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A organização retórica do gênero textual reportagem de divulgação científica

The rhetorical organization of the genre science news article

RESUMO

Os gêneros textuais têm sido o foco de diversos estudos que têm fornecido reflexões importantes para abordagens de ensino e novas pesquisas das mais variadas vertentes teóricas. Dentre essas vertentes, a perspectiva sociorretórica swalesiana fornece um aparato teórico-metodológico eficiente para a depreensão da lógica interna responsável pela organização retórica dos gêneros textuais. O objetivo deste estudo é identificar a organização retórica do gênero textual reportagem de divulgação científica. Para tanto, buscamos respaldo teórico no trabalho de John M. Swales (1990Swales, John Malcolm. (1990). Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press.), adaptando o modelo CARS (Create a Research Space) para analisar um corpus de vinte reportagens de divulgação científica sendo dez da Revista Superinteressante e dez da Revista Galileu. Por se tratar de um gênero jornalístico, recorremos também ao trabalho de Barros e Maia (2017Barros, Eliana Merlin Deganutti de, & Maia, Valéria de Fátima Roncon. (2017). O gênero “reportagem de divulgação científica” e seus subgêneros. Veredas - Interacionismo Sociodiscursivo, 1, pp. 116-136.), Rojo (2008Rojo, Roxane. (2008). O letramento escolar e os textos da divulgação científica - a apropriação dos gêneros de discurso na escola. Linguagem em (Dis)curso - LemD, 8(3), pp. 581-612. https://doi.org/10.1590/S1518-76322008000300009
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) e Bonini (2011Bonini, Adair. (2011). Jornal escolar: gêneros e letramento midiático no ensino-aprendizagem de linguagem. RBLA, 11(1), pp.149-175. http://dx.doi.org/10.1590/S1984-63982011000100009
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). Os resultados da análise revelaram uma organização retórica composta de quatro funções retóricas (incitar o público-alvo a ler a reportagem, contextualizar o tema, problematizar o tema, e concluir a reportagem), subdivididas em subfunções, que constituem subsídio útil para o ensino-aprendizagem de língua/linguagem e estudos sobre gêneros textuais.

Palavras-chave:
reportagem de divulgação científica; organização retórica; gênero textual; sociorretórica

ABSTRACT

Genres have been under scrutiny in several studies which have provided important discussions for current teaching approaches and new studies from different theoretical perspectives. Among them the Swalesian sociorhetorical perspective provides an effective theoretical and methodological framework for the understanding of the underlying rationale that establishes the rhetorical organization of a genre. This paper aims to identify the rhetorical organization of the genre science news article. We use Swales (1990Swales, John Malcolm. (1990). Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press.)’s CARS (Create a Research Space) model to analyze twenty science news articles from two Brazilian science news magazines, Superinteressante (ten articles) and Galileu (ten articles). Provided that the science news article is a journalistic genre, in our analysis we also use the studies carried out by Barros and Maia (2017Barros, Eliana Merlin Deganutti de, & Maia, Valéria de Fátima Roncon. (2017). O gênero “reportagem de divulgação científica” e seus subgêneros. Veredas - Interacionismo Sociodiscursivo, 1, pp. 116-136.), Rojo (2008Rojo, Roxane. (2008). O letramento escolar e os textos da divulgação científica - a apropriação dos gêneros de discurso na escola. Linguagem em (Dis)curso - LemD, 8(3), pp. 581-612. https://doi.org/10.1590/S1518-76322008000300009
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) and Bonini (2011Bonini, Adair. (2011). Jornal escolar: gêneros e letramento midiático no ensino-aprendizagem de linguagem. RBLA, 11(1), pp.149-175. http://dx.doi.org/10.1590/S1984-63982011000100009
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). The results reveal a rhetorical organization with four rhetorical functions (persuading the reader into reading the article, contextualizing the topic, problematizing the topic, and concluding the article), subdivided into subfunctions, which constitutes useful input for language teaching/learning and genre studies.

Keywords:
science news article; rhetorical organization; genre; sociorhetoric

1. Introdução

Ao longo dos anos, diversos trabalhos têm se voltado para o ensino de língua por meio de gêneros textuais a partir de variadas perspectivas teóricas. Tais investigações atravessam diversas concepções daquilo que entendemos sobre língua/linguagem, algumas voltadas para análises mais estruturais, outras relacionadas à sociologia ou à antropologia. Logo, não é tão difícil acompanharmos discussões de cunho linguístico-social acerca daquilo que definimos sob a nomenclatura de gêneros textuais.

Quando compreendemos os gêneros sob um viés mais social, antropológica e etnograficamente, estabelecemos uma relação orgânica direta dos textos orais e escritos com as necessidades e exigências recorrentes da sociedade. Como bem observa Miller (2012Miller, Carolyn Rae. (2012). Gênero como ação social. In Dionisio, A. P., & Hoffnagel, J. (Eds.). Gênero textual, agência e tecnologia, pp. 21-41. São Paulo: Parábola Editorial., p. 41), “Como uma ação significante e recorrente, um gênero incorpora um aspecto de racionalidade cultural.”.

É a partir dessa relação entre os textos e a cultura social que os produzem que surge a necessidade de estudos que transcendam as práticas formalistas/estruturalistas de estudo da linguagem, ou seja, uma análise que não se atenha apenas à forma, mas transponha essa dimensão e considere o sujeito que produz seus textos como membro de um determinado grupo social segundo a sua cultura e necessidades. Portanto, compreender as motivações retóricas que determinam a organização textual e as escolhas gramaticais e lexicais é compreender como os sujeitos agem na sociedade por meio da linguagem em um determinado contexto sociocomunicativo, e, consequentemente, possibilitar um melhor processo de ensino e aprendizagem.

