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Os sistemas textuais de focalização na organização funcional da gramática do Português Brasileiro

Systemic organization of Predication and Identification in the grammar of Brazilian Portuguese

Resumos

Com base nas descrições funcionalistas da focalização, este artigo toma as estruturas de clivagem e pseudoclivagem do português brasileiro (PB) como a manifestação de sistemas gramaticais, e objetiva descrever os sistemas textuais que realizam os significados de focalização. O estudo baseou-se numa amostra de textos extraídos do corpus CALIBRA, um corpus monolíngue do português brasileiro compilado com base numa tipologia da língua no contexto de cultura. Os textos foram analisados segundo a manifestação estrutural, as relações funcionais entre as opções sistêmicas, e o significado gerado pela organização gramatical. A análise revelou dois sistemas textuais independentes responsáveis pela gramaticalização, PREDICAÇÃO para elementos oracionais e IDENTIFICAÇÃO para a oração inteira. A PREDICAÇÃO organiza significados ideacionais, interpessoais e textuais, dando proeminência à distribuição da informação. A IDENTIFICAÇÃO se constitui como uma operação de nominalização e equação, que ocorrem em ordens gramaticais diferentes. Esses resultados apontam para uma descaracterização da pseudoclivagem como uma construção única de focalização.

Descrição Sistêmico-Funcional do Português Brasileiro; Metafunção textual; Predicação; Clivagem


This paper aims at systemic functional descriptions of the textual systems available in Brazilian Portuguese for grammaticalizing the meanings of focus in the clause. The study draws on a sample of texts retrieved from CALIBRA, a monolingual corpus of Brazilian Portuguese designed according to a context-based typology of texts. The texts were analyzed and annotated according to systemic functional categories. Results showed two independent systems responsible for grammaticalizing focus, PREDICATION for clause elements and IDENTIFICATION for whole clauses. PREDICATION organizes ideational, interpersonal and textual meanings distributing information as prominent or non-prominent. IDENTIFICATION is the result of a complex operation, involving choices at clause and group/word ranks, namely equation and nominalization. These findings point to a multi-system grammaticalization of identification focus.

Systemic functional description of Brazilian Portuguese; Textual Metafunction; Predication; Cleft Sentences


1. Introdução

Nas abordagens teóricas do modelo funcionalista, as descrições gramaticais revelam recursos textuais específicos que respondem pela criação dos significados de focalização - tais como definição, contraste, identidade, atribuição, particularização, tópico e ângulo discursivo (Halliday 1967/68HALLIDAY, M.A.K. 1967/68. Notes on Transitivity and Theme in English, parts 1, 2 and 3, Journal of Linguistics, v. 3, n. 1, p. 37-81; v. 3, n. 2, p. 199-244; v. 4, n. 2, p. 179-215.; Chafe 1976CHAFE, W. 1976. Givenness, contrastiveness, definiteness, subjects, topics and point of view. In: LI, C. (Ed.) Subject and topics. New York: Academic Press.; Braga 2009______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196.; Huang e Fawcett 2002HUANG, G. W.; Fawcett, R.P. 2002. A functional approach to two "focusing" constructions in English and Chinese. In: Huang, G. W.; Wang, Z. Y. (Ed.) Discourse and language function. Beijing: Foreign Language Teaching and Research Press.; Caffarel et al. 2004CAFFAREL, A.; Martin, J.; Matthiessen, C. (Ed.). 2004. Language typology: a functional perspective. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company.). Dentre esses recursos, ganham destaque nas descrições do português brasileiro (PB) as estruturas de clivagem e pseudoclivagem, identificadas nas construções 'QU-...SER'; 'SER...QUE', 'QUE', 'É QUE' e 'FOCO SER', apresentadas detalhadamente em Braga (1991BRAGA, M. L. 1991. As Sentenças Clivadas no Português Falado no Rio de Janeiro. Organon, v. 5, n. 5, p. 109-125.; 2009, entre outros)______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196. e consolidadas por outras pesquisas, como Longhin e Ilari (2000)LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213..

Braga (2009)______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196. identifica propriedades, tais como a concordância e a correlação modo-temporal, que dão base a uma interpretação pela gramaticalização da locução focalizadora É QUE (ou somente QUE) nas clivadas e É nas pseudoclivadas em detrimento do caráter bi-oracional - fato que, para a proposta deste artigo, aponta para uma organização gramatical da focalização em PB.

Do ponto de vista do significado, Braga (2009)______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196.observa que o constituinte focalizado pode apresentar informação [+ativada] ou [-ativada], dependendo da sequência discursiva, introdução de referentes ou do destaque dados aos constituintes. A autora acrescenta que os dados por ela analisados não corroboram a hipótese da correspondência unívoca entre as diferentes formas de clivagem e suas funções, favorecendo "uma abordagem sensível ao caráter não discreto das categorias linguísticas" (Braga 2009:192______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196.). Como ponto de partida para a investigação deste artigo, tais fatos sugerem uma relação complexa entre os estratos da forma do conteúdo (a gramática) e da substância do conteúdo (a semântica).

Longhin e Ilari (2000)LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213., por sua vez, investigam em que medida a descrição dos sistemas textuais de TEMA, IDENTIFICAÇÃO e INFOR-MAÇÃO1 1 Seguindo a notação sistêmica, os nomes de sistemas são grafados em maiúsculas; de funções gramaticais com a primeira letra maiúscula; e de funções semânticas em minúsculas (ex: PREDICAÇÃO, Tema, mensagem). propostos para a língua inglesa por Halliday (1967/68, entre outros)HALLIDAY, M.A.K. 1967/68. Notes on Transitivity and Theme in English, parts 1, 2 and 3, Journal of Linguistics, v. 3, n. 1, p. 37-81; v. 3, n. 2, p. 199-244; v. 4, n. 2, p. 179-215. pode ser aplicada ao PB. Tendo como objetivo dispor heuristicamente as clivadas do português, esses autores mostram propriedades das construções de identificação que permitem explorar os recursos de produção de significado dessa língua. Em seguida, apontam a menor restrição do português para o emprego dos recursos relativamente ao inglês, e reconhecem que sua "riqueza é impressionante" (Longhin e Ilari 2000:205LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213.) - fato que, para a proposta deste artigo, motiva a investigação de um sistema independente para a distribuição da informação.

Quanto à relação forma-função, Longhin e Ilari (2000)LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213. destacam que parte dos recursos focaliza elementos iniciais da oração, ou informação inferível, ao passo que outros codificam informação nova - o que, para este artigo, aponta uma relação de complementariedade, e não de constituição, entre os recursos das construções de clivagem e os outros sistemas textuais.

Na linha das reflexões de Braga (2009)______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196. sobre a descrição das construções de focalização, e Longhin e Ilari (2000)LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213. sobre a visão hallidayana da focalização aplicada ao PB, este artigo adota o olhar sistêmico das abordagens teóricas do modelo funcionalista - sob o qual se investigam as funções linguísticas a partir da organização interna da língua (Halliday 2002______. 2002. On grammar. London: Continuum, (The collected works of M. A. K. Halliday, v. 1).) -com vistas a complementar as descrições funcionalistas, oferecendo um modelo sistêmico de descrição da focalização. Formulando questões de pesquisa acerca da natureza da focalização em relação à sua descrição funcionalista, no que diz respeito a (i) uma organização gramatical da focalização em PB, (ii) um sistema gramatical independente para a distribuição da informação, (iii) a relação de complementariedade, e não de constituição, entre os recursos das construções de clivagem e os outros sistemas textuais, e (iv) a relação complexa entre a gramática e a semântica, o artigo tem como objetivo descrever, segundo o arcabouço teórico sistêmico-funcional (Halliday 1985______. 1985. Dimensions of Discourse Analysis: Grammar. In: van Dijk, T. A. (Ed.) Handbook of Discourse Analysis Vol. 2: Dimensions of Discourse. London: Academic Press.), os sistemas gramaticais textuais que realizamos significados de focalização - aqui denominados PREDICAÇÃO e IDENTIFICAÇÃO - apontando o trabalho realizado por estes na organização gramatical do PB.

A teoria sistêmico-funcional (Halliday 1967/68HALLIDAY, M.A.K. 1967/68. Notes on Transitivity and Theme in English, parts 1, 2 and 3, Journal of Linguistics, v. 3, n. 1, p. 37-81; v. 3, n. 2, p. 199-244; v. 4, n. 2, p. 179-215.) concebe os significados como construídos na organização da gramática, incluindo aqueles relativos à focalização, pela oposição sistêmica entre as diferentes opções (Matthiessen e Halliday 2009MATTHIESSEN, C; Halliday, M. A. K. 2009. Systemic functional grammar: a first step into the theory. Beijing: Higher Education Press.). Assim, o trabalho de descrição gramatical está direcionado para a organização interna do sistema linguístico. Nessa perspectiva, este artigo apresenta a disposição sistêmica da organização textual do PB relativa às construções de focalização, buscando revelar o trabalho de produção de significado do seu conjunto de funções e suas relações com outros sistemas da gramática textual da oração. De forma complementar, procura ainda explicar a distinção entre as funções em um nível maior de delicadeza (i.e., detalhamento e especificidade, cf. Halliday, 1961), contemplando as diferentes manifestações de clivagem e pseudoclivagem para além da dicotomia forma-função.

