Resumos
Objetivo
Avaliar a autoestima e a autoimagem de pacientes com doenças respiratórias de um Programa de Reabilitação Pulmonar, que participaram de atividades de socialização e de treinamento físico e de pacientes que participaram apenas de treinamentos físicos.
Métodos
Estudo exploratório descritivo e transversal. Foram analisados 60 pacientes, todos inclusos em um Programa de Reabilitação Pulmonar. Destes, 42 participaram de pelo menos uma das atividades propostas, 10 não participaram das atividades e 8 foram excluídos (7 tiveram alta e 1 faleceu), não respondendo ao questionário de autoimagem e autoestima.
Resultados
Quando comparados os dois grupos, apesar de ambos terem apresentado autoestima e autoimagem baixas, a diferença entre eles foi significativa (p<0,05) com relação à autoestima: aqueles que participaram de atividades de socialização propostas pela equipe tiveram autoestima melhor que a dos sujeitos que participam apenas do treinamento físico. Já quanto à autoimagem, a diferença entre os grupos não foi significativa (p>0,05).
Conclusão
Os pacientes do Programa de Reabilitação Pulmonar avaliados apresentaram baixas autoestima e autoimagem, porém aqueles que realizaram alguma atividade de socialização proposta tiveram a autoestima maior comparada à dos que fizeram apenas o treinamento físico.
Pneumopatias/reabilitação; Autoimagem; Socialização; Idoso
Objective
To evaluate self-esteem and self-image of respiratory diseases patients in a Pulmonary Rehabilitation Program, who participated in socialization and physical fitness activities, and of patients who participated only in physical fitness sessions.
Methods
A descriptive cross-sectional exploratory study. Out of a total of 60 patients analyzed, all enrolled in the Pulmonary Rehabilitation Program, 42 participated in at least one of the proposed activities, 10 did not participate in any activity and 8 were excluded (7 were discharged and 1 died).
Results
When the two groups were compared, despite the fact that both demonstrated low self-esteem and self-image, the difference between them was relevant (p<0.05) regarding self-esteem, indicating that those who participated in the proposed socialization activities had better self-esteem than the individuals who only did the physical fitness sessions. Regarding self-image, the difference between the groups was not relevant (p>0.05).
Conclusion
The Pulmonary Rehabilitation Program patients evaluated presented low self-esteem and self-image; however, those carrying out some socialization activity proposed had better self-esteem as compared to the individuals who did only the physical fitness sessions.
Lung diseases/rehabilitation; Self concept; Socialization; Aged
INTRODUÇÃO
As doenças respiratórias crônicas (DRC) são patologias tanto das vias aéreas superiores como das inferiores. A asma e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) são as mais comuns e representam um dos maiores problemas de saúde mundialmente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Banco Mundial estimam que 4 milhões de indivíduos com DRC possam ter morrido prematuramente em 2005.(11 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Cadernos de Atenção Básica. Doenças respiratórias crônicas. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2010.)
Essas patologias trazem como consequência alterações da função pulmonar, dispneia e disfunção dos músculos esqueléticos periféricos. Tais fatores levam à intolerância ao exercício e à piora progressiva do condicionamento físico, chegando a limitar as Atividades de Vida Diária (AVDs). A incapacidade física, a perda de produtividade e a piora da qualidade de vida agravam-se substancialmente com a progressão da doença, o que pode causar isolamento social, ansiedade, depressão e dependência, que estão muitas vezes associados à perda da autoestima. Além disso, esses pacientes frequentemente apresentam alterações no peso e na composição corporal, fatores que também podem contribuir para sua limitação física e de autoimagem.(22 Zanchet RC, Viegas CA, Lima T. A eficácia da reabilitação pulmonar na capacidade de exercício, força da musculatura inspiratória e qualidade de vida de portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica. J Bras Pneumol. 2005;31(2):118-24.)
Um dos tratamentos para as DRC é o Programa de Reabilitação Pulmonar (PRP), que
foi definido pela American Thoracic Society (ATS) e pela
European Respiratory Society (ERS) como uma abrangente
intervenção multidisciplinar baseada em evidências para pacientes sintomáticos
com DRC e cujas AVDs comumente foram reduzidas.(33 Nici L, Donner C, Wounters E, Zuwallack R, Ambrosino N, Bourbeau J,
et al. American Thoracic Society/European Respiratory Society Statement on
Pulmonary Rehabilitation. Am J Respir Crit Care Med.
