evento realizado em São Paulo sob os auspícios da União Cultural Brasil-Estados Unidos e que também contou com participação de “duas eminentes líderes de movimentos negro-americanos: miss Edith Sampson, representante do prefeito de Chicago, e miss Dorothy Height, representante do Conselho Nacional das Mulheres de Cor, dos Estados Unidos”68 68 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades gerais da Associação Cultural do Negro no período de agosto de 1958 a julho de 1959. São Paulo, 19/10/1959. . A ACN procurou concatenar-se com a Liga Mundial Pró-Direitos do Negro – a organização que por acordo internacional instituiu o 18 de fevereiro como Dia Mundial do Negro, em 195669 69 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 19 (Diretoria Executiva – Correspondência). “Direitos”. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 11/12/1958, p. 6. – e trocou correspondências e informações com a National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), uma das mais antigas e mais influentes instituições a favor dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos70 70 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 09 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência da Diretoria Executiva da Associação Cultural do Negro ao Excelentíssimo Senhor J. C. Crenshaw e demais diretores da Associação Americana Para o Progresso dos Homens de Cor. São Paulo, 05/11/1957. Ver também Deops/SP, Aesp. Dossiê 20-J-09, 6. “Manifestam os negros de São Paulo a sua solidariedade à Associação Americana para o Progresso do Homem de Cor”. Notícias de Hoje, 19/10/1957. . Por sinal, Correia Leite se lembra de um professor afro-americano que tomou conhecimento da existência da Associação Cultural do Negro nos Estados Unidos e que, ao desembarcar em São Paulo, contratado para fazer algumas conferências, dizia querer conhecer a associação e acabou sendo ciceroneado por Américo Orlando, então secretário da Diretoria Executiva da ACN. Tudo indica que a proposta de instalação da “Comissão de Solidariedade aos Povos Africanos” reverberou na África portuguesa, pois a associação recebeu publicações do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) por um período (Leite, 1992:175). Em 1958, ela recebeu em sua sede a visita da comitiva do “Ballets Africains”, dirigido por Keita Fodeba, da Guiné. Na cerimônia de recepção, foi lido o seguinte discurso:

A Associação Cultural do Negro não poderia deixar de registrar com satisfação a presença de Vv. Ss. em nosso país, e particularmente em nossa sede social. A Diretoria Executiva da entidade, interpretando os sentimentos de seus associados e colaboradores, vem congratular-se com esse elenco, pelo brilhante trabalho de divulgação da cultura negra, desenvolvido através de excursões a numerosos países da África, Europa e América. Apesar de conhecermos pouco da África contemporânea, temos acompanhado com interesse e simpatia os movimentos aí desenvolvidos em favor da sua emancipação social, econômica, política e cultural. Manifestações como o I Congresso de Escritores e Artistas Negros, realizado em setembro de 1956 em Paris e os movimentos de autodeterminação de numerosas nações africanas, repercutiram e repercutem no Brasil, e os apelos lançados pelas vozes poderosas de Aimé Césaire, Birago Diop, Léopold Sédar Senghor, David Diop e tantos outros ressoam ainda fortemente em nosso país71 71 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 10 (Diretoria Executiva – Correspondência). “Ao elenco do Ballets Africains de Keita Fadeba”. São Paulo, 25/04/1958. .

De fato, como o próprio Correia Leite relatou a posteriori, o I Congresso Mundial de Escritores e Artistas Negros – que reuniu na França em 1956 intelectuais africanos e da diáspora para debaterem a “contribuição original da cultura negra à civilização” e (re)afirmarem discursos em torno do conceito de negritude, que preconizava o orgulho negro, a valorização cultural da África (a “terra-mãe”) e a solidariedade de todos os “irmãos” negros do mundo, em vista da preservação de sua identidade comum – causou impacto entre os afro-paulistas, despertando-lhes o interesse pelo conceito de negritude articulado a partir das ideias do martiniquense Aimé Césaire, do senegalês Léopold Senghor, do estadunidense Langston Hughes e do guianense Léon Damas (Leite, 1992LEITE, José Correia. (1992), ...E Disse o Velho Militante José Correia Leite: Depoimentos e Artigos. Organizado por Cuti. São Paulo, Secretaria Municipal da Cultura.:138,149,167). Segundo Mário Augusto da Silva, o próprio Léon Damas recorreu ao conglomerado de ativistas da ACN para organizar com poetas brasileiros a sua Nouvelle somme de poésie du monde noir (1967), editada em francês, inglês, português e espanhol. Teria recolhido poemas dos “aceneanos” Natanel Dantas, Eduardo de Oliveira, Carlos de Assumpção, Luiz Paiva de Castro, Marta Botelho e Oswaldo de Camargo. Quase uma década antes, Nicolas Guillén – poeta cubano ligado ao movimento negrista do Caribe hispânico – “também já havia travado contato com alguns dos frequentadores” da associação (Silva, 2012SILVA, Mário Augusto Medeiros da. (2012), “Fazer a História, Fazer Sentido: Associação Cultural do Negro (1954-1964)”. Lua Nova, n. 85, pp. 227-273.:247). Em 1959, a ACN foi convidada pela Société Africaine de Culture – importante polo difusor do movimento da negritude francesa e editora da afamada revista Présence Africaine72 72 . Em dezembro de 1947, simultaneamente em Dacar e Paris, saiu o primeiro número de Présence Africaine. Fundada pelo intelectual senegalês Alioune Diop, a revista tentou reunir o pensamento de africanos e africanistas com o dos negros estadunidenses, caribenhos e europeus, pelo menos para que suas similaridades e diferenças pudessem ser sistematicamente exploradas. Apoiada por intelectuais de grande prestígio (André Gide, Jean-Paul Sartre, Emmanuel Mounier, Albert Camus, Georges Balandier, Michel Leiris, Thomas Monod, Paul Rivet, além de Senghor, Césaire, Richard Wright e Paul Hazoumé), a revista tornou-se uma importante referência para o movimento da negritude (Cf. Damato, 1983:126-127; Gilroy, 2001:290; Reis, 2016). – para representar as diversas entidades afro-brasileiras no II Congresso Mundial de Escritores e Artistas Negros, que aconteceria em Roma (Itália). Na ocasião, Alioune Diop – secretário-geral da Société Africaine de Culture (S.A.C.) – também sugeriu que a associação afro-paulista liderasse um movimento pela criação da “Amis de la Présence Africaine”, uma espécie de seção da (S.A.C.) no Brasil, tendo em vista estudar os “problemas ligados à cultura afro-brasileira e a divulgação de todas as manifestações relativas a ela”73 73 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 11 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) remetido à imprensa sobre o II Congresso Mundial dos Escritores e Artistas Negros. São Paulo, 18/02/1959. . A resposta foi imediata:

Estejam certos, os irmãos congressistas e a vitoriosa Sociedade Africana de Cultura, de que o nosso mais ardente desejo, o nosso mais acalentado sonho, o nosso mais profundo anseio – é o estabelecimento de contatos iniciais, que esta mensagem representa, e a manutenção de relações, dentro de um espírito muito fraternal, através dos tempos. É também a nossa manifestação, muito sincera e muito leal, de votos de pleno êxito nos trabalhos, aos nossos irmãos e orientadores universais, reunidos em Roma no II Congresso74 74 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pacotilha – CMEA. Mensagem da ACN ao II Congresso Mundial de Escritores e Artistas Negros. São Paulo, 20/03/1959. .

Apesar do clima de euforia, os dirigentes da ACN constataram que não dispunham de condições financeiras para patrocinar o envio de um representante ao conclave. A alternativa encontrada foi desencadear uma campanha de doação junto à iniciativa privada. Depois de meses de campanha, os dirigentes conseguiram amealhar recursos suficientes para garantir a ida de um delegado – Geraldo Campos de Oliveira – ao II Congresso Mundial de Escritores e Artistas Negros, realizado em Roma. Tratou-se de um importante evento de articulação na diáspora africana e, de acordo com Gilroy, seus participantes escolheram como temas centrais de discussão a unidade da “Cultura Negra” e as “responsabilidades políticas criativas que recaíam sobre a nata de intelectuais negros responsáveis pela demonstração e reprodução dessa unidade” (Gilroy, 2001:365). Quando Geraldo Campos voltou do II Congresso Mundial de Escritores e Artistas Negros, trouxe uma série de documentos, teses e outras coisas, como um distintivo da revista Présence Africaine.

A conexão da ACN com a Société Africaine de Culture foi renovada meses mais tarde. Quando o “aceneano” Israel de Castro conseguiu ir a Europa “em missão de estudos”, a associação preparou uma carta, endereçada ao “Ilmo. Sr. Alioune Diop”, na qual dizia:

Valemo-nos do presente para apresentar a V. S. o professor Israel de Castro, Diretor- Tesoureiro da Associação Cultural do Negro – São Paulo, Brasil – que se dirige à Europa em missão de estudos, estando autorizado pela Diretoria Executiva de nossa entidade a tratar de questões relacionadas com a Société Africaine de Culture75 75 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 11 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de Geraldo Campos de Oliveira (presidente da ACN) ao Ilmo. Sr. Alioune Diop (DD. secretário-geral da Société Africaine de Culture). São Paulo, 05/07/1959. .

