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Análise geossociolinguística das designações para fanhoso nas capitais brasileiras

Geosociolinguistic analysis of designations for fanhoso in Brazilian capitals

RESUMO

Este artigo busca mapear e analisar a variação lexical para fanhoso nas capitais brasileiras a partir dos dados do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB). A pesquisa segue os mesmos parâmetros metodológicos do Projeto ALiB, contando com 25 capitais brasileiras, onde foram entrevistados oito informantes por localidade. Os resultados apontam que para designar uma pessoa que parece falar pelo nariz os informantes utilizam as seguintes variantes lexicais mais frequentes: fanhoso, fanho, fonhém/fõem e fom-fom. É possível notar também que não há uma variação diatópica de característica isoléxica, mas sim agrupamentos lexicais do tipo supra-agrupamentos, macroagrupamentos, microagrupamentos e nanoagrupamentos.

Palavras-chave:
Dialetologia; Geossociolinguística; Variação lexical; ALiB

ABSTRACT

This article aims to map and analyze the lexical variation for fanhoso in the Brazilian capital, based on data from the Linguistic Atlas of Brazil (ALiB). The research follows the same methodological parameters of the ALiB, counting with 25 Brazilian capitals, where eight informants were interviewed by location. The results indicate that in order to designate a person who seems to speak through the nose the informants use the following most frequent lexical variants: fanhoso, fanho, fonhém / fõe and fom-fom. It is possible to notice also that there is no diatopic variation of isolexic characteristic, but lexical groupings of the type supra-groupings, macro-groupings, micro-groupings and nano-groupings.

Keywords:
Dialecology; Geosociolinguistics; Lexical variation; ALiB

1. Introdução

A análise da dimensão lexical do português brasileiro ganhou uma visibilidade científica notável, sobretudo, com a publicação do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB). Os primeiros volumes do ALiB, publicados em 2014, constituem um marco inédito em relação à descrição lexical do português falado no Brasil, pelo seu rigor metodológico e científico, que somam mais de 20 anos de pesquisa geolinguística. Conhecer a realidade do português brasileiro por meio de cartas linguísticas significa apreciar fotografias sobre o português num tempo aparente, cuja abrangência implica políticas lexicográficas reais e políticas de ensino-aprendizagem do léxico pautado em corpora autêntico e disponível em cartas lexicais que cobrem todo o território nacional.

Tendo em vista a contribuição do Projeto ALiB aos estudos geolinguísticos, este artigo busca investigar o contínuo lexical do item fanhoso nas capitais brasileiras a partir dos dados do ALiB. O trabalho está estruturado em três seções. A primeira demonstra a necessidade de abordar a geossociolinguística (Razky, 1997Cardoso, S., & Razky, A. (1997). O Atlas Geo-sociolingüístico do Pará: o projeto piloto. Asas da palavra, UNAMA, n. 4, v. 7. dez., p. 97-100.), através dos principais trabalhos desenvolvidos no Brasil. A segunda apresenta os procedimentos metodológicos adotados neste estudo. E a última, concentra-se nos resultados da pesquisa, analisando a variação geográfica e social do item fanhoso.

2. Estudos geossociolinguísticos no Brasil

A geografia linguística, como método da Dialetologia, surge nos fins do século XIX e início do século XX, sobretudo, vinculada aos nomes de Georg Wenker, na Alemanha, e Jules Gilliéron, na França.

O trabalho pioneiro da geografia linguística foi realizado na Alemanha por Georg Wenker, em 1876. Ele inicia esse tipo de pesquisa enviando questionários (via correspondência) aos professores residentes no norte da Alemanha, pedindo-lhes que fornecessem palavras equivalentes à variedade do alemão padrão. Wenker levou dez anos para cobrir todo o território germânico, enfrentando diversas dificuldades durante a coleta de dados. Ao final da pesquisa, ele resolveu limitar sua análise às palavras específicas, resultando, assim, em dois conjuntos de mapas que foram publicados sob o título Sprachatlas des Deutschen Reiches (1881).

