Resumo
O artigo tematiza a literatura indígena brasileira produzida a partir da década de 1990, em especial nas obras de Kaká Werá Jecupé e de Eliane Potiguara, por meio da relação de violência histórica, migração forçada, ameaça de perda de identidade e luta política enquanto núcleo e mote dessa mesma literatura de autoria indígena. O argumento central a ser defendido está em que esses/as escritores/as são profundamente moldados/as e impactados/as pela violência simbólico-material a que foram submetidos/as em termos de nossa modernização conservadora, de modo que o medo da morte, a dor pela perda de seus territórios e pela negação de sua identidade cultural, a lembrança saudosista e melancólica da destruição de seu lar e dos seus, bem como a migração forçada, o não reconhecimento e a invisibilização sociais, a fome e a miséria vividas nas periferias da cidade, levam à construção de um relato autobiográfico, testemunhal e mnemônico da sua singularidade étnico-antropológica e da violência colonial que possui um sentido altamente político e politizante, profundamente carnal, pungente e vinculado. Desse modo, o que se pode concluir da leitura e do estudo da literatura indígena brasileira é exatamente esse sentido político que ela assume em termos de crítica social, resistência cultural, luta política e práxis pedagógica, uma literatura que sai da ficcionalidade e assume exatamente o papel de crítica, produzida pelas vítimas por si mesmas e desde si mesmas.
Palavras-chave:
literatura indígena brasileira; violência; migração; resistência