Acessibilidade / Reportar erro

Descrição de aspectos da variante étnica usada pelos parkatêjê

Description of the etnic variant used by parkatêjê people

Resumos

Este artigo apresenta uma breve descrição da variante étnica da língua portuguesa falada pelos parkatêjê, a qual, provavelmente, devido à situação de contato entre as duas línguas, têm características de ambas. A interferência dos usos de uma língua na outra pode ser observada nos aspectos fonético-fonológicos, morfossintáticos, lexicais bem como semânticos da variante étnica.

sociolingüística; contato; língua indígena; descrição


This paper presents a brief description about Portuguese variant spoken by Parkatêjê people, which shows characteristics of both languages, probably, because of contact situation between them. The interference of uses of one language in the other can be observed in phonological, morphological, lexical as well semantic aspects of the Portuguese variant spoken by Parkatêjê people.

sociolinguistics; contact; indigenous language; description


ARTIGOS ARTICLES

Descrição de aspectos da variante étnica usada pelos parkatêjê

Description of the etnic variant used by parkatêjê people

Marília Ferreira1 1 Professor Adjunto do Departamento de Língua e Literaturas Vernáculas do Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do Pará. Agradeço ao PDEE/CAPES, BEX 0647/00-4, que apoiou meus estudos no RCLT, na La Trobe University. Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada na La Trobe, como avaliação do curso sobre Lingüística Areal. E outra versão, já um tanto modificada, foi apresentada ao IEL como qualificação fora da área de tese. Agradeço à Profa. Dra. Sacha Aikhenvald que me estimulou a escrever este trabalho; à Profa. Mônica Borges (UFG) pelas sugestões de leitura e por seus valiosos comentários acerca da versão preliminar deste texto, à Profa. Elizabeth Vasconcelos (UFPA) pela leitura do texto e aos dois revisores anônimos da D.E.L.T.A. Desnecessário dizer que quaisquer erros são de minha responsabilidade. As abreviaturas aqui utilizadas são as seguintes: 1: primeira pessoa do singular; 2: segunda pessoa do singular; AP: antipassiva; ASS: associativo; DAT: dativo; DEM: demonstrativo; DIR: direcional; DUB: dubitativo; DS: sujeitos diferentes ( different subject); ENF: ênfase; ERG: ergativo; FUT: futuro; PAS: passado; RC: relacional de contigüidade; RNC: relacional de não-contigüidade; SS: sujeitos idênticos ( same subject). Os pontos entre duas palavras do português nas glosas significam que estas traduzem apenas uma palavra da língua parkatêjê. Estou utilizando a transcrição fonológica para os dados do parkatêjê e uma transcrição aproximada da fala nos dados do português.

Universidade Federal do Pará

RESUMO

Este artigo apresenta uma breve descrição da variante étnica da língua portuguesa falada pelos parkatêjê, a qual, provavelmente, devido à situação de contato entre as duas línguas, têm características de ambas. A interferência dos usos de uma língua na outra pode ser observada nos aspectos fonético-fonológicos, morfossintáticos, lexicais bem como semânticos da variante étnica.

Palavras-chave: sociolingüística; contato; língua indígena; descrição.

ABSTRACT

This paper presents a brief description about Portuguese variant spoken by Parkatêjê people, which shows characteristics of both languages, probably, because of contact situation between them. The interference of uses of one language in the other can be observed in phonological, morphological, lexical as well semantic aspects of the Portuguese variant spoken by Parkatêjê people.

Key-words: sociolinguistics; contact; indigenous language; description.

1. Introdução

Este trabalho tem por objetivo apresentar uma breve descrição da variante étnica do português falado pelos parkatêjê, que vivem atualmente em duas aldeias distintas, às proximidades do município de Bom Jesus do Tocantins, a trinta quilômetros de Marabá, no Sudeste do Estado do Pará.

A língua parkatêjê2 2 De acordo com Ferraz (em comunicação pessoal), Parkatêjê é uma denominação política para grupos de distintas aldeias, cuja língua era comum. é Timbíra e pertence ao grupo lingüístico Macro-Jê, juntamente com outras línguas, tais como Canela, Krahô, Pykobiê (Gavião do Maranhão), Apâniekra, Ramkókamekra, Krenye e Krikatí, dentre outras (Rodrigues 1999:167), as quais são ditas constituírem um "complexo dialetal" devido a suas semelhanças tipológicas e estruturais.

De, aproximadamente, cerca de quatrocentos indivíduos, somente 10% dos parkatêjê fala fluentemente sua língua. As crianças não a estão aprendendo como sua primeira língua e esse traço é apontado por Krauss (1992:4 apud Crystal (2000:20) como característico de línguas morimbundas. Para esse pesquisador, línguas morimbundas são aquelas que estão bem além do estágio de 'mero' perigo de extinção, por lhes faltar a transmissão entre gerações. Desse ponto de vista, portanto, a língua parkatêjê pode ser vista como uma língua que está em perigo de extinção).

Uma combinação de fatores não-lingüísticos e lingüísticos cria uma situação de obsolescência de língua no caso do parkatêjê. A população foi reduzida drasticamente em anos recentes em conseqüência de doenças e brigas intertribais. Storto (1996:85) argumenta que as línguas indígenas no Brasil estão em perigo de extinção devido à combinação de dois fatores: (a) um baixo número de falantes por língua – a situação no Brasil é realmente muito incomum neste sentido (ver Seki, 1999 acerca deste ponto); e (b) a política do governo brasileiro. O caso dos parkatêjê pode ser usado como um exemplo da combinação desses fatores.