Embora fosse possível reunir uma grande quantidade de dados, enviando questionários por correspondência, este método tinha suas limitações, principalmente porque as pronúncias do dialeto investigado não podiam ser registradas com precisão. Portanto, em 1896, Jules Gilliéron surgiu com uma alternativa ao método aplicado. Um pesquisador de campo de Gilliéron, Edmond Edmont, famoso por sua boa audição, percorreu a França de 1896 a 1900 e realizou cerca de 700 entrevistas. Os resultados de suas observações, juntamente com os resultados de Gilliéron e seus outros assistentes, foram posteriormente publicados entre 1902 e 1910 sob o título Atlas Linguistique de la FranceGilliéron, J., & Edmont, E. (1902-1910). Atlas Linguistique de la France (ALF), 35 fasc. Paris: Honoré Champion..

Com base nas experiências dialetológicas de Wenker e Gilliéron, a aplicação do método da Dialetologia, ora chamada também de geolinguística, incidiu em outros projetos de atlas linguísticos pelo mundo afora, principalmente na Europa e na América.

Vale ressaltar que os trabalhos geolinguísticos dos séculos XIX e XX traziam em seu aparato metodológico a abordagem tradicional ou monodimensional da Dialetologia, ou seja, por muito tempo a geolinguística priorizou registrar o dialeto puro3 3 Buscavam identificar marcas linguísticas que se aproximavam da norma-padrão usada na época. e sua variação geográfica, colocando em destaque a variável geográfica e deixando em segundo plano as variáveis sociais. Isso gerou inúmeras críticas à Dialetologia, bem como, a de que a mesma não se sustentaria por muito tempo, perdendo espaço para a Sociolinguística.

Com o surgimento da linguística moderna, sobretudo, da Sociolinguística, a Dialetologia passou a integrar ao método geolinguístico aspectos sociais da língua, como uma tentativa de superar suas lacunas téorico-metodológicas apontadas anteriormente. Esta vertente, Chambers e Trudgill (1994Chambers, J. & Trudgill, P. (1994). La Dialectología. Madrid: Visor Libros.) vão denominar de Dialetologia Social, pois, agora, os dialetólogos começam a controlar em sua abordagem metodológica questões extralinguísticas como idade, sexo e escolaridade do informante. Rona (1976) afirma que esse aspecto social configura-se como uma superposição interdisciplinar da Sociolinguística e da Dialetologia, podendo ser denominada também de Sociodialetologia4 4 Termo também empregado por Gregory Guy (2012). ou uma nova forma de Dialetologia que incorpora precisamente a dimensão social.

Buscando discutir as diversas tendências da geolinguística, vale mencionar os postulados de Radtke e Thun (1996Radtke, E., & Thun, H. (1996). Nuevos caminhos de la geolinguística románica: un balance. In Radtke, E., & Thun, H. Neue Wege der Romanischen Geolinguistik. Kiel: Westensee-Verlag, p. 15-59.), que ainda na década de 1990 caracterizaram a chamada Geolinguística Pluridimensional, na qual ainda se mantém presente, desde os anos 2000, no aporte metodológico das pesquisas dialetais brasileiras.

No Brasil, também na intenção de compensar os aspectos sociais isentos na abordagem da geolinguística tradicional, Razky (1997Cardoso, S., & Razky, A. (1997). O Atlas Geo-sociolingüístico do Pará: o projeto piloto. Asas da palavra, UNAMA, n. 4, v. 7. dez., p. 97-100., 1998Razky, A. (1998). O Atlas geo-sociolinguístico do Pará: Abordagem metodológica. In Aguilera (Org). A geolingüística no Brasil: Caminhos e perspectivas. Londrina: UEL., 2004Razky, A. (2004). Atlas linguístico sonoro do estado do Pará (ALiSPA 1.1). Belém: s/ed. (Programa em CD-ROM)., 2010Razky, A. (2010). Pour une approche géo-sociolinguistique de la variation phonétique. Lenguaje (Universidad del Valle), v. 32, p. 313-330., 2015Razky, A., & Guedes, R. (2015). Le continuum des regroupements lexicaux dans l’atlas géosociolinguistique du Pará. Revista Géoliguistique. n. 15-2015. Centre de Dialectologie. GIPSA-lab - Univ. Grenoble Alpes.) apresenta a Geossociolinguística que, grosso modo, configura-se como uma conjunção do aparato metodológico da Sociolinguística com o da Geolinguística.