Embora ainda faltem mais pesquisas para revelar os contornos e alcances destas conexões entre lideranças, movimentos, associações e eventos na arena do internacionalismo negro, os indícios apontam para contatos, entrelaçamentos e expectativas interculturais entre ativistas, artistas e intelectuais na diáspora e a apropriação política de repertórios hemisféricos com leituras locais de reivindicações. Seria interessante, nesse aspecto, avaliar os vetores destes paradigmas raciais pari passu ao ambiente de circulação e recepção de ideias, narrativas, agendas e projetos transnacionais traduzidos em âmbito local e vice-versa.

Quando entrevistado, Oswaldo de Camargo argumentou que havia na ACN “debate sobre a negritude [francófona], informações sobre a revolução que transcorria na África”. Contudo, a “influência maior” para a associação teria sido “a Renascença Negra [Black Renaissance] Americana, aquele movimento de recuperação de valores negros, mas dentro de um grande pacifismo de integração sobretudo pela arte, pela escultura, pela literatura etc.”76 76 . Entrevista de Oswaldo de Camargo concedida ao autor. São Paulo, 10/07/2006. Oswaldo de Camargo nasceu em Bragança Paulista, interior de São Paulo, em 1936. Filho de José Quintiliano de Camargo e de Martinha da Conceição Camargo – ambos trabalhadores rurais –, ingressou aos 12 anos no Seminário Menor Nossa Senhora da Paz, em São José do Rio Preto. Aprendeu a tocar órgão e iniciou os estudos sobre música erudita. Aos 15 começou a compor poemas. Em 1954, abandonou o seminário; em seguida, transferiu-se para a capital do Estado e filiou-se à Associação Cultural do Negro. Colaborou com vários veículos de comunicação no meio afro-paulista. Foi redator-chefe, ao lado de Ovídio P. dos Santos, do jornal O Novo Horizonte; fez parte do corpo de redação de A Voz da Rua; colaborou n’O Mutirão da ACN, onde dirigiu o seu Departamento de Cultura, em 1958, e apresentou vários concertos de piano. Em 1959, publicou Um homem tenta ser anjo, com apresentação de Sérgio Milliet. Um ano depois, foi convidado para ser o redator-chefe da revista Niger e trabalhou para seus quatro números publicados; em 1961, colaborou com o efêmero jornal Ébano. . Examinando a ACN por uma perspectiva estritamente cultural, o depoimento de Oswaldo de Camargo até que tem plausibilidade. Mas a associação foi além de sua vertente cultural e assumiu um caráter multifacetado. Suas ações, estratégias e aspirações sugerem pensar nos diálogos cruzados de representações, símbolos e imagens; nas solidariedades multilaterais e nas plataformas translocais de políticas raciais. Uma coisa é certa. Em lugar de se restringir ao Brasil, ela procurou levar seu projeto para a esfera mais ampla do internacionalismo negro, articulando-se aos sentidos polifônicos da afro-diáspora. Protestos pelos direitos civis, lutas de libertação colonial, reconfigurações geopolíticas em estados-nações, enfrentamentos por cidadania e movimentos artístico-culturais de afirmação da negritude ganhavam novos transmissores, interlocutores, signos, linguagens e representações, entre sons, imagens, cenografias, identidades, corpos e almas.

O FIM DE UM SONHO

Em 1960, a ACN ficou temporariamente inativa77 77 . Em ofício endereçado ao diretor da Divisão de Diversões Públicas da Prefeitura de São Paulo, Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) alegava que a agremiação esteve impossibilitada de funcionar durante o ano de 1960 em virtude de: “a) fechamento da sede social, para reforma completa em suas instalações; b) longo tempo na prestação e apuração das contas, da diretoria demissionária; c) fase de eleições, para preenchimento dos cargos vagos de direção, em virtude de renúncia coletiva”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Ofício de Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) ao Exmo. Sr. Dr. diretor da Divisão de Diversões Públicas. São Paulo, 04/1961. . Quando foi reativada, houve uma diminuição no seu volume de atividades. No final de 1962, a associação recebeu ordem de despejo da justiça por falta de pagamento dos aluguéis da sede social. Conseguiu se livrar da dívida, mas não da crise financeira. Em 31 de março de 1964, um golpe de Estado destituiu João Goulart da Presidência da República e instaurou a ditadura civil-militar no país. As liberdades democráticas – de expressão e manifestação – foram suspensas. Censura aos meios de comunicação, cassação de direitos políticos de líderes civis, de sindicalistas, de intelectuais; perseguição aos movimentos sociais (operário, estudantil, popular e negro), prisões, torturas, mortes deram a tônica de um regime cada vez mais draconiano78 78 . Sobre a perseguição dos órgãos de repressão aos movimentos sociais negros em São Paulo durante o regime militar, ver Karin Kossling (2007). Para a situação do afro-brasileiro nesse período, conferir Zelbert Moore (1989). . O suposto perigo comunista era o pretexto amiúde usado para justificar a repressão. Qualquer suspeita de envolvimento com atividade considerada subversiva podia custar a perda dos direitos políticos, quando não da liberdade ou da vida. Na área econômica, a inflação atingia níveis preocupantes, porém, era a política tributária e de contenção salarial que gerava a maior fonte de descontentamento da população (Macarini, 2000MACARINI, José Pedro. (2000), “A Política Econômica da Ditadura Militar no Limiar do ‘Milagre’ Brasileiro”. Texto para Discussão, no 99, Instituto de Economia, Unicamp.; Carvalho, 2006CARVALHO, José Murilo de. (2006), Cidadania no Brasil: O Longo Caminho. 8a ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira.; Napolitano, 2014NAPOLITANO, Marcos. (2014), 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo, Contexto.). Em 1965, a ACN se pronunciava a respeito:

A Associação Cultural do Negro sofreu este ano uma crise interna de graves proporções, devido à escassez de elementos para compor o Conselho Superior da Sociedade e consequentemente a falta de elementos capacitados para eleger a sua nova Diretoria Executiva. Diga-se de passagem, que a atual situação é reflexo da crise política do país, cujos governantes, na fúria patriótica de bem servir a Nação, encarecem a vida com tributos pesados, recaindo todos esses sacrifícios sobre o povo, impedindo a formação de grupos para o sustento de qualquer Sociedade. Mesmo assim, os abnegados não desistiram e graças ao esforço desta pequena coletividade foi possível este ano, a Associação Cultural do Negro, prosseguir com as suas atividades de caráter cívico-cultural para despertar as forças latentes, ainda adormecidas, no íntimo do elemento de raça negra do País79 79 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades da ACN no ano de 1965. São Paulo, 28/01/1966. .

A implantação da ditadura civil-militar ajudou a aprofundar a crise na ACN. Vigiada pelos órgãos de repressão, a associação ficou mais debilitada, deixou de fomentar alguns projetos e procurou se dedicar às atividades cívico-culturais. Em 1967, ela se encontrava em estado de letargia e novamente foi obrigada a fechar suas portas. Quase dois anos depois, foi reaberta num outro endereço – rua Jaboatão, número 548, bairro da Casa Verde80 80 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 15 (Diretoria Executiva – Correspondência). Relatório das atividades da ACN. São Paulo, 09/08/1969. – mas sem o mesmo perfil e poder de articulação. Nessa nova etapa, marcada pela transferência do centro para um bairro da periferia da cidade de São Paulo, a associação foi presidida por Gilcéria Oliveira – uma advogada identificada como branca, que recebeu a ajuda de Eduardo de Oliveira e Oliveira, um estudante afro-brasileiro da Universidade de São Paulo (USP)81 81 . Entrevista de Oswaldo de Camargo concedida ao autor. São Paulo, 10/07/2006. – e passou a desenvolver notadamente ações de cunho recreativo, pedagógico e assistencialista. Continuaram, por exemplo, as atividades desportivas e as comemorações do 13 de Maio, sem contudo o mesmo vigor de outrora82 82 . “Continua a ACN invicta”. A Gazeta Esportiva. São Paulo, 27/02/1964; “Venceu a AC do Negro”. A Gazeta Esportiva. São Paulo, 08/04/1964; “Empatou a Associação Cultural do Negro”. A Gazeta Esportiva. São Paulo, 02/09/1964. . Ao consultar a documentação da ACN dessa fase, saltam à vista os seus problemas financeiros. Mesmo esvaziada, para não dizer moribunda, ela ainda reuniu forças para dar o último suspiro: uma nova mudança de endereço83 83 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 15 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Gilcéria Oliveira (presidente) aos associados da ACN. São Paulo, 02/1975. . Debalde. Em julho de 1976 veio o golpe de misericórdia. Por falta de “elemento humano e recursos financeiros”, a associação encerrou suas atividades. Uma carta de Gilcéria Oliveira aos associados selava o final melancólico de uma longa jornada de luta pela “recuperação social do elemento afro-brasileiro”:

Vimos pela presente, comunicar-lhe que não havendo mais condições para continuarmos os trabalhos na Associação Cultural do Negro – SP, decidimos encerrar suas atividades, em caráter definitivo e irrevogável [...]. Lamentavelmente não vamos continuar porque não contamos com elemento humano e nem temos recursos financeiros84 84 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 15 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Gilcéria Oliveira (presidente) e Helena dos Santos Rosa (tesoureira) aos associados da ACN. São Paulo, 05/1976. .

