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Pela (Re)Afirmação do Espaço na e para além da Linguística Aplicada: Apontamentos teóricos e empírico-metodológicos

For the (Re)Affirmation of space in and beyond Applied Linguistics: Theoretical, empirical and methodological notes

Resumos

Este artigo representa uma tentativa de estabelecer teórica e empiricamente possíveis pressupostos para o estudo do espaço como uma prática social. Tendo como referência teóricos que afirmam que o espaço não é meramente o pano de fundo estático onde a ação sócio-histórica se desenrola, mas um construto social que resulta de uma série de colonizações temporárias problemáticas que dividem e conectam as coisas em diferentes tipos de coletivos, estou interessada no papel material, simbólico e corpóreo dos processos de significação na criação das colonizações temporárias das quais o espaço resulta.

prática social; espaço; significação; rede


This paper represents an attempt to theoretically and empirically establish possible assumptions for the study of space as a social practice. Informed by theorists who assert that space is not merely the external static background where sociohistorical takes place, but a social construct that results from the outcome of a series of problematic temporary settlements that divide and connect things up to different kinds of collectives, I am concerned with the role of material, symbolic and embodied meaning-making practices in creating the temporary settlements of which space results.

social practice; space; meaning-making; network


Introdução

"(...) - Está no porão da sala de jantar - explicou, com a dicção acelerada pela angústia. - É meu, é meu: eu o descobri quando criança, antes da idade escolar. A escada do porão é empinada, meus tios tinham me proibido de descer, mas alguém disse que havia um mundo no porão. Estava se referindo, só soube depois, a um baú, mas entendi que havia um mundo. Desci secretamente, rolei pela escada proibida, caí. Ao abrir os olhos, vi o Aleph."

(O Aleph, Jorge Luis Borges)

No campo aplicado de estudos da linguagem, a problematização do conceito de espaço alia-se à problematização do conceito de lingua(gem). Elucidativo dessa relação é o entendimento de que a lingua(gem) é uma prática que se constitui como propriedade emergente de várias outras práticas sociais (entre as quais, as práticas espaciais), não uma entidade passível de ser usada e transferida entre diferentes contextos (Pennycook 2010PENNYCOOK, A. 2010. Critical and Alternative Directions in Applied Linguistics. Australian Review of Applied Linguistics 33/2:16.1-16.16.). Essa mudança de interpretação de uma visão de língua como sistema autônomo e individual, preexistente ao seu uso, para uma visão de lingua(gem) como produto de práticas contextualizadas, corporais e políticas deu-se por virtude de uma série de viradas nas Ciências Sociais que vêm na esteira pós-estruturalista e pós-moderna que enfatiza o argumento de não ser possível tomarmos a lingua(gem), o corpo, e o espaço como entidades dotadas de significados evidentes e diretamente apreensíveis (Pennycook 2010PENNYCOOK, A. 2010. Critical and Alternative Directions in Applied Linguistics. Australian Review of Applied Linguistics 33/2:16.1-16.16.).

Entre essas orientações, interessa aqui especialmente destacar "a virada espacial" (Lefebvre 1991LEFEBVRE, H. 1991. The Production of Space. Cambridge, MA: Blackwell.; Soja 1989SOJA, E. 1989. Geografias Pós-Modernas: A reafirmação do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor.; 1996______. 1996. Thirdspace. Journeys to Los Angeles and other real-and-imagined places. Oxford: Blackwell Publishing.; Massey 1994______. 1994. Space, place and gender. Minneapolis: University of Minnesota Press.), responsável pelo questionamento do espaço kantiano, visto como categoria fixa e imutável, e pela postulação de que o espaço é um produto social sempre em processo. Tal interpretação, em última análise, permitiu localizar a linguagem como uma prática produzida por e produtora de tempos e espaços particulares (Leander; Sheehy 2004______; Sheehy, M (Eds.). 2004. Spatializing literacy research and practice. New York, Peter Lang.).

Nos estudos da linguagem, a problemática espacial tem sido abordada de maneira mais expressiva sob o viés das discussões sobre contexto e espaço social, principalmente a partir do diálogo com diferentes disciplinas (Gofmann 1963GOFFMAN, E. 1963. Behavior in Public Places: Notes on the Social Organization of Gatherings. New York: Free Press.; Lave 1988LAVE, J. 1988. Cognition in Practice: Mind, Mathematics and Culture in Everyday Life. Cambridge: Cambridge University Press.; Levinson 1988; Latour 1985______. 1985. Visualisation and Cognition: Thinking with eyes and hands. In: Kuklick, H. (Org.). Knowledge and Society Studies in the Sociology of Culture Past and Present. Stamford: Jai Press 6. p. 1-40.; Hutchins 1995HUTCHINS, E. 1995. Cognition in the Wild. Cambridge: MIT Press.; Goodwin 2000GOODWIN, C. 2000. Action and Embodiment Within Situated Human Interaction. Journal of Pragmatics 32:1489-1522.; Goodwin & Goodwin 2004______; GOODWIN, M. H. 2004. Participation. In: Duranti, A. (Org.). A Companion to Linguistic Anthropology. Oxford: Blackwell. p. 222-244.), nos últimos anos. Nesse sentido, dois textos ilustrativos do tipo de questão espacial que tem interessado à Linguística Aplicada (doravante LA) são os trabalhos de Mondada (2008)MONDADA, L. 2008. Relações entre espaço, linguagem, interação e cognição: uma perspectiva praxeológica. In: Signorini, I. (org.). Situar a Lingua(gem). São Paulo: Parábola. p. 67-90. e Blommaert (2008)BLOMMAERT, J. 2008. Contexto é/como crítica. In: Signorini, I. (org.). Situar a Lingua(gem). São Paulo: Parábola. p. 93-115..

A primeira, assumindo uma perspectiva praxeológica, segundo a qual se enfatiza a dimensão localmente situada das atividades cognitivas, ocupa-se da apreensão da espacialidade na ação, na relação palavra e prática. Logo, pensa o espaço não como uma determinação predefinida da ação, mas como um recurso para a própria ação. Apesar de reconhecer as contribuições vindas de áreas distintas, Mondada entende que é ainda preciso aprofundar uma abordagem praxeológica do espaço que abarque, ao mesmo tempo, a materialidade e a plasticidade tanto exterior à interação quanto configurada pela interação, sem que se reifique a dimensão espacial ou proponha qualquer forma de determinismo espacial.

Blommaert (2008)BLOMMAERT, J. 2008. Contexto é/como crítica. In: Signorini, I. (org.). Situar a Lingua(gem). São Paulo: Parábola. p. 93-115., discutindo como concepções de contexto têm sido utilizadas em tendências críticas da análise do discurso (Análise do Discurso e Análise Crítica do Discurso), aponta que um dos problemas metodológicos mais significativos na análise do discurso de um modo geral é a questão do enquadramento do discurso em seleções particulares de contextos. Para o autor, o contexto é geralmente apenas o pano de fundo da análise do discurso; ainda que propostas conexões em torno do texto e do contexto, ambos permanecem como unidades distintas. Como consequência desse tipo de abordagem, a exemplo da Análise Crítica do Discurso, tem-se que as relações de poder acabariam sendo sempre predefinidas pelo analista por meio de narrativas contextuais para, em seguida, serem confirmadas por traços do discurso. Para Blommaert, concepções de contexto, em vez de serem vistas como contribuições referenciais diretas ao significado textual, precisam ser interpretadas como as próprias condições para a produção e para a interpretação do discurso (2008:112).

