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Para uma Ética Renovada do Cuidar: à escuta do corpo sensível*

For a Renewed Ethics of Care: listening to the sensitive body

RESUMO

Este texto tenta evocar os elementos éticos do ato de cuidar a partir de uma visão antropológica inspiradora, bem como de uma visão renovada do ser humano, tal como é representada em suas experiências pessoal e profissional. Apresentamos uma pesquisa do tipo biográfico e de inspiração fenomenológica, cuja prática permite a harmonização pedagógica entre o soma e a psique. Assim, é nosso desejo responder à seguinte questão: é possível respeitar as necessidades ontológicas e espirituais do ser humano em práticas nas quais o corpo é reverenciado à altura do mistério de sua existência encarnada?

Palavras-chave
Corpo; Sujeito Sensível; Ética do Ser; Somatopsicopedagogia

ABSTRACT

This paper aims to approach the ethical components of care through an inspiring anthropological point of view, as well as a renewed vision of the human being as it is represented in its personal and professional experiences. A biographical research with phenomenological inspiration is presented, with a practice which allows for the educational harmonization between mind and body, soma and psyche. Thus, it is the objective of this paper to answer the following question: is it possible to respect the ontological and spiritual needs of the human being with practices where the body is praised in its mystery as an incarnate existence?

Keywords
Body; Sensitive Self; Ethics of the Being; Somato-psychopedagogy

Relação com o Corpo e Renovação da Relação com o Ato Cuidar e com a Formação nas Profissões de Acompanhamento

O cuidado pressupõe imediatamente relação, ele se estabelece em uma relação. Isso implica o reconhecimento de uma dimensão ética no cuidar, de seu caráter essencialmente relacional. De certo modo, porém, toda relação ética com o outro constitui uma relação de cuidado. [...] Uma relação como essa é cuidar porque existe realmente interesse, preocupação com o outro. Ela contribui para que o outro possa ser verdadeiramente sujeito, e não apenas uma função social ou um instrumento de meu querer ou de meu desejo reduzido a uma funcionalidade (Barrier, 2010BARRIER, Philippe. Le Soin comme Accompagnement et Facilitation de l’Individuation avec la Maladie Chronique. In: LAZZARE, Benaruyo et al. La Philosophie du Soin, Éthique, Médecine et Société. Paris: PUF, 2010. P. 155-171., p. 156).

Os autores deste artigo são ambos educadores-pesquisadores da Universidade do Québec em Rimouski. Lecionam nos programas de psicossociologia, em cursos sobre relações humanas, e atuam na formação e no acompanhamento da transformação humana. Neste texto, a quatro mãos, eles se propõem a usar como referência sua experiência pessoal no acompanhamento de sua própria transformação, bem como suas práticas de formação e intervenção. Para eles, acompanhar a transformação humana exige a ousadia de investir no presente, em sua própria subjetividade, para participarem das importantes negociações que interpelam as pessoas, grupos, organizações, comunidades que eles acompanham.

Os programas de formação em psicossociologia da UQAR, Universidade de Québec em Rimouski, interessam, principalmente, a três tipos de clientela. De um lado, os jovens inscritos no primeiro nível da formação, ainda no início da vida profissional. Eles procuram conjugar a busca pelo que os apaixona e seus talentos singulares, com o encontro de seu lugar no mundo e as exigências da profissão da qual tentam se apropriar. Há igualmente clínicos com experiência que se inscrevem no mestrado em estudo das práticas psicossociais. Estes últimos sentem necessidade de uma autoavaliação e, simultaneamente, de sair em busca de uma atualização de suas práticas profissionais e relacionais. Por outro lado, existe, também, um programa de formação de adultos concebido na perspectiva da formação continuada ao longo da vida, segundo a fórmula do relatório Jacques Delors (1996DELORS, Jacques. La Directivité Informative dans le Guidage d’une Mise en Sens de la Subjectivité Corporelle: une méthodologie pour mettre en évidence des donations de sens du corps sensiblRapport à l’UNESCO de la Commission Internationale de l’éducation pour le vingt et unième siècle. Paris: Odile Jacob, 1996. ). Intitulado Sentido e projeto de vida, este programa destina-se a pessoas na faixa dos cinquenta anos ou mais, na iminência de se aposentarem, que se questionam sobre o sentido e a forma que devem dar à sua vida futura, bem como sobre as vias de acesso apropriadas para se negociar essa transição (Lapointe, 2010LAPOINTE, Serge. Encontro de si em história de vida: o aporte das histórias de vida na formação: “Sentidos e projeto de vida”. In: VICENTINI PERIN, Paula; MENNA BARRETO ABRAHÃO, Maria Helena (Org.). Sentidos, Potencialidades e Usos da (Auto) biografia. São Paulo: Cultura Acadêmica , 2010. P. 145-167.).

Este texto nos oferece um espaço de reflexão e diálogo sobre o lugar do corpo no acompanhamento da transformação humana. Nossas concepções, bem como nossas práticas de cuidado, originam-se de nossa experiência de percepção do corpo no curso de formação. Uma experiência que nos ensinou a considerar os alunos em sua globalidade, da forma como ela é representada em situação de interações formadoras. Uma experiência que também colocou formadores, como nós, diante do desafio de nunca mais separar o corpo, a alma e a mente nas profissões de acompanhamento. Sob essa perspectiva unificadora, a postura do acompanhador exige, igualmente, que ele assuma sua globalidade, sua singularidade, e que se mantenha em busca constante pela reciprocidade formadora (Gaignon, 2006GAIGNON, Christophe. De la Relation d’Aide à la Relation d’Êtres. La réciprocité transformatrice. Paris, Montréal: l’Harmattan , 2006. ).

A análise de nossas práticas de formação e acompanhamento, bem como um retorno reflexivo regular sobre nossa própria experiência de transformação e de atualização das práticas, constituirão aqui nosso principal fundamento. O enraizamento na experiência vivida sempre nos serviu como principal ponto de apoio para pensar, renovar e estabelecer o modelo para nossas práticas de acompanhadores, assim como para organizar, articular, ensinar e compartilhar nossos saberes provenientes das experiências, das ações localmente construídas, bem como os saberes especializados próprios ao nosso campo de conhecimentos e de práticas.

Convocar o Corpo para a Renovação da Relação com o Mundo: um imperativo educativo

Que vivência temos nós do grande corpo que é o mundo? Ela não está bem próxima da vivência de nosso próprio corpo? Na realidade, nossa experiência do mundo e a do nosso corpo são muito similares: somos um pequeno cenário inserido em um grande cenário, e o que precisaremos será passar do cenário ao corpo (Amar, 2005AMAR, Yvan. L’Effort et la Grâce. Paris: Albin Michel, 2005., p. 145-146).

