Sobre o amigo
Renato R. Boschi
Falar sobre Olavo é para mim tarefa difícil pois que a única dimensão pela qual eu poderia me expressar ¾ como o amigo mais próximo ¾ sintetiza uma gama de outras facetas de sua personalidade pelas quais pudesse ser lembrado, tais como a do colega de faculdade, do ativista político, do cientista político, do professor, do colega de trabalho, do formador de talentos, do diretor de instituições, do líder acadêmico, do presidente de associações, do articulador político. Todo mundo tem algo de bom a dizer sobre alguma dessas dimensões. Como companheiro desde a época da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Olavo foi para mim tudo isso e muito mais: foi cúmplice na vida. Nesta qualidade em que os diferentes papéis se fundem, aprendi com Olavo aquela que reputo a lição fundamental: precisamente a de saber separá-los na linha de um respeito mútuo compartilhado sem palavras ou explicações supérfluas. Era mesmo cumplicidade. Nas sessões de estudo em conjunto, na redação de trabalhos, nas infindáveis noitadas de BH, na militância política durante a repressão, na vinda para o Rio, no doutorado em Michigan, nos casamentos e separações, no convívio com os filhos, nas viagens, na direção do IUPERJ, na secretaria executiva da ANPOCS, nos cursos que ministramos juntos, nas bancas de tese, na volta a Minas como professor-titular da UFMG, na dor e na incerteza da doença e até no momento final. Em tudo isso Olavo sabia imprimir um tom de dignidade que distinguia o humor, o sarcasmo, a crítica, o conselho, a ponderação, a ousadia e a coragem. Mas sobretudo o respeito. Ora à frente, ora seguindo os seus passos, Olavo sempre mostrou-me o rumo, porque sabia o caminho. Gostava de prever, planejar e fazer acontecer. Como um cúmplice partiu e, ainda assim, desta vez, sem dizer nem combinar nada, abriu-me o caminho a trilhar por ele.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
18 Out 1999 -
Data do Fascículo
1999
