Resumos
Resumo: Estudo que objetiva analisar o lugar da Biblioteca Pública Benedito Leite na memória dos comerciantes informais do Complexo Deodoro, em São Luís, Maranhão. O estudo adotou abordagem qualitativa e quantitativa, com pesquisa bibliográfica, documental e de campo, envolvendo 25 comerciantes informais do Complexo Deodoro, selecionados por amostragem por acessibilidade, cujos dados foram coletados por formulário com 15 questões abertas e fechadas. Aborda memória, lugares de memória e suas interfaces com as bibliotecas públicas com base em autores como Rabello, Rabello e Almeida Júnior, Almeida Júnior, Nora e Halbwachs. Os resultados indicam que, embora a revitalização tenha promovido benefícios como a valorização da Biblioteca Pública Benedito Leite, ela também contribuiu para reforçar desigualdades socioespaciais. O deslocamento dos comerciantes informais reduziu o fluxo de pessoas na área, impactando os pequenos negócios e limitando o acesso de grupos economicamente desfavorecidos. Evidencia a relação entre memória e a condição de “não-usuário”, mostrando como práticas institucionais restritivas colaboram para o apagamento das vivências e lembranças desses grupos nos espaços públicos e nas narrativas sociais. Destaca a importância de práticas receptivas que promovam a inclusão e o protagonismo dos sujeitos historicamente silenciados, permitindo que suas experiências integrem a memória coletiva e contribuam para a construção da identidade do espaço. Advoga-se orientar ações práticas para integrar a Biblioteca Pública Benedito Leite aos comerciantes informais e à comunidade por meio de projetos participativos e políticas inclusivas, destacando a importância de fortalecer o papel das bibliotecas como espaços de pertencimento e valorização da diversidade, superando barreiras de acesso.
Palavras-chave:
Biblioteca Pública Benedito Leite; memória e lugares de memória; comerciantes informais; estudos de memória
Abstract: Study aimed at analyzing the role of the Benedito Leite Public Library in the memory of informal traders of the Deodoro Complex, in São Luís, Maranhão. The study adopted a qualitative and quantitative approach, with bibliographic, documentary, and field research, involving 25 informal traders of the Deodoro Complex, selected by convenience sampling, with data collected through a form with 15 open and closed questions. It addresses memory, places of memory, and their interfaces with public libraries based on authors such as Rabello, Rabello and Almeida Júnior, Almeida Júnior, Nora, and Halbwachs. The results indicate that, although the revitalization promoted benefits such as the appreciation of the Biblioteca Pública Benedito Leite, it also contributed to reinforcing socio-spatial inequalities. The displacement of informal traders reduced the flow of people in the area, impacting small businesses and limiting the access of economically disadvantaged groups. It highlights the relationship between memory and the condition of the “non-user,” showing how restrictive institutional practices contribute to the erasure of the experiences and memories of these groups in public spaces and social narratives. It emphasizes the importance of receptive practices that promote the inclusion and empowerment of historically silenced subjects, allowing their experiences to integrate collective memory and contribute to the construction of the identity of the space. It advocates for guiding practical actions to integrate the Biblioteca Pública Benedito Leite with informal traders and the community through participatory projects and inclusive policies, highlighting the importance of strengthening the role of libraries as spaces of belonging and valuing diversity, overcoming access barriers.
Keywords:
Benedito Leite Public Library; memory and places of memory; informal vendors; memory studies
1 Introdução
Como um ambiente de socialização de conhecimento, a biblioteca atua como uma rede de suporte, sendo caracterizada como um local de construção, conservação e propagação da memória social. E, enquanto instituição integrante do social, não está passível de ser caracterizada de forma peculiar por um determinado grupo de indivíduos. No contexto da biblioteca pública, sabe-se que esta não é somente um espaço de acumulação do conhecimento e/ou de memória, mas também apresenta em sua simbologia caracteres de tradição, da erudição, do saber e da cultura de um estado.
A Biblioteca Pública Benedito Leite (BPBL) consagrou-se ao longo da história como um importante espaço de leitura e cultura, bem como agrega uma função importante no que diz respeito ao patrimônio cultural, à identidade e à memória do Estado do Maranhão (Costa; Cutrim; Carvalho, 2018). Situada no Complexo Deodoro, um local de grande destaque nas atividades comerciais da capital, é uma figura marcante no cotidiano dos ludovicenses que por ali circulam diariamente.
Dada a relevância da BPBL como instituição social e espaço de desenvolvimento cultural, político e educacional, este estudo pretende compreender a percepção de comerciantes que ali exercem suas atividades cotidianas. Para isso, busca-se analisar o lugar que essa instituição ocupa na memória dos comerciantes informais do Complexo Deodoro, em São Luís (MA). Assim como aborda os seguintes objetivos específicos: (a) contextualizar a Biblioteca Pública Benedito Leite à luz da literatura sobre bibliotecas públicas, bem como caracterizar o Complexo Deodoro enquanto espaço de práticas culturais e memoriais; (b) constituir um entendimento acerca de memória e o que vem a ser os lugares de memória, no sentido de aplicar tais entendimentos na realidade da Biblioteca Pública Benedito Leite, e; (c) evidenciar os elementos e as práticas mnêmicas dos comerciantes informais do Complexo Deodoro em torno da Biblioteca Pública Benedito Leite em São Luís (MA), a partir de material empírico.
O estudo foi desenvolvido com um desenho metodológico de natureza básica, exploratória e descritiva, combinando métodos qualitativos para uma análise aprofundada das informações coletadas e quantitativos para a identificação de dados específicos, tais como o número de atividades educativas e os usuários investigados. A investigação incluiu uma revisão bibliográfica e documental, bem como uma pesquisa de campo com 25 comerciantes informais, utilizando formulários mistos para coletar dados. Os resultados foram analisados através da técnica de Análise de Conteúdo, categorizando aspectos como acesso, importância e infraestrutura da BPBL.