Como sugere Yvan Amar, nossa relação com o corpo e nossa relação com o mundo encontram-se profundamente imbricadas. Por outro lado, sabemos que a relação com o corpo é, a princípio, um dado biopsicossocial e espiritual condicionado cultural, social e, até mesmo, familiarmente. Nossa relação com o corpo encontra-se igualmente inscrita nos estratos mais profundos das células, bem como no universo cognitivo, afetivo e gestual de cada ser humano. Ela é constituída por uma mistura de hábitos, de crenças e de saberes oriundos de tempos imemoriais, transmitidos a cada um por meio de condições específicas à sua inscrição sócio-histórica.

A esse propósito, Michela Marzano (2007MARZANO, Michela. La Philosophie du Corps. Collection Que sais-je? Paris: PUF , 2007., p. 63) adianta que “[...] é a partir da infância, em cada sociedade e em qualquer época, que o corpo é ‘formado’ a fim de se tornar um reflexo dos valores e crenças socialmente estabelecidos”. Vigarello (1978VIGARELLO, Georges. Le Corps Redressé. Paris: Delarge, 1978., p. 9), em Le corps redressé (O corpo reformado), é profícuo em argumentos nesse sentido, afirmando que o corpo “[...] é o emblema no qual a cultura vem inscrever tanto seus signos como suas insígnias”. Observamos aqui esta interdependência entre a relação com o corpo e a relação com o mundo. É sob essa ótica que no universo da formação dos adultos, bem como no do acompanhamento da transformação humana, acreditamos ser impossível ignorar as questões que se seguem. De qual relação com o corpo somos herdeiros? Que impacto exerce essa relação sobre nossa relação com o mundo? Sobre nossa vida? Nossas relações? Nossas ações? Nossos processos de aprendizagem e de renovação? Responder a estas questões está longe de ser algo simples, pois elas remetem diretamente a determinadas zonas do sujeito que, por vezes, fogem à sua consciência habitual. Convocar o corpo tanto na formação como em todas as outras profissões de acompanhamento torna-se, então, um imperativo categórico que desperta imenso interesse nos formadores-acompanhadores que somos.

Do Cenário ao Corpo, Via de Acesso do Sujeito da Verdade de sua História à Verdade de seu Corpo

Formadores de adultos há vários anos, há cerca de duas décadas evoluímos para as redes nacionais e internacionais das histórias de vida em formação. Para nós, o trabalho biográfico foi o principal fundamento de nossas práticas de formação, pesquisa e intervenção. Graças a ele, aprendemos a caminhar nos processos emancipatórios por meio de um trabalho rigoroso, realizado individualmente e em grupo. Este trabalho efetua-se pelo viés da escrita e do diálogo de compreensão intersubjetivos, em nossas trajetórias pessoais e coletivas. O retorno reflexivo às nossas histórias nos ensinou a trabalhar a desconstrução e a reconstrução de nossa relação com elas, com nós mesmos, com os outros e com o mundo. Este é um trabalho de construção de sentidos, de conhecimento e de religação. Na trilha dos trabalhos de Marie Christine Josso (1991JOSSO, Marie-Christine. Cheminer vers Soi. Genève: l’Âge d’homme, 1991. Traduit en portugais sous le titre de Caminhar para si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010.; 2000JOSSO, Marie-Christine. La Formation au cœur des Récits de Vie: expérience et savoirs universitaires. Paris, Montréal : l’Harmattan, 2000. ; 2010JOSSO, Marie-Christine. Cheminer vers Soi. Genève: l’Âge d’homme, 1991. Traduit en portugais sous le titre de Caminhar para si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010.), de Gaston Pineau (1998PINEAU, Gaston. Accompagnement et Histoire de Vie. Paris, Montréal: l’Harmattan , 1998. ; 2004PINEAU, Gastón. Temporalidades na Formação. São Paulo: Triom,. 2004.; 2007PINEAU, Gaston. Les Histoires de Vie. En collaboration avec Jean-Louis Legrand, collection Que Sais-je? Paris: PUF , 2007.), de Pierre Dominicé (1999DOMINICÉ, Pierre. L’Histoire de Vie comme Processus de Formation. Paris, Montréal: l’Harmattan, 1999. ), de Danièle Desmarais e Jean-Marc Pilon (1998DESMARAIS, Danielle; PILON, Jean-Marc. Pratiques des Histoires de Vie: au carrefour de la formation, de la recherche et de l’intervention. Montréal, Paris: l’Harmattan, 1998.) e de muitos formadores-pesquisadores pioneiros na corrente das histórias de vida em formação, aprendemos não apenas a aprender com as nossas histórias de vida, mas também como nos inserir melhor em nosso papel de formadores de adultos.

Como ressalta Jeanne-Marie Rugira (2006RUGIRA, Jeanne-Marie. La Relation au Corps, une Voie pour Apprendre à Comprendre et à se Comprendre: pour une approche perceptive de l’accompagnement. Collection du Centre Interdisciplinaire de recherches phénoménologiques. V. 3, p. 132-143, 2008. ), em artigo escrito com a colaboração de Danis Bois, por ocasião do Congresso Internacional de Pesquisa Autobiográfica CIPA II, realizado no Brasil, em 2006, na cidade de Salvador, Bahia:

Da corrente das histórias de vida em formação, recebi a princípio a autorização para participar de um processo de formação experimental. Aprendi a aprender com minha experiência, a observá-la, a conscientizar-me dela, a validá-la, a nomeá-la, a compartilhá-la, a refletir sobre ela com os outros e, finalmente, a dar a ela o tempo de me transformar. Aprendi a valorizar minha experiência humana e a pensar a partir dela. Aprendi sobre a autonomia, a importância dos meus impulsos criadores e emancipatórios. Aprendi, assim, a viver a solidariedade e a importância de assumir minha responsabilidade humana e cidadã. Por outro lado, compreendi que o valor da minha experiência subjetiva não podia desprezar nem sua inscrição nos contextos socioculturais, políticos ou institucionais, nem encontrar verdadeiramente seu sentido fora das trocas intersubjetivas, perfeitamente inscritas nas redes de intercompreensão (Bois; Rugira, 2006BOIS, Danis; RUGIRA, Jeanne-Marie. La Relation au Corps, une Valeur Ajoutée au Courant d’Histoire de Vie en Formation. Publication des chercheurs du C.E.R.A.P., Lisbonne, 2006. , p. 14-15).

Em contrapartida, graças ao contato com o trabalho biográfico, percebemos a amplitude determinante da influência de nossas histórias e de nossas origens socioculturais sobre nosso modo de olhar o mundo, os outros e nós mesmos. Principalmente a partir do contato com trabalhos de Vincent de Gaulejac (1999)DE GAULEJAC, Vincent. L’Histoire en Héritage. Roman familial et trajectoire sociale. Paris: Desclée de Brouwer, 1999. e de Anne Ancelin Schützenberger (1993)SCHÜTZENBERGER, Anne Ancelin. Aïe, mes Aïeux! Paris: La méridienne, Desclée de Brouwer, 1993. conscientizamo-nos, igualmente, do peso dos contextos sociais e da herança transgeracional na vida e na liberdade do sujeito.