Não abrir a dimensão espacial à crítica tem como implicação visões e apreensões simplificadas do contexto, em que a dimensão descritiva do espaço, referente à ordem representacional, acaba sendo priorizada em relação às dimensões materiais e empíricas. Nesse sentido, Blommaert (2008)BLOMMAERT, J. 2008. Contexto é/como crítica. In: Signorini, I. (org.). Situar a Lingua(gem). São Paulo: Parábola. p. 93-115. postula que é preciso mudar o foco da explicação do texto para a explicação da sociedade através do texto. Na mesma direção, (Mondada 2008MONDADA, L. 2008. Relações entre espaço, linguagem, interação e cognição: uma perspectiva praxeológica. In: Signorini, I. (org.). Situar a Lingua(gem). São Paulo: Parábola. p. 67-90.:77) defende que interessa menos o espaço enquanto objeto de discurso que o espaço em que se ancora o discurso. Em outros termos, a autora pontua que é preciso ultrapassar uma noção de espaço que sirva simplesmente de moldura à interação para que passem a ser objeto de análise também a sua estrutura, disposição, transformação, e sua ocupação pela ação.

É, por sua vez, a complexidade da realidade social que caracteriza as sociedades ditas modernas, especialmente no que diz respeito às consequências espaciais da cultura digital ou cibercultura, que tem tornado evidente e imperativa a necessidade de teorizarmos sobre o espaço no campo de estudos da LA. Isso porque, mais do que em qualquer época anterior, o meio digital não somente potencializa em termos quantitativos e qualitativos a nossa experiência espacial como também a torna crítica, uma vez que as fronteiras entre espaços tidos como discretos, como o online e off-line, tornam-se empiricamente tênues e porosas (Leander 2008LEANDER, K. 2008. Toward a Connective Ethnography of Online/Offline Literacy Networks. In: COIRO, J. et al. Handbook of Research on New Literacies. New York: Routledge.).

Soma-se a isso o fato de que o meio digital nos convoca a termos que lidar com o fenômeno da "multiterritorialidade" (Haesbaert 2009: 2-3). Isto é, com a possibilidade da "vivência concomitante ou sucessiva de múltiplos territórios na composição de nossa territorialidade1 1 . Por territorialidade entendo "a multidimensionalidade do vivido territorial", que se expressa por meio de um conjunto de relações de poder, funcionais e/ou simbólicas entre sociedade e espaço (Haesbaert; Mondardo, 2010:30). ", de forma que, devido em grande medida às tecnologias digitais da informação e da comunicação (TDIC), hoje podemos ter espaços distantes em uma mesma temporalidade, como ocorre em situações de comunicação entre sujeitos que, apesar de distantes fisicamente, encontram-se no mesmo tempo e lugar de uma determinada plataforma de interação virtual.

Em consequência dessa compressão espaço-temporal, não somente relações que anteriormente se faziam "aqui-e-agora" podem ser espacialmente dissociadas e reencaixadas em outra configuração e/ou escala espacial (Haesbaert 2009:160) em dimensões jamais imaginadas, mas é também possível ao sujeito fazer-se presente em vários lugares ao mesmo tempo. Mais do que isso, o que antes era visto como um único lugar passa a ser encarado, na verdade, como uma miríade de territórios. Haesbaert afirma que, por trás do fenômeno da multiterritorialidade, é a própria concepção de contexto que está sendo alterada, haja vista que "cada vez mais a dinâmica social se efetiva em relação a outros níveis espaciais, outros pontos de referência, muitas vezes completamente alheios às circunstâncias locais ou de contato face a face" (2009:159).

À luz dos argumentos até aqui explicitados, alinho-me à preocupação espacial de Mondada (2008)MONDADA, L. 2008. Relações entre espaço, linguagem, interação e cognição: uma perspectiva praxeológica. In: Signorini, I. (org.). Situar a Lingua(gem). São Paulo: Parábola. p. 67-90. e Blommaert (2008)BLOMMAERT, J. 2008. Contexto é/como crítica. In: Signorini, I. (org.). Situar a Lingua(gem). São Paulo: Parábola. p. 93-115., e aproximo-me dos teóricos da virada espacial, para defender que o campo aplicado de estudos da linguagem não pode mais se furtar de tomar o espaço como objeto de estudo e como categoria epistemológica e filosófica para a compreensão das práticas de linguagem, cada vez mais híbridas (Garcia-Canclini 2008GARCIA-CANCLINI, N. 2008. Leitores, espectadores e internautas. São Paulo: Editora Iluminuras.), que caracterizam o mundo contemporâneo. No entanto, entendo que, em nossa área, nos faltam (ainda) aparatos tanto conceituais quanto analíticos que nos permitam discorrer sistematicamente sobre a dinâmica viva do espaço, reconhecendo-a em sua contingência e complexidade, e elevá-lo ao mesmo status ontológico atribuído àquilo que temos denominado de social e de histórico (Lefebvre 1991LEFEBVRE, H. 1991. The Production of Space. Cambridge, MA: Blackwell.).

É na humilde tentativa de dar conta, sempre provisoriamente, dessa lacuna que convido o leitor(a) para, daqui em diante, voltar-se para outros espaços (e/ou espaços outros) - como quem rola pela escada proibida de Borges à procura do Aleph, na esperança de delinear uma inteligibilidade alternativa para pensarmos a relação espaço e significação na e para além da Linguística Aplicada. Filio-me, assim, à proposta de Pennycook (2010)PENNYCOOK, A. 2010. Critical and Alternative Directions in Applied Linguistics. Australian Review of Applied Linguistics 33/2:16.1-16.16. de engajamento com práticas problematizadoras como forma de constantemente questionarmos os termos e os quadros com os quais, como linguistas aplicados, construímos racionalidade acerca das práticas de linguagem.