2006;173(12):1390-413.) Os objetivos do PRP são: controlar
os sintomas, e melhorar a habilidade de realizar as atividades cotidianas, o
desempenho nos exercícios e a qualidade de vida.(44 Global Strategy for the Diagnosis, Management, and Prevention of
Chronic Obstructive Pulmonary Disease, 2011 [Internet]. [citado 2015 Fev 26].
Disponível em:
<http://www.goldcopd.org/uploads/users/files/GOLD_Report_2011_Feb21.pdf.>
http://www.goldcopd.org/uploads/users/fi...
5 Rabe KF, Hurd S, Anzueto A, Barnes PJ, Buist SA, Calverley P,
Fukuchi Y, Jenkins C, Rodriguez-Roisin R, van Weel C, Zielinski J; Global
Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease. Global strategy for the
diagnosis, management, and prevention of chronic obstructive pulmonary disease:
GOLD executive summary. Am J Respir Crit Care Med. 2007;176(6):532-55.
Review.-66 Troosters T, Casaburi R, Gosselink R, Decramer M. Pulmonary
rehabilitation in chronic obstructive pulmonary disease. Am J Respir Crit Care
Med. 2005;172(1):19-38. Review.)
No geral, os PRPs envolvem protocolos de treinamento físico,(77 Maia EC, Pinheiro NA, Silva SC, Barreto Filho FS, Navarro F, Oliveira Junior MR. Protocolos clínicos de reabilitação pulmonar em pacientes com DPOC. Saúde Rev. 2012;12(32):55-67.) porém atividades de socialização (AS) podem fazer parte complementar do PRP. Essas atividades atuam como forma de dizer da condição humana, promovendo trocas sociais e rompendo com o isolamento e as invalidações dos sujeitos, auxiliando no cuidado do cotidiano, permitindo aos sujeitos agirem sobre seu próprio meio, e fornecendo experiências e vivencias.(88 Castro ED, Lima EM, Brunello MI. Atividades humanas e terapia ocupacional. In: de Carlo MM, Bartolotti CC. Terapia ocupacional no Brasil. Fundamentos e perspectivas. São Paulo: Plexus; 2001. p. 41-59.)
No PRP da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), algumas AS foram propostas, além do treinamento físico. Entre elas, palestras educativas relacionadas às DRC, coral, passeio à praia com atividades dirigidas como surf e caminhada, oficina de reciclagem e festas culturais (junina e confraternização de fim de ano, por exemplo).
Essas AS fazem parte de um projeto denominado “Superação”, que visa ao
enfrentamento de situações não tão habituais aos pacientes, mas que
potencializam sua autoconfiança, autoimagem e autoestima. Nelas, foram
identificados hábitos e valores característicos, que os ajudam no
desenvolvimento de sua personalidade e na integração de seu grupo, tornando-os
sociáveis − hábitos estes que não são inatos, “em estado de isolamento social, o
indivíduo não é capaz de desenvolver um comportamento humano, pois este deve ser
aprendido ao longo de suas interações com os grupos sociais”,(99 Silva AO, Batalha EC, Pinto TM, Silva CF, Pereira JR, Nascimento VL,
et al. Estratégias de socialização: a forma mais eficaz para a integração entre
indivíduo e organização. Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia
[Internet]. Rio de Janeiro, Brasil [citado 2014 Jul]. Disponível em:
http://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos08/584_Estrategias%20de%20Socializacao.pdf
http://www.aedb.br/seget/arquivos/artigo...
) e ampliando o
engajamento do paciente frente ao programa/processo de reabilitação. A
literatura confirma a melhora na autoestima, na qualidade de vida e dos
componentes emocionais da condição de saúde, além da redução da ansiedade e da
depressão após um PRP.(1010 British Thoracic Society Standards of Care Subcommittee on Pulmonary
Rehabilitation. Pulmonary rehabilitation. BTS Statement. Thorax. 2001;56(11):
827-34. Review.,1111 Neder JA, Nery LE, Filha SP, Ferreira IM, Jardim JR. Reabilitação
pulmonar: fatores relacionados ao ganho aeróbio de pacientes com DPOC. J Bras
Pneumol. 1997;23(3):115-23.)
