Infecção emergente por Zika vírus e considerações bioéticas

Comentário para: Reflexões bioéticas em tempos de Zika vírus. Einstein (Sao Paulo). 2016;14(2):13-8

Caro Editor,

O recente artigo “Bioethical considerations at times of Zika virus”(¹) é muito interessante. Como uma nova doença emergente, sem dúvida não há informações claras a seu respeito e nem sobre os exames diagnósticos. As opções terapêuticas ou medidas preventivas podem ser consideradas como riscos, levantando questões éticas. De fato, é difícil gerenciar a situação em qualquer nova infecção emergente. O uso de tratamento não comprovado, como drogas e vacinas, é algumas vezes necessário para atender as demandas de um surto de evolução rápida.(²) O recente caso do surto de Ebola é um bom exemplo de uma lição aprendida.(³) Porém, como muitos pacientes infectados com Zika vírus são casos leves e assintomáticos,(⁴) o uso de novas terapias não comprovadas deve ser cuidadosamente avaliado. As gestantes devem ser o grande desafio, e a conduta, nestes casos, é, em geral, um desafio ético.(⁵) A próxima questão a discutir deve ser indução de aborto. Isso pode ser um dilema ético e uma grande preocupação, em termos de religiões. Existem ainda outras questões éticas relacionadas à nova infecção e que não são frequentemente mencionadas. Uma grande preocupação é a transparência para apresentar os dados para o público em geral. Em alguns países, os dados podem ser cegos para controlar o pânico da população local. Além disso, a equipe médica e os cientistas devem compartilhar dados.(⁶) Às vezes, os negócios médicos podem sobrepor a preocupação humanista na gestão de uma crise internacional de saúde. O altíssimo custo de uma droga desenvolvida recentemente é esperado, e deve-se pensar em como lidar com este futuro problema. Finalmente, não se deve esquecer o risco que as equipes médicas correm. Promover segurança no local de trabalho, inclusive com um bom controle de vetor no centro médico, deve ser um requisito básico, estabelecido por formuladores de políticas e administradores.

REFERENCES

• ¹
  Bueno MA, Grunspun H. Bioethical considerations at times of Zika virus. Einstein (Sao Paulo). 2016;14(2):13-8.
• ²
  Joffe S. Evaluating novel therapies during the Ebola epidemic. JAMA. 2014; 312(13):1299-300.
• ³
  Donovan GK. Ebola, epidemics, and ethics - what we have learned. Philos Ethics Humanit Med. 2014;9:15.
• ⁴
  Wiwanitkit S, Wiwanitkit V. Afebrile, asymptomatic and non-thrombocytopenic Zika virus infection: don't miss it! Asian Pac J Trop Med. 2016;9(5):513.
• ⁵
  Omer SB, Beigi RH. Pregnancy in the Time of Zika: addressing Barriers for Developing Vaccines and Other Measures for Pregnant Women. JAMA. 2016; 315(12):1227-8.
• ⁶
  Capua I. Data sharing: a code of conduct for data on epidemics. Nature. 2016; 534(7607):326.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  Jul-Sep 2016