Acessibilidade / Reportar erro

O QUE HÁ DE NOVO NA ODONTOLOGIA

O QUE HÁ DE NOVO NA ODONTOLOGIA

O sabor das palavras na ponta da língua

Jorge Faber

Editor da Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial

Os falantes da língua portuguesa usam com freqüência uma expressão que traduz a satisfação de ter dito algo – falei (tal coisa) com gosto. O interessante dessa questão é que certas pessoas, portadoras de uma condição familiar rara denominada sinestesia, têm cruzamento das sensações e realmente podem sentir o sabor das palavras. Avanços nesse assunto foram recentemente publicados na revista Nature1 por pesquisadores da Inglaterra.

Eles avaliaram um grupo de indivíduos portadores da variante palavra-sabor de sinestesia e analisaram se o sabor era percebido quando a palavra estava em vias de ser dita, ou seja "na ponta da língua", e não apenas quando era pronunciada. Assim, testaram esses indivíduos utilizando muitas palavras não corriqueiras e checaram esses resultados com um novo teste, mais de um ano após. Estes foram confrontados com os de um grupo controle, composto por indivíduos que não apresentavam sinestesia.

Os resultados mostraram grande consistência na percepção dos sabores quando determinadas palavras estavam "na ponta da língua" e houve diferença entre os grupos. Como os sabores puderam ser induzidos, mesmo na ausência da informação fonológica, foi proposto um modelo no qual caminhos existem entre os centros de fala e sabor, isto é, os sabores são associados a nomes de alimentos e seus vizinhos fonológicos. Por exemplo, a palavra mancha em português poderia desencadear o sabor de manga.

Esses caminhos podem operar em todas as pessoas, mas ser excepcionalmente ativos nos sinestetas. Portanto, a sinestesia palavra-sabor pode representar um exagero dos mecanismos normais que ligam os pensamentos lingüísticos à percepção sensorial.

Escovas de dente velhas removem menos placa que as novas?

Jorge Faber

Editor da Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial

Aprendemos com nossas avós que devemos trocar periodicamente nossas escovas de dente. Durante nossa formação básica odontológica essa informação foi fortalecida de tal forma que quase todos os dentistas sugerem aos seus pacientes trocas periódicas de suas escovas. Entretanto, será que nossas avós estavam certas? Um grupo de pesquisadores da Holanda e Birmânia arregassou as mangas sobre essa questão e publicou seus resultados no Journal of Dental Research2 recentemente.

Investigações sobre a relação entre o desgaste da escova de dente e sua eficiência da remoção da placa chegaram a resultados inconclusivos. A maior parte dos estudos envolveu o desgaste artificial das escovas, que pode diferir daquele sofrido naturalmente com o uso. Na maioria dos estudos realizados com escovas desgastadas naturalmente chegou-se à conclusão que, aparentemente, o estado da escova não é crítico para a remoção da placa. Esses trabalhos, na sua totalidade, foram realizados com pacientes adultos e assim fica a questão: será que crianças perdem alguma capacidade de limpeza dos dentes ao empregarem escovas desgastadas pelo uso? A resposta para essa pergunta é de grande relevância para países em desenvolvimento que implementam programas de higienização para sua população carente, sem recursos ou logística para substituir periodicamente as escovas das pessoas.

Escolares birmaneses entre 7 e 8 anos de idade participaram do estudo. Escores de placa foram registrados nesses indivíduos, que utilizavam escovas com 14 meses de uso. A idade das escovas era conhecida, pois haviam sido dadas às crianças pelo governo local. Novos escores foram registrados ao se trocar as escovas por novas e a diferença nos escores de placa foi analisada.

Os resultados do trabalho mostram que as crianças não melhoram de forma relevante sua quantidade de remoção de placa após trocarem as escovas, mesmo estando elas bastante deformadas. Esse dado sugere que programas de saúde bucal para populações carentes não precisam focar seus recursos na troca periódica das escovas e, em um evento raro, sugere que nossas avós estavam enganadas.

1. SIMNER, J.; WARD, J. The taste of the words on the tip of the tongue. Nature, London, v. 444, n. 23, p. 438, Nov. 2006.

2. HELDERMAN, W. H. et al. Plaque removal by young children using old and new toothbrushes. J Dent Res, Alexandria, v. 85, n.12, p.1138-1142, 2006.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Mar 2007
  • Data do Fascículo
    Fev 2007
Dental Press Editora Av. Euclides da Cunha nº. 1718 - Zona 5, 87015-180 Maringá-PR-Brasil, Tel.: (44) 3031-9818, Fax: (44) 3262-2425 - Maringá - PR - Brazil
E-mail: dental@dentalpress.com.br