Este artigo é fruto do trabalho num projeto de pesquisa mais amplo cujo tema são os processos de mercantilização pelos quais a ciência vem passando nas últimas décadas. A parte do projeto em que o artigo se insere diz respeito aos processos de empresariamento da ciência, que envolvem como componente principal a introdução de métodos quantitativos produtivistas de avaliação do trabalho científico. O objetivo do artigo é complementar a crítica a tais formas de avaliação com a sugestão de formas alternativas, inspiradas na concepção, devida a W. Hagstrom, da dádiva como o princípio organizador da ciência. A exposição divide-se em cinco seções: a primeira trata da dádiva em geral ou, em outras palavras, da dádiva como princípio organizador da sociedade; a segunda, da dádiva como princípio organizador da ciência; na terceira expõe-se um argumento a favor da concepção dadivosa, baseado em seu poder explicativo; na quarta, considerações sobre a proliferação de fraudes na ciência; e na quinta, um esquema conceitual como fundamento da transição do quantitativo para o qualitativo na avaliação acadêmica. A conclusão consiste em algumas considerações gerais, propostas como balizas para o movimento em prol de formas mais sensatas de organização das práticas científicas.
Dádiva; Mercantilização; Empresariamento; Avaliação; Éthos; Fraudes; Neoliberalismo; Mauss; Hagstrom; Merton