O povo vive uma situação de contato intensivo e extensivo com o português brasileiro no dia-a-dia, numa situação de relação de crescente dominância, que tem sido descrita como 'linguistic stress' (ver Silva-Corvalán, 1995). Como uma conseqüência deste tipo de relação, eles vêm experimentando um grande grau de redução no uso da sua língua, de acordo com Araújo (1988). A coexistência de dois sistemas lingüísticos distintos em uma mesma comunidade de fala é o que se vê nas aldeias parkatêjê.

Este artigo não abordará especificamente a situação de bilingüismo desse povo. Porém, é necessário dizer que há diferentes níveis de bilingüismo em parkatêjê e em português na aldeia. Há falantes fluentes e não-fluentes de parkatêjê. Todavia, em se tratando de português, a língua majoritária, há somente falantes fluentes. Correlacionando idade e proficiência lingüística em parkatêjê, verifica-se uma relação inversa entre as duas categorias. As crianças não estão aprendendo a língua de seus avós. Ao invés disso, estão aprendendo a língua dominante. Grosso modo, falantes mais jovens usam principalmente o português em detrimento do parkatêjê, enquanto falantes mais velhos usam principalmente a língua indígena. Essa situação é preocupante, já que, conforme afirmam autores como Grosjean (1982) e Romaine (1995), a substituição da língua minoritária (no caso o parkatêjê) pela majoritária (o português), pode levar ao completo abandono daquela, e até mesmo à sua morte.

De acordo com Silva-Corvalán (ver 1994, p. II), "nessas situações de bilingüismo um continuum de proficiência oral pode se desenvolver entre duas línguas em contato"3 3 Tradução minha. , e os falantes podem ser localizados em vários pontos ao longo desse continuum dependendo do seu nível de domínio de uma ou de outra língua, ou de ambas. A divisão aproximada dos falantes parkatêjê em gerações, apontada acima, também corresponde à sua localização aproximada no continuum de proeficiência. Observe-se, por exemplo, o Quadro 1, abaixo, que aponta para o continuum de proficiência desses falantes, de acordo com sua idade, levando em consideração dois tipos de registros de fala: o formal e o não-formal.


Sumarizando os fatos históricos do povo parkatêjê, conforme eles próprios contam, em uma situação familiar típica – com pais da primeira geração – apenas as crianças mais velhas adquiriam a língua parkatêjê. Contudo, devido ao fato de esse povo ter sido devastado e reduzido numericamente tanto por epidemias de doenças endêmicas quanto por conflitos entre eles, o chefe teve a certeza de que o fim chegara para eles (ver Ferraz, 1991:23).

Fatores extra-lingüísticos evidenciam uma situação em que a língua nativa era tida como primitiva, menor em prestígio e, conseqüentemente, não importante para ser preservada. De acordo com o que afirma Rajagopalan (ver 1998:41), "a identidade de um indivíduo se constrói na língua e através dela. Isso significa que o indivíduo não tem uma identidade fixa anterior e fora da língua. (...) As identidades da língua e do indivíduo têm implicações mútuas". No caso dos parkatêjê, portanto, pode-se postular que deixar de lado sua língua e, por conseguinte, toda a sua cultura, semeou, em grande parte deles, um grave problema de identidade.

Ao mesmo tempo, eles aprenderam a variante regional do português, "de forma assistemática e informal, através de contatos diretos, ocasionais, freqüentes ou mais permanentes com falantes da língua", semelhantemente ao aprendizado de português no Parque Indígena do Xingu, que resultou em um aprendizado incompleto de falantes não-nativos adultos (ver Seki, 1993:106), caracterizando-se tal situação como de atrito de língua (ver Silva-Corvalán, 1994:3).

A segunda geração culpa os pais, por hoje em dia não falar parkatêjê. Eles afirmam, convictos, de que se hoje não falam a língua indígena é, principalmente, devido aos eventos do passado. Alguns membros de famílias da segunda geração desenvolveram alguma proficiência em entender parkatêjê, embora não falem a língua com fluência4 4 Há muitas outras razões para isto. Por exemplo, ser tímido ou envergonhado para falar a língua parkatêjê. Tenho ouvido de pessoas dessa geração que cada vez que elas tentavam falar a língua, alguém caía no riso por causa de seus erros, desencorajando-as, dessa forma, de tentar falar a língua novamente. Mais uma vez, acredito que o problema da identidade seja uma das fontes desse sentimento de desprestígio. . Não é possível, todavia, afirmar que eles nunca tenham adquirido a referida língua. O mais adequado seria, talvez, postular que eles a adquiriram e mantiveram um bilingüismo receptivo5 5 Esse termo é utilizado por Pimentel da Silva (2001), para explicar os casos em que os karajá, embora não usem a língua karajá, a compreendam e respondam em português. A autora rejeita completamente o termo bilíngüe passivo por entender que se alguns karajá compreendem a língua, mesmo que não a falem, não são passivos. por não a terem usado por muitos anos e por terem entrado em contato intenso com o português. Uma descrição breve da situação é o seguinte: os pais falam com os filhos em parkatêjê, dependendo da situação de comunicação, mas os filhos interagem em português com os pais, embora entendam a língua indígena.

Um outro problema que teve graves conseqüências para os parkatêjê foi a diferença entre o número de homens e de mulheres, o que gerou casamentos interétnicos. Pelo menos quatro homens da primeira geração se casaram com mulheres não-indígenas motivados pelo fato de não encontrarem companheiras elegíveis por conta da diferença numérica entre eles. Nesse contexto, a segunda geração não pôde criar seus filhos como falantes proficientes em parkatêjê. Conseqüentemente, os integrantes da terceira geração não falam a língua. Em geral, sequer entendem-na. Eles sabem o significado de poucas palavras, como nomes de animais, de tipos de comida e de frutos e de alguns verbos.

