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Tradução, cognição e contextualização: triangulando a interface processo-produto no desempenho de tradutores novatos

Translation, cognition and contextualization: triangulating the process-product interface in the performance of novice translators

Resumos

Este artigo tem por objetivo revisar a literatura na área conhecida como estudos processuais sobre tradução e discutir os resultados e limitações registrados nas pesquisas ao longo das duas últimas décadas. Para tanto, algumas críticas são feitas com relação ao uso de protocolos verbais como recurso metodológico isolado e sugere-se, em seu lugar, o uso da técnica metodológica de triangulação, incorporando retrospecção, representações do TRANSLOG© e o uso de corpora de dimensões reduzidas, para análises do processo de tradução. A seguir, o CORPRAT - corpus processual para análises tradutórias - é introduzido como parte do desenho exploratório. Um estudo de caso que orienta as reflexões sobre o desempenho de tradutores novatos dá continuidade às discussões teóricas e aplicadas com o intuito de ilustrar a aplicabilidade da metodologia proposta. Finalmente, algumas considerações são feitas com o propósito de estender a abrangência da pesquisa para incorporar também o desempenho de tradutores experientes, almejando, assim, desenvolver generalizações sobre fenômenos específicos da tradução através de análises correlacionais no âmbito do CORPRAT.

Processo de tradução; Triangulação; Cognição; Contextualização; Competência tradutória


This article aims at revisiting the literature in the area known as translation process studies and discusses the achievements and shortcomings observed in the last two decades of research. Some criticisms are raised with respect to the use of verbal protocols as a single methodological tool for research purposes and the use of a methodological triangulation technique is suggested incorporating retrospection, TRANSLOG© representations and the use of small corpora for the analyses of the translation process. CORPRAT - corpus on process for the analysis of translations - is introduced as part of the exploratory design. A case study follows the theoretical and applied discussions and informs our reflection upon the performance of novice translators to illustrate the applicability of the proposed methodology. Finally, some considerations are made in favor of extending the scope of research to encompass the performance of expert translators envisaging, by means of correlational analyses within CORPRAT, generalizations about translation-specific phenomena.

Translation process; Triangulation; Cognition; Contextualization; Translation competence


ARTIGOS ARTICLES

Tradução, cognição e contextualização: triangulando a interface processo-produto no desempenho de tradutores novatos

Translation, cognition and contextualization: triangulating the process-product interface in the performance of novice translators

Fábio Alves

FALE-UFMG

RESUMO

Este artigo tem por objetivo revisar a literatura na área conhecida como estudos processuais sobre tradução e discutir os resultados e limitações registrados nas pesquisas ao longo das duas últimas décadas. Para tanto, algumas críticas são feitas com relação ao uso de protocolos verbais como recurso metodológico isolado e sugere-se, em seu lugar, o uso da técnica metodológica de triangulação, incorporando retrospecção, representações do TRANSLOG© e o uso de corpora de dimensões reduzidas, para análises do processo de tradução. A seguir, o CORPRAT – corpus processual para análises tradutórias – é introduzido como parte do desenho exploratório. Um estudo de caso que orienta as reflexões sobre o desempenho de tradutores novatos dá continuidade às discussões teóricas e aplicadas com o intuito de ilustrar a aplicabilidade da metodologia proposta. Finalmente, algumas considerações são feitas com o propósito de estender a abrangência da pesquisa para incorporar também o desempenho de tradutores experientes, almejando, assim, desenvolver generalizações sobre fenômenos específicos da tradução através de análises correlacionais no âmbito do CORPRAT.

Palavras-chave: Processo de tradução; Triangulação; Cognição; Contextualização; Competência tradutória.

ABSTRACT

This article aims at revisiting the literature in the area known as translation process studies and discusses the achievements and shortcomings observed in the last two decades of research. Some criticisms are raised with respect to the use of verbal protocols as a single methodological tool for research purposes and the use of a methodological triangulation technique is suggested incorporating retrospection, TRANSLOG© representations and the use of small corpora for the analyses of the translation process. CORPRAT – corpus on process for the analysis of translations – is introduced as part of the exploratory design. A case study follows the theoretical and applied discussions and informs our reflection upon the performance of novice translators to illustrate the applicability of the proposed methodology. Finally, some considerations are made in favor of extending the scope of research to encompass the performance of expert translators envisaging, by means of correlational analyses within CORPRAT, generalizations about translation-specific phenomena.

Key-words: Translation process; Triangulation; Cognition; Contextualization; Translation competence.

Introdução

O mapeamento empírico dos processos cognitivos que subjazem às atividades tradutórias tem sido objeto de crescente interesse nos Estudos da Tradução. Utilizando a técnica de protocolos verbais11 Esta técnica é conhecida em português pelo nome de protocolos verbais, protocolos introspectivos, relatórios verbais, protocolos em voz alta (TAPs - think-aloud protocols). Consiste basicamente em solicitar aos informantes que verbalizem seus pensamentos sem censura na seqüência em que esses lhes surgem à mente. Esses dados são gravados e posteriormente transcritos para fins de análise. Neste artigo, protocolos verbais e TAPs, termos freqüentes na literatura da área, serão utilizados como sinônimos de verbalizações concomitantes à execução de uma tarefa de tradução e devem ser compreendidos como intercambiáveis. Devem, contudo, ser diferenciados de protocolos retrospectivos, ou seja, aquelas verbalizações obtidas uma vez concluída a execução da tarefa tradutória. , os primeiros estudos na área buscaram investigar as características processuais envolvidas durante a execução de tarefas de tradução. Os trabalhos de Krings (1986) e Königs (1987), pioneiros nesse tipo de pesquisa, lançaram as bases de investigações que, complementadas pelos trabalhos de Gerloff (1987, 1988), Séguinot (1989), Tirkkonnen-Condit (1989, 1991), entre outros, viriam, mais tarde, a ser denominadas pesquisas empírico-experimentais em tradução (Alves, 2001). O desenvolvimento das pesquisas na área nos últimos quinze anos revela avanços significativos no conhecimento sobre as diferentes etapas do processo de tradução, mas também destaca lacunas conceituais e metodológicas e questiona o potencial de generalizações decorrentes desses estudos (Fraser, 1996). Nos últimos anos, as investigações sobre o processo de tradução ganharam novo ímpeto com o advento de ferramentas tecnológicas que possibilitam a observação em tempo real do desempenho de informantes (Hansen, 1999a; Jakobsen & Schou, 1999) e o tratamento informático do produto de suas traduções (Laviosa, 1998; Ghadessy et al., 2001). Abre-se, portanto, um novo espaço de investigação que necessita de parâmetros claros para proporcionar resultados efetivos para as pesquisas na área. Tomando como ponto de partida a utilização dessas novas ferramentas metodológicas, este artigo propõe-se a contribuir para o avanço das pesquisas processuais em tradução através da aplicação de um novo desenho experimental para a análise do desempenho cognitivo de tradutores novatos e, como desdobramento, sugere sua expansão para a análise do desempenho de tradutores experientes.

Aspectos teóricos e metodológicos

Revisitando a literatura sobre a análise do processo de tradução, Fraser (1996) tece observações importantes sobre os resultados efetivamente obtidos na área em seus primeiros dez anos (1986-1996). A autora é contundente ao afirmar que os trabalhos considerados mais representativos na área têm em comum apenas o fato de utilizarem a mesma forma de coleta de dados, ou seja, a técnica de protocolos verbais e, ainda assim, o fazem de maneira metodologiamente distinta. Enquanto Krings (1986), Königs (1987), e, posteriormente, Lörscher (1991, 1992) seguem uma orientação psicolingüística, Fraser (1993), Séguinot (1989), e Tirkkonnen-Condit (1989, 1991) concentram-se em aspectos práticos da formação de tradutores e na interface acadêmica/vocacional. Jääskeläinen (1989) e Gerloff (1987, 1988), por outro lado, concentram esforços para estabelecer semelhanças e diferenças entre grupos de sujeitos com níveis distintos de experiência prévia em tradução. O espectro compreendido por esses trabalhos vai desde uma detalhada descrição psicolingüística do desempenho dos informantes (Lörscher, 1991; 1992) até a identificação de práticas adequadas em contextos profissionais e sua decorrente aplicação à formação de tradutores (Fraser, 1993). Os estudos também variam quanto ao tipo de informantes utilizados: Krings (1986) e Königs (1987)22 Königs (1987) trabalha com cinco informantes, quatro estudantes e um professional de tradução. Porém, em suas análise concentra-se exlusivamente no desempenho dos quatro estudantes. trabalham com aprendizes de língua estrangeira; Séguinot (1989), Tirkkonnen-Condit (1989), e Jääskeläinen (1989) analisam o desempenho de tradutores em formação; Gerloff (1987, 1988) e Lörscher (1992) comparam o desempenho de três grupos, quais sejam, bilíngües, estudantes de tradução, e tradutores profissionais. Os estudos distinguem-se ainda quanto à intervenção ou não do pesquisador durante a coleta de dados – Königs (1987) preferiu não intervir enquanto Fraser (1994) deliberadamente estimulava seus informantes a verbalizar quando ficavam silenciosos por alguns segundos – ou quanto ao uso de instruções prévias sobre a tarefa de tradução a ser executada pelo informantes – Königs (1987) e Fraser (1993) não forneceram instruções prévias enquanto Fraser (1994), Gerloff (1988), Jääskeläinen (1987) e Séguinot (1989) deram instruções explícitas aos informantes sobre o contexto e o público receptor de suas traduções. Os demais estudos não dizem se o fizeram ou não. Os objetivos desses trabalhos também são múltiplos em abrangência: Krings (1986), Königs (1987) e Lörscher (1991, 1992) avaliam as estratégias de tradução utilizadas pelos informantes; Gerloff (1987, 1988) interessa-se, sobretudo, pela identificação de unidades de tradução; Jääskeläinen (1987) e Tirkkonnen-Condit (1989) preocupam-se com a diferenciação do desempenho de tradutores profissionais e não-profissionais; Séguinot (1989) analisa em detalhes o desempenho de um único tradutor profissional; Fraser (1993) concentra-se em aspectos socioculturais correlatos ao processo de tradução e em (1994) na identificação de características relativas à prática profissional. Como síntese de uma meta-análise da produção na área, Fraser (1996:74) sugere que "[...] os estudos do processo de tradução têm, na verdade, relativamente pouco em comum e apresentam imagens muito diferenciadas do processo de tradução que todos eles se propuseram a investigar."33 "[...] translation process studies have, in fact, relatively little in common and present very different pictures of the translation process they all set out to investigate."

