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A diversidade global dos Institutos de Estudos Avançados1 1 Este texto é uma versão abreviada da versão original em inglês publicada em <https://sociologica.unibo.it/article/view/9839/10968>.

resumo

Quando o primeiro Instituto de Estudos Avançados foi fundado em Princeton em 1930, ninguém previu que ele se tornaria um modelo que se espalharia por todo o planeta. Especialmente nos últimos 20 anos, um número significativo de novos Institutos de Estudos Avançados (IEA) surgiu em muitas regiões ao redor do mundo. Classificados como “paraísos acadêmicos”, eles costumam ser considerados como ilhas isoladas ou torres de marfim, mas essa é apenas uma parte da história: pretendo mostrar que (a) os IEA são ao mesmo tempo produtos e motores da globalização da pesquisa e estão intimamente imbricados com diferentes tendências das políticas científicas globais; e que (b) esses institutos, apesar de seu pequeno porte, tiveram um papel importante no desenvolvimento universitário e científico e ainda continuam a tê-lo. Por fim, gostaria de apresentar um panorama dos desafios e tarefas futuras dos IEA como espaços de produção global de conhecimento.

palavras-chave:
Institutos de Estudos Avançados; Produção mundial de conhecimento; Política científica; Interdisciplinaridade; Iniciativas de excelência

abstract

When the first Institute for Advanced Study was founded in Princeton in 1930, nobody foresaw that it would eventually become a model that would spread across the globe. Especially within the last 20 years a significant number of new Institutes for Advanced Study (IAS) have surfaced in many regions of the world. Classified as “academic paradises,” they are often regarded as isolated islands or ivory towers, but this is only one part of the story: I will show that (a) IAS are both products and driving forces of the globalization of research and are closely intertwined with different trends of global science policies, and (b) IAS, despite their small size, have played an important role in the development of universities and the sciences, and continue to do so. Finally, I would like to provide an overview of future challenges and tasks of the IAS as spaces of global production of knowledge.

keywords:
Institutes for Advanced Study; Global production of knowledge; Science policy; Interdisciplinarity; Excellence initiatives

Introdução

Quando o primeiro Instituto de Estudos Avançados (IEA) foi fundado em Princeton em 1930, ninguém previu que após algumas décadas esse modelo iria se disseminar ao redor do mundo. Nos últimos 20 anos, em

particular, um número significativo de novos Institutos de Estudos Avançados surgiram em várias partes do globo. Atualmente, estima-se que haja em torno de 100 a 150 instituições desse tipo, a maioria delas ligadas a Universidades.2 2 Uma lista dos 102 IEA de que tenho conhecimento (em andamento) pode ser encontrada em: <https://www.uni-bielefeld.de/(en)/ZiF/Allgemeines/partner.html>.

Mas qual é a razão por trás dessa onda de criação de Institutos? Por que as Universidades de pesquisa, em especial, investem nesses centros? O que elas esperam alcançar e o que de fato é alcançado? E qual o impacto dos IEA no desenvolvimento científico e nas próprias Universidades?

Nenhuma análise sistemática dos Institutos de Estudos Avançados em todo o mundo foi feita até agora. Existem apenas alguns textos (nem todos ainda publicados) sobre a história das instituições americanas e europeias.3 3 Descrições mais detalhadas da história dos IEA podem ser encontradas em Wittrock (2002) e Goddard (2016). Para compreender melhor o seu contexto histórico e desenvolvimento global, durante os últimos anos visitei mais de 30 IEA na Ásia, América Latina, Europa, Austrália e nos Estados Unidos, quando conversei com bolsistas e diretores sobre estratégias, missões e visões.4 4 Há IEA em Israel (IIAS), China (IEA de Nanquim e Fudan), Coreia do Sul (Kias), Japão (Wias, Nagoya), Austrália (UWA-IAS), Brasil (IEA-USP, IEAT-UFMG, Idea- Unicamp), Costa Rica (Ucrea), México (Calas), Estados Unidos (Casbs Neubauer Collegium, Buffett Institute, IEA Radcliffe, GIAS NYU, IEA de Princeton), Canadá (PWIAS) e vários IEA europeus. Gostaria, neste momento, de expressar a minha gratidão pela enorme simpatia e abertura com que fui recebida em todos os IEA. É realmente impressionante a facilidade com que os visitantes se integram às comunidades acadêmicas desses lugares.

A seguir, pretendo dar uma visão geral do desenvolvimento global dos IEA e da diversidade de modelos e contextos de política científica. Estou interessada especialmente na função que essas instituições exercem nas Universidades, mas também nos sistemas nacionais e internacionais de ensino superior. Levar em consideração os contextos das políticas científicas permite compreender com mais profundidade o significado, a capacidade e a diversidade dos IEA. Mostro que existem quatro diferentes gerações de IEA e que, apesar de seu tamanho reduzido, esses Institutos desempenharam um papel marcante - e continuam a desempenhar - no desenvolvimento universitário e científico. Finalmente, apresento uma visão geral dos futuros desafios e tarefas dos IEA.

Prefácio metodológico

Os IEA desenvolveram ainda em sua fase pioneira uma grande diversidade de padrões institucionais. Para dar conta dessa diversidade, usarei uma abordagem indutiva; primeiro, descreverei em detalhes três modelos diferentes da fase inicial, que podem ser considerados protótipos do desenvolvimento posterior. A partir desses modelos, é possível delinear as características básicas dessas instituições. Ao descrever o desenvolvimento global posterior, mostrarei que a grande flexibilidade dos IEA não permitiu o surgimento de um formato ideal, o que os distingue de outros tipos de institutos. Uma tipologia baseada em padrões institucionais, portanto, não chegaria a lugar nenhum e não daria conta da natureza adaptável dos IEA. Para compreender melhor suas manifestações e padrões em diferentes contextos históricos e nacionais, tratarei principalmente dos propósitos que levaram à criação de cada Instituto mencionado neste estudo, além das diferentes visões institucionais e contextos de política científica. Para isso, usarei as entrevistas que fiz com diretores, bolsistas e funcionários, bem como as publicações desses institutos, disponíveis em formato impresso ou em seus sites.

Os pioneiros (1930-1970)

A criação do Instituto de Estudos Avançados em Princeton e suas consequências

Em 1930, quando o primeiro e ainda hoje o mais renomado IEA foi fundado em Princeton, Nova Jersey, seu fundador Abraham Flexner (1866-1959) queria mais do que simplesmente criar um novo instituto: ele queria criar uma instituição que estabelecesse novos padrões e, assim, ajudasse a renovar todo o sistema de ensino superior americano. Flexner havia demonstrado uma grande simpatia pela ideia humboldtiana de uma Universidade voltada desde o início para a pesquisa e foi considerado um crítico severo do sistema americano. Após uma estada de dois anos como estudante de pós-graduação na Friedrich-Wilhelms-Universität (Universidade de Frederico-Guilherme) de Berlim, entre 1907-1908, ele produziu um texto sobre as deficiências das faculdades americanas. Para Flexner, o modelo da Universidade de pesquisa alemã parecia muito mais avançado em comparação tanto com as Universidades britânicas tradicionais e sua preocupação em formar cavalheiros cultivados, quanto com as Universidades americanas e seu foco na formação profissional (Goddard, 2016_______. The Development of Institutes for Advanced Study and their Role in the Contemporary University, Presentation at Nagoya University (11.03 2016), unpublished manuscript., p. 3).

Durante uma estada no All Souls College de Oxford em 1928, sua visão do futuro das Universidades e instituições de pesquisa ficou mais nítida. Ele estava convencido de que as Universidades deveriam se orientar mais para a pesquisa básica. Além disso, era preciso criar Institutos que permitissem aos cientistas mais talentosos se concentrarem exclusivamente na pesquisa básica e no ensino informal de um número limitado de alunos de pós-graduação. Flexner concluiu que essa nova forma de instituição era necessária em razão das deficiências do sistema de ensino superior americano, que não abria espaço, ou não abria espaço suficiente, para a pesquisa: “É a multiplicidade de seus propósitos que torna uma universidade americana um lugar tão infeliz para um acadêmico” (Flexner, 1930, p.2).

Ele finalmente conseguiu o apoio dos irmãos Louis Bamberger e Caroline Bamberger Fuld - como o próprio Flexner, descendentes de imigrantes judeus alemães -, que deram 5 milhões de dólares para realizar seu sonho de criar um Instituto voltado exclusivamente para a pesquisa. “O Instituto de Estudos Avançados deve ser uma Universidade de pós-graduação no mais alto sentido possível do termo” (Flexner, 1930, p.9). “Portanto, é de extrema importância que estabeleçamos um novo padrão” (ibidem, p.13). Ao abrir a um pequeno número de pesquisadores de destaque uma instituição devotada à liberdade acadêmica, ele queria criar uma “utopia educacional” que acabaria por beneficiar todo o sistema de ensino superior americano (Flexner, 1931, p.20).

Contudo, Flexner não almejava apenas reformas institucionais, havia também outras considerações fundamentais sobre o progresso da ciência. Ele acreditava que não eram meras reflexões sobre utilidade e aplicação na ciência que levavam a inovações tecnológicas. Em vez disso, essas surgiram da pesquisa básica movida pela curiosidade. Em 1939, Flexner (2017) publicou o ensaio The Usefulness of Useless Knowledge [A utilidade do conhecimento inútil], que se tornou o manifesto para todos os Institutos de Estudos Avançados. Nesse texto, ele discorre sobre a importância da pesquisa pura para o progresso tecnológico de longo prazo (Flexner, 2017).