2. Realização gramatical dos significados de focalização

2.1. A problematização dos conceitos de 'clivagem' e 'pseudoclivagem' do ponto de vista sistêmico-funcional

Do ponto de vista sistêmico-funcional, o conceito de 'função' depende de: (a) o entendimento da língua como conjunto de recursos de produção de significado; e (b) a organização interna da língua (Halliday 2008______. 2008. Complementarities in language. Beijing: The Commercial Press.). Dessa maneira, a língua é modelada internamente como um conjunto de sistemas - redes de relações dos recursos em contraste - uma vez que são as relações entre os recursos que determinam as funções (Gleason 1965GLEASON, H. 1965. Linguistics and English grammar. New York: Holt, Rinehart & Winston.). Cabe à descrição gramatical explicar essas relações, dispondo os recursos em redes para os diferentes sistemas, nas quais o valor (valeur) de uma função se dá tanto por oposição às outras funções (pelo valor esta se torna uma opção na rede do sistema), quanto pelo lugar (± delicado) que ocupa na rede (Martin 1992MARTIN, J. R. 1992. English text: system and structure. Philadelphia and Amsterdam: John Benjamins Publishing Company.).

A organização das funções a partir da constituição da gramática (língua como conjunto de recursos) motiva a descrição a conferir maior peso às escolhas, no eixo paradigmático. Com isso, cabe ao trabalho da estrutura (sintagma) na descrição gramatical sistêmico-funcional explicar a maneira pela qual se realizam as funções (Matthiessen e Halliday 2009MATTHIESSEN, C; Halliday, M. A. K. 2009. Systemic functional grammar: a first step into the theory. Beijing: Higher Education Press.). Em outras palavras, é mediante a realização que uma função do sistema linguístico (tomada abstratamente) é "materializada" na estrutura do texto (tomada concretamente).

Assim, a relação entre os estratos linguísticos do conteúdo (a semântica) e da forma (a gramática) é apenas a abstração para que o conjunto dos significados da língua seja realizado (i.e., materializado, produzido) por um conjunto de relações formais entre as funções, ou sistemas. Dessa forma, a observação dos dados mostra, por exemplo, que os significados de focalização são realizados pelo sistema de PREDICAÇÃO (ver Figura 1).

Figura 1
Relação entre abstração e dados no sistema linguístico com referência à focalização.

Igualmente, a relação entre os recursos potenciais de um sistema gramatical é a abstração para os recursos que, de fato, são realizados. Por exemplo, de acordo com Longhin e Ilari (2000)LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213., o sistema gramatical que realiza os significados de focalização (aqui denominado PREDICAÇÃO), possui as opções Informação Inferível e Informação Nova. Essas opções, por sua vez, são realizadas por meio das estruturas SER... QUE, É QUE e QUE para a Informação Inferível e FOCO SER para a Informação Nova (ver Figura 2).

Figura 2
Relação entre abstração e dados no estrato gramatical do sistema linguístico com referência à PREDICAÇÃO.

A descrição do sistema (paradigma), assim, deve apresentar (1) as funções gramaticais, explorando os recursos que produzem os significados da língua, (2) a maneira pela qual as funções se organizam enquanto opções - relações de oposição sistêmica - e (3) a sua realização (realization statements) na estrutura. A realização estrutural é classificada conforme as configurações (Halliday 2002______. 2002. On grammar. London: Continuum, (The collected works of M. A. K. Halliday, v. 1).) (i) atomística: cada elemento da estrutura realiza uma função; (ii) prosódica: mais de um elemento na estrutura realizam uma função; (iii) periódica: a realização de uma função depende da realização de outras funções que a constituem, de forma cumulativa; (iv) criptotípica: não há uma estrutura aparente (overt) que realiza a função, mas um conjunto de reactâncias (Whorf 1987WHORF, B. L. 1987. Language, thought, and reality. Cambridge: MIT.) que, somadas, a realizam (ver Quadros 1-4).

Quadro 1
Realização atomística
Quadro 2
Realização prosódica
Quadro 3
Realização periódica2 2 "Esse aqui" é informação nova porque é realizado por um grupo tonal próprio (movimento tônico 3). Dado e Novo (cf. Halliday e Greaves, 2008) são funções do sistema de informação, que é fonológico.
Quadro 4
Realização criptotípica

Partindo da organização paradigmática, o exame da estrutura é compreendido, neste artigo, como sua realização. As construções QU-...SER, SER...QUE, QUE, É Q UE e FOCO SER são, consequentemente, a forma como os significados de focalização (na gramática, as funções de predicação e identificação) se realizam - a saber, QU-... SER → periódica; SER...QUE → prosódica; QUE, É QUE e FOCO SER → atomística. Assim, 'clivagem' e 'pseudoclivagem' não são a denominação para as funções gramaticais que realizam os significados de focalização, mas para a manifestação das funções gramaticais (predicação e identificação) na estrutura.

Por conseguinte, a descrição sistêmica de pseudoclivadas (QU-...SER, FOCO SER) e clivadas (SER...QUE, QUE, É QUE) traz a organização paradigmática para o primeiro plano e se orienta, fundamentalmente, pela pergunta: qual é o sistema gramatical que dispõe as funções que realizam os significados de focalização e que, por sua vez, se veem realizadas nas estruturas QU-...SER, SER...QUE, QUE, É QUE e FOCO SER?

A resposta para esta questão parte de estudos anteriores sobre a gramaticalização dos significados de focalização (Halliday 1967/68HALLIDAY, M.A.K. 1967/68. Notes on Transitivity and Theme in English, parts 1, 2 and 3, Journal of Linguistics, v. 3, n. 1, p. 37-81; v. 3, n. 2, p. 199-244; v. 4, n. 2, p. 179-215.; 1985______. 1985. Dimensions of Discourse Analysis: Grammar. In: van Dijk, T. A. (Ed.) Handbook of Discourse Analysis Vol. 2: Dimensions of Discourse. London: Academic Press.; Caffarel et al. 2004CAFFAREL, A.; Martin, J.; Matthiessen, C. (Ed.). 2004. Language typology: a functional perspective. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company.; onghin e Ilari 2000LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213.), que apontam a região textual da gramática como o locus de produção desses significados. Por esse motivo, esta descrição gramatical, cujo objeto são as funções que realizam a focalização, toma o conhecimento sobre os sistemas gramaticais textuais como base.

2.2. Os sistemas gramaticais textuais da oração

No modelo sistêmico-funcional, a produção de significado se subordina à necessidade humana de organizar o mundo natural e o mundo social (Halliday 1978). Cabe à língua metaorganizar a representação do mundo natural e a interação do mundo social como realidade semiótica. As funções do sistema são fruto desta metaorganização, constituindo-se como metafunções.

A metafunção responsável por representar a experiência do mundo natural (ideacional) possui como sistemas gramaticais principais a AGÊNCIA e a TRANSITIVIDADE (NUCLEAR e CIRCUNSTANCIAL) na ordem da oração. A metafunção responsável por encenar a interação (interpessoal) tem como sistemas principais da gramática o MODO e a MODALIDADE (Halliday e Matthiessen 2004). A metafunção responsável por ha bilitar a realidade semiótica (textual) organiza as outras metafunções, contextualizando o texto na situação. Dessa forma, a diferença entre um conjunto de orações descontextualizadas e o texto está na "unificação semântica" entre as orações, feita pela gramática textual, na operação denominada 'tessitura' (Halliday e Hasan 1976HALLIDAY, M. A. K.; Hasan, R. 1976. Cohesion in English. London: Arnold.).

Os sistemas gramaticais responsáveis pela tessitura distribuem as funções no fluxo discursivo. Estes confluem com um sistema fonológico, a INFORMAÇÃO, que apresenta a informação, conferindo a um elemento (a confluência entre função gramatical e unidade fonológica) a proeminência ou a não-proeminência.

A INFORMAÇÃO é um sistema prosódico-entonacional que responde pela apresentação da informação (Halliday e Greaves 2008HALLIDAY, M.A.K.; Greaves, W. 2008. Intonation In The Grammar Of English. London: Equinox.; Cagliari 1981CAGLIARI, L. C. 1981. Elementos de fonética do português brasileiro. Tese (Livre Docência em Linguística) - Departamento de Linguística, Instituto de estudos Linguísticos, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.), dividindo-a entre informação que dá continuidade ao fluxo discursivo (realizada pela função de Dado) e não recebe proeminência fonológica; e informação que promove a descontinuidade no fluxo (realizada pela função de Novo) e recebe proeminência fonológica.3 3 Sistemicamente, Dado e Novo não se referem a "informação que já apareceu no texto" e "informação que aparece pela primeira vez". Diferentemente, estas funções são orientadas para o ouvinte e podem ser parafraseadas como: "ouvinte, esta informação é parte do fluxo discursivo; não precisa se preocupar" (Dado) e "ouvinte, esta informação modifica o fluxo discursivo, portanto, preste atenção!" (Novo).