Nesse quadro, além dos diferentes desenhos experimentais e dos resultados deles decorrentes, cabe ainda distinguir as formas de verbalização coletadas entre os sujeitos participantes dessas pesquisas. Ericsson & Simon (1984/1993) distinguem entre dois tipos de verbalização, quais sejam, a verbalização concomitante e verbalização retrospectiva. Afirmam que é impossível pensar em um tipo de verbalização simultânea haja vista que não existe acesso imediato a processos cognitivos automáticos através da técnica de protocolos verbais. Esta é, na verdade, a crítica mas forte que se faz com relação ao uso de TAPs para fins de investigação de atividades cognitivas (Tirkkonen-Condit, 1991; Séguinot, 1996). De fato, o que se obtém, seja através de relatos concomitantes ou retrospectivos, são reflexões subjetivas sobre aquilo que os sujeitos pensam fazer ou ter feito e "[...] uma indicação clara de processos mentais similares determinados individualmente ao longo do processo de tradução"44 [ ] ein deutlicher Hinweis für gleichmässige, individuell bestimmte mentale Prozesse im Laufe des Übersetzungsvorgangs. (Alves, 1995:121). Ericsson & Simon (1984:218) sugerem, porém, que "a melhor evidência que [pessoas] realmente solucionaram um problema é sua capacidade de relatar [esse processo]"55 "The best evidence that [people] have actually solved a problem is their ability to report it." . É com base nessa afirmação empiricamente comprovada (Ericsson & Simon, 1984/1983) que ganham força os argumentos em favor da utilização de TAPs em pesquisas sobre o processo de tradução. Contudo, como atesta Fraser (1996:68) ao comentar os modos de verbalização em seus trabalhos de 1993 e 1994,

"uma comparação desses dois estudos sugere que, mesmo entre tradutores profissionais, a retrospecção imediata produz um relato inferencial e mais estruturado que os protocolos em voz alta que tendem a focalizar mais as dificuldades individuais à medida em que ocorrem, mesmo quando essas estão situadas em um contexto mais amplo de uma abordagem estratégica abrangente para a realização da tarefa de tradução."66 "A comparison of these two studies suggests that even among professional translators, immediate retrospection produces a more structured and inferential account than think-aloud, which tends to focus more on individual difficulties as they arise, even when these are largely placed within the broader context of an over-arching strategic approach to accomplishing the translation task."

Fraser (1996:68) complementa ainda que "no contexto do estudo de 1993, que se preocupava com aspectos transculturais do processo de tradução, a retrospecção imediata mostrou ser capaz de fornecer maiores indícios que os protocolos verbais concomitantes."77 "In the context of the 1993 study, which was concerned with cross-cultural aspects of the translation process, immediate retrospection proved to give greater insight than concurrent think-aloud protocol " Adicionalmente, como atesta Fraser (1996:75), nenhum dos estudos por ela avaliados se preocupa em contrastar dados de verbalizações concomitantes com aqueles coletados por intermédio de verbalizações retrospectivas. Para fins metodológicos, seria interessantes contrastar resultados obtidos através dessas duas modalidades e observar as evidências processuais que podem ser reveladas através de cada uma delas. A constatação dessas diferenças parece reforçar a afirmação de Fraser (1996:77) que

"Concluindo, parece claro que o método introspectivo, se adequadamente concebido e diferenciado, pode fornecer indícios valiosos e interessantes sobre a variedade de atividades lingüísticas em um número de níveis. Concepção e diferenciação, contudo, parecem ser, de fato, a chave para tornar esses resultados capazes de exploração realmente relevante. "88 "To conclude, it seems clear that, if properly designed and differentiated, the introspective method can deliver valuable and interesting insights into a variety of linguistic activities at a number of levels. Design and differentiation do, however, seem to be the keys to making the findings capable of really relevant exploitation."

As observações de Fraser continuam a ser relevantes nas discussões atuais. Os trabalhos mais recentes de Fraser (2000), Jääskeläinen (2000), Séguinot (2000) e Tirkkonen-Condit (2000) enfocam respectivamente o desempenho de tradutores experientes, aspectos metodológicos relativos ao uso de TAPs, questões de gerenciamento processual e questões relacionadas à ambigüidade e incerteza em processos de tomada de decisão. Observa-se nesses trabalhos a mesma amplitude relatada por Fraser (1996) sobre o estado da arte nas pesquisas sobre o processo de tradução. O uso de protocolos verbais concomitantes e retrospectivos parece alternar sem que um consenso tenha sido alcançado. Contudo, alguns pesquisadores parecem preferir o uso de protocolos verbais concomitantes para análises mais segmentadas do processo de tradução e a utilização de protocolos verbais retrospectivos para aqueles estudos que enfocam a análise de processos de caráter mais amplo (Tirkkonen-Condit & Jääskeläinen, 2000). Os dados de Alves (1995, 1996, 1997), (Alves, Magalhães & Pagano 2001) e (Alves & Gonçalves, 2003) mostram que as verbalizações retrospectivas são capazes de destacar de forma mais detalhada relatos processuais que refletem aspectos inferenciais e contextuais relevantes para a solução de problemas e tomadas de decisão em tradução. Esses resultados parecem sugerir que o uso de protocolos retrospectivos é mais produtivo para fins da investigação de relatos inferenciais e mais estruturados por parte dos tradutores informantes.

Decorridos os primeiros quinze anos de pesquisa na área, a preocupação de Fraser com a forma mais adequada de coletar verbalizações é retomada por Jakobsen (2002, 2003) que se propõe a investigar o impacto do uso de protocolos verbais concomitantes como elemento de sobrecarga cognitiva no processo cognitivo de tradutores. Partindo das conclusões favoráveis de Ericsson & Simon (1984/1993), Jakobsen revê a literatura sobre protocolos verbais e se coloca novamente diante da questão do esforço cognitivo necessário para a execução de duas tarefas simultâneas, quais sejam, traduzir e relatar essa tradução concomitantemente. Para tanto, Jakobsen utiliza uma ferramenta complementar para coleta de dados, qual seja, o programa TRANSLOG© (Jakobsen & Schou 1999).99 O programa TRANSLOG2000© grava toques de teclado em PCs em tempo real e os disponibiliza ao pesquisador na forma de dois tipos de dados: uma representação analítica dos dados registrados e a sua reprodução visualizada no monitor do PC. Argumenta-se que a coleta de dados efetuada em tempo real e de forma simultânea com vários sujeitos possibilita uma observação do processo de tradução na forma como ele efetivamente ocorre e não apenas através de observações de natureza intersubjetiva como acontece com o uso de protocolos verbais, sejam eles concomitantes ou retrospectivos.

Contrastando o uso de TAPs e dados obtidos com o programa TRANSLOG©, Jakobsen chega à seguinte conclusão:

"O presente trabalho indica que a influência dos protocolos verbais no processamento em tradução é bastante considerável. Apesar de nos forçar a rever suposições sobre o procedimento de protocolos verbais para fins de pesquisa em tradução, isto não invalida de forma alguma o método de introspecção em voz alta. De fato, o método mais óbvio de se tentar responder as questões suscitadas pelos experimentos aqui relatados, e não respondidos nas análises [acima] dos dados registrados, seria tentar construir hipóteses baseadas em dados quantitativos registrados por computadores e em análises qualitativas de protocolos verbais. "1010 "The present study indicates that the influence of think aloud on processing in translation is quite considerable. Though this forces us to review assumptions about the think-aloud procedure for translation research purposes, it in no way invalidates the think-aloud method. In fact, the most obvious method of trying to answer many of the questions raised by the experiments reported here, and left unanswered in the above quantitative analysis of the logged data, would be to attempt to build hypotheses based both on quantitative computer-logged data and on qualitative think-aloud data."