Ao fundar o IEA em Princeton em 1930, Flexner se inspirou nas ideias de Humboldt sobre prioridade para pesquisa pura, liberdade acadêmica e ensino voltado para a pesquisa. Ele idealizou o IEA como “uma pequena Universidade, onde se desenvolvem tanto alguma atividade de ensino quanto uma grande quantidade de pesquisas” (Flexner, 1931, p.5), que deveria se tornar um modelo para o desenvolvimento futuro das Universidades americanas. Ele conseguiu trazer Albert Einstein para o IEA como um dos primeiros membros do corpo docente em 1933, e o Instituto rapidamente ganhou reputação internacional. Em seus primeiros anos, tornou-se refúgio para cientistas alemães emigrados (além de Albert Einstein, esses incluíam Hermann Weyl, Kurt Gödel, John von Neumann e Erwin Panofsky) que tiveram um importante papel em atrair outros cientistas europeus para os Estados Unidos. “É uma triste ironia que os esforços de recrutamento de Flexner tenham sido favorecidos pela ascensão do nazismo na Alemanha, o país de onde ele tirou tanta inspiração para suas ideias sobre o ensino superior” (IAS Princeton, 2013, p.15). Em pouco tempo, Princeton ultrapassou Göttingen como o centro mundial da matemática, e suas excelentes condições de trabalho estabeleceram novos padrões para universidades do mundo todo.

O Instituto de Estudos Avançados de Princeton continua até hoje fiel às ideias visionárias de Flexner, oferecendo tempo e espaço para pesquisas fundamentais. Em suas quatro escolas (matemática, ciências naturais, estudos históricos e ciências sociais), cerca de 200 acadêmicos e estudantes de pós-graduação de todo o mundo fazem pesquisas sobre temas que eles mesmos definiram. Assim, o Instituto se assemelha a uma pequena Universidade na qual os pesquisadores são ao mesmo tempo alunos que realizam “estudos avançados”. O corpo docente permanente de cada escola é composto de seis a oito membros e entre cinco e oito professores eméritos.5 5 Segundo os dados apresentados no Relatório Anual 2016/2017. Além da excelente infraestrutura, são seus professores renomados o que mais atrai (jovens) pesquisadores de todo o mundo para o IEA.

A missão do IEA de Princeton é reunir os pesquisadores mais talentosos. Nas ciências naturais e na matemática, isso envolve os campos de pesquisa de mais longo prazo, enquanto as escolas de ciências sociais e história se caracterizam pela mudança constante de focos temáticos e pelo apoio a pesquisadores individuais. O trabalho focado e especializado é o cerne do Instituto, enquanto a colaboração interdisciplinar é deixada principalmente ao acaso (“serendipidade no lazer”, para citar Peter Goddard). Assim, apresentações e workshops estão, em princípio, abertos a membros de outras escolas, mas não são organizados programas transversais entre as escolas. Mesmo durante a hora do almoço, as diferentes escolas permanecem isoladas e várias tentativas da administração do Instituto de estabelecer uma comensalidade interdisciplinar nas mesas dos refeitórios falharam até agora.

O IEA de Princeton inspirou a criação da maioria dos IEA ao redor do mundo, então é difícil encontrar um Instituto de Estudos Avançados que não tenha como referência o lendário instituto de Princeton. Contudo, o modelo de Princeton com suas diferentes escolas e seu forte enraizamento nas ciências naturais e na matemática foi copiado apenas algumas vezes: O Instituto de Estudos Avançados de Dublin (DIAS, fundado em 1940) e o Institut des Hautes Études Scientifiques de Paris (IHES, criado em 1958) tiveram como modelo o IEA de Princeton com seu foco em matemática e física. O Instituto de Estudos Avançados da Coreia (KIAS, fundado em 1996) também pertence a essa categoria. Em termos de estrutura e tamanho, no entanto, Princeton não é o modelo original da maioria dos IEA, mas sim o Centro de Estudos Avançados em Ciências do Comportamento em Palo Alto.

Centro de Estudos Avançados em Ciências do Comportamento (Casbs) em Palo Alto

Vinte e quatro anos após a fundação do IEA de Princeton, outro IEA americano foi criado na costa oeste por iniciativa e com o apoio da Fundação Ford: o Centro de Estudos Avançados em Ciências do Comportamento (Casbs, na sigla em inglês) em Palo Alto começou a funcionar em 1954 nas proximidades da Universidade de Stanford, mas institucionalmente independente dela. Em contraste com o IEA de Princeton, o Centro não foi concebido para abranger todo o espectro das ciências, tendo como foco as ciências sociais e as ciências do comportamento em sentido amplo. Sua fundação partiu da convicção de que pesquisas sobre sociedades e comportamentos individuais podem dar uma grande contribuição para a democratização (Wittrock, 2002WITTROCK, B. Institutes for Advanced Study: Ideas, Histories, Rationales, Keynote Speech on the Occasion of the Inauguration of the Helsinki Collegium for Advanced Studies, University of Helsinki, December 2, 2002, unpublished., p.2). O objetivo era criar uma instituição nacional voltada ao desenvolvimento teórico e metodológico da pesquisa em ciências sociais, a ainda jovem e “a mais americana de todos as áreas de pesquisa” (Thackray, 1984THACKRAY, A. Notes Towards a History, based on a talk given to the Board of Trustees on April 27, 1984. Disponível em: <https://casbs.stanford.edu/casbs-origins>.
https://casbs.stanford.edu/casbs-origins...
).

Quanto ao seu tamanho e estrutura, o Casbs - muito mais do que o IEA de Princeton - é o protótipo da maioria dos Institutos de Estudos Avançados posteriores. Não contava com uma equipe permanente nem escolas separadas e, com 40 a 50 pesquisadores bolsistas em cada ano acadêmico, era muito menor que Princeton. Tal como Princeton, o Casbs durante muitos anos teve como foco exclusivo o apoio a projetos de pesquisa individuais, além de oferecer ótimas condições de trabalho para seus acadêmicos, dispensando-os ​​de quaisquer obrigações de ensino e administração. Como observou Lorraine Daston, uma das diretoras do IEA de Princeton, as Escolas de Estudos Históricos e Ciências Sociais de Princeton acabaram por seguir o modelo de Stanford, mudando o foco em pesquisas do corpo docente permanente para atividades centradas em pesquisadores bolsistas. Talvez isso se deva ao fato de que a configuração inicial do IEA de professores titulares conduzindo pesquisas em isolamento é menos atraente para a área de humanidades do que para matemáticos e físicos teóricos.

Essa concentração em um único campo acadêmico - ainda que amplo - teve forte impacto no desenvolvimento epistêmico e institucional das ciências sociais e comportamentais na segunda metade do século XX. O sociólogo sueco Björn Wittrock (2002WITTROCK, B. Institutes for Advanced Study: Ideas, Histories, Rationales, Keynote Speech on the Occasion of the Inauguration of the Helsinki Collegium for Advanced Studies, University of Helsinki, December 2, 2002, unpublished., p.3) chegou a descrevê-lo como uma “força motriz das transformações em curso nas ciências sociais e humanas”. O que o IEA de Princeton foi para a matemática, o Casbs foi para as ciências sociais: ele se tornou um centro de visibilidade global para as ciências sociais e comportamentais e atraiu os grandes teóricos dessas áreas. Como resultado, contribuiu para o aumento da cientificidade e a consolidação desses campos relativamente novos no cenário acadêmico dos Estados Unidos, bem como ampliou seu impacto na comunidade acadêmica internacional.

Nos seus primeiros 54 anos de sua existência, o Casbs foi uma instituição independente. Somente em 2008 - devido a questões orçamentárias -, passou a integrar a estrutura da Universidade Stanford como uma de suas atuais 18 instituições interdisciplinares de pesquisa. O Centro conta com o apoio organizacional da Universidade, mas continua a atuar de forma autônoma em termos acadêmicos e orçamentários. Para a Universidade, o Casbs é o carro-chefe das pesquisas interdisciplinares: “Nossa nova relação com o centro ressalta o compromisso da universidade com a pesquisa e os estudos multidisciplinares em toda a gama de disciplinas acadêmicas”, declarou o ex-pró-reitor John Etchemendy.6 6 Ver Relatório Stanford de 13 de fevereiro de 2008. Disponível em: <https://news.stanford.edu/news/2008/february13/casbs-021308.html>. Acesso em: 10 ago. 2019.

Inicialmente, o foco do Casbs eram projetos individuais e pesquisas teóricas. A partir de 2014, com a gestão da atual diretora Margaret Levi, porém, o Centro passou também a apoiar o trabalho de grupos de pesquisa sobre problemas sociais relevantes, além de colaborações de longo prazo que também abriram o Casbs para o mundo não acadêmico. Entre os pesquisadores convidados do Casbs agora há também empresários, políticos, jornalistas e artistas. O Casbs não quer mais ser um refúgio intelectual isolado, mas sim um think-tank intersetorial voltado aos desafios da sociedade.

O Centro de Pesquisa Interdisciplinar (ZiF) em Bielefeld como o primeiro Instituto de Estudos Avançados sediado em uma Universidade

Em 1968 - 14 anos após a fundação do Casbs -, um terceiro protótipo de IEA foi criado na Alemanha: O Centro de Pesquisa Interdisciplinar (ZiF) em Bielefeld apresenta semelhanças estruturais com seus predecessores americanos, mas substitui o princípio de financiamentos individuais por um consistente apoio a grupos de pesquisa. Diferentemente dos IEA de Princeton e Stanford, o ZiF foi concebido desde o início como parte integrante da recém-construída Universidade de Bielefeld.

As fontes de inspiração para sua criação foram buscadas nos Estados Unidos: no final de 1969 - 62 anos após a estadia de Flexner na Alemanha -, uma delegação do Centro de Pesquisa Interdisciplinar de Bielefeld fez o caminho inverso e visitou o Instituto de Estudos Avançados de Princeton, o Centro Wesleyan para as Humanidades, a Universidade Wesleyan em Middletown e o Centro de Estudos Avançados em Ciências do Comportamento em Palo Alto.

Assim, o modelo de um Instituto de Estudos Avançados originalmente inspirado nas ideias humboldtianas de reforma acadêmica foi na prática reimportado 35 anos depois e adaptado às novas condições universitárias alemãs. Durante o processo de fundação da Universidade de Bielefeld, o filósofo e sociólogo Helmut Schelsky (1912-1984) desenvolveu a ideia de um centro de pesquisa interdisciplinar como parte integrante da nova universidade de pesquisa. Schelsky claramente viu a iminente expansão do ensino superior como uma ameaça potencial à primazia da pesquisa e queria garantir condições privilegiadas aos pesquisadores que trabalhavam tanto na Universidade de Bielefeld quanto no ZiF.