2 Referencial teórico
A biblioteca desempenha um papel fundamental na construção do conhecimento, sendo, em essência, um espaço que permite a interação e o diálogo com diversos campos do conhecimento. Trata-se de uma instituição que, dentre suas ações, atua no processo de mediação da cultura, de valores e de elementos simbólicos que constituem os sujeitos e suas comunidades.
A biblioteca não está somente ligada à prática da leitura, uma das características mais estereotipadas das bibliotecas, mas também surge quando os indivíduos perceberam a necessidade de organizar e proteger os registros criados por eles. A exigência de utilizar diversas vezes uma informação significativa pode ser vista como a ideia mais primitiva do surgimento da biblioteca (Milanesi, 2002).
Em termos de biblioteca pública, é importante salientar que o seu surgimento está relacionado à necessidade de mão-de-obra especializada e à demanda da sociedade pelo acesso à educação pública. Almeida Júnior (2013, p. 60) afirma que “[...] esse tipo de biblioteca não é uma reivindicação específica da sociedade, mas encontra-se no bojo de uma reivindicação maior, ou seja, como dissemos, o acesso da população ao ensino público.” Acrescenta ainda, que apesar disso, ela surge nos Estados Unidos e na Inglaterra com suas características essenciais: totalmente financiada pelo Estado e com seu público potencial abrangendo toda a sociedade (Almeida Júnior, 2013).
No Brasil, segundo Suaiden (2000), pode-se afirmar que, em aproximadamente 1811, Pedro Gomes Ferrão de Castello Branco encaminhou um projeto ao governador da Capitania da Bahia, solicitando a aprovação do plano para a fundação da Biblioteca. Relata-se que “Esse documento que é historicamente o primeiro projeto elaborado no Brasil com o objetivo de facilitar o acesso ao livro” (Suaiden, 2000, p. 1).
Conforme a Federação Internacional de Associações de Bibliotecários e Bibliotecas (IFLA) (2022), a biblioteca pública é um espaço essencialmente voltado para a comunidade, com serviços e materiais específicos que devem estar sempre disponíveis aos usuários, em quaisquer circunstâncias. É primordial que esses serviços sejam gratuitos, pois a instituição é de responsabilidade das autoridades locais e estatais, sendo financiada por governos nacionais e locais.
O fato de serem vinculadas ao Estado faz com que as bibliotecas públicas, no Brasil, enfrentem a falta de investimentos, resultando em acervos desatualizados, infraestrutura inadequada e redução ou interrupção de serviços essenciais. Essa precariedade compromete o acesso à informação e à cultura, especialmente para grupos socialmente vulneráveis, como os comerciantes informais, que muitas vezes têm nesses espaços sua principal ou única fonte de acesso ao conhecimento (Rocha; Oliveira, 2020).
A situação se agrava com a predominância de políticas de governo, de caráter temporário e ligadas a mandatos, em vez de políticas de Estado, que garantiriam continuidade e estrutura para as bibliotecas públicas. A constante troca de gestores nas esferas federal, estadual e municipal, somada à escassez de profissionais qualificados, compromete ainda mais o funcionamento das bibliotecas e demais instituições de cultura, exigindo que o processo de sensibilização sobre sua importância seja retomado a cada nova gestão (Sá, 2024).
Souza (2020) aponta que, em geral, o foco é no livro, sem se aprofundar na dimensão social, política e cultural da biblioteca, uma vez que programas governamentais, em geral, adotam soluções pragmáticas e utilitaristas que não atendem às complexas demandas das comunidades. Essa abordagem reducionista relega tais instituições à condição de “depósito de livros” ou meros repositórios, esvaziando seu potencial como espaços de formação crítica e cidadania.
No contexto regional, mais especificamente no Maranhão, a carência de investimentos na área da cultura apresenta um retrato desfavorável à concepção de biblioteca que vem sendo construída ao longo dos tempos. Para tal, será apresentada a biblioteca pública do Estado do Maranhão, a fim de evidenciar a sua relevância enquanto instituição social, assim como caracterizar os seus serviços e produtos.
2.1 Biblioteca Pública Benedito Leite e o Complexo Deodoro em São Luís (MA)
A criação da BPBL está relacionada ao contexto histórico do século XIX, que marcou a história do Maranhão. Período este, em que o Estado vivia uma situação econômica bastante favorável e ganhava notoriedade por conta da reorganização da Companhia do Comércio Grão-Pará e Maranhão. Em consequência de uma economia bem-sucedida, o Maranhão estabeleceu uma relação comercial e agrária muito concreta com a Europa, embora restrita e limitada à elite do estado. Esta relação possibilitava um intercâmbio de informações e começou a se destacar por seus ares de refinamento e sofisticação, por ter hábitos e costumes europeus (Silva; Castro, 2012).
A criação da Biblioteca Pública do Estado, de iniciativa do conselheiro Geral da Província, Antônio Pedro da Costa Ferreira, aprovada em 1826, pode ser considerada como “[...] resultado do esforço de intelectuais que, naquele momento, estavam a querer provar o quão nesta terra se valorizava o pensamento e a arte.” (Biblioteca Pública Benedito Leite, 2024, p. 1).
Durante todos esses anos, a Biblioteca Pública passou por mudanças físicas significativas, assim como alterações em sua estrutura administrativa. A biblioteca esteve envolvida em diversos conflitos políticos, incidindo em diferentes implicações nos serviços prestados ao longo do tempo.
A história maranhense, tão rica em cultura, tem na BPBL um espaço de guarda, preservação e disseminação de informações importantes para a (re)construção da identidade e preservação da memória maranhense. Apesar das perdas anteriores e dos danos causados pelas constantes mudanças, a biblioteca ainda contém em seu acervo informações não somente literárias ou bibliográficas, mas também é composta por caracteres que a tornam única e reconhecível em uma sociedade marcada por disputas políticas e econômicas (Mendes, 2014).