A constatação de Jakobsen é o ponto de partida para as reflexões já antevistas no título deste artigo, ou seja, reflexões sobre formas adequadas de se investigar relações que se estabelecem entre tradução, cognição e contextualização, ou seja, entre o processo de tradução e processos cognitivos a ele subjacentes. Em Alves (2001) comento que nas Ciências Sociais existe uma tradição consolidada que defende o uso conjunto de métodos quantitativos e qualitativos dentro de uma perspectiva de complementaridade. Chama-se esta opção metodológica de triangulação. Jakobsen (1999) comenta que as técnicas de navegação e estratégia militar utilizam-se de pontos de referência múltiplos para localizar a posição exata de um determinado objeto no espaço. Investigar um mesmo objeto por meio de dados coletados e interpretados através de métodos diferentes aumenta, por analogia, as chances de sucesso do pesquisador em sua tentativa de observação, compreeensão e explicação de um determinado fenômeno. Advém dessa reflexão a proposta de que a metáfora da triangulação seja aplicada aos estudos do processo de tradução levando-se em consideração as reflexões de Fraser (1996) e Jakobsen (1999) destacadas acima.

Dentro dessa perspectiva, para fins de análise sugere-se aqui, em consonância com Jakobsen (2003), o uso triangulado de registros de movimentos no teclado do computador com protocolos retrospectivos coletados, na presença do pesquisador, imediatamente após a conclusão da tarefa de tradução. Para tanto, propõe-se a utilização da função replay do TRANSLOG© como fonte de insumo dirigido para fomentar a qualidade dessas verbalizações, permitindo a interferência do pesquisador para formular perguntas relevantes para a análise a ser desenvolvida. Portanto, em uma primeira fase, propõe-se que os informantes deverão executar uma tarefa de tradução devidamente instruídos sobre os procedimentos do experimento com o qual se prontificam a colaborar. Esses esclarecimentos prévios sobre as condições e etapas do processo parecem-me extremamente importante, tanto pelo seu caráter ético quanto pela possibilidade de garantirem uma maior validade ecológica aos experimentos. Essas informações prévias possibilitam que as condições de produção ganhem mais naturalidade e que, na medida do possível, se aproximem de um contexto mais real no que diz respeito à produção de traduções. Concluída a primeira fase com a gravação eletrônica dos textos de chegada, propõe-se, em uma segunda fase, imediatamente posterior à primeira, que os sujeitos deverão assistir suas próprias traduções visualizadas através da função replay do TRANSLOG©. Durante esse processo, os sujeitos deverão ser estimulados a verbalizar suas reflexões sobre as diferentes etapas do processo de tradução. Sugere-se que a verbalização retrospectiva imediata, nos moldes sugeridos por Ericsson & Simon (1984/1993), deverá possibilitar a recuperação de informações de natureza inferencial e processual permitindo ao pesquisador, conforme sugerido acima por Jakobsen, tentar construir hipóteses baseadas em dados quantitativos registrados por computadores e em análises qualitativas de protocolos verbais retrospectivos. Nesse contexto, usando o programa TRANSLOG© em conjunto com retrospecção, Hansen (1999b) discute sobre o papel da consciência crítica – de natureza meta-cognitiva – durante o processo de tradução. Com metodologia semelhante, Lorenzo (1999) utiliza a triangulação para analisar questões relativas à segurança do tradutor profissional ao traduzir para uma língua estrangeira e Mees & Livbjerg (1999) enfocam o uso de dicionários no processo de tradução. Contudo, dada a complexidade da tarefa de tradução e da decorrente necessidade de consubstanciar adequadamente o uso da técnica de triangulação na forma como aqui proposta, parece-me relevante que se atente também às marcas textuais registradas nos respectivos textos de chegada, ou seja, não relegar a um segundo plano o produto efetivo do processo de tradução: os textos de chegada.

Quando, a partir de meados da década de 1980, o estudo do processo de tradução começa a ganhar visibilidade nos estudos da tradução, alguns pesquisadores passaram a argumentar em favor de uma "virada processual" (Königs, 1987). Dizia-se, naquela ocasião, que uma nova fase se iniciava nesse campo disciplinar. Discussões sobre a dicotomia produto vs. processo tornam-se bastante acirradas com uma defesa veemente de que somente através do estudo do processo de tradução seria possível chegar a uma real compreensão da tradução enquanto fenômeno passível de investigação científica (Königs, 1990). Lörscher (1992:426) afirma com ênfase que

"até recentemente a teoria da tradução preocupava-se, sobretudo, com dois fenômenos: a tradução como produto e a competência em tradução. [ ] Como conseqüência da teoria da tradução ser orientada pelo produto e pela competência, muito pouca ou nenhuma atenção foi dada ao processo através do qual a tradução é produzida, e ao desempenho efetivo do tradutor. Apenas recentemente esse reducionismo passou a ser visto como um déficit. Como resultado, uma nova disciplina voltada para o processo e a análise do desempenho se desenvolveu dentro dos estudos da tradução. "1111 until recently, translation theory has been primarily concerned with two phenomena: with translation as a product and with translation competence. [ ] As a consequence of translation theory being product- and competence-oriented, hardly any attention has been given to the process by which a translation is produced, and to translators' actual performance. This narrowing [has] only recently been realizes to be a deficit. As a result, a new process-oriented, performance-analytical discipline within translation studies has developed.

Percebe-se, nesse sentido, uma preocupação dos pesquisadores com a análise de fatores cognitivos, tais como, memória, atenção, categorização, solução de problemas e tomada de decisão, em detrimento de considerações micro– e macro-textuais cujas implicações são, a meu ver, de importância fundamental para a compreensão dos processos de produção de textos de chegada.

Atualmente, a partir das contribuições que estudos lingüístico-textuais (Nord, 1992; Baker, 1992) e discursivos (Hatim & Mason, 1992) trouxeram para os estudos da tradução, parece-me difícil afirmar com tamanha veemência que apenas através dos estudos sobre o processo tradutório será possível chegar a uma real dimensão da tradução enquanto fenômeno cognitivo. Os estudos de corpora aplicados à tradução (Baker, 1995; Laviosa, 1998) surgem como uma contra-partida empiricamente fundamentada e consistente para se tratar textos traduzidos de forma quantitativa e qualitativa. Configuram, nesse sentido, uma abordagem do produto da tradução que se apresenta com características metodológicas semelhantes àquelas defendidas pelos pesquisadores ligados à corrente processual, ou seja, uma abordagem que trabalha de forma indutiva e descritiva objetivando a comprovação empírica de hipóteses de estudo sobre o processo e o produto de traduções.

Dentro dessa perspectiva, a maior parte dos estudos de corpora trabalha com grandes quantidades de dados (large corpora) advogando o princípio de que apenas através de amostras em larga escala torna-se possível tecer generalizações. Isto também é válido para estudos de corpora sobre traduções (Baker, 1998). Por outro lado, pesquisadores com Tymoczko (1998) são mais cautelosos sobre a objetividade e infalibilidade desse aporte metodológico. Tymoczko (1998:654) é enfática ao afirmar que

"na minha opinião, o valor dos corpora em tradução e aquele da abordagem CTS [corpus translation studies] para a teoria e prática da tradução não reside na reivindicação de 'objetividade' e nas reivindicações filosóficas, de certa forma exauridas, que essa 'objetividade' [esse tipo] pressupõe."1212 "in my view, the value of corpora in translation and of a CTS approach to translation theory and practice does not rest on the claim to "objectivity" and the somewhat worn philosophical claims of this type presuppose.

Tymoczko alerta para os perigos da fixação em semelhanças e defende a idéia que os estudos de corpora em tradução devem permanecer abertos a diferenças, diferenciações e particularidades no que diz respeito à imensa variedade das línguas naturais e sua múltipla possibilidade de combinações lingüísticas para fins de tradução. Decorre dai, a meu ver, a pergunta sobre a necessidade concreta de se utilizar corpora de grandes dimensões nos estudos da tradução e de sua relevância para a análise de fenômenos tradutórios específicos.

Mais recentemente, uma corrente dentro dos estudos de corpora vem advogando a utilização de corpora de pequenas dimensões para o tratamento de questões específicas (Ghadessy et al. (ed.), 2001). Dentro dessa perspectiva, argumenta-se que corpora não precisam conter necessariamente grandes quantidades de texto para que sejam utilizáveis. Esses corpora de pequenas dimensões podem "fornecer informações vitais sobre correspondências entre forma e significado em contextos multilíngues" (Lawson, 2001:302)1313 "provide vital information on correspondences between form and meaning in multilingual contexts" . Nesse sentido, corpora de pequenas dimensões tornam-se interessantes por facilitarem a aplicação de processos de codificação, anotação e alinhamento no tratamento dos dados coletados. Dada suas dimensões reduzidas, esse tipo de corpora pode ser mais facilmente tratado pelo pesquisador para fins específicos. É possível codificá-los para que sejam adicionadas informações textuais extras capazes de serem lidas pelos sistemas informáticos; anotá-los para que sejam acrescentadas informações lingüísticas e interpretativas sobre os textos; e alinhá-los para que sejam extraídas informações correlatas de corpora paralelos. Nesse sentido, Beaugrande (2001) diferencia entre dois tipos de corpora de pequenas dimensões: corpora para aprendizagem e corpora especializados. Esses últimos são determinados pelo registro, domínio discursivo e/ou assunto e são de especial interesse para os estudos da tradução a fim de "explorar como os significados surgem e evoluem em contextos"1414 "to explore how meanings emerge and evolve in contexts." (Beaugrande, 2001:23).