Houve três motivos principais por trás disso: primazia da pesquisa, interdisciplinaridade e internacionalidade. O ZiF deveria auxiliar a institucionalização da pesquisa básica interdisciplinar na Universidade de Bielefeld e, ao mesmo tempo, manter a necessária abertura da instituição ao sistema acadêmico como um todo (Schelsky, 1967SCHELSKY, H. Grundzüge einer neuen Universität. Eine Denkschrift [17.08.1965]. In: MIKAT, P.; SCHELSKY, H. Grundzüge einer neuen Universität. Zur Planung einer Hochschule in Ostwestfalen, Gütersloh 1967a, S. 35-70. Disponível em: <https://www.uni-bielefeld.de/(de)/ZiF/Allgemeines/Schelsky_2.pdf>.
https://www.uni-bielefeld.de/(de)/ZiF/Al...
b, p.74). A vinculação institucional à Universidade deveria, em primeiro lugar, oferecer vantagens organizacionais e administrativas. Em termos de conteúdo acadêmico, porém, o ZiF deveria atuar de forma autônoma e - tal como o IEA de Princeton e o Casbs em Palo Alto - desempenhar uma tarefa central para a comunidade científica internacional em geral. Apesar de pertencer à Universidade de Bielefeld, o ZiF deveria estar aberto também a pesquisadores de outras Universidades alemãs ou estrangeiras e, assim, cumprir uma obrigação transregional para outras instituições do sistema alemão de ensino superior (Schelsky 1967b, p.74). O Centro de Pesquisa Interdisciplinar de Bielefeld, portanto, adotou tanto a ideia do IEA de Princeton de oferecer um espaço de liberdade acadêmica para pesquisadores quanto a estrutura do Casbs em Palo Alto com seus bolsistas temporários. Ainda agregou a esses princípios a promoção da cooperação interdisciplinar. O ZiF deveria ajudar a integrar a pesquisa interdisciplinar na estrutura universitária sem que isso resultasse em uma especialização permanente: “A pesquisa interdisciplinar, em suas várias formas, é hoje uma das bases cruciais do progresso científico e deve estar institucionalmente integrada às universidades. A especialização permanente em institutos interdisciplinares é um caminho equivocado que anula no longo prazo as vantagens da pesquisa interdisciplinar” (Schelsky 1967a, p.38). Schelsky, portanto, não pretendia fundar um instituto de pesquisa, ele queria criar um novo tipo de instituto que não seguisse uma agenda própria de pesquisa, mas que estivesse aberto para temas inovadores e em constante mudança. O ZiF deveria oferecer uma fonte contínua de estímulos à Universidade e às ciências em geral.

Diferentemente de seus homólogos em Princeton e Palo Alto, o centro de Bielefeld ainda hoje está totalmente focado em projetos interdisciplinares de pesquisa. O resultado disto é que o ZiF não concede financiamentos individuais, mas apoia exclusivamente grupos interdisciplinares de pesquisa em todas as áreas das ciências e humanidades. Ao longo dos últimos 50 anos, o ZiF provou ser um laboratório para a cooperação interdisciplinar nas ciências humanas e sociais, assim como nas ciências naturais. Nesse sentido, há apenas alguns outros institutos comparáveis ​​em todo o mundo.

Institucional e estruturalmente, o IEA de Princeton, o Casbs em Palo Alto e o ZiF em Bielefeld representam três protótipos de Institutos de Estudos Avançados, cada um apresentando diferentes elementos estruturais: o IEA de Princeton institucionalizou o princípio da liberdade de pesquisa para acadêmicos de destaque no âmbito de escolas especializadas; o Casbs introduziu o (hoje amplamente difundido) modelo de rotatividade anual de bolsistas e o financiamento de projetos individuais; e o ZiF foi o primeiro IEA vinculado institucionalmente a uma universidade7 7 Em 1969, um segundo IEA sediado em universidade foi criado: o Instituto de Estudos Avançados em Humanidades (IASH) da Universidade de Edimburgo. Para conhecer a história do IASH, ver Lauder (2018). voltado para a cooperação em pesquisas interdisciplinares.

Além disso, todas as três instituições foram criadas com vistas a estimular a reforma de todo o sistema acadêmico. Os criadores e diretores fundadores eram acadêmicos renomados engajados na reforma do ensino superior, que almejavam proporcionar um estímulo duradouro para a atividade de pesquisa no cenário nacional e internacional. Os institutos deveriam ser pontos de referência e influenciar todo o sistema de ensino superior. Abraham Flexner queria reformar o então atrasado sistema americano de ensino superior, ancorando institucionalmente a primazia da pesquisa no modelo das universidades alemãs. O IEA foi então criado como uma instituição pequena, mas relevante, que estabelece padrões para a pesquisa básica do mais alto nível. A iniciativa da Fundação Ford de fundar o Casbs estava ligada à missão de abrir a ciência para a sociedade. Em reação à crescente especialização e fragmentação das disciplinas, o ZiF seria um novo tipo de instituição voltada à promoção da pesquisa interdisciplinar visando o desenvolvimento geral das ciências. Assim, as considerações gerais e os objetivos da reforma foram a base de todas as três iniciativas. De acordo com as intenções de seus fundadores, os institutos deveriam servir de referência para todo o sistema de ensino superior e estimular a novos esforços de reforma.

Figura 1
Os Pioneiros (1930-1970):


IEA nacionais e independentes IEA sediados em Universidades IEA com características independentes e universitárias.

Características básicas dos Institutos de Estudos Avançados

Os IEA criados na fase pioneira compartilham o objetivo comum de apoiar da melhor maneira possível a pesquisa orientada pela curiosidade e o intercâmbio científico, proporcionando tempo e espaço adequados para um trabalho acadêmico focado e uma reflexão profunda. Em termos de estrutura, no entanto, eles estão adaptados aos seus respectivos contextos e diferem significativamente entre si. Mas é justamente essa flexibilidade e adaptabilidade, tão característica dos IEA, que os distinguem de outros tipos de instituições: enquanto os centros de pesquisa em geral têm por característica focos temáticos (disciplinares) de longo prazo, um quadro permanente de pesquisadores e programas de pós-graduação, os IEA mudam constantemente suas áreas de estudo, mantêm uma alta rotatividade de pesquisadores bolsistas e estão voltados para a inter- ou multidisciplinaridade. Os IEA estão totalmente alinhados com os interesses científicos dos seus bolsistas: permitem que eles escolham livremente seus temas de pesquisa, sem exigir que sigam uma agenda definida pela instituição. A liberdade acadêmica ilimitada é o requisito básico de um IEA.

Assim, do ponto de vista epistêmico, esses institutos caracterizam-se por uma pluralidade de temas, métodos e teorias, promovem intercâmbios interdisciplinares e funcionam como incubadoras de novos enfoques de pesquisa. A liberdade acadêmica deve, portanto, ser acompanhada por tolerância e abertura acadêmica.

Em termos organizacionais, os IEA são híbridos: eles combinam estabilidade institucional (infraestrutura e corpo administrativo permanentes) com flexibilidade no financiamento de projetos (focos temáticos temporários e projetos individuais), e são, nessa perspectiva, diferentes de outros tipos de instituições de pesquisa. Quanto à grade disciplinar e aos objetos de pesquisa, eles são “molduras vazias” (Morten Kyntrup, AIAS Aarhus) que devem constantemente ser (re)preenchidas e (re)projetadas.

Há um claro componente político na tensão entre os IEA e as diretrizes universitárias e científicas. O formato dos IEA é contraditório com as estruturas institucionais e epistêmicas existentes, pois eles visam a criação contínua de novos estímulos para as ciências e as Universidades. Uma pré-condição para isso é uma liberdade ilimitada de pesquisa e uma independência de controles políticos, demandas institucionais ou restrições econômicas.

Os padrões básicos descritos acima constituem-se na estrutura geral dos IEA, que permite a constante evolução de várias atividades. Esses institutos, portanto - e essa é a tese central deste artigo -, não devem ser entendidos como um modelo uniforme, mas desdobram seu impacto peculiar em uma gama de conceitos, atividades e objetivos. A seguir, demonstrarei que essa diversidade está ligada a diferentes paradigmas de política científica e às condições específicas de cada país, fazendo dos IEA atores influentes em seus respectivos contextos de pesquisa.

A segunda geração (1970-2000): Os IEA nacionais e independentes

Até 1970, havia apenas uns poucos Institutos de Estudos Avançados: o IEA de Princeton e os dois institutos que o tomaram como modelo em Dublin (Dias) e em Paris (IHES); o Casbs em Palo Alto; o ZiF em Bielefeld; e o Instituto de Estudos Avançados em Humanidades da Universidade de Edimburgo. O único IEA criado fora da Europa e dos Estados Unidos era o Instituto Indiano de Estudos Avançados (IIAS) em Shimla, que foi fundado já em 1965, mas que até 1973 não contava com um programa regular de bolsas de pesquisa. O IIAS foi o precursor imediato de uma segunda onda de IEA que começaram a ser criados na Europa no início dos anos 1970. O Instituto de Estudos Avançados em Humanidades e Ciências Sociais da Holanda (Nias, fundado em Wassenaar em 1970 e hoje localizado em Amsterdã), o Instituto de Estudos Avançados de Israel (IIAS, criado em 1975 em Jerusalém),8 8 Originalmente chamado de Instituto Hebraico de Estudos Avançados. o Wissenschaftskolleg zu Berlin (Wiko, criado em 1981), o Institut für die Wissenschaft vom Menschen [Instituto de Ciências Humanas] (IWM, fundado em 1982 em Viena), o Colégio Sueco de Estudos Avançados9 9 Originalmente chamado de Colégio Sueco de Estudos Avançados em Ciências Sociais. (SCAS, de 1985 em Uppsala) e o Centro de Estudos Avançados de Oslo (CAS Oslo, 1992) são institutos nacionais de estudos avançados localizados em seis países europeus que recebem um apoio significativo de seus governos e de organizações nacionais de financiamento. Suas generosas dotações orçamentárias e excelentes localizações (geralmente na capital do respectivo país) contribuem para que esses institutos nacionais pertençam ao primeiro time dos IEA.

