Acessibilidade / Reportar erro

O contato linguístico e a aquisição da linguagem: considerações sobre a produção variável da concordância de número no português brasileiro1 1 Trabalho desenvolvido como parte de estágio pós-doutoral no Laboratório de Psicolinguística e Aquisição da Linguagem (LAPAL) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), financiado por meio do Prêmio CAPES de Tese 2019 (88887.495101/2020-00). ,2 2 Agradeço aos pareceristas pelas contribuições e sugestões e também a Marina Augusto e Letícia Corrêa pelas trocas de ideias que deram origem a este artigo. Agradeço, principalmente, a Igor Costa pelas várias discussões e sugestões com base em versões preliminares do texto que contribuíram para sua melhoria. Os erros que permanecem são meus.

Language contact and language acquisition: remarks on the variable production of number agreement in Brazilian Portuguese

RESUMO

O termo contato linguístico tende a remeter ao processo de mudança linguística por meio do qual se originam variedades linguísticas. Este artigo busca estender a noção de contato linguístico para a aquisição da linguagem com base em input variável - possível resultado de contato linguístico na formação do português brasileiro (PB) -, considerando fatores sociais que subjazem à variação e ao contato linguístico (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.). Para isso, discutem-se os resultados de um experimento psicolinguístico sobre a produção da concordância de número plural variável em PB por crianças em idade pré-escolar e escolar (Jakubów, 2018Jakubów, A. P. S. P. (2018). Language acquisition based on variable input The case of number agreement in Brazilian Portuguese. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=1412307_2018_Indice.html
http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/bibli...
; Jakubów & Corrêa, 2019bJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019b). Variation under a psycholinguistic perspective: Number agreement in Brazilian Portuguese and the impact of schooling. Ilha Do Desterro, 72(3), 101-122. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p101
https://doi.org/https://doi.org/10.5007/...
, 2019aJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019a). Grammar Identification Based on Variable Input: on the Production of Number Agreement by Children Acquiring Brazilian Portuguese. In C. S.-G. Pedro Guijarro-Fuentes (Ed.), Proceedings of GALA 2017 Language Acquisition and Development (pp. 11-30). Cambridge Scholars. https://www.cambridgescholars.com/proceedings-of-gala-2017
https://www.cambridgescholars.com/procee...
). Demonstra-se que os resultados sustentam a ideia de que a aquisição da linguagem necessariamente envolve contato linguístico intrafalante, gerando gramáticas híbridas (Aboh, 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
) e, consequentemente, outputs híbridos, os quais alimentam o banco de traços da população (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press.). Argumenta-se que a aquisição da linguagem é parte de uma dinâmica de evolução linguística e que processos de mudança - competição, seleção e eliminação - podem ser verificados ao longo do desenvolvimento da linguagem, configurando diferentes ecologias linguísticas.

Palavras-chave:
concordância de número variável; aquisição da linguagem; contato linguístico; ecologia linguística; português brasileiro

ABSTRACT

The term language contact is generally referred to in the literature on language change and historical linguistics to explain the emergence of new linguistic varieties. In this paper, the notion of language contact is extended to language acquisition based on variable input - a possible result of historical linguistic contact in Brazilian Portuguese (BP) -, considering the social factors that influence language variation and contact (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.). I discuss the results of a psycholinguistic experiment carried out with preschoolers and 6th graders to investigate their variable production of plural number agreement in BP (Jakubów, 2018Jakubów, A. P. S. P. (2018). Language acquisition based on variable input The case of number agreement in Brazilian Portuguese. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=1412307_2018_Indice.html
http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/bibli...
; Jakubów & Corrêa, 2019bJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019b). Variation under a psycholinguistic perspective: Number agreement in Brazilian Portuguese and the impact of schooling. Ilha Do Desterro, 72(3), 101-122. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p101
https://doi.org/https://doi.org/10.5007/...
, 2019aJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019a). Grammar Identification Based on Variable Input: on the Production of Number Agreement by Children Acquiring Brazilian Portuguese. In C. S.-G. Pedro Guijarro-Fuentes (Ed.), Proceedings of GALA 2017 Language Acquisition and Development (pp. 11-30). Cambridge Scholars. https://www.cambridgescholars.com/proceedings-of-gala-2017
https://www.cambridgescholars.com/procee...
). I argue that the results support the idea that language acquisition involves intraspeaker language contact which gives rise to hybrid grammars (Aboh, 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
) and, consequently, hybrid outputs that feed the population feature pool (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press.). I point out that language acquisition is part of a dynamics of language evolution and that mechanisms of diachronic language change - competition, selection and elimination - can be observed during language acquisition, giving rise to different sorts of language ecologies across language development.

Keywords:
variable number agreement; language acquisition; language contact; language ecology; Brazilian Portuguese

1. Introdução

Adquirir língua(s) requer exposição a input linguístico, o qual pode apresentar fenômenos variáveis (Henry, 2016Henry, A. (2016). Acquiring language from variable input. Linguistic Variation, 16(1), 131-150. https://doi.org/10.1075/lv.16.1.06hen
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
; Miller & Schmitt, 2012Miller, K. L., & Schmitt, C. (2012). Variable Input and the Acquisition of Plural Morphology. Language Acquisition, 19(December), 223-261. https://doi.org/10.1080/10489223.2012.685026
https://doi.org/https://doi.org/10.1080/...
; Samara et al., 2017Samara, A., Smith, K., Brown, H., & Wonnacott, E. (2017). Acquiring variation in an artificial language: Children and adults are sensitive to socially conditioned linguistic variation. Cognitive Psychology, 94, 85-114. https://doi.org/10.1016/j.cogpsych.2017.02.004
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
). Estudos sobre a variação da morfologia flexional do português brasileiro (PB), tanto na Sociolinguística (Gomes, 2004Gomes, C. A. (2004). Aquisição lingüística em contexto de input variável: a emergência das variantes de dativo. Revista de Estudos Da Linguagem, 12(176-190). https://doi.org/http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.12.1.175-190
https://doi.org/https://doi.org/http://d...
; Gomes et al., 2011Gomes, C. A., Pontes, M. C., Almeida, M. C., & Abreu, A. C. (2011). Variação e aquisição da flexão nominal e da flexão verbal. Gragoatá, 30, 39-54.; Lorandi, 2013Lorandi, A. (2013). Aquisição da variação: a interface entre aquisição da linguagem e variação linguística. Alfa , 57(1), 133-162. http://www.scielo.br/pdf/alfa/v57n1/07.pdf
http://www.scielo.br/pdf/alfa/v57n1/07.p...
; Lorandi & Lamprecht, 2008Lorandi, A., & Lamprecht, R. R. (2008). Processos Morfológicos na fala infantil : a percepção da gramática da língua pela criança. Anais Do CELSUL, 1-10. http://www.celsul.org.br/Encontros/08/processos_morfologicos_fala_infantil.pdf
http://www.celsul.org.br/Encontros/08/pr...
) quanto na Psicolinguística (Azalim et al., 2020Azalim, C., Marcilese, M., & Armelin, P. R. G. (2020). Concordância nominal variável e saliência fônica na produção infantil: dados naturalísticos e experimentais. Veredas - Revista de Estudos Linguísticos, 24(1), 192-221. https://periodicos.ufjf.br/index.php/veredas/article/view/30983
https://periodicos.ufjf.br/index.php/ver...
; Jakubów, 2018Jakubów, A. P. S. P. (2018). Language acquisition based on variable input The case of number agreement in Brazilian Portuguese. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=1412307_2018_Indice.html
http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/bibli...
; Jakubów & Corrêa, 2019bJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019b). Variation under a psycholinguistic perspective: Number agreement in Brazilian Portuguese and the impact of schooling. Ilha Do Desterro, 72(3), 101-122. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p101
https://doi.org/https://doi.org/10.5007/...
, 2019aJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019a). Grammar Identification Based on Variable Input: on the Production of Number Agreement by Children Acquiring Brazilian Portuguese. In C. S.-G. Pedro Guijarro-Fuentes (Ed.), Proceedings of GALA 2017 Language Acquisition and Development (pp. 11-30). Cambridge Scholars. https://www.cambridgescholars.com/proceedings-of-gala-2017
https://www.cambridgescholars.com/procee...
; Marcilese et al., 2019Marcilese, M., Name, C., Augusto, M., Molina, D., & Armando, R. (2019). Mother-tongue education, linguistic variation and language processing. Ilha Do Desterro A Journal of English Language, Literatures in English and Cultural Studies, 72(3), 17-40. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p17
https://doi.org/https://doi.org/10.5007/...
; Molina et al., 2017Molina, D., Marcilese, M., & Name, C. (2017). Ora está, ora não está: input variável e aquisição da flexão verbal de 3a pessoa do plural no PB. Matraga, 24(41), 288-309. https://doi.org/10.12957/matraga.2017.28498
https://doi.org/https://doi.org/10.12957...
) e na Teoria Linguística Gerativista (Reis, 2020Reis, M. M. (2020). Competição de gramáticas na aquisição da flexão de número pelas crianças brasileiras: Um estudo experimental sobre a produção infantil. Veredas - Revista de Estudos Linguísticos , 24(1), 166-191. https://doi.org/10.34019/1982-2243.2020.v24.30635
https://doi.org/https://doi.org/10.34019...
; Wuerges, 2014Wuerges, T. E. (2014). A Aquisição da Morfologia Verbal por Crianças Falantes de Português Brasileiro e o Uso de Formas Variantes. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-28052014-125108/pt-br.php
www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/813...
), indicam que, de maneira geral, as crianças produzem a variação (socio)linguística presente no input, isto é, há evidências de que adquirem variantes de um mesmo fenômeno linguístico. Sendo assim, no contexto de aquisição de linguagem com base em input variável, o falante parece adquirir um “mosaico de subsistemas distintos, conjuntamente disponíveis” (Weinreich et al., 2006/ 1968Weinreich, U., Labov, W., & Herzog, M. I. (2006). Fundamentos Empíricos para uma Teoria da Mudança Linguística (1ª ed., M. Bagno, Trad.). São Paulo: Parábola Editorial. (Obra original publicada em 1968), p. 103). Nesse sentido, a aquisição da linguagem a partir de exposição a input variável resulta, necessariamente, em contato linguístico (Aboh, 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
): por um lado, o contato linguístico na população/ grupo - que resulta em variação (socio)linguística - serve de input para a aquisição da linguagem; por outro lado, a variação no input acarreta subsistemas em contato na mente do falante.

Este artigo pretende, portanto, (i) estender a noção de contato linguístico presente na literatura sobre mudança linguística diacrônica para o contato linguístico intrafalante durante o desenvolvimento da linguagem; (ii) demonstrar que a aquisição da linguagem com base em input variável envolve contato linguístico e está inserida em uma dinâmica linguística que engloba aspectos sociais, históricos, populacionais e individuais e (iii) contribuir para uma discussão mais ampla sobre contato linguístico que culmina em variação linguística. Para isso, são revisitados os resultados de um experimento psicolinguístico de produção eliciada com base em repetição de sentenças (Jakubów, 2018Jakubów, A. P. S. P. (2018). Language acquisition based on variable input The case of number agreement in Brazilian Portuguese. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=1412307_2018_Indice.html
http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/bibli...
; Jakubów & Corrêa, 2019bJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019b). Variation under a psycholinguistic perspective: Number agreement in Brazilian Portuguese and the impact of schooling. Ilha Do Desterro, 72(3), 101-122. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p101
https://doi.org/https://doi.org/10.5007/...
, 2019aJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019a). Grammar Identification Based on Variable Input: on the Production of Number Agreement by Children Acquiring Brazilian Portuguese. In C. S.-G. Pedro Guijarro-Fuentes (Ed.), Proceedings of GALA 2017 Language Acquisition and Development (pp. 11-30). Cambridge Scholars. https://www.cambridgescholars.com/proceedings-of-gala-2017
https://www.cambridgescholars.com/procee...
) desenvolvido com o objetivo de investigar a produção da concordância de número plural variável na fala de participantes em idade pré-escolar e o impacto da escolarização na produção desse fenômeno variável por alunos do 6º ano do ensino fundamental. A discussão aqui proposta aponta para um percurso de desenvolvimento linguístico influenciado por input variável, um possível produto de contato linguístico na formação do português brasileiro (PB). A hipótese de trabalho é que as mudanças no curso do desenvolvimento da linguagem são resultado de um fluxo contínuo de contatos linguísticos que começa na história da formação linguística, continua na população/ grupo, é representada na mente de cada falante e retorna para a população/grupo por meio de processos de seleção, competição e eliminação (Aboh, 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
; Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.).