A biblioteca está localizada no centro da capital maranhense, na Praça do Pantheon, no Complexo Deodoro (apresentado ainda nesta seção), considerada a parte mais elevada geograficamente da capital ludovicense. Sua sede atual é obra do engenheiro civil Antônio Bayma e foi inaugurada em 12 de setembro de 1951, na gestão de Sebastião Archer da Silva. Passou por incontáveis reformas, no entanto, se mantém como referência no Maranhão, conforme pode ser observado no registro da Figura 1 (Braga, 2013; Marinho, 2008).
Dispondo de uma coleção rica em materiais informacionais, a Biblioteca Pública Benedito Leite tem prestado serviços essenciais para o desenvolvimento social, político e cultural dos seus usuários e da comunidade na qual está inserida. No que diz respeito aos serviços da biblioteca de acordo com seu organograma, apresenta quatro serviços estruturantes de seus setores, sendo eles: Serviço de Apoio Técnico; Serviço de Informática e Processamento; Serviço de Informação e Municipalização; e, Serviço de Referência (Costa; Cutrim; Carvalho, 2018).
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serviço de Apoio Técnico - Formação e Desenvolvimento de Coleções, Seção de Processamento Técnico, Seção Braile, Seção Materiais Especiais, Escritório de Direitos Autorais (EDA), Laboratório de preservação, higienização de acervo, Coordenação de estágio;
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serviço de Informática e Processamento - Telecentro;
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serviço de Informação e Municipalização - Difusão Cultural;
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serviço de Referência - Seção de Referência, Obras Maranhenses, Seção Acervo Geral, Seção de Acervo Específico e Escolar, Seção de Informação Utilitária;
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seção de Apoio Administrativo;
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biblioteca Infantil e Juvenil Viriato Corrêa.
Assim, percebe-se que, ao desenvolver as suas atividades, a Biblioteca Pública Benedito Leite cumpre a sua missão ao continuar preservando, conservando e resguardando a memória cultural do Estado, promovendo a divulgação da cultura e estimulando a prática da leitura. A sua atuação está respaldada em garantir as condições básicas para um processo de aprendizagem contínuo, “para o exercício da cidadania e para o desenvolvimento cultural do indivíduo e da sociedade. Proporcionar igualdade de acesso para todos, independente de idade, raça, sexo e posição social, minimizando as diferenças de informação” (Biblioteca Pública Benedito Leite, 2024, p. 1).
A localização da biblioteca, já apontada como um elemento central, é fundamental para a sua relevância e, portanto, um ponto de destaque nessa análise. A BPBL está inserida no Complexo Deodoro, composto pela Praça do Pantheon e as alamedas Silva Maia e Gomes de Castro, englobando as edificações institucionais como a BPBL, o Serviço Social do Comércio (SESC) Deodoro, o colégio Liceu Maranhense, criado em 1838, e o Ginásio Costa Rodrigues (Rocha; Borges, 2021). Sendo assim, o prédio da instituição está:
Localizado no núcleo central do sítio histórico de São Luís, o Complexo Deodoro, a nomenclatura “complexo” adotada de forma recente pelos órgãos públicos reúne os espaços compreendidos, pela Praça de mesmo nome, espaço livre público mais antigo dentre os demais (Rocha; Borges, 2021, p. 9).
Este local ganha notoriedade por sua relevância econômica, por concentrar um número significativo de lojas, comércios, centros comerciais, vendas ambulantes, além de instituições públicas e privadas. O trânsito de pessoas chama, diariamente, a atenção para a realização de eventos populares, tanto relacionados a questões de saúde, educação e cultura, como também voltados para manifestações políticas de caráter reivindicatório.
Nesse contexto, as bibliotecas públicas, especialmente aquelas que atuam como “biblioteca ação-cultural” (Rabello; Almeida Júnior, 2022), assumem um papel fundamental. Mais do que oferecer serviços para a comunidade, elas buscam trabalhar junto dela, participando de suas expressões e vivências. Com uma postura acolhedora, essas bibliotecas reconhecem e valorizam as práticas e as vozes de grupos historicamente invisibilizados, como a “ralé estrutural” que forma o chamado “não-público”.
Nesse sentido, Rocha e Borges (2021, p. 13) afirmam que “Estas manifestações de caráter popular são um marco para a história política do país e tem força à medida que expressam vida democrática a partir dos espaços públicos livres, a exemplo do Complexo Deodoro”. Essa forma de atuação contribui para a transformação social, promovendo inclusão e garantindo a essas pessoas um papel ativo na construção de uma sociedade mais justa e consciente.
A BPBL encontra-se localizada no Complexo Deodoro, antigo Campo do Ourique. Considerado na década de 1830 como o berço da modernidade da capital do Maranhão, cabe destacar que, o Campo de Ourique tornou-se símbolo da modernização de São Luís durante o governo de Paulo Ramos (1936-1945), ao se transformar em um dos principais cenários das intervenções urbanas do período. Antes um espaço que marcava o limite entre a cidade e a zona rural, com as reformas passou a representar a transição para uma cidade moderna. O governo buscou embelezar, requalificar e integrar os espaços públicos ao novo ideal de modernidade, em sintonia com as tendências nacionais de urbanização (Costa, 2016).
O Campo de Ourique, depois chamado Praça Deodoro, foi ajardinado, arborizado e revitalizado, tornando-se um espaço de convivência e circulação de ideias, símbolo da conciliação entre tradição e modernidade. Assim, o local reflete as mudanças físicas e simbólicas que marcaram o processo de modernização urbana na gestão de Paulo Ramos, e se destacou, à época, como o lugar mais adequado para abrigar uma biblioteca pública de tamanha importância, como a Biblioteca Pública Benedito Leite.
A ocupação desse espaço social pela biblioteca é relevante para estudos sobre o comportamento dos comerciantes informais, além dos aspectos simbólicos e afetivos ligados às suas memórias. Essa abordagem é essencial para entender que os comerciantes informais, muitas vezes ignorados pelas unidades de informação e instituições de cultura (Rabello; Almeida Júnior, 2020). Investigar suas práticas e memórias exige uma postura aberta e acolhedora, que vá além do foco em usuários privilegiados e em sistemas formais (Rabello, 2021). Em vista disso, a seguir são apresentados alguns conceitos sobre memória e lugares de memória, que ajudam a compreender as percepções dos sujeitos analisados nesta pesquisa.