Todas essas instituições se assemelham ao Casbs em tamanho e estrutura (com 40 a 50 bolsistas por ano), além do foco claro, mas não exclusivo, nas ciências humanas e sociais. O IIAS (Jerusalém) e o CAS (Oslo) são um pouco diferentes, pois não oferecem bolsas individuais e, assim como o ZiF, privilegiam grupos de pesquisa. O IWM (Viena), também tem um perfil próprio, expresso na sua missão de ser uma ponte entre a Europa Oriental e o Ocidente.

Como seus predecessores, os IEA nacionais deveriam atuar de forma complementar às Universidades e proporcionar a pesquisadores de renome espaço e tempo para pesquisas. Há também uma outra motivação de caráter político: após a Segunda Guerra Mundial, a pesquisa de alto nível saiu da Europa continental (Alemanha) rumo aos Estados Unidos e ao Reino Unido. A missão do Wissenschaftskolleg zu Berlin era “promover a comunicação científica internacional, trazer como convidados a Berlim acadêmicos de todas as partes do mundo, em particular aqueles que foram forçados a emigrar devido ao nacional-socialismo, bem como seus alunos, e promover e expandir a vida intelectual de Berlim por meio do contato entre convidados estrangeiros e acadêmicos alemães, em particular os berlinenses”.10 10 Disponível em: <https://www.wiko-berlin.de/en/institute/the-kolleg/history/history-of-the-institute/history-of-the-kolleg/>. Acesso em: 15 ago. 2019. A ideia por trás da criação do Wiko tinha especial relação com a situação excepcional da então isolada Berlim, recebendo um generoso apoio do governo federal.

O motor principal da segunda onda de criação de IEA nacionais na Europa foi a internacionalização e os contatos internacionais, especialmente com a elite científica anglo-americana. Esses institutos podem ser considerados uma reação à crescente hegemonia científica dos Estados Unidos e do Reino Unido nas pesquisas de alto nível, um progresso científico que a Europa Ocidental buscava alcançar. Em razão disso, todas essas instituições adotaram o inglês como língua franca desde o início, assim como os padrões de qualidade anglo-americanos na seleção de pesquisadores bolsistas. Numa época em que as ciências humanas e sociais ainda tinham um foco majoritariamente nacional, os IEA apresentaram as abordagens anglo-americanas para a comunidade científica europeia. Vale notar ainda que os IEA nacionais na Europa também serviram para internacionalizar no sentido inverso os meios acadêmicos americano e britânico. Ao convidar acadêmicos europeus de destaque, os Estados Unidos e o Reino Unido criaram redes informais e duradouras e promoveram um intercâmbio intercontinental de métodos e abordagens.

Em termos de política científica, essas instituições também imprimiram sua marca na academia: eram instituições de prestígio no interior de sistemas de ensino superior predominantemente igualitários e, portanto, abriam novas oportunidades para recompensar a excelência acadêmica. Receber um convite de um desses IEA altamente conceituados é como receber um prêmio acadêmico, o que também fortalece o princípio da meritocracia nas comunidades científicas europeias. Isso tem especial importância para as ciências humanas e sociais, que contam com apenas alguns poucos indicadores de excelência acadêmica na Europa e nas quais um desempenho notável em pesquisa não está necessariamente associado ao recebimento de financiamento institucional.

Para fortalecer os laços entre a Europa e os Estados Unidos, quatro desses prestigiosos IEA nacionais (Wiko, Nias, IIAS e SCAS) formaram uma aliança com três IEA americanos (Princeton, Casbs e o Centro Nacional de Humanidades - NHC). A esse grupo vieram se juntar os IEA Stellenbosch e Radcliffe e o Institut d’Études Avancées de Nantes.11 11 Disponível em: <http://www.swedishcollegium.se/subfolders/International_Links/SIAS.html>. Acesso em: 15 ago. 2019; <https://en.wikipedia.org/wiki/Some_Institutes_for_Advanced_Study>. Acesso em: 15 ago. 2019. Como sugere o nome do grupo, Some Institutes for Advanced Study (Sias em português: Alguns Institutos para Estudos Avançados), ele representa um pequeno círculo exclusivo de IEA de prestígio.

A onda de criação de IEA nacionais arrefeceu em todo o mundo na década de 1990. A mais recente fundação de um IEA nacional ocorreu em 2017 com a criação do Instituto Polonês de Estudos Avançados (PIASt) em Varsóvia, administrado pela Academia Polonesa de Ciências. Os Institutos de Estudos Avançados nacionais são um fenômeno majoritariamente europeu. A iniciativa de fundar uma instituição desse tipo geralmente parte de instituições governamentais ou Universidades públicas, com a maior parte do financiamento vindo de fundos públicos. Sua origem data de um momento em que a competitividade internacional em pesquisas e a internacionalização do ensino superior passam a ter um papel mais relevante nas políticas científicas nacionais, funcionando como instrumentos de intercâmbio acadêmico internacional com vistas a fortalecer a ciência nacional. Sua importância dentro do mundo acadêmico consiste em premiar e definir os parâmetros de excelência acadêmica, especialmente nas ciências humanas e sociais. Por último, mas não menos importante, os IEA ainda são os únicos a proporcionar condições para uma pesquisa sem distrações em uma comunidade acadêmica multidisciplinar - um ambiente de pesquisa que não é oferecido por nenhum outro tipo de instituição na Europa continental.

Fora da Europa e durante essa fase de criação de IEA, vieram a se juntar ao Instituto Indiano de Estudos Avançados (IIAS) em Shimla e ao Instituto Nacional de Estudos Avançados de Bangalore (1988) duas outras instituições que tiveram um impacto significativo no desenvolvimento local das pesquisas acadêmicas: em 1986, o Instituto de Estudos Avançados (IEA) foi fundado na Universidade de São Paulo (USP) como um dos primeiros IEA sediados em Universidades. Devido ao papel de destaque da USP entre as Universidades brasileiras e latino-americanas, o IEA-USP também desempenha naturalmente um papel importante em nível nacional. O mesmo se aplica ao Instituto de Estudos Avançados da Coreia (Kias) em Seul, fundado em 1996. O Kias tem laços limitados com a Universidade Kaist e é um híbrido de IEA nacional e universitário. Em termos de data de fundação e relevância nacional, o IEA e o Kias fazem parte do grupo dos IEA nacionais. No que diz respeito aos vínculos com as Universidades, no entanto, tanto estruturalmente como em termos de pessoal, eles pertencem ao grupo dos IEA universitários. Ambos serão, portanto, apresentados na próxima seção.

Figura 2
Geração dos IEA nacionais e independentes (1970-2000).


IEA nacionais e independentes IEA sediados em Universidades IEA com características independentes e universitárias

A terceira geração (2000 -): IEA sediados em Universidades em tempos de concorrência global

Em outubro de 2010, representantes de 32 Institutos de Estudos Avançados de todos os continentes foram a Freiburg, onde dois anos antes o Instituto de Estudos Avançados de Freiburg (Frias) havia sido fundado. Esse Instituto é fruto da Iniciativa Alemã para a Excelência. Durante sua criação, seus fundadores entraram em contato com vários institutos internacionais e decidiram que era hora de olhar mais de perto o panorama internacional dos IEA, pois esses haviam mudado significativamente nos dez anos anteriores. Enquanto no final da década de 1990 não havia mais que 25 IEA, dos quais apenas quatro eram sediados em Universidades,12 12 Até onde sei: o ZiF/Bielefeld (1968), o IASH/Edimburgo (1970), o IEA/São Paulo (1986) e o IEA Peter Wall/Vancouver (1991). o número dessas instituições aumentou rapidamente a partir da virada do milênio, com a criação de várias outras instituições fora da Europa e dos Estados Unidos. Vale ressaltar que quase todos os IEA fundados desde 2000 são ligados a Universidades.13 13 Exceto o IEA de Nantes (2004) e o Instituto Polonês de Estudos Avançados (PIASt, 2017). Hoje existem entre 100 e 150 instituições desse tipo no mundo, 80% das quais sediadas em Universidades.14 14 O número total depende muito da definição. A lista dos IEA de que tenho conhecimento pode ser encontrada em <https://www.uni-bielefeld.de/(en)/ZiF/Allgemeines/partner.html>. Os Institutos de Estudos Avançados sediados em Universidades (Ubias, na sigla em inglês) deixaram então de ser a exceção e passaram a ser a regra.

Esse desenvolvimento notável, observado em todo o mundo, só pode ser compreendido no contexto de uma mudança na estrutura das políticas científicas, que levou a uma crescente concorrência entre Universidades do mundo todo. Assim, primeiro apresentarei brevemente as condições gerais dos sistemas de ensino superior, antes de descrever em seguida mais detalhadamente o seu processo de desenvolvimento nas diferentes regiões do mundo. Mostrarei aqui que existe uma estreita conexão funcional entre o surgimento e o formato dos IEA e as políticas científicas específicas de cada país. Essa grande variedade funcional está relacionada a uma diversificação dos IEA que será demonstrada através de exemplos individuais de diferentes regiões do mundo.

Os atuais sistemas nacionais de ensino superior precisam lidar com dois fenômenos já bastante conhecidos que ganharam um novo impulso desde a virada do milênio. Eles representam desafios significativos para o ensino superior e para as políticas científicas de cada país (Altbach 2015_______. Massification and the Global Knowledge Economy: The continuing Contradiction. International Higher Education, n.80, p.4, Spring 2015., p.4): por um lado, houve uma multiplicação do número de estudantes nas nações industrializadas. Nos estados membros da OCDE, a porcentagem atual de detentores de diplomas acadêmicos na população é de 40%, com tendência a aumentar. Por outro lado, a concorrência internacional em pesquisa de ponta também cresceu significativamente. Desde a divulgação do primeiro Ranking de Xangai em 2003, que foi o primeiro ranking internacional de Universidades, ao qual se seguiu uma série de outros rankings, há uma corrida internacional para pertencer ao primeiro time. As Universidades americanas e britânicas de elite continuam no topo, mas há uma luta acirrada entre o grupo das 50 melhores Universidades. Recém-chegados como a China, em particular, enfrentam o enorme desafio de lidar com a expansão quantitativa de seus sistemas de ensino superior, por um lado, e a crescente concorrência internacional em pesquisa de ponta, por outro.