Para tanto, nas seções que se seguem, a partir de um diálogo com teóricos da disciplina tida como mãe do espaço - a Geografia (Lefebvre 1991LEFEBVRE, H. 1991. The Production of Space. Cambridge, MA: Blackwell.; Soja 1996______. 1996. Thirdspace. Journeys to Los Angeles and other real-and-imagined places. Oxford: Blackwell Publishing.; Thrift 2003THRIFT, N. 2003. Space: the fundamental stuff of geography. In: Holloway, S; Rice; S; VALENTINE, G. (eds.). Key concepts in geography. London: Sage. p. 95-108.; Massey 2005______. 2005. For Space. London: Sage Publications.), articulo os fundamentos para uma nova interpretação espacial aos estudos da linguagem, a qual busca: i) reivindicar o papel ativo e performativo do espaço nas práticas sociais, mais especificamente nas práticas de construção de sentido ou significação, tomadas aqui sob o enfoque dos estudos de letramento (Brandt; Clinton 2002BRANDT, D; CLINTON, K. 2002. Limits of the Local: Expanding Perspectives on Literacy as a Social Practice. Journal of Literacy Research 34/3:337-356.; Street 2003STREET, B. 2003. What is New in the New Literacy Studies. Critica approaches to literacy in theory and practice. Current Issues in Comparative Education 5/2:77-91.; Barton; Hamilton 2005BARTON, D; HAMILTON, M. 2005. Literacy, Reificationand the Dynamics of Social Interaction. In: Barton, D; Tusting, Karin. (Eds.). Beyond Communities of Practice: Language, Power, and social Context. Cambridge University Press.; Leander 2002; Leander; Lovvorn 2006______; Lovvorn, J. F. 2006. Literacy Networks: Following the Circulation of Texts, Bodies, and Objects in the Schooling and Online Gaming of Youth. Cognition and Instruction 24/3:291-340.; Buzato 2012b______. 2012b. Letramentos em Rede: textos, máquinas, sujeitos e saberes em translação. Revista Brasileira de Linguística Aplicada 12/4:783-809.; 2012b); ii) conciliar, de maneira não contínua, as dimensões tanto simbólicas quanto materiais que entram em cena em tais práticas. Em seguida, com base nessa articulação teórica, proponho uma abordagem metodológica incipiente para o estudo do que chamo de "espaço retórico".

Viagens à Geografia e Outros Espaços - O espaço social, O espaço das redes

Segundo o geógrafo Henri Lefebvre (1991)LEFEBVRE, H. 1991. The Production of Space. Cambridge, MA: Blackwell. o estudo do espaço é complexo demais para ficar restrito a uma única área de investigação, haja vista que todo espaço é sempre uma prática social dinâmica constituída de dimensões simbólicas e materiais/concretas. Dizer que o espaço é uma prática (Lefebvre 1991LEFEBVRE, H. 1991. The Production of Space. Cambridge, MA: Blackwell.; Soja 1989SOJA, E. 1989. Geografias Pós-Modernas: A reafirmação do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor.; 1996______. 1996. Thirdspace. Journeys to Los Angeles and other real-and-imagined places. Oxford: Blackwell Publishing.; Massey 2005______. 2005. For Space. London: Sage Publications.) significa abandonar a ideia de que o espaço existe como um todo coerente onde tudo está disposto e encaixado, um contêiner fixo onde os fenômenos das mais diversas ordens ganham vida; ao contrário, implica em reconhecer que todo espaço é uma construção emergente, em constante negociação, por isso aberta a disputas, dominações e resistências.

O espaço como prática social resulta como efeito de um conjunto de inter-relações de redes complexas e híbridas (Thrift 2003THRIFT, N. 2003. Space: the fundamental stuff of geography. In: Holloway, S; Rice; S; VALENTINE, G. (eds.). Key concepts in geography. London: Sage. p. 95-108.; Massey 2005______. 2005. For Space. London: Sage Publications.) que conectam em coletivos elementos da ordem do concreto e físico - espaço percebido, da ordem do representacional ou simbólico - espaço concebido, e da ordem empírica - espaço vivido (Lefebvre 1991LEFEBVRE, H. 1991. The Production of Space. Cambridge, MA: Blackwell.). É na dimensão viva do espaço, ou seja, no espaço tal qual vivido por seus usuários, que as dimensões simbólicas e materiais (tomadas distintivamente somente em termos abstratos por razões analíticas) articulam-se no que Soja (1996)______. 1996. Thirdspace. Journeys to Los Angeles and other real-and-imagined places. Oxford: Blackwell Publishing. chama de "terceiro espaço," fazendo do espaço uma experiência única para cada sujeito, um acontecimento, uma prática co-produtora do mundo social (Thrift 2003THRIFT, N. 2003. Space: the fundamental stuff of geography. In: Holloway, S; Rice; S; VALENTINE, G. (eds.). Key concepts in geography. London: Sage. p. 95-108.).

Em outros termos, isso equivale a postular que o espaço não existe como uma ordem dada a priori; porém apenas enquanto uma articulação e feixe de relações, ou seja, um conjunto de natureza rizomática formado por trajetórias simultâneas de gêneses distintas que se encontram num mesmo ponto para formar uma determinada configuração espacial. "O espaço é criado a partir de grandes enredamentos, de incríveis complexidades, de interligações e não interligações, e de redes de relações a cada escala do local ao global [tradução minha]" (Massey 1994______. 1994. Space, place and gender. Minneapolis: University of Minnesota Press.:265).

O que faz o espaço visível nesse conjunto de relações é a simultaneidade. Porém uma simultaneidade não estática, apesar de absoluta. Como resultado do postulado de que o espaço é fruto de relações sociais, Massey afirma que a esfera espacial não pode ser destituída de poder e simbolismo, ou seja, "de uma rede complexa de relações de dominância e subordinação, de solidariedade e cooperação", [tradução minha], que ela denomina de "geometria de poder" (Massey 1993MASSEY, D. 1993. Power Geometry and a progressive sense of place. In: Bird, J; Curtins, T; Putnan, G; Robertson & L. Tickner. (Eds.). Mapping the Futures. London: Routledge.).

O fato do espaço ser resultante de uma série de relações entre elementos inerentemente híbridos (Thrift 2003THRIFT, N. 2003. Space: the fundamental stuff of geography. In: Holloway, S; Rice; S; VALENTINE, G. (eds.). Key concepts in geography. London: Sage. p. 95-108.), articulados a partir de trajetórias (ou histórias) específicas (Massey 2005______. 2005. For Space. London: Sage Publications.), nos coloca uma complexidade com a qual somente é possível lidar sob a ótica de epistemologias transfronteiras que abarquem o simbólico e o material de uma perspectiva integradora. No âmbito dos estudos em nossa área, tal atitude significa filiar-se a abordagens transdisciplinares (Signorini; Cavalcanti 2004SIGNORINI, I; CAVALCANTI, M. C. (orgs.). 2004. Linguística Aplicada e Transdisciplinaridade. Campinas: Mercado de Letras.) ou indisciplinares (Moita Lopes 2008) de se fazer Linguística Aplicada. Ainda que a diferença epistemológica entre essas abordagens tenha sido tema de discussão nos últimos tempos (Moita Lopes 2004; Leffa 2006LEFFA, V. 2006. Transdisciplinaridade no ensino de línguas. A perspectiva das teorias da Complexidade. Revista Brasileira de Linguística Aplicada 6/1:27-49.; Severo; Paula 2010; Scheifer 2013SCHEIFER, C. L. 2013. Transdisciplinaridade na Linguística Aplicada: Um processo de desreterritorialização, um movimento do terceiro espaço. Revista Brasileira de Linguística Aplicada 13/3:919-939.), não é de meu interesse aqui pontuar tais diferenças, apenas marcar que, em virtude da natureza complexa do espaço, o seu estudo demanda percursos de investigação que apostem na "metáfora da trama movente" (Fabrício 2008FABRÍCIO, B. F. 2008. Linguística Aplicada como espaço de desaprendizagem: Redescrições em curso. In: Moita Lopes, L. P. (Org.). Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. 2ª ed. São Paulo: Parábola. p. 45-65.) como forma de se construir conhecimento.