2.2 Memória e lugares de memória: breves conceitos
De acordo com Costa (2019), as bibliotecas têm um forte apelo memorial, não somente por estabelecerem uma relação com a Antiguidade, mas também por serem responsáveis pela preservação e salvaguarda de materiais que registram a história, ou seja, elementos que possibilitam a reconstituição da história. Desta forma, torna-se fundamental discutir as noções de memória para compreender a sua relação com a biblioteca pública.
Historicamente, as primeiras discussões sobre memória partiram das áreas humanas e sociais da França, onde a memória era inicialmente marcada pelo coletivo. Posteriormente, surgiram novas fontes analíticas de pesquisadores que utilizam testemunhos orais como metodologia, o que permitiu organizar as discussões de memória como fonte histórica para coleta de dados (Santiago Júnior, 2015).
Pollak (1992) ressalta que, anteriormente, a memória era vista como algo mais individual, ligado ao íntimo e pessoal. No entanto, Maurice Halbwachs, analisou a memória como um fenômeno formado na sociedade e no coletivo, que passa por constantes transformações e alterações. O autor explica que “Se destacamos essa característica flutuante, mutável, da memória, tanto individual quanto coletiva, devemos lembrar também que na maioria das memórias existem marcos ou pontos relativamente invariantes, imutáveis” (Pollak, 1992, p. 2).
Halbwachs (2006) estuda o campo da memória a partir de uma reconstrução do passado, estabelecendo a categoria de memória coletiva, sob uma ótica onde a memória, as lembranças e as recordações são analisadas sobre um determinado contexto social, que não se restringe a uma dimensão individual. As nossas lembranças são compartilhadas e lembradas por outros, construídas em um cenário social, uma vez que nunca estamos sós.
A memória, conforme explica Halbwachs (2006), é simultaneamente um ato de reconhecimento e de reconstrução. O reconhecimento ocorre porque traz consigo o “sentimento do já visto”. A reconstrução acontece de duas maneiras principais: primeiro, porque a memória não é uma repetição exata de eventos e experiências passadas, mas um resgate desses momentos em um contexto atual de preocupações e interesses; segundo, porque se diferencia e se destaca de um conjunto maior de eventos e experiências passíveis de serem lembrados, sendo situada em um tempo específico, em um espaço definido e em um conjunto de relações sociais. Nesses termos, afirma-se que:
Tanto o reconhecimento quanto a reconstrução dependem da existência de um grupo de referência, tendo em vista que as lembranças retomam relações sociais, e não simplesmente idéias [sic] ou sentimentos isolados, e que são construídas a partir de um fundamento comum de dados e noções compartilhadas (Schmidt; Mahfoud, 1993, p. 1).
Schmidt e Mahfoud (1993) ressaltam que a memória não é um processo individual isolado, mas sim uma construção social que se ancora nas interações em um grupo de referência. Essa perspectiva enfatiza a centralidade das relações sociais na formação e preservação das lembranças, mostrando que elas dependem de um “patrimônio coletivo” de significados compartilhados. Tal abordagem critica visões individualistas da memória, reconhecendo-a como um elemento intrinsecamente vinculado à cultura e ao pertencimento. Essa ideia dá subsídios para compreender como grupos sociais moldam sua identidade coletiva, estabelecendo o pano de fundo para a reflexão de Pierre Nora sobre a relação com o passado.
Ainda na perspectiva da coletividade, Pierre Nora (1993), historiador francês, enfatiza que as mudanças significativas na sociedade levaram os grupos sociais a estabelecerem uma relação diferente com o passado. Há um tradicionalismo e respeito com o passado, ao mesmo tempo, em que há um fortalecimento das questões de pertencimento e de coletividade. Assim, explicita que:
A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações, susceptível de longas latências e repentinas revitalizações. [...] A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente [...] (Nora, 1993, p. 3).
De maneira mais clara, pode-se compreender os locais de memória como locais repletos de desejo de recordação. Sendo um produto construído, ou seja, nada espontâneo, os lugares de memória podem ser vistos como elementos de uma construção histórica, com interesses direcionados pelo seu valor documental e monumental, que espelham os processos sociais, os conflitos, as paixões, etc., que, conscientemente ou não, os revestem de uma função icônica (Neves, 2007).
Com base neste breve estudo dos conceitos de memória e lugar de memória propostos por Pollak (1992), Halbwachs (2006) e Nora (1993), é compreensível estabelecer uma relação com as bibliotecas, especialmente as bibliotecas públicas. A capacidade de resguardar registros que remontam às memórias coletivas de um determinado grupo social faz da biblioteca um espaço de materialização de lembranças e recordações.
Sabe-se que bibliotecas e centros de informação agem como locais históricos fundamentais para salvaguardar a memória e o conhecimento de uma coletividade. No entanto, a definição tradicional de “usuário de informação” comumente tornou invisíveis os grupos marginalizados, como a “ralé estrutural”, cujas vivências e trajetórias foram ignoradas, como pontuado por Rabello e Almeida Júnior (2020, 2022). Pensar a preservação da memória de sujeitos excluídos pressupõe valorizar a expressão e a autoria do “não-público”, fazendo com que suas próprias narrativas sejam registradas e adicionadas ao legado cultural.
Os diversos serviços desenvolvidos em uma biblioteca, os livros, os periódicos, as iconografias, as relações estabelecidas, caracterizam uma construção social, que perpassa as subjetividades individuais e coletivas, estabelecendo a esse espaço, um lugar de memória. Neste ambiente, a mediação profissional transcende a mera transmissão, pois a informação, já carregada de significados, é ativamente negociada e (re)construída em relações dialógicas e intersubjetivas. Esse processo solidifica o espaço como um ponto vivo de memória coletiva e conhecimento socialmente compartilhado (Rabello, 2022).
