DEPOIMENTO
Programa USP-BID possibilita maior intercâmbio científico
Mauro Marcos de Oliveira Bellesa
Da dotação orçamentária anual da Universidade de São Paulo, descontado o montante destinado à folha de pagamento de docentes e servidores não-docentes, restam cerca de US$ 70 milhões para custeio da pesquisa, ensino, administração, obras, equipamentos e manutenção. Pode-se avaliar o impacto do Programa USP-BID 1 pelo fato de propiciar no seu período de execução (1988/91) um incremento de 56% nas verbas anuais para essas despesas.
O USP-BID 1 é um financiamento de US$ 63 milhões concedido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e vinculado a investimentos do governo do Estado de São Paulo no valor de US$ 95,1 milhões. O objetivo do programa é a modernização da pesquisa, do ensino e da administração da USP.
Do total de US$ 158,1 milhões, US$ 71,1 milhões (45%) destinam-se ao Subprograma A, que prevê a construção de 112 edifícios e 19 obras de infra-estrutura distribuídos pelos campi da USP. O Subprograma B é voltado para a aquisição e instalação de equipamentos e compra de livros e periódicos para o acervo do Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi). O Subprograma C é dedicado ao aprimoramento das condições de desenvolvimento da pesquisa, melhoria da qualidade de ensino (especialmente da pós-graduação), intercâmbio de professores com instituições estrangeiras, atualização de professores de ciências do Segundo Grau, modernização dos procedimentos e métodos administrativos e formação de servidores não-docentes.
Intercâmbio Científico
O professor Erney Felício Plessmann de Camargo, pró-reitor de Pesquisa e coordenador geral do programa, ressalta a importância do apoio ao intercâmbio científico (com a destinação de US$ 14,3 milhões) previsto no Subprograma C. "No mundo, esse intercâmbio cresce de forma exponencial e qualquer descuido pode significar uma defasagem de décadas." Graças ao programa, até janeiro de 1991, 488 professores estrangeiros estiveram na USP por períodos variados e 564 professores da Universidade tiveram a oportunidade de desenvolver trabalhos no Exterior.
No início do programa, foi feita uma chamada de projetos em áreas definidas por uma comissão. Foram escolhidas aquelas cujo contato com especialistas do Exterior era considerado prioritário. "Evidentemente, essas áreas são as de fronteira, onde o risco de isolamento acarreta conseqüências maiores", lembra Camargo. Definidos os projetos, foram alocadas quantias determinadas para cada um. "A partir daquele momento, os coordenadores de projeto tiveram liberdade total de utilização dos recursos e para decidir que especialistas estrangeiros deveriam ser convidados."
"No início do programa houve inclusive grupos de pesquisas muito bons que não apresentaram projetos, receosos de que fosse mais uma iniciativa que não funcionaria a contento", comenta Camargo. Com o vencimento dos primeiros prazos de apresentação e a chegada dos primeiros projetos, esses grupos perceberam que o programa funcionava e também apresentaram suas propostas.
Segundo ele, o processo de concessão de recursos é ágil (de ser decidido em um mês) e as diárias entre 120 e 180 dólares são significativamente superiores às diárias médias pagas pelas agências nacionais de fomento científico (CNPq, Capes, Finep e Fapesp).
Projeto do IEA
Do programa USP-BID 1, o IEA recebeu US$ 200 mil dólares, dos quais US$ 170 mil foram destinados ao intercâmbio científico, tendo possibilitado a vinda até janeiro de 1991 de 18 professores estrangeiros, convidados pelas Áreas de Concentração e Grupos de Estudos do Instituto. Em 1991, virão mais 20 pesquisadores do Exterior.
De acordo com o professor Gerhard Malnic, membro do Conselho Diretor e coordenador do projeto do IEA, essa verba foi distribuída entre as Áreas de Concentração e Grupos de Estudos para que convidassem os pesquisadores estrangeiros que desejassem. Em geral esses pesquisadores permanecem no IEA por períodos que variam de uma semana a um mês. Podem acontecer períodos mais prolongados, como foi o caso do professor inglês Richard Garratt, da Universidade de Londres, que participou das atividades da Área de Concentração em Biologia Molecular durante um ano, tendo apoio suplementar para estada concedido pela Fapesp.