Com base nas reflexões anteriores, parece-me razoável pensar no uso de corpora especializados para investigar o produto de traduções e contrastá-los a dados processuais obtidos através de protocolos retrospectivos e de representações do programa TRANSLOG©. Complementa-se, dessa forma, dados do processo com dados do produto e, através de sua triangulação, torna-se possível consubstanciar a análise de processos cognitivos subjacentes à tarefa de tradução. Ao invés de propor estudos em larga escala, envolvendo um grande número de informantes e variáveis, estimula-se aqui a investigação correlata através de vários estudos de caso que sigam desenhos metodológicos semelhantes no processo de coleta e análise de dados. É de se esperar que esses estudos de caso, utilizando-se a técnica de triangulação aqui proposta, possam ser feitos em diferentes pares lingüísticos, enfocando problemas particulares mas que, em última instância, estejam inter-relacionados e possam ser submetidos a análises correlacionais. Chegar-se-ia, dessa forma, a um conjunto de dados que, dada a congruência da metodologia de pesquisa, poderiam ser agrupados e utilizados para tecer generalizações sobre aspectos mais abrangentes a respeito do desempenho de tradutores novatos e experientes.

Este é o objetivo do CORPRAT – Corpus Processual para Análises Tradutórias. Criado em 2002, o CORPRAT é um corpus inserido dentro do CORDIALL – Corpus Discursivo para Análises de Língua e Literatura (www.letras.ufmg.br/cordiall) – sediado no Núcleo de Tradução da Faculdade de Letras (NET-FALE) da Universidade Federal de Minas Gerais – e tem por objetivo armazenar dados do processo de tradução coletados entre tradutores novatos e experientes nos idiomas português, inglês, alemão e espanhol. No presente momento, essas traduções têm o português brasileiro como única língua de chegada e trabalham com o alemão, as variantes norte-americana e britânica do inglês e as variantes peninsular e sul-americana do espanhol como línguas de partida para as traduções coletadas. Espera-se, a médio prazo, vir ao encontro da proposta de Fraser (1996) quando a autora sugere que as pesquisas sobre o processo de tradução devam permitir uma análise do conjunto dos resultados obtidos ao invés de, aplicando-se a mesma metodologia, perseguirem objetivos isolados.

Estudo de Caso: por uma proposta de desenho triangulado

Com o objetivo de investigar o desenho exploratório sugerido acima, um estudo de caso foi conduzido com dezessete tradutores novatos, participantes de um experimento controlado envolvendo a tradução de um texto do inglês britânico para o português brasileiro. Todos os dezesste informantes, falantes nativos do português brasileiro, apresentam um perfil congruente com níveis de proficiência lingüística satisfatória nos dois idiomas e alguma experiência prévia em tradução. Todos eram alunos de um curso de especialização lato sensu em tradução (inglês) e tinham familiaridade prévia com os instrumentos de coleta de dados utilizados para a obtenção dos dados processuais.

Foi escolhido como texto de partida uma passagem do livro The Orton Diaries, editado por John Larr e publicado em 1986 pela Editora Minerva em Londres. O livro contém registros do diário pessoal do teatrólogo inglês Joe Orton no período entre dezembro de 1996 e julho de 1967. O texto de partida para o experimento realizado, com 195 palavras, contém os registros de Orton no diário no dia 26 de março de 1967. O trecho foi escolhido por constituir um texto completo e independente. Por estar intimamente associado à vida pessoal e à obra de Joe Orton, o texto de partida requer também dos tradutores conhecimento específico sobre a biografia e a produção literária do teatrólogo inglês. Além disso, dada as várias referências contextuais presentes no texto, espera-se também dos informantes conhecimentos históricos, geográficos e culturais que lhes permitam recuperar inferencialmente as informações veiculadas no texto de partida. Não é do meu conhecimento uma tradução da obra para a língua portuguesa e, nesse sentido, os informantes não dispunham de um produto acabado que lhes pudesse servir de exemplo.

TEXTO DE PARTIDA

Sunday 26 March

Easter Day. Nothing on television but uplifting programmes. BBC crooning to itself as usual. Spent the day reading. Didn't shave. Went for a longish walk. Kenneth, who read The Observer, tells me of the latest way-out group in America – complete sexual licence. "It's the only way to smash the wretched civilization," I said, making a mental note to hot-up What the Butler Saw when I came to rewrite. "It's like the Albigensian heresy in the eleventh century," Kenneth said. Looked up the article in the Encyclopedia Britannica. Most interesting. Yes. Sex is the only way to infuriate them. Much more fucking and they'll be screaming hysterics in next to no time. "Innocent III," Kenneth said, "did for them." "It isn't going to be so easy to mount a crusade this time," I said. We watched an unbelievably awful film with Gregory Prick, Twelve O'Clock High. Some kind of tract on 'team spirit'. "It's all like a particularly intense girls' gym team," Kenneth said. Film ended with Gregory Prick having a kind of brainstorm. Only a plentiful supply of peanuts at my elbow prevented my own brain from whirling into a hurricane.

Fonte: (Larr, John (ed.). The Orton Diaries, Londres: Minerva. 1986:125)

Uma leitura atenta do texto de partida revela referências específicas ao contexto pessoal de Joe Orton e de seu companheiro Kenneth Halliwell (assistir televisão, ler, barbear-se, caminhar etc.), referências culturais relacionadas à década de 1960 (a peça teatral What the Butler Saw, o grupo teatral The Living Theatre etc.), e referências históricas ao século XI (a cruzada albingense decretada pelo Papa Inocêncio III em 1208). Títulos de filmes e peças de teatro, nomes de figuras históricas e astros de cinema encontram-se entrelaçados em uma rede coesiva que remete diretamente à vida e obra de Joe Orton e veiculam a ironia, o sarcasmo e a crítica social que são marcas do estilo pessoal do autor inglês. No contexto histórico-cultural da década de 1960 e da efervescência cultural registrada em Londres – os famosos "swinging 1960s" -, as críticas ferinas de Orton à BBC (Nothing on televison but uplifting programmes. BBC crooning to itself as usual), à igreja católica ("It's like the Albigensian heresy in the eleventh century," [...] "Innocent III," Kenneth said, "did for them."), e a Hollywood (We watched an unbelievably awful film with Gregory Prick, Twelve O'Clock High. [...] Film ended with Gregory Prick having a kind of brainstorm.) criam um padrão textual complexo cujo grau de implicitude é de difícil recuperação inferencial em contextos de tradução. No presente estudo de caso, a rede coesiva que se estabelece entre essas referências históricas e culturais serve como ponto de partida para a investigação de aspectos de solução de problemas e tomada de decisão em curso no decorrer do processo de tradução. Partindo do pressuposto que tradutores novatos têm dificuldade em trabalhar aspectos implícitos ao texto original, o estudo de caso levanta a seguinte hipótese de estudo:

Devido ao alto grau de implicitude das referências histórico-culturais, os tradutores novatos terão dificuldade para recuperar a ironia que se estabelece no texto de partida através da rede coesiva envolvendo títulos de obras (teatro e cinema) e nomes próprios. Dado o perfil cognitivo dos informantes, as decisões de tradução serão orientadas para a recuperação de conteúdo literal.

Os dezessete informantes receberam como tarefa de tradução a produção de textos de chegada em português que pudessem ser de interesse de um público leitor semelhante àquele pretendido pelo livro editado por John Larr. Foi estabelecido um tempo limite de 90 minutos para a realização da tarefa de tradução durante o qual os informantes poderiam se utilizar de fontes de consulta diferenciadas, incluindo acesso à Internet, dicionários eletrônicos, bancos de dados, textos paralelos etc. Os informantes trabalharam no mesmo espaço físico, traduzindo diretamente da tela do computador. Porém, a fim de garantir a contextualização necessária para a tradução, receberam cópias da capa, do sumário e das referências bibliográficas do livro de John Larr e um fac-simile do texto original do diário de Joe Orton com todas suas marcas tipográficas. Trabalhando com o programa TRANSLOG©, conforme ilustrado abaixo na Figura 1, as dezessete traduções foram gravadas em formato adequado para análise posterior. Buscou-se garantir, dessa forma, validade ecológica ao estudo de caso, com os dados sendo coletados ao mesmo tempo e dentro das mesmas condições de produção.