Os gêneros jornalísticos têm se mostrado bastante atraentes para o ensino-aprendizagem de língua haja vista diversos estudos já realizados nessa vertente (Barros & Maia, 2017Barros, Eliana Merlin Deganutti de, & Maia, Valéria de Fátima Roncon. (2017). O gênero “reportagem de divulgação científica” e seus subgêneros. Veredas - Interacionismo Sociodiscursivo, 1, pp. 116-136.; Köche & Marinello, 2012Köche, Vanilda Salton, & Marinello, Adiane Fogali. (2012). O gênero textual reportagem e sua aplicação no ensino da leitura e escrita. Revista Trama, 8(16), pp. 139-152.; Brocardo & Costa-Hubes, 2014Brocardo, Rosangela Oro, & Costa-Hubes, Terezinha da Conceição. (2014). O gênero textual reportagem impressa em sala de aula: uma proposta de trabalho a partir da elaboração de Modelo Didático de Gênero e de Sequência Didática. Horizontes, 32(2), pp. 07-20. https://doi.org/10.24933/horizontes.v32i1.86
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; Silveira, 2017Silveira, Luciane Carlan da. (2017). A constituição retórica do gênero artigo de opinião em um contexto específico de produção. Travessias Interativas, 14(2), pp. 259-276.; Silva, 2008Silva, Antonio Ribeiro. (2008). A abordagem sócio-retórica de gêneros do discurso: o artigo de opinião no ensino médio. In Zanutto, F., & Navarro, P. (Eds.). Anais da 1a JIED - Jornada Internacional de Estudos do Discurso, pp. 1-11, Maringá, PR, Brasil.; Silva, 2019Silva, Cleiton Reisdörfer. (2019). Mapeando a escrita de estudantes do ensino fundamental: em foco o artigo de opinião. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Santa Maria. https://doi.org/10.1590/010318135545815832019
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). O gênero reportagem de divulgação científica do jornalismo impresso, por exemplo, apresenta-se como uma opção bastante produtiva no que tange ao desenvolvimento das habilidades de produção e recepção de gêneros textuais no contexto escolar, visto que trata de assuntos atuais interessantes e possui linguagem acessível a um público leitor não especializado.

Apesar da contribuição das pesquisas sobre gêneros jornalísticos para o campo de ensino e aprendizagem de língua/linguagem, ainda há muito a ser contribuído para a descrição e compreensão dos aspectos linguísticos e sociais dos gêneros textuais. No que diz respeito ao jornal escolar como instrumento de ensino e aprendizagem de linguagem, por exemplo, Bonini (2011Bonini, Adair. (2011). Jornal escolar: gêneros e letramento midiático no ensino-aprendizagem de linguagem. RBLA, 11(1), pp.149-175. http://dx.doi.org/10.1590/S1984-63982011000100009
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, p. 150) afirma que “ainda pouco se sabe sobre como são produzidos esses jornais e que lugar ocupam no conjunto de conteúdos ensinados na disciplina de Língua Portuguesa.”

A abordagem sociorretórica de Swales (1990Swales, John Malcolm. (1990). Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press.) provê um arcabouço teórico-metodológico profícuo para essa contribuição, pois foca a organização retórica e o propósito comunicativo do gênero em sua relação com o contexto sociocomunicativo em que ocorre. Portanto, o objetivo deste estudo é identificar a organização retórica do gênero reportagem de divulgação científica a partir de um corpus constituído de vinte exemplares desse gênero, sendo dez extraídos da revista Superinteressante e dez da revista Galileu, de modo a fornecer subsídios para abordagens de ensino que utilizam gêneros textuais, e contribuir para o preenchimento de lacunas ainda existentes na conceituação e descrição dos gêneros jornalísticos.

2. A Perspectiva Sociorretórica

A abordagem sociorretórica de John Swales para o estudo de gêneros textuais foi sistematizada pelo autor a partir de sua experiência como professor de línguas para estrangeiros e, também, a partir do amadurecimento de seus estudos acadêmicos em diversas áreas, dentre elas a retórica, especialmente o estudo de Carolyn R. Miller (2012Miller, Carolyn Rae. (2012). Gênero como ação social. In Dionisio, A. P., & Hoffnagel, J. (Eds.). Gênero textual, agência e tecnologia, pp. 21-41. São Paulo: Parábola Editorial.) que conceitualiza o gênero como ação social recorrente que cumpre propósitos comunicativos.

O autor define três conceitos fundamentais para compreendermos a relação entre sociedade, os usos da língua/linguagem e o seu ensino, a saber, o conceito de comunidade discursiva, o conceito de gênero textual e o conceito de tarefa de aprendizagem de língua. Trataremos apenas dos dois primeiros conceitos pois o terceiro foge ao escopo deste trabalho.

Swales elabora seu primeiro conceito de comunidade discursiva em 1990 e revisita-o em Swales (1992Swales, John Malcolm. (1992). Re-thinking genre: another look at discourse community effects. [Comunicação] Re-thinking Genre Colloquium, Ottawa, Ontario, Canadá., 1998Swales, John Malcolm. (1998). Other floors other voices: a textography of a small university building. Mahwah: Lawrence Erlbaum Associates., 2016Swales, John Malcolm. (2016). Reflections on the concept of discourse community. Asp, 69, pp. 7-19. https://doi.org/10.4000/asp.4774
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). O conceito está ligado a uma visão social dos processos de escrita e é consoante à definição apresentada por Herzberg (1986):

O uso do termo ‘comunidade discursiva’ testemunha cada vez mais a hipótese comum que o discurso opera a partir de convenções definidas por comunidades, sejam elas disciplinas acadêmicas ou grupos sociais. As pedagogias associadas com a escrita através do currículo e do inglês acadêmico agora utilizam a noção de ‘comunidade discursiva’ para significar um agrupamento de ideias: que o uso da linguagem por um grupo é uma forma de comportamento social, que o discurso é um meio de manter e estender o conhecimento do grupo e iniciar novos membros no grupo, e que o discurso é epistêmico ou constitutivo do conhecimento do grupo. (Herzberg (1986, p. 1) apudSwales (1990Swales, John Malcolm. (1990). Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press., p. 21), tradução nossa)

Nas palavras de Herzberg, a linguagem é organizada a partir dessas comunidades discursivas que possuem objetivos específicos, formas particulares de organização social e discursiva, relações hierárquicas e determinados gêneros textuais com convenções discursivas que refletem como essas comunidades se organizam e se relacionam com o mundo. John Swales considera a definição de Herzberg importante, mas destaca, também, seu caráter de incompletude afirmando que o conceito não fornece critérios suficientes para a identificação de uma comunidade discursiva.

Os seis critérios para a identificação de uma comunidade discursiva foram apresentados por Swales em 1990 e revisitados em Swales (1992Swales, John Malcolm. (1992). Re-thinking genre: another look at discourse community effects. [Comunicação] Re-thinking Genre Colloquium, Ottawa, Ontario, Canadá., 1998Swales, John Malcolm. (1998). Other floors other voices: a textography of a small university building. Mahwah: Lawrence Erlbaum Associates., 2016Swales, John Malcolm. (2016). Reflections on the concept of discourse community. Asp, 69, pp. 7-19. https://doi.org/10.4000/asp.4774
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). Após a atualização, aos seis critérios iniciais foram acrescentados mais dois. Segundo Swales (2016Swales, John Malcolm. (2016). Reflections on the concept of discourse community. Asp, 69, pp. 7-19. https://doi.org/10.4000/asp.4774
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), uma comunidade discursiva: 1) possui um conjunto de objetivos amplamente acordados; 2) possui mecanismos de intercomunicação entre seus membros; 3) possui mecanismos de participação para administrar as ações da comunidade e promover o seu desenvolvimento; 4) utiliza gêneros textuais no cumprimento de seus objetivos e efetivação dos mecanismos de participação; 5) adquiriu e continua a desenvolver terminologia especializada; 6) possui uma estrutura hierárquica explícita ou implícita que orienta os processos de admissão e progresso dentro dela; 7) desenvolve um senso de “relações silenciais” quanto ao que não precisa ser dito ou escrito; e 8) desenvolve um horizonte de expectativas quanto às ações da comunidade.