Para Razky (2010Razky, A. (2010). Pour une approche géo-sociolinguistique de la variation phonétique. Lenguaje (Universidad del Valle), v. 32, p. 313-330.), a Geossociolinguística é necessária para suprir os limites tanto da Sociolinguística quanto da Geolinguística tradicional, uma vez que os estudos sociolinguísticos realizados no Brasil priorizam a dimensão social e local; e os estudos geolinguísticos, limitam-se ao aspecto espacial e uma estratificação social mínima, como podemos apreciar no Atlas Linguístico de Sergipe (Ferreira et al., 1987Ferreira, C. et al. (1987). Atlas linguístico de Sergipe. Salvador: Universidade Federal da Bahia; Fundação de Cultura de Sergipe.) e no Atlas Linguísticos do Paraná (Aguilera, 1996Aguilera, V. (1994). Atlas linguístico do Paraná. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná.)5 5 As autoras consideram somente o sexo dos informantes, controlando, assim, a fala de homens e mulheres em diferentes áreas geográficas. .

Essa nova abordagem adotada nos estudos geolinguísticos nos fins da década de 1990, Razky (1998Razky, A. (1998). O Atlas geo-sociolinguístico do Pará: Abordagem metodológica. In Aguilera (Org). A geolingüística no Brasil: Caminhos e perspectivas. Londrina: UEL.) nomeou de Geossociolinguística.

A expressão foi cunhada unindo-se o prefixo “Geo” (que referencia o tratamento da variante geográfica, tradicionalmente estudada pela Geolinguística) ao vocábulo “sociolinguística” (...) Geossociolinguística, criado por Razky (1998Razky, A. (1998). O Atlas geo-sociolinguístico do Pará: Abordagem metodológica. In Aguilera (Org). A geolingüística no Brasil: Caminhos e perspectivas. Londrina: UEL.), não significou uma nova área ou subárea da Linguística, mas designa uma conjunção de metodologias (a Geolinguística e a Sociolinguística) que, juntas, podem permitir melhores resultados na investigação da variação linguística (Guedes, 2017Guedes, R. (2017). Perfil geossociolinguístico do Português em contato com línguas Tupí-Guaraní em áreas indígenas dos estados do Pará e Maranhão. Tese de doutorado, Universidade Federal do Pará (UFPA)., p. 46).

O termo Geossociolinguística foi empregado por Abdelhak Razky pela primeira vez, em 1997, dando nome ao Projeto Atlas Geossociolinguístico do Pará (ALiPA), que posteriormente, em 2004, resultou na publicação do primeiro atlas sonoro brasileiro: o Atlas Linguístico Sonoro do Pará (ALiSPA).

Para Razky e Guedes (2015Razky, A., & Guedes, R. (2015). Le continuum des regroupements lexicaux dans l’atlas géosociolinguistique du Pará. Revista Géoliguistique. n. 15-2015. Centre de Dialectologie. GIPSA-lab - Univ. Grenoble Alpes.), a perspectiva Geossociolinguística oferece uma imagem mais autêntica sobre como mapear a variabilidade linguística do português brasileiro e permite compreender melhor os problemas concernentes à homogeneidade dialetal nos mapas linguísticos de atlas monodimensionais.