O TEMA tem suas funções definidas de duas maneiras complementares. (i)Do ponto de vista da oração, o TEMA é "o recurso empregado para se manipular a contextualização da oração"4 4 Nossa tradução para: "The resource for manipulating the contextualization of the clause". (Matthiessen 1995:531MATTHIESSEN, C. 1995. Lexicogrammatical cartography:English systems. Tokyo: International Language Science Publishers.). (ii) Do ponto de vista do discurso, o TEMA seleciona uma função ideacional e outra interpessoal e promove sua confluência para que operem como ponto de partida para a interpretação da oração, colocando-a como parte do fluxo discursivo, consoante com o tipo de texto.

O sistema de PREDICAÇÃO, diferentemente da INFORMAÇÃO e do TEMA, não está presente em todas as línguas (Rose 2001ROSE, D. 2001. Some variations in Theme across languages. Functions of Language, v. 8, n. 1, p. 109-145.; Caffarel et al. 2004CAFFAREL, A.; Martin, J.; Matthiessen, C. (Ed.). 2004. Language typology: a functional perspective. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company.). Em línguas que o possuem, como francês e inglês, este é uma opção do TEMA (Tema Predicado) e opera colocando o Novo na posição temática como opção não-marcada (Caffarel 2006CAFFAREL, A. 2006. A Systemic Functional Grammar of French: from Grammar to Discourse. London & New York: Continuum.; Matthiessen 1995MATTHIESSEN, C. 1995. Lexicogrammatical cartography:English systems. Tokyo: International Language Science Publishers.). Igualmente, a IDENTIFICAÇÃO é uma opção do TEMA (Tema Equativo), e opera nominalizando os Participantes das orações relacionais identificativas de forma a dar destaque para a demarcação gramatical do Dado e Novo (Halliday 1976______. 1976. Theme and information in the English clause. In: Kress, G. (Ed.). Halliday: system and function in language. London: Oxford University Press.; Longhin e Ilari 2000LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213.).

Como foi apontado anteriormente, este artigo objetiva descrever o trabalho dos sistemas textuais que realizam na gramática os significados de focalização. Tendo como base pesquisas anteriores, é possível depreender uma generalização da realização dos significados de focalização (Braga 2009______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196.) - nem sempre havendo uma correlação direta entre as funções gramaticais e as estruturas que as realizam. É possível, igualmente, observar uma relativa independência do emprego da focalização em relação a TEMA e INFORMAÇÃO (Braga 2009______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196.; Longhin e Ilari 2000LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213.). Esses fatos possibilitam levantar a hipótese acerca de um outro tipo de distribuição da informação, a partir de sistemas independentes do TEMA no PB, aqui denominados PREDICAÇÃO e IDENTIFICAÇÃO.

Com isto, para dispor sistemicamente a organização textual do PB relativa às construções de focalização, esta descrição parte da hipótese da complementariedade entre TEMA, INFORMAÇÃO, PREDICAÇÃO e IDENTIFICAÇÃO, investigada a partir da Metodologia descrita a seguir.

3. Metodologia

Para contemplar tanto a relação entre os significados de focalização e as funções gramaticais que os produzem (a semântica realizada pela gramática), bem como as funções gramaticais e sua realização (as funções dos sistemas de PREDICAÇÃO e IDENTIFICAÇÃO realizadas pelas estruturas), esta pesquisa pautou-se por uma perspectiva de descrição acorde à complexidade, orientada por "uma abordagem sensível ao caráter não discreto das categorias linguísticas" (Braga 2009:192______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196.), para lidar com fenômenos cuja "riqueza é impressionante" (Longhin e Ilari 2000:205LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213.). Buscou-se, para tanto, respaldo metodológico na teoria de descrição sistêmico-funcional (Halliday 1996), a qual propõe adotar diferentes pontos de vista analítico-descritivos - a visão trinocular (Halliday 2002:408______. 2002. On grammar. London: Continuum, (The collected works of M. A. K. Halliday, v. 1).). Esta permite triangular a análise dos fenômenos, investigando-os: (I) "de baixo" (da manifestação para a organização gramatical), observando como são realizados pelos elementos constituintes da estrutura; (II) "ao redor" (nas relações funcionais), descrevendo as opções sistêmicas (oposição, delicadeza e valeur); (III) "de cima" (do significado para a organização gramatical), desde a semântica, examinando os significados produzidos pelas funções gramaticais no desenvolvimento do texto (ver Figura 3).

Figura 3
Visão trinocular de descrição.

Com isto, a pergunta de pesquisa proposta na seção anterior, "qual é o sistema gramatical que dispõe as funções que realizam os significados de focalização e que, por sua vez, se veem realizadas nas estruturas QU-...SER, SER...QUE, QUE, É QUE e FOCO SER?", pôde ser desdobrada em:

1) DE BAIXO: quais os diferentes tipos de realização para as funções de PREDICAÇÃO e IDENTIFICAÇÃO? Em quais estruturas se manifestam? As diferenças estruturais implicam em funções diferentes?

2) AO REDOR: como as funções dos sistemas de PREDICAÇÃO e IDENTIFICAÇÃO se relacionam na rede dos sistemas? Quais as diferenças que lhes dão o seu valor? Qual a relação entre estes sistemas e os outros sistemas textuais?

3) DE CIMA: em que momento do desenvolvimento do fluxo discursivo se emprega a focalização? Existem restrições no emprego por tipo de texto? Como esta contribui para o significado do texto?

Cumpre observar que, por razões do escopo deste artigo, serão apresentados os resultados relativos às visões "de baixo" e "ao redor". A "visão de cima", apesar de ter sido fundamental para os resultados alcançados na pesquisa, será apresentada futuramente em publicação complementar.

3.1. Compilação do corpus

A amostra de textos analisada nesta pesquisa foi extraída do corpusCALIBRA (Catálogo da Língua Brasileira), que atualmente conta com cerca de 1 milhão de palavras (tokens), compilados com base na tipologia do contexto de cultura (Halliday 1978). Essa tipologia é definida segundo cinco variáveis, as quais refletem a organização do modelo metafuncional da língua (ver Quadro 5). São elas:

Quadro 5
Língua no contexto de cultura com exemplos de tipos de texto

Especialização, segundo a qual leva-se em conta o fato de o texto ser produzido ou não pelo conhecimento técnico de uma determinada área (especializado/não-especializado);

Papel da língua na situação, segundo o qual o texto é visto como fundamental para a situação sócio-cultural, ou apenas como facilitador da ocorrência da situação (constitutivo/auxiliar)

Modo de produção, em que se observa a forma pela qual o texto foi originalmente produzido pelo falante (escrito/falado);

Modo de interação: em que, apesar de todo texto ser, a rigor, diálogo, considera-se o tipo de relação estabelecida textualmente entre os interlocutores, pressupondo a resposta ou não do ouvinte (monólogo/ diálogo);

Processo sócio-semiótico, que leva em consideração a forma pela qual os textos estão dispersos no contexto de cultura, dividindo-se, conforme os processos sócio-semióticos, em textos para explorar, explicar, relatar, recriar, compartilhar, fazer, recomendar ou habilitar (Matthiessen et al. 2008:190-198MATTHIESSEN, C.; Teruya, K.; Wu, C. 2008. Multilingual studies as a multidimensional space of interconnected language studies . In: Webster, J. (Ed.). Meaning in Context: implementing intelligent applications of language studies. London and New York: Continuum.).

Nesta pesquisa, foram utilizados 30% do CALIBRA (320.134 tokens e 29.642 sentenças5 5 O termo sentença é aqui empregado para os segmentos que vão até o ponto final, de interrogação exclamação, ou ponto e vírgula. Com isto, uma sentença pode expressar graficamente tanto a oração quanto o complexo oracional. Apesar de não representar exatamente o número de orações, o critério de adoção da sentença foi uma decisão metodológica tomada pela sua exequibilidade de forma automática. , com razão de 10,8) da seguinte forma: aproximadamente 40 mil tokens para cada processo sócio-semiótico, divididos entre os modos de produção e interação, com total aproximado de 10 mil tokens para cada subgrupo de textos (ver Tabela 1). Essa escolha teve como motivação a obtenção de uma maior variabilidade para o uso da língua e, consequentemente, do comportamento da funções gramaticais (Biber 1990BIBER, D. 1990. Methodological Issues Regarding Corpus-Based Analysis of Linguistic Variation. Literary and Linguistic Computing, v. 5, n. 4, p. 257-269.).

Tabela 1
A constituição do corpus de pesquisa (número de tokens e de textos)

3.2. Etiquetamento e extração dos dados

Após a compilação, o corpus foi, dentro da visão trinocular, analisado levando-se em consideração as funções componentes dos sistemas de PREDICAÇÃO e IDENTIFICAÇÃO, na forma como foram apontadas por pesquisas anteriores (Halliday 1967/68HALLIDAY, M.A.K. 1967/68. Notes on Transitivity and Theme in English, parts 1, 2 and 3, Journal of Linguistics, v. 3, n. 1, p. 37-81; v. 3, n. 2, p. 199-244; v. 4, n. 2, p. 179-215.; Halliday 1976______. 1976. Theme and information in the English clause. In: Kress, G. (Ed.). Halliday: system and function in language. London: Oxford University Press.; Matthiessen, 1995MATTHIESSEN, C. 1995. Lexicogrammatical cartography:English systems. Tokyo: International Language Science Publishers.; Braga, 1991BRAGA, M. L. 1991. As Sentenças Clivadas no Português Falado no Rio de Janeiro. Organon, v. 5, n. 5, p. 109-125.; Longhin e Ilari, 2000LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213.) tanto para a sua identificação - pela realização estrutural - quanto para a sua função habilitadora das funções ideacionais e interpessoais.