Compreender o conceito de comunidade discursiva juntamente com o conceito de gênero textual é fundamental para que possamos entender que os processos de significação acontecem dentro de uma organização social, logo, a relação entre língua e sociedade é intrínseca e constitutiva para compreendermos os usos da linguagem de determinada comunidade e em determinados contextos sociocomunicativos. Swales (1990Swales, John Malcolm. (1990). Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press.) define o gênero da seguinte forma:

Um gênero compreende uma classe de eventos comunicativos, cujos exemplares compartilham os mesmos propósitos comunicativos. Esses propósitos são reconhecidos pelos membros mais experientes da comunidade discursiva original e constituem a razão do gênero. A razão subjacente dá o contorno da estrutura esquemática do discurso e influencia e restringe as escolhas de conteúdo e estilo. O propósito comunicativo é o critério que é privilegiado e que faz com que o escopo do gênero se mantenha enfocado estreitamente em determinada ação retórica compatível com o gênero. Além do propósito, os exemplares do gênero demonstram padrões semelhantes, mas com variações em termos de estrutura, estilo, conteúdo e público-alvo. Se forem realizadas todas as expectativas em relação àquilo que é altamente provável para o gênero, o exemplar será visto pela comunidade discursiva original como um protótipo. Os gêneros têm nomes herdados e produzidos pelas comunidades discursivas e importados por outras comunidades. Esses nomes constituem uma comunicação etnográfica valiosa, porém normalmente precisam de validação adicional (Swales (1990Swales, John Malcolm. (1990). Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press., p. 58). Tradução Hemais; Biasi-Rodrigues (2005Hemais, Barbara, & Biasi-Rodrigues, Bernadete. (2005). A proposta sócio-retórica de John M. Swales para o estudo de gêneros textuais. In Meurer, J. L., Bonini, A., & Motta-Roth, D. (Eds.). Gêneros: teorias, métodos, debates, pp.108-129. São Paulo: Parábola Editorial., p. 114-115)).

A lógica que molda a organização retórica do gênero reflete os objetivos, as necessidades e a cultura da comunidade que o utiliza, bem como as exigências do contexto sociocomunicativo. O abstract de artigo acadêmico, por exemplo, é produzido por diversas comunidades discursivas acadêmicas e apresenta especificidades discursivas de cada comunidade refletindo a sua cultura disciplinar. Por exemplo, a apresentação dos resultados e da conclusão é mais frequente em abstracts da comunidade da medicina do que em abstracts da comunidade da matemática (Ramos, 2011Ramos, Wiliam César. (2011). Um roteiro para a escrita de abstracts de artigos de pesquisa: estrutura retórica e técnicas de argumentação. Tese de doutorado, Universidade Estadual Paulista.).

Apesar de o propósito comunicativo constituir um critério privilegiado na definição de um gênero textual, Askehave e Swales (2001Askehave, Inger, & Swales, John Malcolm. (2001). Genre identification and communicative purpose: a problem and a possible solution. Applied linguistics, 22(2), pp. 195-212. https://doi.org/10.1093/applin/22.2.195.
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) ressaltam que o propósito comunicativo deve ser analisado em sua relação com outros elementos constituintes do gênero. Considerando a função jornalística e o contexto comercial das reportagens de divulgação científica publicadas nas revistas Superinteressante e Galileu, pode-se atribuir a esse gênero o propósito de difundir conteúdos de forma atraente de modo a atrair um público leitor não especializado.

3. O modelo CARS

O modelo CARS (Create a Research Space), que descreve a organização retórica de introduções de artigo acadêmico, proposto por Swales (1990Swales, John Malcolm. (1990). Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press.), tem sido adaptado para a análise da organização retórica de diferentes gêneros textuais (Motta-Roth, 1995Motta-Roth, Désirée. (1995). Rhetorical features and disciplinary cultures: a genre-based study of academic book reviews in linguistics, chemistry and economics. Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina.; Motta-Roth & Hendges, 1996Motta-Roth, Désirée, & Hendges, Graciela Rabuske. (1996). Uma análise de gênero de resumos acadêmicos (abstracts) em economia, linguística e química. Revista do Centro de Artes e Letras, 18(1-2), pp. 53-90.; Biasi-Rodrigues, 1998Biasi-Rodrigues, Bernadete. (1998). Estratégias de condução de informações em resumos de dissertações. Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina.; Oliveira, 2004Oliveira, Cristina Márcia Maia de. (2004). A organização retórica de artigos de opinião na imprensa e no jornal escolar. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Ceará.; Simoni & Bonini, 2009Simoni, Rosa Maria Schmitz, & Bonini, Adair. (2009). A organização retórica do gênero carta-consulta. In Biasi-Rodrigues, B., Araújo, J. C., & Souza, S. C. T. (Eds.). Gêneros textuais e comunidades discursivas: um diálogo com John Swales, pp. 117-138. Belo Horizonte: Autêntica Editora.; Ramos, 2011Ramos, Wiliam César. (2011). Um roteiro para a escrita de abstracts de artigos de pesquisa: estrutura retórica e técnicas de argumentação. Tese de doutorado, Universidade Estadual Paulista.; Bernardino & Valentim, 2016Bernardino, Cibele Gadelha, & Valentim, Dawton Lima. (2016). O gênero artigo acadêmico e a cultura disciplinar da área do direito: as primícias de uma análise sociorretórica. RevLet - Revista Virtual de Letras, 8(2), pp. 122-141.; Ramos et al., 2019Ramos, Wiliam César, Bicudo, Cíntia, & Raimo, Luciana Cristina Ferreira Dias Di. (2019). A organização retórica do artigo de opinião no contexto do vestibular. Entrepalavras, 9(2), pp. 93-111. http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-21493
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), portanto constitui um aparato teórico-metodológico adequado para os propósitos deste estudo. O modelo é composto de três movimentos retóricos (moves) (Movimento 1 - Estabelecer o território, Movimento 2 - Estabelecer um nicho, Movimento 3 - Ocupar o nicho) cumpridos por meio de passos (steps). Um movimento, conforme explica Swales (2004Swales, John Malcom. (2004). Research genres: explorations and applications. Cambridge: Cambridge University Press., p. 228, tradução nossa), “é uma unidade retórica ou discursiva que realiza uma função comunicativa coerente em um discurso falado ou escrito”. Motta-Roth e Hendges (1996Motta-Roth, Désirée, & Hendges, Graciela Rabuske. (1996). Uma análise de gênero de resumos acadêmicos (abstracts) em economia, linguística e química. Revista do Centro de Artes e Letras, 18(1-2), pp. 53-90.) utilizam os termos movimento e subfunção, e Biasi-Rodrigues (1998Biasi-Rodrigues, Bernadete. (1998). Estratégias de condução de informações em resumos de dissertações. Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina.), unidade retórica e subunidade. Neste trabalho, adotaremos a nomenclatura função retórica (FR) e subfunção adotada por Ramos (2011Ramos, Wiliam César. (2011). Um roteiro para a escrita de abstracts de artigos de pesquisa: estrutura retórica e técnicas de argumentação. Tese de doutorado, Universidade Estadual Paulista.).

