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Odontologia baseada em evidências: o fundamento da decisão clínica

EDITORIAL

Odontologia baseada em evidências: o fundamento da decisão clínica

Estabeleça-se, desde o início, o seguinte: decisões clínicas deveriam, sempre que possível, ser tomadas com base em evidências científicas. Esclarecido esse ponto, segue-se a pergunta inevitável: o que é decisão clínica baseada em evidências?

Esse termo tem estado em destaque nos congressos e editoriais dos últimos anos. Não é sinônimo de Odontologia calcada em "receitas de bolo", mas sim, de uma abordagem para a tomada de decisão na área de saúde na qual o clínico utiliza a melhor evidência disponível, em sintonia com os anseios do paciente, para decidir qual é a melhor alternativa de tratamento para aquela pessoa.

A evidência para sustentar uma decisão clínica pode ter diferentes níveis. Esse peso relativo existente sobre um assunto é dado pela qualidade e quantidade de publicações sobre ele. Os artigos podem variar de opiniões pessoais e editoriais a – no topo da pirâmide de evidência – revisões sistemáticas e metanálises, passando por ensaios clínicos randomizados e outros desenhos de estudos. Essa diferença no peso dos trabalhos tem feito com que nós da Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial aceitemos para publicação cada vez menos estudos que revisões narrativas e mais revisões sistemáticas, com o objetivo de proporcionar aos leitores informações cada vez mais relevantes para seus consultórios.

A preocupação com a qualidade da informação foi pioneiramente cunhada pelo epidemiologista escocês Archie Cochrane1. Suas idéias de prática baseada em evidência ganharam crescente aceitação e ele foi homenageado ao utilizarem seu nome em uma organização internacional voltada para essa causa – a Colaboração Cochrane. Entretanto, o termo "baseado em evidência" foi pioneiramente utilizado em 1990 por David Eddy2,3.

A Colaboração Cochrane publica em seu endereço eletrônico revisões sistemáticas, denominadas revisões Cochrane, que representam uma contribuição inestimável para o progresso das ciências da saúde. Várias relevantes revisões relacionadas à Ortodontia e Ortopedia Facial podem ser acessadas pela Biblioteca Cochrane, e uma que é de especial interesse para nossa especialidade versa sobre o tratamento das más oclusões de Classe II por meio de protocolos de tratamento em uma ou duas fases. A conclusão obtida é que o tratamento em duas fases não é mais eficaz que o tratamento em fase única. Essa constatação está em sintonia com um artigo publicado nesse número da Revista por Calheiros et al.5. Todavia, esse resultado não deve ser interpretado como a condenação do tratamento em duas fases, mas sim, que precisamos entender melhor quando devemos prescrevê-lo.

Vários outros assuntos são abordados nesse número e todos, sem exceção, têm correlação com a clínica. Entretanto, a capacidade de ligar o texto com procedimentos clínicos ou laboratoriais somente é desenvolvida com o hábito da leitura científica. É certo que alguns artigos facilitam essa conexão de forma especial, como a seção Insight Ortodôntico6, mas a constante leitura é a única forma de se adquirir familiaridade com a Ciência e, conseqüentemente, tomar decisões clínicas baseadas em evidência.

Boa leitura,

Jorge Faber

Editor

  • 1
    COCHRANE, A. L. Effectiveness and efficiency: random reflections on health services. London: Nuffield Provincial Hospitals Trust, 1972.
  • 2
    EDDY D. M. Evidence-based medicine: a unified approach. Health affairs, v. 24, no. 1, p. 9-17, 2005.
  • 3
    EDDY, D. M. Practice policies: where do they come from? JAMA, v. 263, n. 9, p. 1265, 1269, 1272, Mar. 1990. Passim
  • 4
    HARRISON, J. E.; O'BRIEN, K. D.; WORTHINGTON, H. V. Orthodontic treatment for prominent upper front teeth in children. Cochrane Database Syst. Rev., v. 18, no. 3, Jul 2007. Disponível em: http://www.cochrane.org/reviews/en/ab003452.html Acesso em: 12 ago. 2007.
  • 5
    CALHEIROS, A. A.; MIGUEL, J. A. M.; MOURA, P. M; ALMEIDA, M. A. O. Tratamento da má oclusão de Classe II de Angle em duas fases: avaliação da efetividade e eficácia por meio do índice PAR. Rev. Dental Press Ortod Ortop Facial, v. 13, n. 1, p. 43-56, 2008.
  • 6
    CONSOLARO, A; CONSOLARO, M.F. Expansão rápida da maxila e constrição alternadas (ERMC-Alt) e técnica de protração maxilar ortopédica efetiva: extrapolação de conhecimentos prévios para fundamentação biológica. Rev. Dental Press Ortodon. Ortop. Facial, v. 13, n. 1, p. 18-23, 2008.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Mar 2008
  • Data do Fascículo
    Fev 2008
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