O fenômeno variável investigado que culmina em contato entre variantes linguísticas é a variação na concordância de número plural, amplamente estudada no PB (Brandão & Vieira, 2012Brandão, S. F., & Vieira, S. R. (2012). Concordância nominal e verbal: Contribuições para o debate sobre o estatuto da variação em três variedades urbanas do português. Alfa, 56(3), 1035-1064. http://www.scielo.br/pdf/alfa/v56n3/a13v56n3.pdf
http://www.scielo.br/pdf/alfa/v56n3/a13v...
; Guy, 1981Guy, G. (1981). Linguistic Variation in Brazilian Portuguese: Aspects of the Phonology, Syntax, and Language History. Doctoral Dissertation, University of Pennsylvania. In Dissertations available from ProQuest. http://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786%5Cnhttp://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786/
http://repository.upenn.edu/dissertation...
; Naro, 1981Naro, A. J. (1981). The Social and Structural Dimensions of a Syntactic Change. Language, 57(1), 63-98. http://www.jstor.org/stable/414287
http://www.jstor.org/stable/414287...
; Naro & Scherre, 2015Naro, A. J., & Scherre, M. M. P. (2015). Drifting Toward the Standard Language : A Panel Study of Number Concord in Brazilian Portuguese. In R. T. Cacoullos, N. Dion, & A. Lapierre (Eds.), Linguistic Variation: confronting fact and theory (p. 356). Routledge.; Scherre, 1994Scherre, M. M. P. (1994). Aspectos da concordância de número no português do Brasil. Revista Internacional de Língua Portuguesa (RILP) - Norma e Variação Do Português, 37-49. http://www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre94-number.pdf
http://www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/sch...
; Scherre & Naro, 1998Scherre, M. M. P., & Naro, A. J. (1998). Sobre a concordância de número no português falado do Brasil. In G. Ruffino (Ed.), Dialettologia, geolinguistica, sociolinguistica (Atti del XXI Congresso Internazionale di Linguistica e Filologia Romanza) (Issue 5, pp. 509-523). Max Niemeyer Verlag. www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre-naro98.pdf
www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre-na...
, 2006Scherre, M. M. P., & Naro, A. J. (2006). Mudança sem mudança: a concordância de número no português brasileiro. Scripta, 9(18), 107-129. http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/12597
http://periodicos.pucminas.br/index.php/...
; Vieira & Brandão, 2014Vieira, S. R., & Brandão, S. F. (2014). Tipologia de regras linguísticas e estatuto das variedades/ línguas: a concordância em português. Lingüística, 30(2), 81-112. www.scielo.edu.uy/pdf/ling/v30n2/v30n2a05.pdf
www.scielo.edu.uy/pdf/ling/v30n2/v30n2a0...
). A Sociolinguística Variacionista tem apresentado análises detalhadas sobre os fenômenos sociais e linguísticos que subjazem à variação da concordância de número no PB, a qual apresenta duas possibilidades que coexistem: redundante e não-redundante (exemplos (1a), (6a), (2a) e (6b) de Naro & Scherre, 2015Naro, A. J., & Scherre, M. M. P. (2015). Drifting Toward the Standard Language : A Panel Study of Number Concord in Brazilian Portuguese. In R. T. Cacoullos, N. Dion, & A. Lapierre (Eds.), Linguistic Variation: confronting fact and theory (p. 356). Routledge., p. 150):

(1) Redundante:

a. Sujeito-verbo:

Os pombos bebem água

b. Nominal:

Todas as casas

(2) Não-redundante:

a. Sujeito-verbo:

Os filho tá pedindo dinheiro

b. Nominal:

Essas besteira toda

Historicamente, por um lado, a forma não-redundante da concordância de número plural é retratada na literatura portuguesa dos séculos XV e XVI como uma das marcas características do português falado por escravizados (Alkmim, 2008Alkmim, T. (2008). Falas e cores: um estudo sobre o português de negros e escravos no Brasil do século XIX. In I. S. Lima, & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 247-264). Edições Casa de Rui Barbosa. http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/1275
http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle...
; Silva, 2003Silva, J. A. A. (2003). A concordância na “língua de preto” em Gil Vicente. Papia , 13(1), 136-138. http://revistas.fflch.usp.br/papia/article/view/1818
http://revistas.fflch.usp.br/papia/artic...
). Por outro lado, Guy e Zilles (2008Guy, G. R., & Zilles, A. M. S. (2008). Endangered language varieties: Vernacular speech and linguistic standardization in Brazilian Portuguese. In K. A. King (Ed.), Sustaining Linguistic Diversity : Endangered and Minority Languages and Language Varieties (pp. 53-66). Georgetown University Press.) indicam que a constituição, com a chegada da família real portuguesa, de um Estado no Brasil aumentou o prestígio da variante redundante da concordância de número plural. Nesse sentido, a coexistência das variantes redundante e não-redundante pode ter emergido a partir do intenso contato linguístico na formação do PB (Guy, 1981Guy, G. (1981). Linguistic Variation in Brazilian Portuguese: Aspects of the Phonology, Syntax, and Language History. Doctoral Dissertation, University of Pennsylvania. In Dissertations available from ProQuest. http://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786%5Cnhttp://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786/
http://repository.upenn.edu/dissertation...
; Lucchesi, 2008Lucchesi, D. (2008). Africanos, crioulos e a língua portuguesa. In I. S. Lima , & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 151-180). Edições Casa de Rui Barbosa. http://hdl.handle.net/20.500.11997/1275
http://hdl.handle.net/20.500.11997/1275...
, 2017Lucchesi, D. (2017). A periodização da história sociolinguística do Brasil. D.E.L.T.A. (Documentação e Estudos Em Linguística Teórica e Aplicada), 33(2), 347-382. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1590/0102-445067529349614964
https://doi.org/https://doi.org/http://d...
), perdurando até os dias atuais e configurando um contexto de aquisição de linguagem com base em input variável no que se refere à concordância de número.

O artigo está dividido da seguinte forma: na próxima seção, apresenta-se o arcabouço teórico que sustenta a análise proposta em termos de contato linguístico; na terceira seção, é apresentada uma breve revisão de literatura sobre o contato linguístico na história da formação do PB; na quarta seção, apresenta-se um panorama sobre a concordância de número variável como caracterizada pela Sociolinguística Variacionista; na quinta seção, discutem-se os resultados de um experimento psicolinguístico sobre a produção da concordância de número variável conduzido com crianças em idades pré-escolar e escolar com a finalidade de ilustrar possíveis configurações de contato linguístico ao longo do desenvolvimento da linguagem; por fim, apresenta-se a conclusão.

2. Contato linguístico e ecologia linguística

Este artigo está fundamentado na discussão teórica acerca do contato linguístico tanto na esfera populacional quanto na esfera individual; contato este que sofre influência de aspectos ecológicos - fatores sociais, ambientais, políticos e históricos - e culmina em variação linguística (Aboh, 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
; Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.).

A noção de ecologia linguística encontrada em Mufwene (2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.) parte de uma aproximação entre evolução linguística e evolução biológica. Nessa proposta teórica, ecologia é um conjunto de fatores que causa ou determina a evolução linguística (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., p. 145). Assim como a evolução biológica de base darwiniana, a evolução linguística pressupõe um mecanismo de seleção: a evolução ocorre a partir da seleção natural de opções em competição, sendo estas opções fornecidas pelos idioletos de indivíduos que compõem uma dada população (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., p. 146). Portanto, a evolução linguística acontece no nível individual e no nível populacional, ou seja, para Mufwene, os indivíduos são o agente da evolução linguística: “Porque o lugar do contato entre dialetos ou línguas é a mente do falante, a diferença entre idioletos em contato e línguas ou dialetos em contato é mais quantitativa do que qualitativa.” (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., p. 150, tradução minha).4 4 Trecho original: “Since the locus of dialect or language contact is the mind of the individual speaker, the difference between idiolect contact and language or dialect contact is more quantitative than qualitative.” (Mufwene, 2001, p. 150). Nessa perspectiva, os indivíduos formam sistemas linguísticos - línguas ou dialetos - que alimentam o que Mufwene chama de banco de traços5 5 Será utilizada a tradução de Negrão e Viotti (2012) para o termo original de Mufwene (2001)feature pool. de uma população/ grupo, uma espécie de repositório no qual traços6 6 Para Mufwene (2001, p. 1-2), sistemas linguísticos contém traços linguísticos (linguistic features) de duas naturezas: a) unidades, identificadas nos componentes fonológico, morfológico, semântico, sintático e b) princípios combinatórios e distributivos. Para o autor, há um paralelo entre traços e genes. (Mufwene, 2001, p. 2). linguísticos ficam disponíveis para a formação de novos sistemas linguísticos, sejam estes idioletos, dialetos ou línguas.7 7 Na visão de ecologia linguística, é importante perceber que as fronteiras geopolíticas que definem e distinguem línguas e dialetos, por exemplo, se perdem; todas essas configurações formam sistemas linguísticos. (Mufwene, 2001, p. 149). O contato linguístico está, portanto, no cerne desta teoria, do nível individual ao nível populacional.

No contexto de contato linguístico, Mufwene (2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group., p. 182) situa a aquisição e a transmissão de linguagem como processos centrais na evolução linguística. Para ele, os falantes não transmitem linguagem apenas verticalmente/ geracionalmente. Na verdade, o processo de transmissão ocorreria também (e até com maior frequência) horizontalmente, já que há bastante interação social do falante com seus pares. Nesse fluxo de transmissão, as línguas podem sofrer influência de fatores ecológicos e dar espaço a processos de competição e seleção que (trans)formam sistemas linguísticos.

O ponto crucial na proposta de Mufwene (2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.), e de interesse para o presente artigo, é que um indivíduo não transfere gramáticas idênticas para outros, mas gramáticas (re)construídas por meio do processo de aquisição da linguagem (Mufwene, 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group., p. 182): o aprendiz é exposto a um conjunto de inputs que é, na verdade, um conjunto de outputs produzido a partir das gramáticas individuais de cada falante de um determinado grupo. Assim, o aprendiz seleciona e (re)constrói informações linguísticas a partir desse input (conjunto de vários outputs) para gerar sua própria gramática.

Baseando-se na proposta de Mufwene (2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.), Aboh (2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., p. 116) sugere que os falantes recombinam traços disponíveis no input e formam gramáticas híbridas.8 8 Hybrid grammars no original (Aboh, 2015). Para Aboh (2015)Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., a recombinação é um processo cognitivo que resulta necessariamente em contato linguístico intrafalante. O processo de recombinação resulta em gramáticas híbridas e, consequentemente, em mudanças linguísticas: “Nessa visão, hidridismo linguístico é a norma em todas as instâncias de aquisição de linguagem e mudança linguística no nível individual, um processo que pode levar a mudanças linguísticas no nível populacional.” (Aboh, 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., p. 305, tradução minha).9 9 Trecho original: “Under this view, linguistic hybridism is the norm in every instance of language acquisition and change at the individual level, a process that may subsequently lead to language change at the population level.” (Aboh, 2015, p. 305). Em suma, a aquisição da linguagem necessariamente envolve contato linguístico e tem papel relevante na evolução linguística.

A noção de que a aquisição de linguagem acontece via contato linguístico e resulta na formação de gramáticas híbridas é reforçada em Aboh (2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
): “[...] durante a aquisição de linguagem os aprendizes estão expostos a inputs heterogêneos a partir dos quais selecionam traços relevantes que são recombinados em suas gramáticas mentais [...]” (Aboh, 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
, p. 289, tradução minha).10 10 Trecho original: “[…] during acquisition, learners are exposed to heterogeneous inputs from which they select relevant linguistic features that are recombined into their mental grammar […]” (Aboh, 2019, p. 289). Aboh define input heterogêneo como exposição a línguas tipologicamente próximas/ distintas ou a variantes próximas/ distintas de uma mesma língua ou à coexistência de registros distintos em uma língua. A proposta de Aboh permite incluir fatores linguísticos e extralinguísticos em uma dinâmica linguística.11 11 A proposta de Aboh (2015, 2019) é compatível com conceitos de outras teorias linguísticas, por exemplo, a relação entre a representação mental da gramática do falante - língua-I na teoria gerativa (Chomsky, 1995) - diante de input variável, heterogêneo - língua-E na teoria gerativa - e a ideia de “mosaico de subsistemas” de Weinreich, Labov e Herzog (2006/ 1968) sobre a teoria da mudança na Sociolinguística. Tal compatibilidade permitiria maior diálogo entre subáreas da Linguística, aparentemente, divergentes.