O modelo sociorretórico CARS permite a compreensão da lógica interna do gênero textual que o leva a cumprir certas funções retóricas características, e também a compreensão de que os gêneros possuem convenções genéricas porque são artefatos culturais construídos coletivamente. A partir desse entendimento, é possível aplicar os resultados da análise no contexto de ensino-aprendizagem estabelecendo a ponte entre o uso da linguagem e sua constituição social.

A adaptação do modelo CARS para a descrição da organização retórica de diversos gêneros textuais se dá por meio da transposição da sua metodologia de análise que identifica as funções retóricas realizadas em determinados excertos por meio de expedientes linguísticos específicos. Dessa forma, a organização retórica do gênero é identificada permitindo a compreensão de sua lógica interna. O modelo retórico de artigos de opinião produzidos no contexto do vestibular composto de três funções retóricas (Função retórica 1 - Apresentação do tema, Função retórica 2 - Apresentação de uma tomada de posição, Função retórica 3 - Conclusão) (Ramos et al., 2019Ramos, Wiliam César, Bicudo, Cíntia, & Raimo, Luciana Cristina Ferreira Dias Di. (2019). A organização retórica do artigo de opinião no contexto do vestibular. Entrepalavras, 9(2), pp. 93-111. http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-21493
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) é um exemplo de adaptação do modelo CARS.

A análise da organização retórica de um gênero textual permite a reflexão sobre a tensão entre convenções genéricas e liberdade de produção e inovação, partindo do texto para os sentidos produzidos em um local que não é a folha de papel, mas a complexa atividade humana. Neste trabalho, por entendermos que a produção de qualquer gênero textual deve considerar a relação do contexto de produção com a macroestrutura do texto e com o seu propósito comunicativo, analisaremos a organização retórica do gênero reportagem de divulgação científica na sua relação com o contexto sociocomunicativo em que ocorre, de modo a fornecer subsídio para trabalhos futuros que visem o desenvolvimento de propostas didáticas.

4. O gênero reportagem de divulgação científica

De acordo com Barros e Maia (2017Barros, Eliana Merlin Deganutti de, & Maia, Valéria de Fátima Roncon. (2017). O gênero “reportagem de divulgação científica” e seus subgêneros. Veredas - Interacionismo Sociodiscursivo, 1, pp. 116-136.), devido à escassez de estudos que tratam especificamente do gênero “reportagem de divulgação científica”, a sua conceituação é bastante complexa. Portanto, antes de falarmos especificamente da reportagem de divulgação científica, faz-se necessário tratar, primeiramente, daquilo que se compreende pelo gênero reportagem.

O referido gênero é bem conhecido, pois circula em diversos meios dentro da esfera midiática como revistas, jornais e páginas da internet, sempre abordando uma gama infinita de assuntos de diversas áreas do conhecimento, trazendo diversos tipos de discussões, denúncias e investigações.

Podemos dizer, também, que a reportagem tem um vasto alcance social, pois seu caráter diversificado atinge um público grande independentemente da classe social, idade, posicionamentos políticos dentre outros fatores, afinal existem diversos tipos de reportagem, em diversos jornais e revistas, que tratam de uma infinidade de temas como saúde, beleza, medicina, técnicas agrícolas, casos policiais, farmacologia, educação, empreendedorismo, etc.

De acordo com Ohuschi (2013Ohuschi, Márcia Cristina Greco. (2013). Ressignificação de saberes na formação continuada: a responsividade docente no estudo das marcas linguístico-enunciativas dos gêneros notícia e reportagem. Tese de doutorado, Universidade Estadual de Londrina.) com base nos estudos de Lage (2005), a reportagem:

[...] não cuida da cobertura de um fato ou de uma série de fatos, mas do levantamento de um assunto conforme ângulo preestabelecido. Noticia-se que um governo foi deposto; fazem-se reportagens sobre a crise político-institucional, econômica, social, sobre a reconfiguração das relações internacionais determinada pela substituição do governante, sobre a conspiração que levou ao golpe, sobre um ou vários personagens envolvidos no episódio etc. (Lage, 2005, p. 46-47 apudOhuschi, 2013Ohuschi, Márcia Cristina Greco. (2013). Ressignificação de saberes na formação continuada: a responsividade docente no estudo das marcas linguístico-enunciativas dos gêneros notícia e reportagem. Tese de doutorado, Universidade Estadual de Londrina., p. 91).

Podemos perceber que a forma como a autora estabelece um paralelo entre a notícia e a reportagem nos ajuda a compreender a diferença que existe entre noticiar um fato ocorrido em um determinado tempo e espaço e aprofundar determinados temas, exaurir determinadas discussões. Logo, a principal diferença entre esses dois gêneros está na pauta, a da reportagem sendo mais complexa e exigindo mais aprofundamento e investigação por parte do jornalista que está à frente desse trabalho.