De acordo com Alkmim & Tarallo (1987:61), das possíveis soluções para o bilingüismo, duas surgem como mais freqüentes: a manutenção do bilingüismo, em outras palavras, a situação de "bilingüismo estável", e a morte de um dos dois sistemas. Esta, todavia, atualmente, tem sido evitada por meio de projetos de revitalização de línguas ameaçadas, que apontam resultados bastante positivos como é o caso do projeto Maurehi, desenvolvido junto à comunidade karajá, em Goiás.

A situação parkatêjê ilustra uma situação de constante interação entre duas línguas. No caso, uma situação em que a língua indígena tem-se tornado quase que obsoleta, devido às pressões extremas sobre a população como um todo, o que é completamente díspare de casos em que há multilingüismo estável, de acordo com Aikhenvald (a sair), em que se espera um desenvolvimento gradual da compatibilidade estrutural.

Atualmente a perda da língua é uma preocupação comum a todos na aldeia e observa-se um desejo positivo de todos quanto a um "re-aprender" a língua, a fim de preservar sua identidade, principalmente. Para isto, porém, seria necessário trabalhar e mudar atitudes negativas ou neutras em relação à manutenção da língua parkatêjê.

2. Metodologia da Pesquisa

Este estudo baseia-se em amostras de dados obtidas através de gravações de conversas feitas durante nosso trabalho de campo em duas ocasiões: janeiro e fevereiro de 2000 e em julho do mesmo ano. As conversações na variante étnica do português são traduções livres dos textos em parkatêjê ou conversas entre os falantes, ou entre os falantes com a pesquisadora. Os quatro auxiliares de pesquisa (três homens e uma mulher) pertencem à primeira e à segunda gerações. Dois homens e a mulher são da primeira geração e o outro homem da segunda geração. Esse último é um falante bastante particular da língua indígena. De acordo com o que ele costuma relatar, por ter estado fora da aldeia muitos anos – saiu quando estava com mais ou menos oito anos de idade e voltou quando estava em torno dos dezoito – esqueceu parcialmente sua língua. Porém, tendo sido imerso novamente no universo parkatêjê, em sua cultura e costumes tradicionais, voltou a falar a língua fluentemente.

Adotando o termo utilizado por Braggio (2001), estou chamando a língua portuguesa falada pelos parkatêjê de variante ou variedade étnica do português, por entender que, muito embora a mesma variante seja a própria língua portuguesa falada, ela é, nesse caso, usada por um grupo étnico específico, com características peculiares6 6 Nesse ponto, valeria discutir um pouco questões bastante delicadas e que não se constituem no escopo de nosso trabalho, tais como, o termo 'étnico', como levantado por Mey (1998:73). Esse pesquisador afirma que tal termo tem sido utilizado em uma variedade de contextos e adjacências, sendo que alguns deles parecem ser contraditórios. Da mesma forma, D'Angelis (2001:44), ao explicar o que seria um projeto étnico, aponta para questões como o fato de um grupo, que se considera étnico, nem sempre partilhar a mesma origem comum ou mesmo uma cultura comum, mas para atender à diversidade de situações em que grupos humanos reivindicam uma identidade comum. Outra questão que poderíamos discutir seria aquela levantada por Rajagopalan (1998:23), sobre qual seria exatamente a diferença entre uma língua e um dialeto (aqui tomado por nós como sinônimo de variante), questão que ele afirma, os próprios lingüistas abstêm-se de responder. Pei (1965:47 apud Rajagopalan, 1998:23) afirma que "quando uma língua é submetida a uma análise de microscópio, percebe-se que é infinitamente diversificada". Não sendo da alçada deste trabalho tentar definir essas questões, tratarei a variante étnica como tal, motivada pelo esclarecimento do etnógrafo Dario Durando acerca de qual seria a verdadeira natureza do sentimento de 'identidade étnica', o de pertencer a determinado grupo étnico. Para ele, "o sentimento de pertencer a um grupo étnio [é] uma identificação étnica gerada por um sistema específico de produção cultural, cimentada por uma língua comum entre os membros de um grupo étnico". (Durando, 1993:24; itálicos no original apud Mey, 1998:74; ver também D'Angelis, 2001:44-47). .

De acordo com Silva-Corvalán (1994:6), a hipótese geral investigada em situações de contato de línguas é o desenvolvimento de estratégias que indivíduos bilíngües usam para lembrar e utilizar os dois diferentes sistemas lingüísticos. As estratégias sugeridas pelos dados incluem, além da fonologia:

(i) Simplificação de categorias gramaticais e oposições lexicais. (ii) Generalização de formas, freqüentemente seguindo um padrão regular. (iii) Desenvolvimento de construções perifrásticas a fim de obter regularidade paradigmática ou para substituir junturas de morfemas menos transparentes semanticamente. (iv) Transferência de formas direta e indireta da língua superordinada. (v) Code-switching, que envolve o uso de duas ou mais línguas por um falante no mesmo momento de fala ou em diferentes pontos de uma mesma conversação.

Todas essas estratégias foram encontradas nos dados da variante étnica do português, confirmando a universalidade de tais ocorrências em situações de contato de línguas.

Aikhenvald (a sair) argumenta que em uma situação de contato lingüístico, as línguas se tornam gradualmente mais semelhantes umas às outras, como conseqüência do fenômeno conhecido como convergência. Segundo ela, o empréstimo mais pervasivo geralmente envolve tipos de construções, categorias gramaticais e a organização de significados gramaticais e lexicais. Isso inclui empréstimos de formas lexicais ou gramaticais.

3. Considerações sobre a língua parkatêjê

Segundo Araújo (1977), o parkatêjê possui um sistema fonológico típico de línguas Jê, em que as vogais predominam sobre as consoantes, isto é, há mais vogais que consoantes na língua.

