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"Um Orthossaurus nas redes sociais"

EDITORIAL

"Um Orthossaurus nas redes sociais"

Do que vale olhar sem ver?

Johann W. von Goethe

Comprei meu primeiro computador no início dos anos 90, quando residente do setor de Ortodontia do Centrinho-USP. Entretanto, apesar de me considerar na vanguarda, minha recepção à rede WWW demorou um pouco mais. Em parte foi por culpa do Bill Gates. Ele me fez acreditar que essa ferramenta não traria benefícios pessoais ou profissionais. Ledo engano...

No compasso de Gates, devo confessar que durante muito tempo fui cego às redes sociais. Preconceito, mesmo: réu confesso, justificado pela falta de tempo. Até que certo dia um graduando me fez enxergar o Orkut. Depois do primeiro contato, inferi que não deveria puir minha preciosa linha do tempo com aquela bugiganga, e me aconcheguei mais-e-mais ao princípio de Gates. Seria o meu enterro se não fosse esse parêntese que faço agora: eis que surge o "Facebook" para me retirar do leito de morte. Foi quando enterrei a epiderme do Orthossaurus odonthorrex que me habitava em pleno século da revolução na comunicação.

Dessa vez foi um pós-graduando. Encenei desdenho, novamente; um olhar sem foco, típico da visão pouco nítida de um dinossauro. Estava implícito o preconceito, algo, por sua vez, inconcebível a um educador. Passada a repulsa inicial e a inépcia, solicitei-lhe que me apresentasse ao tal "feice". No início da apresentação me pareceu um Orkut avançado, mas, de tanto burilar - por curiosidade -, acabei por iniciar uma caminhada repleta de novidades.

Como qualquer um que usa as redes sociais, redescobri amigos que não encontrava há muito; gente que jamais teria a oportunidade de contato não fosse a criação dessa potente ferramenta de comunicação. Também reconheci diversos ortodontistas de renome, fisgados pela rede. Profissionais por quem nutro efusiva admiração. Se essa gente toda está na rede, por que não estaria eu, esse descendente mesozoico? Rompi, assim, os grilhões do preconceito e a minha ocultação do ciberespaço. Saí do Parque.

Bisbilhotando um pouco mais, descobri a ferramenta que poderia contribuir com o meu papel de educador, pesquisador, editor e clínico. Eram os grupos, espaço no qual são adicionadas pessoas com afinidades a determinado tema. Uma espécie de gueto. No mergulho, percebi a fresta e criei dois deles. Já sentia, àquela altura, que a minha pele de réptil ficara tatuada no passado.

Ao primeiro grupo dei a alcunha de Ortodontia Brasileira, que chegou a mil membros em um mês, graças a muitos amigos. Hoje ultrapassa 1.500 profissionais. Esse grupo abriga notificações com interesses diversos dentro da especialidade, tais como divulgações de pesquisas e eventos, discussão de casos clínicos e, eventualmente, alguns embates pessoais que tenho a árdua missão de mediar.

Confesso-lhes, entretanto, que o filho predileto é o segundo grupo, batizado pomposamente de Pesquisa Odontológica Brasileira. Está chegando a dois mil membros e ainda repleto de respeitadíssimos pesquisadores, editores, professores e alunos de todos os estados desse (in)finito Brasil. Publicações de pesquisas, editoriais, informações e interessantíssimas discussões sobre metodologia científica - incluindo Bioestatística -, concursos para professores e eventos científicos são constantemente divulgados pelo grupo. Foi pela rede, graças ao Prof. Saul Paiva-UFMG, que tomei ciência, por exemplo, do encontro da Associação Brasileira de Editores Científicos, realizado em julho desse ano. Um dos melhores eventos que participei na última década. Há algo mais útil?

Se hoje relembro esse momento jurássico vivido na transição da minha dentição de dinossauro, foi para me refazer do preconceito, apenas no sentido metafórico - assim, desculpo-me aos que não participam das redes sociais -; também por entender que vivemos a era da comunicação e não podemos, jamais, abjurar, pois imagens e documentos voam em frações de segundo. Muito mais está no porvir. Conhecimento é poder, e comunicação gera disseminação do conhecimento; portanto, esses eventos, entrelaçados, diminuem as desigualdades e ampliam a sociabilidade no sentido antropológico. Por outro lado, com tanto acesso às informações, ainda não conseguimos nos distanciar do real significado do preconceito réptil, pois ele está atarraxado a um estereótipo.

Não gostaria de advogar que todo ortodontista deve participar da rede social, ou que abandone a fossilização paquidérmica - nunca, jamais. Apenas relato esse aprendizado como forma de aconselhar os que ainda não tiveram a coragem ou estímulo suficiente, para que busquem informações sobre essa atraente ferramenta. Aos que já conhecem, convido-os a participar dos tantos interessantes grupos criados e a visitar as informações postadas. Você observará que o tempo despendido inicialmente lhe será devolvido com juros, basta clicar sem precisar rugir. Parafraseando John Munsell: Se o conteúdo é rei, a comunicação é a rainha; portanto, salve a Rainha.

Boa leitura!

David Normando

Editor-chefe, davidnor@amazon.com.br

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Out 2012
  • Data do Fascículo
    Ago 2012
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