Em suas discussões, Martins Filho (1997Martins Filho, Eduardo Lopes. (1997). Manual de Redação e Estilo de O Estado de São Paulo. (3a ed. revista e ampliada). São Paulo: O Estado de São Paulo.) traz uma definição da reportagem a partir de sua fala no Manual de Redação e Estilo de O Estado de São Paulo:

a reportagem pode ser considerada a própria essência de um jornal e difere da notícia pelo conteúdo, extensão e profundidade. A notícia, de modo geral, descreve os fatos e, no máximo, seus efeitos e consequências. A reportagem busca mais: partindo da própria notícia, desenvolve uma seqüência (sic) investigativa que não cabe na notícia. Assim, apura não somente as origens do fato, mas suas razões e efeitos. Abre o debate sobre o acontecimento, desdobra-o em seus aspectos mais importantes e divide-o, quando se justifica, em retrancas diferentes que poderão ser agrupadas em uma ou mais páginas. A notícia não esgota o fato; a reportagem pretende fazê-lo. Na maior parte dos casos, a reportagem decorre de uma pauta que a chefia encaminha ao repórter, mas é comum o próprio repórter escolher um assunto e sugeri-lo aos superiores (Martins Filho, 1997Martins Filho, Eduardo Lopes. (1997). Manual de Redação e Estilo de O Estado de São Paulo. (3a ed. revista e ampliada). São Paulo: O Estado de São Paulo., p. 254).

A partir do exposto, compreendemos que o processo de produção da reportagem exige um complexo trabalho editorial da comunidade discursiva jornalística, envolvendo jornalistas e editores nesse trabalho, assim como a própria revista, afinal, uma editora geralmente tem um conjunto de revistas que tratam de diferentes assuntos a partir de temas como saúde, beleza, tecnologia etc.

As reportagens de divulgação científica compartilham desse mesmo princípio. Esse tipo específico de reportagem tem como objetivo divulgar e discutir questões relacionadas à ciência e às descobertas científicas para o público em geral, não especializado. Logo, esse gênero textual não é voltado para a comunidade científica pois essa comunidade especializada utiliza de outros gêneros para divulgar e problematizar as questões científicas. Como a reportagem de divulgação científica é um gênero produzido na esfera jornalística e voltado para o grande público, o tratamento científico se dá de outras formas, geralmente de forma interessante com mais explicações sobre determinados termos técnicos e com uma linguagem acessível a um público leigo.

Isso nos leva a um ponto interessante a ser observado, pois podemos ver aqui que a comunidade discursiva jornalística se vale de outras comunidades como, por exemplo, a científica, em suas diversas correntes, para construir seus textos, logo, temos aqui um atravessamento no qual os discursos científicos perpassam a comunidade discursiva jornalística e são processados a partir de sua ótica, ou seja, desloca-se o tratamento da ciência em seu contexto técnico para seu uso na divulgação mais popular pelo viés de outra comunidade, a jornalística.

De acordo com Rojo (2008Rojo, Roxane. (2008). O letramento escolar e os textos da divulgação científica - a apropriação dos gêneros de discurso na escola. Linguagem em (Dis)curso - LemD, 8(3), pp. 581-612. https://doi.org/10.1590/S1518-76322008000300009
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), no final da Idade Média a ciência passou a ser almejada como um dos bens culturais da época. Segundo a autora, a própria noção de divulgação remete ao ato de dar ao povo os bens do conhecimento. Assim, ainda segundo Rojo (2008Rojo, Roxane. (2008). O letramento escolar e os textos da divulgação científica - a apropriação dos gêneros de discurso na escola. Linguagem em (Dis)curso - LemD, 8(3), pp. 581-612. https://doi.org/10.1590/S1518-76322008000300009
https://doi.org/10.1590/S1518-7632200800...
, p. 587-588), “Os textos e discursos de divulgação científica e didáticos surgem justamente dessa vontade política: dar ao vulgo os bens culturais da ciência e do conhecimento”. Em função disso, parece haver uma relação próxima entre esses textos e discursos, pois, conforme constatamos na análise do nosso corpus, o gênero reportagem de divulgação científica, como o chamamos neste trabalho, é permeado de explicações e definições que dão ao texto um tom esclarecedor, didático e interessante.

Rojo (2008Rojo, Roxane. (2008). O letramento escolar e os textos da divulgação científica - a apropriação dos gêneros de discurso na escola. Linguagem em (Dis)curso - LemD, 8(3), pp. 581-612. https://doi.org/10.1590/S1518-76322008000300009
https://doi.org/10.1590/S1518-7632200800...
) distingue divulgação científica, cuja esfera de produção é a esfera científica e a esfera de circulação é a jornalística, de jornalismo científico, cuja esfera de produção e circulação é a jornalística. Como exemplos de jornalismo científico, a autora cita as revistas Superinteressante e Galileu ressaltando que “O próprio estilo dos textos é diferente, pois há uma menor preocupação com o rigor científico, se comparado com o que acontece com os textos de divulgação científica” (Rojo, 2008Rojo, Roxane. (2008). O letramento escolar e os textos da divulgação científica - a apropriação dos gêneros de discurso na escola. Linguagem em (Dis)curso - LemD, 8(3), pp. 581-612. https://doi.org/10.1590/S1518-76322008000300009
https://doi.org/10.1590/S1518-7632200800...
, p. 593). Os gêneros de divulgação científica são produzidos por cientistas ou jornalistas especializados ao passo que os gêneros do jornalismo científico são produzidos por jornalistas especializados ou não (Barros & Maia, 2017Barros, Eliana Merlin Deganutti de, & Maia, Valéria de Fátima Roncon. (2017). O gênero “reportagem de divulgação científica” e seus subgêneros. Veredas - Interacionismo Sociodiscursivo, 1, pp. 116-136.).

Apesar de concordarmos com a distinção feita por Rojo (2008Rojo, Roxane. (2008). O letramento escolar e os textos da divulgação científica - a apropriação dos gêneros de discurso na escola. Linguagem em (Dis)curso - LemD, 8(3), pp. 581-612. https://doi.org/10.1590/S1518-76322008000300009
https://doi.org/10.1590/S1518-7632200800...
), manteremos a denominação reportagem de divulgação científica para as vinte reportagens do jornalismo científico que compõem o nosso corpus de pesquisa porque trata-se do gênero reportagem cuja esfera de produção e circulação é a jornalística, e porque têm o objetivo de “dar ao vulgo os bens culturais da ciência e do conhecimento” (Rojo, 2008Rojo, Roxane. (2008). O letramento escolar e os textos da divulgação científica - a apropriação dos gêneros de discurso na escola. Linguagem em (Dis)curso - LemD, 8(3), pp. 581-612. https://doi.org/10.1590/S1518-76322008000300009
https://doi.org/10.1590/S1518-7632200800...
, p. 587-588). Além disso, Barros e Maia (2017Barros, Eliana Merlin Deganutti de, & Maia, Valéria de Fátima Roncon. (2017). O gênero “reportagem de divulgação científica” e seus subgêneros. Veredas - Interacionismo Sociodiscursivo, 1, pp. 116-136., p. 121) afirmam que “é por esse rótulo que a maioria das pessoas, entre elas os professores, identifica esse gênero da esfera jornalística.”