Esse modelo ideal resume características de estratos favorecidos, ocultando a condição de pessoas em desvantagem, como a chamada “ralé estrutural”, visto que a percepção de cada indivíduo ou grupo social, pode ser diferente, mediante situações adversas. Distintos obstáculos institucionais, sejam eles arquitetônicos, de comunicação ou de atitude, também geram não-usuários de qualquer classe, provando que a importância e o acesso à informação são entendidos de modos diversos.
3 Percurso metodológico
Visando analisar o papel da Biblioteca Pública Benedito Leite na memória dos comerciantes informais do Complexo Deodoro, em São Luís (MA), este estudo adota uma abordagem metodológica de natureza básica, com fins exploratórios e descritivos, conforme Prodanov e Freitas (2013). A pesquisa foi conduzida predominantemente sob uma perspectiva qualitativa, que, segundo Hernadéz Sampieri, Fernández Collado e Baptista Lucio (2013), valoriza descrições detalhadas, interpretações amplas e uma análise aprofundada das informações obtidas. Além disso, foram incorporados aspectos quantitativos, já que determinados dados, como a quantidade de atividades educativas promovidas pela instituição e o número de usuários entrevistados, exigiram mensuração, conforme destacam Prodanov e Freitas (2013).
Quanto aos procedimentos técnicos, o estudo parte de uma pesquisa bibliográfica e documental, mediante a consulta de livros, artigos, teses e dissertações como instrumento de fundamentação, bem como documentos oficiais disponíveis no portal da instituição e em acesso aberto, com o intuito de evidenciar a história e a trajetória da BPBL.
Em seguida, procedeu-se a uma pesquisa de campo no Complexo Deodoro, região central da cidade de São Luís, local em que fica localizada a BPBL. Foram incluídos no grupo de participantes os vendedores e comerciantes informais que realizam suas atividades nos arredores da instituição. Para tanto, adotou-se a técnica de amostragem não-probabilística por acessibilidade (Prodanov; Freitas, 2013). Em vista disso, aceitaram participar do estudo 25 comerciantes informais, cujos dados foram produzidos mediante a utilização de um formulário misto, composto por 15 questões. A coleta de dados ocorreu na segunda semana do mês de abril de 2024.
Os dados foram tratados com o apoio da plataforma Google Forms, no sentido de construir representações visuais das evidências recuperadas. No tocante à análise dos dados, uma vez que se tratou de uma pesquisa qualitativa, foram consideradas as diretrizes metodológicas da Análise de Conteúdo. Para tanto, foram definidas categorias teóricas de análise, a partir dos aspectos semânticos e léxicos para categorização e mapeamento das unidades de registros e, por conseguinte, conteúdo, fazendo interface com o referencial teórico no qual se ancora esta investigação (Bardin, 2016).
Os resultados foram categorizados da seguinte forma: (a) Acesso aos produtos e serviços da BPBL; (b) Importância da BPBL; (c) Espacialidade; (d) Estrutura física; (e) Observação direta (reforma, interferências do tempo na instituição, entre outros); (f) Memória direta (lembranças, recordações, fatos, entre outros). Os resultados são apresentados e analisados na seção a seguir.
4 O lugar da Biblioteca Pública Benedito Leite na memória dos comerciantes informais do Complexo Deodoro
Nesta seção, são apresentados os resultados obtidos com comerciantes informais e autônomos do Complexo Deodoro, em São Luís, abordando memórias, lembranças e subjetividades associadas a esse local simbólico. Considerando que grupos marcados pela desigualdade e invisibilidade social, como o “não-público” (Rabello, 2021, 2022, 2023; Rabello; Almeida Júnior, 2020, 2022), costumam ser desconsiderados pelos estudos tradicionais sobre usuários da informação, a seleção dos 25 profissionais informais que atuam nas proximidades da Biblioteca Benedito Leite foi orientada por categorias específicas de análise: Noções Gerais, Espacialidade, Estrutura, Observação Indireta e Memória Direta. Este estudo busca dar voz e protagonismo a esses sujeitos, frequentemente marginalizados, por meio de uma praxiologia receptiva que amplia o escopo da investigação sobre a relação entre informação e comunidade.
A categoria de análise “Noções gerais” sobre a BPBL (Figura 1) refere-se à primeira pergunta, que buscava entender a visão dos comerciantes informais sobre os livros e a facilidade de acesso a eles. Todos os 25 entrevistados responderam com base em dois pontos principais, que se destacaram nas respostas e deram origem a duas questões centrais: a importância dos livros como ferramenta de aprendizado e conhecimento para a leitura, e o papel dos livros na valorização da educação.
A pergunta seguinte era voltada ao pensamento dos comerciantes sobre a importância de se ter uma biblioteca pública em uma cidade. Com base na análise das 25 respostas, destacam-se também duas questões principais: o reconhecimento de que uma biblioteca pública facilita o diálogo com a comunidade, sob a perspectiva da pesquisa e do estudo, além de favorecer o acesso das crianças à leitura, e sua importância a ponto de ser necessária também em cidades mais afastadas do centro.
Baseando-se na visão dos comerciantes informais, nota-se que a memória, nesse caso, entra como arte e potência, temas abordados por Assmann (2011), no sentido de que os livros potencializam o conhecimento fixo, permitindo a criação da memória que gera no seu armazenamento individual ou coletivo, e a biblioteca corrobora nesse processo de recordação por ser um meio que permite essa aproximação e materialização.
A BPBL, nesse contexto, atua como um espaço que possibilita ao “não-público” interagir de forma crítica com a herança cultural, fomentando a autoria e a criação de “seus próprios livros”, o que gera e concretiza novas memórias coletivas e fortalece o protagonismo social. Além disso, ela medeia a herança cultural e capacita o “não-público” a escrever seus próprios livros, incentivando a apropriação crítica da informação e o protagonismo social. Dessa forma, os sujeitos passam a se reconhecer como parte da história e a contribuir para a construção viva do conhecimento e da memória coletiva (Rabello, 2021, 2023).