A autoestima é definida como o grupo de atitudes que uma pessoa tem sobre si
mesma, incluindo a avaliação subjetiva que faz de si e a maneira de ser, segundo
a qual o indivíduo tem ideias positivas ou negativas sobre si mesmo. A
autoimagem surge na interação com seu meio social, consequência do
estabelecimento das relações com os demais e consigo mesmo, sendo composta por
uma organização que a pessoa faz de si, com uma parte mais real e outra mais
subjetiva. Ambas, autoestima e autoimagem, sugerem interinfluências constantes
que nos levam a nos entender e a entender os outros, de modo mais real possível
é na alteridade que se realiza o ato da vida.(1010 British Thoracic Society Standards of Care Subcommittee on Pulmonary
Rehabilitation. Pulmonary rehabilitation. BTS Statement. Thorax. 2001;56(11):
827-34. Review.,1212 Dini GM, Quaresma MR, Ferreira lM. Adaptação cultural e validação da
versão brasileira da escala de auto-estima de Rosenberg. Rev Soc Bras Cir Plást.
2004;19(1):41-52.
13 Lima EM, Okuma DG, Pastore MN. Atividade, ocupação, fazer e ação: a
discussão dos termos e dos campos das atividades humanas na Terapia Ocupacional
brasileira. Cad Ter Ocup. 2013;21(2):243-54.-1414 Mosquera JJ, Stoubäss CD. Auto-imagem, auto-estima e
auto-realização: qualidade de vida na universidade. Psicologia, Saúde e Doenças.
2006;7(1):83-8.)
Esta pesquisa visou avaliar os efeitos que as AS junto ao PRP têm sobre os sujeitos atendidos. Não foram encontrados na literatura estudos dos efeitos dessas AS sobre autoestima e autoimagem de pacientes em PRP.
OBJETIVO
Avaliar a autoestima e a autoimagem de pacientes com doenças respiratórias de um Programa de Reabilitação Pulmonar, que participaram de atividades de socialização e de treinamento físico e de pacientes que participaram apenas de treinamentos físicos.
MÉTODOS
Estudo transversal com amostra de 52 pacientes selecionados por conveniência no mês de junho e julho de 2014, do Ambulatório de Reabilitação Pulmonar da FMABC. Foram critérios de inclusão no estudo ser pneumopata crônico; estar em tratamento no período de aplicação do questionário; e concordar em participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Estar de alta do programa no período deste estudo, mesmo que tenha participado das AS propostas, foi critério de exclusão.
Para a identificação dos sujeitos da pesquisa, foi elaborada uma entrevista estruturada, que identificou a participação ou não nas AS, e que apurou a percepção dos sujeitos relacionando as AS com sua autoestima.
Para avaliar a autoimagem e a autoestima, foi utilizado o questionário de
Steglich(1515 Steglich LA. Terceira idade, aposentadoria, autoimagem e autoestima
[dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
1978.) composto por 78 questões, adaptado por
Safons,(1616 Safons MP. Contribuições da atividade física para a melhoria da
auto-imagem e auto-estima de idosos. Rev Digital [Internet]. 2000 [citado 2014
Out ];5(22): [cerca de 4 telas]. Disponível em:
www.efdeportes.com/efd22/idosos.htm
www.efdeportes.com/efd22/idosos.htm...
) que organizou dois questionários compostos
por 15 questões cada, sendo um relativo à autoimagem e outro à autoestima,
utilizando a metodologia por tendência. Os itens de 1 a 15 do questionário 1
dizem respeito à autoimagem, e os itens de 1 a 15 do questionário 2, à
autoestima. Dessa forma, para avaliar as variáveis autoestima e autoimagem como
alta ou baixa, foi estabelecido um ponto de corte seguindo essa classificação: a
autoestima baixa somou de 15 a 59 pontos; autoestima alta, de 60 a 75 pontos;
autoimagem baixa, de 15 a 59 pontos; e autoimagem alta, de 60 a 75 pontos.
Os selecionados responderam as entrevistas e os questionários de autoimagem e autoestima individualmente em consultório durante o período do PRP. Cada AS foi desenvolvida de uma a duas vezes por ano, de 2012 a 2014.
Todos os pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da FMABC, CAAE: 31586114.2.0000.0082, em 25 de junho de 2014.
Após aplicação dos questionários, todos os dados obtidos foram organizados na planilha eletrônica do Excel for Windows 2010. Foram calculadas as estatísticas descritivas, média e desvio padrão para as variáveis idades e de participação nas AS.