5. A organização retórica da reportagem de divulgação científica

Neste trabalho, analisaremos vinte reportagens de divulgação científica sendo dez da revista Superinteressante da editora Abril e dez da revista Galileu da editora Globo, do ano de 2018. As reportagens foram selecionadas a partir das chamadas de capa. Após a montagem do corpus, identificamos cada reportagem com o código RDC01, RDC02, etc. e iniciamos a análise a partir da adaptação do modelo CARS (Swales, 1990Swales, John Malcolm. (1990). Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press.) para a identificação de funções retóricas recorrentes nas reportagens do corpus. A adaptação foi feita seguindo a dinâmica de análise do modelo CARS, que identifica a função retórica que um determinado trecho textual realiza, segundo certos expedientes linguísticos característicos que sinalizam o tipo de informação que está sendo expressa. Nesse processo, os exemplares do corpus servem de parâmetro um para o outro levando-se em conta suas semelhanças e discrepâncias nos planos léxico-gramatical e textual. A seguir apresentamos a identificação dos itens do corpus de pesquisa:

Quadro 1
Identificação das reportagens constituintes do corpus de pesquisa

Antes de iniciarmos a análise, faz-se importante destacar três aspectos balizadores deste estudo. O primeiro aspecto diz respeito ao fato de todas as reportagens estarem no suporte revista que trata de fatos científicos e é direcionada a um público não especializado. O segundo aspecto a ser observado é o da multissemioticidade das reportagens que trazem infográficos e imagens que agregam informações, efeitos e sentidos ao texto verbal, dando-lhe plasticidade quanto à diagramação e extensão de cada exemplar do gênero, além de tornar a reportagem mais atraente. O terceiro aspecto a ser observado é que em função dessa plasticidade, a análise objetivou identificar funções retóricas que reflitam uma lógica subjacente que, de certa forma, estabelece uma organização retórica comum entre os exemplares do gênero e que permite classifica-los, neste estudo, como reportagem de divulgação científica.

A análise revelou que as reportagens tendem a cumprir quatro funções retóricas, a primeira com o propósito de incitar o público-alvo a ler a reportagem (FR1-INCITAR O PÚBLICO-ALVO A LER A REPORTAGEM), a segunda com o objetivo de contextualizar o tema (FR2-CONTEXTUALIZAR O TEMA), a terceira com o papel de problematizar o tema (FR3-PROBLEMATIZAR O TEMA), e a quarta com o propósito de concluir a reportagem (FR4-CONCLUIR A REPORTAGEM). A função retórica FR1-INCITAR O PÚBLICO-ALVO A LER A REPORTAGEM pode ser cumprida pela chamada de capa, pelo título ou pelo subtítulo, por meio de quatro subfunções (FR1A, FR1B, FR1C, FR1D) que têm o papel de prender a atenção do leitor para persuadi-lo a ler a reportagem.

A subfunção FR1A-Apresentar um título persuasivo é realizada por meio da chamada de capa ou do próprio título da reportagem e tem o propósito de despertar a curiosidade do leitor, por exemplo indicando que serão reveladas evidências que desafiam fatos tidos como verdades:

[RDC11] “Os verdadeiros descobridores da América”

[RDC12] “A Atlântida que existiu de verdade”

A subfunção FR1B-Apresentar um contexto que afeta o público-alvo procura provocar no leitor o interesse em ler a reportagem, por exemplo para descobrir como pode amenizar ou proteger-se de possíveis riscos do contexto afetante:

[RDC15] “O alerta vermelho da febre amarela”

[RDC17] “O país do agrotóxico”

A subfunção FR1C-Indicar que será apresentada uma história interessante sinaliza que haverá uma narrativa com fatos inusitados a serem desvendados pela reportagem:

[RDC13] “A misteriosa tribo que deu origem ao Ocidente”

[RDC14] “Entenda o que há por trás das criptomoedas, e conheça o segredo que elas guardam para mudar o mundo.”

A subfunção FR1D-Apresentar uma hipótese é cumprida pelo subtítulo e é bastante persuasiva pois indica que a hipótese poderá ser confirmada no desenrolar da reportagem:

[RDC11] “A origem da lenda pode ser a ilha de Creta, onde floresceu na Idade do Bronze a avançada civilização minoica.”

[RDC13] “Dois mil anos antes da Grécia antiga, uma próspera civilização do vale do Indo pode ter inaugurado o regime democrático.”

A função retórica FR2-CONTEXTUALIZAR O TEMA ocorre no início do texto da reportagem e tem três subfunções (FR2A, FR2B, FR2C). A subfunção FR2A-Descrever o fato que deu origem ao tema descreve o evento que originou a reportagem. No exemplo a seguir, a reportagem foi realizada a partir do lançamento do livro; no outro exemplo, a partir de uma conversa entre o repórter e sua amiga:

[RDC05] “Astronauta Scott Kelly lança livro em que relata experiência de passar um ano na estação espacial e reflete sobre o futuro da humanidade fora da Terra.”

[RDC14] “-Você investe no quê? - este repórter perguntou para uma amiga no dia 7 de dezembro.”

A subfunção FR2B-Descrever um caso exemplificador do tema apresenta um caso que exemplifica o tema abordado na reportagem:

[RDC01] “Sofri um acidente aos 17 anos e voltei a estudar um ano depois. [...] Enfrentei olhares, risinhos, comentários maldosos e até fotos! [...] Ainda hoje tenho muita dificuldade em diferenciar um olhar curioso ou empático de um maldoso.”

[RDC17] “O trabalho de Vanderlei era simples. Ele e os colegas passavam a noite preparando a chamada “calda tóxica”, uma mistura de agrotóxicos usada na lavoura de abacaxi [...].”

A subfunção FR2C-Fazer generalizações sobre o tema contextualiza o tema por meio de generalizações:

[RDC03] “Capazes de avaliar grandes volumes de dados que nós deixamos como rastros na web, novas tecnologias de inteligência artificial passam a conhecer profundamente os eleitores e a moldar as novas campanhas políticas.”

[RDC11] “Dezenas de lugares ao redor do mundo já foram apontados como a provável localização de Atlântida.”

A função retórica FR3-PROBLEMATIZAR O TEMA tem doze subfunções (FR3A, FR3B, FR3C, FR3D, FR3E, FR3F, FR3G, FR3H, FR3I, FR3J, FR3K, FR3L), constitui o corpo da reportagem e articula diferentes elementos de efeito retórico, por exemplo os âmbitos político e histórico do tema. A subfunção FR3A - Apresentar o âmbito político do tema descreve como instituições públicas e não públicas, leis, agências, órgãos, etc. relacionam-se com o tema:

[RDC02] “Esses movimentos são de extrema importância porque estão tirando a legitimidade e a normalização da violência contra a mulher, explica Juliana de Faria, criadora da ONG Think Olga.”