Contudo, encontrar um equilíbrio entre a expansão do ensino superior e o fortalecimento da competitividade global é um desafio também para as nações com forte tradição científica como os países europeus e o Japão. Embora a ciência e a tecnologia já tenham há tempos um importante papel na expansão das economias desenvolvidas, a transição para as sociedades do conhecimento tornou a formação acadêmica e a pesquisa de ponta peças fundamentais no desenvolvimento econômico de uma nação. O surgimento dos rankings internacionais após a virada do milênio é um sintoma dessa mudança crucial que afeta atualmente as nações industrializadas nesta transição. A extensão e o sucesso dessa transição dependem principalmente da competitividade nas pesquisas de ponta. Nesse contexto, o importante é recrutar ou reter os maiores talentos e garantir que tenham as melhores condições para suas pesquisas. Da mesma forma, o desempenho nas pesquisas de ponta e a formação de jovens pesquisadores hoje são importantes fatores e indicadores econômicos para o desenvolvimento futuro das economias nacionais e têm sido acompanhados de perto pelos investidores: “No século XXI, a capacidade de competir globalmente é determinada pela qualidade do sistema de ensino superior, pelos profissionais que ele forma e por sua contribuição para a ‘ciência mundial’; talento e produção de conhecimento são o novo petróleo” (Hazelkorn, 2013HAZELKORN, E. World Class Universities or World Class Systems? Rankings and Higher Education Policy Choices. In: HAZELKORN, E. et al. (Ed.) Rankings and Accountability in Higher Education: Uses and Misuses. Paris: Unesco, 2013. p.71-94., p.88).

Para promover a pesquisa de ponta em tempos de massificação do ensino superior, diversos países se esforçaram para criar programas de excelência que disponibilizaram grandes somas para financiar os melhores projetos de pesquisa e as melhores universidades. Mais de dois terços dos países da OCDE lançaram Iniciativas de Excelência desse tipo, a maioria delas após a virada do milênio (OCDE, 2014, p.15). Esse processo fez que o princípio da concorrência internacional entre Universidades de alto nível fosse aplicado aos sistemas nacionais de ensino superior em muitos lugares. Com a introdução dos rankings internacionais, o papel das Universidades nos sistemas nacionais de ensino superior também mudou: embora fossem instituições cujos objetivos eram a pesquisa e o ensino, hoje são participantes numa competição global.

A onda de criação de IEA sediados em Universidades também é parte desse processo de mudanças fundamentais e só pode ser compreendida neste contexto de concorrência global pelos melhores talentos e ideias.

A seguir, gostaria de fazer um breve resumo do desenvolvimento ocorrido nas diferentes regiões do mundo (uma descrição mais detalhada pode ser encontrada em: <https://sociologica.unibo.it/article/view/9839/10968>).

Institutos de Estudos Avançados na Ásia e Europa

• Kias - Princeton da Coreia do Sul

Depois do Instituto Indiano de Estudos Avançados em Shimla e do Instituto Nacional de Estudos Avançados em Bangalore, o terceiro IEA na Ásia foi criado em 1996 em Seul: O Instituto de Estudos Avançados da Coreia (Kias) seguia o modelo do IEA de Princeton. Na época de sua criação, o Kias foi a primeira instituição de pesquisa na Coreia focada exclusivamente em pesquisa teórica básica. Como um centro de excelência, o Kias foi um pioneiro no desenvolvimento de um sistema de pesquisas internacionalmente competitivo na Coreia do Sul. Ele de fato conseguiu trazer de volta à Coreia vários cientistas coreanos de renome, especialmente dos Estados Unidos.

• Institutos de Estudos Avançados na China

Assim como o Kias na Coreia do Sul, os IEA chineses estão ligados a programas governamentais para promover pesquisas de alto nível. Os IEA na China, no entanto, estão majoritariamente voltados para as ciências sociais e humanas: desde 2005, foram criados quinze Institutos de Estudos Avançados universitários centrados nas ciências sociais e humanas. O número de IEA voltados às ciências naturais - como os da Universidade de Wuhan (de 2014) e da Universidade Tsinghua (Iastu) em Pequim (1997)15 15 Como o nome Instituto ou Centro de Estudos Avançados na China também é usado para centros de pesquisa comuns, é difícil obter um número mais exato de IEA. Uma lista de IEA na China pode ser encontrada em: <https://www.uni-bielefeld.de/(en)/ZiF/Allgemeines/partner.html>. - é muito menor.

Nem todos eles têm orçamento suficiente para financiar programas de bolsas ou pesquisas individuais. Os principais são os IEA da Universidade de Nanquim, da Universidade Fudan e da Universidade de Zhejiang. Os modelos são bastante diversos, mas têm um objetivo comum: fortalecer a internacionalização das pesquisas nas respectivas universidades e dar flexibilidade às estruturas administrativas e institucionais através do apoio a projetos interdisciplinares de pesquisa.

Quase todos os Institutos de Estudos Avançados em ciências humanas e sociais que existem hoje estão sediados em Universidades chinesas de primeira classe: das 36 Universidades chinesas listadas na Double First-Rate (a Iniciativa de Excelência da China), cerca de um terço (11) criou um IEA desse tipo. Seguindo uma iniciativa do IEA de Nanquim, essas instituições formaram uma rede de IEA chineses (CN-IAS) em 2015, a fim de criar grupos de pesquisa interuniversidades e interdisciplinares e montar uma agenda comum de aulas e palestras. A colaboração entre os IEA também deve colaborar com os esforços nacionais de reforma com vistas a garantir o melhor apoio para pesquisas de excelência nas Universidades chinesas.

• Institutos de Estudos Avançados no Japão

Existem atualmente no Japão oito instituições que se autodenominam Institutos de Estudos Avançados. No entanto, apenas o Instituto de Pesquisa Avançada da Universidade de Nagoya (fundado em 2002), o Instituto Waseda de Estudos Avançados em Tóquio (fundado em 2006) e o Centro Hakubi de Pesquisa Avançada da Universidade de Kyoto (2009) têm autonomia institucional. O foco do s outros IEA16 16 UTIAS/Universidade de Tóquio (2011), HIAS/Universidade Hitotsubashi (2014), IEA da Universidade de Kyushu (2009), IEA da Universidade Nacional de Yokohama (2014), IEA da Universidade de Kyoto (2016). está mais em reunir em uma única estrutura as atividades internas de pesquisa da Universidade ou em funcionar como entidades coordenadoras para centros de pesquisa.

Os programas de bolsas de pesquisa dos institutos da Universidade de Nagoya, da Universidade Waseda e da Universidade de Kyoto estão focados no apoio a pós-doutorandos que trabalham nessas instituições por um período de 3 a 5 anos. Em suas respectivas Universidades, todos os três institutos funcionam como plataformas para cooperação interdisciplinar e organização de conferências e simpósios. Contudo, é o apoio institucional a jovens pesquisadores que as torna instituições únicas entre as universidades japonesas, contribuindo dessa forma para a reforma do ensino superior japonês. Esses institutos se contrapõem à fraqueza estrutural do sistema hierárquico de ensino superior japonês e proporcionam a jovens pesquisadores espaços de liberdade acadêmica. Nesse contexto, também desempenham um papel ativo na reforma das carreiras acadêmicas, além de promover a introdução de um sistema de planos de carreira que visa tornar as Universidades japonesas mais competitivas no recrutamento de jovens pesquisadores. Tendo em vista a evolução demográfica do país, esse aspecto será de grande importância nas próximas décadas para o futuro do ensino superior japonês.

• Institutos de Estudos Avançados na Europa

Como ocorreu na China e no Japão, mas em maior número, novos IEA sediados em Universidades (Ubias) foram criados na Europa desde a virada do milênio. Sem contar o Humanities Centre no Reino Unido e os Käte Hamburger Kollegs na Alemanha, existem atualmente 43 Ubias europeus (em junho de 2019 havia 10 na Alemanha; 11 no Reino Unido; 9 na França; 3 na Finlândia; 2 na Itália; e 1 na Holanda, Irlanda, Suíça, Dinamarca, Suécia, Croácia, Hungria e Espanha).17 17 Uma lista completa pode ser encontrada em: <https://www.uni-bielefeld.de/(en)/ZiF/Allgemeines/partner.html>.

A onda de criação de IEA europeus sediados em Universidades ocorreu no contexto de uma crescente competição global no ensino superior. Em alguns países, as Universidades usam recursos de Iniciativas de Excelência nacionais para financiar os IEA, vistos como um instrumento para corrigir as fragilidades estruturais dos sistemas universitários locais. Em outras nações, esses Institutos servem de plataforma ​​para propostas conjuntas de pesquisas interdisciplinares com vistas a obter fundos adicionais de outras fontes financiadoras. Em todos os casos, os IEA funcionam como um novo elemento da estrutura universitária para o intercâmbio interdisciplinar e colaborações internacionais. Outra função cada vez mais importante dessas instituições é fazer a mediação entre a Universidade e a sociedade. Esse tem sido um propósito central dos IEA no desenvolvimento atual dos sistemas de ensino superior latino-americanos, embora por diferentes razões.

Institutos de Estudos Avançados na América Latina

As principais Universidades de pesquisa da América Latina não são apenas locais de ensino e pesquisa, mas também desempenham um papel importante no desenvolvimento político e social de seus países. Nos países latino-americanos de maior instabilidade econômica e política, elas têm uma responsabilidade especial no processo de democratização e na mediação entre ciência e sociedade. É essa responsabilidade especial de atuar como “Universidades construtoras do estado” (Altbach, 2007ALTBACH, P. G. Empires of Knowledge and Development. In: ALTBACH, P. G.; BALÁN, J. World Class Worldwide, Transforming Research Universities in Asia and Latin America. Baltimore, 2007. p.1-30., p.8) que caracteriza a estrutura e a missão dos IEA latino-americanos. Na verdade, o modelo de IEA parece ser particularmente adequado para a promoção de um intercâmbio ativo entre a elite acadêmica e os outros atores sociais.