Com base na noção de ecologia linguística e as várias esferas nas quais o contato linguístico acontece - do individual ao populacional - serão examinadas, nas próximas seções, diferentes momentos de contato linguístico no PB. Na seção seguinte, apresenta-se brevemente o contexto de formação do PB, evidenciando as situações de contato linguístico ao longo da história que ocasionam variação linguística.

3. Brevíssima revisão sobre o contato linguístico na formação do PB

A história social e linguística da formação do Brasil e, consequentemente, do PB tem revelado uma realidade multilíngue que se constrói a partir do contato de diferentes povos e línguas, dentre elas, o português europeu (PE), as línguas africanas e as línguas indígenas (Lima, 2015Lima, I. S. (2015). A língua de branco no Rio de Janeiro. Revista Do Arquivo Geral Da Cidade Do Rio de Janeiro, 9, 63-76. http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a-lingua-de-branco-no-rio-de-janeiro/
http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a...
; Lucchesi, 2017Lucchesi, D. (2017). A periodização da história sociolinguística do Brasil. D.E.L.T.A. (Documentação e Estudos Em Linguística Teórica e Aplicada), 33(2), 347-382. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1590/0102-445067529349614964
https://doi.org/https://doi.org/http://d...
; Mariani, 2003Mariani, B. (2003). Políticas de Colonização Lingüística. Letras, 27, 73-82. https://doi.org/https://doi.org/10.5902/2176148511900
https://doi.org/https://doi.org/https://...
; Mattos e Silva, 1999Mattos e Silva, R. V. (1999). Orientações Atuais de Lingüística Histórica Brasileira. D.E.L.T.A. (Documentação e Estudos Em Linguística Teórica e Aplicada), 15(Especial), 147-166. https://doi.org/https://doi.org/10.1590/S0102-44501999000300006
https://doi.org/https://doi.org/https://...
; Negrão & Viotti, 2012Negrão, E. V., & Viotti, E. (2012). Em busca de uma história linguística. Revista Estudos Da Linguagem, 20(2), 309-342. http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2752
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/ind...
; Petter, 2005Petter, M. M. T. (2005). Línguas africanas no Brasil. Gragoatá , 10(19), 193-217. https://periodicos.uff.br/gragoata/article/view/33263/19250
https://periodicos.uff.br/gragoata/artic...
, 2015Petter, M. M. T. (2015). Ampliando a investigação do continuum afro-brasileiro de português. Papia , 25(2), 305-317.; Rodrigues, 2013Rodrigues, A. D. (2013). Línguas indígenas brasileiras. Laboratório de Línguas Indígenas da UnB. http://www.laliunb.com.br
http://www.laliunb.com.br...
)12 12 As referências citadas aqui podem divergir quanto à origem do PB em termos de um processo de (semi)crioulização (Guy, 1981; Holm, 2009) ou de deriva (Naro & Scherre, 1993) ou de transmissão irregular (Lucchesi et al., 2009) ou de contato linguístico (Negrão & Viotti, 2012, 2014). No entanto, todas convergem para o fato de que a formação do PB se deu em um contexto multi-/plurilíngue. Este artigo não busca contrapor as visões distintas para a origem do PB, mas se apoia na ideia de um contexto multilíngue e de contato linguístico, compartilhada por todos os autores. . Apesar da ampla diversidade linguística na história da formação do PB, Lucchesi (2017)Lucchesi, D. (2017). A periodização da história sociolinguística do Brasil. D.E.L.T.A. (Documentação e Estudos Em Linguística Teórica e Aplicada), 33(2), 347-382. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1590/0102-445067529349614964
https://doi.org/https://doi.org/http://d...
indica que, atualmente, cerca de 98% da população brasileira tem o português como língua materna. Nesse sentido, há um caminho na formação do PB que parte da heterogeneidade para a homogeneidade linguística.

Antes mesmo do período colonial no Brasil, que culminou na homogeneização linguística a favor do português, as populações nativas do Brasil já viviam em contextos bi-/multilíngues (ver Rodrigues, 2013Rodrigues, A. D. (2013). Línguas indígenas brasileiras. Laboratório de Línguas Indígenas da UnB. http://www.laliunb.com.br
http://www.laliunb.com.br...
). Com o processo de colonização, o PE entrou em contato com as línguas indígenas. Mello (2008Mello, H. (2008). Modelos de formação da língua nacional sob a perspectiva do contato de populações. In I. S. Lima , & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 295-314). Edições Casa de Rui Barbosa . http://hdl.handle.net/20.500.11997/1275
http://hdl.handle.net/20.500.11997/1275...
, p. 298) indica a predominância, no século XVI, do contato linguístico entre falantes de variedades vernáculas do PE e populações nativas no litoral brasileiro.13 13 Mello (2008, p. 301) aponta que os portugueses que chegaram em território brasileiro em busca de oportunidades de trabalho eram oriundos de camadas populares, provavelmente de origem rural e falantes de variedades vernáculas do PE. Negrão e Viotti (2012) indicam que outros europeus, falantes de outras línguas europeias que não o português, também desembarcavam no Brasil em busca de oportunidades de trabalho. Na literatura crioulística, discute-se a possiblidade de as populações que fundam um dado território em contexto de colonização serem falantes de variedades vernáculas (ver Founder’s Principle em Mufwene, 2001). O constante contato entre portugueses e nativos em território brasileiro deu origem às chamadas línguas gerais, como aponta Bessa-Freire (2008Bessa-Freire, J. R. (2008). Nheengatu: a outra língua brasileira. In I. S. Lima, & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 119-150). Edições Casa de Rui Barbosa. http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/1275
http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle...
):

Ora, antes de o português se tornar a língua hegemônica, duas línguas de base indígena se expandiram durante o período colonial, cresceram e se transformaram em línguas do Brasil e do Grão-Pará, permitindo a comunicação interétnica entre índios, portugueses e negros: a língua geral paulista (LGP) e a língua geral amazônica (LGA). (Bessa-Freire, 2008Bessa-Freire, J. R. (2008). Nheengatu: a outra língua brasileira. In I. S. Lima, & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 119-150). Edições Casa de Rui Barbosa. http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/1275
http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle...
, p.124)

Bessa-Freire (2008Bessa-Freire, J. R. (2008). Nheengatu: a outra língua brasileira. In I. S. Lima, & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 119-150). Edições Casa de Rui Barbosa. http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/1275
http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle...
, p. 125) apresenta a complexidade de interações linguísticas em território brasileiro, apontando para os vários contextos bi-/monolíngues que se desenvolveram a partir do contato entre línguas indígenas, gerais e o português. No entanto, mudanças nas políticas coloniais alteraram essa dinâmica multilíngue, por exemplo, a proibição do uso de línguas gerais e indígenas de forma a impor a língua portuguesa como língua de instrução à população em território brasileiro (ver Lucchesi, 2017Lucchesi, D. (2017). A periodização da história sociolinguística do Brasil. D.E.L.T.A. (Documentação e Estudos Em Linguística Teórica e Aplicada), 33(2), 347-382. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1590/0102-445067529349614964
https://doi.org/https://doi.org/http://d...
; Mariani, 2003Mariani, B. (2003). Políticas de Colonização Lingüística. Letras, 27, 73-82. https://doi.org/https://doi.org/10.5902/2176148511900
https://doi.org/https://doi.org/https://...
entre outros para discussão).

Soma-se a esse contexto de línguas em contato e políticas linguísticas na colônia, a expansão do tráfico de escravizados que traziam consigo suas línguas. Negrão e Viotti (2012Negrão, E. V., & Viotti, E. (2012). Em busca de uma história linguística. Revista Estudos Da Linguagem, 20(2), 309-342. http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2752
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/ind...
) indicam que, após a captura no continente africano, escravizados de diferentes etnias e línguas eram agrupados por meses em campos de trabalho até serem enviados ao Brasil. Segundo Negrão e Viotti (2012)Negrão, E. V., & Viotti, E. (2012). Em busca de uma história linguística. Revista Estudos Da Linguagem, 20(2), 309-342. http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2752
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/ind...
, os escravizados podem ter desenvolvido uma espécie de língua franca, possivelmente, o quimbundo. Além disso, as autoras sugerem que é possível que os escravizados já tivessem entrado em contato com alguma variedade de PE ainda no continente africano, ou seja, já estavam inseridos em um contexto multilíngue de contato com o português antes mesmo de chegarem ao Brasil. É relevante, também, ressaltar outras dinâmicas linguísticas no Brasil colonial no que se refere à formação de intérpretes e tradutores em territórios brasileiro e africano.

Silva-Reis (2018Silva-Reis, D. (2018). O intérprete negro na história da tradução oral: da tradição africana ao colonialismo português no Brasil. Tradução Em Revista, 24. https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev.34521
https://doi.org/https://doi.org/10.17771...
) detalha essa complexa organização ressaltando os papéis dos degredados, que eram portugueses deixados em território brasileiro para aprenderem as línguas dos nativos e servirem, então, de intérpretes e dos lançados, que eram portugueses lançados na costa africana para aprenderem as línguas locais e servirem de intérpretes na negociação de mercadorias. Nesses contextos, a aquisição de uma segunda língua ocorria via imersão. Além dos lançados e degredados, havia os línguas, africanos que frequentavam escolas em Portugal, aprendiam PE e, então, viajavam com os navegadores para o Brasil.

Além de todo um movimento coordenado de uma dinâmica linguística para a expansão do Brasil colonial, havia o contato natural entre falantes no território brasileiro, por exemplo, a interação entre portugueses, nativos e africanos que resultavam não só na miscigenação do povo, mas no nascimento de brasileiros bi-/multilíngues (ver Bessa-Freire, 2008Bessa-Freire, J. R. (2008). Nheengatu: a outra língua brasileira. In I. S. Lima, & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 119-150). Edições Casa de Rui Barbosa. http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/1275
http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle...
) e o uso de línguas francas africanas para comunicação nas senzalas (Lucchesi, 2017Lucchesi, D. (2017). A periodização da história sociolinguística do Brasil. D.E.L.T.A. (Documentação e Estudos Em Linguística Teórica e Aplicada), 33(2), 347-382. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1590/0102-445067529349614964
https://doi.org/https://doi.org/http://d...
) ou antes do desembarque no Brasil (Negrão & Viotti, 2012Negrão, E. V., & Viotti, E. (2012). Em busca de uma história linguística. Revista Estudos Da Linguagem, 20(2), 309-342. http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2752
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/ind...
). Observando as ecologias da complexa constituição linguística do Brasil, percebe-se, portanto, vários contextos linguísticos distintos de aquisição de linguagem (primeira e segunda língua) com diversas línguas em contato.

A chegada da corte portuguesa ao Brasil contribuiu possivelmente para mais um momento histórico na formação do PB, o qual Lucchesi (2017Lucchesi, D. (2017). A periodização da história sociolinguística do Brasil. D.E.L.T.A. (Documentação e Estudos Em Linguística Teórica e Aplicada), 33(2), 347-382. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1590/0102-445067529349614964
https://doi.org/https://doi.org/http://d...
, p. 369) considera como um turning point na história do Brasil. Naquele momento, houve a instalação da família real portuguesa no Rio de Janeiro, a, então, capital do Império. Lima (2015Lima, I. S. (2015). A língua de branco no Rio de Janeiro. Revista Do Arquivo Geral Da Cidade Do Rio de Janeiro, 9, 63-76. http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a-lingua-de-branco-no-rio-de-janeiro/
http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a...
) indica que a cidade do Rio de Janeiro se tornou uma espécie de centro de propagação da padronização linguística, destacando a relevância da capital também como ponto de chegada de escravizados. Nesse contexto, novas interações linguísticas emergiram, principalmente com a introdução da imprensa (Lima, 2015Lima, I. S. (2015). A língua de branco no Rio de Janeiro. Revista Do Arquivo Geral Da Cidade Do Rio de Janeiro, 9, 63-76. http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a-lingua-de-branco-no-rio-de-janeiro/
http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a...
, p. 66).