Nesse sentido, além do diálogo com a Geografia, aproximações com a Teoria Ator-Rede (TAR) (Latour 2005LATOUR, B. 2005. Reassembling the Social: An introduction to actor-network-theory. New York: Oxford University Press.) podem ser profícuas para pensarmos uma abordagem teórica e metodológica que nos permita estudar as redes heterogêneas das quais o espaço resulta sempre como um efeito. A TAR se ocupa de redes heterogêneas, já que constituídas de atores humanos e não humanos. Uma rede heterogênea corresponde a uma prática social porque congrega entidades de tipos distintos (humanas e não humanas, concretas e abstratas, materiais e imateriais) que não possuem qualquer qualidade inerente; ao contrário, adquirem forma e funcionalidade de acordo com as relações que estabelecem com outras entidades dispersas na rede (cf.: Buzato 2012b______. 2012b. Letramentos em Rede: textos, máquinas, sujeitos e saberes em translação. Revista Brasileira de Linguística Aplicada 12/4:783-809.:787).

Dito de outro modo, entidades distintas trabalham e se definem por uma dinâmica relacional, razão pela qual se constituem como redes em si mesmas ou atores-rede. Para a teoria, o ator jamais é a origem de uma ação, mas "o alvo em movimento de um vasto conjunto de entidades pululando em sua direção" [tradução minha] (LATOUR 2005LATOUR, B. 2005. Reassembling the Social: An introduction to actor-network-theory. New York: Oxford University Press.:46), motivo pelo qual todo ator é, de fato, um ator-rede. Ainda conforme o Latour, o que conecta essas entidades em uma rede são as ações continuamente deslocadas e traduzidas na linguagem de cada um dos atores-redes relacionados.

Apesar de a TAR não ser uma teoria do espaço, trata-se uma teoria espacial, uma vez que seu "objeto" de análise são as circulações e expansões que têm como efeito uma determinada configuração relacional do social. Por essa razão, é frequentemente citada por geógrafos como Thrift (2003)THRIFT, N. 2003. Space: the fundamental stuff of geography. In: Holloway, S; Rice; S; VALENTINE, G. (eds.). Key concepts in geography. London: Sage. p. 95-108., Massey (2005) e Haesbaert (2004)HAESBAERT, R. 2004. O Mito da Desterritorialização. Do Fim dos Territórios à Multiterritorialização. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. e também por teóricos do campo da linguagem que buscam entender os letramentos como fenômenos transcontextualizadores, logo agentes produtores e organizadores de espaço-temporalidades (Clarke 2001CLARKE, J. 2001. Using Actor-Network Theories for the Study of Literacy Events and Practices in global and Local Settings. In: Anais da International Literacy Conference; Cape Town, South Africa. Cape Town; 2001. Disponível em: <http://www.literacy.uct.ac.za/Papers/ClarkePaper1.html>. Acesso em: 20 novembro 2013.
http://www.literacy.uct.ac.za/Papers/Cla...
; Haminton 2001; Brandt; Clinton 2002BRANDT, D; CLINTON, K. 2002. Limits of the Local: Expanding Perspectives on Literacy as a Social Practice. Journal of Literacy Research 34/3:337-356.; Barton; Hamilton 2005BARTON, D; HAMILTON, M. 2005. Literacy, Reificationand the Dynamics of Social Interaction. In: Barton, D; Tusting, Karin. (Eds.). Beyond Communities of Practice: Language, Power, and social Context. Cambridge University Press.; Leander; Lovvorn 2006______; Lovvorn, J. F. 2006. Literacy Networks: Following the Circulation of Texts, Bodies, and Objects in the Schooling and Online Gaming of Youth. Cognition and Instruction 24/3:291-340.; Buzato 2007BUZATO, M. E. K. 2007. Desafios Empírico-Metodológicos para pesquisas em letramentos digitais. Trabalhos em Linguística Aplicada 46/1:45-62.a; 2007b; 2009______. 2009a. Letramento e inclusão: do estado nação à era das TICs. D.E.L.T.A. 25:1-38.; 2012a______. 2012a. Práticas de letramento na ótica da Teoria Ator-Rede: casos comparados. Calidoscópio 10/1:65-82.; 2012b______. 2012b. Letramentos em Rede: textos, máquinas, sujeitos e saberes em translação. Revista Brasileira de Linguística Aplicada 12/4:783-809.; Scheifer 2014______. Espaço-temporalidade, Ressemiotização e Letramentos: Um estudo sobre os movimentos de significação no terceiro espaço. 2014. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada). Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.).

A TAR é uma abordagem filosófico-material que abarca sentido e espaço a partir de um enfoque interessante aos estudos da linguagem, visto que tanto oferece um aporte conceitual para compreendermos a construção semiótica e material do espaço quanto sugere uma abordagem metodológica espacial, através da noção de translação2 2 . A TAR assume não existir um domínio social a priori que estabeleça relações de causalidade entre elementos. Por isso, em vez de falar em interações entre humanos e não humanos, fala em translações: processos que envolvem desvios de rota no transporte e circulações de ações e articulações temporárias nas quais cada elemento expressa o interesse dos demais elementos em sua própria linguagem. A translação é uma forma de relação que não transporta causalidade, mas induz dois mediadores a coexistirem, de forma que se parecer que uma causalidade está sendo transportada significa que outros mediadores foram mobilizados para tornar esse deslocamento previsível (cf.: Latour 2005:108). , para rastrear a sua construção. Ela vem a mostrar que a produção dos fenômenos sociais inclui transportes e circulações de sujeitos, objetos, tecnologias, textos e discursos, os quais vão construindo espaço-temporalidades na medida em que se movimentam reticularmente.

Pelo fato de que tudo o que constitui a ordem social está conectado em rede, à luz dessa teoria, entende-se não haver descontinuidade entre o global e o local, a natureza e a cultura, o material e o simbólico, mas conexões por meio de dispositivos que os relacionam (Buzato 2012a______. 2012a. Práticas de letramento na ótica da Teoria Ator-Rede: casos comparados. Calidoscópio 10/1:65-82.), chamados de objetos fronteiriços (Star; Griesemer 1989), e assim trabalham para estabilizar uma determinada ordem espacial. Segundo Buzato, o termo que melhor captura a essência da TAR é "materialismo relacional" (Law 1992LAW, J. 1992. Notes on the theory of actor-network: ordering, strategy, and heterogeneity. Systems Practice 5/4:379-393.:67), "expressão que designa a asserção radical de que não existe o social fora das redes heterogêneas que colocam em relação entidades humanas e não humanas". Qualquer agrupamento denominado social - ou espacial - é sempre um movimento de associações e conexões incertas e temporárias que precisam ser continuadas para que permaneçam existindo (Latour 2005LATOUR, B. 2005. Reassembling the Social: An introduction to actor-network-theory. New York: Oxford University Press.:37).