Uma vez terminadas as traduções, foi solicitado a quatro informantes o relato retrospectivo de seus processos de tradução. Para fins de obtenção dos protocolos retrospectivos, os dados processuais de cada tradutor foram novamente visualizados através da função replay do TRANSLOG© (cf. lado esquerdo da Figura 2) e as verbalizações retrospectivas foram gravadas e transcritas de forma a constituírem um corpus paralelo para a análise processual1515 No presente estudo exploratório optou-se por realizar a sessão retrospectiva de uma só vez com todo o grupo de dezessete informantes. São, portanto, manifestações coletivas de relatos retrospectivos que foram separados a posteriori pelo pesquisador. Recomenda-se, no caso de buscar garantir mais privacidade aos relatos retrospectivos, que esses sejam conduzidos em sessões individuais.. Sem que se impusesse um limite de tempo, a retrospecção foi dirigida pelo pesquisador com o intuito de se ressaltar o objetivo especificado na hipótese de trabalho, qual seja, a dificuldade de recuperação das marcas contextuais e coesivas presentes nos títulos de obras e nomes próprios.


A análise dos dados coletados foi, a seguir, complementada através da função representation do TRANSLOG© também exemplificada no lado direito da figura 2. Nessa função é possível segmentar e mapear o processo de tradução com base no tempo de pausa, na recursividade do processo, e – entre outros fatores – nas revisões efetuadas. Para fins de análise, esses três fatores – tempo de pausa, recursividade e revisão – serão utilizados para estabelecer parâmetros de intersubjetividade entre os dezessete sujeitos.

O tempo de pausa é indicativo de padrões de segmentação e dificuldades com determinadas unidades de tradução. Neste artigo, o tempo de pausa é considerado como elemento delimitador para a análise dos dois fatores adicionais, quais sejam, a recursividade do processo e as revisões efetuadas. A partir da identificação de uma unidade de tradução como indicativa de possíveis problemas de tradução, utiliza-se as funções replay e representation do TRANSLOG© para monitorar as demais etapas recursivas relacionadas a ela bem como as revisões efetuadas em decorrência dessa recursividade. Assim, ainda que de forma indireta, ganha-se acesso a informações sobre o processamento inferencial de segmentos do texto de partida. Uma vez constatados esses percursos inferenciais e suas implicações para processos de solução de problemas e tomada de decisão, parte-se para a análise de trechos dos protocolos retrospectivos associados às funções representation e replay do TRANSLOG©. Nesta etapa, almeja-se uma análise dos percursos inferenciais que reflitam os padrões cognitivos imbricados nas condições de produção dos textos de chegada.

Finalmente, o cruzamento dos dados processuais com segmentos dos textos de chegada permite a observação de padrões textuais no conjunto dos textos de chegada. Dentro da proposta de triangulação aqui apresentada, os padrões textuais obtidos através do programa WORDSMITH TOOLS© deverão, por sua vez, refletir instâncias intersubjetivas da produção dos textos de chegada e, como desdobramento, corroborar as análises feitas através das funções representation e replay do TRANSLOG© conforme ilustrado na Figura 3 a seguir.


Busca-se, através da análise do produto dos textos de chegada, estabelecer correlações entre as características cognitivas observadas na atividade processual dos informantes e as redes textuais registradas em seus respectivos textos de chegada. Para efeitos da análise desenvolvida na próxima sessão, serão considerados os dados processuais dos quatro informantes que forneceram relatos retrospectivos. Esses quatro informantes foram escolhidos por constituírem perfis cognitivos representativos no corpo total da amostra, tanto no que diz respeito ao tempo gasto na tarefa quanto ao nível de recursividade e revisão registrados nos protocolos. Esses protocolos espelham, em maior ou menor grau, marcas de intersubjetividade observadas no desempenho dos dezessete sujeitos.

Discussão

Os quatro informantes selecionados necessitaram de 50':40'' (informante 1) a 74':01'' (informante 2) para a execução da tarefa de tradução. Esses números constituem respectivamente o menor e o maior tempo gasto para a conclusão das traduções, ou seja, nenhum dos dezessete tradutores ultrapassou o tempo máximo de 90 minutos estipulado para a tarefa. Não se pode, portanto, afirmar que os informantes trabalharam sob pressão, embora a análise textual dos textos de chegada deixe claro que todos eles necessitariam ainda de revisões substanciais. Os informante 3 e 4, com respectivamente 72':58'' e 63':03'' gastos para realização da tarefa, situam-se dentro da média de 68':43'' registrada entre os dezessete tradutores.

Há também correlações claras entre o tempo gasto pelos informantes para dar início à digitação de textos na tela do computador. Como o TRANSLOG© começa a contar o tempo efetivamente gasto na tarefa a partir da visualização do texto de partida, é possível estimar o tempo gasto na leitura e nas consultas e reflexões que antecedem ao início da tradução. É interessante destacar que a média entre os sujeitos foi de aproximadamente 6% do tempo total gasto na tarefa e, em princípio, aquém do que se poderia esperar diante do grau de dificuldade da tarefa proposta. Pode-se, talvez, atribuir esse período curto a uma possível ansiedade dos informantes para dar início efetivo às suas traduções. De fato, os protocolos registram que os informantes mais rápidos são necessariamente aqueles que menos tempo dedicam à reflexão e, consequentemente, são os sujeitos que atingiram os níveis mais baixos de contextualização na tarefa.

No que diz respeito à recursividade do processo e à revisão efetuada pelos informantes, nota-se novamente uma interessante correlação entre tempo total, tempo inicial de leitura e revisão. O tempo de revisão variou de 10':32 para o informante 1 – que curiosamente foi o mais rápido e com menor tempo inicial de leitura – a 06':23'' para o informante 3 e foi de respectivamente 07':27'' e 08':03'' para os informante 2 e 4. Esses números, variando de 10':32 a 06':23'' situam-se dentro de uma média de 07':45'' dedicada à revisão e que corresponde a aproximadamente 7% do tempo efetivamente gasto. Observa-se, portanto, uma correlação interessante entre os 6% do tempo total gasto na fase inicial de leitura, consulta e reflexão e os 7% do tempo gasto na revisão das traduções. Considerando que a revisão implica necessariamente em leitura, possíveis consultas, e reflexão, o tempo de revisão também ficou aquém do esperado devido à complexidade da tarefa. Assim como observado com relação à leitura inicial e ao tempo total, os informantes mais rápidos são necessariamente aqueles que menos tempo dedicam à revisão e são, novamente, os sujeitos que atingiram os níveis mais baixos de contextualização na tarefa. Cabe ainda ressaltar o que foi efetivamente revisado pelos sujeitos. Com exceção do informante 4 que, de fato, modificou substancialmente o texto de chegada durante o processo de revisão, os demais informantes praticamente não modificaram seus textos de chegada durante esse período médio de 7% do tempo total. Na grande maioria dos casos, as modificações se limitaram a questões ortográficas ou lexicais e praticamente nenhuma atenção foi dada a questões correlatas à coesão textual ou à contextualização dos textos de chegada.

A fim de ilustrar em detalhes algumas das observações processuais constatadas acima, apresenta-se, a seguir, um relato do desempenho processual desses quatro informantes.

Informante 1

Conforme citado acima, o informante 1 gastou 50':40'' para executar a tarefa de tradução. Necessitou 02':32'' para a leitura do texto de partida e utilizou 10':32'' para a revisão da tradução. Contudo, constata-se através da função replay do TRANSLOG© que praticamente não houve modificações no texto de chegada decorridos os primeiros 40':08''. Apesar de ter o tempo mais rápido de leitura e conclusão entre os dezessete informantes, este foi também o sujeito com o maior tempo de revisão, apesar do seu caráter pouco produtivo.

No que diz respeito à hipótese de investigação, observa-se uma atenção estrita à literalidade durante o processo de tradução. Praticamente não há recursividade no processo e as decisões de tradução são tomadas quase que imediatamente conforme atestam as pausas extremamente curtas desse informante. Decorridos 14':23'' do início dos registros no TRANSLOG©, o informante 1 digita automaticamente o nome da peça teatral de Joe Orton sem revelar qualquer preocupação com a contextualização da obra em língua portuguesa. De fato, a ausência do artigo definido [the] removido na digitação do título da peça de Orton [What the Butler Saw], pode sugerir que [Butler] foi interpretado como sendo um nome próprio por esse informante e deixado sem traduzir.

O mesmo se observa ao 21':46'' com relação ao nome do papa Inocêncio III (Innocent III), aos 25':29'' e aos 33':09'' com referência ao nome do ator Gregory Peck (Gregory Prick) e aos 26':30'' ao se deparar com o nome do filme Almas em Chamas (Twelve O'Clock High).

A única modificação relevante durante os 10':32'' gastos na revisão ocorre aos 48':33'' quando o informante traduz o nome do papa para Inocêncio 3° sem, porém, fazer qualquer alusão contextual a essa decisão.

Quando confrontado com o desdobramento de sua tradução através da função replay do TRANSLOG©, o informante 1 comentou apenas que

(1) Eu não entendi bem o texto. Preferi ir fazendo...

Observa-se no desempenho do informante 1 a ausência total de preocupações de natureza contextual. Seu processamento cognitivo parece estar orientado para a maximização de automatismos mecânicos e não dedica atenção para questões de relevância lingüístico-cultural. O perfil cognitivo desse informante espelha, de fato, as características que convencionalmente se atribui na literatura ao desempenho de tradutores novatos, ou seja, uma preocupação excessiva com a forma lingüística e com a literalidade lexical e uma ausência de reflexão consciente sobre questões lingüístico-textuais e discursivas.