Para tanto, cumpriram-se as seguintes etapas: 1) busca automática das realizações estruturais das funções gramaticais de interesse da pesquisa; 2) análise semiautomática das linhas de concordância resultantes da busca automática para as configurações gramaticais; 3) análise trinocular.

A primeira etapa teve início com uma busca automática pelas estruturas QU-...SER; SER... QUE, QUE, É QUE e FOCO SER, uma vez que realizam as funções gramaticais. Isso foi feito com o auxílio da ferramenta Concord do software WordSmith Tools (Scott 2007SCOTT, M. 2007. WordSmith Tools. Oxford: Oxford University Press.). Foi, então, elaborada uma lista de buscas do Concord que contemplasse todas as construções dos significados de focalização, mas, complementarmente, de outras construções possíveis de realizá-los gramaticalmente. Mediante a busca pelas linhas de concordância entre a lista de buscas e suas respectivas ocorrências no corpus da pesquisa, obteve-se uma primeira lista com linhas de concordância relacionadas e não-relacionadas.

Na leitura das linhas, foram eliminadas aquelas não-relacionadas - isto é, as ocorrências das construções nos ambientes que não possuem a forma e/ou significado de focalização; ou que, apesar de possuírem a estrutura de realização das funções de focalização, não se caracterizam como tal, como, por exemplo, "ele ajudou a gente a subir aquele barranco , ah mas foi terrível essa noite" e "a mãe do menino é essa que é separada do rapaz".

Restaram, ao final, 697 segmentos, os quais se tornaram o corpusefetivo de análise e descrição desta pesquisa. Esses segmentos foram então anotados de forma semiautomática com o auxílio do software UAMTools (O'Donnell 2008O'DONNELL, M. 2008. The UAM CorpusTool: software for corpus annotation and exploration. In: Bretones Callejas, C. M. (Ed.) Applied Linguistics Now: understanding language and mind / la linguística aplicada hoy: comprendiendo el lenguaje y la mente. Almería: Universidad de Almería.), com o objetivo de buscar padrões que revelassem (a) a distinção entre as diferentes configurações e (b) a caracterização de cada função específica. Os dados foram extraídos como segmentos anotados e analisados segundo a visão trinocular.

4. A gramaticalização da focalização em PB

4.1. Realizações na estrutura da oração

Pelo olhar "de baixo", os resultados revelaram a distribuição das ocorrências das realizações estruturais das funções dos sistemas de PREDICAÇÃO e IDENTIFICAÇÃO (ver Tabela 2).

Tabela 2
Ocorrências da gramaticalização da focalização no corpus

A Tabela 2 mostra uma maior frequência dos significados de PREDICAÇÃO relativamente à IDENTIFICAÇÃO, o que sugere seu emprego em mais situações. Com relação à frequência relativa para a língua, das 29.642 sentenças do corpus, 2,34% gramaticalizam a focalização - em média, uma ocorrência de focalização gramaticalizada a cada 42 sentenças, das quais a PREDICAÇÃO ocorre a cada 61 sentenças e a IDENTIFICAÇÃO a cada 141 sentenças.

Quanto à distribuição das diferentes formas de realização, das 487 ocorrências de funções do sistema de PREDICAÇÃO, 367 apresentaram as construções de gramaticalização relativas às construções SER...QUE, QUE, e É QUE, identificadas nas pesquisas anteriores (em particular, Braga, 2009______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196.), como por exemplo6 6 Os exemplos apresentados neste artigo foram retirados do corpus da pesquisa. :

  • (1) Isso foi a mãe da Ana que me contou.

  • (2) Demora para imaginar quando é que vai acontecer.

  • (3) Aí as meninas que foram lá ver.

Os dados da análise favorecem uma interpretação da construção FOCO SER como a realização de uma função do sistema de PREDICAÇÃO, e não como uma variante de oração identificativa. Isto se deve ao comportamento gramatical próximo às outras funções daquele sistema, num conjunto de reactâncias, aqui apresentadas com os números de 1 a 4.

1) Assim como 'é que' e 'que', o 'ser' presente na construção FOCO SER tende a ser gramaticalizando, em geral nas formas 'foi' e 'era' para o tempo passado e 'é' para as outras ocorrências. Essa interpretação corrobora os dados encontrados na pesquisa de Braga (2009)______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196., que afirma:

  • "Nas Construções Foco Ser, por sua vez, o item focalizador também exibe comportamento variável no que diz respeito à correlação modo-temporal (...); a falta de correlação, (...) é sugestiva do maior grau de gramaticalização da construção e coloca em pauta o próprio caráter bi-oracional da construção como um todo" (Braga 2009:182______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196.).

A partir da interpretação sistêmico-funcional para este tipo de gramaticalização, é possível então sugerir que as variações de 'ser' presentes na construção FOCO SER, não são flexões do verbo "ser", mas pertencem, na verdade, à classe de palavras das partículas; especificamente à classe secundária das partículas textuais (cf. Kwok 1984KWOK, H. 1984. Sentence Particles in Cantonese. Hong Kong: Centre of Asian Studies, University of Hong Kong.; Martin 2004______. 2004. Metafunctional profile: Tagalog. In: Caffarel, A.; Martin, J. R.; Matthiessen, C. (Eds.). Language typology: a functional perspective. Amsterdam: Benjamins (Current Issues in Linguistic Theory).; Matthiessen 2004______. 2004. Descriptive motifis and generalizations. In: Caffarel, A.; Martin, J.; Matthiessen, C. (Ed.). Language typology: a functional perspective. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company.).

2) Interpretado como partícula textual, o 'ser' da construção FOCO SER está presente apenas nas orações que selecionam função do sistema de PREDICAÇÃO. Quando este não é o caso, a partícula não ocorre, o que pode ser visto nos exemplos comparativos7 7 Os exercícios comparativos, assim como os testes de reactância e as variações das formas agnatas - i.e., as duas opções que formam o par mínimo (minimal pair) para um determinado sistema (Gleason, 1965) -, demandaram a reelaboração de orações com o propósito de revelar a constituição criptotípica das funções aqui analisadas. no Quadro 6.

Quadro 6
Comparação entre orações +PREDICAÇÃO e -PREDICAÇÃO

Este comportamento separa estas orações daquelas que selecionam uma função do sistema de IDENTIFICAÇÃO, nas quais o 'ser' deve estar presente, uma vez que a realização das opções +IDENTIFICAÇÃO e -IDENTIFICAÇÃO dependem da nominalização8 8 A nominalização é o processo gramatical através do qual uma unidade gramatical é metaforicamente representada por um grupo nominal, sendo capaz de realizar todas as funções que o grupo nominal realiza. Assim, uma oração, quando nominalizada, pode por exemplo se tornar o Sujeito ou o Tema de uma outra oração. do constituinte focalizado 'QU-' e da relação de identidade entre os constituintes (Longhin e Ilari 2000LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213.), realizado pelo verbo 'ser', como mostra o Quadro 7.

Quadro 7
Comparação entre orações +IDENTIFICAÇÃO e -IDENTIFICAÇÃO

3) Pelo fato de não construir uma relação de identidade, as orações de predicação do tipo FOCO SER não relacionam Identificado e Identificador. Do ponto de vista da transitividade, as orações identificativas são relacionais, com realização atomística (e não estrutural), o que justifica a liberdade na disposição dos termos:

(4) Quem mais apanhoufui eu.
  Fui eu quem mais apanhou .
  Eu fui quem mais apanhou.

Este não é o caso da predicação do tipo FOCO SER, que, por ter outra realização, não pode ser invertida apenas. Para que a inversão funcione, a realização deve ser uma outra alternativa do sistema de PREDICAÇÃO, nas formas 'SER...QUE', 'É QUE', ou 'QUE'.

(5) O negócio vai é pra dentro da água!
  * É pra dentro da água o negócio vai!
  * Pra dentro da água é o negócio vai!
  Épra dentro da águaque o negócio vai!
  Pra dentro da águaé que o negócio vai!

4) Finalmente, sendo o item 'ser' das predicações uma partícula textual, e não um verbo, não realiza Processo. Assim, diferentemente das orações identificativas, as quais sempre possuem a configuração transitiva Relacional: Identificação, pode ocorrer com qualquer tipo de oração:

(6) Eu pus foi papel manteiga.
  Ator Material [Partícula textual] Meta
(7) Nós vimos foi o filme daquele artista fortão de cabelo preto?
  Experienciador Mental [Partícula textual] Fenômeno
(8) Aqueles de lá falam é pra qualquer um.
  Dizente Verbal [Partícula textual] Receptor
(9) Essa menina não está é errada não.
  Portador --- Relacional: Atribuição [Partícula textual] Atributo ---
10) Eu sou é o professor de Educação Física.
  Identificado Relacional: Identificação [Partícula textual] Identificador
(11) Ainda não tem é comércio bom nesse bairro daqui.
  --- --- Existencial [Partícula textual] Existente Circ.: Localização

Somando-se a estas, foi encontrado outro tipo de oração que gramaticaliza a focalização, apresentando como realização o verbo 'ser' junto ao elemento focalizado e, no constituinte não-focalizado, uma oração não-finita, ou uma nominalização tendo no Ente do grupo nominal uma Abstração: Material ou Abstração: Semiótica. Por exemplo:

  • (12) É... mas é melhor eu dar carta pra ela.9 9 "Melhor" é item único na estrutura, e mesmo não sendo o Ente (ou o conteúdo semântico do grupo nominal), é, necessariamente, o Núcleo (ou o elemento principal na organização lógica; o elemento ao qual os outros elementos da estrutura estão subordinados).