Por estarmos localizados na Linguística Aplicada, é de nosso interesse focal os processos de ordem semiótica que se relacionam à construção do espaço. Tal preocupação encontra respaldo em Lefebvre (1991)LEFEBVRE, H. 1991. The Production of Space. Cambridge, MA: Blackwell., para quem a compreensão do espaço deve também incluir o entendimento da linguagem, já que qualquer discurso é localizado em, oriundo de e tem algo a dizer sobre um espaço. É justamente a dimensão simbólica que "coloniza" a prática espacial, transformando o espaço em lugar (Massey 1994______. 1994. Space, place and gender. Minneapolis: University of Minnesota Press.:2005______. 2005. For Space. London: Sage Publications.). Isto é, uma articulação, num determinado aqui-e-agora, de trajetórias no conjunto das geometrias de poder mais amplas que compõem o espaço (Massey 2005______. 2005. For Space. London: Sage Publications.). No entanto, Lefebvre adverte que a teoria espacial deve ir além da descrição textual para incluir também uma análise do que denomina de "textura" (1991:131) do espaço: aquilo que chama por representação.

A prática espacial, ainda que expressa em palavras, não é plenamente explicável pelo discurso. Isso porque a produção do sentido, apesar de amparada no discursivo, não é circunscrita a ele. Corroborando esse raciocínio, Lefebvre afirma que:

"uma obra monumental, como uma musical, não possui um significado (ou significados); em vez disso, apresenta um horizonte de sentido: uma multiplicidade específica ou indefinida de sentidos, uma hierarquia cambiante na qual ora um, ora outro sentido momentaneamente prevalece por meio de - e para além de - uma ação particular" [tradução minha] (1991:222).

Similarmente, (Bakhtin 1929 [1997]BAKHTIN, M. 1997[1929]. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Editora Hucitec. apud Faraco 2006FARACO, C. A. 2006. Linguagem e Diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. Curitiba: Criar Edições.) afirma que a verbalização total de um ato realizado ou evento singular é inalcançável e sempre permanecerá como algo a ser atingido, pois que "todo sistema de representação é uma espécie de espacialização que congela automaticamente o fluxo da experiência e, ao fazê-lo, destrói o que se esforça por representar" (Harvey 2010HARVEY, D. 2010. Condição Pós-Moderna. Uma Pesquisa sobre as origens da Mudança Cultural. São Paulo: Edições Loyola.:191). Assume-se, pois, que nenhum signo ideológico é inteiramente substituível por palavras. Exemplo dessa impossibilidade, para Bakhtin, é a dificuldade de se expressar adequadamente em palavras uma composição musical ou representação pictórica. Ainda assim, Bakhtin postula que "embora nenhum desses signos ideológicos seja suplantável por palavras, cada um deles, ao mesmo tempo, se apoia nas palavras e é acompanhado por elas exatamente como no caso do canto e de seu acompanhamento musical" (1929 [1997]:38).

Em face das considerações teóricas tecidas, proponho como desafio empírico-metodológico da LA destramar a textura do espaço, na medida do possível, a fim de revelar os processos semióticos que entram em cena em sua construção. Entendo que a elucidação desses processos é capaz de trazer à tona loci de poder, subjetivação, resistência e/ou dominação que, muito provavelmente, não emergiriam em análises não espaciais. Sendo assim, na seção seguinte discorrerei sobre as práticas de significação que se referem à dimensão simbólica da construção do espaço social, mais especificamente, as práticas de letramento. Em termos gerais, por letramento entendo "um conjunto de competências culturais para construir significados sociais reconhecíveis através do uso de tecnologias materiais particulares" (Lemke 2010LEMKE, J. 2010. Letramento Metamidiático: Transformando Significados e Mídias. Trabalhos em Linguística Aplicada 49/2:455-479.:456).

Ainda com base em Lemke, defendo que letramentos são práticas sociais aprendidas na participação em relações sociais, cujos sentidos nos conectam a uma rede de significados elaborados por outros. Por entender que todo letramento é sempre amparado em algum tipo de tecnologia, concordo que sua análise não pode se restringir ao que as pessoas fazem, mas deve incluir tudo aquilo com que temos relações de interdependência para sermos a complexa sociedade que somos (Lemke 2010LEMKE, J. 2010. Letramento Metamidiático: Transformando Significados e Mídias. Trabalhos em Linguística Aplicada 49/2:455-479.:459), leia-se: os elementos humanos e não humanos, que em processos articulatórios e tradutórios (Latour 2005LATOUR, B. 2005. Reassembling the Social: An introduction to actor-network-theory. New York: Oxford University Press.) formam sistemas de processos interdependentes (Lemke 2010LEMKE, J. 2010. Letramento Metamidiático: Transformando Significados e Mídias. Trabalhos em Linguística Aplicada 49/2:455-479.).

Nessa perspectiva, é válido apurar a noção ampla de letramento proposta para pensá-lo como "redes heterogêneas" (Buzato 2009______. 2009b. Letramentos, novas tecnologias e a Teoria Ator-Rede: um convite à pesquisa. Remate de Males 29/1:71-87.) em que atores humanos e não humanos vinculam-se para transformarem-se mutuamente à medida que vão agregando novos atores e fazendo-os circular, de modo a estabilizar uma determinada ordem ontológica (Buzato 2012a______. 2012a. Práticas de letramento na ótica da Teoria Ator-Rede: casos comparados. Calidoscópio 10/1:65-82.; 2012b______. 2012b. Letramentos em Rede: textos, máquinas, sujeitos e saberes em translação. Revista Brasileira de Linguística Aplicada 12/4:783-809.). Nesse sentido, Buzato pensa as circulações espaciotemporais3 3 . Espaciotemporais ou espaço-temporais. [sendo fiel à terminologia do autor] como elementos essenciais para a gestação, expansão e manutenção das práticas sociais que chamamos de letramentos.

Uma proposta de estudo do espaço social e algumas considerações empírico metodológicas

"Chego, agora, ao centro inefável de meu relato; começa, aqui, meu desespero de escritor. Toda linguagem é um alfabeto de símbolos cujo exercício pressupõe um passado que os interlocutores compartilham; como transmitir aos outros o infinito Aleph que minha temerosa memória mal consegue abarcar?(...) Além disso, o problema central é insolúvel: a enumeração, mesmo parcial, de um conjunto infinito. Naquele instante gigantesco, vi milhões de atos deleitáveis ou atrozes; nenhum me assombrou tanto como o fato de todos ocuparem o mesmo ponto, sem superposição: o que transcreverei, sucessivo, porque a linguagem o e. Algo, contudo, recuperarei (...)."