Informante 2

Apesar de diferir significativamente no tempo gasto para a execução da tarefa, o desempenho do informante 2 apresenta características cognitivas bastante semelhantes àquelas observadas no desempenho do informante 1. O informante 2 gastou 74':01'' para concluir a tarefa de tradução. Necessitou 05':21'' para a leitura do texto de partida e 07':27'' para a revisão da tradução. Como registrado para o informante 1, constata-se através da função replay do TRANSLOG© que praticamente não houve modificações no texto de chegada decorridos os primeiros 66':34''. O nível de recursividade no decorrer do processo é extremamente baixo com quase todo o processamento ocorrendo de forma linear e seqüencial.

No que diz respeito à hipótese de investigação, registra-se aqui também uma atenção estrita à literalidade durante o processo de tradução. As pausas extremamente curtas atestam que as decisões de tradução são tomadas rapidamente e sem que haja remissão a decisões anteriores que, porventura, estejam relacionadas a outras unidades de tradução. Decorridos 27':35'' do início dos registros no TRANSLOG©, o informante 2 traduz equivocadamente o nome da peça teatral de Joe Orton, What the Butler Saw, para "O que o Açougueiro viu" e não mais retoma essa tradução automática ao longo do processo.

Durante a visualização do próprio processo através da função replay do TRANSLOG©, o informante 2 admite que

(2) Eu li butler e entendi butcher, açougueiro. Pode ser porque eu não conhecia a palavra butler. Sabia o que era butcher e nem olhei do dicionário. Ficou assim...

Esse automatismo mecânico, semelhante àqueles que Königs (1987) situa no bloco automático do processo de tradução, é extremante resistente a mudanças. Durante a fase de revisão do processo, o informante 2 não se atenta para a confusão lexical. Também não reflete sobre a existência de uma possível tradução da peça para o português e, conseqüentemente, da existência de uma tradução já disponível na língua de chegada. A preocupação excessiva com a literalidade leva esse informante a processar de forma semelhante ao informante 1 os demais itens associados à hipótese de investigação em pauta, ou seja, em nenhum momento foram feitas associações de ordem contextual e o processo decorreu de forma linear e seqüencial como atestam os protocolos abaixo.

Ao encerrar a verbalização retrospectiva e confrontado com a ausência de reflexões de natureza contextual, o informante 2 diz

(3) Eu achei muito difícil traduzir esse texto. Deveria ser simples e não é. É aquela velha questão discursiva. A gente estuda isso tanto na faculdade e na hora de fazer percebe como é difícil ...

A dificuldade de trabalhar uma tradução como parte integrante de uma rede textual e de se atentar para as implicações coesivas inerentes a ela parece, de fato, ser uma característica do perfil cognitivo de quase todos os informantes. Uma análise intersubjetiva do desempenho dos dezessete sujeitos constata o quanto a verbalização do informante 2 é ilustrativa do perfil cognitivo desses tradutores novatos. Em sua ampla maioria, as representações do TRANSLOG© revelam processos lineares com níveis inadequados de recursividade e revisão.

Informante 3

As características cognitivas relacionadas ao desempenho do informante 3 são bastante congruentes com o perfil mediano observado entre os dezessete informantes. O que o distingue de seus pares é a ocorrência de pausas mais longas sobretudo após a tomada de uma decisão de tradução. A literatura disponível sobre análises com o programa TRANSLOG© aponta que o toque de teclado é fator determinante para identificar se uma determinada pausa encontra-se relacionada ao item anterior ou posterior nas representações. O toque da tecla de espaçamento parece indicar que o sujeito dá por encerrado o processamento de uma unidade de tradução e se prepara cognitivamente para dar conta de um outro problema de tradução. Portanto, pausas que antecedem a digitação da tecla de espaçamento são consideradas como pausas de reflexão relacionadas à unidade de tradução processada nesse momento. Pausas que ocorrem após o toque da tecla de espaçamento são, via de regra, consideradas como sendo relativas a uma nova unidade de tradução.

Esse padrão é observado no desempenho do informante 3 que se detém demoradamente na reflexão sobre as decisões por ele tomadas antes de prosseguir na consecução da tarefa. Após ter decidido por uma tradução literal de What the Butler Saw, o informante se detém por cerca de cinco minutos refletindo sobre sua decisão de tradução.

Este padrão parece se repetir quando o informante se depara com os nomes de Innocent III, Gregory Prick e Twelve O'Clock High conforme atestam as representações do TRANSLOG© abaixo.

As pausas de 03':42'' e 03':36'', observadas respectivamente após a decisão de manter o nome do filme Twelve O'Clock High e do ator Gregory Prick da forma como veiculados no texto de partida, são indicativas da percepção de que uma contextualização se fazia necessária. O relato retrospectivo abaixo parece ser mais uma evidência nessa direção.

(4) Prick pode ser um palavrão, pode ser também um idiota...

Apesar das reflexões prolongadas, o informante 3 não chegou a perceber a ironia e o sarcasmo contidos no trocadilho que Joe Orton faz entre Gregory Peck e Gregory Prick. Essa ironia é reforçada quando se constata que Twelve O'Clock High, traduzido em português como Almas em Chamas, é o nome de um filme de 1949 estrelado por Gregory Peck e trata das aventuras de um grupo de aviadores. No diário de Orton, homossexual assumido, as tendências chauvinistas da produção hollywoodiana são ridicularizadas com comentários de que o filme era sobre um grupo de ginastas (a particularly intense girls' gym team). A estrela do filme, Gregory Peck, símbolo sexual de masculinidade hegemônica, é retratada por Orton com alusões à genitália masculina (prick) e a conotações de ignorância intelectual (prick). Percebe-se no relato retrospectivo do Informante 3 um grau de conscientização lingüístico-discursivo que influi positivamente no seu desempenho como tradutor. Apesar disso não resultar em incremento qualitativo no texto de chegada, o Informante 3, com suas pausas e relatos retrospectivos, demonstra um nível mais apurado de meta-reflexão dobre o ato de traduzir.

Informante 4

Finalmente, o informante 4 foi escolhido como representativo por ser o único sujeito entre os dezessete informantes com um perfil cognitivo nitidamente diferenciado dos demais tradutores. Observa-se em seu desempenho uma preocupação com a construção de uma rede textual no texto de chegada que recupere os padrões coesivos e as marcas de contextualização presentes no texto de partida. O tempo dedicado a revisão é de 08':01'', dentro da média do grupo. Contudo, de maneira completamente diferente dos outros dezesseis informantes, o informante 4 altera significativamente o texto de chegada durante esses oito minutos. Percebe-se em seus movimentos recursivos uma tentativa de construir coesão textual em português de forma a aumentar o nível de fluência do texto de chegada.

Decorridos 18':32'' do início da tradução, o informante 4 se depara com o título da peça de Orton, What the Butler Saw, e o mantém em inglês após um período de reflexão de 03':24''. É interessante notar que logo após um novo período de reflexão com duração de 01':20'', o tradutor acrescenta a informação de que se trata de uma peça de teatro.

Durante as verbalizações retrospectivas, o informante relatou a forma como buscou obter essas informações. Para tanto, verificou a produção de Orton em páginas da Internet e identificou What the Butler Saw como sendo uma peça teatral. A seguir, procurou por traduções da obra em português em páginas de bibliotecas de universidades brasileiras e não consegui encontrá-las, conforme ilustrado na Figura 4 abaixo. Concluiu, portanto, que o título da peça deveria ser mantido no original.


Essa mesma preocupação com a contextualização do texto de chegada aparece novamente decorridos 29':37'' do início da tradução quando o informante 4 se depara com a menção feita ao papa Inocêncio III. Inicialmente, o tradutor mantém o nome em inglês e equivocadamente registra-o em romanos como segundo (II) ao invés de terceiro (III) na listagem de ocorrências sucessórias no papado. Contudo, após um ligeiro deslocamento pelo texto, o informante 4 retoma a tradução do nome do Papa em português, ainda assim como Inocêncio II, talvez por um deslize de digitação. De forma semelhante ao que fizera ao acrescentar a referência explícita à peça teatral de Orton, o tradutor acrescenta que Inocêncio III "foi o papa da época" numa tentativa de contribuir para a recuperação inferencial dos leitores do texto de chegada ao aumentar o grau de explicitude da tradução em relação ao original.

Só bem mais tarde, durante a revisão e decorridos 60':22'' do processo, é que o informante 4 retifica a informação histórica e modifica o nome do papa de Inocêncio II para Inocêncio III. Percebe-se nessa modificação uma preocupação com a dimensão macro-textual do texto de chegada e com sua contextualização histórico-cultural.

Um processo semelhante acontece quando aos 35':52'' o informante 4 concentra seus esforços na tradução do título do filme Twelve O'Clock High. Inicialmente, traduz o título em português como Almas em Chamas e o faz acompanhar do título original em colchetes [Twelve O'Clock High].