Para a análise estatística, foi utilizado o software GraphPad Prism 5 for Windows. Para a análise da homogeneidade da amostra, utilizou-se o teste U de Mann-Whitney. O teste t de Student foi utilizado para avaliar a resposta dos pacientes aos questionários de autoestima, comparando-os. Para aqueles resultados em que a distribuição não era normal, foi utilizado o teste de Mann-Whitney. O nível de significância utilizado para os testes foi de p<0,05.
RESULTADOS
O perfil clínico e sociodemográfico dos 52 pacientes (30 homens e 22 mulheres) está detalhado na tabela 1.
O primeiro grupo realizou AS, participando de palestras educativas relacionadas às DRC, coral, passeio à praia com atividades dirigidas como surf e caminhada, oficina de reciclagem e festas culturais (junina e confraternização de fim de ano). Na comparação dos questionários (Tabelas 2 e 3), os resultados obtidos da amostra geral da autoestima e da autoimagem foram baixos, com média 54,94±9,12 pontos. A tabela 2 descreve separadamente os grupos quanto à autoestima e a tabela 3, quanto à autoimagem.
Quando comparados os dois grupos, apesar de ambos terem apresentado autoestima e autoimagem baixas, a diferença entre eles foi significativa com relação à autoestima, o que indicou que aqueles que participaram de alguma das AS propostas pela equipe tinham autoestima melhor que os sujeitos que participaram apenas do treinamento físico. Quanto à autoimagem, a diferença entre os grupos não foi significativa.
A distribuição de participação nas AS no PRP dos 42 pacientes está descrita na tabela 4. Quando questionados em entrevista sobre a contribuição destas AS à autoestima, 40 (95,24%) pacientes, dos 42 que participaram das atividades além do treinamento físico, afirmaram que houve contribuição e apenas 2 (4,76%) disseram que não houve. Destes 40 pacientes, 25 comentaram suas respostas, sendo que 15 pacientes afirmaram que o principal benefício foi o convívio com outros sujeitos, que melhorou sua participação social; os outros 10 relataram melhora de disposição e aprendizados.
Distribuição da participação nas atividades de socialização no Programa de Reabilitação Pulmonar
A distribuição de participação nas AS independente do PRP (Tabela 5) dos 52 pacientes foi a seguinte: dos 52 pacientes estudados, 32 (61,33%), no geral, não participaram de nenhuma dessas atividades fora do PRP e 20 (38,47%) participaram pelo menos de uma delas.
Tabela 5. Distribuição da participação nas atividades de socialização fora do Programa de Reabilitação Pulmonar
DISCUSSÃO
Nossos dados demonstraram melhora na autoestima dos pacientes que realizaram AS juntamente do treinamento físico do PRP, em comparação aos pacientes que não participaram das AS. Já a autoimagem não apresentou alteração na comparação dos grupos.
Nesta amostra, os participantes submetidos ao PRP apresentaram baixas autoestima
e autoimagem. A importância dessa verificação se deu pela existência de uma
carência de produções que abordem a temática proposta(1616 Safons MP. Contribuições da atividade física para a melhoria da
auto-imagem e auto-estima de idosos. Rev Digital [Internet]. 2000 [citado 2014
Out ];5(22): [cerca de 4 telas]. Disponível em:
www.efdeportes.com/efd22/idosos.htm
www.efdeportes.com/efd22/idosos.htm...
) e pelo fato de
uma autoestima elevada indicar que os sujeitos se consideram pessoas de valor,
respeitando-se por aquilo que são, e não se sentindo, necessariamente,
superiores aos outros. Por outro lado, a baixa autoestima demonstra
desvalorização, insatisfação e falta de respeito por si mesmo. A avaliação do
autoconceito é parte integrante da autoestima. Enquanto o autoconceito constitui
as diferentes percepções que os indivíduos apresentam sobre suas características
pessoais, a autoestima se caracteriza pela avaliação positiva ou negativa que as
pessoas fazem dessas mesmas qualidades.(1717 Mendes AR, Dohms KP, Lettinin C, Zacharias J, Mosquera JJ, Stobäus
CD. Autoimagem, autoestima e autoconceito: contribuições pessoais e
profissionais na docência [Internet]. In: IX ANPEDSUL Seminário de Pesquisa em
Educação da Região Sul 2012. [citado 2014 Jun 18]. Disponível em:
http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/724/374
http://www.ucs.br/etc/conferencias/index...
,1818 Santos PJ, Maia J. Análise factorial confirmatória e validação
preliminar de uma versão portuguesa da escala de auto-estima de Rosenberg.