O fechamento em definitivo causou repercussão entre os associados. Um deles, José Mindlin, respondeu à carta de Gilcéria Oliveira: “Prezada senhora [...] só posso dizer que lamento profundamente que os amigos tenham sido levados a uma tal decisão, pois a Associação vinha fazendo um trabalho extremamente útil e meritório”.85 85 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 19 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de José E. Mindlin a Ilma. Sra. Gilcéria Oliveira – DD. Presidente da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 30/07/1976. Era o fim de um sonho alimentado e realimentado por muitos negros e alguns brancos – como José Mindlin. Com a extinção, os móveis da ACN foram doados ao Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Vai-Vai e o seu arquivo entregue a Cícero José do Nascimento, um antigo colaborador.

Segunda República – ou tempo da experiência democrática – foi um momento de efervescência política, social e cultural e nele o protagonismo negro cumpriu um papel cuja importância não pode ser desprezada. Em amostra preliminar, pode-se elencar a emergência de vários agrupamentos afro-brasileiros atuando na esfera pública: em São Paulo, a Associação do Negro Brasileiro, o Centro Cultural Luiz Gama, a Legião Negra do Brasil, a Associação Palmares, a Associação Renovadora dos Homens de Cor, a Casa da Cultura Afro-Brasileira; no Rio de Janeiro, a Uagacê, o Centro Cultural José do Patrocínio, o Teatro Experimental do Negro, a União Cultural dos Homens de Cor, a Frente Negra Trabalhista; no Rio Grande do Sul, a União dos Homens de Cor – que chegou a ter sucursais em pelo menos dez estados da Federação –, a Associação Satélite Prontidão, o Centro Cultural Marcílio Dias; em Belo Horizonte, a Associação José do Patrocínio; em Salvador, a Sociedade Henrique Dias. Ademais, cumpre registrar a publicação de vários jornais e revistas da chamada imprensa negra: Alvorada (1945), O Novo Horizonte (1946), Mundo Novo (1950), Notícias d’Ébano (1957), Hífen (1960), Correio d’Ébano (1963), no estado de São Paulo; Quilombo (1948), Redenção (1950), A Voz da Negritude (1953), no Rio de Janeiro; União (1947), em Curitiba, afora as revistas como Senzala (1946) e Niger (1960)86 86 . Sobre a mobilização racial no contexto da Segunda República, ver Paulina Alberto (2011:151-244), Elio Chaves Flores (2007), Michael Hanchard (2001), José Jorge Siqueira (2006), Maria Aparecida Lopes (2007), Michael Mitchell (1977), Flávia Alessandra Pereira (2008), Andréia Rosalina Silva (2010), Joselina da Silva (2005) e Edilza Sotero (2015). Já para a imprensa negra do período, ver Roger Bastide (1951), Miriam Nicolau Ferrara (1986) e Antonio Sérgio Guimarães (2003). . Isso significa dizer que o tempo da experiência democrática não foi de “décadas perdidas” de mobilização racial. Os homens e mulheres de “cor” continuaram dialogando entre si e com a sociedade brasileira, pleiteando direitos, denunciando o “preconceito de cor”, fundando associações, publicando jornais e revistas, organizando eventos, posicionando-se no debate nacional, enfim, continuaram labutando pela afirmação (ou alargamento) da cidadania.

Segundo Florestan Fernandes, os movimentos sociais do “meio negro” atacaram de forma radical o padrão assimétrico das relações raciais e os seus “dividendos, expressos nas avaliações etnocêntricas e nas atitudes discriminativas, correlacionadas em torno do ‘preconceito de cor’”. No entanto, “a sociedade inclusiva ficou surda e muda a qualquer tentativa de diálogo” (Fernandes, 1978FERNANDES, Florestan. (1978) [1965], A Integração do Negro na Sociedade de Classes. 3a ed. 2. vol. São Paulo, Ática.:367). Ao menos com a ACN, não foi isso que se viu. Além de conquistar a adesão ou simpatia de setores da população negra, ela agenciou alianças, abriu canal de interlocuções e estabeleceu negociações com segmentos da sociedade civil (estudantes, intelectuais, artistas e jornalistas) e do poder público (por intermédio de vereadores, deputados, prefeitos e governadores). Portanto, é escusado dizer que a “sociedade inclusiva” não ficou indiferente à ACN.

Em seu período de vida, ela formulou, coordenou e apoiou diversos projetos, sempre desfraldando a bandeira do seu objetivo mais notável: a “recuperação social do elemento afro-brasileiro”. Ponto de encontro, sociabilidade, cultura e lazer, a associação proporcionava conferências; celebrações (da data de seu aniversário de fundação, da Lei Áurea, da Mãe Preta, dentre outras efemérides); homenagens aos ícones afro-diaspóricos (como Luiz Gama, José do Patrocínio, André Rebouças, Cruz e Sousa, Teodoro Sampaio, Carolina de Jesus, Léopold Senghor, Louis Armstrong e Marian Anderson); sessões cívicas e lítero-musicais; recitais de poesia; espetáculos teatrais (com a colaboração do Teatro Popular Brasileiro e Teatro Experimental do Negro); noites de arte e cultura; animava festas; soirées dançantes ou bailes (inclusive carnavalescos); coquetéis; concursos de beleza; programas recreativos (como excursões ao litoral paulista, convescotes, gincanas, jogos de salão etc.) e desportivos (com a prática e competições de futebol, “cestobol”, voleibol, jogos e ping-pong); oferecia cursos ligados ao Departamento de Educação, além de ter montado uma biblioteca, sediado eventos de caráter dinamizador, como o “Encontro de Cultura Negra”, publicado os “Cadernos de Cultura” e um jornal, O Mutirão. No seu apogeu, chegou a ter mais de 700 sócios. Mantinha entre seus membros afiliados pessoas hoje conhecidas no meio acadêmico, como o bibliófilo José Mindlin e os sociólogos Otávio Ianni e Florestan Fernandes. O último, inclusive, tornou-se o representante da ACN para fins culturais.

Como principal associação afro-paulista do período, tornou-se referência no marco de direitos, reivindicações e afirmação de identidade. Nas palavras de Oswaldo de Camargo, a “associação era um ponto obrigatório para qualquer estudante, para qualquer interessado na questão negra, tanto que volta e meia estavam lá intelectuais, visitantes, políticos que vinham de outros países passar por São Paulo e acabavam indo parar na associação”87 87 . Entrevista de Oswaldo de Camargo concedida ao autor. São Paulo, 10/07/2006. . Embora sediada na capital, estabeleceu intercâmbio com muitas entidades “coirmãs” no estado de São Paulo e no país. Quando os Onze Irmãos Patriotas F. C. completaram aniversário de fundação em abril de 1960, a diretoria da ACN enviou-lhes uma carta de felicitação, fazendo votos para que os laços de amizade, colaboração e fraternidade entre ambas as organizações negras se ampliassem e se consolidassem em proveito de um “ideal comum”, pois, “num instante histórico como o que atravessamos atualmente”, asseverava a carta, os “povos negros de todo o mundo procuram unir-se e organizar-se objetivando conquistar a sua emancipação total, desvencilhando vigorosamente das algemas que há séculos os escraviza e os humilha”88 88 . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Carta de Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) à Diretoria dos Onze Irmãos Patriotas F. C. São Paulo, 21/04/1960. .

Inserida no circuito transnacional, a ACN desenvolveu uma consciência e retórica de pertencimento a uma comunidade mais ampla: a da diáspora africana. A associação buscou ficar em sintonia com tudo o que transcorria na vida do negro em âmbito local e global e, quando necessário, posicionou-se em defesa dele. Ela se manifestou contra vários casos de “preconceito de cor” no Brasil. Permutou sua política racial e cultural com a NAACP nos Estados Unidos, com a S.A.C. na França, com Alioune Diop e outras lideranças do movimento negrista, do Caribe, e da negritude, da Europa. Promoveu atos públicos de apoio aos negros, tanto os que lutavam por direitos civis em solo yankee, quanto os que estavam sendo vítimas do apartheid na África do Sul. Ainda liderou os protestos a favor dos refugiados e mortos nos movimentos de libertação colonial no continente africano. Pode-se concluir, portanto, que sua atuação caracterizou-se por uma perspectiva afro-atlântica. Isto leva a inferir como os processos de racialização, assim como os discursos, programas, referenciais e agenciamentos antirracistas, embora se arvorem muitas vezes como locais ou nacionais, são construídos na híbrida rede transatlântica que abrange as Américas, a Europa e a África.

Reagindo às injustiças raciais que lhes restringiam as possibilidades de uma vida melhor, os “aceneanos” tomaram a história para si, escrevendo uma página de dedicação e entrega a uma causa coletiva, mesmo à base de sacrifícios pessoais. A esse respeito, José Correia Leite – um dos remanescentes da ACN – teceu palavras bastante eloquentes anos depois. Para um empreendimento daquela natureza, “é necessário espírito de renúncia, alguns sacrifícios e sobretudo idealismo” (Leite, 1992:194). Na conjuntura atual, em que tanto se discutem os direitos dos afro-brasileiros no concerto da nação – por meio de ações afirmativas, cotas, Lei 10.639 –, faz-se necessário lembrar que essa luta é antiga, e a Associação Cultural do Negro nela merece um papel de destaque.