  • (13) Então é uma burrice dizer que só porque o candidato está no mesmo distrito que você, você vai conhecê-lo melhor.

  • (14) Para isso, seria preciso um choque mais forte do que o que vimos até agora.

Nestes casos, entretanto, observa-se que a focalização recai sobre um constituinte não-representacional, mas sim sobre uma avaliação do falante, realizada por um grupo nominal cujo Núcleo conflui com um Epíteto Interpessoal (melhor, preciso, importante, fundamental, óbvio, etc.) ou uma nominalização (Ente: Abstração: Material/Semiótica) de orientação interpessoal (interpersonally charged) (burrice, sorte, pena, prazer, etc.). A distribuição das formas de gramaticalização das funções de predicação pode ser vista na tabela 3, apresentada a seguir:

Tabela 3
Distribuição das realizações de PREDICAÇÃO

No que tange às funções do sistema de IDENTIFICAÇÃO, das 210 ocorrências encontradas no corpus da pesquisa, 96 apresentaram as construções de gramaticalização relativas às construções 'QU-... SER'. Como por exemplo:

  • (15) E aí é assim, o que eu queria eraentender isso, sabe?

  • (16) É essa classe média o que mais me irrita!

  • (17) Essa notícia não é exatamente o que parece ser.

Somando-se a essas, outras 114 ocorrências restantes realizaram a função de identificação por meio da nominalização do termo 'QU-' na relação de identificação, tendo no Ente do grupo nominal uma abstração semiótica:

  • (18) O povo brasileiro, uma das características marcantes da nossa cultura é a solidariedade.

  • (19) A única tese do senhor M. B. é que o Brasil sabe quem foi campeão.

  • (20) O fundamental é que os alunos tenham a oportunidade de imaginar uma ação.

Ao observar este tipo de realização, Longhin e Ilari (2000)LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213. não a classificam como uma oração identificativa. Para tanto, afirmam:

  • "O problema (...) não é, como se poderia imaginar, a presença de palavras com significação genérica no identificando. De fato, nas clivadas do português, são comuns ocorrências em que um nome de sentido genérico antecede a relativa. As razões que impedem de entender (...) como identificadoras são a inexistência de uma contraparte não identificadora óbvia, e o fato de que a unicidade é alcançada mediante meios lexicais" (Longhin e Ilari 2000:209LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213.).

Nosso trabalho, todavia, buscou priorizar a organização sistêmica das funções, e não a sua determinação pelas formas como estas são realizadas. Desta maneira, as "palavras de significação genérica", bem como os "meios lexicais" identificados por Longhin e Ilari (2000)LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213. têm origem em uma operação da gramática, a saber o rebaixamento de ordem10 10 A operação do rebaixamento implica em um item de uma ordem gramatical operar como um elemento de uma ordem mais baixa. Assim, uma oração pode, por exemplo, operar na ordem do grupo (como no caso das orações encaixadas). (cf. Halliday 1967/68HALLIDAY, M.A.K. 1967/68. Notes on Transitivity and Theme in English, parts 1, 2 and 3, Journal of Linguistics, v. 3, n. 1, p. 37-81; v. 3, n. 2, p. 199-244; v. 4, n. 2, p. 179-215.; Halliday 2002______. 2002. On grammar. London: Continuum, (The collected works of M. A. K. Halliday, v. 1).). Por isto, estas construções se configuram como opções de realização das funções de IDENTIFICAÇÃO (cf. seção 4.2.3). A Tabela 4 traz a distribuição das diferentes formas de gramaticalização das funções de identificação:

Tabela 4
Distribuição das realizações de IDENTIFICAÇÃO

4.2. Funções gramaticais

Seguindo a perspectiva trinocular, na visão "ao redor" foi possível constatar que o PB não gramaticaliza a focalização como um conjunto de opções mais delicadas do sistema de TEMA. A PREDICAÇÃO e a IDENTIFICAÇÃO, por um lado, e o TEMA, por outro, constituem sistemas complementares, contribuindo de formas distintas para a construção de significados textuais na oração. No trabalho compartilhado na distribuição da informação, cabe ao TEMA a função de ponto de partida de interpretação do restante da oração (Halliday 1976______. 1976. Theme and information in the English clause. In: Kress, G. (Ed.). Halliday: system and function in language. London: Oxford University Press.); e à PREDICAÇÃO e IDENTIFICAÇÃO a focalização gramatical de um elemento que, não necessariamente, é o ponto de partida. Por exemplo:

(21) Isso foi a mãe da M. que me contou
  Tema Rema
  Elemento de Predicação  
(22) Quanto a Getúlio é claro que seus procedimentos têm alguma relação com o nazismo.
  Tema Rema
  Elemento de Predicação  
(23) Você tem que falar é com o dono não é com o gerente, não.
  Tema Rema  
    Elemento de Predicação  
(24) E dentro dessa perspectiva o que se focou ali foi a evidenciação dos direitos individuais
  Tema Rema
    Elemento de Identificação  

4.2.1. O sistema de PREDICAÇÃO

O sistema de PREDICAÇÃO (ver Figura 4) - assim como o TEMA - tem na oração sua condição de entrada e contribui para a organização dos elementos ideacionais e interpessoais, convertendo-os em mensagem para que assim se tornem parte do discurso. Contudo, diferente do TEMA, que é um sistema central da oração (Matthiessen et al. 2010MATTHIESSEN, C. Teruya, K. Lam, M. 2010. Key terms in systemic functional linguistics. London and New York: Continuum.), as funções da PREDICAÇÃO são periféricas, podendo assim não estar presentes.11 11 O paralelo pode ser traçado entre os sistemas centrais e periféricos das três metafunções. Ideacional: TRANSITIVIDADE (central) e CIRCUNSTANCIAÇÃO (periférico); interpessoal: MODO (central) e MODALIDADE (periférico); textual: TEMA (central) e PREDICAÇÃO (periférico). Com isso, no primeiro nível de delicadeza, as opções são '(-) predicação' e '(+) predicação', que por sua vez se torna a condição de entrada para o TIPO DE PREDICAÇÃO, cujas opções são 'predicação textual', 'predicação interpessoal' e 'predicação ideacional' (ver Quadro 8).

Figura 4
O sistema de PREDICAÇÃO.
Quadro 8
Exemplos do sistema de PREDICAÇÃO

Para o TIPO DE PREDICAÇÃO, foi identificada no corpus a seguinte distribuição:

Tabela 5 Distribuição das funções do TIPO DE PREDICAÇÃO
TIPO DE PREDICAÇÃO Número de ocorrências Frequência relativa quanto ao número de ocorrências Frequência relativa quanto ao número total de sentenças para a língua
Total 487 100% 1,64%
ideacional 174 35,75% 0,58%
interpessoal 252 51,74% 0,85%
textual 61 12,51% 0,21%

O sistema de PREDICAÇÃO TEXTUAL (ver Figura 5) gramaticaliza a focalização dos elementos continuativos e da referência estendida. Os continuativos funcionam no texto criando elos coesivos comparáveis às conjunções, porém com a particularidade de não estabelecerem uma relação externa entre as orações, mas sim uma relação generalizada entre as porções do texto (Halliday e Hasan 1976HALLIDAY, M. A. K.; Hasan, R. 1976. Cohesion in English. London: Arnold.). Ao serem predicados, estes elementos dão foco gramatical à forma como o discurso é organizado. Por exemplo:

Figura 5
O sistema de PREDICAÇÃO TEXTUAL.
  • (25) O Espírito Santo, naquele momento, lembrou-me esse versículo acima de 11 de Eclesiastes. É por isso que afirmo: nossos pensamentos podem ter três fontes diferentes.

  • (26) Ao assumir esse cargo, agradeço muito aos colegas de instituição. Mas é primeiramente que agradeço ao honrado Mestre Januário.

  • (27) A: Porque mesmo se tivesse sido pênalti o gol. Eu acho que o São Paulo ganharia aquele jogo--

  • B: Então, mas é que eu tô te falando, agora, se você vier de trás pra frente "Ah, três a zero, se toma o pênalti ia ser três a um".

  • (28) Mas eles estão querendo que a velh-- não tem jeito, e que ela chorava direito e a gente... ficava com dó às vezes, ficava, né?