O processo de formação de um Estado e de uma unidade linguística com base na língua portuguesa evidenciou alguns contrastes linguísticos entre a população. Lima (2012Lima, I. S. (2012). Escravos bem falantes e nacionalização linguística no Brasil - uma perspectiva histórica. Estudos Históricos, 25(50), 352-369. https://doi.org/10.1590/S0103-21862012000200005
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
, 2015Lima, I. S. (2015). A língua de branco no Rio de Janeiro. Revista Do Arquivo Geral Da Cidade Do Rio de Janeiro, 9, 63-76. http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a-lingua-de-branco-no-rio-de-janeiro/
http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a...
) apresenta uma descrição detalhada das impressões físicas e linguísticas de escravizados em anúncios publicados no Diário do Rio de Janeiro. O uso do português por escravizados era descrito como: “estropiado”, “fala bem”, “fala desembaraçada”, “fala explicada”, “fala inteligível”, “boçal”, “ladino”. A autora aponta, ainda, para referências à expressão língua de branco14 14 “Língua de branco é uma expressão que ganha sentido nos contextos de diferenciação e conflito pertinentes às situações de relação colonial, conquista e negociação na América e na África.” (Lima, 2015, p. 68, grifos da autora). , a qual poderia se referir à língua portuguesa e se definia a partir da distinção entre brancos e não-brancos. Para Lima (2015Lima, I. S. (2015). A língua de branco no Rio de Janeiro. Revista Do Arquivo Geral Da Cidade Do Rio de Janeiro, 9, 63-76. http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a-lingua-de-branco-no-rio-de-janeiro/
http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a...
), a cidade do Rio de Janeiro foi palco para diferenças: “no avesso da sua condição de capital, ela pode ter exportado, involuntariamente, esta multiplicidade nas formas de comunicação, falares apelidados de “caçanjes” por “deturparem” a língua pátria.” (Lima, 2015Lima, I. S. (2015). A língua de branco no Rio de Janeiro. Revista Do Arquivo Geral Da Cidade Do Rio de Janeiro, 9, 63-76. http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a-lingua-de-branco-no-rio-de-janeiro/
http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a...
, p. 66, grifos da autora). Em seguida, verifica-se, no percurso histórico da formação do PB, um caminho para a presença hegemônica da língua portuguesa no território brasileiro.

O brevíssimo resumo feito até aqui não aborda muitas das especificidades históricas, políticas e sociais da formação do PB, mas busca, na verdade, ressaltar o caráter multilíngue dessa formação e, principalmente, o contexto de contato linguístico. Tanto na área da Linguística Histórica sobre a formação do PB quanto na área da História Social da Língua, linguistas e historiadores parecem convergir para o fato de que é preciso entender a formação do PB como produto de contato entre línguas distintas em um contexto multilíngue.

Conforme indicado anteriormente, o contato linguístico ao longo da história pode ter contribuído para o surgimento de fenômenos de variação linguística presentes no PB atual (Lucchesi, 2017Lucchesi, D. (2017). A periodização da história sociolinguística do Brasil. D.E.L.T.A. (Documentação e Estudos Em Linguística Teórica e Aplicada), 33(2), 347-382. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1590/0102-445067529349614964
https://doi.org/https://doi.org/http://d...
; Guy, 1981Guy, G. (1981). Linguistic Variation in Brazilian Portuguese: Aspects of the Phonology, Syntax, and Language History. Doctoral Dissertation, University of Pennsylvania. In Dissertations available from ProQuest. http://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786%5Cnhttp://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786/
http://repository.upenn.edu/dissertation...
). Na próxima seção, apresenta-se o fenômeno variável da concordância de número plural no PB amplamente investigado pela Sociolinguística Variacionista.

4. O contato linguístico no PB atual: a variação na concordância de número sob a ótica da Sociolinguística Variacionista

A variação na concordância de número no PB na fala de adultos é substancialmente mapeada pela Sociolinguística Variacionista (Brandão & Vieira, 2012Brandão, S. F., & Vieira, S. R. (2012). Concordância nominal e verbal: Contribuições para o debate sobre o estatuto da variação em três variedades urbanas do português. Alfa, 56(3), 1035-1064. http://www.scielo.br/pdf/alfa/v56n3/a13v56n3.pdf
http://www.scielo.br/pdf/alfa/v56n3/a13v...
; Naro, 1981Naro, A. J. (1981). The Social and Structural Dimensions of a Syntactic Change. Language, 57(1), 63-98. http://www.jstor.org/stable/414287
http://www.jstor.org/stable/414287...
; Naro & Scherre, 2015Naro, A. J., & Scherre, M. M. P. (2015). Drifting Toward the Standard Language : A Panel Study of Number Concord in Brazilian Portuguese. In R. T. Cacoullos, N. Dion, & A. Lapierre (Eds.), Linguistic Variation: confronting fact and theory (p. 356). Routledge.; Scherre, 1994Scherre, M. M. P. (1994). Aspectos da concordância de número no português do Brasil. Revista Internacional de Língua Portuguesa (RILP) - Norma e Variação Do Português, 37-49. http://www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre94-number.pdf
http://www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/sch...
; Scherre & Naro, 1998Scherre, M. M. P., & Naro, A. J. (1998). Sobre a concordância de número no português falado do Brasil. In G. Ruffino (Ed.), Dialettologia, geolinguistica, sociolinguistica (Atti del XXI Congresso Internazionale di Linguistica e Filologia Romanza) (Issue 5, pp. 509-523). Max Niemeyer Verlag. www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre-naro98.pdf
www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre-na...
, 2006Scherre, M. M. P., & Naro, A. J. (2006). Mudança sem mudança: a concordância de número no português brasileiro. Scripta, 9(18), 107-129. http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/12597
http://periodicos.pucminas.br/index.php/...
; Vieira & Brandão, 2014Vieira, S. R., & Brandão, S. F. (2014). Tipologia de regras linguísticas e estatuto das variedades/ línguas: a concordância em português. Lingüística, 30(2), 81-112. www.scielo.edu.uy/pdf/ling/v30n2/v30n2a05.pdf
www.scielo.edu.uy/pdf/ling/v30n2/v30n2a0...
). O PB admite duas possibilidades de marca de plural: redundante e não-redundante (ver exemplos (1) e (2)). Na variante redundante, a marca de plural aparece em todos os elementos que concordam. Já na variante não-redundante, a marca de plural costuma aparecer no elemento mais à esquerda da sentença, o determinante.15 15 Guy (1981) sugere que a marca de plural apenas no elemento mais à esquerda do sintagma nominal pode ser fruto da interação do português com línguas de matriz africana, as quais apresentam marcas e morfemas de plural mais à esquerda no sintagma nominal.

A presença da concordância de número não-redundante no PB é retratada na literatura portuguesa dos séculos XV e XVI (Alkmim, 2008Alkmim, T. (2008). Falas e cores: um estudo sobre o português de negros e escravos no Brasil do século XIX. In I. S. Lima, & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 247-264). Edições Casa de Rui Barbosa. http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/1275
http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle...
; Silva, 2003Silva, J. A. A. (2003). A concordância na “língua de preto” em Gil Vicente. Papia , 13(1), 136-138. http://revistas.fflch.usp.br/papia/article/view/1818
http://revistas.fflch.usp.br/papia/artic...
). Para Alkmim, as peças da literatura portuguesa indicavam estigma sobre o português falado por escravizados: “Do ponto de vista lingüístico, um exame superficial dos dados da língua de preto nos faz reconhecer, de imediato, a natureza estereotipada da representação da fala de negros.” (Alkmim, 2008Alkmim, T. (2008). Falas e cores: um estudo sobre o português de negros e escravos no Brasil do século XIX. In I. S. Lima, & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 247-264). Edições Casa de Rui Barbosa. http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/1275
http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle...
, p. 250 grifos da autora).

Parece, portanto, que a concordância de plural não-redundante e redundante passaram a coexistir no PB desde sua formação linguística e histórica. O papel da imprensa, da literatura e do ensino de língua portuguesa na vertente europeia com o estabelecimento de um Estado podem ter contribuído para a competição entre as duas variantes da concordância de número (Guy & Zilles, 2008Guy, G. R., & Zilles, A. M. S. (2008). Endangered language varieties: Vernacular speech and linguistic standardization in Brazilian Portuguese. In K. A. King (Ed.), Sustaining Linguistic Diversity : Endangered and Minority Languages and Language Varieties (pp. 53-66). Georgetown University Press.; Lima, 2015Lima, I. S. (2015). A língua de branco no Rio de Janeiro. Revista Do Arquivo Geral Da Cidade Do Rio de Janeiro, 9, 63-76. http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a-lingua-de-branco-no-rio-de-janeiro/
http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a...
), tornando a variante redundante socialmente prestigiada, enquanto a variante não-redundante é socialmente estigmatizada até hoje (Bagno, 2011Bagno, M. (2011). Preconceito Linguístico: o que é, como se faz (54a). Edições Loyola.; Duarte, 2015Duarte, M. E. L. (2015). Para uma nova descrição da sintaxe do ‘português padrão’. Cadernos de Letras Da UFF Dossiê: Variação Linguística e Práticas Pedagógicas, 51, 23-41. https://periodicos.uff.br/cadernosdeletras/issue/view/2214
https://periodicos.uff.br/cadernosdeletr...
). As investigações sociolinguísticas indicam que, atualmente, a variação da concordância de número é influenciada por fatores sociais como nível de escolaridade e nível socioeconômico. Neste artigo, revisitamos alguns estudos sobre a variação da concordância de número no Rio de Janeiro.

Scherre (1978Scherre, M. M. P. (1978). A regra de concordância de número no sintagma nominal em português. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.), Naro (1981Naro, A. J. (1981). The Social and Structural Dimensions of a Syntactic Change. Language, 57(1), 63-98. http://www.jstor.org/stable/414287
http://www.jstor.org/stable/414287...
) e Scherre e Naro (1998Scherre, M. M. P., & Naro, A. J. (1998). Sobre a concordância de número no português falado do Brasil. In G. Ruffino (Ed.), Dialettologia, geolinguistica, sociolinguistica (Atti del XXI Congresso Internazionale di Linguistica e Filologia Romanza) (Issue 5, pp. 509-523). Max Niemeyer Verlag. www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre-naro98.pdf
www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre-na...
) investigam a variação na marca de plural no âmbito do sintagma nominal e da concordância entre sujeito e verbo. Os autores destacam, dentre os fatores socioeconômicos, o nível de escolaridade do falante e; dentre os fatores linguísticos, a saliência fônica na oposição singular/ plural e a posição do sujeito em relação ao verbo. Sendo assim, alguns fatores influenciam a produção da variante redundante de concordância de número plural em detrimento da variante não-redundante: maior nível de escolaridade, maior grau de saliência fônica na distinção singular/ plural (ex. “comeu”/ “comeram”) e maior proximidade entre sujeito e verbo. Scherre e Naro (2006Scherre, M. M. P., & Naro, A. J. (2006). Mudança sem mudança: a concordância de número no português brasileiro. Scripta, 9(18), 107-129. http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/12597
http://periodicos.pucminas.br/index.php/...
) e Guy e Zilles (2008Guy, G. R., & Zilles, A. M. S. (2008). Endangered language varieties: Vernacular speech and linguistic standardization in Brazilian Portuguese. In K. A. King (Ed.), Sustaining Linguistic Diversity : Endangered and Minority Languages and Language Varieties (pp. 53-66). Georgetown University Press.) têm apontado para o aumento do uso da variante redundante, que pode estar associado ao aumento da escolarização ou à assimilação dessa variante a questões de prestígio social.

Vieira e Brandão (2014Vieira, S. R., & Brandão, S. F. (2014). Tipologia de regras linguísticas e estatuto das variedades/ línguas: a concordância em português. Lingüística, 30(2), 81-112. www.scielo.edu.uy/pdf/ling/v30n2/v30n2a05.pdf
www.scielo.edu.uy/pdf/ling/v30n2/v30n2a0...
) também investigam a influência de fatores externos na concordância variável entre sujeito de 3ª pessoa plural e verbo e apontam para um contínuo de variação entre as áreas rurais (predominância de formas não-redundantes) e urbana (aumento na produção da variante redundante). O contínuo entre rural e urbano destacado por Vieira interage, também, com nível de escolaridade: quanto mais urbano e quanto maior o nível de escolaridade, mais a variante redundante é produzida.