[RDC19] “Por isso, a agência de proteção ambiental dos EUA determinou que, após o fim das atividades da WIPP, os avisos de que o local é perigoso deverão permanecer eficazes até o ano 12035 d.C.”

A subfunção FR3B-Apresentar o âmbito histórico do tema apresenta histórias que têm função explicativa e servem de pano de fundo para o tema:

[RDC08] “Os primeiros relatos de dor de cabeça foram feitos há 9 mil anos, [...]”

[RDC19] “Em 24 de julho de 1990, dezenas de cópias de uma carta misteriosa saíram da mesa de Richard Anderson - funcionário do SNL, um laboratório americano dedicado à pesquisa nuclear: [...];”

A subfunção FR3C-Citar pesquisas apresenta pesquisas que dão suporte a teses defendidas na reportagem e marca o caráter científico do gênero:

[RDC03] “Pesquisa da FGV-DAPP mostra que, dos 2.307.185 tweets que discutiam o debate da Rede Globo antes do segundo turno das eleições de 2014, realizado em 24 de outubro, cerca de 11% eram de robôs - todos localizados nos extremos dos polos de apoio aos candidatos.”

[RDC17] “Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC) com 545 trabalhadores da região constatou que quase metade apresenta sintomas de intoxicação.”

A subfunção FR3D-Inserir voz de autoridades traz posicionamentos ou explicações de indivíduos ou instituições apresentados como autoridades no tema abordado na reportagem, intertextualidade que colabora para a credibilidade da reportagem:

[RDC02] “[...] explica o psicanalista Paulo R. F. Cunha, coordenador e professor do curso de Comunicação Social da ESPM e autor do recém-lançado American Way of Life: Consumo e Estilo de vida no Cinema dos Anos 1950.”

[RDC15] “[...] explica Jessé Alves, coordenador do Núcleo de Medicina do Viajante do Instituto Emílio Ribas.”

As subfunções FR3E-Inserir infográficos e FR3F-Inserir imagens trazem informações complementares explicativas, exemplificadoras ou simplesmente ilustrativas, portanto integrantes da reportagem, marcando o caráter multissemiótico do gênero.

A subfunção FR3G-Explicar termos técnicos traz explicações sobre termos específicos que podem não ser do conhecimento do público geral:

[RDC07] “[...] realizada com 3.659 estudantes de ph.D. - título equivalente ao doutorado no Brasil”

[RDC08] “[...] CGRP, molécula inflamatória produzida em excesso na cabeça de quem tem enxaqueca.”

A subfunção FR3H-Desmistificar conceitos equivocados tem função esclarecedora, didática, direcionada a um público curioso que gosta de adquirir novos conhecimentos:

[RDC08] “Apesar de serem os mais procurados, os analgésicos não resolvem a raiz do problema. A ideia de que a dor de cabeça é apenas “uma frescura” e que não é “tão grave assim” provocou um atraso nas pesquisas.”

[RDC15] “Matar macacos não freia a doença. Pelo contrário: eles indicam quando o vírus está perto demais.”

A subfunção FR3I-Marcar a ação investigativa da reportagem evidencia a presença da revista como agente do processo investigativo da reportagem:

[RDC05] ““Mas do jeito que a ciência funciona, especialmente a ciência da Nasa, a partir do momento em que se coletam os dados, levam de três a cinco anos para publicá-los”, disse à GALILEU.”

[RDC17] “Procurada pela SUPER, a Anvisa disse que foi apenas um mal-entendido, e continuará a medir os resíduos de agrotóxico nos alimentos, como sempre fez.”

A subfunção FR3J-Apresentar contraposições apresenta opiniões, resultados ou lados contrários de uma mesma questão:

[RDC09] “Imagine o caso contrário: um pai que estivesse trabalhando [...]”

[RDC15] “[...] as respostas divergem. A primeira diz respeito simplesmente à natureza. [...] Mas essa não é a única explicação. O erro também é humano.”

A subfunção FR3K-Estabelecer o escopo do contexto afetante especifica o tipo de indivíduo que pode ser afetado pelo tema tratado na reportagem:

[RDC15] “[...] que só tome a vacina quem está no grupo de risco: moradores e viajantes que habitam áreas endêmicas.”

[RDC17] “Em suma: o grande risco dos pesticidas é para o agricultor. Para você, que não manuseia diretamente o produto, ele não é o perigo que se imagina.”

A subfunção FR3L-Sugerir conteúdos extras relacionados ao tema sugere ao leitor conteúdos que complementam ou dialogam com a reportagem:

[RDC01] “[...] [leia sobre o estudo também na coluna de Daniel Barros, na página 71].”

[RDC09] “Leia ensaio da socióloga Wânia Pasinato bit.ly/waniapasinato.”

Finalmente, a última função retórica cumprida pelo gênero reportagem de divulgação científica é a função FR4-CONCLUIR A REPORTAGEM que pode ser realizada por meio de cinco subfunções (FR4A, FR4B, FR4C, FR4D, FR4E). A subfunção FR4A-Tecer previsões sobre o tema encerra a reportagem apresentando conjecturas sobre o tema abordado:

[RDC12] “Os motivos desse tipo de ritual bizarro dificilmente serão esclarecidos algum dia.”

[RDC17] “O mundo dá voltas. Pode até ser que, daqui a algumas décadas, a ciência descubra que os níveis de pesticida atualmente considerados seguros na verdade não o são.”

A subfunção FR4B-Retomar o âmbito político do tema faz uma retomada dos aspectos políticos envolvidos no tema da reportagem:

[RDC06] “Ao contrário. Um dos motivos de preocupação são as eleições presidenciais, que acontecerão em julho deste ano.”

[RDC18] ““Tanto a sociedade quanto o governo têm que parar de nos tratar como estudantes, como se essa bolsa fosse um benefício, [...]” diz a mestranda [...]”

A subfunção FR4C-Retomar o âmbito histórico do tema resgata aspectos históricos tratados na reportagem:

[RDC12] “Os paleoíndios faziam pinturas e gravuras rupestres [...], mas sua principal forma de arte parece ter envolvido os mortos.”

[RDC15] “Só em 2016, exportamos mais de 5 milhões de doses [...] O laboratório Rio-Manguinhos, braço da Fundação Osvaldo Cruz, produziu em 2017 mais de 60 milhões de doses [...]”

A subfunção FR4D-Retomar voz de autoridades resgata a intertextualidade por meio de declarações de autoridades mencionadas na reportagem:

[RDC03] ““Tudo pode ser utilizado para o mal, até o rádio, a televisão. O que precisamos fazer é evoluir como sociedade à medida que a tecnologia avança”, ressalta Golino.”