No caso do IEA, a maior parte dos recursos do USP-BID 1 está comprometida com o patrocínio da vinda de pesquisadores estrangeiros devido às próprias características do Instituto. O Instituto não possui pesquisadores fixos em seu quadro de pessoal. Os integrantes das Áreas de Concentração e dos Grupos de Estudos são professores vinculados a outras unidades da USP, através das quais eles podem se beneficiar do programa para suas viagens de trabalho ao Exterior.
Por outro lado, os convites a pesquisadores estrangeiros feitos pelo IEA acabam por complementar as atividades de intercâmbio de outras unidades. Dessa maneira, é relativamente comum a conjugação do interesse de uma Área ou Grupo do IEA na vinda de um especialista do Exterior com o interesse de alguma unidade em que esse mesmo professor dê um curso em sua pós-graduação, por exemplo.
Outra forma de colaboração é a realização de simpósios conjuntos com o apoio do programa. Isso aconteceu em outubro de 1990, quando o IEA e o Instituto de Física e Química de São Carlos realizaram um Simpósio Internacional de Cristalografia e Biologia Molecular com a presença de especialistas de vários países.
Novo Programa
Em dezembro passado, o IEA apresentou sua proposta à coordenadoria geral do Programa USP-BID 2. O valor do projeto do Instituto é de US$ 351,7 mil. Desse total, US$ 250 mil destinam-se a custear a vinda de pesquisadores estrangeiros para participar das atividades do Instituto.
Os restantes US$ 101,7 mil serão utilizados na compra de equipamentos e suprimentos especiais necessários à constituição de um Laboratório de Comunicação de apoio às atividades do Instituto. Esse laboratório será empregado tanto na realização de eventos acadêmicos (simpósios, cursos e palestras), com equipamentos para tradução simultânea, por exemplo, quanto no registro das atividades e sua difusão em material impresso, fotografias e fitas de vídeo e áudio.
O valor do USP-BID 2 a ser negociado será em torno de US$ 70 milhões. Entretanto, desta vez o programa não compreenderá construções e obras de infra-estrutura. Estará voltado exclusivamente para o intercâmbio científico e aquisição de equipamentos e uma pequena parte de insumos especiais a serem importados, informa Malnic. O novo programa durará três anos (1992-94).
Segundo Malnic, que atualmente também é presidente da Comissão do USP-BID 2, várias unidades da USP apresentaram projetos com objetivos semelhantes ao do Laboratório de Comunicação do IEA. A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas pretende investir em sua biblioteca, já a Faculdade de Educação tenciona criar um centro de documentação.
Avaliação
Malnic informa, também, que a preocupação do Instituto na execução do seu projeto para o USP-BID 2 será tornar a participação dos pesquisadores estrangeiros convidados mais substanciosa. "Nossa intenção é trazer especialistas que fiquem por mais tempo no Instituto. Isso não é fácil, pois as grandes personalidades geralmente não têm disponibilidade de ficar por muito tempo distantes dos compromissos em seus países. Os que têm disponibilidade para isso são os pesquisadores mais jovens. No entanto, é mais difícil selecionar jovens especialistas que possam trazer uma contribuição de peso às Áreas e Grupos do Instituto."
Na opinião do coordenador geral do programa, ainda é cedo para avaliar o impacto desse incremento no intercâmbio científico no aprimoramento do ensino e no desenvolvimento da pesquisa. "Tenho alguns relatórios de assessores estrangeiros que a partir do final de 1990 vêm a cada mês. Os assessores se mostram bastante impressionados com o desenvolvimento do programa." Aliás, sabe-se que o USP-BID 1 tem sido indicado como modelo pelo BID para outras universidades da América Latina interessadas em programas semelhantes, como a Universidade de Montevidéu do Uruguai.
Existe uma condição importante para a USP iniciar os entendimentos quanto ao USP-BID 2: ter utilizado no mínimo 70% dos recursos do USP-BID 1. O professor Camargo pretende que isso aconteça até junho próximo. Outro alerta: no final deste ano a Universidade deverá prestar contas do programa, portanto, as viagens agendadas não podem mais ser transferidas de data. Se a viagem não ocorrer na data prevista, o dinheiro será recolhido.
Mauro Marcos de Oliveira Bellesa é jornalista do IEA.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
02 Mar 2006 -
Data do Fascículo
Dez 1990