Diante da força desses determinismos que limitam consideravelmente a liberdade das pessoas, começamos a procurar outras maneiras de criar condições capazes de favorecer a emancipação do sujeito. A princípio, por razões totalmente pessoais e, depois, na busca de caminhos de atualização de nossas práticas de formação e acompanhamento. Para nós, naquele momento, parecia importante participar da busca de uma liberdade que não quer mais se emancipar apenas de uma eventual exterioridade opressora, mas que deseja, igualmente, se libertar do considerável ônus intrapsíquico e interpessoal de nossas heranças biológicas, psíquicas e culturais. Foi nessa intersecção específica que descobrimos os trabalhos de Danis Bois e da sua equipe de clínicos pesquisadores.

Para nós dois, a descoberta do trabalho de acompanhamento pelo contato com o corpo sensível assemelhou-se a uma revelação. Embora tivéssemos convivido com muitas abordagens e muitas escolas de acompanhamento e de formação, encontrávamo-nos diante de encruzilhadas que não ofereciam mais caminhos de evolução. Foi essa errância existencial, associada às formas de impasses que a acompanhavam, bem como nossa determinação de não trair nossa busca por uma vida mais ativa, que nos conduziu à essência das profissões do Sensível.

O termo Sensível, que aparece aqui pela primeira vez, requer uma breve explicação que mais adiante terá seu sentido explicitado. A esse respeito, cabe citar Danis Bois (2009BOIS, Danis. De la Fasciathérapie à la Somato-psychopédagogie. In: BOIS, Danis; JOSSO Marie-Christine; HUMPICH, Marc (Org.). Sujet Sensible et Renouvellement du Moi, les Apports de la Fasciathérapie et de la Somato-psychopédagogie. Paris: Point d’appui, 2009. , p. 50) que em um texto autobiográfico relata seu caminho de busca, pesquisas e descobertas. A propósito do corpo sensível, ele afirma o seguinte:

Se a fenomenologia explora o vínculo físico entre o corpo e mundo, a percepção do Sensível, por sua vez, explora o vínculo vivo entre um sujeito e o seu próprio corpo, o que implica o desenvolvimento de uma modalidade perceptiva paroxística capaz de penetrar a interioridade viva do corpo. A esse caráter paroxístico da percepção dei o nome de percepção Sensível, para destacar a diferença entre a percepção sensível, ligada à relação com o mundo pelo viés dos sentidos exteroceptivos, e a percepção do Sensível, constituída pela relação consigo próprio.

Danis Bois (2009BOIS, Danis. De la Fasciathérapie à la Somato-psychopédagogie. In: BOIS, Danis; JOSSO Marie-Christine; HUMPICH, Marc (Org.). Sujet Sensible et Renouvellement du Moi, les Apports de la Fasciathérapie et de la Somato-psychopédagogie. Paris: Point d’appui, 2009. , p. 50) prossegue afirmando que: “[...] foi sobre esta modalidade perceptiva do Sensível que se construiu o material imanente que serviu para a elaboração da sua obra”. Ela é, também, o fundamento e o ponto de apoio do que se pode chamar de profissões do Sensível, práticas inventadas e refinadas ao longo dos últimos trinta anos para conduzir as pessoas à essência da interioridade do seu corpo vivo, essa “região selvagem, virgem de qualquer referência conhecida”. Entre essas práticas, é preciso citar a terapia manual, a ginástica sensorial e a introspecção sensorial. Mais adiante, a descrição da experiência vivida por um de nossos participantes em uma introspecção sensorial permitirá compreender melhor a natureza dessa prática, bem como os impactos do trabalho de mediação do corpo sensível.

Para nossa grande surpresa, vivemos uma experiência completamente inédita quando, por nossa vez, descobrimos as profissões do Sensível. Nós nos reconhecemos, então, nas palavras de Matthieu Langeard (2002LANGEARD, Matthieu. Corps d’Éveil, la Réduction Phénoménologique en Psychothérapie. Journal Interne de l’Association d’Analyse psycho-organique. http://www.Psycho-Ressources.com, 2002.
http://www.Psycho-Ressources.com...
), que descreve com precisão a experiência que fez consigo próprio, no contato com uma nova relação com o seu corpo. Ele falava da descoberta de um ser-estar mais amplo, mais rico, encarnado, que foi para ele como um segundo nascimento. Seu corpo adquiria, então, consciência.

Com isso, nos tornávamos cada vez mais conscientes de nós mesmos e do mundo. Essa descoberta nos deixava totalmente curiosos e revelava em nós uma intensa vontade de ir mais longe nessa nova experiência. Foi assim que tomamos a decisão de nos formar nessa abordagem somática, a fim de aprender os protocolos práticos e contextos teóricos que eram propostos ali. No contato com essa experiência subjetiva corporificada aprendia-se a “ver a nossa subjetividade em atos”, como afirma Catherine Meyor (2005MEYOR, Catherine. La Phénoménologie dans la Méthode Scientifique et le Problème de la Subjectivité. Recherches Qualitatives, v. 25, n. 1, p. 25-42, 2005., p. 28). Aparecíamos para nós mesmos como sujeitos e, como Matthieu Langeard (2002LANGEARD, Matthieu. Corps d’Éveil, la Réduction Phénoménologique en Psychothérapie. Journal Interne de l’Association d’Analyse psycho-organique. http://www.Psycho-Ressources.com, 2002.
http://www.Psycho-Ressources.com...
, p. 4), constatávamos com encantamento que viver e descrever “[...] com precisão um gesto interior que suspende a atividade cerebral comum, instituía uma sensorialidade mais rica que permitia que esse gesto se materializasse”. Esse aprendizado tornava-se cada vez mais uma necessidade para nossas vidas pessoais e para a atualização de nossas práticas profissionais.

A Descoberta de uma Pedagogia Perceptiva, Cuidadora e Corporificada: a caminho com Danis Bois

Conduzir uma prática corporal é levar o outro a viver na intimidade de um corpo do qual ele se crê separado, despertá-lo para a inteligência que anima seu corpo por meio de uma conscientização da supressão das separações corpo-pensamento e organismo-ambiente. O trabalho corporal é um trabalho de absoluta ecologia! [...] O trabalho corporal é um trabalho de consciência (Amar, 2005AMAR, Yvan. L’Effort et la Grâce. Paris: Albin Michel, 2005., p. 147).

Assim que tomamos conhecimento da existência da equipe de pesquisa europeia, dirigida por Danis Bois, ficamos curiosos e sentimos vontade de nos aproximar desses pesquisadores originais, que há anos se empenhavam ativamente para que o corpo e seu movimento recebessem a devida consideração no âmbito da saúde, da formação e da pesquisa universitária. Tínhamos a intuição de que caminhar junto deles, aceitar aprender com eles e acompanhá-los de perto nos processos de pesquisa e intercâmbios recíprocos de saberes, poderia nos permitir enfrentar questões sem respostas que nossas diferentes práticas de formadores de adultos e acompanhadores de transformações humanas nos suscitavam.