A segunda categoria de análise é a espacialidade, que direcionou-se como pergunta quanto tempo os comerciantes informais trabalham próximo à Biblioteca Benedito Leite, no complexo Deodoro (Gráfico 1). Dentre os entrevistados, 64% trabalham há mais de dez anos nas imediações da Biblioteca Benedito Leite.
A segunda categoria de análise é a “Espacialidade”, que se referiu à pergunta sobre há quanto tempo os comerciantes informais trabalham próximo à Biblioteca Benedito Leite, localizada no complexo Deodoro (Gráfico 1). Entre os entrevistados, 64% trabalham há mais de dez anos nas proximidades da Biblioteca Benedito Leite.
Com base nas memórias coletivas e na sua relação com o espaço, que funciona como ferramenta de formação, as memórias atuam como elementos de valor que compõem uma história ao longo do tempo, permitindo que o indivíduo seja constantemente influenciado por esse contexto. Segundo Silva (2022), essa perspectiva orienta a hipótese de que os comerciantes informais participantes do estudo presenciaram os acontecimentos ligados às reformas realizadas no Complexo Deodoro e na própria Biblioteca Benedito Leite ao longo dos anos, criando e estabelecendo memórias coletivas.
A memória abrange os “não-usuários” e o “não-público”, conceitos que revelam as limitações do conceito tradicional de “usuário de informação”, geralmente focado nos grupos privilegiados. A “ralé estrutural”, que compõe grande parte desse “não-público”, é muitas vezes invisibilizada por instituições que atuam para a comunidade, mas não com ela. Contudo, suas memórias persistem de forma privada, agindo como contramemórias que questionam as narrativas oficiais e o apagamento histórico. Uma prática receptiva é essencial para que esses grupos conquistem protagonismo, validando experiências e ampliando a compreensão histórica (Jelin, 2002; Rabello; Almeida Júnior, 2022).
Seguindo as análises de espacialidade, o próximo questionamento tratou de saber se, em algum momento, esses vendedores já haviam visitado a Biblioteca Pública Benedito Leite, devido à proximidade do espaço. Como resultado, 56% nunca a visitaram e 44% já estiveram no local. Entre os 44% que já visitaram a Biblioteca, perguntou-se o objetivo da visita (Gráfico 2). Como resposta, 20% disseram que foram para pesquisa, seguido por 16% que mencionaram o lazer.
A partir dos dados do Gráfico 2, sobre os vendedores que já haviam visitado a biblioteca e o objetivo da visita, foi questionado o que eles lembravam ao estar no espaço (Figura 2). Como resultado, observou-se que a dificuldade de acesso aos livros está relacionada à burocracia e, em alguns casos, às rotinas das bibliotecas e à forma como os materiais são emprestados. Além disso, as lembranças das atividades realizadas e do espaço interno da Biblioteca marcaram alguns dos entrevistados.
Essa perspectiva foi constatada por Araújo (2021, p. 64), ao ressaltar que “[...] muitos estão sujeitos a limitações educacionais, financeiras ou mesmo geográficas, arredados de políticas públicas sociais ou limitados por questões práticas do dia a dia [...]”. Essa perspectiva é corroborada pelo entendimento de Rabello (2021, 2022, 2023), que ressalta que os “não-usuários” são aqueles que não utilizam produtos ou serviços de uma unidade de informação devido a uma percepção de irrelevância, inadequação ou falta de acesso, como é o dos comerciantes informais.
A análise dos dados da categoria “Espacialidade” mostrou como a BPBL se conecta com a comunidade ao seu redor. Um dado que chama a atenção é que boa parte dos entrevistados nunca entrou na biblioteca, o que se confirmou como a resposta mais frequente na pesquisa, como mostra a sistematização apresentada na Figura 3.
Segundo os entrevistados que já visitaram o local, essa distância pode ser atribuída a barreiras de identificação ligadas às burocracias envolvidas ou, alternativamente, à rotina dos próprios comerciantes informais e suas percepções pessoais de que o local não é um espaço que favoreça a democratização de seu acesso. Quanto a isso, dialoga-se com Silva e Sampaio (2013, p. 135), os quais explicam que “[...] além de a biblioteca ser considerada intimidadora, ainda tem a questão de não ser um espaço que forneça os serviços necessários às suas necessidades”.
Como as bibliotecas são vistas, em especial a BPBL, reforça o distanciamento entre os indivíduos e essa instituição de cultura. Os “não-usuários”, em diálogo com Araújo (2021, p. 64), “[...] acreditam que uma biblioteca estaria fora de seu alcance, outros deixaram de fazer uso dos serviços por um tempo considerável, alguns não acreditam que uma biblioteca pode suprir suas necessidades.”
Em vista disso, apesar de iniciativas culturais, continuam excluídos da fruição e criação cultural, muitas vezes devido à falta de instrução básica ou à influência da sociedade de consumo. Por vezes, as próprias instituições responsáveis pela mediação da informação podem contribuir para a reprodução dos não-usuários. Isso ocorre quando reproduzem preconceitos ou apresentam inadequações institucionais, sejam elas arquitetônicas, comunicacionais, atitudinais, instrumentais, programáticas ou metodológicas, o que pode excluir até mesmo indivíduos de classes privilegiadas (Rabello, 2021).
É pertinente destacar que a mudança espacial no Complexo Deodoro representa um movimento em direção a uma prática mais receptiva (Rabello, 2021, 2022, 2023). Em vez de somente atender a um “público” predefinido, a intenção, como explicado por Rocha e Borges (2021), é criar condições para que todos, incluindo os “não-usuários” ou aqueles que antes se sentiam excluídos, possam se envolver, interagir e participar ativamente do espaço.