Conforme apontado, a coexistência das variantes redundante e não-redundante para a concordância de número plural parece ter suas raízes em um processo linguístico e histórico de contato entre línguas. Essas variantes seguem em contato e a variação de concordância de número está internalizada na mente do falante (Scherre, 1994Scherre, M. M. P. (1994). Aspectos da concordância de número no português do Brasil. Revista Internacional de Língua Portuguesa (RILP) - Norma e Variação Do Português, 37-49. http://www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre94-number.pdf
http://www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/sch...
). Sendo assim, além do contato linguístico e histórico, há o contato linguístico na população até os dias atuais, com presença de diferentes graus de variação na fala de adultos e, há, ainda, a esfera individual, do falante, que deve manter as duas variantes representadas em sua gramática mental, ocasionando, também, contato linguístico (intrafalante). Percebe-se, portanto, que o contato linguístico perpassa diferentes níveis: do individual ao populacional (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press.).

Até aqui, percorreu-se um breve caminho histórico da formação do PB por meio de contato linguístico, passando pela atual situação sociolinguística do PB, o qual apresenta contato entre variantes distintas da concordância de número plural. Há, portanto, movimentos de contato: do histórico para a população atual, chegando ao indivíduo. Como, então, este intenso contato linguístico impacta a aquisição da linguagem? Como fatores ecológicos influenciam possíveis mudanças no desenvolvimento linguístico? Na próxima seção, são apresentados e discutidos dados de aquisição de linguagem com base em input variável da concordância de número no PB.

5. A produção da concordância de número variável no desenvolvimento linguístico sob a ótica do contato linguístico

Nesta seção, retomam-se os resultados dos experimentos psicolinguísticos em Jakubów (2018Jakubów, A. P. S. P. (2018). Language acquisition based on variable input The case of number agreement in Brazilian Portuguese. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=1412307_2018_Indice.html
http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/bibli...
) e Jakubów e Corrêa (2019bJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019b). Variation under a psycholinguistic perspective: Number agreement in Brazilian Portuguese and the impact of schooling. Ilha Do Desterro, 72(3), 101-122. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p101
https://doi.org/https://doi.org/10.5007/...
, 2019aJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019a). Grammar Identification Based on Variable Input: on the Production of Number Agreement by Children Acquiring Brazilian Portuguese. In C. S.-G. Pedro Guijarro-Fuentes (Ed.), Proceedings of GALA 2017 Language Acquisition and Development (pp. 11-30). Cambridge Scholars. https://www.cambridgescholars.com/proceedings-of-gala-2017
https://www.cambridgescholars.com/procee...
). Com o objetivo de investigar a aquisição da concordância de número plural variável e o impacto da escolarização nesse processo, as autoras desenvolveram um experimento de produção eliciada baseado em repetição de sentenças.

Foi manipulada como variável independente a redundância da marca de plural na concordância de número no âmbito do sujeito (DP) e sujeito-verbo (TP).16 16 DP = determiner phrase (sintagma nominal/ determinante) e TP - tense phrase (sintagma verbal/ de tempo) do arcabouço gerativista minimalista que fundamentou parte da tese de Jakubów (2018). O experimento apresentou, portanto, 4 condições: a) condição 1: DP redundante e TP redundante (Os cachorros encontraram o leão); b) condição 2: DP redundante e TP não-redundante (Os cachorros encontrou o leão); c) condição 3: DP não-redundante e TP redundante (Os cachorro encontraram o leão); d) condição 4: DP não-redundante e TP não-redundante (Os cachorro encontrou o leão).17 17 Todas as sentenças foram construídas com a mesma estrutura: sujeito + verbo + objeto e continham: (i) artigo definido masculino plural; (ii) nomes (de animais) regulares e masculinos em posição de sujeito; (iii) verbos regulares no pretérito perfeito do indicativo. Animacidade e gênero do objeto foram balanceados. Portanto, o experimento contou com uma condição na variante redundante (condição 1) e três condições na variante não- redundante (condições 2, 3 e 4). Foram criadas 4 listas distintas, seguindo a organização de quadrado latino: cada um dos participantes foi exposto a 16 sentenças em todas as condições experimentais (4 sentenças de cada condição). As variáveis dependentes foram: o número de respostas que reproduziam itens experimentais de cada uma das 4 condições e o número de respostas na variante redundante diante de itens experimentais de cada uma das 4 condições. Tipo de escola (pública e privada) e desempenho escolar (bom e regular)18 18 Apenas para o 6º ano da escola pública. Os participantes do 6º ano pertenciam à mesma escola pública, a qual seguia a divisão de turmas com base em desempenho escolar (ver Jakubów & Corrêa, 2019b). foram fatores grupais. Participantes de escolas pública e privada da cidade do Rio de Janeiro foram divididos em 5 grupos: pré-escola privada (n = 22; idade: 3;8 - 6;3, média: 5;5), pré-escola pública (n = 22; idade: 3;8 - 6;3, média: 5;5), 6º ano escola privada (n = 25; idade: 10;11 - 12;11, média: 11;1), 6º ano escola pública A (com bom desempenho escolar) (n = 25; idade: 11;3 - 14;6, média: 12) e 6º ano escola pública B (com desempenho escolar regular) (n = 27; idade: 11;1 - 14;5, média: 12;6).

O experimento foi realizado nas próprias escolas em salas disponibilizadas para tal. O equipamento levado pela experimentadora consistia de um computador, caixas de som, gravadores de voz e uma apresentação em vídeo com um personagem animado parecido com um robô que enunciava os itens experimentais previamente gravados. O procedimento para o grupo da pré-escola foi composto das seguintes etapas: (1) a experimentadora apresentava um robô animado na tela do computador e dizia aos participantes que eles ouviriam o robô contar algumas coisas que aconteceram no lugar onde ele mora; (2) a experimentadora tampava os ouvidos, fingindo não ouvir o que o robô dizia, e, ao final das sentenças, perguntava ao participante: “O que aconteceu onde ele mora?”; (3) o participante deveria recontar para a experimentadora o que o robô havia contado. Para o grupo do 6º ano, a experimentadora dizia que os participantes realizariam um jogo de memória, pois deveriam: (1) escutar o que o robô dizia; (2) resolver uma conta simples de matemática, por exemplo, 2+1, e (3) lembrar o que o robô havia contado. A mudança no procedimento visou manter a tarefa mais interessante para o grupo do 6º ano e evitar que estes memorizassem a forma exata do item experimental.

Os resultados de uma ANOVA (4 X 2) para medidas repetidas em Jakubów (2018Jakubów, A. P. S. P. (2018). Language acquisition based on variable input The case of number agreement in Brazilian Portuguese. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=1412307_2018_Indice.html
http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/bibli...
) e Jakubów e Corrêa (2019bJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019b). Variation under a psycholinguistic perspective: Number agreement in Brazilian Portuguese and the impact of schooling. Ilha Do Desterro, 72(3), 101-122. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p101
https://doi.org/https://doi.org/10.5007/...
, 2019aJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019a). Grammar Identification Based on Variable Input: on the Production of Number Agreement by Children Acquiring Brazilian Portuguese. In C. S.-G. Pedro Guijarro-Fuentes (Ed.), Proceedings of GALA 2017 Language Acquisition and Development (pp. 11-30). Cambridge Scholars. https://www.cambridgescholars.com/proceedings-of-gala-2017
https://www.cambridgescholars.com/procee...
) revelaram efeito principal de redundância, comparando as quatro condições: ambos os grupos da pré-escola (re)produziram com maior frequência a variante redundante (condição 1) (reprodução do item experimental: F (1, 42) = 21,262; p < .0001; produção da variante redundante: (F (1, 42) = 101, 151; p < .0001). A análise de tipo de escola mostrou que o grupo da pré-escola privada produziu mais a variante redundante do que o grupo da escola pública (F (1, 42) = 8,255; p = .006), mas a análise de reprodução dos itens experimentais não revelou diferença estatisticamente significativa entre os grupos (F (1, 42) = 0,845; p = .363). Nos grupos de 6º ano, assim como na pré-escola, foi obtido um efeito principal de redundância: a variante redundante (condição 1) foi a mais (re)produzida, comparando as quatro condições (reprodução do item experimental: F (1, 75) = 117, 829; p < .0001; produção da variante redundante: F (1, 75) = 49,060; p < .0001). Além disso, o grupo de 6º ano da escola pública reproduziu com maior frequência o item experimental do que o grupo da escola privada (F (1,75) = 11,195; p = .001) e o último produziu mais a variante redundante do que o primeiro (F (1, 75) = 37, 373; p < .0001). Entre os grupos de 6º ano da escola pública, o grupo B reproduziu os itens experimentais com maior frequência do que o grupo A (F (1,50) = 19,761; p < .0001), mas o último produziu mais a variante redundante do que o primeiro (F (1,50) = 17,877; p < .0001) (ver Jakubów & Corrêa, 2019bJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019b). Variation under a psycholinguistic perspective: Number agreement in Brazilian Portuguese and the impact of schooling. Ilha Do Desterro, 72(3), 101-122. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p101
https://doi.org/https://doi.org/10.5007/...
para maiores detalhes).

5.1. O contato entre variantes no desenvolvimento linguístico: revisitando resultados

Como visto, em Jakubów (2018Jakubów, A. P. S. P. (2018). Language acquisition based on variable input The case of number agreement in Brazilian Portuguese. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=1412307_2018_Indice.html
http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/bibli...
) e Jakubów e Corrêa (2019bJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019b). Variation under a psycholinguistic perspective: Number agreement in Brazilian Portuguese and the impact of schooling. Ilha Do Desterro, 72(3), 101-122. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p101
https://doi.org/https://doi.org/10.5007/...
, 2019aJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019a). Grammar Identification Based on Variable Input: on the Production of Number Agreement by Children Acquiring Brazilian Portuguese. In C. S.-G. Pedro Guijarro-Fuentes (Ed.), Proceedings of GALA 2017 Language Acquisition and Development (pp. 11-30). Cambridge Scholars. https://www.cambridgescholars.com/proceedings-of-gala-2017
https://www.cambridgescholars.com/procee...
), quatro tipos distintos de redundância na marcação de número plural foram investigados, sendo uma redundante e três não-redundante. Para o presente artigo, no lugar das respostas fornecidas diante de quatro condições experimentais, examina-se a distribuição de todas as respostas fornecidas (total: 1936), independentemente da condição do estímulo experimental apresentado, em dois grandes grupos de variantes: redundante (total: 1044) e não-redundante (total: 742), além de formas singular (total: 139) e agramatical19 19 “Agramatical” se refere a produções com o determinante sem marca de plural e nome com marca de plural, por exemplo, “O cachorros...”. (total: 11). A análise aqui apresentada visa a: (i) estender a noção de contato linguístico presente na literatura sobre mudança linguística para o contato linguístico intrafalante durante o desenvolvimento da linguagem; (ii) demonstrar que a aquisição da linguagem com base em input variável envolve contato linguístico e está inserida em uma dinâmica linguística que engloba aspectos sociais, históricos, populacionais e individuais e (iii) contribuir para uma discussão mais ampla sobre contato linguístico que culmina em variação linguística.

A Tabela 1 demonstra que, de modo geral, a variante redundante é, em valores absolutos, a mais produzida (1044/ 1936), em conformidade com os achados da Sociolinguística de que a concordância padrão (variante redundante) tem aumentado e predomina nas amostras de fala (Guy & Zilles, 2008Guy, G. R., & Zilles, A. M. S. (2008). Endangered language varieties: Vernacular speech and linguistic standardization in Brazilian Portuguese. In K. A. King (Ed.), Sustaining Linguistic Diversity : Endangered and Minority Languages and Language Varieties (pp. 53-66). Georgetown University Press.; Scherre & Naro, 2006Scherre, M. M. P., & Naro, A. J. (2006). Mudança sem mudança: a concordância de número no português brasileiro. Scripta, 9(18), 107-129. http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/12597
http://periodicos.pucminas.br/index.php/...
). No entanto, ao observar o percentual de respostas por grupo, percebe-se variação: por um lado, o 6º ano escola pública B é o grupo que mais produz a variante não-redundante, seguido da pré-escola pública, pré-escola privada, 6º ano escola pública A e 6º ano escola privada, respectivamente; por outro lado, a alta de respostas na variante redundante é impulsionada pelo 6º ano escola privada e pelo 6º ano escola pública A, seguido, respectivamente, de 6º ano escola pública B, pré-escola privada e pré-escola pública.