Descobrimos, então, junto ao professor Danis Bois, uma equipe de clínicos e pesquisadores que há quase trinta anos se dedica de modo eficiente no desenvolvimento de uma abordagem somática do acompanhamento, que situa o corpo sensível na essência dos processos de aprendizagem e de cuidados. Como explica Hélène Courraud-Bourhis (1999COURRAUD-BOURRHIS, Hélène. La Biomécanique Sensorielle. Paris: Point d’appui , 1999. , p. 57), o principal suporte desta abordagem inovadora de acompanhamento somatopedagógico é:

[...] uma força de crescimento sensorial que se apresenta sob a forma de um movimento, o mais lento, o mais profundo e o mais global que se pode encontrar no corpo, e que parece restabelecer os eixos de referência do corpo e seu ritmo fisiológico.

Este movimento interno que anima o corpo humano é chamado, também, de movimento sensorial.

Os protocolos de trabalho utilizados nesta abordagem de acompanhamento e de formação permitem que os estudantes tenham acesso à sua sensorialidade e aprendam com essa experiência. Hélène Courraud-Bourhis (1999COURRAUD-BOURRHIS, Hélène. La Biomécanique Sensorielle. Paris: Point d’appui , 1999. , p. 45) nos lembra que, tal como é concebida aqui, a sensorialidade “[...] é a capacidade do ser humano de estabelecer uma relação de consciência com um processo dinâmico vivo no interior de seu corpo”.

Danis Bois (2006BOIS, Danis. Le Moi Renouvelé. Introduction à la somato-psychopédagogie. Ivry-sur-Seine: éditions Point d’Appui, 2006.) explica que, por outro lado, essa nova abordagem do acompanhamento é uma abordagem educativa destinada principalmente à mediação do corpo sensível. Isso significa que os protocolos práticos utilizados, mesmo que sejam cuidadores, não estão ali unicamente para cuidar dos males do corpo, nem mesmo para cuidar do mal-estar psíquico por meio do corpo. Eles constituem uma oportunidade de se reencontrar a própria subjetividade corporificada e de refletir sobre esta experiência com o objetivo de extrair dela sentido e conhecimento. Estamos em condições de afirmar, portanto, que ali existe um verdadeiro processo de formação e transformação. Para isso, foram criadas situações práticas do tipo manual, gestual, introspectivo e interativo com a intenção de desenvolver uma pedagogia experiencial, corporalmente centrada, orientada prioritariamente para um enriquecimento perceptivo e um desenvolvimento de competências de atenção e reflexão. Dentro desta perspectiva, o acompanhamento pela mediação do corpo sensível torna-se uma oportunidade de aprender a encontrar o lugar do corpo, e, nos estratos mais profundos de uma interioridade corporificada e conscientizada, perceber-se como sujeito de sua experiência.

No âmbito das nossas práticas de formação, pesquisa e intervenção no acompanhamento da transformação, procuramos sempre compreender melhor nossas práticas de cuidar, a partir de um ponto de vista que situa o corpo sensível no centro de nossas ações e reflexões. Marie-Christine Josso (2010bJOSSO, Marie-Christine. As narrações do corpo nos relatos de vida e suas articulações com os vários níveis de profundidade do cuidado de si. In: VICENTINI PERIN, Paula; MENNA BARRETO ABRAHÃO, Maria Helena (Org.). Sentidos, Potencialidades e Usos da (auto)Biografia. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010b. P. 169-192.) explicita quatro níveis de profundidade no cuidar do corpo. O nível mais profundo cuida de seu ser essencial e da preservação desse laço por meio de práticas somato­psíquicas1 * Tradução: Edgard de Assis Carvalho e Mariza Perassi Bosco 1 O trabalho aqui evocado, sobre os níveis de profundidade, está disponível em português. A Senhora Josso (2008) codirigiu, igualmente, a edição de um volume em português no qual se podem encontrar informações pertinentes, referentes aos trabalhos de Danis Bois e de sua equipe de clínicos pesquisadores (consultar as referências no final do artigo). .

A partir da perspectiva de um corpo sensível, no centro de nossas ações, percebemos que querer agir como acompanhador da transformação conduz os formadores das profissões de acompanhamento, como nós, a examinar mais de perto suas próprias experiências de transformação. Refletir com rigor, não apenas sobre nossas experiências pessoais de transformação, mas também sobre nossas práticas do cuidado, da maneira como elas se apresentam em nossas experiências vividas, experimentadas e exercitadas, constitui para nós um lugar fecundo de formatividade. Para Bernard Honoré, “[...] a formatividade designa a formação concebida como função evolutiva do ser humano” (1992HONORÉ, Bernard. Vers l’œuvre de Formation. L’ouverture à l’existence. Paris: l’Harmattan, 1992. , p. 66).

O Acompanhamento pela Mediação do Corpo Sensível na Intersecção do Cuidar e da Formação

A formação não pode limitar-se a uma atividade decidida e organizada como produção de consumo. O que pode ser produzido não é a formação em si, são as condições favoráveis ao seu surgimento (Honoré, 1992HONORÉ, Bernard. Vers l’œuvre de Formation. L’ouverture à l’existence. Paris: l’Harmattan, 1992. , p. 102).

Acompanhar pela Mediação do Corpo Sensível: uma verdadeira escola do olhar, à maneira dos iconógrafos

O ícone nos faz penetrar em um mundo que não é nem o mundo da matéria nem o do espírito, mas que é constituído, separadamente, por essas duas dimensões do real. Ele não descreve uma história (a dos diferentes momentos da vida [...]) ele é uma visão do mundo transfigurado (Leloup, 2001LELOUP, Jean-Yves. L’Icône une École du Regard. France: éd. Le Pommier, 2001., p. 16).

A metáfora do ícone, que tomamos aqui por empréstimo, nos permite nomear e até mesmo mostrar o corpo humano da forma como tivemos o privilégio de experimentar no contato com o corpo sensível. Gostaríamos de atestar aqui as descobertas que fizemos sobre as promessas de renovação da relação com o corpo humano, bem como do potencial do corpo sensível em perceber o humano como um ser aberto. Como nos lembra Jean Yves Leloup (2001LELOUP, Jean-Yves. L’Icône une École du Regard. France: éd. Le Pommier, 2001., p. 11), na trilha de Heidegger, o aberto é aquilo que define o Real da forma menos fechada, menos “enclausurada”. A transformação da relação com o corpo permite, de um lado, ver e viver o corpo sensível e, do outro, aprender a ler o invisível no visível, a Presença na aparência. Assim, o sujeito em formação e em transformação aprende a jamais se contentar com um olhar estático sobre o que vê, e a jamais reduzir o conhecimento ao que ele sabe.

Em concordância com Jean Yves Leloup (2001LELOUP, Jean-Yves. L’Icône une École du Regard. France: éd. Le Pommier, 2001., p. 11), somos convidados a circunscrever as consequências éticas e epistemológicas do olhar que lançamos sobre o mundo. Esse autor faz uma distinção inspiradora entre dois tipos de relação com o mundo, o olhar simultaneamente redutor e limitante do idólatra versus o olhar mais aberto do iconógrafo.