Em suma, a abordagem Geossociolinguística pode ser esquematizada da seguinte forma:

Figura 01
Esquema de configuração da Geossociolinguística

A Figura 01 nos permite inferir que, assim como a Dialetologia social, a Geossociolinguística também busca controlar o aspecto geográfico e social da variação linguística. Em relação ao primeiro aspecto, o foco está na caracterização de agrupamentos linguísticos6 6 Coexistência de variantes linguísticas em uma mesma demarcação territorial. ; e o segundo se concentra nas influências de variáveis sociais, como idade, sexo e nível de escolaridade, nas escolhas linguísticas dos informantes.

Conforme Razky e Guedes (2015Razky, A., & Guedes, R. (2015). Le continuum des regroupements lexicaux dans l’atlas géosociolinguistique du Pará. Revista Géoliguistique. n. 15-2015. Centre de Dialectologie. GIPSA-lab - Univ. Grenoble Alpes.), esse controle social nos dados linguísticos contribuiu para o mapeamento de caráter geossociolinguístico. Além disso, Razky e Sanches (2016Razky, A., & Sanches, R. D. (2016). Variação geossocial do item lexical riacho/córrego nas capitais brasileiras. Gragoatá, Niterói, n.40, p. 70-89.) comentam a possibilidade de analisar esses mapas sob uma perspectiva geossocial, isto é, uma análise que contemple o espaço geográfico (variação geográfica ou diatópica) e as variáveis sociais (variação diassexual, diageracional e diastrática).

Diante das discussões acima, apresentamos a seguir, no Quadro 01, os principais trabalhos realizados no Brasil que resultaram ou foram influenciados pela abordagem Geossociolinguística. Os trabalhos configuram-se em atlas linguísticos, livros, Teses de doutorado e Dissertações de mestrado. Os artigos científicos não foram considerados neste momento, levando em consideração o número elevado de artigos.

Quadro 01
Levantamento bibliográfico de estudos geossociolinguísticos no Brasil

No total foram elencados 22 trabalhos de natureza diferentes. No quadro acima foi possível notar que o primeiro atlas de abordagem Geossociolinguística foi publicado em 2004, sob a organização de Abdelhak Razky. A abordagem Geossociolinguística aparece primeiramente em 19977 7 Ressaltamos que a primeira vez em que o termo apareceu foi em 1997, na revista Asas da Palavra, da Universidade da Amazônia (UNAMA). , posteriormente, o termo volta a aparecer como título de do livro Estudos Geo-sociolinguísticos no Estado do Pará, publicado em 2003.

Em síntese, catalogamos a existência de um atlas regional publicado e um em andamento, ambos os projetos coordenados pelos professores Abdelhak Razky, Alcides Fernandes de Lima e Marilucia Barros de Oliveira8 8 Coordenadores do grupo de pesquisa Geossociolinguística e Socioterminologia (GeoLinterm). ; quatro livros que receberam em seu título a nomenclatura Geossociolinguística, três deles organizados pelos professores supracitados e um organizado pelas professoras Vanderci de Andrade Aguilera e Maranúbia Pereira Barbosa Doiron; quatro Teses defendidas na Universidade Federal do Pará (UFPA) e uma na Universidade Estadual de Londrina; e 12 Dissertações de mestrado defendidas em diferentes universidades brasileiras, sendo a maioria orientada pelo professor Abdelhak Razky.

Como podemos notar a abordagem Geossociolinguística se propagou para além do âmbito local, já que boa parte dos estudos apresentados aqui esteve sob a orientação do professor Abdelhak Razky, na UFPA. Contudo, apreciamos a utilização do termo Geossociolinguística em Teses e Dissertações produzidas em outras universidades, como a de Romano (2012Romano, V. P. (2012). Atlas Geossociolinguístico de Londrina: um estudo em tempo real e tempo aparente. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Londrina.) e a de Galli (2016Galli, M. C. (2016). Análise geossociolinguistica das consoantes lateral linguodental e vribrante alveolar em Assis Chateaubriand - PR. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual do Oeste do Paraná.). O primeiro trabalho foi orientado pela professora Vanderci Aguilera, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), e tem como título Atlas Geossociolinguístico de Londrina: um estudo em tempo real e tempo aparente. E o segundo foi orientado pela professora Sassimar Busse, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOSTE), com o título Uma análise Geossociolinguística das consoantes lateral linguodental e vibrante alveolar em Assis Chateaubriand/PR. Além desses trabalhos, em 2015, contamos com a publicação de um livro organizado por professores externos à UFPA, sob o título de Estudos geossociolinguísticos brasileiros e europeus: uma homenagem a Michel Contini.