O maior e mais antigo IEA da América Latina foi fundado em 1986 na Universidade de São Paulo (USP). Após o fim da ditadura militar no Brasil em 1985, as Universidades buscavam um novo começo e se empenhavam em estabelecer relações com instituições acadêmicas internacionais. Desde o início, o IEA almejou ser um centro intelectual e um espaço de liberdade acadêmica dentro da Universidade. Ao também enfatizar a dimensão política de um IEA e promover a reflexão acadêmica aplicada aos problemas da sociedade, o IEA-USP introduziu um novo elemento-chave que não existia nos institutos americanos e europeus daquela época.

Ao todo, o Brasil conta com sete instituições que têm as palavras “estudos avançados” em seu nome oficial. Em comparação com o IEA-USP, a maioria é menor e menos autônoma. No entanto, projetos interdisciplinares abordando questões relevantes para a sociedade, assim como reflexões sobre as condições e o futuro das estruturas universitárias, também são atividades centrais, por exemplo, do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares da Universidade Federal de Minas Gerais (IEAT - UFMG) e do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp (Idea-Unicamp) em Campinas (SP).

O primeiro IEA da América Central, criado em 2014, foi o Espacio Universitario de Estudios Avanzados da Universidade da Costa Rica (Ucrea). Desde 2016, há editais internos anuais na Universidade para a formação de grupos interdisciplinares de pesquisa, com o Ucrea servindo como instrumento para mudar a cultura universitária e introduzir financiamentos de pesquisa baseados em desempenho, além de uma administração mais flexível. Nesse sentido, o Ucrea pode vir a ser um dos pilares do desenvolvimento futuro da Universidade, promovendo em longo prazo sua competitividade e internacionalização.

Institutos de Estudos Avançados sediados em universidades nos Estados Unidos

IEA sediados em Universidades também têm sido criados nos Estados Unidos desde a virada do milênio, embora não em grande número. Alguns exemplos de alta visibilidade são o Radcliffe College da Universidade Harvard, o Neubauer Collegium da Universidade de Chicago e o IEA da Universidade de Notre Dame. O perfil desses Institutos difere significativamente da Carta de fundação do IEA de Princeton e do Casbs de Stanford. As novas instituições não se concentram mais na promoção da pesquisa básica conduzida em isolamento, mas visam trazer a Universidade para o mundo. Uma maior abertura às questões sociais e políticas, bem como o envolvimento de atores não acadêmicos, também são partes importantes da nova missão do Casbs desde sua filiação à Universidade de Stanford.

Os Institutos de Estudos Avançados universitários nos Estados Unidos também são instrumentos de marketing de suas Universidades, uma forma de demonstrar aos financiadores a relevância social e a utilidade das pesquisas desenvolvidas. Nesse contexto, a pesquisa interdisciplinar é considerada a chave para resolver “problemas do mundo real”. Os IEA reforçam assim o prestígio público e a atratividade de suas universidades para seus doadores.

Funções institucionais e epistêmicas dos Ubias em todo o mundo

Em suma, podemos dizer que a onda de criação de IEA sediados em Universidades em todo o mundo desde a virada do milênio está diretamente ligada às Iniciativas de Excelência estabelecidas em muitos países. Elas são uma reação à crescente globalização do ensino superior e visam aumentar a competitividade de suas Universidades e o ritmo do processo de transferência de conhecimento. Nesse contexto, o foco não está só em pesquisas de ponta, mas também em cooperações interdisciplinares e intersetoriais, no apoio a jovens pesquisadores e na reforma das estruturas universitárias. Devido à sua flexibilidade institucional, os Ubias (IEA sediados em Universidades) são instrumentos de reforma particularmente adequados e, como incubadoras de novas ideias e formas de cooperação, podem contribuir para mudar as estruturas universitárias. Nas últimas duas décadas, foram criados IEA especialmente em Universidades com forte foco em pesquisa, estruturados em uma ampla diversidade de modelos adaptados aos contextos nacionais e locais e voltados à reforma das estruturas institucionais. “Os Ubias são um tipo de instituição flexível o suficiente para se adaptar a condições locais muito diferentes, mas que ao mesmo tempo mantém um conjunto reconhecível de características e recursos relativamente estáveis” (Frick et al., 2011FRICK, W. et al. Introductory Statement “Mapping the World of UBIAS”. In: University-based Institutes for Advanced Study in a Global Perspective: Promises, Challenges, New Frontiers, Conference Proceedings. Ed. by Freiburg Institute for Advanced Study, June 2011, p.10-18., p.16).

Figura 3
Geração dos IEA sediados em universidades (desde o ano 2000).


IEA nacionais e independentes IEA sediados em Universidades IEA com características independentes e universitárias

As políticas científicas diferem segundo as circunstâncias nacionais: na Ásia, os IEA são instrumentos de reforma universitária e fortalecimento da competitividade das Universidades. Nesse papel, o IEA japonês proporciona a jovens pesquisadores liberdade acadêmica e contribui para manter os melhores talentos no país, além de atrair outros pesquisadores promissores para o Japão. Na China, os IEA visam a internacionalização das ciências humanas e sociais em particular; e na Coreia do Sul, o Kias se consolidou como um dos primeiros centros de excelência do país. Na América Latina, os IEA estão voltados ao desenvolvimento de longo prazo de sistemas competitivos de ensino superior, mas também contribuem efetivamente para políticas públicas em uma relação construtiva com a sociedade. Nesse contexto, o princípio da meritocracia está aliado à obrigação de realizar pesquisas socialmente relevantes. Esses Institutos não devem se limitar a ter influência dentro das universidades, mas também devem ter uma participação social ativa e auxiliar a formar a opinião pública. Nos Estados Unidos, os IEA têm um papel na concorrência entre Universidades. Eles ajudam a firmar a reputação de suas Universidades e são especialmente atraentes para doadores privados devido à sua forte abertura para a sociedade. Financiados por Iniciativas de Excelência governamentais ou por fundos europeus, uma série de universidades de pesquisa na Europa criaram IEA para fortalecer suas redes internacionais de contatos e apoiar o desenvolvimento de projetos cooperativos de pesquisa. Essas instituições também firmam a reputação da universidade e servem como “emblemas de aspiração institucional e afirmação de status” (Goddard, 2016_______. The Development of Institutes for Advanced Study and their Role in the Contemporary University, Presentation at Nagoya University (11.03 2016), unpublished manuscript., p.10). Na Alemanha, os IEA parecem desempenhar o papel mais contraditório. Por um lado, eles se consideram, no sentido humboldtiano, como refúgios para a pesquisa básica descompromissada, além de proporcionar a pesquisadores tempo e confiança em um contexto de obrigações crescentes e governança baseada em indicadores. Por outro, são instrumentos para aumentar a competitividade, obter recursos de terceiros e moldar o perfil da Universidade. Eles são, portanto, a força motriz da governança do ensino superior, e também seu antídoto:

À medida que os sistemas de avaliação se disseminam, os institutos de estudos avançados são locais de refúgio para acadêmicos realizarem pesquisas motivadas pela curiosidade, longe dessas pressões, reunindo pesquisadores de todo o mundo acadêmico. E, talvez ironicamente, os próprios institutos são vistos como marcas de distinção institucional pelos sistemas de avaliação em relação aos quais funcionam como um refúgio. (Goddard, 2016_______. The Development of Institutes for Advanced Study and their Role in the Contemporary University, Presentation at Nagoya University (11.03 2016), unpublished manuscript., p.11)

Institucionalmente, o surgimento dos IEA universitários parece acarretar uma mudança na “relação assimétrica entre IEA e bolsistas” (Thorsten Wilhelmy): enquanto as duas primeiras gerações de IEA se viam como uma excelente infraestrutura para cientistas de excelência, os novos institutos devem servir como facilitadores de excelência para suas Universidades. Esse novo papel não afeta a liberdade de pesquisa que acompanha uma bolsa, mas a reputação e a expertise dos pesquisadores bolsistas também devem contribuir para aprimorar a qualidade das pesquisas e, em longo prazo, para elevar a posição da universidade nos rankings internacionais.

Em termos epistêmicos, os IEA visam compensar as ciladas da crescente especialização científica: um elemento central de todos os IEA é a composição multidisciplinar do corpo de pesquisadores bolsistas. Nesse sentido, eles diferem substancialmente de outros tipos de centros de pesquisa. Conceitualmente, seu foco varia entre a pesquisa individual em uma única área com eventuais contatos interdisciplinares até o formato de grupo interdisciplinar de pesquisa. Como instituições interdisciplinares, eles apresentam um caráter institucional único no panorama de pesquisa acadêmica.18 18 Sobre os IEA como laboratórios interdisciplinares, ver Padberg (2014).

Além disso, eles têm o potencial para se tornarem centros intelectuais dentro de suas Universidades, promover o intercâmbio entre departamentos e estimular a reflexão sobre a Universidade e as condições estruturais de pesquisa. Também podem inaugurar novas formas de intercâmbio entre a academia e a sociedade. Nesse contexto, poderiam reinventar a ideia de Universidade no sentido mesmo de universitas: como ponto de encontro de cientistas de todos os campos, opondo-se com seus formatos interdisciplinares às forças centrífugas decorrentes do tamanho e da especialização dentro da Universidade. Ao fazer isso, eles também podem contribuir para uma maior unidade e se tornar um sinal para o mundo exterior das ambições científicas de sua Universidade.

Quarta geração: IEA em um contexto de colaboração internacional

Quanto aos seus propósitos e orientações, as três gerações de IEA descritas aqui estão ligadas e adaptadas aos contextos nacionais específicos. Esses Institutos oferecem uma infraestrutura de apoio à ciência e à pesquisa interdisciplinar e contribuem para a internacionalização de seus respectivos sistemas de ensino superior. Como vimos, eles também são um instrumento para a mudança estrutural dos sistemas nacionais de ciência, promovendo o desenvolvimento institucional da Universidade e compensando suas deficiências estruturais.