O idólatra tem o olhar paralisado por aquilo que vê, tem os “olhos plenos” do que observa. O conhecimento idólatra tem a inteligência paralisada pelo que sabe. A afetividade idólatra tem o coração paralisado pelo que ama. A religiosidade idólatra tem a “fé” paralisada pelo que crê. Em cada um destes domínios, os objetos do conhecimento ou do desejo são interpretados como o Real. Quanto ao iconógrafo, [...] o visível abre seus olhos ao invisível, sua inteligência e seu coração não ficam paralisados pelo que ele sabe ou ama; muito pelo contrário, o que ele sabe ou ama abrem para ele o caminho de um Real que incessantemente foge dele e o ultrapassa, e do qual ele participa como sujeito (Leloup, 2001LELOUP, Jean-Yves. L’Icône une École du Regard. France: éd. Le Pommier, 2001., p. 11).

Desse modo, nossas práticas de formação e acompanhamento nos colocam diante do desafio que é fazer parte de um projeto de formação aberto que nos obrigue a abandonar, tanto quanto possível, as nossas idolatrias. Esse projeto exige uma educação do olhar e, entre outros ingredientes, inclui uma educação da percepção e um treinamento para desenvolver a atenção. Seguindo os passos de Danis Bois (2006BOIS, Danis. Le Moi Renouvelé. Introduction à la somato-psychopédagogie. Ivry-sur-Seine: éditions Point d’Appui, 2006., p. 21), na essência das nossas práticas formativas constatamos que graças à reeducação da atenção o aluno:

Poderá ver, ouvir, perceber e captar melhor os elementos que, até então, não eram accessíveis à sua consciência, porque não eram percebidos. A pessoa irá descobrir uma escuta melhor, uma observação mais aguçada e, sobretudo, uma relação com seu corpo, de cuja existência ela não suspeitava. Ela penetra em uma esfera de atividades subjetivas totalmente desconhecida da qual era privada. Ela descobre que existe em seu corpo.

De modo cada vez mais evidente, as práticas do sensível nos revelam que a maneira de perceber o mundo determina não apenas a experiência que se tem dele, mas também o estilo de cuidados que ele imprime em suas relações, decisões e ações. Assim, para acompanhar a evolução das pessoas com quem trabalhamos, as transformações pelas quais elas passam, que passam por elas e as deslocam, nos parece necessário aprender juntos e nos formar mutuamente para refinar nosso olhar. Aprender a ver ou a olhar de outra forma, como visualizamos aqui, consiste em compreender o sentido “[...] de uma percepção visionária da atividade”, como propõe o filósofo sinólogo Jean François Billeter (2006BILLETER, Jean-François. Leçons sur Tchouang-Tseu. Paris: Allia, 2006., p. 68), em seu brilhante livro sobre a obra do grande filósofo chinês da Antiguidade, Tchouang Tseu. A propósito desse antigo sábio, ele afirma: “Que antes de estar na essência de seu pensamento, ele está na essência de sua experiência” (Billeter, 2006, p. 69). Por essa razão, ele o compara ao filósofo panteísta2 2 O panteísmo é um sistema filosófico e metafisico segundo o qual Deus identifica-se com o mundo e com o universo. Para os panteístas, Deus existe em tudo, na própria natureza das coisas e dos seres humanos. Fala-se então de um Deus imanente e impessoal (contido na natureza de um ser), em oposição ao Deus pessoal e transcendente (exterior ao mundo) das grandes religiões monoteístas. do século XVII, Baruch Spinoza, que considera igualmente um visionário. Da maneira como é percebida aqui, a visão indica um determinado tipo de atividade

[...] na qual, livre de qualquer preocupação prática, nossa consciência torna-se espectadora do que se passa dentro de nós. [...] É por isso que ele é visionário. Nada lhe interessa mais do que entrar nessa relação paralela à sua própria atividade e, a partir de seu interior, tornar-se um testemunho maravilhado. Daí se originam as visões (Billeter, 2006BILLETER, Jean-François. Leçons sur Tchouang-Tseu. Paris: Allia, 2006., p. 69).

Em consequência, formar para as profissões de acompanhamento exige aprender a conservar a essência de nossa experiência e formar nossos estudantes nessa competência. Manter-se na essência de sua experiência, observar o que acontece ali, refletir sobre ela, questioná-la e dialogar com ela, ajudam a desenvolver uma forma de conhecimento que acontece apenas nessas condições. O desafio pedagógico e metodológico, diante do qual nosso projeto de formação nos coloca, consiste em trabalhar pela criação das condições de uma pedagogia experimental que vise, simultaneamente, a reeducação da atenção e o desenvolvimento das competências perceptivas, reflexivas e dialógicas. Com Maria Leão (2002LEÃO, Maria. Le Prémouvement Anticipatoire, la Présence Scénique et l’Action Organique du Performeur. Thèse doctorat, Université de Paris VIII, 2002. , p. 132), que cita os trabalhos de Francisco Varela, tivemos efetivamente a oportunidade de constatar que “[...] a capacidade de um sujeito de explorar sua experiência não é espontânea. Trata-se de uma habilidade a ser cultivada, uma verdadeira profissão que exige um treinamento, uma aprendizagem”. A análise de nossas práticas formativas demonstra, sem nenhuma ambiguidade que, em situações de formação de adultos, o acompanhamento pela mediação do corpo sensível nos oferece um caminho de acesso na realização desse projeto cuja pertinência é incontestável e a eficácia surpreendente.

Narrativa de uma Prática de Si: viagem à essência da experiência de Adão

Se a filosofia é a interrogação sobre os caminhos que permitem ao sujeito o acesso à verdade, a espiritualidade, por sua vez, é a busca, a prática, a experiência pelas quais o sujeito opera em si mesmo as transformações necessárias para o acesso à verdade. A exigência do interesse de si, desencadeador das práticas de si, é a expressão dessa natureza espiritual da filosofia (Foucault, 2001FOUCAULT, Michel. L’Herméneutique du Sujet. Cours au Collège de France (1981-1982). Paris: Seuil/Gallimard, 2001., p. 16-17).

A narrativa da prática de si, da qual se tratará aqui, refere-se a um acontecimento recente na vida de um participante de um grupo de formação pela mediação do corpo sensível. Para os objetivos deste texto, nós o nomeamos Adão. Adão é um formador-pesquisador que atua em organizações e leciona na universidade. Há pelo menos dez anos, ele baseia sua prática de autoformação e suas práticas profissionais no acompanhamento pela mediação do corpo sensível. É um homem na faixa dos sessenta anos que pertence à geração de quebequenses que cresceram sob a influência da igreja católica, onipresente na vida sociocultural e espiritual da época. Até os trinta anos foi um praticante fervoroso, curioso sobre a sabedoria que suspeitava existir atrás de todas as histórias bíblicas. Em sua juventude, a vida em seu meio cultural e familiar seguia o ritmo impressionante das mudanças de estação quebequenses e do calendário litúrgico.