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  • WEINSTEIN, Barbara. (2015), The Color of Modernity: São Paulo and the Making of Race and Nation in Brazil Durham/London, Duke University.
  • 1
    . Sobre as comemorações do quarto centenário da cidade de São Paulo e a problemática incorporação dos negros à efeméride, ver a pesquisa de Barbara Weinstein. The color of modernity: São Paulo and the making of race and nation in Brazil. Durham and London: Duke University, 2015, particularmente o capítulo “Exhibiting exceptionalism: history at the IV Centenário”, pp. 267-295.
  • 2
    . “Uma lição do tempo”. O Novo Horizonte. São Paulo, 09/1954, p. 2.
  • 3
    . Eis os nomes das pessoas listadas na ata da reunião de fundação da Associação Cultural do Negro: José Assis Barbosa, Manassés de Oliveira, Roque Antônio dos Santos, Oscar Guaranha, Maria Helena Lucas Barboza, José Ignácio do Rosário, José Francisco, Mary de Oliveira, Mário da Silva Júnior, Adolfo Anicetto dos Santos, Eduardo Francisco dos Santos, Marcos Maurício, Geraldo Campos de Oliveira, Geraldo Pereira de Carvalho, Ary Menezes, Geraldo de Oliveira, Jorge Chagas, Américo dos Santos, Bendito Pereira, Júlio de Brito, Dácio de Castro, Israel de Castro, José Correia Leite, Euzébio Augusto de Oliveira e Adélio Alves de Silveira.
  • 4
    . Acervo da Unidade Especial de Informação e Memória da Universidade Federal de São Carlos (Ueim-UFSCar). Coleção Associação Cultural do Negro (ACN). Pasta 07 (Conselho Superior – Assembleia – Estatuto). Ata da reunião de fundação da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 28/12/1954.
  • 5
    . Para o conceito de diáspora associado à rede afro-atlântica, com seus sentidos e significados inclusive nas políticas raciais, ver Kim Butler (2001)BUTLER, Kim D. (2001), “Defining Diaspora, Refining a Discourse”. Diaspora: A Journal of Transnational Studies, vol. 10, no 2, pp. 189-219., Sérgio Costa (2006)COSTA, Sérgio. (2006), Dois Atlânticos: Teoria Social, Anti-racismo, Cosmopolitismo. Belo Horizonte, Ed. UFMG., Brent Edwards (2001)EDWARDS, Brent Hayes. (2001), “The Uses of Diaspora”. Social Text, vol. 19, no 166, pp. 45-73., Paul Gilroy (2001)GILROY, Paul. (2001), O Atlântico Negro: Modernidade e Dupla Consciência. São Paulo, Editora 34., Stuart Hall (2003)HALL, Stuart. (2003), Da Diáspora: Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte, Ed. UFMG; Brasília, Representação da Unesco no Brasil., Robin Kelley e Tiffany Patterson (2000)KELLEY, Robin D. G.; PATTERSON, Tiffany Ruby. (2000), “Unfinished Migrations: Reflections on the African Diaspora and the Making of the Modern World”. African Studies Review, vol. 43, no 1, pp. 11-45., Marilise Reis (2010)REIS, Marilise L. M. (2010), “Diáspora como Movimento Social: Implicações para a Análise dos Movimentos Sociais de Combate ao Racismo”. Ciências Sociais Unisinos, vol. 46, no 1, pp. 37-46. e Khachig Tölölyan (1996)TÖLÖLYAN, Khachig. (1996), “Rethinking Diaspora(s): Stateless Power in the Transnational Moment”. Diaspora: A Journal of Transnational Studies, vol. 5, no 1, pp. 3-36.. Quanto ao conceito de “glocal” – interpretações locais da globalização negra, ver Livio Sansone (2003)SANSONE, Livio. (2003), Negritude sem Etnicidade: O Local e o Global nas Relações Raciais e na Produção Cultural Negra do Brasil. Rio de Janeiro, Pallas; Salvador, Edufba..
  • 6
    . Sobre as desvantagens dos negros frente aos brancos e as relações raciais em São Paulo nesse período, ver George Andrews (1998ANDREWS, George Reid. (1998), Negros e Brancos em São Paulo (1888-1988). Bauru, Edusc.:243-281), Roger Bastide (1959)BASTIDE, Roger. (1959), “Manifestações do Preconceito de Cor”, in F. Fernandes; R. Bastide (eds.), Brancos e Negros em São Paulo: Ensaio Sociológico sobre Aspectos da Formação, Manifestações Atuais e Efeitos do Preconceito de Cor na Sociedade Paulistana. 2. ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional, pp. 163-215., Virgínia Bicudo (1945)BICUDO, Virgínia Leone. (1945), Estudo de Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo. Dissertação (Mestrado em Ciências), Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo., Harley Hammond (1963)HAMMOND, Harley Ross. (1963), “Race, Social Mobility and Politics in Brazil”. Race, vol. 4, no 2, pp. 3-13., Richard Morse (1953)MORSE, Richard M. (1953), “The Negro in São Paulo, Brazil”. Journal of Negro History, vol. 38, no 3, pp. 290-306., Oracy Nogueira (1942)NOGUEIRA, Oracy. (1942), “Atitude Desfavorável de alguns Anunciantes de São Paulo em Relação aos Empregados de Cor”. Sociologia, vol. IV, no 4, pp. 328-358. e Edgard Santana (1951)SANTANA, Edgard Theotonio. (1951), Relações entre Pretos e Brancos em São Paulo: Estudo de Cooperação à Unesco. São Paulo, Edição do Autor..
  • 7
    . Uma das exceções é a pesquisa de Edilza Sotero (2015)SOTERO, Edilza Correia. (2015), Representação Política Negra no Brasil pós-Estado Novo. Tese (Doutorado em Sociologia), Universidade de São Paulo, São Paulo..
  • 8
    . Do ponto de vista acadêmico, o quadro de negligência em relação à Associação Cultural do Negro tem apresentado sinais de mudança. Uma nova geração de pesquisadores tem envidado esforços para tirar a agremiação do limbo. Os primeiros trabalhos dedicados exclusivamente a ela são de Petrônio Domingues (2007DOMINGUES, Petrônio. (2007), “Associação Cultural do Negro (1954-1976): Um Esboço Histórico”. Anais do XXIV Simpósio Nacional de História. São Leopoldo (RS), Unisinos. CD-ROM. Disponível em https://anais.anpuh.org/?p=15329. Acesso em março de 2018.
    https://anais.anpuh.org/?p=15329...
    , 2010DOMINGUES, Petrônio. (2010), “‘O Grande Campo de Batalha’: Associação Cultural do Negro e a Questão da Educação”, in J. et al. (eds.), Negros no Brasil: Política, Cultura e Pedagogias. Florianópolis, Atilènde, pp. 117-136.), que foi acompanhado por Mário Augusto Medeiros da Silva (2012)SILVA, Mário Augusto Medeiros da. (2012), “Fazer a História, Fazer Sentido: Associação Cultural do Negro (1954-1964)”. Lua Nova, n. 85, pp. 227-273..
  • 9
    . Andreas Hofbauer examina as visões e estratégias dos movimentos sociais afro-brasileiros, endossando a assertiva segundo a qual houve uma espécie de hiato na luta antirracista entre a Frente Negra Brasileira (1931-1937) e o Movimento Negro Unificado (fundado em 1978): “O Estado Novo desarticularia todos os movimentos políticos, principalmente os de base popular. Logo depois do final da era Vargas, houve alguns esforços de grupos isolados para fundar novas revistas (por exemplo, Senzala [1946], Niger [1959-1960], Ébano [1961]) e novas entidades políticas negras locais (por exemplo: Associação Cultural do Negro [1954]). Findo o breve interlúdio democrático, o nascente regime militar tampouco facilitou a formação de agremiações com objetivos políticos. Seria preciso aguardar até o fim da década de 1970 para que surgisse uma nova tentativa de unir as forças políticas negras em outra organização supra-regional” (Hofbauer, 2006HOFBAUER, Andreas. (2006), Uma História de Branqueamento ou o Negro em Questão. São Paulo, Editora Unesp.:370). Henrique Cunha Junior vai mais longe, postulando que, de 1945 em diante, “os movimentos negros caminham para uma aparente extinção, entrando na década de sessenta com o menor índice de participação encontrado em toda sua história” (Cunha Júnior, 1992CUNHA JÚNIOR, Henrique. (1992), “Uma Introdução à História dos Movimentos Negros no Brasil”, in H. Cunha Júnior, Textos para o Movimento Negro. São Paulo, Edicon, pp. 69-78.:76).
  • 10
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 07 (Conselho Superior – Assembleia – Estatuto). Estatuto Social da Associação Cultural do Negro, fl. 1. São Paulo, 01/02/1955.
  • 11
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 07 (Conselho Superior – Assembleia – Estatuto). Estatuto Social da Associação Cultural do Negro, fl. 2. São Paulo, 01/02/1955.
  • 12
    . Em 1959, o relatório da secretaria da ACN informava que o Conselho Superior da agremiação havia até então convocado oito assembleias gerais e realizado trinta e sete reuniões ordinárias e trinta e uma extraordinárias. Quatorze reuniões não se realizaram por falta de quórum ou por outro motivo qualquer, “totalizando oitenta e duas convocações”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório Extraordinário da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 21/12/1959.
  • 13
    . A gestão de José de Assis Barbosa levou pouco tempo, já que em 1956 ele foi substituído por Geraldo Campos de Oliveira, que, por sua vez, presidiu a agremiação até 1960, após ter solicitado demissão do cargo. Quem assumiu interinamente foi José Correia Leite. No início de 1961, Adélio Alves da Silveira tomou posse do cargo de presidente da Diretoria Executiva, mas pediu demissão em 1963, tendo Henrique Antunes Cunha assumido a “junta governativa provisória”, com mandato de 18 meses. Um ofício confirmava que Henrique Antunes Cunha era o presidente da agremiação. Dois anos depois, este foi substituído por Antonio Salvador de Oliveira, por aclamação.