Já faz algum tempo que há sinais da emergência de uma quarta geração de IEA, não mais limitada ao âmbito nacional, mas envolvendo a criação de IEA no exterior. Iniciativas pioneiras surgiram já na década de 1990, após a queda do Muro de Berlim. Seguindo a iniciativa e com o apoio do Wissenschaftskolleg zu Berlin, vários IEA foram criados na Europa Central e Oriental: o Collegium Budapest (1992), o New Europe College em Bucareste (1994) e o Centro de Estudos Avançados em Sofia (2000). Essas instituições visavam promover a democratização das antigas sociedades socialistas pela criação de redes acadêmicas e do desenvolvimento de instituições de excelência científica, um plano Marshall no contexto acadêmico, por assim dizer. Independentes de estruturas e quadros universitários - esses Institutos deveriam proporcionar espaços de liberdade de pensamento e pesquisa e contribuir como incubadoras para a criação de instituições de pesquisa de alto nível. Nesse contexto, deveriam também reagir ao êxodo dos melhores cientistas e formar uma nova geração de pesquisadores.

A fundação do Instituto de Estudos Avançados Stellenbosch (Stias) na África do Sul em 2005 também não teria sido possível sem o apoio da Fundação Mandela e de fundações suecas. A iniciativa partiu da Universidade de Stellenbosch, que já havia criado um programa de bolsas de pesquisa em 1999, mas que carecia de fundos para criar um instituto desse tipo. Com a obtenção de financiamento externo e a mudança para um prédio próprio fora do campus, o Stias ganhou autonomia institucional. Continua, no entanto, a cooperar com a Universidade de Stellenbosch.

A criação dos primeiros IEA no exterior foi financiada em grande parte por fundações privadas. Nos últimos cinco anos, porém, atores estatais também começaram a impulsionar esse movimento. Um exemplo de parceria estratégica desse tipo é o Instituto de Estudos Avançados de Johanesburgo (Jias), criado na Universidade de Joanesburgo (UJ) em 2015 com o apoio da Universidade Tecnológica de Nanyang (NTU), em Singapura. Esse empreendimento remonta à iniciativa conjunta do ex-vice-reitor da UJ Ihron Rendsburg e do ex-presidente da NTU Bertill Andersson, que almejavam estabelecer uma ponte entre as duas Universidades.19 19 De acordo com o atual diretor do JIAS, Bongani Ngqulunga. O Jias tem como objetivo apoiar o desenvolvimento de ambas as instituições como Universidades de pesquisa globais e ajudar a incrementar o trabalho em rede entre duas importantes regiões de produção científica.

O Ministério da Educação da Alemanha também lançou um programa que desde 2015 anuncia a criação de faculdades de pesquisa na Ásia, América Latina, África e países árabes. O site do Ministério Federal da Educação e Pesquisa (BMBF) diz: “Com as faculdades de pesquisa internacionais ‘Centros de Estudos Avançados Maria Sybilla Merian’, o Ministério Federal da Educação e Pesquisa visa promover a internacionalização das humanidades e das ciências sociais na Alemanha e no mundo”. Esses IEA devem estar localizados em “regiões relevantes do ponto de vista cientítico e orientadas a uma política de apoio à ciência”, sediados em uma instituição científica do país anfitrião e criados e geridos em parceria com instituições alemãs de pesquisa.

Essas faculdades são a base para uma colaboração de longo prazo nas ciências humanas entre as regiões envolvidas. Elas devem auxiliar na compreensão dos desenvolvimentos sociais e das mudanças ambientais globais e em sua análise a partir de diferentes perspectivas. Nesse contexto, as humanidades e as ciências sociais são mais importantes do que nunca - assim como as parcerias que permitem pesquisas internacionais e interdisciplinares.20 20 Disponível em: <https://www.bmbf.de/de/maria-sibylla-merian-centres-5181.html>. Acesso em: 5 ago. 2019.

Os Centros Merian já estão em funcionamento em Delhi (Índia, 2016), na Universidade de Guadalajara (México, 2017), na USP em São Paulo (Brasil, 2016), em Acra (Gana, 2018) e em Túnis (Tunísia, 2020). Como esse programa foi lançado há pouco tempo, ainda é muito cedo para fazer uma avaliação. Há, no entanto, indicações de que os Institutos de Estudos Avançados também estão sendo usados ​​como instrumentos estratégicos de “diplomacia científica”. Devido ao seu caráter flexível, internacional e interdisciplinar, eles são particularmente adequados para reunir pesquisadores na abordagem de questões sociais urgentes, estabelecer colaborações e promover o intercâmbio entre ciência, sociedade e política em nível global. Até que ponto são também instrumentos para expansão de esferas de influência ainda está em aberto e certamente depende de que um equilíbrio adequado entre “ciência” e “diplomacia” seja alcançado.

Conclusão e perspectivas futuras

Os IEA, ainda assim, são parte integrante do panorama internacional do ensino superior. Eles podem ser paraísos para acadêmicos, mas não estão de maneira nenhuma apartados desse mundo e seguem fortemente envolvidos em questões de política científica. Por sua considerável flexibilidade, eles se mostraram excelentes instrumentos de reação às recentes mudanças epistêmicas nas ciências - a crescente especialização e fragmentação das comunidades científicas -, bem como às alterações nas estruturas universitárias - massificação, otimização econômica e concorrência global. Em termos epistêmicos, são movidos pela ideia humboldtiana de unidade (parcial) das ciências e da pesquisa movida pela curiosidade. Em termos institucionais, provaram ser instrumentos eficazes de reforma das Universidades e do ensino superior como um todo. Como uma instituição modelo orientada para a pesquisa, o IEA de Princeton tem dado sua contribuição para a reforma do sistema de ensino superior americano. Na Europa,

Figura 4
Geração dos IEA criados em um contexto de colaboração internacional.
IEA baseados em colaboração internacional

os IEA nacionais desempenham um papel importante na internacionalização acadêmica, especialmente das ciências humanas e sociais. Os IEA sediados em Universidades são hoje um novo componente estrutural da universidade de pesquisa contemporânea, servindo à promoção interna de pesquisas e contribuindo para aumentar a competitividade de suas Universidades.

A história de sucesso dos IEA, no entanto, não deve obscurecer o fato de que essas instituições, apesar de sua alta reputação, enfrentam atualmente desafios estruturais consideráveis: aumentos de salários e uma crescente concorrência pelos maiores talentos mundiais são um desafio até mesmo para o carro-chefe dos IEA em Princeton. Nesse contexto, eles têm de enfrentar um número crescente de instituições de excelência em Universidades, bem como centros de pesquisa não universitários e privados.

Os IEA nacionais, em particular, são cada vez mais criticados por reproduzirem a hegemonia anglo-americana nas ciências naturais e humanidades: eles agem como avalistas da reputação acadêmica nas ciências e humanidades, mas sua própria reputação depende de seu sucesso em recrutar pesquisadores renomados. Em muitas dessas instituições, isso leva a uma maior participação de bolsistas anglo-americanos e contribui para negligenciar a excelência acadêmica de pesquisadores de países onde não se fala inglês e do Hemisfério Sul.

Ao contrário dos IEA independentes, que privilegiam pesquisadores bolsistas altamente qualificados, os IEA universitários são mais orientados para ideias e temas. O risco para eles está no apoio financeiro muitas vezes incerto das Universidades. Sua criação costuma estar ligada a projetos limitados de excelência e eles dependem da captação de recursos de terceiros. A falta de uma perspectiva de longo prazo, entretanto, torna extremamente difícil implantar uma infraestrutura apropriada. Em tempos de redução dos orçamentos universitários, essas instituições correm sempre o risco de serem rotuladas como “instituições de luxo supérfluas” ou de serem rebaixadas a simples unidades de serviço pela administração universitária.

O desafio para os IEA criados com apoio estrangeiro é blindar-se contra o direcionamento político por parte do agente financiador ou do país anfitrião. Esses Institutos podem servir como instrumentos de um novo tipo de colonialismo ou serem ameaçados por intervenções de governos iliberais. Sua existência e reputação dependem em grande medida de poderem garantir liberdade acadêmica sem influência política.

O alto risco para essas instituições, contudo, também abre uma grande oportunidade: elas poderiam - desde que em bases colaborativas - contribuir para iniciar um debate há muito adiado sobre as estruturas hegemônicas no mundo acadêmico em uma escala mais ampla. O potencial dessa geração mais recente de IEA pode estar na ruptura com o foco anglo-americano na excelência e estabelecer colaborações com países do hemisfério sul em condições de igualdade. No âmbito da rede Ubias, essa discussão foi iniciada principalmente pelo IEA da Universidade de São Paulo, que reconheceu a dimensão política dessas instituições e desde o início fez da reflexão crítica sobre a produção de conhecimento uma de suas atribuições centrais.

A criação de IEA no exterior iniciada pela Alemanha, junto com debates internos em outros institutos, também indicam que muitas dessas instituições começaram a refletir criticamente sobre seu papel no mundo acadêmico globalizado. O IEA de Princeton, por exemplo, organiza desde 2018 um programa de verão de dois anos em ciências sociais em cooperação com parceiros da África do Sul e Colômbia, envolvendo vinte jovens pesquisadores da África, Oriente Médio e América Latina: “É fundamental para o desenvolvimento das ciências sociais e humanas levar em conta as perspectivas do Sul global, que muitas vezes estão sub-representadas tanto nos programas acadêmicos quanto nas iniciativas de pesquisa”, declarou Didier Fassin, professor titular da Escola de Ciências Sociais e iniciador do programa. “Nosso Programa de Verão é uma modesta contribuição para corrigir esse viés.” 21 21 Disponível em: <https://www.ias.edu/news/press-releases/2018/fassin-spss>. Vários IEA começaram a conceder bolsas especiais para aumentar a proporção de pesquisadores bolsistas de países do Hemisfério Sul.22 22 Por exemplo, o Zukunftskolleg em Kostanz e o ZiF em Bielefeld. O IEA de Nantes, desde sua criação em 2004, visou garantir uma grande diversidade cultural entre os seus bolsistas, e talvez seja o pioneiro de um novo tipo de IEA que tem o intercâmbio global como cerne de sua estratégia institucional: “[…] o objetivo do IEA-Nantes é reunir a cada ano no instituto uma pequena comunidade acadêmica composta por acadêmicos com bagagem intelectual e cultural muito diversa, mas que compartilham a mesma perplexidade e cujos projetos têm elementos suficientes em comum para iniciar diálogos mutuamente benéficos”.23 23 Disponível em: <https://www.iea-nantes.fr/en/the-institute/mission/>. Para não tropeçar nas armadilhas dos critérios ocidentais de avaliação acadêmica, o IEA de Nantes estabeleceu um processo de seleção culturalmente sensível, mais centrado no conteúdo das publicações e menos onde foram publicadas.