Por volta dos anos 1970, uma revolução tranquila acontecia no Québec3 3 Período de profunda transformação ocorrida em poucos anos, no início da década de 1960. Ele foi marcado pela criação de um serviço público moderno, pela estatização das instituições outrora confiadas à Igreja, tais como a saúde e a educação, pela secularização da sociedade e por uma transformação das mentalidades. . No calor das instabilidades socioculturais da época e a exemplo de muitas outras pessoas de sua geração, Adão, então com quase trinta anos, decide deixar os meios religiosos e se afastar de todo aquele universo que, a maioria das pessoas, considerava cada vez mais opressor. Esse foi seu primeiro ato de autodeterminação. Sua primeira transgressão, seu gesto capital de emancipação. Considerava este gesto difícil, embora estivesse muito orgulhoso dele. Experimentava um caminho de libertação, mas sem perceber até que ponto ainda era fortemente influenciado pelos movimentos globais da sua sociedade. Deixou de praticar a religião, desligou-se de todas as instituições religiosas da época, mas ainda estava longe de perceber que continuava sempre animado e influenciado pelas suas heranças. De tempos em tempos, reminiscências de sua história nessa cultura emergiam a superfície, apesar de seus múltiplos esforços de distanciamento. Para ele, era impossível acolhê-las com serenidade, ainda mais porque considerava seus antigos pertencimentos uma vergonha que pesava muito em sua história. Por outro lado, anos de trabalho terapêutico e biográfico lhe haviam permitido fazer as pazes com a sua história, tal como ela havia se apresentado até então.

A História Revisitada e Relida de Outra Forma pelo Contato com o Corpo Sensível

A memória do corpo é a mais profunda: tudo o que me tocou, tudo o que toquei, tateei, acariciei, os golpes que recebi, os ferimentos, tudo permanece na memória de minhas células; o próprio intelecto pode jogar, apagar, recomeçar do zero, inventar cenários diversos, retomá-los, corrigi-los, analisá-los, anulá-los, mas o corpo recebe todas as informações de modo indelével. Toda essa memória acumulada, recoberta, escondida nos estratos, impede a vibração, a musicalidade do meu corpo (Singer, 2001SINGER, Christiane. Où cours-tu? Ne sais-tu pas que le ciel est en toi. Paris: Albin Michel , 2001. , p. 131).

Estamos em janeiro de 2010, em uma manhã, ainda cedo. Nesse dia, na UQAR, há uma aula do curso de formação de acompanhamento pela mediação do corpo sensível. Uma formação continuada coorganizada e codirigida pelos professores Jeanne-Marie Rugira e Eve Berger, realizada no âmbito do protocolo de cooperação tripartite entre a Universidade do Québec em Rimouski, a Universidade Fernando Pessoa (UFP) e o Point d'appui (Ponto de Apoio), estabelecimento de ensino superior privado, academicamente afiliado à l'UFP.

Adão encontrava-se há muito em paz com sua história. Naquela manhã, ele se apresenta no curso de formação com o interesse de se atualizar, de se aperfeiçoar e o desejo de se instrumentalizar para seu projeto de atualização em suas práticas de formador e acompanhador. Na busca de modernizar suas práticas, Adão adquire cada vez mais consciência de que sua função de acompanhador o convida a refletir sobre suas próprias práticas relacionais e, por sua vez, a se fazer acompanhar e aprender a acompanhar a si mesmo. Seja você mesmo a mudança que você deseja ver no mundo, dizia Gandhi.

Estamos na terceira jornada do estágio. No início da sessão de formação, foi proposto aos participantes um tempo de introspecção sensorial sobre o modo do Sensível. Esta prática formativa e cuidadora define-se como uma atividade da consciência corporificada, em situação de imobilidade corporal, na posição sentada, individualmente ou em grupo. Como explicam Hélène Bourrhis e Danis Bois (2010COURRAUD-BOURHIS, Hélène; BOIS, Danis. La Mobilisation Introspective du Sensible: un mode opératoire visant l’enrichissement perceptif, la saisie et la mise en sens de la subjectivité corporelle. Réciprocité, Universidade Fernando Pessoa, Porto, n. 4, jan. 2010. Édition Point d’appui. Disponível em: <www.cerap.org>.
<www.cerap.org>...
, p. 14), a introspecção sensorial sobre o modo do sensível permite à pessoa:

Caminhar em direção a si mesma, transformando a qualidade da relação consigo própria por meio de um esforço de atenção orientado para o corpo. Ter consciência de si é existir por si mesmo baseado em um sentimento de evidência interior. O aluno é convidado a se interrogar constantemente: O que sinto realmente? O que experimento realmente? O que aprendo a partir do que experimento? Desse modo, ele se insere na essência da experiência corporal, quando, então, se torna possível para ele descobrir em seu corpo físico uma força viva que o mantém em vigília perceptiva e cognitiva.

Narrativa Fenomenológica de uma Experiência de Introspecção Sensorial

Adão descreve sua experiência de introspecção sensorial, na manhã de 7 de janeiro de 2010, da seguinte maneira. Lembremos que, na cultura cristã, o dia 7 de janeiro é o dia seguinte ao da epifania, uma festa cristã importante também denominada Dia de Reis. Essa festa simboliza a manifestação da divindade de Jesus no mundo, representada pela visita dos três reis magos.

Estou sentado no meio de um grande círculo composto de trinta participantes presentes neste estágio. Estou em uma sala de aula na Universidade do Québec em Rimouski. Fomos convidados a seguir as instruções da formadora que orienta a introspecção sensorial desta manhã. Permaneço imóvel. Tenho os olhos cerrados e sinto-me relaxado, bem confortável. Deixo-me guiar e me transformo em um observador atento aos fenômenos que surgem em minha consciência corporal, aos pensamentos e às emoções que emergem dela. A formadora nos convida a ficar disponíveis, a nos abrir para acolher tudo o que surgir sem julgar, sem recusar, sem reter nada. Apenas olhar, acolher e deixar passar. Minha atenção se volta para o interior do meu corpo. Tenho sensações de calor e suavidade, sobretudo na região do coração. Sinto uma agitação nas pernas, pulsações por todo o corpo, e a sensação é a de estar sendo lentamente embalado. Embora meus olhos estejam fechados, percebo uma luminosidade intensa, como se todo o meu corpo brilhasse a partir de dentro. Sinto-me bem, banhado em doçura, pleno de amor. Presencio a multiplicidade de minha experiência, sem perder de vista as zonas de tensão. De súbito, minha atenção visual, tranquilamente voltada para a luz, fica saturada de imagens religiosas que desfilam rapidamente. Ela se fixa precisamente em uma imagem de minha infância, que lentamente se impõe e persiste. Vejo em meu interior o menino Jesus na manjedoura, assim como eu o via na infância, na igreja de minha aldeia natal. Percebo que simplesmente não consigo acolher esta imagem. Sinto-me incomodado e muito irritado por esta visão que, para mim, vem ‘perturbar’ minha experiência introspectiva. Não consigo considerar o que vi como parte do que tenho que viver nessa manhã. Empenho-me, então, em manter esta experiência visual à distância, mas não consigo. Sinto-me violentado por meu passado religioso que, sem qualquer aviso, emergiu do fundo de minha memória corporal. Tento, sem sucesso, usar todas as estratégias habituais para fugir desta imagem obsessiva, bem como dos pensamentos e estados mentais que a acompanham. Vejo-me persistir, sem êxito, nesta estratégia e mudo de opinião. Escolho acolher-me e acolher minha experiência tal como ela se apresenta, como sugerem sabiamente as instruções da formadora. Torno-me receptivo ao acolhimento, tenho a intenção de me deixar levar, de me deixar ensinar, de me deixar cuidar e de me permitir refletir. A partir dessa conscientização, tudo fica em paz. Presencio o fim de uma velha guerra e fico muito emocionado. Mergulho por alguns instantes nessa paz, enfim reencontrada, e ouço a formadora dizer que o tempo da introspecção chegou ao fim.