O panorama apresentado aqui nos permite afirmar que a Geossociolinguística vem se firmando, desde 1997 até os dias atuais, cada vez mais no campo da Dialetologia brasileira, sendo considerada uma abordagem moderna e que visa suprir as lacunas deixadas pela Dialetologia tradicional. Sobre esse novo momento da geolinguística brasileira, Cardoso (2003Cardoso, S. (2003). Dialectologia atual: tendências e perspectivas. Revista Gelne, ano 5, n. 1 e 2, p. 195-192.) acredita que:

A Geolinguística hoje deve continuar a priorizar a variação diatópica, abrindo, porém, espaço para o controle de outras variáveis como gênero, idade e escolaridade, sem a busca obcecante da quantificação, mas tomando-as, de forma exemplificativa e não exaustiva, e modo a complementar os próprios dados areais. (Cardoso, 2003Cardoso, S. (2003). Dialectologia atual: tendências e perspectivas. Revista Gelne, ano 5, n. 1 e 2, p. 195-192., p. 190).

Com isso, ratificamos a ideia de que adotar a abordagem Geossociolinguística não significa que tenhamos de deixar em segundo plano as discussões diatópicas da tradição dialetológica, ao contrário, devemos torná-las tão importantes como as discussões das variáveis sociais para explicar os fenômenos linguísticos.

3. Metodologia

Os parâmetros metodológicos adotados para descrição e mapeamento do item lexical fanhoso nas capitais brasileiras são os mesmos encontrados na metodologia do Projeto ALiB. Neste sentido, esta pesquisa contemplou 25 capitais brasileiras: Macapá, Boa Vista, Manaus, Rio Branco, Porto Velho, Belém, São Luís, Teresina, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife, Maceió, Aracaju, Salvador, Cuiabá, Campo Grande, Goiás, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. Abaixo segue a Figura 02 com a rede de pontos do Projeto ALiB.

Figura 02
Rede de pontos do ALiB (Capitais)

Para cada localidade foram entrevistados oito informantes, considerando três variáveis sociais: sexo, faixa etária e escolaridade. Com isso, o perfil dos entrevistados foi organizado da seguinte forma: quatro homens e quatro mulheres, sendo um homem e uma mulher com faixa etária entre 18 a 30 anos, com ensino fundamental completo ou incompleto; um homem e uma mulher com o mesmo grau de escolaridade, mas com faixa etária entre 50 a 65 anos. A estes quatro primeiros informantes foram acrescentados mais quatro com a mesma faixa etária e sexo, no entanto, com nível de escolaridade superior (universitário). Para sintetizar essas informações segue o Quadro 02.

Quadro 02
Perfil dos informantes

O item lexical investigado, fanhoso, pertence ao campo semântico-lexical corpo humano do Questionário Semântico-Lexical do Projeto ALiB. Trata-se da questão de número 101 que busca saber as denominações para a pessoa que parece falar pelo nariz.

A organização dos dados foi feita, como propõe Razky e Sanches (2016Razky, A., & Sanches, R. D. (2016). Variação geossocial do item lexical riacho/córrego nas capitais brasileiras. Gragoatá, Niterói, n.40, p. 70-89., p. 77), da seguinte maneira: i) organização de todas as respostas esperadas e não esperadas em uma Planilha Excel, identificando a localidade e o perfil do informante; ii) quantificação dos dados em percentagem; iii) elaboração das cartas linguísticas; e, por fim, iv) análise geossocial dos resultados.

