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Você trabalha doente?

Caro Editor,

Profissionais de saúde doentes podem contribuir para a transmissão de doenças semelhantes à gripe a pacientes suscetíveis enquanto prestam assistência.(11. Tartari E, Saris K, Kenters N, Marimuthu K, Widmer A, Collignon P, Cheng VC, Wong SC, Gottlieb T, Tambyah PA, Perencevich E, Allegranzi B, Dramowski A, Edmond MB, Voss A; International Society of Antimicrobial Chemotherapy Infection and Prevention Control (ISAC-IPC) Working Group. Not sick enough to worry? “Influenza-like” symptoms and work-related behavior among healthcare workers and other professionals: Results of a global survey. PLoS One. 2020;15(5):e0232168.) Um profissional sintomático pode transmitir patógenos diretamente para outros e contaminar superfícies compartilhadas por meio do toque, tosse e espirros sem a devida proteção.(11. Tartari E, Saris K, Kenters N, Marimuthu K, Widmer A, Collignon P, Cheng VC, Wong SC, Gottlieb T, Tambyah PA, Perencevich E, Allegranzi B, Dramowski A, Edmond MB, Voss A; International Society of Antimicrobial Chemotherapy Infection and Prevention Control (ISAC-IPC) Working Group. Not sick enough to worry? “Influenza-like” symptoms and work-related behavior among healthcare workers and other professionals: Results of a global survey. PLoS One. 2020;15(5):e0232168.,22. Szymczak JE, Smathers S, Hoegg C, Klieger S, Coffin SE, Sammons JS. Reasons why physicians and advanced practice clinicians work while sick: a mixed-methods analysis. JAMA Pediatr. 2015;169(9):815-21.) Pouca atenção tem sido direcionada à compreensão e à prevenção da transmissão de patógenos de profissionais de saúde para pacientes.(22. Szymczak JE, Smathers S, Hoegg C, Klieger S, Coffin SE, Sammons JS. Reasons why physicians and advanced practice clinicians work while sick: a mixed-methods analysis. JAMA Pediatr. 2015;169(9):815-21.)

Estudo publicado em 2017 no American Journal of Infection Control sugere que os profissionais de saúde devem ficar em casa quando doentes, entretanto cerca de quatro em cada dez profissionais da saúde nos Estados Unidos trabalham enquanto estão doentes.(33. Chiu S, Black CL, Yue X, Greby SM, Laney AS, Campbell AP, et al. Working with influenza-like illness: presenteeism among US health care personnel during the 2014-2015 influenza season. Am J Infect Control. 2017;45(11):1254-8.) Esse estudo, realizado por meio de uma pesquisa on-line nacional, coletou dados de 1.914 profissionais de saúde durante a temporada de gripe no período entre 2014 e 2015. Os entrevistados relataram sintomas de gripe, definidos como a combinação de febre e tosse ou dor de garganta, e listaram os fatores que os levaram a não se ausentar do trabalho, de acordo com os principais resultados a seguir:

  • Dos 1.914 profissionais de saúde pesquisados, 414 relataram sintomas de gripe. Destes, 183 (41,4%) relataram trabalhar por um período médio de 3 dias enquanto experimentavam esses sintomas.

  • Os profissionais de saúde que desenvolvem suas atividades em hospitais tiveram a maior frequência de trabalho com sintomas de gripe (49,3%), em comparação com outros profissionais. Dentre eles, os mais propensos a trabalhar com gripe foram farmacêuticos (67,2%) e médicos (63,2%). Os enfermeiros apresentaram a frequência de 37,9% e outros profissionais de saúde de 32,1%.

  • Os motivos mais comuns para os profissionais de saúde optarem em não se ausentar do trabalho incluíram o sentimento de que eles ainda poderiam realizar suas tarefas laborais, não apresentando esgotamento suficiente para permanecer em casa, a sensação de que não seriam veículos de transmissão para outras pessoas, o sentimento de dever profissional de estar presente no posto de trabalho para não comprometer e sobrecarregar os colegas e a dificuldade em encontrar um colega de trabalho para cobri-lo.

Em estudo anterior, ficou evidenciado que, em ambientes hospitalares, os pacientes internados expostos a pelo menos um profissional de saúde contaminado tiveram acima de cinco vezes mais chances de desenvolver gripe adquirida em hospital do que pacientes internados sem essa exposição.(44. Vanhems P, Voirin N, Roche S, Escuret V, Regis C, Gorain C, et al. Risk of influenza-like illness in an acute health care setting during community influenza epidemics in 2004-2005, 2005-2006, and 2006-2007: a prospective study. Arch Intern Med. 2011;171(2):151-7.)