  • 14
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 03/12/1956.
  • 15
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Comunicado de Geraldo Campos de Oliveira (presidente da Diretoria Executiva) ao Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 30/08/1958.
  • 16
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 19 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de Hélcio Lacerda, de Jaboticabal, aos Exmos. Senhores Diretores da Associação Cultural do Negro, em 18/02/1965.
  • 17
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 3 (Conselho Superior – Correspondência). Comunicado do Conselho Superior da ACN à Diretoria Executiva. São Paulo, 21/02/1956.
  • 18
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 03/12/1956.
  • 19
    . Ver, entre outras fontes, “Associação Cultural do Negro deu show de basquetebol em Jundiaí”. A Gazeta Esportiva. São Paulo, 28/05/1961; “Atletas destacados em ação na pista do Tietê; afigura-se como das mais interessantes a competição entre a Fupes, Associação Cultural do Negro e a Colônia Japonesa”. Diário Popular. São Paulo, 06/05/1961; “Associação Cultural do negro coroou Rainha do Esporte com grande baile no Palácio Mauá”. Última Hora. São Paulo, 07/06/1961.
  • 20
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 03/12/1956.
  • 21
    . Em 1958, também foi formado o Departamento da Sede Própria. Seu período de vida, porém, foi efêmero, pois, em 1961, houve a sua extinção, em virtude de “dificuldades de ordem social e financeira” que a ACN atravessava. Em 1960, foi criado o “Departamento Social” ou “Departamento de Assistência Social”, sendo Antonio Dias eleito seu diretor. Cf. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 21/12/1959; Pasta 3 (Conselho Superior – Correspondência). Correspondência do Conselho Superior da ACN ao Senhor Alcides de Oliveira Santos. São Paulo, 04/04/1961; Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 05/01/1961.
  • 22
    . O Mutirão. São Paulo, 05/1958, p. 1.
  • 23
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 10 (Diretoria Executiva – Correspondência). Ofício de Geraldo Campos de Oliveira (presidente da Diretoria Executiva) ao Excelentíssimo Senhor Dr. Jânio Quadros (DD. Governador do Estado de São Paulo). São Paulo, 06/12/1958.
  • 24
    . CAMARGO, Oswaldo de. 15 Poemas negros. São Paulo: Edição da Associação Cultural do Negro, 1961 (Série Cultura Negra 3); GONÇALVES, Nestor. Fatores determinantes da formação da cultura afro-brasileira. São Paulo: Edição da Associação Cultural do Negro, 1962 (Série Cultura Negra 4); ALVES, Henrique L. Nina Rodrigues e o negro do Brasil. São Paulo: Edição da Associação Cultural do Negro, 1962. (Série Cultura Negra 5). Da “Série Cultura Negra”, a ACN programou ainda o lançamento de A ecologia do grupo afro-brasileiro ante o serviço social, de Sebastião Rodrigues Alves; O alvorecer de uma ideologia, de José Correia Leite; e Mansidão, de Oswaldo de Camargo, mas, por falta de recursos, tais opúsculos não vieram a público.
  • 25
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades gerais da Associação Cultural do Negro no período de agosto de 1958 a julho de 1959. São Paulo, 19/10/1959. Um indício da repercussão positiva dos Cadernos de Cultura foi a carta escrita pelo general Mario de Mattos, do Estado da Guanabara: “Acabo de ler o exemplar no 1 da série “Cultura Negra” – Edição da Associação Cultural do Negro – São Paulo [...], motivo pelo qual me congratulo efusivamente com a ACN pelo seu alto empreendimento útil, certo e bem orientado em prol do elemento de cor negra, neste vasto continente que é o nosso querido Brasil!”. Cf. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 19 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência do Gen. Mario de Mattos Pinheiro ao Sr. Secretário da ACN. Estado da Guanabara, 07/11/1954.
  • 26
    . Quanto ao projeto educacional da ACN, ver Petrônio Domingues (2010)DOMINGUES, Petrônio. (2010), “‘O Grande Campo de Batalha’: Associação Cultural do Negro e a Questão da Educação”, in J. et al. (eds.), Negros no Brasil: Política, Cultura e Pedagogias. Florianópolis, Atilènde, pp. 117-136..
  • 27
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 5 (Conselho Superior – Correspondência). Ofício de Adélio Alves da Silveira (presidente da Diretoria Executiva) a José Correia Leite (presidente do Conselho Superior). São Paulo, 19/06/1961.
  • 28
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório anual das atividades da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 13/01/1963. Ver também Coleção ACN. Pasta 13 (Diretoria Executiva – Correspondência). “Solicitação de reconsideração de despacho ao Tribunal Municipal de Impostos e Taxas”. São Paulo, 01/02/1963.
  • 29
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades da ACN no ano de 1965. São Paulo, 28/01/1966.
  • 30
    . Sebastiana Vieira costumava convidar todas as associadas da ACN a integrarem o Departamento Feminino: “Tenho o prazer de convidar V. S. para participar da reunião que será realizada dia 2 de julho, à praça Carlos Gomes, número 156 – 3o. andar –, ocasião que discutiremos o seguinte: a) Funcionamento do Departamento Feminino da Associação Cultural do Negro; b) Formação de cursos do Departamento Feminino. O Departamento Feminino comunica ainda que, segunda-feira próxima passada, foi inaugurado na entidade o ‘Curso de enfermagem do lar’, para o qual espera contar com a presença e a colaboração da amiga”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 31(Diretoria Executiva – Departamentos). Carta-convite de Sebastiana Vieira (diretora do Departamento Feminino) às associadas da ACN. São Paulo, 27/06/1956.
  • 31
    . Em 1958, dos oito componentes da Diretoria Executiva, dois eram mulheres (Teda Ferreira e Pedrina Faustina de Alvarenga dos Santos). Dos trinta e dois componentes do Conselho Superior, seis eram mulheres (Sebastiana Vieira, Maria Aparecida Venâncio, Engracia Ortêncio Pompêo dos Santos, Juraci Barbosa de Oliveira, Nair Theodoro de Araújo e Maria da Penha Paula). Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Composição dos departamentos da ACN, em 24/10/1958.
  • 32
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 3 (Conselho Superior – Correspondência). Comunicado da Diretoria Executiva da Associação Cultural do Negro aos associados. São Paulo, 17/07/1957. Quando a ACN inaugurou sua nova sede social, recebeu a visita de Afonso Schmidt (escritor e autor de A marcha, “o romance da Abolição”). Houve um ato solene. Tomaram assento na mesa os convidados especiais: o jornalista Fernando Góes, o professor Arlindo Veiga dos Santos (primeiro presidente da antiga Frente Negra Brasileira) e o tenente José Ignácio do Rosário, os quais afiançaram inteira solidariedade às atividades desenvolvidas pela agremiação. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 15 (Diretoria Executiva – Correspondência). São Paulo, 14/06/1957.
  • 33
    . Eis como Adélio Alves de Silveira, presidente da Diretoria Executiva da ACN, referiu-se à efeméride de 13 de Maio em documento de circulação interna da agremiação: “Conforme é do conhecimento geral, as comemorações abolicionistas do mês de maio têm se constituído no ponto culminante das atividades da ACN desde a sua fundação, como ocorreu no presente ano”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 5 (Conselho Superior – Correspondência). Ofício de Adélio Alves de Silveira (Presidente da Diretoria Executiva) a José Correia Leite (presidente do Conselho Superior). São Paulo, 19/06/1961.
  • 34