São vinte e sete fonemas, divididos em dezesseis vogais, e somente onze consoantes. Das consoantes, cinco são oclusivas surdas, com pontos de articulação bilabial /p/, alveolar /t/, alveopalatal /t/, velar /k/ e glotal ; duas são nasais, com pontos de articulação bilabial /m/ e alveolar /n/; uma é fricativa, com ponto de articulação glotal /h/; três são aproximantes, com pontos de articulação labiovelar /w/, alveolar /r/ e palatal /y/. Das dezesseis vogais, nove são orais e sete são nasais. As duas séries contrastam, articulatoriamente, na posição da língua: anterior, média e posterior. As orais são /i/, , /u/, /e/, /e /, /a/, /o/, e /u/; as nasais, , , , , /e/, e . As posteriores são arredondadas e as anteriores são não-arredondadas. A série oral contrasta em três alturas: alta, média e baixa, já a série nasal contrasta somente em duas alturas: alta e não-alta.

Com base em Ferreira (2003), alguns aspectos e fenômenos comuns em línguas Jê são também correntes em parkatêjê. Essa é uma língua posposicional, em que a ordem básica dos constituintes nas orações declarativas simples/independentes é predominantemente Sujeito-Objeto-Verbo. O genitivo precede o nome.

O parkatêjê é uma língua com marcação no núcleo, ou seja, as informações relacionais aparecem marcadas no núcleo da construção sintática.

A língua apresenta um sistema muito incomum de ergatividade cindida, já que combina (a) Split-S, isto é, os verbos intransitivos são divididos em dois grupos: um em que o S (o sujeito do verbo intransitivo) é marcado como A (sujeito de verbo transitivo), e o outro em que o S é marcado como O (objeto de verbo transitivo), Sa (sujeito de verbo intransitivo ativo) e So (sujeito de verbo intransitivo estativo), de acordo com a terminologia utilizada por Dixon (1994), portanto. E (b) uma cisão condicionada pelas categorias de tempo, aspecto e modo, na qual se observa ainda uma terceira cisão relacionada à hierarquia de pessoa. Em outras palavras, no tempo passado, aspecto perfectivo, o parkatêjê apresenta um sistema tripartido de marcação distinta para 1ª, 2ª e 3ª pessoas.

A maioria dos nomes e verbos pode ser dividida em duas classes lexicais, conforme a ocorrência dos prefixos relacionais em tais classes. Da mesma forma, os verbos apresentam formas distintas dependendo de tempo e aspecto.

4. Descrição da situação de contato entre as línguas

4.1.Alguns aspectos fonéticos-fonológicos

Os sistemas vocálico e consonantal do parkatêjê e do português são diferentes. O inventário fonêmico do parkatêjê é consideravelmente pequeno em relação ao inventário do português.

Em português, o inventário fonológico7 7 As autoras não consideram fonológicas as vogais nasais, razão pela qual essas não constam do quadro. Elas interpretam que, para cada vogal oral, existe uma nasal correspondente. é composto por dezenove consoantes: seis oclusivas, sendo três desvozeadas (/p/, /t/, /k/) e três vozeadas (/b/, /d/, /g/); seis fricativas, sendo três desvozeadas, a labiodental /f/, a alveolar /s/ e a alveopalatal e três vozeadas, a labiodental /v/, a alveolar /z/ e a alveopalatal ; três nasais: a bilabial /m/, a alveolar /n/ e a palatal ; duas laterais: a alveolar /l/ e a palatal ; a vibrante fraca e a vibrante forte /r/.

Em conseqüência, o parkatêjê e o português têm diferentes arranjos de seus segmentos, como os encontros consonantais e fonotáticos. Por exemplo, o parkatêjê combina a consoante bilabial nasal com a vibrante , como em 'chorar'. Já em português, não se pode unir nasal e vibrante, embora seja possível encontrar um grande número de encontros consonantais incluindo o ou o /l/ como o segundo segmento. Por não haver /l/ em parkatêjê, os falantes dessa língua (a saber, a primeira geração) tendem a substituir o /l/ pelo , quando falando sua variante étnica, à maneira de variantes do português (por exemplo: claro/craro; plano/prano)8 8 Esse tipo de substituição seria também a realizada por falantes nativos de língua japonesa ao falarem línguas cujos sistemas fonológicos apresentam a consoante lateral em questão. .

Observando uma amostra de palavras da variante étnica falada pelos parkatêjê, notamos que alguns processos podem ser explicados de maneira geral, como, por exemplo, é muito comum encontrar substituições de sons consonantais do português por sons mais próximos do parkatêjê. Então uma palavra como 'diferente', na fala dos parkatêjê mais velhos, sofre modificações: a parte oclusiva alveolar /d/ da realização é omitida, tendo em vista que em parkatêjê não há tal fonema. Em seu lugar, aparece somente a fricativa palatal vozeada , que é um som existente naquela língua. Se a palavra tem uma oclusiva vozeada e tal som não existe em parkatêjê, este som é substituído pela sua homorgânica sonora e assim por diante. Alguns exemplos dessa substituição são dados abaixo. (ver Araújo, 1998)

Em alguns dialetos do português, como é o caso do dialeto falado no norte do Brasil, a fricativa é pronunciada como chiante. Conforme nos afirma Cunha (1986:209), há o desenvolvimento de um iode antes da fricativa alveolar desvozeada /s/, principalmente quando palatalizada. Já na variante étnica dos parkatêjê, porém, o que temos é a síncope do som fricativo final da sílaba que deixa a palavra terminada em glide, ou seja, em um ditongo, como, por exemplo, em:

A pronúncia de alguns sons da língua parkatêjê, principalmente na fala dos mais jovens, lembra a pronúncia do português. Um exemplo relacionado ao fonema /t/: no dialeto do português falado no norte do Brasil, esse som muda para /t/ antes de /i/. Assim, por influência do português, a consoante /t/ não-explodida em final de palavra em parkatêjê, produzida pelos falantes mais jovens, em alguns momentos, torna-se palatalizada.