(O Aleph, Jorge Luis Borges)

Entender o espaço como uma prática social tridimensional ou tripartite (Lefebvre 1991LEFEBVRE, H. 1991. The Production of Space. Cambridge, MA: Blackwell.; Soja 1996______. 1996. Thirdspace. Journeys to Los Angeles and other real-and-imagined places. Oxford: Blackwell Publishing.), pois que envolve a inter-relação de dimensões representacionais, concretas e vividas, nos coloca o desafio de abarcar a congregação de entidades de tipos distintos nos processos de produção espacial, tais como os elementos humanos e não humanos de que nos fala Latour (2005)LATOUR, B. 2005. Reassembling the Social: An introduction to actor-network-theory. New York: Oxford University Press., e de rastrear as trajetórias das quais o espaço é resultante. No intuito de dar conta desse desafio, recorro à abordagem metodológica sugerida pela TAR, a qual consiste em tecer uma narrativa ou fazer um relato de uma translação, seguindo-se os rastros deixados na rede por um determinado ator-focal. De acordo com a teoria, a rede não é o que está sendo narrado, mas constitui a própria ferramenta de descrição (cf.: Latour 2005LATOUR, B. 2005. Reassembling the Social: An introduction to actor-network-theory. New York: Oxford University Press.:131).

Com base nos pressupostos explicitados, neste artigo, focalizo um dos eventos de letramento que compõem um projeto pedagógico interdisciplinar desenvolvido numa sala de aula do quinto ano do Ensino Fundamental. O pano de fundo desta discussão foi meu estudo de doutorado sobre as práticas de espacialização engendradas pelas práticas de letramento que caracterizaram o referido projeto. Orientada pela abordagem filosófico-material da TAR e pelo entendimento de que o espaço é uma prática social (Lefebvre 1991LEFEBVRE, H. 1991. The Production of Space. Cambridge, MA: Blackwell.; Soja 1996______. 1996. Thirdspace. Journeys to Los Angeles and other real-and-imagined places. Oxford: Blackwell Publishing.; Massey 2005______. 2005. For Space. London: Sage Publications.), tomei o projeto em questão como uma translação liderada pela professora, tendo como atores-focais os elementos participantes dos eventos de letramento4 4 . Por eventos de letramento entende-se tradicionalmente "qualquer situação em que a escrita é parte integrante da natureza das interações entre os participantes e de seus processos de interpretação" (Heath 1982: 93) [tradução minha]. que compuseram os recortes analíticos feitos para fins de estudo.

Nessa translação, levei em conta o papel de elementos humanos e não humanos, a fim de identificar e descrever quem e o que estava agindo para que os sentidos fossem construídos e estabilizados (ou não). Ademais, somada a essa abordagem, desenvolvi uma metodologia para o mapeamento do espaço retórico, que consiste na criação de referenciais gráficos que servem para permitir a visualização das trajetórias de significação que orientam a direção dos sentidos na construção do espaço social. A seguir, após fornecer informações sobre toda a atividade, discorro sobre parte de um desses eventos: a visita a uma emissora de rádio, em que o grupo de crianças aprende sobre o funcionamento de uma emissora de rádio. No recorte apresentado, busco apresentar uma proposta de análise espacial pautada pelos referenciais teóricos até aqui discutidos.

Contextualização: Em sala de aula, alunos fazem a leitura do ponto "Ciência, Tecnologia e Sociedade", no livro didático de Ciências. Após essa atividade, a professora sintoniza um aparelho de rádio em diferentes emissoras. Em seguida, pergunta às crianças sobre quais emissoras conhecem. A professora apresenta "O Livro das Invenções" à classe e lê brevemente sobre a história do radio aos alunos. Após estudaram sobre a história do rádio, as crianças fazem uma saída de campo até uma emissora de rádio local, acompanhadas da professora e da coordenadora pedagógica da escola. Na emissora, aprendem sobre o real funcionamento de uma rádio. Durante a visita, as crianças fazem perguntas, anotações sobre questões que consideram interessantes e algumas tiram fotos.

Atores humanos focalizados: Alunos (As), Professora (P), Coordenadora pedagógica (C), Gerente da emissora de rádio (G).

Ações: Antes de saírem para o passeio, a professora orienta a classe a tomar nota sobre o que observarem durante a visita. Os alunos deslocam-se até à emissora em condução fretada. Todos estão munidos de caderno e caneta, e alguns também de máquinas fotográficas. Na rádio, as crianças são recebidas pelo gerente da emissora, que as conduz na visita, provendo explicações sobre o funcionamento e programação da rádio. Na lousa de seu escritório, o gerente ensina sobre a diferença entre os sinais AM e FM aos alunos. O grupo caminha pelas instalações da emissora e assiste à transmissão de um programa ao vivo. As crianças ouvem as explicações e fazem perguntas cujas respostas vão sendo acrescentadas aos seus registros.

Atores não humanos focalizados: Livro das Invenções, caderno, caneta, máquina fotográfica, lousa, anotações sobre a visita, equipamentos do estúdio de gravação da emissora (computadores, mesa moduladora, telefone, entre outros).

Figura 01
O estúdio e a torre

Figura 02
Do estúdio para a torre

Figura 03
Sistema por link

Figura 04
Explicando o sistema

No excerto 1a, a pergunta posta pela professora, na linha 1 ("A gente ouve o rádio, mas como é que é o espaço, como é que é a rádio por dentro, é um espaço muito grande, é um espaço pequeno? Como é que funciona essa emissão das ondas até chegar a nossa casa? Como é que acontece essa, entre aspas, mágica?"), é reformulada, de maneira mais sucinta, pelo gerente da rádio na linha 4 ("como é que funciona, então, o rádio"). A partir disso, começa um conjunto de movimentos de significação que buscam responder a essa questão.

Excerto 1a

Num primeiro plano de análise, já de saída, o enunciado da professora revela a polissemia do termo rádio, marcada pelo gênero do artigo definido que antecede esse vocábulo, podendo conotar tanto um artefato ou aparelho sonoro, um meio de comunicação, ou um sítio físico. A "mágica" (linha 1) a que ela se refere parece concernir, pois, ao fato de desses três sentidos, ainda que distintos, compreenderem facetas de um mesmo fenômeno mais amplo.

Figura 05
Negociando os sentidos de rádio

Ainda no excerto 1a e 1b, os enunciados do gerente retomam esses três sentidos implícitos na fala da professora. Na medida em que ele fala e desenha (excerto 1a, linha 4 e excerto 1b, linhas 5 e 7) na lousa de seu escritório, esses sentidos do termo rádio vão concorrendo e sendo postos em negociação, conforme o esquema abaixo (figura 06). A transição entre esses sentidos é feita através da referência no enunciado a elementos concretos (microfone, transmissor). Ou seja, é a referência ao microfone que nos permite ir do sentido de rádio como sítio físico ao de rádio como meio de comunicação. Do mesmo modo, é a referência ao transmissor que reconecta o sentido de rádio como meio de comunicação ao de rádio como aparelho sonoro.