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 05 (Conselho Superior – Correspondência). Atividades realizadas pela ACN no ano de 1956. Segundo George Andrews, as organizações afro-paulistas evitaram participar diretamente da política no interlúdio da Segunda República e, em vez disso, concentraram suas energias nas atividades sociais, culturais e educacionais. Esta postura ficaria evidenciada na “denominação da mais bem sucedida dessas organizações, a Associação Cultural do Negro” (Andrews, 1998:294). A assertiva de Andrews precisa ser relativizada. É verdade que as manifestações sociais, culturais e educacionais não se apresentam na sua concretude imediata como fato político, mas a cultura, como fenômeno de linguagem, é sempre passível de interpretação e reinterpretação. Em última instância, são os interesses em jogo dos grupos que definem o sentido da reelaboração simbólica desta ou daquela manifestação. A respeito das tensões existentes entre política e cultura nos movimentos afro-brasileiros desse período, ver Michael Hanchard (1993HANCHARD, Michael. (1993), “Culturalism versus Cultural Politics: The Movimento Negro in Rio de Janeiro and São Paulo, Brazil, 1970-1988”, in K. B. Warren (ed.), The Violence within: Cultural and Political Opposition in Divided Nations. Boulkder, Westview Press, pp. 57-85., 2001HANCHARD, Michael. (2001), Orfeu e o Poder: Movimento Negro no Rio de Janeiro e São Paulo (1945-1988). Rio de Janeiro, EdUERJ.) e Kimberly Jones de Oliveira (2003)OLIVEIRA, Kimberly F. Jones de. (2003), “The Politics of Culture or the Culture of Politics: Afro-brazilian Mobilization, 1920-1968”. Journal of Third Word Studies, vol. 20, no 1, pp. 103-120..
  • 35
    . Deops/SP, Arquivo Público do Estado de São Paulo (Aesp). Dossiê 20-J-09, 4. Relatório do investigador n. 104 dirigido ao Delegado Titular de Ordem Política e Social. São Paulo, 11/10/1957. Ver também Deops/SP, Aesp. Dossiê 20-J-09, 5. Relatório do investigador n. 1778 dirigido ao Delegado Titular de Ordem Política e Social. São Paulo, 19/10/1957.
  • 36
    . Em 1964, a ACN realizou uma sessão solene na data de sua fundação. Compareceram representantes da Câmara Municipal de São Paulo, Assembleia Legislativa, Casa do Poeta, Casa da Cultura Afro-Brasileira, Associação Cristã Brasileira de Beneficência, do Centro Catarinense de São Paulo, enfim, “pessoas de projeção na vida cultural e artística desta Capital para ouvirem o escritor Henrique L. Alves pronunciar vibrantemente uma conferência sobre o tema ‘Diálogo da Negritude’, historiando a vida e as realizações desta entidade no transcorrer destes dez anos, seguida de uma parte lítero-musical a cargo do poeta Oswaldo de Camargo”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades da ACN correspondentes ao período de janeiro a dezembro de 1964. São Paulo, 20/02/1965.
  • 37
    . Em ofício, a diretoria da ACN listava as atividades para as quais o governador Jânio Quadros havia depositado “inestimável colaboração”: I Convenção Paulista do Negro, Semana Nina Rodrigues, Semana Teodoro Sampaio, Semana Castro Alves, Semana Cruz e Souza, Semana José do Patrocínio, 1a. e 2a. Quinzena 13 de Maio, Prova Pedestre 13 de Maio, além da organização do programa comemorativo de “O ano 70 da Abolição”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 10 (Diretoria Executiva – Correspondência). Ofício da Associação Cultural do Negro ao Excelentíssimo Senhor Dr. Jânio da Silva Quadros, DD. governador do Estado de São Paulo. São Paulo, 16/09/1958.
  • 38
    . Nas comemorações dos setenta anos da Abolição, a ACN organizou um extenso programa cultural, social, artístico e recreativo que recebeu o apoio do cardeal D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, do governador Jânio Quadros, do prefeito Adhemar de Barros, de José Pedro Leite Cordeiro, Almeida Magalhães, Pedro Antonio de Oliveira Ribeiro Neto, Silvio Romero Filho, Sebastião Pagano, Honório de Sylos e René de Oliveira Barbosa, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do deputado Ariel Tomasine, dos prefeitos Ruy H. Novaes (de Campinas) e Francisco Romano de Oliveira (de Pindamonhangaba), dos vereadores Freitas Nobre (de São Paulo) e Humberto De Lucca (de Cruzeiro), sem falar dos intelectuais Sérgio Milliet, Rossini Tavares de Lima, Carlos Burlamaqui Kopke, Antônio Cândido e Florestan Fernandes (Cf. Milliet et al., 1958MILLIET, Sérgio et al. (1958), O Ano 70 da Abolição. São Paulo, Edição da Associação Cultural do Negro (Série Cultura Negra 1).:4-7).
  • 39
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades da ACN correspondentes ao período de janeiro a dezembro de 1964. São Paulo, 20/02/1965.
  • 40
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 10 (Diretoria Executiva – Correspondência). Relatório das atividades da ACN. Visita a Ribeirão Preto, em 11/1958.
  • 41
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 1 (Conselho Superior – Atas – Atos Executivos). Relatório da Secretaria do Conselho Superior da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 05/01/1961.
  • 42
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 15 (Diretoria Executiva – Correspondência). Ofício da Diretoria da ACN. São Paulo, 29/08/1962.
  • 43
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 14 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de Américo dos Santos (secretário-geral da ACN) ao Ilmo Snr. Prof. Florestan Fernandes – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. São Paulo, 25/03/1965.
  • 44
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades da ACN no ano de 1965. São Paulo, 28/01/1966.
  • 45
    . Eis os grupos do meio negro com os quais a ACN manteve algum tipo de contato. Em São Paulo: Clube Amigos da República do Haiti (Carhti); União dos Caboverdeanos Livres; Sociedade Cultural e Recreativa Palmares; XI Irmãos Patriotas F. C.; Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos; Associação José do Patrocínio; Casa de Cultura Afro-Brasileira; Associação Cultural Luiz Gama; Grêmio Recreativo Cultural Campos Elíseos; Associação Renovadora dos Homens de Cor; Associação Beneficente Pio XII; Aristocrata Clube; Sociedade Luiz Gama; Associação Brasileira de Defesa dos Direitos do Homem; Sociedade Henrique Dias; Clube 220; G.R.E.C. Coimbra; Grêmio Cruz e Sousa; La Paloma Club; Brasil F. C.; Associação Recreativa Afro-Brasileira; Colored’s Club de Vila Mariana; Associação Brasileira de Assistência Social e Educação; Grupo de Trabalho de Profissionais Liberais e Universitários Negros (G.T.P.L.U.N.); Teatro Popular Brasileiro (de Solano Trindade); Teatro Experimental do Negro de São Paulo e do Rio de Janeiro; Companhia Negra de Comédias e Revistas; Centro de Estudos Afro-Brasileiros; Grêmio Recreativo Familiar Flor de Maio, de São Carlos; Clube Atlético Limeirense dos Homens de Cor; Sociedade Luiz Gama, de Jaú; Associação Cruz e Souza e Clube Ébano, de Santos; Federação das Associações dos Brasileiros de Cor, de Sorocaba; C. R. 13 de Maio, de Itapetininga; Sociedade Cultural Luiz Gama, de Bauru; Clube Coração de Bronze, de Catanduva; Sociedade Beneficente 28 de Setembro, de Sorocaba; Sociedade Beneficente 13 de Maio, de Piracicaba; Sociedade Recreativa José do Patrocínio, de São Manuel; Clube Beneficente e Recreativo 28 de Setembro, de Jundiaí; Sociedade Dançante Familiar José do Patrocínio, de Rio Claro; Associação Recreativa Princesa Isabel, de Tatuí; Sociedade Recreativa Luiz Gama, de Botucatu; Clube Bandeirantes, de Tietê; S. C. R. Cruzeiro do Sul, de Araraquara; Associação Atlética Ponte Preta, de São José do Rio Preto; Society Colored Pinhalense, de Pinhal; Clube dos Aliados, de Ribeirão Preto; E. S. Rosa Branca, de Araçatuba; Grêmio Recreativo 7 de Setembro, de Itatiba; Clube Recreativo Luiz Gama, de São João da Boa Vista; Sociedade Negra de Campinas; Associação Cultural Pérola Negra, de Campinas; e Elo Clube Campineiro. Vale registrar ainda os intercâmbios com o Kenia Clube, a União dos Homens de Cor e o Renascença Clube, do Rio de Janeiro, e com os jornais da imprensa negra: Hifen, O Ébano e Correio D’Ébano.
  • 46
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Regimento Interno da Convenção Paulista do Negro. São Paulo, 04/1956.
  • 47
    . Deops/SP, Aesp. Dossiê 20-J-09, 11. “Preconceito racial no Brasil: existe, embora de modo velado”. Última Hora, 25/08/1958.
  • 48
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades gerais da Associação Cultural do Negro no período de agosto de 1958 a julho de 1959. São Paulo, 19/10/1959.
  • 49
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades gerais da Associação Cultural do Negro no período de agosto de 1958 a julho de 1959. São Paulo, 19/10/1959.
  • 50
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 13 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de Adélio Alves da Silveira (presidente da Diretoria Executiva da ACN) ao Exmo. Sr. Dr. Leonel Brizola (governador do Estado do Rio Grande do Sul). São Paulo, 23/03/1962.
  • 51
    . Deops/SP, Aesp. Dossiê 20-J-09, 11. “Preconceito racial no Brasil: existe, embora de modo velado”. Última Hora, 25/08/1958.
  • 52
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 09 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência da Diretoria Executiva da Associação Cultural do Negro ao Excelentíssimo Senhor Orval Faubus – Governador do estado de Arkansas, nos Estados Unidos da América do Norte. São Paulo, 11/10/1957. Ver também Deops/SP, Aesp. Dossiê 20-J-09, 6. “Mensagem da Associação Cultural do Negro ao governador O. Faubus”. Notícias de Hoje, 19/10/1957.