4. Apresentação dos resultados

A análise do item lexical fanhoso tem como base os postulados da abordagem geossociolinguística (Razky, 2010Razky, A. (2010). Pour une approche géo-sociolinguistique de la variation phonétique. Lenguaje (Universidad del Valle), v. 32, p. 313-330.) que busca relacionar os aspectos geográficos e sociais da variação linguística. Deste modo, apresentamos uma descrição geral das variantes lexicais para o item fanhoso encontradas nas capitais brasileiras e, posteriormente, a análise geossocial dos dados, apontando para a ocorrência da variação geográfica e social.

Diante da organização dos dados lexicais, constatamos nas capitais brasileiras o total de 15 respostas para o item fanhoso: fanhoso(a), fanho(a), fonhím, , fom-fom, fonhengo, anho, cõem, fanhanha, nhenhenhe, afônico, anasalado, pessoa que fala pelo nariz, nasal, carne no nariz e fala fungando. No entanto, verificamos que houve respostas mais frequentes e menos frequentes o que nos levou a separá-las em dois grupos, como mostra o Quadro 03.

Quadro 03
Designações para fanhoso

Como forma de dinamizar este estudo, a análise dos dados se restringirá às respostas mais frequentes (fanhoso(a), fanho(a), fonhém/fõem e fom-fom). As demais serão agrupadas na modalidade outras e analisadas em um momento oportuno.

4.1. Variação geográfica

Em relação à variação geográfica para o item fanhoso, registramos que nas capitais brasileiras a variante predominante foi fanhoso com 44% de frequência. Seguida de fanho(a) com 30%, fonhém/fõem com 10% e fom-fom com 7%. No caso de outras variantes, estas somam 7% de frequência. Já para as sem respostas foram registrados apenas 2%.

No que tange à ocorrência das variantes por região, a Tabela 01 aponta que na Região Norte fanhoso(a) obteve 47% de frequência, fanho(a) 32% e fom-fom 17%. No Nordeste, a variante fanhoso(a) ocorreu com 30%, fanho(a) com 31%, fonhém/fõem com 19% e fom-fom com 6%. Na Região Centro-Oeste registramos as variantes fanhoso(a) com 65%, fanho(a) com 23% e fonhém/fõem com 4% de frequência. No Sudeste tivemos apenas o registro de fanhoso(a) e fanho(a), a primeira com 44% e a segunda com 28%. Por último, na Região Sul, a variante fanhoso(a) ocorreu com 9%, fanho(a) com 79% e fonhém/fõem com 4%. Observa-se, ainda, a Figura 03, a seguir.

Figura 03
Mapeamento diatópico para fanhoso nas capitais brasileiras

Tabela 01
Variantes lexicais por região

A partir da Figura 03, temos a configuração de agrupamentos lexicais (Razky; Guedes, 2015Razky, A., & Guedes, R. (2015). Le continuum des regroupements lexicaux dans l’atlas géosociolinguistique du Pará. Revista Géoliguistique. n. 15-2015. Centre de Dialectologie. GIPSA-lab - Univ. Grenoble Alpes.). A figura confirma que existem itens lexicais que não demonstram relações isoléxicas, conceito que evoluiu junto com a Dialetologia monodimensional. A carta lexical acima, de abordagem geossociolinguística, apresenta uma realidade linguística complexa das localidades pesquisadas, pois mostra que precisamos superar o conceito de isoglossas e considerar a ideia de agrupamento lexical, uma vez que este último conceito parece acompanhar as mudanças linguísticas e é fruto de metodologias mais inclusivas.

O conceito de agrupamento lexical (Razky, 2013) permite mostrar que há um contínuo lexical não homogêneo, mas que reflete características históricas de isoglossas diacrônicas que entraram em contato com variantes que se espalharam de forma crescente, no nível horizontal (geográfico) e vertical (aspectos sociais). A Figura 04 mostra, por exemplo, um supra-agrupamento se lematizarmos por abstração as variantes fanhoso e fanho no lema fanhoso, ou seja, um agrupamento que caracteriza todo o território nacional. Dentro desse supra-agrupamento há três macroagrupamentos, representados pelas variantes fanhoso, fanho e fom-fom.