As limitações que Araújo (2021) menciona, como as de ordem educacional, financeira, geográfica ou ligadas à crença de que o espaço não lhes pertence, são precisamente os desafios que projetos de requalificação de espaços públicos buscam superar ao tornar esses locais mais acolhedores, acessíveis e significativos para um público mais diverso. Com isso, não somente se revitaliza o espaço físico, mas também se cria a oportunidade de construir novas memórias de forma coletiva e de valorizar as experiências de diferentes grupos sociais na vida pública.
Referente à categoria de análise da estrutura, a pergunta foi direcionada para o que os comerciantes lembravam do prédio ou espaço da Biblioteca, antes da reforma (Figura 4), como resultado obtiveram questões da memória como: a estrutura externa era de maior identificação antes da reforma, que área do prédio estava visivelmente deteriorada; porém, em contrapartida, obtiveram respostas de que o prédio era bonito e que não mudou consideravelmente com a reforma posterior.
Na categoria de análise “Estrutura”, a pergunta buscou saber o que os comerciantes lembravam sobre o prédio ou o espaço da BPBL antes da reforma (Figura 4). Como resultado, foram destacadas memórias como a maior identificação com a estrutura externa antes da reforma e a percepção de que parte do prédio estava visivelmente deteriorada. Por outro lado, também houve respostas afirmando que o prédio era bonito e que a reforma não trouxe mudanças significativas.
A segunda pergunta da categoria investigou quais lembranças os vendedores tinham do local que mais os marcaram ao longo do tempo. As respostas destacaram em parte memórias ligadas a eventos especiais, como os momentos em que a fachada da BPBL recebia uma decoração diferenciada. Também foram citadas observações sobre o estado físico da instituição no passado e experiências positivas associadas às mudanças estruturais realizadas. Essa análise ajudou a entender como as memórias individuais dos entrevistados se relacionam com suas percepções pessoais sobre a estrutura externa da BPBL.
Diante do que afirmaram os comerciantes informais, constatou-se que a discussão sobre os “não-usuários” está diretamente ligada à memória, especialmente no que se refere a quem é lembrado e a quem é excluído das narrativas sociais e históricas. A invisibilidade social dos “não-usuários” e da “ralé estrutural”, faz com que suas experiências e suas próprias memórias sejam muitas vezes ignoradas ou silenciadas pela área da informação (Rabello; Almeida Júnior, 2022). Depreende-se das memórias relatadas pelos comerciantes informais que elas mostram como determinados aspectos da estrutura e da aparência do prédio são preservados na lembrança de alguns grupos. Trata-se, em geral, de uma visão mais voltada ao exterior do prédio, enquanto outras experiências e percepções, especialmente as de quem raramente utilizava o espaço, acabam sendo pouco consideradas ou visíveis.
Instituições como arquivos, museus e bibliotecas têm um papel essencial na preservação da memória cultural. O controle dos arquivos, por exemplo, representa também o controle da memória. No entanto, se essas instituições continuam presas a uma prática restrita, focada somente nos usuários considerados ideais, acabam perpetuando a exclusão e a invisibilidade de determinadas memórias e experiências. A arte e a ciência, por exemplo, atuam como formas de resistência contra a supressão involuntária do passado na memória cotidiana e contra o apagamento consciente na memória funcional (Assmann, 2011; Rabello, 2021, 2022, 2023).
Na penúltima categoria de análise, relacionada à observação indireta, o objetivo foi entender como os vendedores percebiam o movimento no espaço da Biblioteca antes da reforma. As respostas trouxeram duas questões centrais. A primeira ressaltou os aspectos positivos e negativos do período anterior à requalificação do Complexo Deodoro. A maioria dos participantes relatou que o espaço era mais movimentado antes da reforma. Porém, com o deslocamento das bancas de revista e dos comerciantes informais para fora da Praça do Pantheon, o fluxo de pessoas diminuiu muito, o que impactou negativamente os pequenos negócios e prejudicou as atividades comerciais. Essa mudança pode ser observada entre o ano de 2008 (Figura 5) e 2023 (Figura 6), a seguir.
Como ilustrado nas figuras 5 e 6, não há mais nenhuma banca de revistas ou comerciante informal na área central do Complexo Deodoro, reforçando a percepção dos entrevistados de que essa mudança impactou negativamente suas vendas devido à redução do fluxo de pessoas no local. Esse cenário evidencia um processo de segregação socioespacial no centro da capital, que acaba afastando as pessoas de espaços importantes, como a BPBL. Esse cenário é pontuado no estudo de Gomes e Silveira (2024, p. 17), cujas autorias afirmam que “[...] a subalternização e a segregação socioespacial exercem nas experiências de apropriação dos espaços públicos e de certos equipamentos culturais como a própria biblioteca por parte de sujeitos e grupos em situação de vulnerabilidade econômica e social”.
Embora essa questão não seja o foco central do estudo, é importante destacar a relevância da discussão sobre projetos de requalificação urbana, como o que impactou o Complexo Deodoro. Nesse contexto, Gledhill e Hita (2018) ressaltam: “É impossível viver em cidades brasileiras sem se dar conta, diariamente, de suas desigualdades.” Nesses termos, é notável como a segregação socioespacial no Complexo Deodoro revela a “ralé estrutural” como “não-público” e evidencia a invisibilidade de grupos que não possuem o capital cultural e econômico valorizado socialmente. Práticas restritivas acabam reforçando a exclusão e o apagamento da memória de grupos historicamente silenciados, já que suas lembranças e experiências seguem desvalorizadas nos espaços públicos e nas narrativas oficiais. A ausência de práticas receptivas impede que essas memórias sejam registradas, preservadas ou reconhecidas como parte da história coletiva. Por isso, deve-se adotar ações inclusivas que promovam a inclusão e o protagonismo desses grupos, permitindo que suas vivências componham, de forma legítima, a memória social do espaço.