Da mesma forma, verificamos a descentralização de vogais do parkatêjê na fala dos mais jovens. Isto faz com que uma vogal central como seja pronunciada como a vogal /u/ do português. Então, uma palavra como em parkatêjê é pronunciada da seguinte forma: [katuy] 'tia (gorda ou mais velha)'. Talvez este fenômeno ocorra devido à influência do sistema vocálico do português, já dominado pelos índios das gerações mais novas em suas formas escrita e oral, visto que eles cursam o ensino fundamental em uma escola bilíngüe na comunidade e outros cursam o ensino médio nas cidades próximas à aldeia.

4.2.Alguns aspectos morfossintáticos

Em português, no registro formal da língua, em certas variantes regionais, há o uso de artigos definidos e indefinidos, que se flexionam em gênero e em número, além de poderem ser contraídos com preposições. Por exemplo: pro 'para + artigo definido masculino singular' – 'eu vou dizer pro pai dele'. Na variante étnica usada pelos parkatêjê, eles, em geral, seguindo a tendência geral do português falado, não marcam a concordância de número no sintagma nominal (ver Assis Veado, 1982:56-59), marcando somente o primeiro elemento de um sintagma nominal pleno, enquanto os outros constituintes permanecem na sua forma singular. Observando o exemplo abaixo

e comparando-os aos exemplos da variante étnica:

Observamos que os parkatêjê não fazem a concordância de gênero, ou, se a fazem, generalizam o uso do masculino como regra geral. Tendo esses padrões em mente, vamos considerar agora partes de textos falados, que foram gravados e transcritos.

As seguintes observações podem ser feitas tendo em vista a variante étnica usada pelos parkatêjê:

(a) quanto ao gênero: o falante usa a mesma palavra em diferentes gêneros em momentos diferentes, mas no mesmo segmento de texto. No primeiro exemplo, acima, ele diz: meu comito para em seguida dizer a cumida. Como observamos acima, isto implica uma generalização da forma masculina. Em outras palavras, eles tendem a usar o gênero masculino como o geral.

(b) há uma simplificação que afeta o sistema verbal. Por exemplo, a forma gerundiva do verbo em –ndo, que na variante étnica segue a tendência geral dos falares rurais do português brasileiro. O /d/ é elidido e eles dizem –nu em alguns casos (como, por exemplo, em eu tô dizenu).

(c) no primeiro texto, há um exemplo da forma como os parkatêjê tendem a usar a concordância verbal: eu já pediu em vez de eu já pedi, isto é, ao em vez de usar a primeira pessoa, eles usam a terceira. Observe-se que a generalização do português falado é o uso da forma da 3ª pessoa do singular para todas as outras, exceto para a 1ª, enquanto a generalização da variante étnica inclui a 1ª pessoa, diferentemente do português falado. Eles freqüentemente fazem generalizações usando a terceira pessoa singular para todas as outras. Além disto, eles também generalizam o uso dos tempos, usando principalmente o passado. No português falado, há uma tendência muito forte de se usar a terceira pessoa para todo o paradigma à exceção da primeira pessoa9 9 Em dialetos do interior do Estado do Pará, observa-se a ocorrência de uma generalização mais ampla: verbos como 'ir', por exemplo, são usados em primeira pessoa do singular com a flexão de terceira ('eu foi') bem como as demais pessoas. . Abaixo, há, para fins de ilustração, o exemplo de um paradigma verbal em português, incluindo a versão padrão, a versão do português falado e a versão da variante étnica.

Tais tendências morfossintáticas da variante étnica muito têm em comum com a variante do português falado e ocorrem na situação de línguas em contato conforme definição de Silva-Corvalán (ver 1994, p. 03). Na verdade, como chamam a atenção Naro e Scherre (1993), com relação à origem do português popular, se havia um português negro ou indígena, as diferenças entre estes e o português usado no Brasil eram sutis e, por esta razão, passavam despercebidas.

Alguns dialetos regionais do português falado tendem também a usar a forma verbal da terceira pessoa de verbos irregulares com a primeira pessoa. Então, quando eles querem dizer eu fiz, dizem, eu fez; quando querem dizer eu fui, dizem, eu foi, dentre outras. A mesma tendência é verificada com verbos regulares, como é possível observar em outros exemplos de textos falados, abaixo transcritos:

Um outro aspecto ainda a ser mencionado refere-se à omissão de pronomes clíticos de terceira pessoa em posição de objeto. Uma interpretação possível é a de que seguindo a tendência geral do português falado, os parkatêjê não usam pronomes em tal posição na variante étnica. Os mesmos contextos sintáticos foram observados por Alkmim & Tarallo (ver 1982:31) e também Assis Veado (1982:34-35)10 10 De acordo com Ferreira (2003), a terceira pessoa, seja sujeito ou objeto, ou é referida por um pronome demonstrativo em certos contextos, ou é retomada pelos prefixos relacionais quando determinada entidade já foi mencionada anteriormente. .

5. Léxico

O intenso contato entre línguas também afeta o léxico das línguas envolvidas nessa situação. Por exemplo, no léxico parkatêjê originalmente havia verbos específicos para 'matar' e 'comer'. Por exemplo, verbos que indicam a ação de comer são os seguintes: 'comer carnes duras'; 'comer carnes macias ou frutos tais como peixes, abacate, cupuaçu etc'; 'comer coisas como milho (que demandam mastigação insistente)'. Já em português há somente um verbo para a noção 'comer'. Como conseqüência desse contato intenso com o português, uma das perdas mais visíveis no léxico parkatêjê está relacionada às diferenciações contidas em tais verbos. Há também termos de parentesco específicos para parentes mortos e vivos. Porém, somente as pessoas mais velhas conhecem esses termos e algumas delas já têm esquecidos, devido ao fato de não usarem mais tais nomes, como termos vocativos, da mesma forma que os usavam no passado.