Como frequentemente acontece nesses contextos, as formadoras pedem aos participantes que usem algum tempo para escrever o essencial da experiência vivida, para que ela tenha oportunidade de se estruturar e, com isso, nos oferecer uma nova forma. Estes escritos são compartilhados em grupo por aqueles que assim o desejam. Por vezes, os formadores se aproveitam disso para desenvolver práticas de ensino baseadas nessas experiências. Assim como o resto do grupo, Adão sistematizou sua experiência por meio do relato escrito.

Testemunhar a Reconciliação

Escrito o relato, as formadoras convidam os participantes que quiserem a compartilhar com todo o grupo o que escreveram, revelando sua experiência introspectiva. Este foi o texto que Adão compartilhou com o grupo nesta ocasião:

Acolher a Vida em mim, tal como ela se apresenta agora. É uma criança que chega: o menino Jesus. Não ele! Menos ainda essas imagens cristãs da minha infância e de toda minha existência. É o Natal que se descortina em imagens. Recuso-me, em vão, antes de acolhê-lo. Eu o recebo, enfim, e isso me revela: ‘Você jamais o acolheu pelo que Ele é, pelo que Ele representa. Transforme-se em um Rei Mago para acolhê-lo’.

Eu me transformo em um Rei Mago que reconhece a estrela e aceita segui-la. E essa estrela me conduziu para dentro de mim. Para o meu ponto de união mais sagrado, a fonte de luz do santuário na manjedoura do meu coração. Percebi, então, que a manjedoura não estava vazia. Transforme-se em um Rei Mago que oferece ouro, incenso e mirra. Torne-se um Rei Mago que deixa crescer dentro de si a criança pura, a criança-Vida, a criança-Deus. Continue a andar, vá para o deserto, visite os quatro cantos do mundo, vá para onde seus passos se deixam conduzir, para dentro de si mesmo.

Para uma Hermenêutica Dialógica Baseada no Sensível

Em nossos grupos de formação, damos a palavra aos participantes para que eles possam compartilhar suas experiências e acolher o sentido que emerge delas. O trabalho de recepção e de compreensão do sentido constitui uma oportunidade para o grupo de continuar a aprender a partir da experiência individual vivida no meio da aventura dialógica coletiva. Lidamos, aqui, com a essência de um trabalho interpretativo sobre o modo do sensível. Em um primeiro momento, esse trabalho requer que o sujeito aceite entrar em reciprocidade com o que se vive no instante. Tudo isso, a partir de uma atitude que suspende os modos habituais de reflexão e que favorece a receptividade contemplativa enraizada em uma subjetividade corporal. Este tipo de subjetividade sensível permite o acesso a uma nova forma de pensamento que o sujeito sente que não poderá produzir por si próprio. Tal como uma inspiração, ela se apresenta sob a forma de um pensamento vindo do exterior. É nesse sentido que Adão escreve: Isso me diz mais do que eu próprio me digo. Este pensamento constitui, então, um dado sensível de extrema evidência para o sujeito que o experimenta e, sente que encontrou a essência de sua verdade. Um dado sensível como esse não é apenas novo, ele tem também a capacidade de renovar a relação do sujeito com sua história, com suas representações habituais, consigo próprio e com o mundo. É isso que faz dessa experiência uma aventura altamente formadora.

O sujeito sensível, que encontrou a essência de sua experiência de formação e transformação, é convidado aqui a reconhecer o sentido da sua experiência, a acolhê-la e a integrá-la em sua estrutura habitual de acolhimento, bem como em seu contexto de vida. Em certos momentos, essa nova informação que acaba de chegar não pode ser facilmente integrada pelo sujeito, pois ele questiona não apenas suas representações habituais, como também sua relação com o seu contexto de vida, tal como ele o percebe, concebe e, por vezes, está associado. Assim, a nova informação exige ser levada em conta, o que induz o sujeito à ação, como se diria de uma mulher que entra em trabalho de parto. O sujeito é chamado, então, a aceitar a vida, a deixar-se levar por ela, a se permitir ser informado, a se permitir ser cuidado e a se permitir pensar de outra forma, estimulado por essa vida que brota de seu interior. Caso consiga isso, ele encontrará os caminhos de acesso para remodelar sua coerência interna e para construir ambientes externos coerentes com o que ele está se tornando.

Neste contexto particular, aprender a aprender a partir da própria experiência dá acesso a uma forma específica de trabalhar os sentidos no contato com o corpo sensível. O sentido origina-se, então, de uma experiência corporalmente centrada. Ele encontra seu enraizamento no corpo e em formas de encarnação diversificadas que se prolongam nos diferentes setores da vida do sujeito. Ele se torna capaz de permitir que esse novo sentido remodele e renove radicalmente sua maneira de se perceber e de se experimentar, bem como o significado e a orientação habitual de sua vida. Estes são alguns dos critérios essenciais que identificamos hoje e que nos permitem reconhecer que as condições para um verdadeiro aprendizado experiencial de contato com o corpo sensível foram reunidas.

Como afirma Marie-Christine Josso (2010JOSSO, Marie-Christine. Cheminer vers Soi. Genève: l’Âge d’homme, 1991. Traduit en portugais sous le titre de Caminhar para si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010.), toda experiência vivida, mesmo que tenha sido muito intensa, não é forçosamente formadora. Por isso, em situações de formação experiencial, é importante se preocupar com a criação das condições não somente para que alguém viva a experiência, por mais pertinente que ela seja, mas também criar condições para que os alunos possam observá-la, reconhecê-la, validá-la, nomeá-la, simbolizá-la, refletir sobre ela e integrá-la tanto em sua vida individual como na vida da comunidade aprendiz. É o acompanhamento desse processo, simultaneamente múltiplo, complexo e sistêmico, que denominamos ato de cuidar como formação. Este processo está centrado tanto no cuidar como na prática da vigília. Aqui não é o formador quem decide o que está em jogo, ele é apenas o guardião das condições de sua facilitação.