Tabela 1
Distribuição de respostas por grupo em função de escolaridade, tipo de escola e desempenho escolar

Os resultados na Tabela 1 demonstram direções opostas de mudança no curso do desenvolvimento linguístico: concentração da variante não-redundante nos grupos da pré-escola, com maior incidência no 6º ano escola pública B e concentração da variante redundante nos grupos do 6º ano escola privada e escola pública A. Esses resultados evidenciam ecologias distintas de contato entre as variantes nos grupos e demonstra como fatores ecológicos sociais e ambientais interagem - e, consequentemente, influenciam o nível de variação linguística nos grupos - e agem como forças que impulsionam mudanças no desenvolvimento linguístico para diferentes direções.

Ao olhar mais de perto a esfera individual, na Figura 1, é possível perceber a produção individual variável - provável fruto da constituição de gramáticas híbridas por alguns falantes (Aboh 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
) - a qual exibe processos de competição20 20 A ideia de competição de regras ou gramáticas que resultam em eliminação de uma ou outra variante também é discutida por Kroch (1994), em termos de mudança linguística, e Yang (2002), em termos de aquisição de linguagem. No entanto, neste artigo, busco discutir o fato de que competição entre variantes linguísticas não necessariamente implica eliminação, mas há níveis de gradação que podem ou não levar à eliminação. Nesse sentido, uma teoria de contato linguístico que considera aspectos da ecologia linguística (Aboh, 2015, 2019, Mufwene, 2001, 2008) parece ser mais compatível com os dados apresentados. , seleção e eliminação (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.):

Figura 1
Possíveis ecologias de contato linguístico intrafalante em cada grupo21 21 O gráfico foi elaborado por meio da linguagem R (versão 4.1.0 (2021-05-18)) no R Studio.

Para a maioria dos participantes, as duas variantes, redundante e não-redundante, encontram-se disponíveis e em competição durante a produção da linguagem. Estes resultados corroboram os achados de que crianças são sensíveis à variação linguística socialmente condicionada (Henry, 2016Henry, A. (2016). Acquiring language from variable input. Linguistic Variation, 16(1), 131-150. https://doi.org/10.1075/lv.16.1.06hen
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
; Miller & Schmitt, 2012Miller, K. L., & Schmitt, C. (2012). Variable Input and the Acquisition of Plural Morphology. Language Acquisition, 19(December), 223-261. https://doi.org/10.1080/10489223.2012.685026
https://doi.org/https://doi.org/10.1080/...
; Samara et al., 2017Samara, A., Smith, K., Brown, H., & Wonnacott, E. (2017). Acquiring variation in an artificial language: Children and adults are sensitive to socially conditioned linguistic variation. Cognitive Psychology, 94, 85-114. https://doi.org/10.1016/j.cogpsych.2017.02.004
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
), o que vai, também, ao encontro dos resultados para a aquisição do PB tanto na Sociolinguística (Gomes, 2004Gomes, C. A. (2004). Aquisição lingüística em contexto de input variável: a emergência das variantes de dativo. Revista de Estudos Da Linguagem, 12(176-190). https://doi.org/http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.12.1.175-190
https://doi.org/https://doi.org/http://d...
; Gomes et al., 2011Gomes, C. A., Pontes, M. C., Almeida, M. C., & Abreu, A. C. (2011). Variação e aquisição da flexão nominal e da flexão verbal. Gragoatá, 30, 39-54.; Lorandi, 2013Lorandi, A. (2013). Aquisição da variação: a interface entre aquisição da linguagem e variação linguística. Alfa , 57(1), 133-162. http://www.scielo.br/pdf/alfa/v57n1/07.pdf
http://www.scielo.br/pdf/alfa/v57n1/07.p...
; Lorandi & Lamprecht, 2008Lorandi, A., & Lamprecht, R. R. (2008). Processos Morfológicos na fala infantil : a percepção da gramática da língua pela criança. Anais Do CELSUL, 1-10. http://www.celsul.org.br/Encontros/08/processos_morfologicos_fala_infantil.pdf
http://www.celsul.org.br/Encontros/08/pr...
) quanto na Psicolinguística (Azalim et al., 2020Azalim, C., Marcilese, M., & Armelin, P. R. G. (2020). Concordância nominal variável e saliência fônica na produção infantil: dados naturalísticos e experimentais. Veredas - Revista de Estudos Linguísticos, 24(1), 192-221. https://periodicos.ufjf.br/index.php/veredas/article/view/30983
https://periodicos.ufjf.br/index.php/ver...
; Jakubów, 2018Jakubów, A. P. S. P. (2018). Language acquisition based on variable input The case of number agreement in Brazilian Portuguese. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=1412307_2018_Indice.html
http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/bibli...
; Jakubów & Corrêa, 2019bJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019b). Variation under a psycholinguistic perspective: Number agreement in Brazilian Portuguese and the impact of schooling. Ilha Do Desterro, 72(3), 101-122. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p101
https://doi.org/https://doi.org/10.5007/...
, 2019aJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019a). Grammar Identification Based on Variable Input: on the Production of Number Agreement by Children Acquiring Brazilian Portuguese. In C. S.-G. Pedro Guijarro-Fuentes (Ed.), Proceedings of GALA 2017 Language Acquisition and Development (pp. 11-30). Cambridge Scholars. https://www.cambridgescholars.com/proceedings-of-gala-2017
https://www.cambridgescholars.com/procee...
; Marcilese et al., 2019Marcilese, M., Name, C., Augusto, M., Molina, D., & Armando, R. (2019). Mother-tongue education, linguistic variation and language processing. Ilha Do Desterro A Journal of English Language, Literatures in English and Cultural Studies, 72(3), 17-40. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p17
https://doi.org/https://doi.org/10.5007/...
; Molina et al., 2017Molina, D., Marcilese, M., & Name, C. (2017). Ora está, ora não está: input variável e aquisição da flexão verbal de 3a pessoa do plural no PB. Matraga, 24(41), 288-309. https://doi.org/10.12957/matraga.2017.28498
https://doi.org/https://doi.org/10.12957...
) e na Teoria Linguística Gerativista (Reis, 2020Reis, M. M. (2020). Competição de gramáticas na aquisição da flexão de número pelas crianças brasileiras: Um estudo experimental sobre a produção infantil. Veredas - Revista de Estudos Linguísticos , 24(1), 166-191. https://doi.org/10.34019/1982-2243.2020.v24.30635
https://doi.org/https://doi.org/10.34019...
; Wuerges, 2014Wuerges, T. E. (2014). A Aquisição da Morfologia Verbal por Crianças Falantes de Português Brasileiro e o Uso de Formas Variantes. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-28052014-125108/pt-br.php
www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/813...
).

A Figura 1 também demonstra que alguns participantes produziram apenas a variante redundante, como é o caso da maioria dos participantes do 6ª ano escola privada, alguns participantes do 6º ano escola pública A, um participante do 6º ano escola pública B e um participante da pré-escola privada - o que indica um processo de seleção da variante redundante na produção. Apenas um participante do 6º ano escola pública B selecionou a variante não-redundante, eliminando a redundante de sua produção. Observe que os participantes que produzem as duas variantes (competição) - maioria dos casos - apresentam graus distintos de variação em sua produção: alguns selecionam com maior frequência a variante redundante e outros, a não-redundante.

A seleção de uma variante não parece, portanto, implicar necessariamente a eliminação da outra na produção da linguagem para a maioria dos participantes. Na verdade, há níveis de gradação na seleção de variantes dependendo de aspectos internos e externos à língua. Por um lado, com o avanço no nível de escolaridade, somado ao desempenho escolar, o processo de competição e seleção na produção individual assume formatos distintos, indicando que alguns participantes tendem a selecionar com maior frequência uma das variantes, possivelmente influenciados por fatores externos, como o estigma social sobre a variante não-redundante, privilegiando, então, a redundante, conforme indicam os estudos sociolinguísticos (Bagno, 2011Bagno, M. (2011). Preconceito Linguístico: o que é, como se faz (54a). Edições Loyola.; Guy & Zilles, 2008Guy, G. R., & Zilles, A. M. S. (2008). Endangered language varieties: Vernacular speech and linguistic standardization in Brazilian Portuguese. In K. A. King (Ed.), Sustaining Linguistic Diversity : Endangered and Minority Languages and Language Varieties (pp. 53-66). Georgetown University Press.; Scherre & Naro, 2006Scherre, M. M. P., & Naro, A. J. (2006). Mudança sem mudança: a concordância de número no português brasileiro. Scripta, 9(18), 107-129. http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/12597
http://periodicos.pucminas.br/index.php/...
). Assim, os níveis de gradação na seleção de uma ou outra variante por cada indivíduo contribuem para a manutenção da variação linguística na população (ver o resultado global apresentado na Tabela 1).

A Figura 1 exibe, no curso do desenvolvimento linguístico, mudanças na produção linguística que interagem com fatores ambientais e refletem em menor escala e em menor espaço de tempo os mesmos processos observados na evolução linguística diacrônica e histórica: competição, seleção, eliminação. Adicionalmente, a Figura 1 ilustra como cada falante contribui para a constituição da variação, por meio do contato linguístico, demonstrando que uma língua é constituída de variação interidioletal, conforme afirma Mufwene (2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press.).

Nestes resultados, é possível perceber a dinâmica de contato linguístico nos níveis individual e populacional: (a) cada um dos grupos está exposto a input variável - contato entre variantes no nível populacional, possível fruto de contato linguístico na formação do PB; (b) o falante adquire as variantes redundante e não-redundante e as representa mentalmente em termos de gramáticas híbridas (Aboh, 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
) - contato entre variantes no nível individual; (c) ao produzir enunciados com instâncias de variação, estes grupos alimentam o banco de traços da população (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press.), banco este que serve de input para outros grupos - assim, o contato retorna ao nível populacional.

6. Conclusão

O presente artigo buscou estender a noção de contato linguístico para a aquisição da linguagem diante de input variável. Para isso, foram revisitados os resultados de um experimento psicolinguístico sobre a produção da concordância variável de número plural em PB por crianças em fase pré-escolar e escolar. A análise dos resultados demonstrou que o processo de contato linguístico ao longo do desenvolvimento da linguagem pode ter diversos níveis de gradação dependendo da influência de fatores ambientais. Nos resultados apresentados, nível de escolaridade, desempenho escolar e tipo de escola exercem forças que (trans)formam gramáticas individuais favorecendo a emergência de diversos formatos de contato linguístico intrafalante a partir do contato linguístico na população. Portanto, o contato entre variantes no curso do desenvolvimento da linguagem pode revelar semelhanças com o processo de mudança diacrônica e evolução linguística, principalmente no que diz respeito a processos de competição, seleção e eliminação (Aboh, 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
; Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.). Nesse sentido, o desenvolvimento da linguagem pode ser uma janela para processos de mudança linguística diacrônica (Lightfoot, 2010Lightfoot, D. (2010). Language acquisition and language change. Wiley Interdisciplinary Reviews: Cognitive Science, 1(5), 677-684. https://doi.org/10.1002/wcs.39
https://doi.org/https://doi.org/10.1002/...
).

Os resultados dão suporte a teorias que promovem o entendimento da língua(gem) a partir de uma ecologia dinâmica que envolve, necessariamente, o contato linguístico (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.) e a influência de fatores ambientais (sociais, históricos, políticos) na formação de gramáticas híbridas (Aboh 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
). É interessante perceber que, a partir do momento em que é exposto a input linguístico, o falante está constantemente acessando o banco de traços da população/ grupo. Enquanto aprendiz, precisa selecionar, processar e recombinar traços do banco da população/ grupo para formar e representar sua própria gramática (híbrida). Ao mesmo tempo, ao produzir linguagem, está constantemente alimentando o banco de traços da população/ grupo por meio dos outputs de sua gramática. A aquisição e o processamento de linguagem parecem, então, fomentar o contato linguístico e a emergência de fenômenos variáveis, contribuindo para o fluxo dinâmico de evolução linguística (Aboh, 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
; Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.).

Ressalta-se, por fim, a necessidade e a importância de diálogos e integração entre as diferentes subáreas da Linguística para elucidar os fatores que compõem ecologias linguísticas e, assim, entender os mecanismos de funcionamento, aquisição, processamento e evolução da língua(gem) de forma mais ampla.