A referência estendida compreende a recuperação por meio de pronomes demonstrativos - 'isto' e 'isso' prototipicamente - de porções de texto que compreendem mais de um elemento, tais como processos e seus respectivos participantes, ou mesmo sequências de processos (Halliday e Hasan 1976HALLIDAY, M. A. K.; Hasan, R. 1976. Cohesion in English. London: Arnold.):

  • (29) essa unidade começa com um alicerce sólido sobre o qual é possível se construir um edifício maior e discutir democraticamente as divergências. E é isso que esperamos que saia desse ato.

  • (30) o modelo ideal seria a combinação de um processo anaeróbio seguido de um aeróbio, ficando o segundo responsável apenas pelo pós-tratamento e não pela remoção da carga orgânica presente nas águas residuárias. Énisso que estamos trabalhando.

O sistema de PREDICAÇÃO INTERPESSOAL (ver Figura 6) gramaticaliza a focalização de funções de MODO e MODALIDADE. Em PB, a predicação da opção do MODO é Indicativo: Interrogativo: Elemental, realizada pelo elemento 'QU-' somado às construções predicativas. Por exemplo:

Figura 6
O sistema de PREDICAÇÃO INTERPESSOAL.
  • (31) O que que é um tipo penal acromático?

  • (32) É quando que ela falou isso? ... como que ela falou?

Nas orações declarativas, mas que possuem uma interrogativa projetada, é possível selecionar a opção 'Predicação: Interrogativa'.

  • (33) Demora para imaginar quando é que vai acontecer.

  • (34) Agora o seu, nós vamos ver é como que nós faz aí.

A opção 'modalidade' opera como condição de entrada para três subsistemas, cosseletivos: TIPO DE MODALIDADE, ELEMENTO MODALIZADOR e LIMITAÇÃO TEMPORAL.

O TIPO DE MODALIDADE possui recursos para predicar funções de modalização (probabilidade e frequência) e de modulação (obrigação e inclinação)12 12 Explicações mais detalhada sobre os tipos diferentes de modalidade podem ser encontradas em Martin (1992:412), Halliday e Matthiessen (2004:613). . Por exemplo:

  • (35) PROBABILIDADE: É quase que eu peguei a carta ali.

  • (36) FREQUÊNCIA: Então talvez seja uma preocupação até mesmo como professora, é natural que eu tenha isso, para a gente inverter um pouco isso.

  • (37) OBRIGAÇÃO: Então, é sempre necessário ter em mente que o direito não é algo neutro, o direito é fruto de uma sociedade.

  • (38) INCLINAÇÃO: Para mudar é preciso coragem, cuidado, humildade e ousadia. É preciso mudar tendo consciência de que a mudança é um processo gradativo e continuado.

O elemento interpessoal predicado pela função 'Predicação: Interpessoal: Modalidade' é realizado por um grupo nominal, podendo ter como núcleo um Epíteto Interpessoal, responsável pela avaliação do falante sobre o que está sendo dito; ou por um Ente: Abstração, que é a abstração da própria avaliação. Estas duas formas compreendem as opções do sistema de ELEMENTO MODALIZADOR. Por exemplo:

  • (39) ELEMENTO MODALIZADOR: EPÍTETO

  • Refletindo melhor, concluí que é fundamentalsublinhar a importância das últimas conquistas do departamento.

  • (40) ELEMENTO MODALIZADOR: EPÍTETO

  • Essas roupas muito finas não é bom botar em tanquinho não.

  • (41) ELEMENTO MODALIZADOR: ENTE

  • É hora de considerar a possibilidade de mudar de emprego.

  • (42) ELEMENTO MODALIZADOR: ENTE

  • Agora, é bobagem você estar falando assim.

A avaliação do falante sobre o que está dizendo - a modalização - não faz parte da realidade compartilhada pelos interlocutores (realis), mas se configura como a projeção semiótica do falante sobre esta realidade (irrealis). O sistema responsável por gerar estas opções é a LIMITAÇÃO TEMPORAL. Em PB, a avaliação da proposição não está ancorada no tempo (presente, passado, ou futuro), motivo pelo qual não pode ser negociada a partir do sistema de DÊIXIS TEMPORAL. De outra forma, o significado construído é de limite no tempo, o qual pode possuir o limite, formando a opção 'delimitado', ou não o possuir, formando a opção 'ilimitado' (Halliday e Matthiessen 1999).

A opção 'delimitado' é realizada pela morfologia verbal na oração projetada - em geral, morfologia verbal do subjuntivo para as opções de modalidade de valor baixo; e morfologia verbal do indicativo para as de valor alto. A opção 'ilimitado', por sua vez, é realizada por uma oração não-finita. Por exemplo:

  • (43) DELIMITADO: Não é possível que a gente não consiga estabelecer uma concessão pública.

  • (44) DELIMITADO: É razoável que eu diga quais as modificações que eu fiz.

  • (45) ILIMITADO: É impossível manter a saúde do planeta.

  • (46) ILIMITADO: É uma insanidade levara discussão para questões desse tipo.

A PREDICAÇÃO IDEACIONAL (ver Figura 7) gramaticaliza a focalização das funções dos sistemas de TRANSITIVIDADE NUCLEAR e CIRCUNSTANCIAL. No caso da TRANSTIVIDADE NUCLEAR, podem ser focalizadas as funções dos três tipos de Participante (Agente, Mediador ou Beneficiário), além dos eventos de Processos em orações intransitivas/não-efetivas. Na CIRCUNSTANCIAL, as Circunstâncias de Expansão e de Projeção.

Figura 7
O sistema de PREDICAÇÃO IDEACIONAL.

Uma característica importante do PB é que o evento do Processo (que conflui com o Predicador) não pode ser focalizado nas orações transitivas/efetivas. Desta forma, para que este ganhe foco, é preciso que a predicação recaia sobre mais de um elemento - constituindo a predicação de um macroelemento: Processo+Participante e/ou Circunstância (Halliday e Hasan 1976HALLIDAY, M. A. K.; Hasan, R. 1976. Cohesion in English. London: Arnold.; Halliday e Matthiessen 1999).

Do ponto de vista lógico, é possível também predicar outro tipo de macroelemento, as orações hipotáticas de intensificação - que compreendem, de uma forma geral, agnação oracional das opções de TRANSITIVIDADE CIRCUNSTANCIAL (ver Quadro 9).

Quadro 9
Exemplos do sistema de PREDICAÇÃO IDEACIONAL13 13 Para as funções assinaladas com o símbolo "#" não foram encontrados exemplos no corpus desta pesquisa.

Quanto à relação entre os três subsistemas da PREDICAÇÃO e as construções, os dados da análise do corpus se distribuem como mostra a Tabela 6.

Tabela 6
Distribuição da realização para a PREDICAÇÃO

Estes dados mostram que a construção FOCO SER foi exclusivamente observada na PREDICAÇÃO IDEACIONAL (com restrição, na voz ativa, para a confluência entre Participante 1/Agente), ao passo que a construção SER...INF/NOM se limitou à PREDICAÇÃO INTERPESSOAL. Por outro lado, as construções SER...QUE; É QUE e QUE acontecem com todos os tipos.

Isto pode ser explicado pelo fato de que estas construções não gramaticalizam apenas uma função ideacional ou interpessoal, mas, igualmente, a função textual com a qual estas funções confluem quando tomam parte no discurso, ou a forma como se textualizam.

Como foi dito anteriormente, a distribuição da informação é feita de forma estrutural em PB pelos sistemas de TEMA e PREDICAÇÃO; ao TEMA cabe organizar o fluxo discursivo (informação proeminente/não-proeminente) e à PREDICAÇÃO focalizar gramaticalmente determinado elemento do fluxo (informação focalizada/não-focalizada).

A proeminência é realizada em PB por uma função estrutural, i.e. realizada pela posição - mais especificamente, em posição inicial; a focalização, pelas construções e partículas textuais - SER...QUE; É QUE, QUE, FOCO SER e SER...INF/NOM. Como consequência, quando uma construção de focalização é colocada estruturalmente na posição inicial, esta adquire o significado de informação proeminente no fluxo do discurso. O sistema de PREDICAÇÃO do PB possui, portanto, um subsistema (ver Figura 8) que gera os recursos para que a porção de informação focalizada possa apresentar status de proeminente - realizada pela construção SER...QUE - ou não-proeminente - realizada por É QUE e QUE (ver Quadro 10).

Quadro 10
Informação focalizada proeminente/não-proeminente
Figura 8
O sistema de FOCALIZAÇÃO PROEMINENTE.

4.2.2. O "tema predicado"

Na descrição da língua inglesa, Matthiessen (1995)MATTHIESSEN, C. 1995. Lexicogrammatical cartography:English systems. Tokyo: International Language Science Publishers. afirma que existe um tipo de Tema - denominado Tema Predicado - que responde por "identificar explicitamente o papel transitivo que o Tema possui na oração" (Matthiessen 1995:554MATTHIESSEN, C. 1995. Lexicogrammatical cartography:English systems. Tokyo: International Language Science Publishers.).14 14 ...explicitly identify the Theme in the transitivity role it serves in the clause... Em outras palavras, qualquer elemento da oração que realize uma função experiencial pode ganhar proeminência temática através dos recursos do Tema Predicado.