Excerto 1b

Figura 06
Reformulação (a)

Todos esses sentidos de rádio correspondem a figurativizações de um mesmo ator (rádio), ou seja, microfone, transmissor, antena são figurativizações da "mágica do radio". Em princípio, o rádio é, para a classe, um mistério. Sabe-se o que entra e o que sai dele, e sabe-se que é sempre assim que ele funciona, porém as complicações internas são invisíveis, e, na realidade, também pouco interessam para o ouvinte. Ao prover explicações sobre o funcionamento do rádio, o que o gerente faz é descortinar esse mistério. No entanto, ele não consegue transmitir todos os sentidos em palavras, nos termos dos meninos, então simplifica, usando figurativizações análogas, como o radinho de polícia (excerto 1b, linha 5). Ele parece estar incerto quanto à capacidade das crianças de acompanhar a complexidade de sua explicação, e por isso pergunta se está "claro" (excerto 1b, linha7).

Num segundo plano de análise, a explicação provida pelo gerente no excerto 1a e 1b apoia-se nos desenhos (figuras 01 a 04) que, nesse contexto enunciativo, fazem mais do que meramente ilustrar a sua fala. A torre (excerto 1a, linha 4) aparece como um elemento que está, ao mesmo tempo, "aqui" e "lá" (figura 04). O elemento dêitico "aqui" refere-se ao desenho na lousa e também ao espaço de representação (espaço concebido) que o gerente está forjando (figura 07). Já o vocábulo "lá" tem a função dêitica de referir-se ao espaço concreto (espaço percebido), o distrito industrial, provavelmente um lugar para as crianças habituadas a transitar pela cidade ainda não plenamente apropriada, transformada em lugar, pelo gerente, que está na região apenas "há um ano" (linha 4).

Figura 07
Reformulação (b)

Os desenhos são aliados convocados pelo gerente para criar um espaço mental coletivo - um espaço de representação, e ao mesmo tempo organizar o seu próprio espaço mental. Eles funcionam como referências visuais que ressignificam, nesse plano, os argumentos verbais - mas não têm apenas essa função. Na figura 08, o movimento da voz "daqui" para "aqui" é visualmente amparado pela direção em que se move o cabo desenhado, que, na representação gráfica, assume a aparência de seta. É válido destacar que a torre, agora, não está mais "lá", no espaço concreto (espaço percebido), mas "aqui", na lousa, no espaço (sendo) concebido. Ademais, os desenhos são esquemáticos, sintetizam e extirpam os detalhes contextuais e os afetos do espaço vivido, privilegiando somente a forma e o conceito.

Figura 08
A direção das ondas

Os desenhos também têm a função de traduzir o pensamento que não chega a ser verbalizado. No recorte abaixo, a oração coordenada adversativa introduzida pela conjunção adversativa "mas" (excerto 1a, linha 5) estabelece um contraste entre um fato expresso verbalmente e outro expresso visualmente no desenho. Isto é, o horizonte de sentido posto pela introdução da conjunção "mas" no referido enunciado permanece aberto no plano linguístico, completando-se somente no plano semiótico visual.

Figura 09
Contrapondo sistemas

No excerto 1c, segundo a ilustração seguinte, novamente os desenhos aparecem funcionando como referenciais visuais que complementam os argumentos verbais do gerente. Na linha 17, após definir o significado de AM ("amplitude modulada"), o gerente explica o seu funcionamento graficamente. Na linha 17, o pronome demonstrativo "esta", acrescido da preposição "de", forma uma contração ("desta") cujo referente só pode ser recuperado visualmente. Com isso, é introduzida a distinção gráfica sobre a qual se justifica a diferença na forma de operação das ondas AM e FM ("Por isso a diferença de sinal") (excerto 1c, linha 19).

Excerto 1c

Figura 10
Sinal AM

Figura 11
Diferença entre sinais AM e FM

O gesto em que o gerente move o braço em movimentos ondulares (figura 12), explicando a direção das ondas do tipo AM no ar, coloca o seu corpo em cena como um outro ator que trabalha para garantir a inscrição das crianças na sua translação, uma vez que o gerente parece não ter diretamente acessível o vocabulário que lhe permitisse colocar tal explicação em termos linguísticos. Com esse gestual, ele aproxima a representação do que, de fato, é uma onda de rádio: um movimento, não uma substância. Observa-se, deste modo, uma sequên-cia de movimentos de significação nos quais o sentido de AM é, da fala, ressignificado em forma de desenho na lousa para, então, ser retomado gestualmente.

Figura 12
Gestual das ondas FM

No excerto 1d, o sentido de rádio, até o momento negociado em termos de aparelho sonoro, meio de comunicação e sítio físico, recebe uma nova figurativização: a de empresa "comercial" (excerto 1d, linha 21), que segue um determinado modelo de negócios em que certos produtos são vendidos e, a partir disso, os funcionários "têm que se pagarem", sendo estabelecido entre eles um "ranking" de vendas, em que os melhores colocados são recompensados pela rádio - empresa. Ainda que afirme, na linha 21, que a rádio é comercial, o gerente não chega a dizer que a emissora objetive o lucro. Em vez disso, expurga os outros possíveis sentidos de vender e diz que "a emissora tem que se manter".

Excerto 1d

A pergunta colocada pela professora na linha 22 ("Rádio dá pra vender alguma coisa? Que será que a rádio vende, hein?"), reforça esse novo sentido, instituindo a rádio como agente de relações de venda (logo também de compra) e, consequentemente, associando-a ao sistema capitalista que, em última instância, visa ao lucro. O aluno, por conseguinte, inscreve-se nessa nova translação ao corroborar o sentido comercial, indicando que o objeto dessa relação de venda e compra é a promoção de outras relações comerciais, que se dão através da divulgação de anúncios publicitários que objetivam angariar consumidores para seus anunciantes. Em outros termos, A10 indica que o que o rádio vende é informação: o telefone e a localização de um determinado estabelecimento (linha 23), por exemplo.

Neste momento, o menino constrói a distinção entre loja e rádio, assumindo que ambos vendem, mas um vende produtos e a outro diz onde os produtos podem ser comprados. Muito possivelmente, essa sutil distinção entre vender como comercializar e vender como metáfora para "fazer propaganda" não tenha sido saliente para a professora e para o gerente. O que a colocação de A10 faz é reabrir esse espaço semântico, apontando para um terceiro espaço onde os posicionamentos estão todos prontos para serem questionados.

Figura 13
Reformulação b

No contexto jornalístico, tal associação semântica é perigosa, visto que pode vincular o rádio (e a rádio) a interesses financeiros que comprometam a sua idoneidade como meio de comunicação e instância jornalística que está eticamente posicionada acima de interesses de ordem comercial. Isso justifica a retificação feita pelo gerente, a partir do enunciado da professora, de que a "função do rádio", pelo menos a "principal", é "informar" (linha 25), não vender em sentido comercial, como equivocadamente possa ter ficado subentendido. Em outros termos, a pergunta colocada pela professora ameaça romper a translação em que o gerente está tentando inscrever o grupo. Ela abre a discussão a um novo horizonte semântico, colocado pelo verbo "vender". Através da expressão "olha só" (linha 25), o gerente retoma seu eixo discursivo e, com isso, tenta manter todos em sua translação.