Figura 04
Agrupamentos lexicais

Os dados mostram também um macroagrupamento regional para a realização de fom-fom (um agrupamento lexical que caracteriza regiões interligadas), já que esta foi registrada em todo o Norte do Brasil e em parte da Região Nordeste (três localidades: São Luís, Fortaleza e Recife). Um terceiro agrupamento que ocorre na carta lexical abaixo é do tipo microagrupamento (um agrupamento mais restrito, geograficamente, que ocorre em uma região e pode aparecer de forma esporádica em outras localidades com frequências muito baixas), representado pela variante fonhém que se concentra em quatro capitais do Nordeste (João Pessoa, Maceió e Aracaju). Vale ressaltar que esta variante também ocorreu em localidades que não se encontram da Região Nordeste (como em Goiânia-GO e Florianópolis-SC), para este caso, denominaremos aqui de nanoagrupamentos lexicais, isto é, variantes lexicais que ocorrem com baixa frequência e esporadicamente em outras localidades que não correspondem a sua área lexical ou se distanciam do espaço geográfico em que sua ocorrência é predominante.

Diante desse mapeamento diatópico, concluímos que a variante fanhoso(a) se destacou nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste; já a variante fanho(a) predominou na Região Sul. No Nordeste presenciamos a coocorrência entre as variantes fanhoso(a) e fanho(a), além da predominância para a variante fonhém/fõem nas capitais dos estados de Alagoas e Sergipe. Esta variante também apareceu no Centro-Oeste e Sul do Brasil, porém, com baixa frequência. Outro ponto importante é a ocorrência da variante fom-fom no Norte, onde foi mencionada em todas as capitais da região. Ressalta-se que esta variante também foi registrada, com pouca frequência, em São Luís (MA), Fortaleza (CE) e Recife (PE).

4.2. Variação social

A variação social dos dados lexicais corresponde às variáveis faixa etária, sexo e escolaridade. Para a análise da variável faixa etária, todos os informantes entrevistados nas capitais brasileiras foram divididos em dois grupos, faixa etária I (18-30 anos) e faixa etária II (50-65 anos). O objetivo foi observar a influência desta variável em relação ao uso das variantes lexicais correspondentes ao item fanhoso.

O Gráfico 01 ilustra a frequência de uso das variantes lexicais para fanhoso e sua relação com os informantes da faixa etária I e II. Conforme o gráfico acima, constatamos que fanhoso (a) aparece com 35% de frequência na fala dos jovens e 45% na fala dos idosos; fanho(a) ocorre com 32% na fala dos informantes da faixa etária I e 29% na fala dos de faixa etária II; fonhém/fõem dispõe de 6% na fala dos jovens e 3% na dos idosos; fom-fom ocorre de forma equilibrada em ambas as faixas etárias, com 6% de frequência.

Gráfico 01
Variável faixa etária

De acordo com o Gráfico 02, observamos que a variante fanhoso ocorre com 44% de frequência na fala dos homens e 28% na fala das mulheres; fanho aparece com 26% na fala dos homens e 38% na fala das mulheres; fonhém/fõem ocorre com 6% na fala dos homens e 5% na fala das mulheres; e por último, fom-fom que aparece com 7% na fala dos homens e 6% na fala das mulheres.

Gráfico 02
Variável sexo

Para a análise da variável escolaridade, os informantes foram divididos conforme o grau de escolaridade: com ensino fundamental e com ensino superior.

No Gráfico 03, percebemos que fanhoso(a) obteve 45% de frequência na fala dos informantes com ensino fundamental e 33% na fala dos informantes com ensino superior; fanho(a) aparece com 21% na fala dos informantes com ensino fundamental e 44% na fala dos que possuem ensino superior; fonhém/fõem ocorre com 5% na fala dos informantes com ensino fundamental e 2% na fala dos informantes com ensino superior; e fom-fom obteve 8% na fala dos informantes com ensino fundamental e 5% na fala dos informantes com ensino superior.