[RDC09] “Além de inconstitucional, a lei “está destruindo os lares”, diz Santos [...]”

Finalmente, a subfunção FR4E-Apresentar possíveis soluções e/ou contribuições encerra a reportagem apresentando formas de mitigar ou solucionar a questão abordada, ou apontando contribuições da própria reportagem para a sociedade:

[RDC01] “Mas há uma forma de frear essa violência: estimular a convivência saudável nas escolas.”

[RDC20] “É aconselhável imprimir um backup dos códigos de autenticação do Google e do LastPass, e deixá-lo guardado num local seguro. Dessa forma, você não terá nenhum problema se o seu celular pifar, for perdido ou roubado.”

Com base nesses resultados, chegamos ao seguinte modelo de organização retórica que contempla todas as funções e subfunções retóricas encontradas no corpus. Faz-se importante destacar que a organização retórica varia de uma reportagem para outra conforme os efeitos retóricos pretendidos pelo jornalista autor da reportagem.

Quadro 2
Organização retórica do gênero reportagem de divulgação científica

A partir desses resultados e com base no conceito de gênero textual proposto por Swales (1990Swales, John Malcolm. (1990). Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press.), podemos inferir que o propósito comunicativo da reportagem de divulgação científica das revistas Superinteressante e Galileu é divulgar conteúdo científico de forma interessante e didática a um público não especializado que busca conhecimento. Segundo Motta-Roth e Marcuzzo (2010Motta-Roth, Désirée, & Marcuzzo, Patrícia. (2010). Ciência na mídia: análise crítica de gênero de notícias de popularização científica. RBLA, 10(3), pp. 511-538. http://dx.doi.org/10.1590/S1984-63982010000300002
http://dx.doi.org/10.1590/S1984-63982010...
, p. 515):

Um documentário televisivo, um artigo ou uma reportagem impressa, publicados em um periódico que veicula informação científica, como as revistas Superinteressante no Brasil ou a New Scientist no exterior, são várias possibilidades que servem à função de popularizar a ciência, pois disseminam conhecimento científico na sociedade mais ampla.

O modelo de organização retórica apresentado neste estudo não esgota as possibilidades de funções e subfunções retóricas da reportagem de divulgação científica, tendo em vista que foi obtido a partir de um corpus de vinte exemplares desse gênero publicados nas revistas Superinteressante e Galileu. Além disso, o gênero textual é um artefato cultural dinâmico sujeito a inovações oriundas da criatividade humana e das novas necessidades e exigências da sociedade em que vivemos.

Quantitativamente, a análise demonstrou que as subfunções mais frequentes da função retórica FR1-INCITAR O PÚBLICO-ALVO A LER A REPORTAGEM são a subfunção FR1A-Apresentar um título persuasivo (95%) e a subfunção FR1C-Indicar que será apresentada uma história interessante (55%), indicando que há uma forte intenção promocional por parte das editoras tanto para manter a clientela que já compra a revista regularmente quanto para conquistar novos leitores. Faz-se importante ressaltar que essas subfunções são realizadas principalmente pela chamada de capa, portanto a capa é explorada como vitrine do conteúdo da revista para chamar a atenção do leitor.

Os temas das reportagens tendem a ser contextualizados principalmente por meio de generalizações, logo a função retórica FR2-CONTEXTUALIZAR O TEMA é realizada com mais frequência pela subfunção FR2C-Fazer generalizações sobre o tema (65%) que tem efeito explicativo por apresentar o tema gradativamente partindo de noções amplas.

O tema é problematizado pela função retórica FR3-PROBLEMATIZAR O TEMA principalmente pelas subfunções FR3A-Apresentar o âmbito político do tema (85%), FR3B-Apresentar o âmbito histórico do tema (95%), FR3C-Citar pesquisas (80%), FR3D-Inserir voz de autoridades (90%) e FR3J-Apresentar contraposições (65%). Os aspectos políticos e históricos trazidos para a reportagem complexificam o tema pondo-o em perspectivas que permitem ao leitor estabelecer diferentes relações de sentido sobre o assunto. A citação de pesquisas, a inserção de voz de autoridades e a apresentação de contraposições dão ao texto um contorno científico e crítico.

A alta frequência das subfunções FR3E-Inserir infográficos (85%), FR3F-Inserir imagens (75%), FR3G-Explicar termos técnicos (95%) e FR3H-Desmistificar conceitos equivocados (65%) atestam o caráter didático do gênero reportagem de divulgação científica. A inserção de infográficos e imagens torna o texto multissemiótico e agrega dimensões semânticas que vão além do verbal, esclarecendo e complementando o conteúdo. A explicação de termos técnicos tem a função de garantir que a terminologia específica não constituirá empecilho para a compreensão por parte do leitor ao mesmo tempo que lhe ensina vocabulário novo. A desmistificação de conceitos equivocados atualiza o conhecimento do público-alvo corrigindo possíveis equívocos conceituais oriundos do conhecimento popular.

A função retórica FR4-CONCLUIR A REPORTAGEM é cumprida principalmente pelas subfunções FR4A-Tecer previsões sobre o tema (65%) e FR4B-Retomar o âmbito político do tema (55%). O uso de conjecturas sobre o tema a partir do que foi exposto e a retomada da dimensão política do tema permitem que o leitor reflita criticamente sobre a reportagem e posicione-se favorável ou desfavoravelmente.

6. Considerações finais

A análise nos mostra que a reportagem de divulgação científica é um gênero complexo em sua estrutura, pois, conforme demonstrado nas funções e subfunções retóricas, a organização retórica desse gênero textual articula o diálogo jornalístico popular com pesquisas e autoridades de um campo específico, infográficos, investigações e histórias, relacionando fatos com explicações de base científica.

Percebemos, também, que as reportagens sempre articulam reflexões sobre questões político-sociais que são de interesse dos leitores, problematizando e ao mesmo tempo facilitando o estabelecimento de um contexto de fácil alcance ao referido público. O tom explicativo e científico do texto juntamente com os infográficos e imagens cumprem o propósito de apresentar os conteúdos de forma interessante ao público geral não especializado.

Faz-se pertinente destacar que essa análise, pautada em um corpus de vinte reportagens, pode contribuir para o ensino e aprendizagem de língua portuguesa, pois, por meio do conteúdo sintetizado no quadro e das reflexões apresentadas, é possível traçar procedimentos metodológicos para o trabalho com a recepção e produção da reportagem de divulgação científica em sala de aula.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    25 Abr 2020
  • Aceito
    11 Fev 2021
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