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Comida e educação

ALIMENTAÇÃO E EDUCAÇÃO I

Comida e educação

Ana Lydia Sawaya

ABSTRACT

THE ARTICLES in this review issue have their origins from the workshop "Diagnosis and Solution of Brazilian Alimentary and Nutritional Problems: Building Partnerships", promoted by IEA-Nutrition and Poverty Study Group, in August 2005. The researchers have adopted a multi-disciplinary point of view about that theme and stimulated the dialog between university and decision makers in public policies. They released a set of suggestion, including: integrated initiatives in education and health, communications strategies focused on healthy nourishment and prevention treatment for children suffering malnutrition, and the building of reference centers in alimentary and nutrition issues.

Keywords: Diagnosis, Alimentary problems, Partnerships, Multi-disciplinary point of view, Integration, Healthy nourishment, Focus on children, Reference Centers.

OS ARTIGOS que se seguem são o resultado de uma oficina sobre problemas problemas de alimentação e nutrição realilizada entre os dias 1º e 3 de agosto de 2005, no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, sob título geral "Diagnósticos e soluções dos problemas alimentares e nutricionais do Brasil: formando parcerias".

O objetivo do Grupo de Estudos de Nutrição e Pobreza do IEA-USP - promotor do evento - foi reunir os diferentes atores envolvidos na pesquisa acadêmica e no planejamento e execução de políticas públicas de alimentação e nutrição para a população brasileira.

O conjunto de textos origina-se, em grande parte, da transcrição ou adaptação das palestras ministradas ao longo dos três dias de trabalho da oficina. A decisão da editoria da revista de publicá-los deve-se à riqueza dos debates e ao propósito explícito da oficina de promover um diálogo frutífero entre a universidade e os responsáveis pelos principais programas de alimentação e nutrição do país.

Diálogo

A dinâmica da oficina procurou sempre estimular o intercâmbio de experiências e influir nos rumos dos programas em andamento. No primeiro dia, seus participantes discutiram vários grandes temas e subtemas. No segundo dia, a equipe foi dividida em pequenos grupos de trabalho, e, no terceiro, promoveu-se o debate sobre as conclusões dos grupos. Disso resultou um conjunto de temas a ser aprofundado futuramente pelo Grupo de Estudos em Nutrição e Pobreza e demais atores da área.

A palavra-chave foi parceria, a partir de dois critérios básicos: abordagem inter-disciplinar e reflexão voltada para subsidiar as políticas públicas. Buscou-se o diálogo em vários planos: público-privado, público-público e entre instituições governamentais e universidades.

Os temas abordados foram aqueles considerados os mais urgentes na agenda dos problemas nutricionais que o Brasil enfrenta hoje. Tais problemas são caracterizados pela má nutrição e insegurança alimentar na infância, levando à baixa estatura e ao aumento da incidência de doenças crônicas não transmissíveis em adultos, especialmente nas populações mais pobres.

Propostas

Dos debates surgiu um conjunto de diagnósticos e propostas endereçados, a título de sugestão, aos técnicos e dirigentes dos programas específicos de alimentação e nutrição, em várias frentes. As propostas, em ordem de prioridade, definidas pelos participantes da oficina, foram as seguintes:

1 - Agregar Educação e Saúde, por meio do desenvolvimento de programas de educação nutricional em pré-escolas, escolas de ensino fundamental e médio. Promover a capacitação profissional e a educação nutricional dos profissionais de nível técnico e superior, especialmente na área de Saúde, e dos agentes comunitários, levando-se em conta os hábitos alimentares e os alimentos disponíveis em cada região do território nacional. Desafiar os estudantes de graduação e pós-graduação a encontrar, dentro de suas áreas de atuação, caminhos para enfrentar a problemática alimentar e nutricional do país, procurando explorar o potencial do pensamento transdisciplinar. Divulgar e viabilizar mecanismos para difusão de experiências de êxito na área de educação nutricional, além de desenvolver estratégias de comunicação como instrumento para educação nutricional na mídia, voltadas para públicos específicos. Valorizar projetos de educação em nutrição e saúde em rádios comunitárias.