Essa decisão é mantida na tela do computador pelos próximos três minutos enquanto o informante se ocupa de um outro problema de tradução, qual seja, a tradução do nome do ator Gregory Peck (Prick). Logo porém, o informante volta ao título do filme e apaga a tradução em português de Almas em Chamas preferindo manter o título original em inglês. Durante a verbalização retrospectiva, o informante 4 é claro sobre os motivos que o levaram a tomar tal decisão de tradução

(5) Veja bem, podia traduzir Twelve O'clock High como Almas em Chamas. Antes de começar a traduzir, achei a tradução na Internet. Mas o que é que eu faria com What the Butler Saw? Pelo que sei, a peça não foi traduzida para o português. Procurei em sites de bibliotecas e não consegui encontrar nada. Acho que What the Butler Saw não foi traduzido para o português. Para manter a consistência, preferi manter o título da peça e do filme em inglês. Fica mais coerente.

A Figura 5 abaixo reproduz páginas da Internet da forma como foram pesquisadas pelo informante. Ilustra, assim, a decisão de criar uma certa coerência textual mantendo em inglês tanto o nome da peça teatral e quanto o do filme.


Finalmente, ao traduzir o nome de Gregory Prick, observa-se no desempenho do informante 4 a construção de um padrão inferencial com o objetivo explícito de recuperar a implicitude da ironia e o sarcasmo veiculados pelo texto de Orton. Inicialmente, aos 35':52'', quando se depara com o nome do ator pela primeira vez, o tradutor o mantém no original de forma idêntica ao que fora feito pelos outros dezesseis informantes.

Contudo, passados pouco mais de dois minutos, o informante volta ao nome do ator e o retifica para Peck. Pode-se supor, com razoável segurança, que ao identificar o nome de Gregory Peck nos créditos veiculados nas páginas da Internet sobre o filme, o informante 4 sentiu necessidade de contextualizar devidamente os possíveis leitores de sua tradução.

Decorridos quase dez minutos, o informante depara-se aos 47':58'' com a segunda ocorrência de Gregory Prick no texto. Logo após digitar a letra P, o tradutor entra em um processo de reflexão e o programa TRANSLOG© registra uma pausa de quase dois minutos.

A seguir, o informante 4 volta à primeira ocorrência e, depois de alguma hesitação, digita Gregory Pênis como alternativa para a tradução de Gregory Prick numa tentativa de recuperar a ironia e o sarcasmo de Orton com alusões à getinália masculina (prick) e a conotações de ignorância intelectual (prick).

Finalmente, assim como registrado para a correção do título de Inocênico III aos 60':22'' do processo, o informante 4 acrescenta aos 62':53'' uma nota explicativa identificada como (3) após o nome de Gregory Pênis.

No decorrer da verbalização retrospectiva, o informante 4 deixa transparecer as etapas do processo de tradução que o levaram a manter o nome de Gregory Prick no original, substitui-lo por Gregory Peck logo depois, refletir sobre o processo ao se deparar com a segunda ocorrência de Gregory Prick, optar por Gregory Pênis e, ainda insatisfeito, acrescentar uma nota explicativa para seus possíveis leitores.

(6) Eu entendi a brincadeira entre Gregory Peck e Gregory Prick só que não sabia bem o que fazer. Pensei em traduzir por Gregory Peck, mas ai ia ficar sem graça nenhuma. Pensei em ser mais explícito, mas achei que ia ficar muito pesado. Resolvi deixar Gregory Pênis. Coloquei uma nota explicativa para o leitor.

Uma análise das etapas do processo de tradução do informante 4 revela uma preocupação constante com a contextualização de sua tradução e mostra um perfil cognitivo diferenciado, preocupado com a recursividade do processo de tradução e com a construção de uma rede textual que recupere marcas coesivas do texto de partida. Isto é verificado na menção explícita à peça teatral e ao papa da época, na busca por consistência entre os títulos da peça e do filme, e na brincadeira sarcástica com o nome do ator Gregory Peck. Sua estratégia de aumentar o grau de explicitude de trechos do texto de partida se revela consistente e produtiva e pode ser interpretada como evidência de um maior grau de experiência em tradução.

Ao se comparar as decisões de tradução do informante 4 com aquelas de seus dezesseis pares, observa-se uma ocorrência interessante. A aparente multiplicidade de opções de tradução registrada na Tabela 1 revela, a meu ver, um padrão único através do qual a maioria dos informantes prescinde de reflexões sobre uma contextualização adequada do texto de chegada e apresenta soluções com alto grau de literalidade.

Concluindo a discussão, observa-se que o desempenho dos informantes 1, 2 e 3 apresenta padrões de pausa, recursividade e revisão congruentes com o desempenho dos outros treze tradutores. Observa-se, entre eles, tempos de pausa bastante curtos quando esses sujeitos se deparam com um problema de tradução. A solução do problema é buscada naquele exato momento e uma decisão de tradução se segue a essas reflexões curtas. Os protocolos também demonstram uma baixa taxa de recursividade e correção. Todos eles apresentam evidências de um processamento pouco reflexivo nos moldes do que Königs (1987) e Alves (1995, 1997) definem como sendo integrantes de um bloco automático.

O tempo gasto com revisão é baixo entre todos os informantes, e compreende aproximadamente 7% do tempo total gasto com a tarefa. O acompanhamento processual do desempenho do informante 4 revela um amadurecimento retratado pelas marcas de recursividade e revisão registradas nos protocolos. A análise textual do produto de sua tradução corrobora essa diferenciação com relação aos demais sujeitos tradutores. Pode-se especular que seu desempenho tem características mais especializadas e, nesse sentido, deve estar mais próximo de características cognitivas registradas no desempenho de tradutores experientes. Essa constatação suscita a investigação desses mesmos processos entre grupos de tradutores experientes. Estudos de caso com tradutores experientes se fazem, portanto, necessários para a investigação das semelhanças e diferenças no desempenho de tradutores novatos e experientes.

Conclusão

A partir da análise do estudo de caso sobre o processo de tradução envolvendo o trecho do diário de Joe Orton, espero ter demonstrado a relevância de se introduzir a técnica de triangulação, na forma como aqui apresentada, para pesquisas empírico-experimentais voltadas para o estudo do processo de tradução, sobretudo aquelas preocupadas com a análise de pistas contextuais e de processos inferenciais em contextos de tradução. O uso combinado de representações do programa TRANSLOG©, de verbalizações retrospectivas direcionadas pela função replay desse programa, e de análises de amostras textuais feitas através de tabelas do programa WORDSMITH TOOLS©, devidamente codificadas, anotadas e alinhadas de acordo com as propostas recentes sobre o uso de corpora de pequenas dimensões, possibilita controlar melhor as variáveis de análise e garantir resultados mais confiáveis e, em conjuntos mais abrangentes, passíveis de generalizações nas pesquisas sobre o processo de tradução. A inclusão desses dados na base do CORPRAT permitirá, como desdobramento, sua disponibilização a outros pesquisadores para fins de análises correlacionais. Essas, por sua vez, poderão possibilitar o avanço das pesquisas no campo de investigação do processo de tradução ao buscarem atender as observações de Fraser (1996) no sentido de permitir uma análise do conjunto dos resultados obtidos ao invés de se perseguir objetivos isolados.

Como resultado teórico, destaca-se uma compreensão refinada das diferentes etapas de processamento cognitivo relacionadas ao ato de traduzir e das diferentes estratégias que, juntas, configuram o que se convencionou chamar de competência(s) em tradução. Desta compreensão poderão surgir modelos teóricos detalhando a natureza desses processos.

Finalmente, como resultado prático dessa análise, ressalta-se a sua aplicabilidade em projetos com uma vertente didática voltada para a formação de tradutores. Dado o caráter dinâmico e emergente da formação de tradutores e da necessidade crescente do mercado em absorver profissionais de tradução, pesquisas desta natureza se fazem cada vez mais necessárias. Neste sentido, a técnica de triangulação presta, de forma correlata, uma contribuição no que diz respeito ao aperfeiçoamento didático-metodológico da formação de profissionais em tradução ao levar indiretamente tradutores novatos a observarem e tomarem consciência de suas próprias práticas cognitivas e discursivas e ainda a fomentar a prática de leitura crítica e a promover a conscientização nesses tradutores novatos sobre os seus percursos quanto co-constroem um texto em uma nova língua e cultura (Alves, Magalhães & Pagano, 2001). Esse processo incorpora características cognitivas e discursivas e desenvolve níveis de consciência e autonomia que levam tradutores novatos a perceber as inter-relações dinâmicas entre linguagem, cognição e discurso. Desta forma, tradutores poderão aprender a lidar com as exigências impostas pela tarefa de tradução e a tomar decisões que envolvam intervenções textuais em contextos interlingüísticos e transculturais.

Recebido em outubro de 2002

E-mail: alvesf@dedalus.lcc.ufmg.br

Anexos – Textos de chegada dos informantes

Destacou-se em negrito os títulos e em negrito-sublinhado os nomes próprios analisados.