Psicologia: Teoria, Investigação e Prática. 2003;2:253-68.) Assim, percebe-se a relevância de
promover AS que possam trabalhar e contribuir para o paciente
ressignificar(1919 Gaspari JC, Schwartz GM. O idoso e a ressignificação emocional do
lazer. Psic Teor e Pesq Brasília. 2005;21(1):069-076.) essas autoimagem e autoestima.
No geral, nossas AS são práticas novas na atuação de tratamento para pneumopatas crônicos. Estudo realizado por Guedes et al.(2020 Guedes MA, Guedes HM, Almeida ME. Efeito da prática de trabalhos manuais sobre a autoimagem de idosos. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2011;14(4):731-42.) com população idosa evidenciou que os trabalhos manuais fortaleceram a autoimagem do idoso, por meio da concretização dos trabalhos, assim como a socialização, que minimiza eventuais impactos decorrentes do envelhecimento e até mesmo permite surgir habilidades artísticas e seu aprimoramento, concluindo que socialização é benéfica.
No presente estudo, mesmo com o resultado dos questionários demonstrando autoestima e autoimagem baixas, os pacientes relataram, na entrevista estruturada, que as AS contribuíram para a melhora da autoestima. Este estudo se baseou em uma única aplicação do questionário de autoimagem e autoestima, e seu resultado retratou como os pacientes estavam naquele momento. Já a entrevista possibilitou verificar, do ponto de vista do paciente, como ele se sentia com relação ao processo, como estava antes e no momento em que era entrevistado, deixando claro que, na percepção dos pacientes, as AS contribuíram para sua autoestima.
A entrevista estruturada sugeriu que a maioria da população estudada não realizou AS independente do PRP, porém a participação no PRP(1111 Neder JA, Nery LE, Filha SP, Ferreira IM, Jardim JR. Reabilitação pulmonar: fatores relacionados ao ganho aeróbio de pacientes com DPOC. J Bras Pneumol. 1997;23(3):115-23.) já favoreceu a inclusão social. Além da parte física, o PRP também influencia positivamente em morbidades psicossociais, como ansiedade, depressão, estilos de personalidade como introversão, sensibilidade, força, somatização e hostilidade.(2020 Guedes MA, Guedes HM, Almeida ME. Efeito da prática de trabalhos manuais sobre a autoimagem de idosos. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2011;14(4):731-42.)
Outro dado deste estudo foi que a amostra foi formada por uma população idosa.(2121 Güell R, Resquetti V, Sangenis M, Morante F, Martorell B, Casan P, et al. Impact of pulmonary rehabilitation on psychosocial morbidity in patients with severe COPD. Chest. 2006; 129(4):899-904. Erratum in: Chest. 2007;132(2):738.) A imagem corporal dos idosos ajusta-se gradualmente ao corpo, durante o processo de envelhecimento, porém pode sofrer alterações, devido aos comprometimentos patológicos ou a distúrbios da motivação, que podem afetar alterações no movimento. Neste estudo, confirmou-se a autoimagem baixa dos pneumopatas crônicos. Considera-se que pessoas idosas, por motivos diversos, não conseguem encontrar novas formas de conviver com essas transformações e acabam limitando suas possibilidades de comunicação e expressão, o que pode gerar algum tipo de alteração na forma como veem e sentem seu corpo, ou seja, em sua imagem corporal.(2222 Brasília (DF). Estatuto do idoso: Lei Federal no 10.741, de 1 de outubro de 2003. Secretaria Especial dos Direitos Humanos; 2004.,2323 Balestra CM. A imagem corporal de idosos praticantes e não praticantes de atividades físicas [dissertação]. Campinas (SP): Universidade Estadual de Campinas; 2002.)
Estudos revelaram que, na velhice, há tendência à modificação da autoimagem, tornando-a menos positiva, e motivo dessa mudança é ainda ignorado.(2424 Monteiro PP, editor. Envelhecer – Histórias Encontros Transformações. Belo Horizonte: Autêntica; 2001.) As modificações estão interligadas, sendo dependentes uma da outra e variam de acordo com o sexo, refletindo os papéis sociais ocupados pelo indivíduo.(2525 Fraquelli AA. Relação entre auto-estima, auto-imagem e qualidade de vida em idosos participantes de uma oficina de inclusão digital. [dissertação]. Porto Alegre (RS): Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; 2008.) Esta pesquisa não se ateve aos sexos, e sim aos fatores patológicos e da idade.