No PB, o que se observa nas ocorrências tipologicamente comparáveis ao inglês para o Tema Predicado é uma potencialização dos recursos da predicação para a própria forma como acontece a textualização. Esta é realizada, primeiramente, pelas funções do sistema de TEMA, que (1) seleciona uma função ideacional, (2) seleciona uma função interpessoal, (3) faz estas duas funções confluírem em um só item, e, finalmente, (4) coloca este item como ponto de partida da mensagem (ver Figura 9).

Figura 9
Textualização pela confluência entre funções ideacional e interpessoal.

Para focalizar gramaticalmente esta confluência de funções Ideacional / Interpessoal / Tema, a gramática textual do PB emprega as funções da FOCALIZAÇÃO PROEMINENTE. Por essa razão, os próprios sistemas da tessitura podem ser predicados, o que se relaciona com o modo pelo qual a informação é apresentada e distribuída na língua: o sistema de INFORMAÇÃO apresenta a informação em PB, fonologicamente por meio de grupos tonais, pausas e tonicidade; o TEMA distribui a informação como ponto de partida ou de chegada; a PREDICAÇÃO focaliza gramaticalmente algum elemento da oração na sua distribuição. As escolhas por funções em cada um desses sistemas é independente das escolhas nos outros. Com isso, é possível fazer uma seleção, para o mesmo elemento da oração, no TEMA, mas não na PREDICAÇÃO, ou na PREDICAÇÃO e não na INFORMAÇÃO, e assim por diante. Da mesma forma, é possível selecionar elementos diferentes da oração para realizar as funções desses três sistemas (ver Quadro 11).

Quadro 11
Cosseleções de proeminência entre os sistemas de INFORMAÇÃO, TEMA e PREDICAÇÃO

A maior delicadeza funcional expressa pelas construções SER...QUE, QUE, e É QUE, mostra que a diferença no emprego destas não depende apenas da forma como a informação é distribuída pelo sistema de PREDICAÇÃO; o significado criado por qualquer uma destas escolhas se constitui como síndrome informacional, através de uma escolha complexa de PREDICAÇÃO, TEMA e INFORMAÇÃO. Nessas configurações o que se vê é a maximização do potencial de textualização (ver Figura 10), para a apresentação e distribuição da informação.

Figura 10
O sistema de PREDICAÇÃO (maior delicadeza).

4.2.3. O sistema de IDENTIFICAÇÃO

Como foi possível ver até agora, a gramaticalização do foco em PB é realizada pelas funções de predicação, que recaem sobre algum elemento da oração, ou em uma oração dependente de intensificação que opera como um elemento da oração principal, qualificando-a. Contudo, a PREDICAÇÃO em PB não é capaz de gramaticalizar o foco quando o elemento a ser destacado é uma oração inteira. Quem cumpre este papel é o sistema de IDENTIFICAÇÃO. Desta maneira, a abordagem das operações gramaticais envolvidas na realização das funções de IDENTIFICAÇÃO revela "de baixo", o rebaixamento de ordem; e "ao redor", a identificação oracional.

O rebaixamento de ordem implica um realinhamento entre a semântica e a gramática - um determinado significado realizado por uma oração passa a ser realizado por um grupo ou palavra (ver Quadro 12).

Quadro 12
Rebaixamento de ordem da oração

O Quadro 12 mostra o rebaixamento oracional para o grupo, tomando o significado de "uma nova ligação atômica que se forma no anodo", realizado por Participante (uma nova ligação entre os átomos) ^ Processo (forma-se) ^ Circunstância (no anodo) e realinhando este significado com o grupo nominal Dêitico (a) ^ Ente (formação) ^ Qualificador (das novas ligações que ocorrem no anodo). A operação se repete com a oração "a gente vai selecionar a cor", passando ao grupo nominal "as cores que a gente selecionou" e, por fim, à palavra "seleção" (ver Figuras 11 e 12).

Figura 11
Rebaixamento de ordem: oração → grupo.
Figura 12
Rebaixamento de ordem: oração → grupo → palavra.

Na IDENTIFICAÇÃO, o termo oracional ao qual se designa significado por meio do termo focalizado é composto por oração rebaixada (Halliday 1976______. 1976. Theme and information in the English clause. In: Kress, G. (Ed.). Halliday: system and function in language. London: Oxford University Press.; Longhin e Ilari 2000LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213.), para a ordem do grupo, ou da palavra:

  • (47) Então, o que se protege é um código.

  • (48) Foi ele quem me deu um liquidificador de brinquedo.

  • (49) O que eu queria era entender isso, sabe?

  • (50) O fundamental é que os alunos tenham a oportunidade de imaginar uma ação.

O rebaixamento da IDENTIFICAÇÃO ocorre para um grupo nominal de configuração típica 'QU-' ^ Processo ^ ± Participante ou Circunstância. A oração pode também ser rebaixada para a ordem da palavra, operando como um Ente: Abstração Semiótica, que representa a nominalização do evento oracional (cf. Longhin e Ilari 2000LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213.), como em "fundamental" (alguém necessita de alguma coisa). Estas duas configurações cumprem a função de Elemento Identificado, do sistema de IDENTIFICAÇÃO (ver Quadro 13).

Quadro 13
Oração de identificação rebaixada e nominalizada

As orações identificativas apresentam a configuração Participante + Processo: Identificativo + Participante, e possuem o significado de definir, exemplificar, explicar (Halliday e Matthiessen 2004). Ambos os Participantes se referem ao mesmo Ente: o Identificado cumpre a função de "ser definido, exemplificado, explicado". O Identificador cumpre a função de "definir, exemplificar, explicar". Ao mesmo tempo, um dos elementos opera como "a expressão do Ente", a qual é vazia de significado, cumprindo a função de Símbolo; e "o conteúdo do Ente", dando-lhe o significado e cumprindo a função de Valor. Por exemplo:

(51) Qual era um dos maiores problemas dos arqueólogos?
  A destruição dos sítios arqueológicos era um dos maiores problemas dos arqueólogos
  Participante 1 Processo Participante 2
  Identificador Identificativo Identificado
  Valor   Símbolo
(52) O que representou a destruição dos sítios arqueológicos?
  A destruição dos sítios arqueológicos representou um dos maiores problemas dos arqueólogos
  Participante 1 Processo Participante 2
  Identificado Identificativo Identificador
  Valor   Símbolo

No exemplo 51, o Participante "um dos maiores problemas dos arqueólogos" precisa ser definido, exemplificado, explicado, por isto é o elemento que deve ser Identificado. Desta maneira, cabe ao Participante 1 definir e explicar aquele primeiro, por isto cumpre a função de Identificador. Ao mesmo tempo, o Participante 2 está vazio de significado (Símbolo), que é dado pelo Participante "a destruição dos sítios arqueológicos" (Valor). Em 52, o elemento Identificado é "a destruição dos sítios arqueológicos" e por isto precisa ser definido e explicado. Como este possui significado (Valor), a sua identificação se faz pelo Participante "um dos maiores problemas dos arqueólogos", que opera como Símbolo - uma vez que está vazio de significado - e define e explica aquele.

Na IDENTIFICAÇÃO, a oração identificativa é sempre o tipo de oração empregado (Halliday 1976______. 1976. Theme and information in the English clause. In: Kress, G. (Ed.). Halliday: system and function in language. London: Oxford University Press.; Longhin e Ilari 2000LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213.). Somando-se a isto, o fato de a IDENTIFICAÇÃO ser complementar ao TEMA permite compreender que o elemento rebaixado - a nominalização 'QU-' - pode funcionar como Identificado (Ilari 1975ILARI, R. 1975. Propriedades de sentenças e contextos discursivos. Tese (Doutorado em Linguística) - Instituto de Filosofia, Ciências e História, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.; Halliday 1976______. 1976. Theme and information in the English clause. In: Kress, G. (Ed.). Halliday: system and function in language. London: Oxford University Press.), mas também como Identificador:

(53) O que se protege?
  O que se protege é um código
  Participante 1 Processo Participante 2
  Identificado Identificativo Identificador
  Símbolo   Valor
(54) O que se protege?
  Um código é o que se protege
  Participante 1 Processo Participante 2
  Identificado Identificativo Identificador
  Valor   Símbolo

Cabe ao sistema de IDENTIFICAÇÃO colocar a forma Nominalização 'QU-' na expressão, operando como Símbolo, a oração rebaixada de ordem e no conteúdo do Ente, operando como Valor, identidade, definição, exemplo, etc. Assim, é possível observar as opções Identificado/Símbolo : Nominalização 'QU-' & Identificador/Valor e Identificador/Símbolo Nominalização 'QU-' & Identificado/Valor. O subsistema que gera estas opções é denominado CODIFICAÇÃO, que, juntamente com o ELEMENTO IDENTIFICADOR, compõe o sistema de IDENTIFICAÇÃO.

Além dessas duas possibilidades, em PB é possível ainda uma configuração na qual o Processo ocupa a posição temática, anunciando a função da identificação.

(55) O que se protege?
  É um código o que se protege
  Processo Participante 1 Participante 2
  Identificativo Identificado Identificador
    Valor Símbolo

Assim como a FOCALIZAÇÃO PROEMINENTE aumenta o potencial de foco na PREDICAÇÃO, a configuração apresentada no exemplo 55 faz o mesmo pela IDENTIFICAÇÃO.