Informante 1

Domingo, 26 de março,

Páscoa.Nada de interessante na tv, além de programas de auditório. A BBC cantando embalando a si mesma como sempre. Passei o dia lendo. Nem fiz a barba. Saí para dar uma longa caminhada. Keneth, que lê o The Observer, me conta o que os grupos de modernos nos Estados Unidos andam fazendo ultimamente – liberdade sexual ampla e irrestrita. "É a única maneira de de chacoalhar esta sociedade decadente", eu disse, fazendo uma nota mental para esquentar o What Butler Saw quando eu recomeçar a escrever. "Isto é como uma heresia albingensiana no século onze", disse Kenneth. Procurei o artigo na Enciclopédia Britânica. Bastante interessante. Isso mesmo. Sexo é a única coisa que os enfurece. Muito mais fudeção e em pouco tempo eles estarão gritando como histéricos. "Inocêncio 3º", disse Ken, "fê-lo por eles". " Não vai ser tão fácil montar uma cruzada desta vez", eu disse. Assistimos um filme inacreditavelmente ruim com Gregory Prick, Twelve O'Clock High. Um tipo de apologia ao 'espírito de equipe'. "É como se fosse uma equipe de ginástica de garotas bem espevitadas", disse Kenneth. O filme termina com Gregory Prick tendo um tipo de tempestade cerebral.Somente uma porção de amendoins espetando meus cotovelos evitou que meu próprio cérebro girasse como um furacão.

Informante 2

Domingo, 26 de marco

Páscoa. Nada de interessante na TV apenas os programmas de sempre. BBC falando para si própria como sempre. Passei o dia lendo. Não fiz a barba. Sai para uma longa caminhada. Kenneth, após ler The Observer, me conta sobre o último grupo rebelde da América – completa liberdade sexual. -E a única maneira de acabar com esta civilização monstruosa– eu disse, tomando nota mentalmente para destacar O que o Acougueiro Viu quando eu fosse reescrever. -Parece a heresia de Albigensian no século XI,– disse Kenneth. Olhei a palavra na Enciclopédia Britânica. Muito interessante. Sim. Sexo e o único jeito de deixa-los furiosos. Mais trepadas e eles estarão gritando histéricos em pouquíssimo tempo. -Inocente III,– Kenneth disse, -ficou-. -Vai ser muito facil fazer uma cruzada desta vez,– eu disse. Nos vimos um filme inacreditavelmente horrível com Gregory Prick, Twelve O-Clock High. Um tipo de penitencia para -grupos espirituais-. -Parece um time de garotas muito especial,– disse Kenneth. O filme terminou com Gregory Prick fazendo uma espécie de brainstorm. Gracas a uma boa quantidade de amendoins que eu estava segurando, consegui impedir meu cérebro de ser arrastado por um furacão.

Informante 3

Domingo, 26 de março.

Páscoa. Nada na televisão, a não ser programas de ajuda moral e espiritual. É aquela voz macia da BBC, como sempre. Passei o dia lendo. Não me barbeei. Saí para uma longa caminhada. Kenneth leu no "The Observer" e me contou a respeito do mais moderno grupo da América — total liberação sexual. "É a única maneira de bater contra esta civilização infeliz," eu disse, fazendo uma referência mental a "O que viu o Mordomo", para dar mais emoção ao texto quando fosse reescrevê-lo. É como a heresia albigenciana do século onze," disse Kenneth. Procurei o artigo na Enciclopédia Britânica. Muito interessante. Sim. Sexo é a única forma de enfurecê-los. Quanto mais trepadas, mais eles gritarão histéricos. "Inocêncio III fez isso por eles", disse Kenneth. " Não vai ser tão fácil fazer uma cruzada desta vez", eu disse. Assistimos a um filme inacreditavelmente horrível, com Gregory Prick, "Twelve O'Clock High". Um tipo de tratado de "espírito de equipe". "É mais ou menos como uma equipe intensiva de ginástica para garotas", disse Kenneth. O filme termina com Gregory Prick tendo um problema cerebral em que ele não consegue pensar claramente. Somente uma porção de amendoins próxima de mim pôde impedir o meu próprio cérebro de transformar-se em um furacão.

Informante 4

Março de 1967 – Domingo, 26 de março

Páscoa. Nada na televisão a não ser programas que alimentam nossa alegria. A BBC resmungando para si mesmo, como sempre. Passei o dia lendo. Não fiz a barba. Saí para uma caminhada meio longa. Kenneth, que lia o "The Observer", fala do último grupo radical na América—total liberdade sexual (1) "É a única maneira de esmagar a maldita civilização" disse. Pensei: não posso esquecer de jogar um tempero no "What the Butler Saw" quando voltar para re-escrever a peça. "É como a heresia Albigense do século XI (2)", disse Kenneth. Pesquisei o assunto na Enciclopédia Britânica. Muito interessante. Sim. Sexo é a única maneira de enfurecê-los. Basta acrescentar mais algumas trepadas e eles estarão berrando histéricos em pouco tempo. "Inocêncio III", disse Kenneth, "foi o papa da época". "Não vai ser tão fácil armar uma cruzada dessa vez" disse. Assistimos a um filme inacreditavelmente péssimo estrelando Gregory Pênis (3), "Twelve o'clock high". Uma espécie de tratado sobre "espírito de equipe". "Parece mais uma equipe de colegiais cheias de garra", disse Kenneth. O filme termina com o Gregory Pênis tendo uma espécie de tempestade de idéias. A única coisa que impediu que a minha cabeça também rodopiasse como em um furacão foi um estoque considerável de amendoins localizado na altura do meu cotovelo.

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  • 1
    Esta técnica é conhecida em português pelo nome de protocolos verbais, protocolos introspectivos, relatórios verbais, protocolos em voz alta (TAPs -
    think-aloud protocols). Consiste basicamente em solicitar aos informantes que verbalizem seus pensamentos sem censura na seqüência em que esses lhes surgem à mente. Esses dados são gravados e posteriormente transcritos para fins de análise. Neste artigo, protocolos verbais e TAPs, termos freqüentes na literatura da área, serão utilizados como sinônimos de verbalizações concomitantes à execução de uma tarefa de tradução e devem ser compreendidos como intercambiáveis. Devem, contudo, ser diferenciados de protocolos retrospectivos, ou seja, aquelas verbalizações obtidas uma vez concluída a execução da tarefa tradutória.
  • 2
    Königs (1987) trabalha com cinco informantes, quatro estudantes e um professional de tradução. Porém, em suas análise concentra-se exlusivamente no desempenho dos quatro estudantes.
  • 3
    "[...] translation process studies have, in fact, relatively little in common and present very different pictures of the translation process they all set out to investigate."
  • 4
    [ ] ein deutlicher Hinweis für gleichmässige, individuell bestimmte mentale Prozesse im Laufe des Übersetzungsvorgangs.
  • 5
    "The best evidence that [people] have actually solved a problem is their ability to report it."
  • 6
    "A comparison of these two studies suggests that even among professional translators, immediate retrospection produces a more structured and inferential account than think-aloud, which tends to focus more on individual difficulties as they arise, even when these are largely placed within the broader context of an over-arching strategic approach to accomplishing the translation task."
  • 7
    "In the context of the 1993 study, which was concerned with cross-cultural aspects of the translation process, immediate retrospection proved to give greater insight than concurrent think-aloud protocol "
  • 8
    "To conclude, it seems clear that, if properly designed and differentiated, the introspective method can deliver valuable and interesting insights into a variety of linguistic activities at a number of levels. Design and differentiation do, however, seem to be the keys to making the findings capable of really relevant exploitation."
  • 9
    O programa TRANSLOG2000© grava toques de teclado em PCs em tempo real e os disponibiliza ao pesquisador na forma de dois tipos de dados: uma representação analítica dos dados registrados e a sua reprodução visualizada no monitor do PC.
  • 10
    "The present study indicates that the influence of think aloud on processing in translation is quite considerable. Though this forces us to review assumptions about the think-aloud procedure for translation research purposes, it in no way invalidates the think-aloud method. In fact, the most obvious method of trying to answer many of the questions raised by the experiments reported here, and left unanswered in the above quantitative analysis of the logged data, would be to attempt to build hypotheses based both on quantitative computer-logged data and on qualitative think-aloud data."
  • 11
    until recently, translation theory has been primarily concerned with two phenomena: with translation as a
    product and with translation
    competence. [ ] As a consequence of translation theory being product- and competence-oriented, hardly any attention has been given to the
    process by which a translation is produced, and to translators' actual performance. This narrowing [has] only recently been realizes to be a deficit. As a result, a new process-oriented, performance-analytical discipline within translation studies has developed.
  • 12
    "in my view, the value of corpora in translation and of a CTS approach to translation theory and practice does not rest on the claim to "objectivity" and the somewhat worn philosophical claims of this type presuppose.
  • 13
    "provide vital information on correspondences between form and meaning in multilingual contexts"
  • 14
    "to explore how meanings emerge and evolve in contexts."
  • 15
    No presente estudo exploratório optou-se por realizar a sessão retrospectiva de uma só vez com todo o grupo de dezessete informantes. São, portanto, manifestações coletivas de relatos retrospectivos que foram separados
    a posteriori pelo pesquisador. Recomenda-se, no caso de buscar garantir mais privacidade aos relatos retrospectivos, que esses sejam conduzidos em sessões individuais.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Abr 2004
    • Data do Fascículo
      2003

    Histórico

    • Recebido
      2002
    Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP PUC-SP - LAEL, Rua Monte Alegre 984, 4B-02, São Paulo, SP 05014-001, Brasil, Tel.: +55 11 3670-8374 - São Paulo - SP - Brazil
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