Por outro lado, verifica-se no dialeto do português falado na região próxima à aldeia parkatêjê, o reconhecimento de palavras da língua indígena, o que é motivado pelo contato das línguas. Essas palavras são na sua maioria termos usados para chamamento de outrem: 'não-índio'; alguns termos de parentesco como 'tia mais velha ou mais gorda', kêti 'tio' usadas diariamente pelos parkatêjê na variante étnica.

Há ainda alguns exemplos de empréstimo encontrados em textos que se constituem como a tradução livre de um texto que foi escrito na língua. Novamente os empréstimos são usados para preencher lacunas verbais. Como notado por Aikhenvald (a sair), o empréstimo é usado para "cobrir campos tais como as vestes do homem não-índio, sua forma de contar, seu jeito de perder ou ganhar dentre outros".

Segundo Aikhenvald (a sair), a função básica do empréstimo é preencher uma lacuna lexical. Logo, na variante étnica, há um uso intenso de palavras para referir determinados tipos de comida e para referir animais e plantas.

Pode-se postular a ocorrência de code-switching em ambas as línguas, como conseqüência da situação de contato. De acordo com Alkmim & Tarallo (1987:13), o code-switching ocorre quando dois sistemas lingüísticos se mesclam no nível da sentença. À primeira vista, pode-se hipotetizar que alguns falantes têm duas formas para expressar a mesma coisa, uma forma que é peculiar da língua indígena e uma outra forma calcada no português, principalmente usada por falantes inovadores. Contudo, essas formas não são bem aceitas por toda a comunidade de falantes da língua indígena, a saber, pelas primeira e segunda gerações.

No exemplo (13) abaixo, há o uso do verbo ser do português, bem como da preposição de para indicar posse. A ordem sintática também é a do português.

Apresentamos a seguir a ocorrência em parkatêjê e os exemplos (13) e (14) podem ser contrastados.

Outros exemplos são encontrados em textos gravados com Krôhôkrenhum, um dos homens mais velhos da aldeia, senão o mais velho. Em um desses textos, ele estava nos contando sobre a situação da aldeia antigamente. Assim, no exemplo que se segue, ele usa a conjunção temporal do português quando.

O mesmo auxiliar de pesquisa usa os termos de parentesco do português tais como "pai" e "avô" em seu discurso, mesmo sabendo tais termos na língua parkatêjê e estando ele num momento de fala dessa mesma língua. Outros lingüistas afirmam, que mesmo em comunidades de línguas indígenas brasileiras saudáveis, o uso de termos como 'mamãe' e 'papai' têm se constituído numa constante, talvez porque o português seja a língua majoritária do país. Aikhenvald (em comunicação pessoal) sugere que no caso dos parkatêjê, eles podem estar usando os termos de parentesco em português por já desconhecerem as complexidades do sistema de parentesco em sua língua materna.

Outros aspectos observados na variante étnica, comuns ao português falado em áreas rurais, aqui citados somente a título de ilustração, são os seguintes:

(i) o uso de 'mais' no lugar da preposição 'com' – o qual é apontado por Assis Veado (1982:33) como forma preferida pelos falantes rurais em Minas Gerais. Ela mostra ainda a preferência pela forma analítica 'mais eu' em substituição ao pronome oblíquo 'comigo'.

(ii) Construções com o reflexivo em que tal pronome é omitido. (ver Assis Veado, 1982:45-50)

6. Algumas conclusões

O objetivo principal deste trabalho é apresentar uma breve descrição da variante étnica falada pelos parkatêjê. Tal descrição, embora muito preliminar, mostra algumas evidências da ocorrência de processos de simplificação que afetam a fonologia, a morfossintaxe e o léxico das línguas envolvidas na situação de contato.

Quanto às ocorrências fonético-fonológicas, o caso mais comum encontrado na variante étnica é a substituição dos fonemas do português brasileiro, por um som mais próximo do parkatêjê.

Na morfossintaxe, alguns processos de simplificação operam a fim de possibilitar que falantes bilíngües usem ambos sistemas lingüísticos. Alguns desses processos de simplificação que ocorrem na variante étnica ocorrem também na variante regional do português falado nos arredores da aldeia, bem como no português falado em geral. Um desses processos está relacionado, por exemplo, à concordância de número, em que o que ocorre é a marcação do primeiro elemento de um sintagma nominal pleno somente, enquanto que os outros elementos permanecem na forma singular. Na variante étnica percebe-se que há simplificações dos seguintes tipos: (i) o uso do gênero da forma masculina como o geral; (ii) a ocorrência do sistema verbal que é afetada de diversas maneiras. A forma gerundiva é marcada por –no e não por –ndo (exatamente como as variantes regionais de vários lugares do Brasil). A generalização da concordância verbal no que se refere ao uso da forma da terceira pessoa do singular, principalmente a forma perfectiva do passado.

O léxico de ambas as línguas têm sido afetado pelo contato, porém devido à forte relação de dominância do português brasileiro, esses efeitos podem ser notados principalmente na língua minoritária, isto é, na língua parkatêjê.

Alguns desses efeitos estão relacionados aos usos dos tipos específicos de verbos de acordo com o tipo de objeto, tais como "matar" e "comer". Além disso, o uso de termos de parentesco para pessoas vivas ou mortas. Os parkatêjê, talvez por influência da língua portuguesa, vêm usando os termos específicos relacionados a pessoas vivas para cobrir os dois grupos.

É possível encontrar inúmeros exemplos de code-switching algumas vezes na fala de um mesmo falante, conforme foi observado por Silva-Corvalán (1986). Um mesmo falante, em diferentes turnos de fala ou em pontos de um mesmo turno de fala, mistura as duas línguas ou faz uso de vocabulário, que podem afetar a estrutura da língua, como os exemplos apresentados acima demonstraram.