  • 53
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 09 (Diretoria Executiva – Correspondência). Relatório das atividades gerais da ACN no período de 01/09/1957 a 31/03/1958. São Paulo, 05/05/1957. Pasta 09 – Conselho Superior; Correspondência de Américo Orlando da Costa (presidente em exercício da ACN) ao Excelentíssimo Senhor Dwight Eisenhower – DD. Presidente dos Estados Unidos da América do Norte. São Paulo, 11/10/1957.
  • 54
    . Ver, entre outras fontes, “Kennedy e os negros”. Última Hora. São Paulo, 13/05/1963, Caderno 1, p. 6.
  • 55
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 13 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de Adélio Alves da Silveira (presidente da Diretoria Executiva da ACN) ao Senhor Cônsul Geral Americano. São Paulo, 02/10/1962.
  • 56
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades gerais da Associação Cultural do Negro no período de agosto de 1958 a julho de 1959. São Paulo, 19/10/1959.
  • 57
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 21 (Diretoria Executiva – Correspondência). Carta Pública da Associação Cultural do Negro, em 04/1959.
  • 58
    . Sobre o regime do apartheid e o Massacre de Shapervile, ver entre outros Nancy Clark e William Worger (2011)CLARK, Nancy L.; WORGER, William H. (2011), South Africa: The Rise and Fall of Apartheid. 2aed. New York, Longman.. A respeito da política africana do Brasil e das relações Brasil-África, consultar José Flávio Saraiva (1996)SARAIVA, José Flávio Sombra. (1996), O Lugar da África: A Dimensão Atlântica da Política Externa Brasileira (de 1946 a nossos dias). Brasília, EdUnB..
  • 59
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 11 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de Geraldo Campos de Oliveira (presidente da ACN) ao Ilmo. Sr. Arsênio Tavoglieri (DD. presidente da Associação Paulista de Imprensa). São Paulo, 11/04/1960.
  • 60
    . Participaram do ato público os “Vereadores Freitas Nobre, Silva Azevedo e Manoel de Figueiredo Ferraz, representado este último pelo Sr. Nautilo Sant’Ana; Deputados Luciano Lepera e Felício Castellano; Prof. Oswaldo Melantonio, da Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino; Major Fernando Cerqueira Lima, representando o comandante da II Região Militar; Dr. José Augusto Cesar Salgado, Presidente da Associação Interamericana do Ministério Público; Nelson Câmara, do Centro Acadêmico ‘João Mendes Júnior’, da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie; Solando Trindade, do Teatro Popular Brasileiro; Álvaro Rodrigues dos Santos, da União Paulista dos Estudantes Secundários; Alberto Augusto Teixeira, do Sindicato dos Mestres e Contra Mestres de Fiação e Tecelagem; Francisco Ferraz de Oliveira, da Associação Cívica de Defesa das Liberdades Públicas; Vicente de Paula Custódio, da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos; Luiz Lourival de Góes, do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Carris Urbanos; Frederico Penteado Júnior, do Club 220; Capitão Maximiano Lessa Salgado, representante do Presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Deputado Abreu Sodré; Karl Pereira, representante do Secretário da Viação e Obras Públicas, Brigadeiro Faria Lima; Lydia Chrispim, do Teatro Experimental do Negro de São Paulo; Manoel Cavalheiro, da Juventude Socialista; Pedro Rocha, da Liga Internacional Contra o Racismo e o Anti-Semitismo e Anselmo Pecci, da Frente Nacionalista”. Cf. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) remetido à imprensa sobre o ato público de “Solidariedade aos negros da União Sul Africana”. São Paulo, 27/04/1960.
  • 61
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) remetido à imprensa sobre o ato público de “Solidariedade aos negros da União Sul Africana”. São Paulo, 27/04/1960.
  • 62
    . A “Comissão de Solidariedade aos Povos Africanos” era constituída pela “Associação Cultural do Negro, Associação Interamericana do Ministério Público, União Paulista dos Estudantes Secundários, Centro Acadêmico João Mendes Júnior, Federação dos Professores e Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino, Associação Cívica de Defesa das Liberdades Públicas e dos Direitos do Cidadão, Teatro Experimental do Negro de São Paulo, Teatro Popular Brasileiro, Sindicato dos Mestres e Contra-Mestres em Fiação e Tecelagem, e representantes da Juventude Socialista e da Frente Nacionalista de São Paulo”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) remetido à imprensa sobre o “Comício em homenagem ao 13 de Maio e de solidariedade aos negros da União Sul Africana”. São Paulo, 12/05/1960.
  • 63
    . Deops/SP, Aesp. Dossiê 20-J-09, 12. Relatório do investigador n. 1637 dirigido ao delegado titular de Ordem Política e Social. São Paulo, 13/05/1960. Ver também Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) remetido à imprensa sobre o “Comício em homenagem ao 13 de Maio e de solidariedade aos negros da União Sul Africana”. São Paulo, 12/05/1960.
  • 64
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 2 (Conselho Superior – Correspondência). A diretoria da ACN solicita que redator secretário de “prestigioso órgão de imprensa” publique a nota “Autodeterminação de Angola”. Sobre a descolonização de Angola e sua ressonância no Brasil, ver José Francisco dos Santos (2010)SANTOS, José Francisco dos. (2010), Movimento Afro-Brasileiro Pró-Libertação de Angola (Mabla) – um “Amplo Movimento”: Relação Brasil e Angola de 1960 a 1975. Dissertação (Mestrado em História), Pontifícia Universidade Católica, São Paulo. e Jerry Dávila (2011)DÁVILA, Jerry. (2011), Hotel Trópico: O Brasil e o Desafio da Descolonização Africana, 1950-1980. São Paulo, Paz e Terra., especialmente o quarto capítulo (“Guerra em Angola, crise no Brasil”).
  • 65
    . A ACN “saudou vivamente” a visita de Léopold Sédar Senghor – o então primeiro presidente eleito do Senegal independente – ao Brasil, em 1964, e promoveu a inauguração do retrato dele em sua sede, numa solenidade denominada “Presença Africana”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades da ACN correspondentes ao período de janeiro a dezembro de 1964. São Paulo, 20/02/1965. Ver também Correia Leite (1992LEITE, José Correia. (1992), ...E Disse o Velho Militante José Correia Leite: Depoimentos e Artigos. Organizado por Cuti. São Paulo, Secretaria Municipal da Cultura.:186).
  • 66
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 02 (Conselho Superior – Correspondência). Ofício da Diretoria da ACN ao Consulado Geral da Bélgica. São Paulo, 27/04/1961; Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Carta da Diretoria da ACN à Organização das Nações Unidas. São Paulo, 02/03/1961. No que concerne às conexões entre os afro-brasileiros e a África, ver ainda Anani Dzidzienyo (1985)DZIDZIENYO, Anani. (1985), “The African Connection and the Afro-brazilian Condition”, in P. M. Fontaine (ed.), Race, class and power in Brazil. Los Angeles, Center for Afro-American Studies, pp. 135-153..
  • 67
    . Sobre a ideia de internacionalismo negro, consultar Brent Edwards (2003)EDWARDS, Brent Hayes. (2003), The Practice of Diaspora: Literature, Translation, and the Rise of Black Internacionalism. Cambridge, Harvard University Press. e Minkah Makalani (2011)MAKALANI, Minkah. (2011), In the Cause of Freedom: Radical Black Internationalism from Harlem to London, 1917-1939. Chapel Hill, University of North Carolina Press..
  • 68
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades gerais da Associação Cultural do Negro no período de agosto de 1958 a julho de 1959. São Paulo, 19/10/1959.
  • 69
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 19 (Diretoria Executiva – Correspondência). “Direitos”. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 11/12/1958, p. 6.
  • 70
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 09 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência da Diretoria Executiva da Associação Cultural do Negro ao Excelentíssimo Senhor J. C. Crenshaw e demais diretores da Associação Americana Para o Progresso dos Homens de Cor. São Paulo, 05/11/1957. Ver também Deops/SP, Aesp. Dossiê 20-J-09, 6. “Manifestam os negros de São Paulo a sua solidariedade à Associação Americana para o Progresso do Homem de Cor”. Notícias de Hoje, 19/10/1957.
  • 71
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 10 (Diretoria Executiva – Correspondência). “Ao elenco do Ballets Africains de Keita Fadeba”. São Paulo, 25/04/1958.
  • 72