Por fim, na categoria relacionada à memória direta, que tratou das percepções das pessoas que já participaram de alguma atividade no espaço ou promovida pela BPBL (28%), destacaram-se as lembranças do que mais agradou ou marcou os entrevistados. Entre os aspectos mais citados estão a estrutura física da Biblioteca como um todo e a organização do acervo, que foram considerados fundamentais tanto para a memória individual quanto para a memória coletiva dos participantes.
Essa perspectiva aparece no estudo de Costa e Cutrim (2021), que descreve as percepções dos participantes dos serviços educativos da BPBL. Os entrevistados destacaram o acervo de obras raras, o serviço de referência e as atividades de mediação da informação como os principais pontos positivos do contato com a instituição. Em vista disso, os autores afirmam que os participantes reforçaram que a instituição atua como “[...] território de múltiplas vivências, seja pelas práticas leitoras ali realizadas, por apoiar as práticas educativas, por preservar a memória coletiva, quanto por socializar e enraizar os elementos que fortalecem a identidade social [...]” (Costa; Cutrim, 2021, p. 11).
Dessa forma, as transformações no Complexo Deodoro, como a remoção das bancas de revistas e dos comerciantes informais, não só reduziram o fluxo de pessoas como também tornaram mais visível a segregação socioespacial no centro da cidade (Gomes; Silveira, 2024), afetando diretamente a relação das comunidades vulneráveis com os espaços públicos e culturais, ou seja, acentuou a interação “não-usuários” com a BPBL, por exemplo. Embora a requalificação urbana tenha trazido melhorias, como a valorização da estrutura física da BPBL e a melhor organização do acervo, ela também acentuou desigualdades sociais ao dificultar o acesso de grupos economicamente desfavorecidos. Com isso, a BPBL continua sendo um espaço importante para a memória coletiva, mas enfrenta o desafio de manter seu papel inclusivo e acessível, especialmente para os grupos subalternizados e historicamente excluídos.
5 Considerações finais
Ao investigar a percepção dos comerciantes informais sobre a BPBL, foi constatada a relevância em abordar indivíduos que, por muitas vezes, não possuem voz e visibilidade, mesmo estando em espaços de relevância social. Ao analisar as categorias de espacialidade e estrutura, por exemplo, é notório o reconhecimento de que uma biblioteca pública é um local de conhecimento, acesso à informação e a pesquisa, assim como de lazer; no entanto, deixa muito a desejar quanto a ser um espaço mais acessível, que favoreça a democratização de seu acesso. Quanto à estrutura e memória direta, os comerciantes informais guardam lembranças concretas sobre como o prédio era antes e depois da reforma, ratificando que mesmo que alguns nunca tenham adentrado, ainda assim, constroem percepções históricas sobre aquele determinado lugar, caracterizando a BPBL a partir de processos sociais, que revestem o lugar a partir de uma perspectiva icônica.
A pesquisa destacou a complexa relação entre os comerciantes informais e a BPBL, evidenciando tensões entre os benefícios estruturais advindos da requalificação urbana e as desigualdades socioespaciais que dela resultam. Embora a reforma tenha valorizado a estrutura física e reforçado o papel da instituição como um lugar de memória e conhecimento, o deslocamento dos comerciantes revelou processos de exclusão que limitam o acesso de populações vulneráveis. Nesse contexto, é imperativo que políticas públicas culturais priorizem a democratização dos espaços e fortaleçam práticas inclusivas, garantindo que a BPBL não somente preserve a memória coletiva, mas também promova a justiça social.
Os resultados evidenciam como as memórias dos comerciantes informais e suas percepções sobre a BPBL podem subsidiar ações práticas voltadas ao fortalecimento do vínculo entre a instituição e a comunidade. Ao reconhecer os “não-usuários” como sujeitos cujas memórias e experiências foram historicamente silenciadas, torna-se possível planejar projetos inclusivos que superem barreiras de acesso e promovam a participação desses grupos. A integração da biblioteca com os comerciantes e a sociedade em geral passa por práticas receptivas que acolham diferentes vivências, legitimando essas memórias como parte da história coletiva e da identidade do espaço público.
Portanto, para que a biblioteca pública se integre aos comerciantes informais e à sociedade, ela deve ir além de um modelo “para” a comunidade, atuando “com” ela. Isso implica reconhecer suas culturas e necessidades informacionais, não as limitando a um “tipo ideal” (Rabello, 2021) de usuário. Assim, a BPBL deve fortalecer o seu papel enquanto espaço onde as memórias e narrativas dos diferentes grupos sociais, muitas vezes silenciadas, ganhem voz e protagonismo, assegurando que suas histórias sejam registradas e valorizadas como parte da memória cultural da cidade.
Cabe abordar, ainda, uma análise sob uma perspectiva de fomento às políticas públicas culturais, que possuem um papel fundamental na construção e fortalecimento desse lugar-memória. A construção da cidadania cultural, por exemplo, deve ser encarada dentro deste contexto, como uma ferramenta de promoção da igualdade, de participação na vida cultural e na construção efetiva de memórias sociais. Conforme evidenciado na investigação, a partir das percepções dos comerciantes informais, é imprescindível entender a cultura e a acessibilidade a esses bens e serviços culturais, como uma abordagem para potencializar práticas culturais que abracem indivíduos que se encontram à margem e são tornados invisíveis.
Destaca-se que esta pesquisa abre caminhos para aprofundar estudos futuros sobre memória e lugares de memória, considerando as vozes de atores sociais que costumam ser silenciados e invisibilizados em espaços públicos. Essas pessoas constroem memórias coletivas e individuais por meio de processos sociais, mesmo quando sua presença nesses espaços é indireta ou marginalizada. Além disso, vale investigar como as políticas de requalificação urbana e cultural impactam não só a preservação patrimonial, mas também as dinâmicas de pertencimento e exclusão. Esses estudos podem auxiliar no desenvolvimento de estratégias mais inclusivas para a gestão de espaços culturais.
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Disponibilidade de dados
Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
06 Out 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
02 Dez 2024 -
Aceito
03 Jul 2025