Nesse contexto, também vale a pena destacar o número crescente de atividades conjuntas envolvendo a rede global de IEA universitários (Ubias). Desde o encontro inaugural em Freiburg em 2010, as Conferências de Diretores foram realizadas a cada dois anos em Jerusalém, Taipei, Birmingham e São Paulo, além de duas conferências científicas de menor porte em Vancouver e Nagoya. Um formato comum de eventos foi criado com a Academia Intercontinental, organizada por dois institutos a cada edição, tendo como objetivo reunir pós-doutorandos para discutir um tema interdisciplinar. A particularidade desse novo tipo de evento é reunir um grupo interdisciplinar e internacional que se divide em dois ou até três locais diferentes. Os participantes entram assim em contato com diferentes perspectivas, exatamente o que um processo de aprendizagem deveria ser: os futuros grandes cientistas devem ser treinados em uma nova forma de pensamento acadêmico que não seja mais limitada por fronteiras nacionais, culturais ou disciplinares.

O primeiro encontro da Academia Intercontinental (ICA) abordou o tema do Tempo e foi organizado pelo IAR de Nagoya e pelo IEA de São Paulo (2015/2016). Outra edição da ICA sobre Dignidade Humana ocorreu em Jerusalém e Bielefeld (2016) e continuou em Johanesburgo, na África do Sul em 2019. Os IEA da Universidade de Birmingham e da Universidade Tecnológica de Nanyang (Singapura) realizaram em conjunto a terceira ICA sobre o tema Legislação: Rigidez e Dinâmica (2018/19).24 24 Disponível em: <http://www.ubias.net/intercontinental-academia>. Além disso, a iniciativa “Tópico do ano” da Ubias, que visa agrupar discussões sobre tópicos importantes, deu início a uma nova cooperação internacional, como no workshop conjunto sobre Envelhecimento realizado em 2018 pelo Wias (Tóquio), o IAR (Nagoya) e o IEA de Nanquim.25 25 Disponível em: <https://www.waseda.jp/inst/wias/assets/uploads/2019/03/UBIAS-Workshop-at-Nagoya-University.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2020.

As reuniões regulares da rede e as colaborações internacionais entre os IEA abrem uma nova perspectiva sobre o desenvolvimento do panorama global das pesquisas acadêmicas, em geral, e dos IEA, em particular. Essas reuniões são a base para uma cooperação mais próxima e para o desenvolvimento conjunto de questões de pesquisa e, portanto, também têm um grande impacto no trabalho e na forma como cada instituto se vê. Os IEA têm flexibilidade e abertura para experimentar novas formas de produzir conhecimento e contribuir para um intercâmbio recíproco e respeitoso que atravesse as fronteiras culturais, nacionais e disciplinares. Nesse sentido, os Institutos de Estudos Avançados também poderiam ser desbravadores para as universidades e estimular a criação de um “sistema de conhecimento global” não hegemônico.

Agradecimentos

Agradeço especialmente a Elena Esposito, David Stark, Carsten Dose, Thorsten Wilhelmy, Manuela Lenzen, Marc Schalenberg, Heinz-Rudi Spiegel, o Conselho de Administração do ZiF, Peter Goddard, Lorraine Daston, Ary Plonski e Martin Grossmann pelo incentivo e valiosas sugestões. Agradeço também a Marga e Kurt Möllgaard Stiftung pelo apoio financeiro e aos meus colegas de todos os institutos que visitei pela cordial hospitalidade, em particular aos funcionários do IEA de Nanquim, IEA da UWA em Perth, IEA de São Paulo, Neubauer Kollegium em Chicago e Aias Aarhus, onde tive estadias mais longas de trabalho.

Referências

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  • _______. Das Zentrum für interdisziplinäre Forschung. Eine Denkschrift. In: MIKAT, P.; SCHELSKY, H. Grundzüge einer neuen Universität. Zur Planung einer Hochschule in Ostwestfalen. C. Bertelsmann Verlag, Gütersloh 1967b, S. 71-88. Disponível em: <https://www.uni-bielefeld.de/(de)/ZiF/Allgemeines/Schelsky.pdf>.
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  • THACKRAY, A. Notes Towards a History, based on a talk given to the Board of Trustees on April 27, 1984. Disponível em: <https://casbs.stanford.edu/casbs-origins>.
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  • WITTROCK, B. Institutes for Advanced Study: Ideas, Histories, Rationales, Keynote Speech on the Occasion of the Inauguration of the Helsinki Collegium for Advanced Studies, University of Helsinki, December 2, 2002, unpublished.

Notas

  • 1
    Este texto é uma versão abreviada da versão original em inglês publicada em <https://sociologica.unibo.it/article/view/9839/10968>.
  • 2
    Uma lista dos 102 IEA de que tenho conhecimento (em andamento) pode ser encontrada em: <https://www.uni-bielefeld.de/(en)/ZiF/Allgemeines/partner.html>.
  • 3
    Descrições mais detalhadas da história dos IEA podem ser encontradas em Wittrock (2002) e Goddard (2016).
  • 4
    Há IEA em Israel (IIAS), China (IEA de Nanquim e Fudan), Coreia do Sul (Kias), Japão (Wias, Nagoya), Austrália (UWA-IAS), Brasil (IEA-USP, IEAT-UFMG, Idea- Unicamp), Costa Rica (Ucrea), México (Calas), Estados Unidos (Casbs Neubauer Collegium, Buffett Institute, IEA Radcliffe, GIAS NYU, IEA de Princeton), Canadá (PWIAS) e vários IEA europeus. Gostaria, neste momento, de expressar a minha gratidão pela enorme simpatia e abertura com que fui recebida em todos os IEA. É realmente impressionante a facilidade com que os visitantes se integram às comunidades acadêmicas desses lugares.
  • 5
    Segundo os dados apresentados no Relatório Anual 2016/2017.
  • 6
    Ver Relatório Stanford de 13 de fevereiro de 2008. Disponível em: <https://news.stanford.edu/news/2008/february13/casbs-021308.html>. Acesso em: 10 ago. 2019.
  • 7
    Em 1969, um segundo IEA sediado em universidade foi criado: o Instituto de Estudos Avançados em Humanidades (IASH) da Universidade de Edimburgo. Para conhecer a história do IASH, ver Lauder (2018).
  • 8
    Originalmente chamado de Instituto Hebraico de Estudos Avançados.
  • 9
    Originalmente chamado de Colégio Sueco de Estudos Avançados em Ciências Sociais.
  • 10
    Disponível em: <https://www.wiko-berlin.de/en/institute/the-kolleg/history/history-of-the-institute/history-of-the-kolleg/>. Acesso em: 15 ago. 2019.
  • 11
    Disponível em: <http://www.swedishcollegium.se/subfolders/International_Links/SIAS.html>. Acesso em: 15 ago. 2019; <https://en.wikipedia.org/wiki/Some_Institutes_for_Advanced_Study>. Acesso em: 15 ago. 2019.
  • 12
    Até onde sei: o ZiF/Bielefeld (1968), o IASH/Edimburgo (1970), o IEA/São Paulo (1986) e o IEA Peter Wall/Vancouver (1991).
  • 13
    Exceto o IEA de Nantes (2004) e o Instituto Polonês de Estudos Avançados (PIASt, 2017).
  • 14
    O número total depende muito da definição. A lista dos IEA de que tenho conhecimento pode ser encontrada em <https://www.uni-bielefeld.de/(en)/ZiF/Allgemeines/partner.html>.
  • 15
    Como o nome Instituto ou Centro de Estudos Avançados na China também é usado para centros de pesquisa comuns, é difícil obter um número mais exato de IEA. Uma lista de IEA na China pode ser encontrada em: <https://www.uni-bielefeld.de/(en)/ZiF/Allgemeines/partner.html>.
  • 16
    UTIAS/Universidade de Tóquio (2011), HIAS/Universidade Hitotsubashi (2014), IEA da Universidade de Kyushu (2009), IEA da Universidade Nacional de Yokohama (2014), IEA da Universidade de Kyoto (2016).
  • 17
    Uma lista completa pode ser encontrada em: <https://www.uni-bielefeld.de/(en)/ZiF/Allgemeines/partner.html>.
  • 18
    Sobre os IEA como laboratórios interdisciplinares, ver Padberg (2014).
  • 19
    De acordo com o atual diretor do JIAS, Bongani Ngqulunga.
  • 20
    Disponível em: <https://www.bmbf.de/de/maria-sibylla-merian-centres-5181.html>. Acesso em: 5 ago. 2019.
  • 21
    Disponível em: <https://www.ias.edu/news/press-releases/2018/fassin-spss>.
  • 22
    Por exemplo, o Zukunftskolleg em Kostanz e o ZiF em Bielefeld.
  • 23
    Disponível em: <https://www.iea-nantes.fr/en/the-institute/mission/>.
  • 24
    Disponível em: <http://www.ubias.net/intercontinental-academia>.
  • 25
    Disponível em: <https://www.waseda.jp/inst/wias/assets/uploads/2019/03/UBIAS-Workshop-at-Nagoya-University.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2020.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2020

Histórico

  • Recebido
    24 Ago 2020
  • Aceito
    15 Set 2020
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