Gráfico 03
Variável faixa escolaridade

Com base nos gráficos apresentados, podemos inferir que as variáveis sociais têm uma influência moderada na escolha de variantes lexicais para fanhoso na fala dos informantes das capitais brasileiras, sobretudo, para as variantes fanhoso(a) e fanho(a). A primeira apresentou uma tendência na fala dos informantes de faixa etária II, do sexo masculino e com ensino fundamental. A segunda se destacou na fala dos informantes de faixa etária I, do sexo feminino e com ensino superior. As demais variantes (fonhém/fõem e fom-fom) se mostraram estáveis não havendo tendência significativa em relação à idade, ao sexo e à escolaridade dos informantes.

5. Considerações finais

Com base na análise apresentada, constatamos que para designar uma pessoa que parece falar pelo nariz os informantes utilizam as seguintes variantes lexicais: fanhoso, fanho, fonhém/fõem e fom-fom, além de outras respostas menos recorrentes (fonhengo, anho, cõem, fanhanha, nhenhenhe, afônico, anasalado, pessoa que fala pelo nariz, nasal, carne no nariz e fala fungando).

Em relação à variação geográfica do item investigado, a variante lexical que predominou em boa parte das capitais brasileiras foi fanhoso(a), seguida de fanho(a). No caso da variante fanho(a), esta aparece marcada com maior frequência na fala dos sulistas, ou seja, apresentou uma maior concentração na Região Sul. Já fom-fom pode marcar a fala do Nortista, pois ocorre majoritariamente na Região Norte. E por último fonhém/fõem que se concentrou na região Nordeste, especificamente nos estados de Alagoas e Sergipe. É importante notar que o fato destas variantes lexicais se apresentarem com maior frequência em determinadas localidades do Brasil não significa que suas ocorrências sejam únicas, ao contrário, as variantes fanhoso(a), fanho(a), fom-fom e fonhém/fõem coocorrem entre si. Na abordagem geossociolinguística, isso ratifica e valida o conceito de agrupamentos lexicais (Razky, 2013), tornando obsoleto o conceito de isoglossas/isoléxicas, uma vez que os agrupamentos correspondem à complexidade variacional brasileira, no que diz respeito aos seus aspectos geográficos e sociais.

Sobre a variação social, os dados apontam que somente as variantes lexicais fanhoso(a) e fanho(a) tendem a ser usadas nas capitais brasileiras por informantes de faixa etária, sexo e escolaridade distintas, como a variante fanhoso(a) que aparece com maior frequência na fala dos informantes da faixa etária II, do sexo masculino e com ensino fundamental, já a variante fanho(a) destaca-se na fala dos informantes da faixa etária I, do sexo feminino e com ensino superior.

Concluímos que por meio da abordagem geossociolinguística foi possível mapear e analisar o item lexical fanhoso de modo a conhecer sua variabilidade léxica em relação ao espaço geográfico e social, contribuindo assim para os estudos geolinguísticos no Brasil e principalmente para o Projeto Atlas Linguístico do Brasil.

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  • 3
    Buscavam identificar marcas linguísticas que se aproximavam da norma-padrão usada na época.
  • 4
    Termo também empregado por Gregory Guy (2012).
  • 5
    As autoras consideram somente o sexo dos informantes, controlando, assim, a fala de homens e mulheres em diferentes áreas geográficas.
  • 6
    Coexistência de variantes linguísticas em uma mesma demarcação territorial.
  • 7
    Ressaltamos que a primeira vez em que o termo apareceu foi em 1997, na revista Asas da Palavra, da Universidade da Amazônia (UNAMA).
  • 8
    Coordenadores do grupo de pesquisa Geossociolinguística e Socioterminologia (GeoLinterm).

Apêndice

Tabela 02
Ocorrência das variantes lexicais para fanhoso por localidade

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    02 Jul 2019
  • Aceito
    27 Jan 2021
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