Foram considerados aspectos limitantes ao estudo: AS pontuais (ocorreram em média
de uma ou duas vezes no ano); idade média de idosos que independente das doenças
pulmonares geralmente apresenta autoestima baixa;(2424 Monteiro PP, editor. Envelhecer – Histórias Encontros
Transformações. Belo Horizonte: Autêntica; 2001.) o número de
pacientes que não participaram das AS foi menor em relação ao que participou
(para o programa isso é positivo, pois demonstra que a maioria aderiu às AS); o
instrumento utilizado foi o questionário de autoimagem e autoestima, adaptado
por Safons, a partir da versão desenvolvida por Luiz Alberto Steglich em
1978.(1515 Steglich LA. Terceira idade, aposentadoria, autoimagem e autoestima
[dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
1978.,1616 Safons MP. Contribuições da atividade física para a melhoria da
auto-imagem e auto-estima de idosos. Rev Digital [Internet]. 2000 [citado 2014
Out ];5(22): [cerca de 4 telas]. Disponível em:
www.efdeportes.com/efd22/idosos.htm
www.efdeportes.com/efd22/idosos.htm...
)
CONCLUSÃO
Pacientes avaliados do Programa de Reabilitação Pulmonar apresentaram baixas autoestima e autoimagem, porém aqueles que realizaram alguma atividade de socialização tiveram a autoestima maior comparados àqueles que fizeram apenas o treinamento físico.
REFERENCES
-
1Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Cadernos de Atenção Básica. Doenças respiratórias crônicas. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2010.
-
2Zanchet RC, Viegas CA, Lima T. A eficácia da reabilitação pulmonar na capacidade de exercício, força da musculatura inspiratória e qualidade de vida de portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica. J Bras Pneumol. 2005;31(2):118-24.
-
3Nici L, Donner C, Wounters E, Zuwallack R, Ambrosino N, Bourbeau J, et al. American Thoracic Society/European Respiratory Society Statement on Pulmonary Rehabilitation. Am J Respir Crit Care Med. 2006;173(12):1390-413.
-
4Global Strategy for the Diagnosis, Management, and Prevention of Chronic Obstructive Pulmonary Disease, 2011 [Internet]. [citado 2015 Fev 26]. Disponível em: <http://www.goldcopd.org/uploads/users/files/GOLD_Report_2011_Feb21.pdf.>
» http://www.goldcopd.org/uploads/users/files/GOLD_Report_2011_Feb21.pdf. -
5Rabe KF, Hurd S, Anzueto A, Barnes PJ, Buist SA, Calverley P, Fukuchi Y, Jenkins C, Rodriguez-Roisin R, van Weel C, Zielinski J; Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease. Global strategy for the diagnosis, management, and prevention of chronic obstructive pulmonary disease: GOLD executive summary. Am J Respir Crit Care Med. 2007;176(6):532-55. Review.
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6Troosters T, Casaburi R, Gosselink R, Decramer M. Pulmonary rehabilitation in chronic obstructive pulmonary disease. Am J Respir Crit Care Med. 2005;172(1):19-38. Review.
-
7Maia EC, Pinheiro NA, Silva SC, Barreto Filho FS, Navarro F, Oliveira Junior MR. Protocolos clínicos de reabilitação pulmonar em pacientes com DPOC. Saúde Rev. 2012;12(32):55-67.
-
8Castro ED, Lima EM, Brunello MI. Atividades humanas e terapia ocupacional. In: de Carlo MM, Bartolotti CC. Terapia ocupacional no Brasil. Fundamentos e perspectivas. São Paulo: Plexus; 2001. p. 41-59.
-
9Silva AO, Batalha EC, Pinto TM, Silva CF, Pereira JR, Nascimento VL, et al. Estratégias de socialização: a forma mais eficaz para a integração entre indivíduo e organização. Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia [Internet]. Rio de Janeiro, Brasil [citado 2014 Jul]. Disponível em: http://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos08/584_Estrategias%20de%20Socializacao.pdf
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13Lima EM, Okuma DG, Pastore MN. Atividade, ocupação, fazer e ação: a discussão dos termos e dos campos das atividades humanas na Terapia Ocupacional brasileira. Cad Ter Ocup. 2013;21(2):243-54.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Jan-Mar 2015
Histórico
-
Recebido
30 Jun 2014 -
Aceito
6 Fev 2015