Esse tipo de processo de acompanhamento não pode ocorrer isoladamente, pois necessitamos dos outros e do mundo para ampliar a nossa visão, para não ficar muito limitados pelos nossos próprios pontos cegos, para ter acesso ao que Danis Bois denomina a informação ausente, que impede o sujeito de ver claramente sua própria dinâmica de vida, de formação, de transformação e de adaptabilidade diante do estado cambiante de sua vida e de seu ambiente. Deste modo, fica claro para nós que o processo de aprendizado no contato com o sensível não é apenas individual, ele se realiza na coletividade, mesmo sendo totalmente singular. Quando o sujeito mergulha na essência de sua experiência sensível, compartilha sua experiência e o trabalho de integração dessa experiência, ele se torna um educador para os outros. Assistimos, então, a uma forma de aprendizado por osmose. O sentido aparece, mergulhamos nele e adquirimos uma forma singular a partir de uma experiência comum. Christiane Singer (2001SINGER, Christiane. Où cours-tu? Ne sais-tu pas que le ciel est en toi. Paris: Albin Michel , 2001. , p. 41), quando se refere ao sentido não admite ela que ele é falso quando exala teoria demais? Por outro lado “Como na música, ele é verdadeiro, pois o que subitamente ressoa por toda parte e se propaga como uma onda vibratória”.

Na hermenêutica dialógica, baseada no sensível, o sentido se propaga por toda parte simultaneamente por ressonância corporal e assume uma forma singular em cada encarnação. Enraizada na experiência original do sujeito, a palavra sensível tenta nomear o mais precisamente possível a experiência vivida e experienciada. Ela produz, então, um efeito vivificador e educativo em todos os participantes.

Em consequência, assistimos à abertura de um espaço portador de promessas de futuro para esse sentido que acaba de surgir e que quer viver além do instante presente para que o sujeito chegue, enfim, a seu futuro. A natureza universal do sentido que surge a partir daí quer assumir corpo e forma na vida dos sujeitos singulares. Por outro lado, o sentido desta experiência desenvolve-se na partilha, tornando-se unificador e estimulando o sujeito a desejar uma vida mais ativa, não apenas para ele, mas também para os outros, não apenas nele, mas também em torno dele, não apenas agora, mas também na vida futura que avança em sua direção e que traz promessas potencializantes para todos e não apenas para ele.

Conclusão

O reencontro do corpo sensível constitui um convite para rever nossa concepção do mundo, da vida e, consequentemente, tanto da formação como do ato de cuidar. Nas profissões de acompanhamento, o que deve ser cuidada, levada em consideração, zelada, respeitada, é a capacidade do sujeito de cuidar da Vida em si mesmo, em cada ser humano, em cada grupo, em cada comunidade. Acompanhar a mudança nos sistemas humanos complexos sugere a seguinte questão: o que a Vida precisa para que as pessoas, as comunidades e os projetos se tornem cada vez mais vitalizados e caminhem, cada vez mais, rumo a seu potencial? De um ponto de vista ético, o primeiro lugar para esta questão parece ser a própria vida do formador. Como afirma Bernard Honoré (1992HONORÉ, Bernard. Vers l’œuvre de Formation. L’ouverture à l’existence. Paris: l’Harmattan, 1992. ), peremptoriamente, formar para o acompanhamento das transformações exige zelar simultaneamente, pelo poder-ser e pelo dever cuidar, tanto dos formados como dos formadores, tanto dos que recebem cuidados como dos cuidadores.

Nossa experiência de acompanhamento dos processos de formação pela mediação do corpo sensível permite que nos reconheçamos como parte da linhagem de Filão de Alexandria, de quem fala Jean Yves Leloup (1999LELOUP, Jean-Yves. Prendre soin de l’être, Philon et les thérapeutes d’Alexandrie. Paris: Albin Michel , 1999. ) em seu livro intitulado Cuidar do Ser. Este texto revela a existência de uma antiga comunidade de cuidadores, que se caracterizava por sua hospitalidade e por sua atenção ao Ser em todas as suas dimensões: corpo, alma e mente. Dentro dessa perspectiva, acompanhar as pessoas nos processos de formação equivale a cuidar do Ser Vivo, do outro e de seu desejo. A exemplo de Filão, as profissões de acompanhamento, no contato com o corpo sensível, procuram criar condições para que o sujeito em formação possa encontrar caminhos de acesso para se harmonizar, simultaneamente, com o mundo e com seu desejo mais íntimo. Por isso, devemos criar condições de facilitação para que a pessoa possa se harmonizar com esta inteligência eco­-auto-organizada que conhece seu caminho. Na verdade, citado por André Paré (1993PARÉ, André. Présence en Éducation. Revue Intégration. Centre d’intégration de la personne de Québec, 1993. , p. 11), Aimé Hamann (1993) afirma com muita propriedade:

A Vida que existe no corpo não é anárquica, ela tem uma direção, sabe para onde vai, e é isso que ela tenta expressar quando lhe permitem emergir. [...] Em movimento, o corpo entra, então, em um processo organizado. À medida que avança nesse processo, o corpo propicia a si mesmo os meios de atingir o que existe de mais profundo em nosso ser, lá mesmo onde a vida se encontra arraigada em nós como uma imensa memória corporal; uma memória viva, não estática, uma memória organizada de todo o corpo, que organiza todo o corpo... É a humanidade inteira que existe em cada um de nós e que tenta ser e se realizar de uma forma específica, própria a cada indivíduo.

É assim que a ética desse acompanhamento nos exorta a cuidar da Vida que deseja existir nas pessoas singulares com as quais cruzamos em contextos e situações particulares que atravessamos.

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Notas

  • **
    Serge Lapointe é doutor em Psicologia, professor do Departamento de Psicossociologia e trabalho social da Universidade do Québec.
  • ***
    Jeanne-Marie Rugira é ruandesa de origem, Psicopedagoga, Professora Titular do Departamento de Ciências Humanas da Universidade de Québec, em Rimouski. Professora convidada na Universidade de Paris XIII e na UML de Lisboa. Professora Associada da Universidade de Sherbooke, membro do CERAP e pesquisadora do GRASPA.
  • 1
    O trabalho aqui evocado, sobre os níveis de profundidade, está disponível em português. A Senhora Josso (2008) codirigiu, igualmente, a edição de um volume em português no qual se podem encontrar informações pertinentes, referentes aos trabalhos de Danis Bois e de sua equipe de clínicos pesquisadores (consultar as referências no final do artigo).
  • 2
    O panteísmo é um sistema filosófico e metafisico segundo o qual Deus identifica-se com o mundo e com o universo. Para os panteístas, Deus existe em tudo, na própria natureza das coisas e dos seres humanos. Fala-se então de um Deus imanente e impessoal (contido na natureza de um ser), em oposição ao Deus pessoal e transcendente (exterior ao mundo) das grandes religiões monoteístas.
  • 3
    Período de profunda transformação ocorrida em poucos anos, no início da década de 1960. Ele foi marcado pela criação de um serviço público moderno, pela estatização das instituições outrora confiadas à Igreja, tais como a saúde e a educação, pela secularização da sociedade e por uma transformação das mentalidades.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2012

Histórico

  • Recebido
    01 Jul 2011
  • Aceito
    01 Nov 2011
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