Na seção 4.2.1, a apresentação da função Total da FOCALIZAÇÃO PROEMINENTE mostrou que esta posiciona a gramaticalização da focalização estruturalmente na posição temática, produzindo, com isto, o significado de informação proeminente no fluxo do discurso. A Focalização Proeminente: Total possui a realização É^Elemento^Que. Por exemplo, aplicada à oração "Protege-se um código", tem-se: "É um código que se protege".

Cumpre ainda ressaltar que, apesar de estas conservarem, em certa medida, proximidade estrutural [É ^ Elemento ^ Que] e [Ser ^ Elemento ^ Nominalização 'Qu-'] e semântica - ambas colocam a gramaticalização da focalização em posição temática -, os sistemas possuem natureza diferente e, por conseguinte, geram funções diferentes (ver Quadro 14).

Quadro 14
Contraste entre Identificação e Focalização Proeminente: Total

A Figura 13 apresenta o sistema de IDENTIFICAÇÃO em PB.

Figura 13
O sistema de IDENTIFICAÇÃO

Em virtude da forma como a IDENTIFICAÇÃO é gramaticalizada em PB, quando se leva em consideração as duas operações responsáveis pela realização das funções deste sistema - o rebaixamento nominal e a oração identificativa, é possível entender que a construção 'QU-... SER', não se configura, diante desta análise, como uma construção de fato. Diferentemente, o que se têm são duas realizações gramaticais distintas que ocorrem em ordens gramaticais diferentes. Por um lado o rebaixamento, no qual o elemento 'QU-' funciona como parte do grupo nominal e, por outro lado, a oração relacional identificativa, que possui como elemento central o Processo: Equativo.

5. Considerações finais

A partir do referencial das abordagens funcionalistas, em particular Braga (1991BRAGA, M. L. 1991. As Sentenças Clivadas no Português Falado no Rio de Janeiro. Organon, v. 5, n. 5, p. 109-125.; 2009)______. 2009. Construções clivadas no português do Brasil sob uma abordagem funcionalista. Matraga, v. 16, n. 24, p. 173-196. e Longhin e Ilari (2000)LONGHIN, S.; Ilari, R. 2000. Uma leitura hallldayiana das sentenças clivadas do português. Alpha, n. 44, p. 193-213., este artigo teve como objetivo principal apresentar uma descrição funcional de base sistêmica da gramática que realiza os significados de focalização em PB. Com base em estudos anteriores, os quais apontam para os recursos textuais como o locus da gramática da focalização, procurou-se identificar como esta se organiza sistemicamente. A partir da coleta de um corpus representativo da língua e sua subsequente análise, pautada pela teoria de descrição sistêmico-funcional (Halliday 1996) foi possível identificar dois sistemas principais, PREDICAÇÃO e IDENTIFICAÇÃO, bem como a frequência relativa e para a língua de suas funções componentes.

Os dados desta descrição corroboraram a insuficiência dos conceitos de clivagem e pseudo-clivagem para explicar a gama de funções gerada por estes sistemas. Assim, as construções 'QU-...SER'; 'SER...QUE', 'QUE', 'É QUE' e 'FOCO SER' foram tomadas como a realização das funções que, por sua vez, foram descritas também a partir do seu valor no sistema e do tipo de significado que realizam.

A PREDICAÇÃO é um sistema complementar ao TEMA, cuja função principal é distribuir a informação dando proeminência às funções ideacionais, interpessoais e textuais, bem como à sua confluência. Dessa forma, a PREDICAÇÃO possui subsistemas para gerenciar a proeminência daquelas. Com isso, a noção de "tema predicado" em PB se configura como apenas uma das possibilidades do emprego da PREDICAÇÃO, e não exclusivamente como o subsistema do TEMA responsável pela focalização gramatical.

A IDENTIFICAÇÃO é, na verdade, fruto da cosseleção de opções textuais e ideacionais. Tendo como operações principais o rebaixamento de ordem e a identificação oracional, este sistema é capaz de realizar gramaticalmente a focalização designando uma identidade exclusiva para o elemento focalizado. Por conseguinte, quando se leva em consideração as duas operações gramaticais responsáveis pela realização das funções do sistema de IDENTIFICAÇÃO - o rebaixamento nominal e a oração identificativa, é possível entender que a construção 'QU-... SER', não se configura, diante desta análise, como uma construção de fato. Diferentemente, o que se têm são duas realizações gramaticais distintas que ocorrem em ordens gramaticais diferentes. Por um lado o rebaixamento, no qual o elemento 'QU-' funciona como parte do grupo nominal e, por outro lado, a oração relacional identificativa, que possui como elemento central o Processo: Identificativo.

Os resultados obtidos são apresentados como complementares aos de estudos abrangentes sobre a focalização em PB, oferecendo uma organização de suas diferentes manifestações, integrando as funções em uma mesma rede de significados gramaticais dos sistemas que, por sua vez, estão também integrados à gramática da língua como um todo.

Cumpre destacar a importância do corpus para a obtenção destes resultados. É inegável a contribuição dos dados quantitativos, pois permitem dimensionar o emprego das funções gramaticais da focalização em relação às outras funções da língua. Uma contribuição ainda maior, da descrição orientada pelo corpus, aliada a uma teoria complexa e abrangente, é revelar um potencial de significação da língua que de outra forma poderia permanecer não explorado. Essa é indiscutivelmente a principal razão pela qual as descrições com base na língua em uso se beneficiam dos estudos de corpus, ao contarem com o respaldo de se pautarem pelas probabilidades que, de fato, apresentam-se na língua.

  • 1
    Seguindo a notação sistêmica, os nomes de sistemas são grafados em maiúsculas; de funções gramaticais com a primeira letra maiúscula; e de funções semânticas em minúsculas (ex: PREDICAÇÃO, Tema, mensagem).
  • 2
    "Esse aqui" é informação nova porque é realizado por um grupo tonal próprio (movimento tônico 3). Dado e Novo (cf. Halliday e Greaves, 2008HALLIDAY, M.A.K.; Greaves, W. 2008. Intonation In The Grammar Of English. London: Equinox.) são funções do sistema de informação, que é fonológico.
  • 3
    Sistemicamente, Dado e Novo não se referem a "informação que já apareceu no texto" e "informação que aparece pela primeira vez". Diferentemente, estas funções são orientadas para o ouvinte e podem ser parafraseadas como: "ouvinte, esta informação é parte do fluxo discursivo; não precisa se preocupar" (Dado) e "ouvinte, esta informação modifica o fluxo discursivo, portanto, preste atenção!" (Novo).
  • 4
    Nossa tradução para: "The resource for manipulating the contextualization of the clause".
  • 5
    O termo sentença é aqui empregado para os segmentos que vão até o ponto final, de interrogação exclamação, ou ponto e vírgula. Com isto, uma sentença pode expressar graficamente tanto a oração quanto o complexo oracional. Apesar de não representar exatamente o número de orações, o critério de adoção da sentença foi uma decisão metodológica tomada pela sua exequibilidade de forma automática.
  • 6
    Os exemplos apresentados neste artigo foram retirados do corpus da pesquisa.
  • 7
    Os exercícios comparativos, assim como os testes de reactância e as variações das formas agnatas - i.e., as duas opções que formam o par mínimo (minimal pair) para um determinado sistema (Gleason, 1965GLEASON, H. 1965. Linguistics and English grammar. New York: Holt, Rinehart & Winston.) -, demandaram a reelaboração de orações com o propósito de revelar a constituição criptotípica das funções aqui analisadas.
  • 8
    A nominalização é o processo gramatical através do qual uma unidade gramatical é metaforicamente representada por um grupo nominal, sendo capaz de realizar todas as funções que o grupo nominal realiza. Assim, uma oração, quando nominalizada, pode por exemplo se tornar o Sujeito ou o Tema de uma outra oração.
  • 9
    "Melhor" é item único na estrutura, e mesmo não sendo o Ente (ou o conteúdo semântico do grupo nominal), é, necessariamente, o Núcleo (ou o elemento principal na organização lógica; o elemento ao qual os outros elementos da estrutura estão subordinados).
  • 10
    A operação do rebaixamento implica em um item de uma ordem gramatical operar como um elemento de uma ordem mais baixa. Assim, uma oração pode, por exemplo, operar na ordem do grupo (como no caso das orações encaixadas).
  • 11
    O paralelo pode ser traçado entre os sistemas centrais e periféricos das três metafunções. Ideacional: TRANSITIVIDADE (central) e CIRCUNSTANCIAÇÃO (periférico); interpessoal: MODO (central) e MODALIDADE (periférico); textual: TEMA (central) e PREDICAÇÃO (periférico).
  • 12
    Explicações mais detalhada sobre os tipos diferentes de modalidade podem ser encontradas em Martin (1992:412MARTIN, J. R. 1992. English text: system and structure. Philadelphia and Amsterdam: John Benjamins Publishing Company.), Halliday e Matthiessen (2004:613).
  • 13
    Para as funções assinaladas com o símbolo "#" não foram encontrados exemplos no corpus desta pesquisa.
  • 14
    ...explicitly identify the Theme in the transitivity role it serves in the clause...

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Dec 2014

Histórico

  • Recebido
    Set 2012
  • Aceito
    Jan 2014
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