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Editorial

Editorial

DEPOIS DE TANTOS ESTUDOS voltados para o fenômeno da globalização, visto ora com euforia, ora com aversão, ora como realidade inarredável, ora como um mito prenhe de imposturas, chegou a oportunidade – com a comemoração dos 150 anos do Manifesto – de tratar o mesmo conceito em um registro ao mesmo tempo histórico e crítico. Propondo a vários intelectuais de renome o tema o que está, vivo e o que está, morto no Manifesto Comunista? (pergunte que glosa o célebre ensaio de Croce, O que está, vivo e o que está, morto na filosofia de Hegel, de 1906), ESTUDOS AVANÇADOS pôde colher ao menos uma idéia de consenso: Marx e Engels, ao descreverem a expansão do capitalismo em 1848, previram com notável agudeza a situação que vivemos hoje neste fim de milênio. Profetas clarividentes e críticos acerbos, ambos acertaram no prognóstico de uma sociedade cada vez mais rica e cada vez mais desequilibrada.

Quanto às dúvidas e às reservas do leitor de hoje, ficaram todas do lado do processo político e do sempre embaraçoso que fazer? Quem poderá superar a idolatria do lucro, o fetichismo do mercado? Quem poderá curar a chaga da pobreza e, em algumas regiões, da miséria? Como e quando essa tarefa ciclópica, que a tradição marxista sempre chamou de Revolução, começará a reverter a tendência implacável da acumulação, que agora revela a sua face mais cinicamente argentária?

Que o leitor deste dossiê siga de perto as perplexidades, sem dúvida mais freqüentes do que as certezas, dos comentadores do Manifesto. Problemas cruciais como o papel futuro da classe operária (a qual "só subsiste enquanto encontra trabalho", diz o Manifesto), o destino do Estado social em uma sociedade de massas, a construção árdua de um socialismo realmente democrático estão na ordem do dia; e uma reflexão sobre o mais importante dos manifestos da Era Contemporânea só pode ser benvinda.

Convém assinalar o fato de que a tradução aqui publicada, assinada por Marcus Vinicius Mazzari, é nova e baseada exclusivamente no original alemão, o que, de pronto, a diferencia da maior parte das versões que correm nas mãos de nossos estudiosos do marxismo.

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Ainda na linha do interesse pelos impactos da crise atual, este número abriga um ensaio sobre a exclusão social e um mini-dossiê sobre a América Latina em que se destacam, além de um artigo de alcance geral, trabalhos relativos à Amazônia, ao Mercosul e ao multiculturalismo peruano.

Nas páginas dedicadas à literatura e à arte, publicamos, ao lado de um inédito em português de Brecht, textos sobre Silva Jardim, Manuel Bandeira e a recepção de Picasso no Recife dos anos 30.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Maio 2005
  • Data do Fascículo
    Dez 1998
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