A saúde e o bem-estar dos pacientes estão em risco quando os profissionais de saúde contaminados optarem por não ficar em casa. Estratégias devem ser implementadas por instituições de saúde, incluindo a atualização das políticas de licença médica e educação para os profissionais de saúde realizarem escolhas saudáveis não apenas para si, mas também para seus colegas de trabalho e pacientes.(33. Chiu S, Black CL, Yue X, Greby SM, Laney AS, Campbell AP, et al. Working with influenza-like illness: presenteeism among US health care personnel during the 2014-2015 influenza season. Am J Infect Control. 2017;45(11):1254-8.)

Em tempos de pandemia pela doença pelo coronavírus 2019 (COVID-19), que pegou o mundo de surpresa e trouxe impacto na vida dos indivíduos em âmbito global, chamando a atenção pelo alcance que teve e pela velocidade com que se disseminou, surge a necessidade de atenção especial para a transmissão de doenças respiratórias entre profissionais de saúde e pacientes.(55. Almeida BA, Doneda D, Ichihara MY, Barral-Netto M, Matta GC, Rabelo ET, et al. Personal data usage and privacy considerations in the COVID-19 global pandemic. Cienc Saude Colet. 2020;25(Suppl 1):2487-92.)A transmissão de patógenos pelos profissionais de saúde representa um grande risco à saúde pública.(11. Tartari E, Saris K, Kenters N, Marimuthu K, Widmer A, Collignon P, Cheng VC, Wong SC, Gottlieb T, Tambyah PA, Perencevich E, Allegranzi B, Dramowski A, Edmond MB, Voss A; International Society of Antimicrobial Chemotherapy Infection and Prevention Control (ISAC-IPC) Working Group. Not sick enough to worry? “Influenza-like” symptoms and work-related behavior among healthcare workers and other professionals: Results of a global survey. PLoS One. 2020;15(5):e0232168.,33. Chiu S, Black CL, Yue X, Greby SM, Laney AS, Campbell AP, et al. Working with influenza-like illness: presenteeism among US health care personnel during the 2014-2015 influenza season. Am J Infect Control. 2017;45(11):1254-8.) Será que agora vamos direcionar nossos olhares para essa questão? Isso, aliás, no contexto atual, faz-se absolutamente urgente!

Encerramos este breve texto, mas o debate, cuja complexidade reconhecemos, deve continuar. A nosso ver, são pontos importantes para entender que, neste ano de 2020 do “avesso”, devemos priorizar essa discussão no meio acadêmico e assistencial, para garantir uma assistência segura. Fique em casa se estiver doente, profissional de saúde!

REFERENCES

  • 1
    Tartari E, Saris K, Kenters N, Marimuthu K, Widmer A, Collignon P, Cheng VC, Wong SC, Gottlieb T, Tambyah PA, Perencevich E, Allegranzi B, Dramowski A, Edmond MB, Voss A; International Society of Antimicrobial Chemotherapy Infection and Prevention Control (ISAC-IPC) Working Group. Not sick enough to worry? “Influenza-like” symptoms and work-related behavior among healthcare workers and other professionals: Results of a global survey. PLoS One. 2020;15(5):e0232168.
  • 2
    Szymczak JE, Smathers S, Hoegg C, Klieger S, Coffin SE, Sammons JS. Reasons why physicians and advanced practice clinicians work while sick: a mixed-methods analysis. JAMA Pediatr. 2015;169(9):815-21.
  • 3
    Chiu S, Black CL, Yue X, Greby SM, Laney AS, Campbell AP, et al. Working with influenza-like illness: presenteeism among US health care personnel during the 2014-2015 influenza season. Am J Infect Control. 2017;45(11):1254-8.
  • 4
    Vanhems P, Voirin N, Roche S, Escuret V, Regis C, Gorain C, et al. Risk of influenza-like illness in an acute health care setting during community influenza epidemics in 2004-2005, 2005-2006, and 2006-2007: a prospective study. Arch Intern Med. 2011;171(2):151-7.
  • 5
    Almeida BA, Doneda D, Ichihara MY, Barral-Netto M, Matta GC, Rabelo ET, et al. Personal data usage and privacy considerations in the COVID-19 global pandemic. Cienc Saude Colet. 2020;25(Suppl 1):2487-92.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Mar 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    30 Ago 2020
  • Aceito
    29 Out 2020
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