De acordo com Naro & Scherre (1993:439), em sua argumentação para o reconhecimento de traços lingüísticos de uma variante do português exclusivamente associados a uma dada etnia, os falantes nativos de línguas africanas ou indígenas do Brasil provavelmente não adquiriram a língua portuguesa com perfeição nativa, nem os falantes nativos de português deixaram de incorporar traços africanos, indígenas ou pidginizantes à maneira da língua geral.

Recebido em abril de 2002

Aprovado em agosto de 2004

  • ALKMIN, Tânia & Fernando TARALLO. 1987. Falares crioulos línguas em contato São Paulo: Ática.
  • AIKHENVALD, Alexandra. (a sair). Language Contact in Amazonia (mimeo).
  • _____ 2001. Verb types, non-canonically marked arguments and grammatical relations: A Tariana perspective. In: AIKHENVALD, Alexandra Y.; R.M.W. Dixon & Masayuki ONISHI. Non-canonical marking of subjects and objects. Amsterdam: John Benjamin: 177-199.
  • ARAÚJO, Leopoldina M. S. 1977. Estruturas subjacentes de alguns tipos de frases declarativas afirmativas do Gavião-Jê. Florianópolis: UFSC. Dissertação de mestrado. (inédita).
  • _____ 1989. Aspectos da Língua Gavião-Jê. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tese de Doutorado. (inédita).
  • _____ 1993. Fonologia e grafia da língua da Comunidade Indígena.
  • PARKATÊJÊ. In: SEKI, Lucy (org.) Lingüística Indígena e Educação na América Latina. 1993: 265-272.
  • _____ 1998. Português de Contato de Um Povo Indígena da Amazônia. 7th
  • UNM Conference on Ibero-American Culture and Society: Spanish and Portuguese in Contact with other Languages - Albuquerque (USA), February 12-14.
  • ASSIS VEADO, Rosa Maria. 1982. Comportamento lingüístico do dialeto rural MG. Belo Horizonte: UFMG/PROED.
  • BATTISTI, Elisa & M. José B.VIEIRA. 1996. O sistema vocálico do português. In: BISOL, Leda (org.). Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro Porto Alegre: EDIPUCRS.
  • BRAGGIO, Silvia L. B. 2001 Línguas Indígenas Brasileiras Ameaçadas de Extinção. Manuscrito resultante do Projeto Línguas em Contato: línguas indígenas brasileiras em contato com o português, financiado pela CAPES, processo 1198/00-9, em Estágio Pós-Doutoral, realizado na University of New Mexico. USA.
  • CRYSTAL, David. 2000. Language Death Cambridge: Cambridge University Press/United Kingdom.
  • CUNHA, Celso. 1986. Conservação e Inovação no Português do Brasil. In: O eixo e a roda Belo Horizonte, (5).
  • D'ANGELIS, Wilmar da Rocha. 2001. Educação escolar indígena: um projeto étnico ou um projeto étnico-político? In: VEIGA, Juracilda & Andrés SALANOVA (orgs.). Questões de Educação Escolar Indígena: da formação do professor ao projeto de escola. Brasília: FUNAI/DEDOC. Campinas/ALB.
  • DIXON, R. M. W. 1994. Ergativity Cambridge Studies in Linguistics 69. Cambridge: Cambridge University Press. United Kingdom.
  • FERRAZ, Iara. 1991. Os índios Parkatêjê 30 anos depois. In: José Martins de Souza (org.). O Massacre dos Inocentes a criança sem infância no Brasil São Paulo: Hucitec: 21-35.
  • GROSJEAN, François. 1982. Life with Two Languages An Introduction to Bilingualism Harvard University Press. Cambridge, Massachussets and London, England.
  • MEY, Jacob L. 1998. Etnia, Identidade e Língua. In: Inês Signorini (org.) Língua(gem) e Identidade: Elementos para uma discussão no campo aplicado. Campinas: Mercado de Letras. Fapesp.
  • MONARETTO, Valéria N. de Oliveira et alli. 1996. As consoantes do português. In: BISOL, Leda (org.) Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS.
  • NARO, Anthony & Marta Scherre. 1993. Sobre as origens do português popular do Brasil. Revista D.E.L.T.A. Vol. 9, Nş Especial: 437-454.
  • PIMENTEL DA SILVA, Maria do Socorro. O mito na revitalização da língua e da cultura Karajá. 2001. São Paulo: PUC. Tese de Doutorado em Lingüística Aplicada ao ensino de línguas. (mimeo).
  • RAJAGOPALAN, Kanavillil. 1998. O conceito de identidade em lingüística: é chegada a hora para uma reconsideração radical. In: Inês Signorini (org.) Língua(gem) e Identidade: Elementos para uma discussão no campo aplicado. Campinas: Mercado de Letras. Fapesp.
  • RODRIGUES, Aryon. 1993. A piece of grammatical congruity among Tupí, Caríb and Jê. Brasília: Universidade de Brasília. Ms.
  • _____. 1999. Macro-Jê. In: DIXON, Robert M.W. & Alexandra Y. AIKHENVALD. (eds.) Amazonian Languages. Cambridge: Cambridge University Press.
  • ROMAINE, Suzanne. 1995. Bilingualism Oxford: Blackwell Publishers.
  • SEKI, Lucy. 1993. Notas sobre a história e a situação lingüística dos povos indígenas do Parque Xingu. In: SEKI, Lucy. (org.) Lingüística Indígena e Educação na América Latina. Campinas: Editora da UNICAMP: 89-117.
  • _____.1999. Lingüística Indígena no Brasil. Revista D.E.L.T.A, 15, Nş Especial: 257-290.
  • SILVA-CORVALÁN, Carmen. 1994. Language Contact and Change Spanish in Los Angeles Clarendon Press. Oxford.
  • STORTO, Luciana. 1996. A Report on Language Endangerment in Brazil. In: BOBALJIK, Jonathan David, Rob PENSALFINI and Luciana STORTO (eds). (1996). Papers on Language Endangerment and the Maintenance of Linguistic Diversity. The MIT Working Papers in Linguistics, 28 November 1996.
  • 1