2 - Desenvolver pesquisa para consolidar e agregar as informações sobre saúde e nutrição já disponíveis no Brasil, tais como os dados do IBGE, indicadores sociodemográficos e socioeconômicos etc. Desenvolver instrumentos de monitoração da situação nutricional e alimentar no Brasil, especialmente a população de baixa renda.

3 - Multiplicar encontros e organização de eventos entre universidades, ministérios, ONG e empresas para tratar de programas de alimentação saudável no Brasil.

4 - Criar centros de referência em educação nutricional e promoção de alimentação saudável, com atenção especial para crianças desnutridas.

5 - Desenvolver ações regionalizadas de promoção de educação nutricional e alimentação saudável.

6 - Desenvolver ações técnicas, no plano estatal (dentro da estrutura do governo) e privado (a partir de organizações da sociedade civil e universidades), que promovam o controle social das políticas públicas e dos gastos na área social.

Educação nutricional

Um dos destaques da oficina foi a importância da promoção da educação nutricional e o desenvolvimento de estratégias para que as informações cheguem à população e essa possa desenvolver hábitos mais saudáveis. Tais estratégias devem contemplar tanto a função social do alimento quanto as informações sobre nutrientes.

Houve também grande interesse de se aprofundar o conhecimento de metodologias nos campos de psicologia, sociologia e antropologia para educação nutricional e mudanças de comportamento, áreas em que os profissionais de saúde são pouco versados.

Ainda quanto à educação nutricional, sugeriu-se a organização de seminários com especialistas em comunicação, voltados para as estratégias de divulgação de informações e a produção de instrumentos técnicos de mídia. O seminário também mostraria exemplos de experiências de sucesso.

Destacou-se que a comunicação pode ensejar mudanças comportamentais em curto prazo, e duradouras. Entendeu-se, ainda, que educação implica conscientização, ou seja, criação de indivíduos autônomos, críticos, capazes de problematizar situações e tomar decisões. Sugeriram-se o resgate do pensamento do educador Paulo Freire e sua aplicação à educação nutricional. Os participantes da oficina consideraram a escola como promotora da saúde, cabendo-lhe integrar a saúde e a educação.

Alimentação saudável

Verificou-se também a importância de se realizar um fórum para mapeamento e conhecimento das muitas iniciativas desenvolvidas pelo governo e pela sociedade civil, sobretudo quanto à promoção da alimentação saudável. Destacou-se a importância do diálogo e das parcerias entre os vários atores na área, evitando-se a superposição de iniciativas e o desperdício de recursos públicos com medidas paliativas. Ressaltou-se a importância de a universidade assegurar as condições para exercer seu papel de produtora de conhecimento científico de alta qualidade na área.

Outra iniciativa sugerida foi a criação de um prêmio para a divulgação de experiências de sucesso.

Foco na criança

Enfatizou-se que o objetivo maior é a criança desnutrida. As ações devem se voltar para o combate da má alimentação nos primeiros anos de vida, o que levará a melhoria da saúde a todo o ciclo de vida do indivíduo. Os participantes entendem que tais ações são muito mais eficazes e duradouras se realizadas nessa faixa etária. Sugeriu-se que todos deveriam colaborar para essa meta. A educação nutricional deve ser considerada um item fundamental para o desenvolvimento do Brasil.

Centros de referência

Destacou-se a necessidade de criação de centros de referência em alimentação e nutrição, como forma de integração e difusão de conhecimentos, e também como instrumento de ações práticas no tratamento da desnutrição. O objetivo da oficina foi promover pesquisas e ações que contribuam para erradicar a desnutrição no Brasil. Daí constar sua defesa de medidas governamentais para institucionalizar o tratamento específico de crianças desnutridas em regime de hospital-dia.

Ana Lydia Sawaya é fisiologista, professora associada do Departamento de Fisiologia da Unifesp, presidente do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (CREN), coordenadora do Grupo de Estudos de Nutrição e Pobreza do Instituto de Estudos Avançados da USP, membro da força-tarefa Diet, Nutrition and Long Term Health/IUNS (International Union of Nutritional Sciences). @ - anafisi@ecb.epm.br

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Ago 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2006
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