Nos movimentos de significação descritos neste evento, temos uma sequência de reformulações semióticas que buscam responder à questão inicialmente posta pela professora, e reelaborada pelo gerente da emissora, quanto ao funcionamento do rádio (excerto 1ª, linha 1 e 4). Mobilizando a lousa e a caneta como atores que embutem ao gerente provisoriamente o papel de professor, ele reespacializa a rádio, seu escritório de trabalho, transformando-o em espaço de aprendizagem. O "espacinho" (excerto 1a, linha 4) que ele encontra na lousa, cheia de anotações referentes à rotina de trabalho, significa, nesse contexto, a apropriação simbólica e material do espaço oficial da rádio.

Por vezes, a fala do gerente conecta a sua translação (que se refere a responder à questão inicial) a uma translação maior, em que o rádio faz parte de um conjunto de meios de comunicação que fazem do Brasil "um país muito rico em comunicações", um país que vê o investimento em comunicações como sinônimo de desenvolvimento, a exemplo da citada implementação do sistema digital no lugar do sistema analógico de transmissão citado pelo gerente (excerto 1c, linha 19). Nesse sentido, o rádio é aqui apresentado como um ator que conecta a escala local do país e, em nível ainda mais local, a escala da casa, à escala global do mundo ("Acontece um jogo lá do outro lado do mundo e nós assistimos dentro de nossa casa no rádio e na tv" - excerto 1c, linha 19). Ou seja, um elemento capaz de colocar todos em uma mesma escala temporal, ao promover uma compressão espaço-temporal que suprime a distância geográfica entre o aqui ("dentro de nossa casa") e o lá ("do outro lado do mundo").

O gerente, por sua vez, também quer trazer a professora para a translação da rádio, visto que existe todo um discurso sobre responsabilidade social das empresas do segmento de comunicação. Discurso esse inclusive previsto em lei, atrelado ao fato de as rádios receberem uma concessão do governo que as autoriza funcionar. Observa-se que a professora, de algum modo, tira proveito de inscrever-se na translação do gerente e vice versa. À professora, interessa ter a rádio como uma aliada que serve a seus interesses pedagógicos; à rádio, em contrapartida, interessa ter a escola como uma aliada que garanta a sua inscrição como agência promotora de valores e interesses que sirvam ao desenvolvimento social e educativo da região de sua abrangência.

Considerações iniciais

"Na parte inferior do degrau, à direita, vi uma pequena esfera furta-cor, de um fulgor quase intolerável. No início, julguei-a giratória; depois compreendi que esse movimento era uma ilusão produzida pelos vertiginosos espetáculos que encerrava. O diâmetro do Aleph seria de dois ou três centímetros, mas o espaço cósmico estava ali, sem diminuição de tamanho. Cada coisa (a lâmina do espelhos, digamos) era infinitas coisas, porque eu via claramente de todos os pontos do universo (...) Senti uma infinita veneração, infinita pena.

- Você deve ter ficado zonzo de tanto xeretar onde não é chamado - disse a voz detestada e jovial (...)".

(O Aleph, Jorge Luis Borges)

As espacializações implicadas no breve recorte do evento de letramento descrito corroboram o argumento de que os letramentos (e as tecnologias a eles atribuídas) são tanto produzidos como produtores de práticas espaciais, logo, também de letramentos, sujeitos, contextos e sentidos. Ilustrativo dessas espacializações é o modo como os desenhos feitos pelo gerente na lousa de seu escritório, ao privilegiarem o espaço concebido (espaço de representação), suprimem o espaço vivido, o que, é válido dizer, constitui uma estratégia espacial característica das práticas escolares, de um modo geral.

Tal conclusão somente surge à vista porque a perspectiva espacial proposta nos concede as ferramentas conceituais e analíticas que tornam possível traçar e visualizar as circulações de sentidos, objetos, discursos, corpos e sujeitos movendo-se, juntos, através da rede. Essas circulações vêm a corroborar o caráter performativo do espaço, contrariando, pois, o entendimento de que o espaço existiria como um simples domínio concreto que serve de cenário às ações sócio-históricas. Além disso, nesta breve análise, foi possível mostrar que a espacialidade, ainda que ancorada no discursivo não está circunscrita ao simbólico, uma vez que os elementos não humanos mobilizados (como a lousa), referentes à dimensão concreta da prática espacial, tem papel coprodutor na construção do espaço social.

Soma-se a isso o papel dos gestos nesse processo, trazendo à tona a dimensão corpórea como constituinte das práticas espaciais. A problematização do espaço proposta no estudo empírico corrobora os argumentos levantados na discussão teórica de que o espaço é performativo e dinâmico. No que se refere especificamente às reflexões sobre o aspecto contextual das práticas sociais, aponta para o fato de que o contexto, longe de ser uma dimensão dada e estática, tem várias escalas e articula-se sempre como um efeito das redes híbridas fora das quais o social não existe.

Desta breve discussão, interessa também ao escopo deste trabalho destacar o fato de que os mapas semântico-enunciativos utilizados para o mapeamento do espaço retórico funcionam como argumentos visuais cujo poder analítico e descritivo agrega à análise um raciocínio espacial alternativo e, ao mesmo tempo, complementar à linearidade da narrativa escrita referente à descrição da rede. Reconheço, entretanto, que esses mapas, ainda que sejam uma estratégia de reespacialização da narrativa escrita, são também espaços de representação e, como qualquer representação, correspondem sempre a um gesto, diga-se de passagem inescapável aos analistas da linguagem, de capturar e territoriazilar o vivido. Ainda assim, revozeando Borges em O Aleph - "o lugar onde estão, sem se confundirem, todos os lugares do planeta, vistos sob todos os ângulos", cabe lembrar: Algo, contudo, (sempre) recuperaremos.

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  • 1
    . Por territorialidade entendo "a multidimensionalidade do vivido territorial", que se expressa por meio de um conjunto de relações de poder, funcionais e/ou simbólicas entre sociedade e espaço (Haesbaert; Mondardo, 2010______; MONDARDO, M. 2010. Transterritorialidade e Antropofagia: territorialidades de trânsito numa perspectiva brasileiro-latino-americana. GEOgraphia 24:19-50.:30).
  • 2
    . A TAR assume não existir um domínio social a priori que estabeleça relações de causalidade entre elementos. Por isso, em vez de falar em interações entre humanos e não humanos, fala em translações: processos que envolvem desvios de rota no transporte e circulações de ações e articulações temporárias nas quais cada elemento expressa o interesse dos demais elementos em sua própria linguagem. A translação é uma forma de relação que não transporta causalidade, mas induz dois mediadores a coexistirem, de forma que se parecer que uma causalidade está sendo transportada significa que outros mediadores foram mobilizados para tornar esse deslocamento previsível (cf.: Latour 2005LATOUR, B. 2005. Reassembling the Social: An introduction to actor-network-theory. New York: Oxford University Press.:108).
  • 3
    . Espaciotemporais ou espaço-temporais.
  • 4
    . Por eventos de letramento entende-se tradicionalmente "qualquer situação em que a escrita é parte integrante da natureza das interações entre os participantes e de seus processos de interpretação" (Heath 1982: 93) [tradução minha].

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2015

Histórico

  • Recebido
    Out 2014
  • Aceito
    Out 2014
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