    Professor Adjunto do Departamento de Língua e Literaturas Vernáculas do Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do Pará. Agradeço ao PDEE/CAPES, BEX 0647/00-4, que apoiou meus estudos no RCLT, na La Trobe University. Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada na La Trobe, como avaliação do curso sobre Lingüística Areal. E outra versão, já um tanto modificada, foi apresentada ao IEL como qualificação fora da área de tese. Agradeço à Profa. Dra. Sacha Aikhenvald que me estimulou a escrever este trabalho; à Profa. Mônica Borges (UFG) pelas sugestões de leitura e por seus valiosos comentários acerca da versão preliminar deste texto, à Profa. Elizabeth Vasconcelos (UFPA) pela leitura do texto e aos dois revisores anônimos da D.E.L.T.A. Desnecessário dizer que quaisquer erros são de minha responsabilidade. As abreviaturas aqui utilizadas são as seguintes: 1: primeira pessoa do singular; 2: segunda pessoa do singular; AP: antipassiva; ASS: associativo; DAT: dativo; DEM: demonstrativo; DIR: direcional; DUB: dubitativo; DS: sujeitos diferentes (
    different subject); ENF: ênfase; ERG: ergativo; FUT: futuro; PAS: passado; RC: relacional de contigüidade; RNC: relacional de não-contigüidade; SS: sujeitos idênticos (
    same subject). Os pontos entre duas palavras do português nas glosas significam que estas traduzem apenas uma palavra da língua parkatêjê. Estou utilizando a transcrição fonológica para os dados do parkatêjê e uma transcrição aproximada da fala nos dados do português.
  • 2
    De acordo com Ferraz (em comunicação pessoal), Parkatêjê é uma denominação política para grupos de distintas aldeias, cuja língua era comum.
  • 3
    Tradução minha.
  • 4
    Há muitas outras razões para isto. Por exemplo, ser tímido ou envergonhado para falar a língua parkatêjê. Tenho ouvido de pessoas dessa geração que cada vez que elas tentavam falar a língua, alguém caía no riso por causa de seus erros, desencorajando-as, dessa forma, de tentar falar a língua novamente. Mais uma vez, acredito que o problema da identidade seja uma das fontes desse sentimento de desprestígio.
  • 5
    Esse termo é utilizado por Pimentel da Silva (2001), para explicar os casos em que os karajá, embora não usem a língua karajá, a compreendam e respondam em português. A autora rejeita completamente o termo bilíngüe passivo por entender que se alguns karajá compreendem a língua, mesmo que não a falem, não são passivos.
  • 6
    Nesse ponto, valeria discutir um pouco questões bastante delicadas e que não se constituem no escopo de nosso trabalho, tais como, o termo 'étnico', como levantado por Mey (1998:73). Esse pesquisador afirma que tal termo tem sido utilizado em uma variedade de contextos e adjacências, sendo que alguns deles parecem ser contraditórios. Da mesma forma, D'Angelis (2001:44), ao explicar o que seria um projeto étnico, aponta para questões como o fato de um grupo, que se considera étnico, nem sempre partilhar a mesma
    origem comum ou mesmo
    uma cultura comum, mas para atender à diversidade de situações em que grupos humanos reivindicam
    uma identidade comum. Outra questão que poderíamos discutir seria aquela levantada por Rajagopalan (1998:23), sobre qual seria exatamente a diferença entre uma língua e um dialeto (aqui tomado por nós como sinônimo de
    variante), questão que ele afirma, os próprios lingüistas abstêm-se de responder. Pei (1965:47
    apud Rajagopalan, 1998:23) afirma que "quando uma língua é submetida a uma análise de microscópio, percebe-se que é infinitamente diversificada". Não sendo da alçada deste trabalho tentar definir essas questões, tratarei a variante étnica como tal, motivada pelo esclarecimento do etnógrafo Dario Durando acerca de qual seria a verdadeira natureza do sentimento de 'identidade étnica', o de pertencer a determinado grupo étnico. Para ele, "o sentimento de pertencer a um grupo étnio [é] uma identificação étnica gerada por um sistema específico de produção cultural, cimentada por uma língua comum entre os membros de um grupo étnico". (Durando, 1993:24; itálicos no original
    apud Mey, 1998:74; ver também D'Angelis, 2001:44-47).
  • 7
    As autoras não consideram fonológicas as vogais nasais, razão pela qual essas não constam do quadro. Elas interpretam que, para cada vogal oral, existe uma nasal correspondente.
  • 8
    Esse tipo de substituição seria também a realizada por falantes nativos de língua japonesa ao falarem línguas cujos sistemas fonológicos apresentam a consoante lateral em questão.
  • 9
    Em dialetos do interior do Estado do Pará, observa-se a ocorrência de uma generalização mais ampla: verbos como 'ir', por exemplo, são usados em primeira pessoa do singular com a flexão de terceira ('eu foi') bem como as demais pessoas.
  • 10
    De acordo com Ferreira (2003), a terceira pessoa, seja sujeito ou objeto, ou é referida por um pronome demonstrativo em certos contextos, ou é retomada pelos prefixos relacionais quando determinada entidade já foi mencionada anteriormente.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Jan 2006
    • Data do Fascículo
      Jun 2005

    Histórico

    • Aceito
      Ago 2004
    • Recebido
      Abr 2002
    Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP PUC-SP - LAEL, Rua Monte Alegre 984, 4B-02, São Paulo, SP 05014-001, Brasil, Tel.: +55 11 3670-8374 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: delta@pucsp.br