Hemorragia subepitelial espontânea: lesão de Antopol-Goldman

Homem, 55 anos, admitido em serviço de emergência relatando dor aguda no flanco direito. O paciente também se queixava de epitaxe, sangramento gengival e hematúria ao longo dos últimos 3 dias. O exame físico demonstrou hematoma subcutâneo no abdome, com dor à palpação. Sete dias antes desses sintomas, sua dose diária de varfarina fora aumentada. O exame sanguíneo mostrou que a Razão Normalizada Internacional estava marcadamente elevada (3,6; o exame prévio, anterior ao aumento da dosagem, mostrou o índice de 2,2).

Foi solicitada tomografia computadorizada abdominal (Figura 1), que expôs hiperatenuação e espessamento circunferencial da parede do ureter direito na fase sem contraste, compatível com hematoma expansivo parietal.

Figura 1
Tomografia computadorizada abdominal no plano coronal. (A) imagem sem contraste mostra espessamento parietal circunferencial hiperatenuante em praticamente toda extensão do ureter direito com densificação da gordura adjacente; (B) imagem com contraste não demonstra realce adicional na parede do ureter. Esses achados são compatíveis com hematoma intramural. Deve-se enfatizar que, devido à hiperatenuação do hematoma subepitelial, tal achado pode ser confundido com realce difuso da parede ureteral quando a fase sem contraste não é realizada

A hemorragia subepitelial espontânea é uma causa rara de dor abdominal e hematúria(¹-³) e, normalmente, está associada à diátese hemorrágica, principalmente por terapia anticoagulante, como observado em nosso caso. Esse sangramento também é chamado de “lesão de Antopol-Goldman” após a primeira descrição dessa entidade. A tomografia computadorizada abdominal sem contraste é de grande ajuda para esse diagnóstico, já que demonstra a hiperatenuação espontânea(¹,⁴-⁶) da pelve renal e/ou parede ureteral. Esse achado pode dificultar o diferencial por imagem, caso só seja realizada a fase com contraste, de modo que a fase sem contraste é imprescindível para o diagnóstico.

Tanto os urologistas quanto os radiologistas devem reconhecer esse achado benigno, já que ele pode simular uma neoplasia urotelial, levando à nefrectomia desnecessária em até 30% dos casos, segundo sua primeira descrição.(³) Os radiologistas de emergência devem manter um alto grau de suspeita, principalmente em pacientes utilizando anticoagulantes, considerando que esse diagnóstico é raramente lembrado antes de exame de imagem.(¹-⁶) Em geral, a hemorragia subepitelial espontânea é resolvida de forma natural após a interrupção do uso de anticoagulantes, e sua associação à hidronefrose e a obstrução urinária são raras.(¹)

REFERENCES

• ¹
  Gayer G, Desser TS, Hertz M, Osadchy A, Daniel BL, Zissin R. Spontaneous suburothelial hemorrhage in coagulopathic patients: CT diagnosis. AJR Am J Roentgenol. 2011;197(5):W887-90.
• ²
  Eccher A, Brunelli M, Gobbo S, Ghimenton C, Grosso G, Iannucci A, et al. Subepithelial pelvic hematoma (Antopol--Goldman lesion) simulating renal neoplasm: report of a case and review of the literature. Int J Surg Pathol. 2009;17(3):264-7. Review.
• ³
  Antopol W, Goldman L. Subepithelial hemorrhage of renal pelvis simulating neoplasm. Urol Cutaneous Rev. 1948;52(4):189-95.
• ⁴
  Kossol JM, Patel SK. Suburothelial hemorrhage: the value of preinfusion computed tomography. J Comput Assist Tomogr. 1986;10(1):157-8.
• ⁵
  Phinney A, Hanson J, Talner LB. Diagnosis of renal pelvis subepithelial hemorrhage using unenhanced helical CT. AJR Am J Roentgenol. 2000; 174(4):1023-4.
• ⁶
  Danaci M, Kesici GE, Kesici H, Polat C, Belet U. Coumadin-induced renal and retroperitoneal hemorrhage. Ren Fail. 2006;28(2):129-32.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  01 Fev 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  6 Maio 2020
• Aceito
  29 Out 2020