Referências

  • Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press.
  • Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
  • Alkmim, T. (2008). Falas e cores: um estudo sobre o português de negros e escravos no Brasil do século XIX. In I. S. Lima, & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 247-264). Edições Casa de Rui Barbosa. http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/1275
    » http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/1275
  • Azalim, C., Marcilese, M., & Armelin, P. R. G. (2020). Concordância nominal variável e saliência fônica na produção infantil: dados naturalísticos e experimentais. Veredas - Revista de Estudos Linguísticos, 24(1), 192-221. https://periodicos.ufjf.br/index.php/veredas/article/view/30983
    » https://periodicos.ufjf.br/index.php/veredas/article/view/30983
  • Bagno, M. (2011). Preconceito Linguístico: o que é, como se faz (54a). Edições Loyola.
  • Bessa-Freire, J. R. (2008). Nheengatu: a outra língua brasileira. In I. S. Lima, & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 119-150). Edições Casa de Rui Barbosa. http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/1275
    » http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/1275
  • Brandão, S. F., & Vieira, S. R. (2012). Concordância nominal e verbal: Contribuições para o debate sobre o estatuto da variação em três variedades urbanas do português. Alfa, 56(3), 1035-1064. http://www.scielo.br/pdf/alfa/v56n3/a13v56n3.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/alfa/v56n3/a13v56n3.pdf
  • Duarte, M. E. L. (2015). Para uma nova descrição da sintaxe do ‘português padrão’. Cadernos de Letras Da UFF Dossiê: Variação Linguística e Práticas Pedagógicas, 51, 23-41. https://periodicos.uff.br/cadernosdeletras/issue/view/2214
    » https://periodicos.uff.br/cadernosdeletras/issue/view/2214
  • Gomes, C. A. (2004). Aquisição lingüística em contexto de input variável: a emergência das variantes de dativo. Revista de Estudos Da Linguagem, 12(176-190). https://doi.org/http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.12.1.175-190
    » https://doi.org/https://doi.org/http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.12.1.175-190
  • Gomes, C. A., Pontes, M. C., Almeida, M. C., & Abreu, A. C. (2011). Variação e aquisição da flexão nominal e da flexão verbal. Gragoatá, 30, 39-54.
  • Guy, G. (1981). Linguistic Variation in Brazilian Portuguese: Aspects of the Phonology, Syntax, and Language History. Doctoral Dissertation, University of Pennsylvania. In Dissertations available from ProQuest. http://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786%5Cnhttp://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786/
    » http://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786%5Cnhttp://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786/
  • Guy, G. R., & Zilles, A. M. S. (2008). Endangered language varieties: Vernacular speech and linguistic standardization in Brazilian Portuguese. In K. A. King (Ed.), Sustaining Linguistic Diversity : Endangered and Minority Languages and Language Varieties (pp. 53-66). Georgetown University Press.
  • Henry, A. (2016). Acquiring language from variable input. Linguistic Variation, 16(1), 131-150. https://doi.org/10.1075/lv.16.1.06hen
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1075/lv.16.1.06hen
  • Holm, J. (2009). The Genesis of the Brazilian Vernacular: Insights from the Indigenization of Portuguese in Angola. Papia, 19, 93-122. http://revistas.fflch.usp.br/papia/article/view/2011
    » http://revistas.fflch.usp.br/papia/article/view/2011
  • Jakubów, A. P. S. P. (2018). Language acquisition based on variable input The case of number agreement in Brazilian Portuguese. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=1412307_2018_Indice.html
    » http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=1412307_2018_Indice.html
  • Jakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019a). Grammar Identification Based on Variable Input: on the Production of Number Agreement by Children Acquiring Brazilian Portuguese. In C. S.-G. Pedro Guijarro-Fuentes (Ed.), Proceedings of GALA 2017 Language Acquisition and Development (pp. 11-30). Cambridge Scholars. https://www.cambridgescholars.com/proceedings-of-gala-2017
    » https://www.cambridgescholars.com/proceedings-of-gala-2017
  • Jakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019b). Variation under a psycholinguistic perspective: Number agreement in Brazilian Portuguese and the impact of schooling. Ilha Do Desterro, 72(3), 101-122. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p101
    » https://doi.org/https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p101
  • Kroch, A. (1994). Morphosyntactic variation. Proceedings of the Thirtieth Annual Meeting of the Chicago Linguistics Society, 2, 180-201. https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199744084.013.0022
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199744084.013.0022
  • Lightfoot, D. (2010). Language acquisition and language change. Wiley Interdisciplinary Reviews: Cognitive Science, 1(5), 677-684. https://doi.org/10.1002/wcs.39
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1002/wcs.39
  • Lima, I. S. (2012). Escravos bem falantes e nacionalização linguística no Brasil - uma perspectiva histórica. Estudos Históricos, 25(50), 352-369. https://doi.org/10.1590/S0103-21862012000200005
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1590/S0103-21862012000200005
  • Lima, I. S. (2015). A língua de branco no Rio de Janeiro. Revista Do Arquivo Geral Da Cidade Do Rio de Janeiro, 9, 63-76. http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a-lingua-de-branco-no-rio-de-janeiro/
    » http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a-lingua-de-branco-no-rio-de-janeiro/
  • Lorandi, A. (2013). Aquisição da variação: a interface entre aquisição da linguagem e variação linguística. Alfa , 57(1), 133-162. http://www.scielo.br/pdf/alfa/v57n1/07.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/alfa/v57n1/07.pdf
  • Lorandi, A., & Lamprecht, R. R. (2008). Processos Morfológicos na fala infantil : a percepção da gramática da língua pela criança. Anais Do CELSUL, 1-10. http://www.celsul.org.br/Encontros/08/processos_morfologicos_fala_infantil.pdf
    » http://www.celsul.org.br/Encontros/08/processos_morfologicos_fala_infantil.pdf
  • Lucchesi, D. (2008). Africanos, crioulos e a língua portuguesa. In I. S. Lima , & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 151-180). Edições Casa de Rui Barbosa. http://hdl.handle.net/20.500.11997/1275
    » http://hdl.handle.net/20.500.11997/1275
  • Lucchesi, D. (2017). A periodização da história sociolinguística do Brasil. D.E.L.T.A. (Documentação e Estudos Em Linguística Teórica e Aplicada), 33(2), 347-382. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1590/0102-445067529349614964
    » https://doi.org/https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1590/0102-445067529349614964
  • Lucchesi, D., Baxter, A., & Ribeiro, I. (2009). O Português Afro-Brasileiro (D. Lucchesi, A. Baxter, & I. Ribeiro (eds.)). Editora da Universidade Federal da Bahia(EDUFBA). https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ufba/209/4/O Portugues Afro-Brasileiro.pdf
    » https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ufba/209/4/O Portugues Afro-Brasileiro.pdf
  • Marcilese, M., Name, C., Augusto, M., Molina, D., & Armando, R. (2019). Mother-tongue education, linguistic variation and language processing. Ilha Do Desterro A Journal of English Language, Literatures in English and Cultural Studies, 72(3), 17-40. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p17
    » https://doi.org/https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p17
  • Mariani, B. (2003). Políticas de Colonização Lingüística. Letras, 27, 73-82. https://doi.org/https://doi.org/10.5902/2176148511900
    » https://doi.org/https://doi.org/https://doi.org/10.5902/2176148511900
  • Mattos e Silva, R. V. (1999). Orientações Atuais de Lingüística Histórica Brasileira. D.E.L.T.A. (Documentação e Estudos Em Linguística Teórica e Aplicada), 15(Especial), 147-166. https://doi.org/https://doi.org/10.1590/S0102-44501999000300006
    » https://doi.org/https://doi.org/https://doi.org/10.1590/S0102-44501999000300006
  • Mello, H. (2008). Modelos de formação da língua nacional sob a perspectiva do contato de populações. In I. S. Lima , & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 295-314). Edições Casa de Rui Barbosa . http://hdl.handle.net/20.500.11997/1275
    » http://hdl.handle.net/20.500.11997/1275
  • Miller, K. L., & Schmitt, C. (2012). Variable Input and the Acquisition of Plural Morphology. Language Acquisition, 19(December), 223-261. https://doi.org/10.1080/10489223.2012.685026
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1080/10489223.2012.685026
  • Molina, D., Marcilese, M., & Name, C. (2017). Ora está, ora não está: input variável e aquisição da flexão verbal de 3a pessoa do plural no PB. Matraga, 24(41), 288-309. https://doi.org/10.12957/matraga.2017.28498
    » https://doi.org/https://doi.org/10.12957/matraga.2017.28498
  • Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press.
  • Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.
  • Naro, A. J. (1981). The Social and Structural Dimensions of a Syntactic Change. Language, 57(1), 63-98. http://www.jstor.org/stable/414287
    » http://www.jstor.org/stable/414287
  • Naro, A. J., & Scherre, M. M. P. (1993). Sobre as origens do português popular do Brasil. D.E.L.T.A. (Documentação e Estudos Em Linguística Teórica e Aplicada) , 9(Especial), 437-454. https://revistas.pucsp.br/delta/article/view/45496
    » https://revistas.pucsp.br/delta/article/view/45496
  • Naro, A. J., & Scherre, M. M. P. (2015). Drifting Toward the Standard Language : A Panel Study of Number Concord in Brazilian Portuguese. In R. T. Cacoullos, N. Dion, & A. Lapierre (Eds.), Linguistic Variation: confronting fact and theory (p. 356). Routledge.
  • Negrão, E. V., & Viotti, E. (2012). Em busca de uma história linguística. Revista Estudos Da Linguagem, 20(2), 309-342. http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2752
    » http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2752
  • Negrão, E. V., & Viotti, E. (2014). Brazilian Portuguese as a transatlantic language: Agents of linguistic contact. InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies, 3(1), 135-154. http://portuguese-diaspora-studies.com/index.php/ijpds/article/view/149
    » http://portuguese-diaspora-studies.com/index.php/ijpds/article/view/149
  • Petter, M. M. T. (2005). Línguas africanas no Brasil. Gragoatá , 10(19), 193-217. https://periodicos.uff.br/gragoata/article/view/33263/19250
    » https://periodicos.uff.br/gragoata/article/view/33263/19250
  • Petter, M. M. T. (2015). Ampliando a investigação do continuum afro-brasileiro de português. Papia , 25(2), 305-317.
  • Reis, M. M. (2020). Competição de gramáticas na aquisição da flexão de número pelas crianças brasileiras: Um estudo experimental sobre a produção infantil. Veredas - Revista de Estudos Linguísticos , 24(1), 166-191. https://doi.org/10.34019/1982-2243.2020.v24.30635
    » https://doi.org/https://doi.org/10.34019/1982-2243.2020.v24.30635
  • Rodrigues, A. D. (2013). Línguas indígenas brasileiras. Laboratório de Línguas Indígenas da UnB. http://www.laliunb.com.br
    » http://www.laliunb.com.br
  • Samara, A., Smith, K., Brown, H., & Wonnacott, E. (2017). Acquiring variation in an artificial language: Children and adults are sensitive to socially conditioned linguistic variation. Cognitive Psychology, 94, 85-114. https://doi.org/10.1016/j.cogpsych.2017.02.004
    » https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.cogpsych.2017.02.004
  • Scherre, M. M. P. (1978). A regra de concordância de número no sintagma nominal em português. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
  • Scherre, M. M. P. (1994). Aspectos da concordância de número no português do Brasil. Revista Internacional de Língua Portuguesa (RILP) - Norma e Variação Do Português, 37-49. http://www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre94-number.pdf
    » http://www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre94-number.pdf
  • Scherre, M. M. P., & Naro, A. J. (1998). Sobre a concordância de número no português falado do Brasil. In G. Ruffino (Ed.), Dialettologia, geolinguistica, sociolinguistica (Atti del XXI Congresso Internazionale di Linguistica e Filologia Romanza) (Issue 5, pp. 509-523). Max Niemeyer Verlag. www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre-naro98.pdf
    » www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre-naro98.pdf
  • Scherre, M. M. P., & Naro, A. J. (2006). Mudança sem mudança: a concordância de número no português brasileiro. Scripta, 9(18), 107-129. http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/12597
    » http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/12597
  • Silva-Reis, D. (2018). O intérprete negro na história da tradução oral: da tradição africana ao colonialismo português no Brasil. Tradução Em Revista, 24. https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev.34521