    . Em dezembro de 1947, simultaneamente em Dacar e Paris, saiu o primeiro número de Présence Africaine. Fundada pelo intelectual senegalês Alioune Diop, a revista tentou reunir o pensamento de africanos e africanistas com o dos negros estadunidenses, caribenhos e europeus, pelo menos para que suas similaridades e diferenças pudessem ser sistematicamente exploradas. Apoiada por intelectuais de grande prestígio (André Gide, Jean-Paul Sartre, Emmanuel Mounier, Albert Camus, Georges Balandier, Michel Leiris, Thomas Monod, Paul Rivet, além de Senghor, Césaire, Richard Wright e Paul Hazoumé), a revista tornou-se uma importante referência para o movimento da negritude (Cf. Damato, 1983DAMATO, Diva. (1983), “Negritude/Negritudes”. Através, no 1, pp. 112-129.:126-127; Gilroy, 2001GILROY, Paul. (2001), O Atlântico Negro: Modernidade e Dupla Consciência. São Paulo, Editora 34.:290; Reis, 2016REIS, Raissa Brescia dos. (2016), “Projeto Cultural e Política Intelectual nas Páginas da Présence Africaine (1947-1956)”, in R. ; T. A. Garrido Resende (orgs.), Cultura e Mobilização: Reflexões a partir do I Congresso de Escritores e Artistas Negros. Rio de Janeiro, Synergia Editora, pp. 71-104.).
  • 73
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 11 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) remetido à imprensa sobre o II Congresso Mundial dos Escritores e Artistas Negros. São Paulo, 18/02/1959.
  • 74
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pacotilha – CMEA. Mensagem da ACN ao II Congresso Mundial de Escritores e Artistas Negros. São Paulo, 20/03/1959.
  • 75
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 11 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de Geraldo Campos de Oliveira (presidente da ACN) ao Ilmo. Sr. Alioune Diop (DD. secretário-geral da Société Africaine de Culture). São Paulo, 05/07/1959.
  • 76
    . Entrevista de Oswaldo de Camargo concedida ao autor. São Paulo, 10/07/2006. Oswaldo de Camargo nasceu em Bragança Paulista, interior de São Paulo, em 1936. Filho de José Quintiliano de Camargo e de Martinha da Conceição Camargo – ambos trabalhadores rurais –, ingressou aos 12 anos no Seminário Menor Nossa Senhora da Paz, em São José do Rio Preto. Aprendeu a tocar órgão e iniciou os estudos sobre música erudita. Aos 15 começou a compor poemas. Em 1954, abandonou o seminário; em seguida, transferiu-se para a capital do Estado e filiou-se à Associação Cultural do Negro. Colaborou com vários veículos de comunicação no meio afro-paulista. Foi redator-chefe, ao lado de Ovídio P. dos Santos, do jornal O Novo Horizonte; fez parte do corpo de redação de A Voz da Rua; colaborou n’O Mutirão da ACN, onde dirigiu o seu Departamento de Cultura, em 1958, e apresentou vários concertos de piano. Em 1959, publicou Um homem tenta ser anjo, com apresentação de Sérgio Milliet. Um ano depois, foi convidado para ser o redator-chefe da revista Niger e trabalhou para seus quatro números publicados; em 1961, colaborou com o efêmero jornal Ébano.
  • 77
    . Em ofício endereçado ao diretor da Divisão de Diversões Públicas da Prefeitura de São Paulo, Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) alegava que a agremiação esteve impossibilitada de funcionar durante o ano de 1960 em virtude de: “a) fechamento da sede social, para reforma completa em suas instalações; b) longo tempo na prestação e apuração das contas, da diretoria demissionária; c) fase de eleições, para preenchimento dos cargos vagos de direção, em virtude de renúncia coletiva”. Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Ofício de Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) ao Exmo. Sr. Dr. diretor da Divisão de Diversões Públicas. São Paulo, 04/1961.
  • 78
    . Sobre a perseguição dos órgãos de repressão aos movimentos sociais negros em São Paulo durante o regime militar, ver Karin Kossling (2007)KOSSLING, Karin Sant’Anna. (2007), As Lutas Anti-racistas de Afro-descendentes sob Vigilância do Deops/SP (1964-1983). Dissertação (Mestrado em História), Universidade de São Paulo, São Paulo.. Para a situação do afro-brasileiro nesse período, conferir Zelbert Moore (1989)MOORE, Zelbert L. (1989), “Out of the Shadows: Black and Brown Struggles for Recognition and Dignity in Brazil, 1964-1985”. Journal of Black Studies, vol. 19, no 4, pp. 394-410..
  • 79
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 06 (Conselho Superior – Correspondência). Relatório das atividades da ACN no ano de 1965. São Paulo, 28/01/1966.
  • 80
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 15 (Diretoria Executiva – Correspondência). Relatório das atividades da ACN. São Paulo, 09/08/1969.
  • 81
    . Entrevista de Oswaldo de Camargo concedida ao autor. São Paulo, 10/07/2006.
  • 82
    . “Continua a ACN invicta”. A Gazeta Esportiva. São Paulo, 27/02/1964; “Venceu a AC do Negro”. A Gazeta Esportiva. São Paulo, 08/04/1964; “Empatou a Associação Cultural do Negro”. A Gazeta Esportiva. São Paulo, 02/09/1964.
  • 83
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 15 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Gilcéria Oliveira (presidente) aos associados da ACN. São Paulo, 02/1975.
  • 84
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 15 (Diretoria Executiva – Correspondência). Comunicado de Gilcéria Oliveira (presidente) e Helena dos Santos Rosa (tesoureira) aos associados da ACN. São Paulo, 05/1976.
  • 85
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 19 (Diretoria Executiva – Correspondência). Correspondência de José E. Mindlin a Ilma. Sra. Gilcéria Oliveira – DD. Presidente da Associação Cultural do Negro. São Paulo, 30/07/1976.
  • 86
    . Sobre a mobilização racial no contexto da Segunda República, ver Paulina Alberto (2011ALBERTO, Paulina L. (2011), Terms of Inclusion: Black Intellectuals in Twentieth-century Brazil. Chapel Hill, University of North Carolina Press.:151-244), Elio Chaves Flores (2007)FLORES, Elio Chaves. (2007), “Jacobinismo Negro: Lutas Políticas e Práticas Emancipatórias (1930-1964)”, in J. Ferreira; D. Aarão Reis (orgs.), As Esquerdas no Brasil. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, pp. 493-537, vol. 1 (A Formação das Tradições: 1889-1945)., Michael Hanchard (2001)HANCHARD, Michael. (2001), Orfeu e o Poder: Movimento Negro no Rio de Janeiro e São Paulo (1945-1988). Rio de Janeiro, EdUERJ., José Jorge Siqueira (2006)SIQUEIRA, José Jorge. (2006), Entre Orfeu e Xangô: A Emergência de uma Nova Consciência sobre a Questão do Negro no Brasil (1944-1968). Rio de Janeiro, Pallas., Maria Aparecida Lopes (2007)LOPES, Maria A. de Oliveira. (2007), História e Memória do Negro em São Paulo: Efemérides, Símbolos e Identidade (1945-1978). Tese (Doutorado em História), Universidade Estadual Paulista, Assis., Michael Mitchell (1977)MITCHELL, Michael. (1977), Racial Consciousness and the Political Attitudes and Behavior of Blacks in São Paulo, Brazil. Tese (Doutorado em Ciência Política), Indiana University, Indiana., Flávia Alessandra Pereira (2008)PEREIRA, Flávia A. de Souza. (2008), Organizações e Espaços da Raça no Oeste Paulista: Movimento Negro e Poder Local (dos Anos 1930 aos Anos 1960). Tese (Doutorado em Sociologia), Universidade Federal de São Carlos, São Carlos., Andréia Rosalina Silva (2010)SILVA, Andréia Rosalina. (2010), Associação José do Patrocínio: Dimensões Educativas do Associativismo Negro entre 1950 e 1960 em Belo Horizonte – Minas Gerais. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,, Joselina da Silva (2005)SILVA, Joselina da. (2005), União dos Homens de Cor (UHC): Uma Rede do Movimento Social Negro, após o Estado Novo. Tese (Doutorado em Ciências Sociais), Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. e Edilza Sotero (2015)SOTERO, Edilza Correia. (2015), Representação Política Negra no Brasil pós-Estado Novo. Tese (Doutorado em Sociologia), Universidade de São Paulo, São Paulo.. Já para a imprensa negra do período, ver Roger Bastide (1951)BASTIDE, Roger. (1951), “A Imprensa Negra do Estado de São Paulo”. Boletim de Sociologia – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Sociologia, vol. CXXI, no 2, pp. 50-78., Miriam Nicolau Ferrara (1986)FERRARA, Miriam Nicolau. (1986), A Imprensa Negra Paulista (1915-1963). São Paulo, FFLCH-USP (Série Antropologia, 13). e Antonio Sérgio Guimarães (2003)GUIMARÃES, Antonio Sérgio A. (2003), “Notas sobre Raça, Cultura e Identidade na imprensa Negra de São Paulo e Rio de Janeiro”. Afro-Ásia, no 29/30, pp. 247-269..
  • 87
    . Entrevista de Oswaldo de Camargo concedida ao autor. São Paulo, 10/07/2006.
  • 88
    . Acervo da Ueim-UFSCar. Coleção ACN. Pasta 12 (Diretoria Executiva – Correspondência). Carta de Américo Orlando da Costa (vice-presidente da ACN) à Diretoria dos Onze Irmãos Patriotas F. C. São Paulo, 21/04/1960.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2018

Histórico

  • Recebido
    18 Fev 2016
  • Revisado
    31 Jan 2018
  • Aceito
    12 Fev 2018
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