    » https://doi.org/https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev.34521
  • Silva, J. A. A. (2003). A concordância na “língua de preto” em Gil Vicente. Papia , 13(1), 136-138. http://revistas.fflch.usp.br/papia/article/view/1818
    » http://revistas.fflch.usp.br/papia/article/view/1818
  • Vieira, S. R., & Brandão, S. F. (2014). Tipologia de regras linguísticas e estatuto das variedades/ línguas: a concordância em português. Lingüística, 30(2), 81-112. www.scielo.edu.uy/pdf/ling/v30n2/v30n2a05.pdf
    » www.scielo.edu.uy/pdf/ling/v30n2/v30n2a05.pdf
  • Weinreich, U., Labov, W., & Herzog, M. I. (2006). Fundamentos Empíricos para uma Teoria da Mudança Linguística (1ª ed., M. Bagno, Trad.). São Paulo: Parábola Editorial. (Obra original publicada em 1968)
  • Wuerges, T. E. (2014). A Aquisição da Morfologia Verbal por Crianças Falantes de Português Brasileiro e o Uso de Formas Variantes. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-28052014-125108/pt-br.php
    » www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-28052014-125108/pt-br.php
  • Yang, C. D. (2002). Knowledge and Learning in Natural Language . Oxford University Press.
  • 1
    Trabalho desenvolvido como parte de estágio pós-doutoral no Laboratório de Psicolinguística e Aquisição da Linguagem (LAPAL) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), financiado por meio do Prêmio CAPES de Tese 2019 (88887.495101/2020-00).
  • 2
    Agradeço aos pareceristas pelas contribuições e sugestões e também a Marina Augusto e Letícia Corrêa pelas trocas de ideias que deram origem a este artigo. Agradeço, principalmente, a Igor Costa pelas várias discussões e sugestões com base em versões preliminares do texto que contribuíram para sua melhoria. Os erros que permanecem são meus.
  • 4
    Trecho original: “Since the locus of dialect or language contact is the mind of the individual speaker, the difference between idiolect contact and language or dialect contact is more quantitative than qualitative.” (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., p. 150).
  • 5
    Será utilizada a tradução de Negrão e Viotti (2012)Negrão, E. V., & Viotti, E. (2012). Em busca de uma história linguística. Revista Estudos Da Linguagem, 20(2), 309-342. http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2752
    http://www.periodicos.letras.ufmg.br/ind...
    para o termo original de Mufwene (2001)Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press.feature pool.
  • 6
    Para Mufwene (2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., p. 1-2), sistemas linguísticos contém traços linguísticos (linguistic features) de duas naturezas: a) unidades, identificadas nos componentes fonológico, morfológico, semântico, sintático e b) princípios combinatórios e distributivos. Para o autor, há um paralelo entre traços e genes. (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., p. 2).
  • 7
    Na visão de ecologia linguística, é importante perceber que as fronteiras geopolíticas que definem e distinguem línguas e dialetos, por exemplo, se perdem; todas essas configurações formam sistemas linguísticos. (Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., p. 149).
  • 8
    Hybrid grammars no original (Aboh, 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press.).
  • 9
    Trecho original: “Under this view, linguistic hybridism is the norm in every instance of language acquisition and change at the individual level, a process that may subsequently lead to language change at the population level.” (Aboh, 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., p. 305).
  • 10
    Trecho original: “[…] during acquisition, learners are exposed to heterogeneous inputs from which they select relevant linguistic features that are recombined into their mental grammar […]” (Aboh, 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
    https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
    , p. 289).
  • 11
    A proposta de Aboh (2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
    https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
    ) é compatível com conceitos de outras teorias linguísticas, por exemplo, a relação entre a representação mental da gramática do falante - língua-I na teoria gerativa (Chomsky, 1995) - diante de input variável, heterogêneo - língua-E na teoria gerativa - e a ideia de “mosaico de subsistemas” de Weinreich, Labov e Herzog (2006/ 1968Weinreich, U., Labov, W., & Herzog, M. I. (2006). Fundamentos Empíricos para uma Teoria da Mudança Linguística (1ª ed., M. Bagno, Trad.). São Paulo: Parábola Editorial. (Obra original publicada em 1968)) sobre a teoria da mudança na Sociolinguística. Tal compatibilidade permitiria maior diálogo entre subáreas da Linguística, aparentemente, divergentes.
  • 12
    As referências citadas aqui podem divergir quanto à origem do PB em termos de um processo de (semi)crioulização (Guy, 1981Guy, G. (1981). Linguistic Variation in Brazilian Portuguese: Aspects of the Phonology, Syntax, and Language History. Doctoral Dissertation, University of Pennsylvania. In Dissertations available from ProQuest. http://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786%5Cnhttp://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786/
    http://repository.upenn.edu/dissertation...
    ; Holm, 2009Holm, J. (2009). The Genesis of the Brazilian Vernacular: Insights from the Indigenization of Portuguese in Angola. Papia, 19, 93-122. http://revistas.fflch.usp.br/papia/article/view/2011
    http://revistas.fflch.usp.br/papia/artic...
    ) ou de deriva (Naro & Scherre, 1993Naro, A. J., & Scherre, M. M. P. (1993). Sobre as origens do português popular do Brasil. D.E.L.T.A. (Documentação e Estudos Em Linguística Teórica e Aplicada) , 9(Especial), 437-454. https://revistas.pucsp.br/delta/article/view/45496
    https://revistas.pucsp.br/delta/article/...
    ) ou de transmissão irregular (Lucchesi et al., 2009Lucchesi, D., Baxter, A., & Ribeiro, I. (2009). O Português Afro-Brasileiro (D. Lucchesi, A. Baxter, & I. Ribeiro (eds.)). Editora da Universidade Federal da Bahia(EDUFBA). https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ufba/209/4/O Portugues Afro-Brasileiro.pdf
    https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream...
    ) ou de contato linguístico (Negrão & Viotti, 2012Negrão, E. V., & Viotti, E. (2012). Em busca de uma história linguística. Revista Estudos Da Linguagem, 20(2), 309-342. http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2752
    http://www.periodicos.letras.ufmg.br/ind...
    , 2014Negrão, E. V., & Viotti, E. (2014). Brazilian Portuguese as a transatlantic language: Agents of linguistic contact. InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies, 3(1), 135-154. http://portuguese-diaspora-studies.com/index.php/ijpds/article/view/149
    http://portuguese-diaspora-studies.com/i...
    ). No entanto, todas convergem para o fato de que a formação do PB se deu em um contexto multi-/plurilíngue. Este artigo não busca contrapor as visões distintas para a origem do PB, mas se apoia na ideia de um contexto multilíngue e de contato linguístico, compartilhada por todos os autores.
  • 13
    Mello (2008Mello, H. (2008). Modelos de formação da língua nacional sob a perspectiva do contato de populações. In I. S. Lima , & L. do Carmo (Eds.), História Social da Língua Nacional (pp. 295-314). Edições Casa de Rui Barbosa . http://hdl.handle.net/20.500.11997/1275
    http://hdl.handle.net/20.500.11997/1275...
    , p. 301) aponta que os portugueses que chegaram em território brasileiro em busca de oportunidades de trabalho eram oriundos de camadas populares, provavelmente de origem rural e falantes de variedades vernáculas do PE. Negrão e Viotti (2012)Negrão, E. V., & Viotti, E. (2012). Em busca de uma história linguística. Revista Estudos Da Linguagem, 20(2), 309-342. http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2752
    http://www.periodicos.letras.ufmg.br/ind...
    indicam que outros europeus, falantes de outras línguas europeias que não o português, também desembarcavam no Brasil em busca de oportunidades de trabalho. Na literatura crioulística, discute-se a possiblidade de as populações que fundam um dado território em contexto de colonização serem falantes de variedades vernáculas (ver Founder’s Principle em Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press.).
  • 14
    Língua de branco é uma expressão que ganha sentido nos contextos de diferenciação e conflito pertinentes às situações de relação colonial, conquista e negociação na América e na África.” (Lima, 2015Lima, I. S. (2015). A língua de branco no Rio de Janeiro. Revista Do Arquivo Geral Da Cidade Do Rio de Janeiro, 9, 63-76. http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a-lingua-de-branco-no-rio-de-janeiro/
    http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/a...
    , p. 68, grifos da autora).
  • 15
    Guy (1981)Guy, G. (1981). Linguistic Variation in Brazilian Portuguese: Aspects of the Phonology, Syntax, and Language History. Doctoral Dissertation, University of Pennsylvania. In Dissertations available from ProQuest. http://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786%5Cnhttp://repository.upenn.edu/dissertations/AAI8117786/
    http://repository.upenn.edu/dissertation...
    sugere que a marca de plural apenas no elemento mais à esquerda do sintagma nominal pode ser fruto da interação do português com línguas de matriz africana, as quais apresentam marcas e morfemas de plural mais à esquerda no sintagma nominal.
  • 16
    DP = determiner phrase (sintagma nominal/ determinante) e TP - tense phrase (sintagma verbal/ de tempo) do arcabouço gerativista minimalista que fundamentou parte da tese de Jakubów (2018)Jakubów, A. P. S. P. (2018). Language acquisition based on variable input The case of number agreement in Brazilian Portuguese. Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=1412307_2018_Indice.html
    http://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/bibli...
    .
  • 17
    Todas as sentenças foram construídas com a mesma estrutura: sujeito + verbo + objeto e continham: (i) artigo definido masculino plural; (ii) nomes (de animais) regulares e masculinos em posição de sujeito; (iii) verbos regulares no pretérito perfeito do indicativo. Animacidade e gênero do objeto foram balanceados.
  • 18
    Apenas para o 6º ano da escola pública. Os participantes do 6º ano pertenciam à mesma escola pública, a qual seguia a divisão de turmas com base em desempenho escolar (ver Jakubów & Corrêa, 2019bJakubów, A. P. S. P., & Corrêa, L. M. S. (2019b). Variation under a psycholinguistic perspective: Number agreement in Brazilian Portuguese and the impact of schooling. Ilha Do Desterro, 72(3), 101-122. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p101
    https://doi.org/https://doi.org/10.5007/...
    ).
  • 19
    “Agramatical” se refere a produções com o determinante sem marca de plural e nome com marca de plural, por exemplo, “O cachorros...”.
  • 20
    A ideia de competição de regras ou gramáticas que resultam em eliminação de uma ou outra variante também é discutida por Kroch (1994)Kroch, A. (1994). Morphosyntactic variation. Proceedings of the Thirtieth Annual Meeting of the Chicago Linguistics Society, 2, 180-201. https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199744084.013.0022
    https://doi.org/https://doi.org/10.1093/...
    , em termos de mudança linguística, e Yang (2002)Yang, C. D. (2002). Knowledge and Learning in Natural Language . Oxford University Press., em termos de aquisição de linguagem. No entanto, neste artigo, busco discutir o fato de que competição entre variantes linguísticas não necessariamente implica eliminação, mas há níveis de gradação que podem ou não levar à eliminação. Nesse sentido, uma teoria de contato linguístico que considera aspectos da ecologia linguística (Aboh, 2015Aboh, E. O. (2015). The Emergence of Hybrid Grammars: language contact and change. Cambridge University Press., 2019Aboh, E. O. (2019). Our creolized tongues. In M. T. E. Doron, M. Rappaport Hovav, & Y. Reshef (Ed.), Language Contact, Continuity and Change in the Genesis of Modern Hebrew (Vol. 256, pp. 287-320). John Benjamin Publishing Company. https://doi.org/10.1075/la.256.11abo
    https://doi.org/https://doi.org/10.1075/...
    , Mufwene, 2001Mufwene, S. S. (2001). The Ecology of Language Evolution. Cambridge University Press., 2008Mufwene, S. S. (2008). Language Evolution: contact, competition and change. Continuum International Publishing Group.) parece ser mais compatível com os dados apresentados.
  • 21
    O gráfico foi elaborado por meio da linguagem R (versão 4.1.0 (2021-05-18)) no R Studio.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    13 Nov 2021
  • Aceito
    26 Maio 2023
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP PUC-SP - LAEL, Rua Monte Alegre 984, 4B-02, São Paulo, SP 05014-001, Brasil, Tel.: +55 11 3670-8374 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: delta@pucsp.br